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Francisco Beltrão
quarta-feira, 08 de maio de 2024

Edição 7948

04/05/2024

Livro do MEC ensina o português errado ou apenas valoriza as formas linguísticas?

Livro do MEC ensina o português errado ou apenas valoriza as formas linguísticas?

Os livro didático são utilizados nas escolas públicas e particulares com o objetivo de ensinar os conteúdos corretos aos alunos. Na prática, a língua portuguesa se aprende primeiro em casa, com os pais e familiares. Somente depois, na Educação Infantil e Ensino Fundamental, é que os aluno vai entender as formas cultas da língua.
Se você é um leitor atento deve ter percebido os dois erros da gramática no primeiro parágrafo do texto: ?os livro? e ?os aluno vai?. Ou não são erros, são expressões linguísticas? É nesse contexto que cabe a discussão: o que é certo e errado na língua portuguesa?
A partir de agora, segundo o livro ?Por uma Vida Melhor?, distribuído pelo Ministério da Educação (MEC) para turmas de educação de jovens e adultos (EJA) em todo o país, essa grafia não está errada. A publicação nem mal começou a ser debatida e já causou polêmica ao incluir frases na forma culta e na falada. (veja no quadro)
Em Francisco Beltrão, a maioria das pessoas é contra o livro e não concorda com a ?nova? forma de utilizar a concordância, seja ela verbal ou nominal. Elza Macedo Mafra, coordenadora do Colégio Alliança e professora de língua portuguesa no Colégio Estadual Agrícola, diz que a pauta dessa polêmica deveria estar focada em cima da linguística e não das normas. ?Nós temos que aproveitar os diferentes tipos de linguagem para melhorar o português. Naturalmente, já existe tanta dificuldade para se trabalhar a língua correta com os alunos e de repente surge um livro que coloca o que sempre foi dito como errado como certo?, enfatiza a coordenadora.
De acordo com Elza, a mudança pode trazer prejuízos à educação, porque os alunos vão se sentir à vontade para cometer erros graves. ?Amanhã ou depois o professor também deverá entrar na sala de aula falando errado?. Por outro lado, Elza não descarta as inúmeras maneiras da linguagem como uma ?grande riqueza cultural?. ?Temos que valorizar sim os modos regionais, a fala informal, o bate-papo, a conversa que se tem em cada meio de criação. Não pode existir preconceito com as formas linguísticas, mas não se pode ser escrito da maneira errada nos livros.?

Desprestígio da língua e do professor
?Pra que serve então a gramática??. É a indagação feita pela coordenadora do Ensino Fundamental 2 do Colégio Nossa Senhora da Glória, Soraia Luz Quintana. Segundo ela, o livro lançado pelo MEC coloca por terra toda a luta diária do professor em sala de aula para que os alunos tenham conhecimento. Outro argumento usado pela coordenadora diz respeito ao aprendizado e interesse dos estudantes. ?As crianças têm condições de aprender a gramática correta, e não são apenas os educadores que perseguem isso em sala de aula; os pais, em casa, também dão sua parcela de contribuição, ajudando os filhos a falar e escrever corretamente?, ressalta. Soraia indaga também a questão das provas no vestibular e no Enem. ?Vai valer as duas formas da língua portuguesa? Como vai ficar a produção de texto??. Radical, Soraia diz que o livro joga a gramática no lixo, ?é um desprestígio com a classe dos professores e com os próprios pais?.
Sônia Walter, da Secretaria de Educação, ressalva que o docente não deve desvalorizar a fala do aluno, mas sim adequá-la à forma culta da escrita. Ela brinca, diz que é professora, e mesmo assim fala errado em determinadas ocasiões ? até em sala de aula. ?Mas deixar a opção errada num livro, isso não. Sou contra?, salienta.

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Fernando Haddad disse que os livros não serão recolhidos.

Preconceito na fala
Antes de ir pra escola, cada criança aprende em casa, através das conversas dos adultos, a maneira de falar, de se expressar. Algumas formas regionalizadas carregam questões culturais e a pronuncia nem sempre é igual à escrita. Na região Sul, por exemplo, muitas pessoas falam palavras com o ?r? brando. Ou seja, ao invés de corrimão, dizem corimão. Mas isso não quer dizer que devam escrever assim, é apenas uma expressão.
Conforme o professor e mestre em linguística Irineu da Silva Ferraz, direto do Colégio e cursinho Águia, cientificamente ninguém fala errado. ?Mesmo as pessoas que falam ?chimarão? são competentes nas suas habilidades, tem uma origem social, tem uma marca dialetal que hoje a ciência da língua prefere não excluir, mas sim preservar; faz parte do patrimônio do Brasil.?
Na opinião da professora Irma Slongo Pegoraro, o que mais chama a atenção é o teor dado a essa questão. Irma foi aluna do professor Carlos Alberto Faraco ? um linguista brasileiro, professor de língua portuguesa da Universidade Federal do Paraná. Polêmicas à parte, ela concorda que existem formas diferentes de aprender a língua: a oral e a escrita. E acrescenta que, a escolha certa se fará diante da situação, seja no âmbito sociocultural ou regional. ?Trabalho dessa forma com meus alunos, especialmente na produção de textos, mostro como está e como deveria ser. Porém, faço isso sem desprestigiar o aluno, mas deixo claro que é a norma culta que ele vem aprender na escola?, argumenta.
Apesar da polêmica, entre os que defendem e os que são contrários ao novo livro, dia 18, o ministro da Educação Fernando Haddad disse ao MEC que não recolherá o exemplar distribuído a 484.195 alunos de 4.236 escolas. ?Já foi esclarecido que as pessoas que acusaram esse livro não tinham lido. Uma pena que as pessoas se manifestaram sem ter lido?, afirmou em entrevista divulgada em rede nacional.
Para especialistas, o novo método poderia valorizar ainda mais os alunos do ensino para jovens e adultos. Por outro lado, alegam também que permitir a grafia errada da concordância colocaria em risco o processo de estudos na base. Se a polêmica passar, daqui pra frente será correto não só falar, mas também escrever ?os pé? e ?os carro amarelo?. Vale lembrar que existem exemplos na história: a palavra ?você? já foi ?vossa mercê? no passado.

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