Por Renato Zanata Arnos*

Lembrando sempre da falta de paciência de torcedores, dirigentes, treinadores e grande parte da mídia esportiva brasileira, nos voltamos destacadamente para os gringos que já levam mais tempo de militância no futebol profissional. Atletas que podem sobreviver ao imediatismo impregnado em nossa cultura boleira.

Quanto às mais recentes revelações do futebol sul-americano, não me furto a destacar o meia colombiano Edwin Cardona (22 anos), doAtlético Nacional de Medellín; o goleador uruguaio Octavio Rivero (22), O'Higgins; e os jovens e promissores "camisas 5" argentinos, Matías Kranevitter (21), River Plate; Gastón Gil Romero (21), Estudiantes; e Lucas Romero (20), Vélez.

Em relação ao cobiçado enganche, os meninos (todos com 21 anos) Joaquín Correa, do Estudiantes de La Plata; Juan Ramírez, destaque e capitão no Argentinos Juniors de Riquelme; e Gonzalo Nicolás Martínez. A idade não nos permite dizer se ‘Pity' Martínez terá futuro de Javier Pastore ou de Defederico, nomes que já foram igualmente destaques no seu Huracán, atual campeão da Copa Argentina, com destinos distintos.

Pibes que iniciaram suas carreiras nos profissionais há no máximo três anos e, apesar da pouca idade, exibem personalidade forte para encarar desafios sem tremer. E com a pelota nos pés apresentam uma boa leitura de jogo, produtivos passes verticais e arremates. Características que vêm servindo para qualificar a transição e os últimos metros de cancha nas tramas ofensivas de suas respectivas equipes.

Feito o registro dos que ainda carregam em seus RGs o carimbo de joyitas, vamos aos mais cascudos.

Goleiro

Franco Armani, 28 anos, 1,89 metro de altura, é argentino de Santa Fe, cria do Ferro Carril Oeste, é um dos principais responsáveis pela classificação do seu Atlético Nacional de Medellín para a decisão da Copa Sul-americana 2014. Em maio deste ano o arqueiro santafesino também foi herói na conquista do 14° título de Primeira Divisão Colombiana da história da equipe verde de Antioquia.

Armani coleciona boas intervenções na interceptação de jogadas aéreas, boa reposição de bola e agilidade ao encarar arremates rasteiros. E vem se especializando em defender cobranças de pênaltis de jogadores brasileiros. Foram dois contra o Bahia de Souza "Caveirão" e Fabrício Lusa na edição 2013 da Copa Sul-americana. Em novembro, deteve a penalidade cobrada pelo são-paulino Rafael Tolói, em peleja válida pela semifinal da edição 2014 da mesma competição.

Com passagem pelo também argentino Deportivo Merlo, Armani se transferiu para o Atlético Nacional de Medellín em 2010. Em outubro de 2013 atingiu a histórica marca de 1.046 minutos sem tomar gols, batendo o recorde que Otoniel Quintana havia registrado em 1971. Ele manteve sua meta intransponível por 1.024 minutos. Ídolo na Colômbia, Franco Armani conseguiu vencer fora do seu país de origem. Conquistou oito títulos em quatro anos no futebol cafetero. Fica a dica. Confira Armani em atuação:

Laterais

Gabriel Mercado, 27 anos, 1.81cm, lateral direito/zagueiro do River Plate. Formado no Racing Club, é campeão mundial com a seleção argentina sub 20 (2007, Canadá) e assina passagem destacada pelo Estudiantes de La Plata de Alejandro Sabella. Atua como um lateral que se impõe fisicamente tanto nos duelos defensivos, como também, nas projeções ofensivas pela beirada direita do campo contrário. Basicamente é de buscar o fundo e com no máximo dois toques na bola, acionar com cruzamentos (bola aérea) os companheiros dentro da grande área rival.

Gabriel Mercado - projeções no campo contrário:

Gabriel Mercado - intervenções no campo defensivo:

Leonel Vangioni, argentino, 27 anos, 1,75m, também atleta do River Plate, registra passagem (amistosos) pelas seleções de Maradona, Sabella e Martino. Um meio-campista que se destacou inicialmente no Newell's Old Boys, onde também passou a jogar na lateral esquerda com qualidade. Vem se alternando nestas duas posições. De perfil ofensivo, Vangioni reúne condições técnicas para levar perigo ao arco adversário em suas incursões no campo contrário, principalmente quando executa seus arremates compostos de potência e veneno. Confira:

Milton Casco, 26 anos, 169m, atua como lateral pelos dois lados da cancha, boa técnica, destacada produtividade ofensiva e com futebol para buscar vaga no selecionado albiceleste dirigido por Tata Martino, técnico que o comandou no rubro-negro rosarino. Jogador que vem fazendo boas apresentações mesmo em um Newell's Old Boys que está longe de apresentar o futebol competitivo e vistoso que exibiu em 2013 dentro e fora da Argentina.

Emmanuel Mas, 25 anos, 1.80 cm, lateral esquerdo e Julio ‘Beckhan de Boedo' Buffarini, 26 anos, 1,69m, lateral direito/volante, ambos argentinos e jogadores do San Lorenzo de Almagro, campeão da Libertadores 2014. Laterais que reúnem velocidade, imposição física e qualidade técnica para protagonizarem tabelas e triangulações com os meias e atacantes ou quando acionados por passes longos, aprofundar jogadas ofensivas e servir seus companheiros na grande área rival. Também buscam e produzem bons arremates de fora da área.

Meio-campistas

Federico Mancuello, argentino, 25 anos, 1,77m, canhoto, segundo volante no 4-2-3-1 ou posicionado pela esquerda do círculo central no 4-3-1-2 ou 4-4-2. Jogador do Independiente de Avellaneda, clube que o revelou e o fez debutar na primeira divisão em 2008, Mancuello também já atuou improvisado na lateral esquerda e na função de enganche, sem protagonismo, em 2010 diante do Boca Juniors, em clássico válido pelo torneio Apertura. É fato que ter recebido uma dura entrada do zagueiro Insaurralde contribuiu para sua atuação irregular naquela tarde.

Em sua primeira fase no CAI, Mancuello colecionou desempenhos fracos e medianos, e esquentou o banco de suplentes no Clausura 2011, até ser emprestado ao Belgrano de Córdoba no segundo semestre do mesmo ano. Em seu debut no ‘El Pirata' registrou uma atuação apagadíssima no empate em 1 a 1 com o All Boys, partida válida pela primeira rodada do torneio Apertura.

Seguiu registrando atuações nota 4 e 5 e somando horas no banco de suplentes. Sua melhor atuação no torneio (6,5 no Olé) foi na vitória por 1 a 0 sobre o Tigre, 12ª rodada, atuando pela beirada esquerda da segunda linha do 4-4-2 do pirata cordobés. Terminou o Apertura 2011 como titular nas quatro últimas rodadas, quando apresentou uma considerável melhora de nível técnico.

No Clausura 2012, uma grave lesão ligamentar no tornozelo direito durante a pré-temporada o deixou fora das oito primeiras rodadas. Voltou contra o Estudiantes LP e foi bem. Justamente por ter tido a liberdade de não ficar restrito ao flanco esquerdo, podendo buscar e gerar jogo pela faixa central da cancha, setor do campo que vem fazendo com que o "Mancuello versão 2014" (voltou ao Independiente após Clausura 2012), esteja vivendo a melhor fase da sua carreira e tenha entrado na mira de vários clubes e do Diretor Técnico do selecionado nacional, Gerardo Martino.

Com 10 gols em 19 rodadas e atuando como segundo volante dentro do 4-2-3-1 Rojo, Mancuello vem colecionando ótimas atuações e divide com Téo Gutiérrez e Gustavo Bou a vice artilharia no atual campeonato argentino. Na vitória por 2 a 0 sobre o Rosário Central, partida em que assumiu a braçadeira de capitão, Mancuello foi o melhor jogador em campo e, mesmo na derrota por 3 a 1 para o Boca Juniors foi o diablo de Avellaneda mais produtivo pelo o que apresentou principalmente na segunda etapa. No 1 a 0 pra cima do Newell's, o camisa 11 do Independiente teve o melhor desempenho entre os atletas que pisaram o gramado do estádio Libertadores de América.

Com contrato renovado até dezembro de 2016 (cláusula de rescisão: US$ 5 milhões), Mancuello declarou recentemente que se sente mais cômodo atuando de frente para o arco rival, condição tática que o posto de volante pela faixa central do gramado lhe dá. E posicionamento que Ricardo Bochini, eterno ídolo dos Diablos Rojos, também entende como sendo o melhor para o SuperMancu: "definitivamente su puesto es de volante interno. Así llega de frente al arco, es otra cosa".

Confira na íntegra a bela atuação de Fede Mancuello na partida válida pela nona rodada do atual campeonato da Primeira Divisão do futebol argentino. Independiente 2x0 Rosário Central:

Carlos Andrés Sanchez, uruguaio, 29 anos, 1,70m, meio-campista polivalente que se destacou no Godoy Cruz atuando bem em todas as posições de meia cancha e também (não se saiu mal) como defensor e atacante. A partir do lado direito do grande círculo Sánchez vem sendo o protagonista na transição ofensiva deste River Plate dirigido por Marcelo Gallardo. Pulmão e passe qualificado para que o enganche Leornardo Pisculichi termine o serviço nos últimos metros de cancha. No último dia 13 de novembro Sánchez debutou na seleção uruguaia com uma ótima atuação em amistoso contra a Costa Rica.

Ariel Rojas, argentino, 28 anos, 1,76m, volante habilidoso, canhoto, bom passe, atua pelo lado esquerdo do grande círculo dentro do 4-3-1-2 que seguimos flagrando no River Plate. Ao se destacar no Godoy Cruz foi convocado por Sérgio Batista para uma seleção argentina composta por jogadores que atuavam no país.

Embora Federico Mancuello - muito pelos gols que vem marcado - venha sendo um dos argentinos mais badalados no Brasil, em se tratando de volante canhoto, eu iria atrás do camiseta 16 do River Plate, pois el Chino Rojas registra mais tempo atuando em bom nível, mesmo passando a maior parte da sua carreira colecionando boas atuações defendendo o modesto Godoy Cruz da cidade de Mendoza.

Confira a assistência "à la Iniesta" de Ariel Rojas para o gol de Vangioni frente ao Belgrano de Córdoba:

Sherman Cárdenas, colombiano, 25 anos, 1,68m, meia, canhoto, jogador do Atlético Nacional de Medellín. Fã de Riquelme e Kaká, foi destaque na Libertadores 2014, sendo protagonista na partida que eliminou o NOB da competição. "Olé, olé, olé, olé, Sherman, Sherman", é um habitual cântico entoado pelos hinchas do Nacional em homenagem o bom futebol deste camisa 7 do Rey de Copas Colombiano.

Taticamente temos um Sherman que já atuou pelos lados da linha de três meias dentro de um 4231, mas também, como meia esquerda ou a partir de um dos flancos - com deslocamentos constantes - dentro do 433 aplicado pelo Atlético Nacional do DT Juan Carlos Osório contra os peruanos do César Vallejo. Segundo o próprio Cárdenas, a boa leitura do jogo para saber se posicionar bem dentro da cancha e a habilidade, são as suas principais características.

Brahian Alemán, meia uruguaio, 24 anos, 1,74m, canhoto habilidoso e encarador - busca o drible, o mano a mano - é cria do Defensor Sporting (46 jogos/7 gols), clube pelo qual se destacou com a camiseta número 10 no Apertura 2011/2012. Após uma negociação que não foi adiante com o Godoy Cruz, Alemán assinou com o Unión de Santa Fe (68 jogos/8 gols) em julho de 2012, clube que defendeu por dois anos.

Desde agosto deste ano, por empréstimo de 18 meses sem a opção de compra, el charrúa defende o Arsenal de Sarandí. Alemán vem sendo protagonista atuando como organizador das tramas ofensivas posicionado a partir da segunda linha do 4-4-2 comandado pelo técnico Martín Palermo, que o indicou a diretoria do clube celeste y rojo.

No atual campeonato da Primeira Divisão do futebol argentino, Alemán marcou 9 gols (2 em cobrança de falta) em 19 rodadas, número de tentos maior que os assinalados pelos badalados Diego Milito (6) do Racing Club e Leonardo Pisculichi (5) do River Plate. O meia uruguaio figura entre os 10 melhores jogadores da competição na tradicional avaliação realizada pelos jornalistas do diário Olé.

"Sou um meio-campista ofensivo que atua pelo lado esquerdo como meia-atacante ou ponteiro, costumo arrematar muito ao arco e me destaco nas cobranças de tiros livres". (Alemán)

Confira o golaço que Brahian Alemán marcou contra o Independiente, em partida válida pela 14ª rodada do atual campeonato argentino:

Atacante

Gustavo "el monstruo del gol" Bou, argentino, 24 anos, 1,77m, jogador do Racing Club, que ao atingir 8 gols em 9 jogos com a camiseta da Academia igualou o recorde que registrou atuando pelo modesto Olimpo de Bahía Blanca.

As melhores versões de Gustavo Bou: quando acionado por passes que explorem sua velocidade e potência física (o apelido de Pantera explica); cobrando faltas de longa distância ou pelos lados do ataque; efetuando de média distância chutes fortes com a perna direita; e recebendo a bola de costas para a meta tendo um zagueiro na sua cola, girar o corpo e encobrir ou fuzilar os goleiros, pois a habilidade e a boa leitura de tramas ofensivas não são o seu forte.

Um atacante oportunista que está sempre acreditando que lhe sobrará uma bola vadia, espirrada, mal rebatida na grande área, e incansável no bote ao adversário de posse da pelota durante o início da transição rival. Um nome com características mais adequadas para equipes que busquem jogar tendo o contragolpe como proposta tática protagonista. Com 10 gols em 18 partidas, Bou dividi a vice artilharia da Primeira Divisão do futebol argentino com Fede Mancuello (Independiente) e Téo Gutiérrez (River Plate).

Gols de Gustavo Bou com a camiseta do Racing Club:

* Renato Zanata Arnos é autor de "Adílio, camisa 8 da Nação"; coautor de "América, terreirão do Galo - análise tática do campeão da Libertadores 2013"; coautor de "Sarriá 82- o que faltou ao futebol-arte?"; ex-comentarista da TV Esporte Interativo; blogueiro e bluesman.

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Fonte: Mauro Cezar Pereira, blogueiro do ESPN.com.br

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