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Interesse próprio e interesse público na filosofia moral e política de Hume
Interesse próprio e interesse público na filosofia moral e política de Hume
Interesse próprio e interesse público na filosofia moral e política de Hume
E-book 125 páginas 1 hora

Interesse próprio e interesse público na filosofia moral e política de Hume

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Sobre este e-book

Este livro trata sobre os conceitos de interesse próprio e de interesse público e como eles se relacionam em ambas as filosofias moral e política de Hume. As obras exploradas foram Tratado da Natureza Humana e Investigações sobre os Princípios do Entendimento e da Moral. O problema aparece quando ambos os conceitos parecem tanto se conjugar quanto se opor e a teoria egoísta ganha tanto um aspecto de vício ou de virtude, o que desafia a definição de simpatia para Hume, assim como problematiza a natureza humana. A origem da justiça não parece poder se separar dos juízos morais, sendo necessária a compreensão dos fundamentos da moral e da política para tentar explicar, com base na natureza dos homens, as leis estabelecidas que mantêm uma sociedade em ordem. Os capítulos foram divididos em três partes, a dizer, o primeiro como uma interpretação de virtude do interesse próprio, no sentido em que se conjuga com o interesse público e nega a natureza humana com características egoístas (renúncia à teoria egoísta). O segundo capítulo explora a perspectiva de interesse próprio como vício e, por conseguinte, a necessidade de se estabelecer regras da justiça, visto que a natureza humana é entendida como egoísta (aceitação da teoria egoísta). Finalmente, o terceiro capítulo problematiza o conceito de simpatia que parece compartilhar da dificuldade de definir interesse próprio em vício ou virtude.
IdiomaPortuguês
Data de lançamento11 de mar. de 2022
ISBN9786525227580
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    Interesse próprio e interesse público na filosofia moral e política de Hume - Ariadne Costa Cabral

    1 JUÍZOS MORAIS. RENÚNCIA À TEORIA EGOÍSTA E CONVERGÊNCIA ENTRE INTERESSES

    O início da parte 2 da Seção 5 das Investigações sobre os princípios da moral começa ressaltando que o amor de si mesmo é um princípio tão poderoso na natureza humana que

    se pode desculpar os filósofos que imaginaram que toda nossa preocupação pelo bem público poderia reduzir-se a uma preocupação pela nossa própria felicidade e preservação. (HUME, IPM5.2)

    Em outros termos, Hume deixa aberta a interpretação de que muitos filósofos confundiam amor de si mesmo com interesse público por haver uma "estreita união que é tão visível entre o interesse do público e o de cada indivíduo.’ (HUME, IPM 5.2) Neste contexto, ele parece dizer que, apesar de ser um princípio tão poderoso e apresentar uma estreita união com o interesse público, devemos renunciar ao amor de si mesmo e dar lugar a um sentimento mais humanitário. Podemos começar a observar a partir daqui que Hume trata os dois conceitos como uma ‘estreita união’, apresentando uma semelhança em espécie dos dois conceitos, que caso apresentem algumas diferenças, serão apenas em grau.

    Pretendemos investigar sobre essa união e suas fundamentações. Pensar convergências entre o interesse próprio e o interesse público parece contrastar com a renúncia a uma teoria egoísta. Visto que se há uma união entre ambos os interesses, fica difícil separá-los na base a ponto de pressupor que as distinções morais não podem se fundar na hipótese egoísta. Em outros termos, a convergência não exclui a parcialidade da simpatia, também interpretada como interesse próprio da base da distinção moral, mas, pelo contrário, contribui para que a interpretação de que o interesse próprio define a moralidade, tal qual o zelo pelo bem comum.

    Ainda, a renúncia à teoria egoísta parece contrastar com a derivação de um interesse a partir do outro. Pois, se entendermos que interesses públicos derivam de interesses próprios, a renúncia seria de ambos ou de nenhum. A não ser que sejam independentes ou antagônicos (em espécie ou tipo) é que se pode pensar em sua renúncia.

    Caso contrário, conforme será exposto também no decorrer dessa análise, pensar interesses próprios e públicos como antagônicos em graus não possibilita a interpretação de que um dos interesses seja excluído ou renunciado da base da distinção moral, pois ambos são da mesma natureza. Isto é, o que seria o grau de espírito público se não houvesse o egoísmo para fornecer o contraste? Seria como imaginar uma ponte que, sem um dos lados, não se sustenta e perde a sua definição. Sendo assim, parece mais adequado pensar em uma modificação de um interesse no outro, implicando apenas uma espécie de interesse que varia gradualmente do egoísmo à benevolência. Portanto, o interesse próprio, em verdade, não é tão distinto de interesse público e apresenta, assim, uma ‘estreita união’ que permite o engano de filósofos em reduzir interesses públicos ao egoísmo. Vale a pena ressaltar que esta afirmação se baseia no fato de que entendemos o interesse próprio como virtude e não como egoísmo, haja vista ambos os conceitos apresentarem tendências ao bem comum, explicando o ditado popular o que é bom para todos, é bom para mim.

    Então, qual é o conceito de interesse próprio para Hume, uma vez que ora ele parece negá-lo e ora aceitá-lo como ponto de partida do interesse público, implicando derivação de um conceito para outro? Há, em seguida, de se buscar uma compreensão mais fundamentada sobre o conceito de interesse próprio e interesse público na filosofia de Hume. Ambos pertencem à natureza humana, e conforme indica Hume, pelo menos um grau mínimo de benevolência está presente no coração humano, apesar de saber que somos parciais para com nossas paixões.

    1.1 RENÚNCIA À TEORIA EGOÍSTA

    Hume claramente se contrapõe à teoria egoísta ao afirmar que "devemos renunciar à teoria de que todo sentimento moral é explicado pelo princípio de amor de si mesmo, e admitir uma afeição de natureza mais pública" (HUME, IPM 5.17). Nesta perspectiva, o princípio de amor de si mesmo é entendido como um vício e não como uma virtude, implicado por Hume quando ele sugere que renunciemos à teoria egoísta explicada por este princípio. No entanto, para sustentar melhor a sua renúncia, é importante abordar dois pensadores que, de fato, admitiam uma natureza humana mais egoísta e viciosa. São eles: Hobbes (1588-1679) e Mandeville (1670-1733).

    Na filosofia moral de Hobbes há o pressuposto de que os homens são naturalmente mais interessados em si mesmos e, por isso, até mesmo no seu conceito de piedade, a natureza humana é vista como mais voltada ao interesse próprio e aos prazeres individuais. Em Natureza Humana Cap 9.19, Hobbes afirma que, frente à miséria alheia, o contentamento (joy) em estar salvo e seguro predomina à tristeza (grief) em ver seus amigos em perigo. Este pensamento permite afirmar que, para Hobbes, o sentimento de piedade é, em verdade, uma afirmação de superioridade de si mesmo em relação à situação menos vantajosa de outra pessoa. Neste contexto, o interesse próprio está em destaque visto que o sentimento predominante é o prazer que é sempre voltado ao próprio sujeito. Em outras palavras, o fato do homem agradar-se em saber que está seguro em comparação àqueles que correm perigo procede do prazer, que segundo Hobbes, é a paixão predominante à tristeza:

    A partir do que procede da paixão, os homens têm prazer em observar da praia o perigo daqueles que estão no mar em tempestade

    […] Todavia, há nele o contentamento (joy) e tristeza (grief): pois, como há a novidade (novelty) e a memória (remembrance) de nossa própria segurança presente, que é prazer (delight), há também a piedade (pity), que é tristeza (grief): mas o prazer é, até então, predominante, pois os homens geralmente ficam contentes (content) no caso em que são espectadores da miséria de seus amigos.(HOBBES,Human Nature Cap.9.19).

    Ainda sobre o sentimento de piedade (pity), conforme será abordado posteriormente junto ao princípio de simpatia de Hume, Hobbes entende que ‘fellow-feeling’ é o sentimento que surge ao imaginar que a situação alheia pode acontecer ao espectador. Novamente, o referencial é o próprio sujeito e seus interesses. Quanto mais remota a possibilidade do espectador estar na mesma situação de perigo alheio, mais distante será o ‘fellow-feeling’ e mais acentuado será o prazer por estar em posição superior.

    A premissa que Hobbes admite uma natureza humana mais egoísta também tem suas fontes nas três principais causas de guerra (quarrel): competição, desconfiança e glória. Nos termos de Hobbes, a primeira, faz o homem invadir por ganhos; a segunda, por segurança; e a terceira por reputação. (HOBBES, Leviatã Cap.13.49). Sob estes três aspectos, o homem está sempre centrado em si mesmo e, por isso, sempre buscará satisfazer suas próprias necessidades, obtendo algum ganho com isso. Visto que se trata de um sentimento natural, o egoísmo está implícito na preferência por ganhos particulares – bens e propriedades, assim como na necessidade de garantir a sua própria segurança² e possuir uma boa reputação. Novamente, tal qual o sentimento de superioridade e piedade, aparece em Hobbes a característica de busca pelo próprio prazer, ou seja, de ações de interesse próprio.

    Ainda, Hobbes afirma que a primeira lei da natureza, ou a regra geral descoberta pela razão³, é a que os homens são comandados a procurar a paz (HOBBES, Leviatã, Cap.13.49). Isso seria dizer que os homens, em primeiro lugar, querem garantir o que é de melhor para as suas próprias vidas, ou seja, garantir um contexto de felicidade e bem-estar. Em seguida, deriva-se uma segunda lei:

    Que um homem concorde, quando outros também o façam, e na medida em que tal considere necessário para a paz e para a defesa de si mesmo, em renunciar a seu direito a todas as coisas, contentando-se, em relação aos outros homens, com a mesma liberdade que aos outros homens permite em relação a si mesmo (HOBBES, Leviatã

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