Skip to main content
Carlos Gutierrez Cerqueira
  • 11999374715
  • add
  • Carlos Gutierrez Cerqueira nasceu em 1948, em São Paulo, Capital, Brasil. Formado pelo Departamento de História da FF... more edit
Não é uma queixa. Antes, é uma constatação. Ninguém tem tempo para ler, de tão ocupados que estamos com nossos próprios escritos. Mas frustra-nos quando nossos textos não são lidos, especialmente por aqueles que esperamos que nos deem... more
Não é uma queixa. Antes, é uma constatação. Ninguém tem tempo para ler, de tão ocupados que estamos com nossos próprios escritos. Mas frustra-nos quando nossos textos não são lidos, especialmente por aqueles que esperamos que nos deem alguma atenção. Atenção que espero sempre, e agradeço, especialmente quando acompanhada de algumas considerações, críticas e sugestões.
Enfim, colegas, essa carta é tudo isso, pois vocês são valiosos para mim, e corresponder-me com vocês dá sentido ao que faço.
Abraços
Carlos
Analisamos nesse texto documentos que se referem à produção e utilização da cal de pedra no século XIX em São Paulo. A análise de documento, datado de 1827, que descreve uma fornalha de cal de pedra construída em Santana do Parnaíba,... more
Analisamos nesse texto documentos que se referem à produção e utilização da cal de pedra no século XIX em São Paulo.
A análise de documento, datado de 1827, que descreve uma fornalha de cal de pedra construída em Santana do Parnaíba, objeto do primeiro capítulo do texto, levou-nos a indagar qual teria sido sua utilização numa região dominada por um sistema construtivo – a taipa de pilão – que, pela tradição, não fazia uso de tal agregante, como ocorria nas demais regiões brasileiras onde se construía pelo sistema da cal e pedra. Interessante é verificar que a própria possui instalações construídas em taipa, em tijolos e pedras – o que denota característica de seu tempo, de transição.
A produção da cal, por sua vez, nos levou a considerar novamente obras realizadas entre 1826 e os anos 1860 nos arredores da cidade de São Paulo, onde já havíamos notado a presença da cal em estrutura de taipa de pilão, tanto em obras de construção nova como em reformas.
Assim, no capítulo II, revisitamos a documentação relativa à reedificação da capela jesuítica de M’Boy, onde a cal comparece especialmente na reconstrução de sua torre no ano de 1826, e, ao relacionarmos com elementos confeccionamos para a sua elevação, os ”pés direitos” fabricados pelo Mestre João Damasceno, bem como com a correspondência do tempo em que o Serviço do PHAN efetuou a restauração desse pequeno componente arquitetônico com o propósito de dota-la de uma configuração ‘tradicional’, inspirado no critério do “espírito do tempo”, chegamos todavia a uma interpretação que difere da solução dada em 1941 pelos arquitetos Luís Saia e Lucio Costa, a qual apresentamos para avaliação dos colegas da Academia.edu e amigos.
Penso que realizei, ou tentei realizar, através da análise de um conjunto de documentos concernentes, investigação e interpretação historiográficas portanto, uma reconstituição imagética da torre cuja existência histórica fora já comprovada em momentos distintos, quando da edificação primitiva da capela pelos padres jesuítas e na reedificação de 1826.
O capítulo III repassa, rapidamente, o uso da cal utilizada para a fabricação de molduras argamassadas aplicadas nos edifícios das Casas de Câmara e Cadeia nos anos 1850 e 1860, deixando, todavia em aberto a possibilidade de novas buscas documentais nesse mesmo sentido. Tarefa que cabe particularmente aos historiadores dos órgãos de preservação tendo em vista elucidar se as configurações de tais monumentos são de fato originárias ou teriam sido reformuladas posteriormente, evitando-se desse modo interpretações equivocadas como ocorreu com a Casa de Câmara e Cadeia de Atibaia quando de sua restauração pelo IPHAN.
Este texto teve origem em uma comunicação feita por mim no Museu Afro Brasil, na Capital de São Paulo, em 24 de junho de 2022, que agora apresento revisada, melhorada, ampliada e acrescida de notas bibliográficas para divulgação em minha... more
Este texto teve origem em uma comunicação feita por mim no Museu Afro Brasil, na Capital de São Paulo, em 24 de junho de 2022, que agora apresento revisada, melhorada, ampliada e acrescida de notas bibliográficas para divulgação em minha Página da Academia.edu.
A conversa com os alunos dos Professores Luciano Migliaccio e Renata Martins da FAU USP teve o propósito de conduzi-los a perceber que o antigo sistema construtivo da taipa de pilão, que vigeu no planalto paulista do século XVI ao XIX,... more
A conversa com os alunos dos Professores Luciano Migliaccio e Renata Martins da FAU USP teve o propósito de conduzi-los a perceber que o antigo sistema construtivo da taipa de pilão, que vigeu no planalto paulista do século XVI ao XIX, associava-se intrinsecamente à madeira, não desprezando contudo o uso da pedra como material auxiliar da implantação do edifício na paisagem em que se inseria, bem como substituindo, por vezes, a madeira na sustentação de alpendres e, ainda, como elemento de edificação de obra complementária, construída inteiramente em alvenaria de pedra, como as torres de igrejas ou capelas edificadas em taipa de pilão.
Posteriormente, a partir de meados do século XVIII, a taipa de pilão associa-se à pedra de cantaria. Primeiramente nas igrejas da cidade de São Paulo, utilizadas especialmente para a ornamentação de seus frontispícios e de suas torres, para o que se valeu de um elemento de ligação, o tijolo, que, ao revestir a taipa externamente, possibilitou a aplicação da pedra de cantaria, de modo a dar configuração semelhante ou igual às igrejas das regiões mais ricas da Colônia.
Uma figura se notabilizou então, o conhecido mulato Tebas - Joaquim Pinto de Oliveira, que teria vindo de Santos a São Paulo, trazido pelo seu "Senhor", o Mestre Pedreiro Bento de Oliveira Lima, para quem trabalhou até o seu falecimento (1769), e, após alguns anos, obteve alforria ao concluir a obra da Matriz paulistana, mediante pagamento do seu valor arbitrado pela justiça.
Este estudo pretende primeiramente ordenar o que já sabemos sobre o surgimento da pedra de cantaria em São Paulo em meados do séc. XVIII (onde predominava e continuaria predominando a taipa de pilão) conciliando o novo elemento ao... more
Este estudo pretende primeiramente ordenar o que já sabemos sobre o surgimento da pedra de cantaria em São Paulo em meados do séc. XVIII (onde predominava e continuaria predominando a taipa de pilão) conciliando o novo elemento ao tradicional sistema construtivo, criando então um sistema construtivo misto que permitiu o aformoseamento das igrejas paulistanas, sua irradiação a outros centros urbanos da Capitania e às cidades mineiras durante os séculos XVIII e XIX, e, por fim, a substituição da pedra de cantaria, já no segundo quartel do século XIX, por molduras argamassadas na ornamentação de edifícios públicos, como a Câmara e Cadeia de Atibaia.
Em 1993 fomos em companhia da arqueóloga Maria Lucia Franco Pardi e do arquiteto José Saia Neto a Ribeirão Preto participar de seminário que a Prefeitura desenvolvia com vista a estabelecer política de preservação do patrimônio cultural... more
Em 1993 fomos em companhia da arqueóloga Maria Lucia Franco Pardi e do arquiteto José Saia Neto a Ribeirão Preto participar de seminário que a Prefeitura desenvolvia com vista a estabelecer política de preservação do patrimônio cultural da cidade.
Essa foi a comunicação que apresentamos na noite de 7 de maio para um público bastante interessado.
Este documento, encontrado entre os Papéis Avulsos da VOT do Carmo da Cidade de São Paulo recolhidos ao Arquivo da Cúria Metropolitana de São Paulo, consistiu, se aceita pela direção da Ordem, a primeira intervenção “restaurativa” feita... more
Este documento, encontrado entre os Papéis Avulsos da VOT do Carmo da Cidade de São Paulo recolhidos ao Arquivo da Cúria Metropolitana de São Paulo, consistiu, se aceita pela direção da Ordem, a primeira intervenção “restaurativa” feita nas pinturas de Pe. Jesuíno do Monte Carmelo, entre outras contidas na proposta.
Palestra em comemoração aos dez anos de atividades do Departamento de Conservação e Restauro da Faculdade de Belas Artes da UFRJ a convite da Profa. Dra. Márcia Rizzo na qual desenvolvo argumentos críticos ao posicionamento de... more
Palestra em comemoração aos dez anos de atividades do Departamento de Conservação e Restauro da Faculdade de Belas Artes da UFRJ a convite da Profa. Dra. Márcia Rizzo na qual desenvolvo argumentos críticos ao posicionamento de historicistas que se opõem aos trabalhos restaurativos.
Este artigo foi primeiramente publicado em maio de 2011 no site http://carloscerqueira.multiply.com (que desapareceria repentinamente e sem "aviso prévio" a seus colaboradores e usuários), por intermédio do qual havíamos iniciado a... more
Este artigo foi primeiramente publicado em maio de 2011 no site http://carloscerqueira.multiply.com (que desapareceria repentinamente e sem "aviso prévio" a seus colaboradores e usuários), por intermédio do qual havíamos iniciado a divulgação de nossas pesquisas realizadas no IPHAN/SP.
Eu me propus a um trabalho que se revelou difícil. Escrever sobre o antigo patrimônio cultural dos carmelitanos de São Paulo dos primeiros séculos de colonização. Pois o que permaneceu daqueles recuados tempos em matéria de Arquitetura e... more
Eu me propus a um trabalho que se revelou difícil. Escrever sobre o antigo patrimônio cultural dos carmelitanos de São Paulo dos primeiros séculos de colonização. Pois o que permaneceu daqueles recuados tempos em matéria de Arquitetura e Arte é quase nada.
Introdução a palestra do Historiador Mestre Luís Gustavo Reis sobre a trajetória de Joaquim Pinto de Oliveira Tebas.
Você já foi benzido? Eu fui inúmeras vezes. A primeira ocorreu num bairro próximo de S. Sebastião no litoral Norte paulista.Veja essa história no texto abaixo.
A Revista Sinopses da FAU-USP publicou em 1992 artigo de Antonio Luiz Dias de Andrade intitulado ”O NARIZ TORCIDO DE LUCIO COSTA” (baseado num capítulo de sua tese de doutoramento “Estado completo que pode jamais ter existido”, defendido... more
A Revista Sinopses da FAU-USP  publicou em 1992 artigo de Antonio Luiz Dias de Andrade intitulado ”O NARIZ TORCIDO DE LUCIO COSTA” (baseado num capítulo de sua tese de doutoramento “Estado completo que pode jamais ter existido”, defendido na Faculdade de Arquitetura da USP), no qual analisa o restauro da Capela jesuítica do Embu/SP, em especial da torre reconstituída por Luís Saia em 1941 que contou com o apoio e a supervisão técnica de Lucio Costa, diretor do Divisão de Tombamento e Conservação do então Serviço do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional.
A pesquisa nos arquivos documentais e fotográficos do SPHAN impressionava tanto quanto o denso estudo teórico e metodológico efetuado por Antonio Luiz que, associados à sua capacidade analítica, desvelou contradições na política preservacionista praticada então, evidenciadas ao confrontar as postulações teóricas propugnadas pelo órgão federal de preservação frente a condução das obras de restauração arquitetônicas dos monumentos, efetuadas na chamada “fase heroica” do Serviço, que, grosso modo, corresponde ao período da gestão do Doutor Rodrigo Mello Franco de Andrade, de 1937 a 1967.
O artigo foi além da elucidação das contradições – o seu maior mérito –, que, por conseguinte, lhe permitiu enunciar um juízo que, afinado com os postulados teóricos apresentados, redundou numa censura definitiva, completa e demolidora da prática restaurativa desenvolvida pelos citados arquitetos restauradores do Serviço do PHAN (e assim permaneceu até recentemente), ao alegar que o restauro da torre da capela jesuítica do Embu não encontrara respaldo nas investigações encetadas pelo arquiteto restaurador Luís Saia no desenrolar dos trabalhos, cuja comprovação de sua possível existência fora baseada em iconografia controversa (foto s/data da Empresa de Colonização Sul Paulista) e em depoimentos incertos e duvidosos, não constituindo, portanto, base sólida para a sua reconstrução ou restauro. (Para ilustrar o que lhe pareceu ser dúvida ou insegurança de Luís Saia, quanto a restaurar ou não a torre, apresentou um croqui da capela, feito à época pelo próprio Saia, sem a torre.) Daí concluir, valendo-se de frase famosa do arquiteto francês Viollet Le Duc, de que o restauro desse elemento levou o monumento a um ”estado completo que pode jamais ter existido”. Em outras palavras, Luís Saia e Lucio Costa teriam restaurado algo – a torre – que, todavia, nunca houvera existido na história do monumento. Antonio Luiz, por fim, não sem malícia, elege a torre como elemento representativo, diz ele simbólico da atuação restaurativa do Serviço do PHAN.
Vale acrescentar que a análise de Antonio Luiz, fundamentada em vasta documentação e base teórica consistente, pela profundidade alcançada, constituiu, como não podia deixar de ser, referência obrigatória àqueles que seguiram o caminho por ele aberto, servindo assim de parâmetro a mestrandos e doutorandos que passaram a analisar a prática restaurativa do SPHAN em outros monumentos, esforçando-se em aplicar o mesmo procedimento, colhendo, porém, com uma ou outra exceção (é necessário dizer), resultados de valor duvidoso, que pouco acrescentavam, pois, ao invés de aplicarem, como enunciavam, a metodologia desenvolvida por Antonio Luiz ao objeto de análise escolhido, limitavam-se a reverberar o resultado a que ele chegara, replicando-o (como se fosse juízo absoluto e inconteste), tomando-o desse modo como demonstração prévia do que pretendiam analisar, sem entretanto desenvolver análises e reflexões que o legitimassem a matriz. É necessário dizer que, no mais das vezes, viam-se constrangidos a atender desejos e interesses do orientador, propagando-se assim e de tal forma no meio acadêmico até se tornar julgamento imperioso e obrigatório de toda e qualquer das restaurações realizadas pelos arquitetos do Serviço do PHAN.
De nossa parte, já vínhamos desenvolvendo o projeto Documentação de Bens e Monumentos Tombados pelo IPHAN com o intuito de rever pesquisas feitas à época do restauro e, se possível, aprofundá-las de forma a obter conhecimento maior sobre os mesmos. O artigo de Antonio Luiz nos chamou a atenção e provocou nosso interesse em examinar com mais detalhe a questão por ele levantada. A respeito dessa capela jesuítica encontramos inicialmente alguns documentos no acervo do Arquivo da Cúria Metropolitana de São Paulo que nos surpreenderam pois revelavam ação da mais alta autoridade do país – o Imperador Dom Pedro I –, de passagem pela aldeia em 1827, que denotava inopinado desapreço à capela, pois determinou, sem qualquer justificativa, que se retirasse os seus sinos e os conduzisse à cidade de São Paulo onde deviam ser entregues a Sé paulistana.
Relatamos esse acontecimento num primeiro artigo, ”Considerações acerca d’O NARIZ TORCIDO DE LUCIO COSTA”, onde, conforme palavras escritas em carta pelo Vigário Colado Alexandre Gomes de Azevedo ao Conego Fabriqueiro da Sé Catedral (datada de 27 de Junho 1827), um grupo de pessoas da comunidade impediu a condução dos referidos sinos, episódio que revela que essa capela possuía então uma torre sineira, pois que Dom Pedro I determinara a remoção dos ditos sinos para serem entregues ao Alferes Antonio de Camargo e Oliveira, responsável por conduzi-los a São Paulo. Essas pessoas tinham escondido os sinos e se negavam a entrega-los, ameaçando “exbordoar o condutor”, confrontando assim a autoridade do referido alferes. Em consequência o padre foi retirado da paróquia e teria sido expulso do país não houvesse a Cúria intercedido em seu favor. Enfim, pudemos anunciar que cerca de um pouco mais de cem anos antes do tombamento e restauro da capela jesuítica do Embu, esta possuía sim uma torre com seus respectivos sinos.
Depois desse anúncio, procedemos novas pesquisas, escarafunchando documentos do Arquivo do Estado de São Paulo, enveredando por caminhos diversos até encontrarmos um conjunto de documentos de período pouco anterior (compreendendo os anos de 1814 a 1826), infelizmente muitíssimo prejudicado – a umidade borrou e destruiu a maioria deles de cima abaixo, tornando a sua leitura parcial e incompleta. Mesmo assim, dávamos um passo além, que nos permitiu alargar o conhecimento sobre a capela e especialmente sobre a torre cuja existência havíamos certificado no ano de 1827.
Sintetizando as informações que lográvamos colher (depois de muito refletir acerca das palavras e expressões fragmentadas encontradas nesses documentos), vimos que o mesmo pároco que se via na obrigação de cumprir a ordem do Imperador, havia acabado de realizar, com a ajuda dos Diretores da Aldeia, consideráveis obras na capela em virtude dos danos que sofrera em consequência de uma tormenta que se abatera sobre Embu no ano de 1813. Inicialmente, “pr cauza do total desmancho do telhado”, foi preciso escora-la para que não viesse abaixo por inteiro. Obtida a autorização do governo para dispor do “patrimônio” (cabeças de gado) as obras iniciadas em 1814 só terminaram em 1826, durante as quais se houve por bem dispor de parte da verba para “o concerto da torRe, e mais obras q’ forem pre ciZas”.
Tudo isso e muito mais foi relatado e apreciado num segundo e longo artigo ”Afinal a capela jesuítica do Embu tinha ou não tinha torre?” em 2014 onde chegaríamos à conclusão possível diante da situação dos documentos, cuja fragmentação impedia uma leitura integral e segura, de que a torre da capela teria sido construída naquele momento. O que nos levava a aceitar o veredito de Antonio Luiz Dias de Andrade de que a torre da capela de Na. Sra. do Rosário não fazia parte do projeto arquitetônico original, ou seja, do período jesuítico que terminara em 1759.
Considerávamos pois encerrada a questão, julgando que nada mais havia a fazer quando fomos obsequiados pela Profa. Angélica Brito Silva, com uma valiosa informação, apresentada em sua tese de mestrado “O ALDEAMENTO JESUÍTICO DE MBOY: administração temporal (sécs. XVII-XVIII)”, FFLCH-USP 2018, extraída dos ”Autos de Inventário e Sequestro feito nos bens que se acharam na Aldeya de Mboy” em 1759, a qual, agora sim, coloca um ponto final à questão que nos propusemos investigar.
As considerações que apresentamos neste terceiro e definitivo artigo “AFINAL QUEM TINHA MESMO RAZÃO ERA LUÍS SAIA”, escrito em dezembro de 2018 e que agora publicamos no Academia.edu, decorrem dessa descoberta da Profa. Angélica com quem tenho o prazer de trocar informações e manter conversações sobre nossas pesquisas.

São Paulo, 12 de janeiro de 2022
Reminiscências de minha adolescência
ITANHAÉM deve sua origem a Pedro Martins Namorado, conquistador de suas terras e que, ainda em vida, fez doação, aos que o ajudaram na conquista, de terras para se estabelecerem, consignando ainda duzentas braças em quadra para rocio da... more
ITANHAÉM deve sua origem a Pedro Martins Namorado, conquistador de suas terras e que, ainda em vida, fez doação, aos que o ajudaram na
conquista, de terras para se estabelecerem, consignando ainda duzentas braças em quadra para rocio da futura Vila, que teria se originado, de conformidade com o desejo de seu fundador, no monte onde hoje se vê a igreja e o convento franciscanos.
Vizinha é mais uma dessas lembranças de infância que transpus para o papel e figura na Página Literária do meu blog Resgate - História e Arte.
O desenho que tão bem retrata o episódio é do amigo arquiteto Luís Magnani.
"Tenho (Eu) certeza de ter identificado o autor de um dos quadros mais lindos da pintura paulista, o teto da sacristia da Terceira do Carmo daqui. É o mesmíssimo José Patrício da Silva que pintou o teto da matriz ituana e jamais Jesuíno... more
"Tenho (Eu) certeza de ter identificado o autor de um dos quadros mais lindos da pintura paulista, o teto da sacristia da Terceira do Carmo daqui. É o mesmíssimo José Patrício da Silva que pintou o teto da matriz ituana e jamais Jesuíno como conta a tradição oral."
(Mário de Andrade: Cartas de Trabalho. Correspondência com Rodrigo Mello Franco de Andrade (1936-1945))
Meras divagações sobre a vida e o trabalho ao chegar à velhice.
Fotos do trabalho de restauração das pinturas de Padre Jesuíno do Monte Carmelo realizado entre 2007 e 2011, pela empresa Julio Moraes Restauração e Conservação com o patrocínio do Monumenta/IPHAN
A primeira vez que se teve notícia de uma pintura de padre Jesuíno do Monte Carmelo executada em fins do século XVIII, mas que, todavia, permanecia ainda desconhecida, ocorreu em dezembro de 1945, quando da publicação do estudo então... more
A primeira vez que se teve notícia de uma pintura de padre Jesuíno do Monte Carmelo executada em fins do século XVIII, mas que, todavia, permanecia ainda desconhecida, ocorreu em dezembro de 1945, quando da publicação do estudo então realizado por Mário de Andrade sobre a vida e a obra desse pintor colonial paulista. Trata-se de um painel que concebeu para o teto da nave da capela dos Terceiros Carmelitanos de S. Paulo, executado junto com as demais pinturas que ainda ornam todo o seu forro, recentemente tombadas pelo IPHAN (27/08/1996).
“aumentando-se a eles (o salário dos trabalhadores estrangeiros) torna-se preciso aumentar os Nacionais e escravos, visto estes não serem, em serviço, inferiores àqueles; e sou de parecer que esse aumento seja geral, porquanto o que... more
“aumentando-se a eles (o salário dos trabalhadores estrangeiros) torna-se preciso aumentar os Nacionais e escravos, visto estes não serem, em serviço, inferiores àqueles; e sou de parecer que esse aumento seja geral, porquanto o que sofrem uns, a respeito do alto preço dos gêneros, sofrem outros”
(Ofício do Administrador, Eng. Gil Florindo de Moraes ao Presidente da Província de São Paulo, de 6/2/1860)
Na segunda metade do século XIX a sociedade ituana já não se recordava mais de um dos mais notáveis artífices que contribuiu para o esplendor barroco de sua principal igreja. A imponência artística de seu retábulo mor, todavia, reclamava... more
Na segunda metade do século XIX a sociedade ituana já não se recordava mais de um dos mais notáveis artífices que contribuiu para o esplendor barroco de sua principal igreja. A imponência artística de seu retábulo mor, todavia, reclamava dos ituanos que declinassem quem fora o seu autor. O nome Guilherme surge em meio a vagas lembranças entre os mais ilustres cidadãos, e, a seguir, lançado num artigo de jornal por um historiador, torna-se referência indelével, muito embora imprecisa, de sua autoria.  Somente após a descoberta do verdadeiro autor do retábulo - Bartholomeu Teixeira Guimarães - localizamos Guilherme, que ocupou indevidamente o lugar de Bartholomeu por cerca de um século e meio.
O Destaque é o retábulo mor da Igreja Matriz de Itu, pois o inesperado sempre surpreende; mesmo quando se revela em peça escultórica de real valor artístico. Depois de cerca de ano e meio de laborioso trabalho, o retábulo foi... more
O Destaque  é o retábulo mor da Igreja Matriz de Itu, pois o inesperado sempre surpreende; mesmo quando se revela em peça escultórica de real valor artístico.  Depois de cerca de ano e meio de laborioso trabalho, o retábulo foi apresentado ao público em cerimônia ocorrida dos festejos de aniversário da cidade, em fevereiro de 2015, com todo o douramento e policromia originais restaurados. Obra dos artífices Bartholomeu Teixeira (entalhador) e José Patrício da Silva Manso (Pintor e Dourador). Não me contive e resolvi dar minhas impressões sobre essa verdadeira obra de arte.
Há informações que, por serem há muito procuradas, quando finalmente encontradas, não veem o momento de se tornarem notícia. Ainda mais quando somos nós o seu portador. O que nos faz muito contentes. E a ocasião não poderia ser mais... more
Há informações que, por serem há muito procuradas, quando finalmente encontradas, não veem o momento de se tornarem notícia. Ainda mais quando somos nós o seu portador. O que nos faz muito contentes.
E a ocasião não poderia ser mais propícia, pois que descoberto no momento em que estão reunidas as condições mais favoráveis à sua divulgação, visto referir-se a objetos colocados agora no centro das atenções de todos aqueles que moram ou conhecem e respeitam "Uma Cidade Antiga", como a chamou Octávio Ianni em estudo de 1981, que reúne no seu centro histórico monumentos artísticos que a fazem distinguir-se dentre as demais no cenário do passado colonial paulista, e que estão acompanhando com grande expectativa os trabalhos de restauro do magnifico acervo artístico de sua Igreja Matriz de Nossa Senhora da Candelária, realizados pela equipe de Julio Moraes – projeto patrocinado por uma dessas variantes da lei do mecenato (através do Banco Nacional de Desenvolvimento Social) e da própria Prefeitura de Itu.
Origem da Vila "Itanhaém, onde a história é muito mais restrita do que a lenda" (Serafim Leite, S.I.-História da Cia. de Jesus no Brasil, Lisboa, 1938, p. XVI)
Mário de Andrade visita Itanhaém "Terra velha deve conservar-se velha, quando mais não seja para o meu instinto admirativo de artista."
Como o próprio título informa, trata-se de aventar o possível encontro dos dois mais famosos artistas mulatos paulistas na próspera Vila de Itu em 1795, quando da instalação do Cruzeiro defronte ao conjunto franciscano. Tendo por base... more
Como o próprio título informa, trata-se de aventar o possível encontro dos dois mais famosos artistas mulatos paulistas na próspera Vila de Itu em 1795, quando da instalação do Cruzeiro defronte ao conjunto franciscano. Tendo por base poucos, mas interessantes documentos, parto do pressuposto de que a força dos regramentos corporativistas da sociedade estamental escravagista, quer em seus aspectos religiosos e étnicos quer profissionais, determinavam os espaços de produção e circulação dos bens artísticos bem como amoldavam as relações entre os diferentes artistas, aproximando-os, todavia, superando as diferenças e as distâncias que existiam entre eles, congregando-os independentemente de sua condição na sociedade colonial. Entender esse panorama não é suficiente, porém, para desvelar as relações que entre eles houvera de acontecer; razão porque fiz uso da invenção literária.
O Mestre Canteiro Joaquim Pinto de Oliveira, mulato mais conhecido pelo codinome Thebas, foi objeto de interesse de inúmeros cronistas e historiadores que não pouparam esforços na busca por documentos que comprovassem sua presença nas... more
O Mestre Canteiro Joaquim Pinto de Oliveira, mulato mais conhecido pelo codinome Thebas, foi objeto de interesse de inúmeros cronistas e historiadores que não pouparam esforços na busca por documentos que comprovassem sua presença nas obras de cantaria realizadas na segunda metade do século XVIII na cidade de São Paulo e que muito contribuíram para transformar a paisagem urbana onde até então predominava a simplicidade das configurações próprias da taipa de pilão.
Pesquisa que realizamos na documentação dos arquivos da Província franciscana paulista porém revelam que sua atuação não se restringiu à cidade de São Paulo. Localizamos Thebas também em Itu, na última década do XVIII, num momento em que a comunidade franciscana promovia obras que ampliavam e reformulavam suas edificações procurando dota-las com soluções estéticas "modernas" tais quais a que se realizavam na cidade de São Paulo.
A obra que lá realizou é típica da arquitetura franciscana, pois arremata o conjunto e estabelece o espaço necessário para a sua admiração,  além de funcionar "como elemento de intermediação entre o aspecto mundano da cidade e o caráter sacro do convento" como nos lembra o amigo e Professor Jonas Soares de Souza.
A partir dessa feliz descoberta, ficamos esperançosos de poder encontrá-lo em outras obras ituanas do período, como também em outras Vilas da Capitania, tanto do interior como do litoral de onde proveio Thebas.
Farei minha comunicação em duas partes. Primeiramente vou procurar responder a duas das cinco questões prévias estabelecidas pelo organizador desse ciclo de debates, o sr. Abílio Ferreira. Quais sejam: 1ª. Quem foi Tebas? e 2ª. Como era... more
Farei minha comunicação em duas partes. Primeiramente vou procurar responder a duas das cinco questões prévias estabelecidas pelo organizador desse ciclo de debates, o sr. Abílio Ferreira. Quais sejam: 1ª. Quem foi Tebas? e 2ª. Como era ser homem, negro e profissional especializado em pleno século 18? Em seguida vou rapidamente falar sobre o patrimônio produzido em S. Paulo por Tebas, o que já foi identificado e tombado pelo IPHAN ou que está em vias de ser protegido.
Palestra feita no UMAPAZ, espaço cultural da Secretaria Municipal de Cultura de São Paulo na Semana da Consciência Negra.
O mais afamado oficial de cantaria de pedra que atuou na cidade de S. Paulo no período colonial foi o mulato então conhecido pelo codinome Tebas. Artífices mulatos existiram inúmeros no Brasil Colonial: Minas, Rio, Bahia, Pernambuco,... more
O mais afamado oficial de cantaria de pedra que atuou na cidade de S. Paulo no período colonial foi o mulato então conhecido pelo codinome Tebas.
Artífices mulatos existiram inúmeros no Brasil Colonial: Minas, Rio, Bahia, Pernambuco, tiveram os seus mais lídimos representantes, razão porque ganharam merecidamente um destaque expressivo na literatura histórica brasileira. Esses mulatos deram muito o que falar e, alguns, deixaram vestígios materiais de suas passagens pela história. ...
Mas ainda resta muito por conhecer acerca deles; e para que isso se possa realizar é preciso também entender melhor o mundo em que viveram e as limitações que se lhes impunham a vida social de então, especialmente o viver sob o escravismo e a estratificação social do Antigo Regime – condicionantes estruturais das sociedades criadas no mundo colonial português – e, em meio a eles, os  profissionais urbanos, tanto dos Ofícios mecânicos, como das Artes e, com eles as organizações corporativistas transladadas para aqui.
Não foi sem propósito que escolhemos as torres das igrejas de Itu para apresentar algumas reflexões sobre o patrimônio religioso ituano. São, invariavelmente, o último elemento a ser construído nas igrejas. Determinam, na maior parte... more
Não foi sem propósito que escolhemos as torres das igrejas de Itu para apresentar algumas reflexões sobre o patrimônio religioso ituano. São, invariavelmente, o último elemento a ser construído nas igrejas. Determinam, na maior parte delas, o final do ciclo criativo originário.
O Projeto foi apresentado ao IPHAN/SP em abril de 2019 pelos arquitetos Alberto Arruda e José Saia Neto (experiente técnico em restauração que atuou no órgão federal de preservação de 1970 a 2012), e foi apreciado primeiramente por mim em... more
O Projeto foi apresentado ao IPHAN/SP em abril de 2019 pelos arquitetos Alberto Arruda e José Saia Neto (experiente técnico em restauração que atuou no órgão federal de preservação de 1970 a 2012), e foi apreciado primeiramente por mim em julho do mesmo ano, aprovando-o. Meses depois seria reprovado pela atual equipe de arquitetos da Superintendência paulista.
Mário de Andrade, após alguns meses à frente dos trabalhos de organização do Serviço do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional em São Paulo, elabora um primeiro relatório sobre os bens arrolados até então no território paulista e nele... more
Mário de Andrade, após alguns meses à frente dos trabalhos de organização do Serviço do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional em São Paulo, elabora um primeiro relatório sobre os bens arrolados até então no território paulista e nele apresenta nomeadamente o seu parecer sobre São Benedito e São Francisco - irmandades originariamente organizadas no interior da Ordem Primeira - como Igreja franciscana, situada paredes-meias ao Convento de S. Francisco. ... "É uma das poucas relíquias coloniais existentes na cidade de S. Paulo, com interessantes dispositivos arquitetônicos internos, e boa talha nos altares. Merece tombamento imediato."
Mário de Andrade tinha mesmo razão. Quando, num lançar de olhos, se compara tudo o que restou de Arte e Arquitetura do período Colonial, vê-se como é acanhado o que conseguiu chegar preservado em território paulista frente a qualquer... more
Mário de Andrade tinha mesmo razão. Quando, num lançar de olhos, se compara tudo o que restou de Arte e Arquitetura do período Colonial, vê-se como é acanhado o que conseguiu chegar preservado em território paulista frente a qualquer outra região brasileira de mais antiga ocupação. Mesmo o patrimônio que herdamos da Companhia de Jesus - a primeira organização religiosa a se instalar na região - também não foge a essa regra geral. Também aqueles que, com os padres estavam desde os primeiros momentos de ocupação do planalto piratiningano, nada restou que pudesse dar uma vaga ideia das edificações daquele recuado período. Resta-nos, todavia, o consolo, para nós de grande importância, de verificarmos que, a despeito das lamentáveis perdas ocorridas, uma pequeníssima parte do patrimônio constituído nos arredores da Vila de São Paulo de Piratininga, representa ainda o que de mais antigo permaneceu entre nós.
"Não há mal que por algum bem não venha, eis aqui um formoso ditado, anterior a quantos relativismos filosóficos se engendraram e que sabiamente nos ensina serem penas perdidas querer julgar os casos da vida como se de separar o trigo do... more
"Não há mal que por algum bem não venha, eis aqui um formoso ditado, anterior a quantos relativismos filosóficos se engendraram e que sabiamente nos ensina serem penas perdidas querer julgar os casos da vida como se de separar o trigo do joio se tratasse." (José Saramago-HISTÓRIA DO CERCO DE LISBOA. Cia. das Letras. S. Paulo. 1989) "... a história como lugar de controvérsia, como lugar privilegiado do conflito das interpretações, está exercendo uma função terapêutica. Ela pode apoiar-se nessa recente tomada de consciência que existem diversos relatos possíveis das mesmas ações, dos mesmos acontecimentos." (François Dosse-A História. Bauru, SP. EDUSP. 2003. pp305/6) "A falta de documentação, em muitos casos, é devida à falta de pesquisa". (Rubens Borba de Moraes-LIVROS E BIBLIOTECAS NO BRASIL COLONIAL. Briquet de Lemos. 2006.) "Sustentamos que não pode haver duas formas de ciência histórica. As problemáticas podem diferir, e certamente diferem, mas os resultados, entre historiadores de boa fé, devem convergir." (Fernand Braudel-citado por René Martin-História Social do Mundo Romano Antigo: métodos e problemas.
Antonio Luiz Dias de Andrade, um ano antes de obter o titulo de Doutor em Arquitetura ao defender a tese UM ESTADO COMPLETO QUE PODE JAMAIS TER EXISTIDO, publicou na revista SINOPSES, em 1992, o artigo O NARIZ TORCIDO DE LUCIO COSTA,... more
Antonio Luiz Dias de Andrade, um ano antes de obter o titulo de Doutor em Arquitetura ao defender a tese UM ESTADO COMPLETO QUE PODE JAMAIS TER EXISTIDO, publicou na revista SINOPSES, em 1992, o artigo O NARIZ TORCIDO DE LUCIO COSTA, colocando em destaque um dos casos analisados na monografia relativos às obras empreendidas nos anos iniciais de atividade do Serviço do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional: o da capela jesuítica do Embu/SP
1 Documentos comprovam ROQUE SOARES MEDELLA como construtor da morada rural hoje conhecida por Sítio Padre Ignácio, e dão ensejo a novas perspectivas de pesquisa. 1 Carlos Gutierrez Cerqueira-IPHAN/SP Trata-se de documentos hoje... more
1 Documentos comprovam ROQUE SOARES MEDELLA como construtor da morada rural hoje conhecida por Sítio Padre Ignácio, e dão ensejo a novas perspectivas de pesquisa. 1 Carlos Gutierrez Cerqueira-IPHAN/SP Trata-se de documentos hoje pertencentes ao Museu Paulista da Universidade de São Paulo que localizamos no fichário (manuscrito) constituído pelo senhor João Baptista de Campos Aguirra (1871-1962). Dada a natureza do seu trabalho, dentre os milhares de documentos cartoriais que copiou, encontramos primeiramente uma peça acusatória de 1821, envolvendo descendentes da família Medella e que acabou por complementar a pesquisa desse importante monumento nacional e que, como se verifica pela transcrição abaixo, resolve em definitivo a questão, dirimindo quaisquer dúvidas que ainda pudessem existir sobre a sua origem. Já no segundo (Auto de Inventário de Padre Raphael Antonio de Barros, a descrição exata da morada, feita pelos avaliadores em 1803. O documento original, copiado por Aguirra, era um Libelo de Justificação, datado de 2 de maio de 1821, impetrado por Dona Anna de Barros Leme, herdeira de seu tio e padrinho o Padre Raphael Antonio de Barros, contra parentes seus, descendentes de seu tio Felipe de Santiago Diniz, a respeito de terras que lhe pertencia e que estavam sendo, alegava, indevidamente por eles ocupadas. Na argumentação feita a propósito da legitimidade da posse das referidas terras a neta de Roque Soares Medella afirma ser "Senhora e possuidora por Legítimo título do Sítio e terras que forão dos seus avós o Sargto. Mor Roque Soares Medella e Da. Anna de Barros, que para bem do seu Direito se lhe foy precizo justificar (o) segte.: 1)Que a jusfiticante he senhora e possuidora (h)á mtos. annos do dito sitio e terras por herança de seu tio o Padre Raphael Antonio de Barros que em pacifica posse foi senhor e possuidor do dito Citio e terras desde o anno de 1747 em que foi subjudicado no inventário de seus Pais o Sargto. Mor Roque Soares Medella e D. Anna de Barros por sentença que transitou em julgado. Pelo termo subjudicado entende-se que Raphael Antonio de Barros passou a ter o domínio efetivo sobre o sítio (vale dizer: a casa-grande ou a casa de morada principal e mais benfeitorias anexas) e as terras que pertenceram desde 1821 aos seus pais somente a partir de 1747, ano em que foi proferida a sentença definitiva sobre o inventário de seus pais. Localizamos, desse modo, em tão poucas linhas de um único documento, a síntese de todo um trabalho de pesquisa que o IPHAN desenvolvia desde a sua descoberta em 1942. (Ver a respeito: PESQUISAS EM TORNO DE UM MONUMENTO. 9ª Coord. Regional do IPHAN. S. Paulo. 1997) Não bastasse a satisfação dessa descoberta, também localizamos referência a um outro documento deveras importante. Trata-se da descrição da casa-grande do mesmo sítio e que o Sr. Aguirra copiou do inventário original do Reverendo Padre Rafael Antonio de Barros. Embora tivéssemos alguma dificuldade na leitura da ficha, fornecia todavia dados importantes: 1 Este artigo foi primeiramente publicado no site http://carloscerqueira.multiply.com (que desapareceria repentinamente e sem "aviso prévio" a seus colaboradores e usuários, em 2011), por intermédio do qual havíamos iniciado a divulgação de nossas pesquisas realizadas no IPHAN/SP.
A historiografia nos convida a imaginar a vida humana na extensa circunvizinhança da Vila de São Paulo de Piratininga dos primeiros séculos de sua história como a pintura de uma paisagem predominantemente rural, os morros cobertos por... more
A historiografia nos convida a imaginar a vida humana na extensa circunvizinhança da Vila de São Paulo de Piratininga dos primeiros séculos de sua história como a pintura de uma paisagem predominantemente rural, os morros cobertos por matas virgens, com aberturas onde se cultivam os víveres indispensáveis à subsistência das famílias espalhadas por este vasto e bucólico cenário, em suas moradias, sempre rodeadas por índios trabalhando, cingindo a terra, conduzindo o gado, transportando coisas. Uma dessas moradas se destaca sobremaneira já pelo portal de entrada, todo em madeira lavrada, onde se encontram postados uns poucos índios montando guarda, após o que, propriedade adentro, vêem-se num cercado tosco cavalos defronte a cocheiras bem aparelhadas; dali prossegue um caminho adornado por fileiras de roseiras e marmeleiros de lado a lado até encontrar um pátio largo onde se dispõem diversas benfeitorias. O observador atento logo se apercebe da rara presença de mulher branca, apenas assinalada numa figura postada ao lado de um homem barbudo que parece dar ordens, a partir da varanda de uma casa larga e atarracada, a um grupo de índios que se dirige a uma capela alpendrada posicionada a pouca distância. Bem ao lado da capela outros índios se ocupam em fincar um pau comprido encimado por uma bandeira, prenunciando alguma festividade. Outro grupo, este só de índias, se concentra em torno de umas choças, não muito distantes da mencionada casa, onde preparam comidas em abundância. A normalidade cotidiana parece algo alterada diante de tanta atividade. Alheio a tão grande agitação, um padre, provavelmente da Companhia de Jesus, catequiza um grupo de indiozinhos que parecem entonar cânticos religiosos. Bem mais adiante, após ultrapassar um trigal conexo e bem proporcionado, surge um panorama não muito diverso, exceto em relação à escala dos elementos antes mencionados, que se dispõe em unidades ao longo de um caminho plano, umas de tamanho médio, outras menores, demarcadas por valas e arvoredos de espinho, retratando vida mais modesta de seus moradores que, todavia, dispõem igualmente de alguns índios para o trato de suas lavouras e criações. O caminho prossegue e mais adiante ainda se vê um grupo de índios transportando sabe-se lá o quê em grades feitas de cipó por sua vez atravessadas por paus que se apoiam sobre seus ombros. Outro pequeno grupo segue mais adiante conduzindo algumas cabeças de gado. À frente dos dois grupos vai um cavaleiro acompanhado por três outros índios caminhando a pé, portando arcos e flechas. O destino parece ser um platô onde, no alto, se vê um casario descontínuo pontilhado por algumas torres de igrejas que se erguem a pouca altura sobre os telhados dos demais edifícios. Para além desse elevado, no prosseguimento do caminho, pode-se ainda observar, vindo em direção contrária e tendo à frente homens encimando bandeiras, outros agitando suas espadas, seguidos por um grupo de pessoas armadas, atrás das quais seguem centenas de índios, muitos dos quais acorrentados e cercados por outros índios que, com lanças em punho ou porretes à mão, os conduzem em fila. Apesar da distância, percebe-se o grande número de mulheres e crianças, algumas de colo, que, abraçadas ou de mãos dadas, seguem enfileiradas. E, por fim, no lado oposto e à meia altura do quadro, num clarão da mata, se vê uma capela com um edifício anexo tendo vários casebres no entorno de uma larga praça assim formada, com inúmeros índios próximos à figura de um padre a gesticular e apontar para o céu! Embora a paisagem quase toda nos induza a uma ambígua sensação de tristeza e mansidão, há nela um dinamismo que deriva do movimento dos índios; onde quer que se encontrem, estão sempre em atividade. Aliás, a presença do indígena é de uma constância que parece refletir uma preocupação ou uma intenção mal dissimulada do pintor. Mas, não. Disse-nos que procurou tão somente retratar o
A Regional paulista do IPHAN (1), ao longo dos seus 30 primeiros anos de existência, caracterizou-se não só pelo grande número de edificações restauradas, mas especialmente pela identificação e proteção legal da maior parte dos... more
A Regional paulista do IPHAN (1), ao longo dos seus 30 primeiros anos de existência, caracterizou-se não só pelo grande número de edificações restauradas, mas especialmente pela identificação e proteção legal da maior parte dos testemunhos materiais que registram a ocupação do Estado de S. Paulo. Grande parte do mérito deste esforço deve ser creditado a uma pequena equipe que atuou até o início dos anos 1970 (2); na qual cada técnico compensava a crônica deficiência de pessoal transitando por áreas de conhecimento diversas daquela de sua formação específica; não obstante, as questões mais complexas sempre contaram com o valioso apoio de colaboradores dedicados e competentes. A criação das universidades públicas, e particularmente as afinidades entre as atribuições de ambas as instituições, impunham um trabalho conjunto. No entanto, esta possibilidade de colaboração mútua infelizmente nunca se consumou, a não ser nas poucas ocasiões em que, graças a sensibilidade de alguns de seus professores, dos quais vale salientar José Loureiro Fernandes, da UFPR, e Eurípedes Simões de Paula, da USP, foram realizados alguns dos trabalhos mais importantes da Regional, no âmbito da arqueologia, da preservação documental e da pesquisa histórica. Muitos daqueles que hoje atuam na área de preservação iniciaram suas atividades-ainda como estudantes-estagiários-em projetos e ações concebidos por ocasião destas esporádicas (*) Na versão original, de 1997, a publicação tem 72 páginas. Esgotada, porém. Está aqui reproduzida sem revisão a não ser uma ou outra correção de grafia agora constatada; alterada porém apenas sua paginação pela nova formatação bem como a disposição das ilustrações, dentre as quais a capa original do libreto que dispusemos no alto à esquerda (com a foto do ex presidente e historiador Washington Luiz em visita ocorrida em 1915)..
Se hoje, passados mais de 70 anos da publicação PADRE JESUÍNO DO MONTE CARMELO pelo Serviço do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, e graças também às ações de restauração iniciadas a partir de 2007, podemos apresentar e... more
Se hoje, passados mais de 70 anos da publicação PADRE JESUÍNO DO MONTE CARMELO pelo Serviço do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, e graças também às ações de restauração iniciadas a partir de 2007, podemos apresentar e comentar
as pinturas de Jesuíno que Mário de Andrade não viu, passados tantos anos podemos apresentar e comentar documentos que Mário de Andrade não viu, ou que não teve acesso à época em que desenvolvia o estudo.
Advertência: Difícil escrever sobre coisas que não existem mais. Seria mais fácil sobre coisas do passado que ainda existem; mesmo que alteradas. Mas quando descobrimos um documento, saboroso pelas informações que nos traz acerca de... more
Advertência: Difícil escrever sobre coisas que não existem mais. Seria mais fácil sobre coisas do passado que ainda existem; mesmo que alteradas. Mas quando descobrimos um documento, saboroso pelas informações que nos traz acerca de coisas que não existem mais, o que fazer? Impossível ignorá-lo! Nós, historiadores, amamos documentos; talvez até mais do que as coisas propriamente ditas; existam ainda ou não. As palavras de um documento antigo (este é de 1793), por sua vez, constituem já uma primeira dificuldade. Além da dimensão temporal, continham significados e sentidos que, hoje, podem não ser os mesmos. É preciso, pois, atenção e muito esforço para captá-los, e reelabora-los numa sintaxe moderna, sem o que será impossível compreender as coisas à que se referiam. A escrita da época tinha lá uma organização ou uma forma de construção algo diferente da nossa, adequada às coisas e especialmente à maneira de fazê-las; pois, e isso é devera importante neste caso, tratam-se de objetos artísticos. Daí porque, por maiores que sejam as dificuldades de compreensão desse documento, há uma frase do artista que penso ser chave para o seu entendimento, por exprimir de maneira muito simples e direta o que vem a ser o exercício de uma atividade artística como a do entalhe. Ei-la: "dando a tudo aquelle jeito ou volta q' for conveniente á perfeição da mesma obra". Cópia desse documento encontramos em 1984 registrado no volume 4 dos Livros de Termos da VOT do Carmo de São Paulo 1. Este, avulso, foi 1 Naquele ano iniciava as pesquisas na documentação da Ordem Terceira com o propósito de subsidiar o processo de tombamento das pinturas de Padre Jesuíno do Monte Carmelo. Deixei este documento de lado pois encontrei outro mais importante, referente à construção dos arcos do frontispício da capela, que me interessou bem mais, elemento arquitetônico que me permitiu resolver questão controvertida até então no IPHAN-o tombamento da capela-obstáculo à preservação das pinturas estudadas por Mário de Andrade (PADRE JESUÍNO DO MONTE CARMELO. Publicação SPHAN N. 14. MES. RJ. 1945) que foi assim possível superar.