Os solavancos já haviam começado na sexta-feira e, agora, se impõe o temor de que o Federal Reserve, o banco central norte-americano, suba suas taxas de juros de maneira mais acelerada do que o inicialmente esperado. A tensão da última semana é comparável à que se viveu no começo de 2016 ou quando o Reino Unido decidiu abandonar a União Europeia. Lembra especialmente a crise financeira.
Para muitos analistas, o ajuste era inevitável. Depois de anos em que a deflação levou os BCs pelo mundo a usar armas para combatê-la, agora os preços começam a dar sintomas de recuperação. A melhora dos salários na primeira economia do mundo, pela primeira vez desde a crise de 2008, somado ao impacto da reforma fiscal de Donald Trump levam os investidores a esperar uma alta de juros mais agressiva. Até o momento, Jerome Powell, que tomou posse no FED, não se pronunciou. Até o momento, o mercado só está precificando três altas dos juros neste ano, em alinhamento com as previsões da instituição.
A queda de Wall Street foi acompanhada pelas maiores companhias do mundo. O pânico afetou todos os setores. Não escaparam nem a petroleiras como a Exxon Mobile ou Chevron nem gigantes do consumo como a Coca-Cola, ou industriais como a Boeing. Atingiu até mesmo os grandes bancos, entre eles Goldman Sachs e JP Morgan.
Apesar da volatilidade extrema, os atores dos mercados asseguram que o sistema funcionou corretamente. A Casa Branca minimizou o movimento: disse que “os mercados flutuam a curto prazo” e insistiu que os pilares da economia são sólidos. É precisamente essa solidez que cria problemas agora para os investidores, porque pode elevar os riscos inflacionários e obrigar o FED a ir mais rápido.
Os mercados estão de certa maneira viciados no dinheiro barato injetado pelos BCs mundiais desde 2008. Vêm daí os flancos frágeis da economia mundial: a forte revalorização da maioria dos ativos e os altos níveis de endividamento. “No ano 2000, explodiu a bolha das ponto.com. Em 2007 ocorreu o mesmo com as hipotecas de alto risco. E agora nos encontramos em uma situação de bolha total que está distorcendo a economia”, alertou no ano passado, Nick Clay, gestor do BNY Mellon.