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Obituário

Morre aos 88 anos o matemático Ubiratan D'Ambrosio

Premiado internacionalmente, o professor da Unicamp foi um dos principais nomes da área no Brasil e pioneiro nos estudos de etnomatemática

Morreu, aos 88 anos, o professor e matemático Ubiratan D'Ambrosio. Um dos principais nomes das teorias do ensino e história da disciplina no Brasil. D'Ambrosio recebeu prêmios internacionais pela contribuição ao campo e chegou a fazer parte de um programa de pós-graduação da Unesco como professor visitante.

A notícia foi divulgada pela Sociedade Brasileira de Matemática (SBM), que lembrou a carreira premiada do professor. “Uma biografia imensa, um legado enorme, uma pessoa grandiosa! Sentimos muito essa perda”, diz o texto. Egresso da Universidade de São Paulo (USP), ele era professor da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), onde chegou a ser diretor do Instituto de Matemática, Estatística e Ciência da Computação.

A Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), onde o professor trabalhou como catedrático em dois programas de pós-graduação, também publicou um texto de condolência. “Sua atuação nacional e internacional fez com que a história da ciência florescesse nos mais diversos pontos do planeta. Deixará uma saudade imensa e um vazio jamais preenchido”, diz o texto.

Etnomatemática

Ciente de que o estudo da matemática é um dos principais desafios da educação brasileira, o professor dedicou a vida a entender como a disciplina se desenvolveu ao longo da história da humanidade e de que forma as diversas culturas contribuíram para consolidar esse conhecimento.

Mais tarde, D'Ambrosio foi um dos pioneiros da teoria chamada de etnomatemática — pela qual se entende que as chamadas ciências exatas não podem jamais ser separadas dos processos humanos e sociais. Para essa teoria, é preciso dialogar com a realidade dos alunos a fim de que a troca de conhecimentos seja completa.

O professor também teorizava sobre a educação de uma forma geral. Ao longo de toda a vida, foi um crítico do modelo educacional que cerceia a criatividade e o pensamento das crianças e jovens e defendia profundas reformas na educação. Essa era, segundo ele, a única forma de se criar condições para obter novas soluções para antigos problemas, como as desigualdades e a violência.

“Quem pode saber um novo sistema? A criançada de hoje, que pode surgir com algumas ideias que a nós não ocorrem. Essa é uma grande falha da escola hoje. Estimula-se um sentimento de que alguém é melhor, o professor, e merece a medalha de ouro. Esquece-se de que, sem adversário, não haveria medalha alguma. Aí pode estar a raiz do conflito. Pois embute o conceito de que, se alguém é superior, o outro pode ser subjugado. Toda vez que o outro – seja uma criança, seja um povo – não é respeitado como ser pensante, há a possibilidade de o conflito virar um confronto. No fundo, é preciso aprender a lidar com o encontro de culturas. Evidentemente que há conflitos, mas precisam ser resolvidos sem o cala-boca. Assim se constrói uma criança livre, capaz de pensar por si. Se ela fizer isso, nós teremos uma chance de que pense o novo”, defendeu em entrevista concedida à revsita Bons Fluidos em 2013.

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