A indústria de construção naval no Brasil vive atualmente o seu momento mais próspero desde a década de 1970, quando o país chegou a ser um dos principais construtores navais do mundo.
Nas décadas seguintes, o setor passou por uma acentuada decadência, que culminou com 20 anos sem nenhuma encomenda de navios de grande porte feita ao estaleiros nacionais – o último havia sido o petroleiro “Livramento”, contratado em 1986.
A diferença entre o cenário atual e a época de crise pode ser vista nos números: hoje, o setor emprega diretamente cerca de 40 mil pessoas. Em meados da década de 1990, eram apenas 500.
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Segundo analistas, por trás da ressureição do setor está a decisão de se voltar a encomendar navios no país, em vez de comprá-los no exterior – uma promessa de campanha do então candidato Luiz Inácio Lula da Silva nas eleições de 2002.
“Hoje, vejo uma real perspectiva para o setor, baseada na vontade política, que não existia antes”, afirma Paulo Rolim, vice-presidente do estaleiro Aker-Promar. No entanto, o alto custo da produção de navios no Brasil – as embarcações nacionais custam entre 30% a 50% a mais que similares feitas no exterior - resultou em críticas à a decisão da Petrobras.
O presidente Lula respondeu a esses questionamentos em abril, no programa de rádio semanal “Café com o presidente”.
Segundo ele, “essa história de custo, se for pensar apenas no interesse de uma empresa, possivelmente tenha um fundo de verdade. Agora, é importante lembrar que nós temos que pensar no Brasil. Então, é verdade que se você contratasse uma plataforma fora, você poderia economizar, sei lá, US$ 50 milhões, US$ 100 milhões, pensando apenas na empresa. Não é apenas no lucro imediato da empresa, mas é no fortalecimento da nação brasileira, é da reserva de conhecimento científico e tecnológico que nós temos”.
Quem concorda com o presidente é Floriano Pires, professor do Instituto Alberto Luiz Coimbra de Pós-Graduação e Pesquisa em Engenharia (Coppe). “As encomendas da Petrobras são uma ferramenta para disparar a recuperação do setor. Sem essas compras, não há capital para os estaleiros investirem. Embora mais caras, elas criam condições para que o setor caminhe com as próprias pernas”.
Os dias de glória dos estaleiros nacionais ocorreram na década de 1970, quando tanto a construção naval quanto a marinha mercante brasileira estavam entre as mais importantes do mundo.
“A decadência ocorreu por uma combinação de fatores”, afirma Floriano Pires, professor do Instituto Alberto Luiz Coimbra de Pós-Graduação e Pesquisa em Engenharia (Coppe). “De um lado, tivemos uma brutal crise econômica nos anos 1980, com índices de inflação que comprometeram os contratos de longo prazo. De outro, uma mudança no mercado mundial, com novos padrões de desregulamentação e produtividade. Acabamos ficando para trás”, relata.
A retomada da indústria está ligada à ampliação das operações petrolíferas da Petrobras no litoral brasileiro. Com o aparecimento de mais plataformas – normalmente fabricadas no exterior – surgiu a necessidade de embarcações de apoio e serviços de reparos navais, além de toda uma gama de fornecimento de infra-estrutura marítima.
Assim, os primeiros sinais de revigoramento no setor começaram no final da da década de 1990, ainda durante o governo do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso.
O segundo passo foi a decisão da Petrobras de que empresas brasileiras poderiam participar da construção de alguns módulos que seriam usados em plataformas de extração de petróleo. Finalmente, em 2005, foram anunciadas as medidas que os empresários consideram as mais importantes: a determinação de que as próprias plataformas de extração deveriam ser construídas no país e, especialmente, o lançamento do Programa de Modernização e Expansão da Frota (Promef).
“O Promef foi extremamente importante. Ele praticamente relançou a indústria naval no país e permitiu que voltássemos a construir grandes navios”, afirma o presidente do Sindicato Nacional da Indústria Naval (Sinaval), Ariovaldo Rocha.
Basicamente, o Promef é uma pacote de encomendas para os estaleiros cujas peças centrais são 42 navios petroleiros, que devem ter um índice de nacionalização de 65% em sua construção. Desse total, 26 já foram contratados na primeira fase do projeto, com investimentos na casa dos US$ 2,4 bilhões. Os outros 16 devem ser encomendados até o final do ano.
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