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5.6.24

ABRIL


Um dos meses de que mais gosto, é Abril. Quando ele chega, a Primavera que nascera dias atrás e ainda se mostra
 tão vacilante como bebé que começa a gatinhar, explode numa miríade de cores e aromas que nos põem estrelas nos olhos e risos no coração.

 O azul expulsa dos céus as nuvens, como quem limpa a casa para uma festa. Os campos enchem-se de variadas e perfumadas  flores silvestres, destacando-se as papoilas que ondulam vaidosas, exibindo com orgulho um vermelho vivo, como o sangue que pulsa com um novo vigor nas veias, depois do triste e frio inverno. 

Os parques enchem-se de risos de crianças e de avós babadas, que o sol, cheio de amor, passando por entre as verdes e viçosas folhas, de frondosas árvores, acaricia com os seus luminosos raios. 

Abril é o mês em que a natureza renasce, e os homens renovam a utopia, de mundo de paz, liberdade e amor.  

 

 

 

3.6.24

PASSEANDO NUM PRADO ENCANTADO

 


Naquela noite eu andava passeando num belo prado desconhecido. Era agosto, o dia estivera muito quente e a noite apresentava-se amena, iluminada por uma lua cheia, redonda e brilhante, que espalhava reflexos de prata, por todo o prado. Por entre o extenso tapete verde de relva bem cuidada, surgiam muitas flores que inebriavam o ar com seu perfume.

Sentia-me tão feliz, que abri os braços, soltei a voz e cantando e dançando, cheguei a um pequeno largo, em forma de triangulo, que me deixou indecisa pois de cada um dos lados partia um carreiro.

Depois de um momento de indecisão, acabei decidindo seguir por aquele, para o qual estava virada no momento. Pouco depois parava na margem de um lago, de límpidas e serenas águas, que formavam uma extensa mancha turquesa, entre o verde das árvores que a cercavam. Quedei-me extasiada perante tão bela e idílica  paisagem, quase esquecida do tempo. Depois decidi voltar atrás e explorar os outros dois caminhos. Será que iam dar a lugares tão belos quanto aquele que tinha pela frente?

 Mas ao voltar-me o caminho tinha desaparecido e em seu lugar havia uma densa floresta. Apavorada, mas decidida a descobrir o caminho de volta, caminhei na direção da floresta, mas então senti-me presa,  como se de súbito as árvores ganhassem braços, e voz, pois as ouvi chamar-me.  

Assustada, gritei e sentei-me na cama, assustando o meu filho que se afastou choramingando.

 

 

1.6.24

1 DE JUNHO - DIA MUNDIAL DA CRIANÇA


 Comemora-se hoje o Dia Mundial da Criança. Dia Mundial? De que mundo?  Do mundo africano,  asiático,  do México e alguns países sul americanos, onde as crianças morrem todos os dias de fome e de doenças a ela associadas? Da Ucrânia e da Palestina, onde os senhores da Guerra as matam sem dó nem piedade? Pergunto-me: Onde está o cumprimento da Declaração de Direitos da Criança, proclamada pela Assembleia Geral da Nações Unidas em 1959?


Princípio 1.º A criança gozará dos direitos enunciados nesta Declaração. Estes direitos serão reconhecidos a todas as crianças sem discriminação alguma, independentemente de qualquer consideração de raça, cor, sexo, idioma, religião, opinião política ou outra da criança, ou da sua família, da sua origem nacional ou social, fortuna, nascimento ou de qualquer outra situação. 

Princípio 2.º A criança gozará de uma proteção especial e beneficiará de oportunidades e serviços dispensados pela lei e outros meios, para que possa desenvolver-se física, intelectual, moral, espiritual e socialmente de forma saudável e normal, assim como em condições de liberdade e dignidade. Ao promulgar leis com este fim, a consideração fundamental a que se atenderá será o interesse superior da criança.

 Princípio 3.º A criança tem direito desde o nascimento a um nome e a uma nacionalidade. 

Princípio 4.º A criança deve beneficiar da segurança social. Tem direito a crescer e a desenvolver-se com boa saúde; para este fim, deverão proporcionar-se quer à criança quer à sua mãe cuidados especiais, designadamente, tratamento pré e pós-natal. A criança tem direito a uma adequada alimentação, habitação, recreio e cuidados médicos

Princípio 5.º A criança mental e fisicamente deficiente, ou que sofra de alguma diminuição social, deve beneficiar de tratamento, da educação e dos cuidados especiais requeridos pela sua particular condição. 

Princípio 6.º A criança precisa de amor e compreensão para o pleno e harmonioso desenvolvimento da sua personalidade. Na medida do possível, deverá crescer com os cuidados e sob a responsabilidade dos seus pais e, em qualquer caso, num ambiente de afeto e segurança moral e material; salvo em circunstâncias excecionais, a criança de tenra idade não deve ser separada da sua mãe. A sociedade e as autoridades públicas têm o dever de cuidar especialmente das crianças sem família e das que careçam de meios de subsistência. Para a manutenção dos filhos de famílias numerosas é conveniente a atribuição de subsídios estatais ou outra assistência.

 Princípio 7.º A criança tem direito à educação, que deve ser gratuita e obrigatória, pelo menos nos graus elementares. Deve ser-lhe ministrada uma educação que promova a sua cultura e lhe permita, em condições de igualdade de oportunidades, desenvolver as suas aptidões mentais, o seu sentido de responsabilidade moral e social e tornar-se um membro útil à sociedade. O interesse superior da criança deve ser o princípio diretivo de quem tem a responsabilidade da sua educação e orientação, responsabilidade essa que cabe, em primeiro lugar, aos seus pais. A criança deve ter plena oportunidade para brincar e para se dedicar a atividades recreativas, que devem ser orientados para os mesmos objetivos da educação; a sociedade e as autoridades públicas deverão esforçar-se por promover o gozo destes direitos.

Princípio 8.º A criança deve, em todas as circunstâncias, ser das primeiras a beneficiar de proteção e socorro. 

Princípio 9.º A criança deve ser protegida contra todas as formas de abandono, crueldade e exploração, e não deverá ser objeto de qualquer tipo de tráfico. A criança não deverá ser admitida ao emprego antes de uma idade mínima adequada, e em caso algum será permitido que se dedique a uma ocupação ou emprego que possa prejudicar a sua saúde e impedir o seu desenvolvimento físico, mental e moral. 

Princípio 10.º A criança deve ser protegida contra as práticas que possam fomentar a discriminação racial, religiosa ou de qualquer outra natureza. Deve ser educada num espírito de compreensão, tolerância, amizade entre os povos, paz e fraternidade universal, e com plena consciência de que deve devotar as suas energias e aptidões ao serviço dos seus semelhantes.

17.5.24

CARTA A UMA AMIGA PERDIDA

 

Querida Sofia.

Não sei se ainda te recordas de mim, já passaram tantos anos, mas hoje como em milhares de vezes, lembrei-me de ti.

 Vive em mim a saudade, dos tempos em que vivíamos sonhando com o futuro e aquilo que queríamos da vida. Das noites em que deitadas no escuro, contávamos em surdina segredos que eram só nossos. 

Tu vivias sonhando com o Quim, eu… nunca te confessei, mas vivia suspirando pelo teu irmão, numa paixão de adolescente, que passou anos mais tarde quando conheci o homem da minha vida.

 Naquela época, tu dizias que eu era a irmã que não tinhas. Eu, a viver afastada da minha irmã de sangue, amava-te de igual maneira. Foram anos maravilhosos.

 Mais tarde, testemunhaste o meu casamento. E se eu estava radiante, tu estavas duplamente feliz. Por mim, e por ti, que vias finalmente o teu amor de sempre pelo Quim retribuído. Depois a vida afastou-nos. 

Um dia estava eu em Moçambique, a minha irmã escreveu-me uma carta, contando que te encontrara. Estavas casada e a tratar do passaporte para te juntares ao Quim que tinha emigrado para a França, em busca de uma vida melhor. Corria o ano de 1971. 

Nunca mais soube de ti. Interrogo-me, porque a vida consegue separar assim, duas pessoas que partilharam um amor tão grande? Embora nunca chegues a ler esta carta, amo-te minha amiga, minha irmã.

A tua

Elvira



Nota: Tenho saudades vossas. Esperava voltar este mês, mas a saúde voltou a atraiçoar-me. Apanhei uma virose seguida de uma gastroenterite e infeção urinária. Estou com uma dieta de cozidos e grelhados e a antibiótico. 

5.5.24

5 DE MAIO - DIA DA MÃE

 REEDIÇÃO - PORQUE CONTINUO A PENSAR DO MESMO MODO.


 Festeja-se hoje o dia da mãe. Não, não vou falar da origem do dia da mãe, que já todos conhecem, e se alguém não souber, o dr. Google conta-lhe como foi. Vou apenas desejar a todas as mães do mundo, (e se não faço exceções, é porque as outras, aquelas que abandonam ou matam os filhos, não as considero como tal. São aberrações da natureza, a que me recuso chamar de mães,) um dia muito feliz junto dos seus filhos. 

E queria lembrar aos filhos, que mãe é profissão sem reforma, que se adquire  no momento em que o médico informa a mulher que ela está grávida, até ao último suspiro da sua vida. Não o é apenas no Natal, ou no dia da mãe. E que não vale a pena gastarem muito dinheiro numa prenda toda xpto. Salvo raras exceções, o que a mãe deseja do seu filho, é um abraço, um beijo, um afago no rosto, um sorriso. Algumas se contentavam apenas em receber um telefonema, a perguntar se estão bem.

E não apenas hoje, mas sim, todos os dias do ano.

FELIZ DIA, MÃES!

24.4.24

24 DE ABRIL, O ANTES...


Ultimamente, ouço cada vez mais, em velhos e até em alguns mais jovens, sempre que chegam a um qualquer serviço público, que encontram em greve, a propósito da educação que todos reconhecemos deficiente, do SNS que também apresenta muitas falhas, ou de qualquer outro problema a seguinte frase "Hoje há Liberdade a mais, isto está a precisar de outro Salazar".
 Então para aqueles, a quem o avanço da idade lhes roubou a memória dos outros tempos, e para aqueles que têm 50 anos ou menos, eu venho falar da minha vivência desses tempos, que foi decerto igual à da grande maioria do povo, nesses tempos.

 Nasci numa família muito pobre. O barracão onde vivíamos, não tinha água, nem

 luz e dividi com dois irmãos mais novos, uma infância onde nossos pais trabalhavam arduamente, sempre com medo de um dia não terem uma sopa e um pedaço de pão para nos matar a fome. Frequentei uma escola, que tinha apenas duas salas, uma, onde uma professora ensinava, na mesma sala, alunas da primeira à terceira classe. A segunda sala, era a casa de banho, composta por uma pia com torneira, e dois potes de barro para fazermos as necessidades.


Mal terminei as aulas, comecei a trabalhar. Fazia recados, tocava o gado na nora,  da quinta do ti’ Pereira, para que a água não faltasse na rega e carregava padiolas de estrume, que vinham pelo rio em fragatas, para adubar as terras.

 Depois trabalhei num armazém de lenha, carregando troncos de árvore que pesavam tanto ou mais do que eu. Mais tarde, aos 14 anos, fui trabalhar para a Seca do Bacalhau. 


Como quase toda a gente que vive assim, o meu maior sonho na altura, era viver numa casa de pedra, com água e luz e uma casa de banho com uma banheira, pois sempre tomávamos banho na selha, onde a mãe fazia a barrela e lavava a roupa, sonho que só se cumpriu anos mais tarde, quando consegui emprego num laboratório farmacêutico, em Lisboa e fui viver com uns tios que viviam em Monsanto, numa casa do estado, pois meu tio era guarda-florestal. Depois casei, meu marido era militar, e acompanhando-o, vi e vivi novas experiências. 


No norte de Moçambique, pela primeira vez, conheci a realidade dos jovens que ali chegavam estropiados, vítimas de uma guerra que ninguém queria, mas contra a qual não se podiam manifestar, sob pena de acabarem nalguma sala de tortura.

Quando aconteceu o 25 de Abril pensei que a vida dos portugueses ia enfim tomar um novo rumo. Com a Liberdade não íamos mais olhar o nosso vizinho com desconfiança cada vez que desabafava-mos sobre as dificuldades da vida, já que até aí muitos iam presos um ou dois dias depois de certos desabafos. Pensei também que com o fim das guerras coloniais, a vida dos jovens portugueses ia melhorar muito. Iam deixar de ser obrigados a partir para a guerra, iam deixar de voltar estropiados, física e mentalmente. E esses sonhos concretizaram-se com a democracia, é verdade. Ninguém mais foi preso por pensar diferente do regime e a guerra colonial acabou.


Talvez a descolonização pudesse ter sido feita de outra maneira. Talvez pudessem ter sido assegurados os direitos dos portugueses que lá viviam há muito e dos que lá nasceram, mas que experiência política tínhamos nós? Os militares fizeram a parte deles, mas um excelente militar, nem sempre é um bom político e os civis, queriam era ter a certeza de que os seus filhos e netos, não mais teriam que ir para lá.

Mas meu Deus como a vida mudou depois do 25 de Abril. Só a liberdade de poder dizer o que se pensa, sem medo, não tem preço.

Os salários melhoraram, as crianças deixaram de ser obrigadas a trabalhar, para complementar o salário dos pais, nasceram novas escolas, criou-se o SNS que tem, todos sabemos deficiências, mas é bem melhor do que quando ele não existia. Mudou-se a noção de pobreza, que existe sem dúvida, e é nossa obrigação pressionarmos o governo por melhores condições de vida, para todos, mas que não se compare a vida hoje, àquela que havia antes do 25 de Abril, e contra a qual ninguém podia abrir a boca, sob pena de acabar preso ou morto.


Então que ninguém me venha dizer, que há Liberdade a mais, que o País está um caos e a precisar de outro Salazar.


Elvira Carvalho

 

21.3.24

PORQUE HOJE É O DIA MUNDIAL DA POESIA

 

O MEU OLHAR É…MÁGICO


O meu olhar é mágico.

Ele é o portal de entrada na vida que me rodeia.

É a borboleta que dança inebriada

Sobre um canteiro florido.

Ele é a alegria esfuziante da criança,

Que brinca

Sob o atento olhar da mãe, que sonha

Para ela um futuro radioso.

Ele é o Amor latente nos jovens

Que trocam beijos num banco de jardim.

O meu olhar é mágico

Ele é a lágrima escondida,

na solidão dos idosos

A quem o desemprego levou

Os filhos na mala da emigração.

É a dor sem tamanho daquela mãe

A quem um acidente brutal roubou

A luz dos seus olhos.

Ele é o mar que no horizonte

Se funde no espaço celeste.

Ele é a nuvem que passa

O vento que verga as árvores

E o sol que a todos afaga.

O meu olhar é mágico

Porque ele é o portal das emoções

Que compõem a Sinfonia da Vida.


Porque hoje é o dia da poesia, e também porque preciso pedir desculpa a todos os amigos por esta ausência forçada, mas ainda não me sinto capaz de voltar. Há dias em que venho até aqui, mas não consigo escrever duas linhas sequer. Outros vou até aos vossos cantinhos, leio o que publicam e saio sem deixar rasto. Sinto-me como se parte de mim tivesse morrido. Estou em tratamento, mas as melhoras são lentas. Mas mantenho a promessa de voltar.

Abraço-vos com toda a gratidão do meu coração

8.3.24

8 DE MARÇO - DIA INTERNACIONAL DA MULHER

                                                        


                                                                 É PARA TI, MULHER

 

É para ti, Mulher

Que sonhavas com uma vida de Amor,

Com Respeito, Igualdade de direitos,

a Liberdade,

E a dignidade de seres Mulher.

E és violada, espancada, vilipendiada.

É tua vida, rosa sem perfume

Espinhosa na profissão e no lar.

 

Para ti, Mulher

Que sonhas com um mundo de Paz

E vês o teu mundo, ruir com uma guerra

Que não quiseste, nem entendes.

Mas te obriga a fugir do teu lar destruído

para pores os filhos a salvo 

Deixando para trás o marido que luta

Sem saberes se voltarão a ver-se

 

É para ti, Mulher,

Que sonhas com um mundo melhor

Onde o alimento não falte na mesa

Mas sobrevives à fome

E seguras no peito esquálido

O corpo do teu filho moribundo

Porque nem o teu amor, nem a tua dor,

Lhe alimentaram o corpo faminto.

 

É para ti, Mulher

Filha, irmã, esposa, mãe, viúva,

Quantas vezes carregaste no ventre

Com alegria o Milagre da Vida

Sofrendo todas as dores, com um sorriso

E hoje sobrevives na solidão,

Porque o marido, a morte o levou

E os filhos se perderam, no mar da emigração.

É para ti Mulher

Que carregas dia a dia, a morte no peito

A  minha homenagem, o meu respeito

  

Elvira Carvalho