Você está na página 1de 462

CARTAS

DB
ONSO DE ALBUQUERQUE
SIGUIDAS DI DOCUDNTOS QUI AS ELUCIDAI
PUBLICADAS
DB
IIDII Dl DI lOBOS, POUTitllS I BILL1S-Lini1S
'
DA
!C!DIII! BDL DAS SCIENCI!S DI LISI!
I 108 A DIRIClO
DB
Raymundo Antonio de Bulhlo Pato
SOCIO DA IIESIIA ACADDIIA
TOIIO I
LISBOA
TJpefnpMa da Aeaeia Real ._ Seleaelaa
MDCCCLXXXIV
--





i
. .
. . '
, ' I
l ' ' ' ' !
. I
. I I
-''t {'\I' .,.
I I I '
. . '
. I
.. r
. , '
) \ 1 O l ..: I
(:la <rAttnehlbs publieados n'este volume so quasi todos transcri-
ptos dos que se guardam no arcbivo. nacional da ToiTe (lo Tornhf; e rios
poucos procedentes de outra fonte tivemos sempre cuidado de indicar se
eram _copias e qual a sua poca, para o leitor poder apreciar o grau de
confiana que lhe hajam de merecer .
-\proveitmos n'esta eolleco dois cadernos que se v serem os pro-
prios do secretario de Estado Antonio Carneiro, nos quaes se encontra
summariada a correspondencia da lndia, tendo notado margem o que
devia responder-se e muitas vezes a palavra-j-que significa, segundo
cremos, haver-se expedido a resposta. A letra d'estas notas marginaes
semelhante dos summarios lanados nas costas de algumas das cartas
que publicmos, o que nos acabaria de convencer da. authenticicade dos
referidos cadernos, caso nos restasse duvida a tal respeito.
D'elles trasladmos somente o que pertencia a Affonso de Albuquer-
que, sem nos importar se qualquer d'esses summarios, que fomos copiando
em ordem chronologiea, se referia a carta j impressa na integra n'este

Houve o maior escrupulo na transeripo de todos os documentos,
tomando s a liberdade de os pontuar para tomar mais facil a leitura e
interpretao do texto, porque bem que em escriptos


....
'
\
f
X
PAG.
ilSIO Outubro 16. Cananor.
Caria ao rei. Trata dos soldos e quintaladas concedidos a capites e pilo-
tos, e lembra que se nomeie um hon1cm para tomar couta das despezas do
provimento das naus e fortalezas. Pede capites para instruco da suissa,
etc. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . v, {9
!510 Outubr() 17.-Cananor.
Carta ao mesmo. Participa a inteno de ir tomar Goa; expe as vantagens
que resultaro d'este feito para a segurana da lntlia e confuso do reino
de Daquem, e diz que depois d'esta cm preza e ... nta ir ao Mar Roxo. . . . VI, ii
1510 Outubro
Carta ao mesmo. Envia uns pannos da Persia, que obta\e .do embaixaaor
do Xeque Ismael e do de Ormuz, e outros objectos de varias procedencias.
D noticias de Malaca e dos navios que tenciona ali mau dar. Pede armas e
gente para as fortalezas e armadas .......... . . . . . . . . vn,
!510 Novembro 4.
Vid. Summario . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . e
15!0 Novembro t2.
Vid. Summario ..................................
1310 Novembro 26.


Vid. Summario ............. , .
1510 Novembro :{'l) .
Yid. . . . . . . . . . . . . . . . U9 e
tiO Dezembro 22.- Goa.
Carta ao mesmo. Diz que expediu earta sobre a tomada de Goa
mesmo dia tarde. Contina a narrar o que se fez e es.t fa&endo para ex
pulsar de todo os turcos. D conta da n1ensagen1 que enviou ao rei. de:
dos Eeguros concedidos aos offieiaes mecanicos gentios. que fi.
carem na cidade, e das concesses aos qutt leem casado com. as.
. mouras captivas. etc ................. , . . . viu, i6
{5{0 Fins (e ltill principio ?)
Vid. Summarios.. . . . . . . . . . . . . . . . . . a
1512 Abril t .-Cochim.
Carta. ao mesmo. D conta de haver encontrado em ruina a armada que
na India, quando foi para llalaca; das desordens em Cochim; do
desleixo nas fortalezas; das rualfeitorias de um fl'ade de So Domingos, vi ..
gari o de Goa., que vae agora par& o reino; de outras desordellS em Goa e
do mal que fazem os boatos da vinda de rumes e de outro governador.
Pondera a necessidade de a India. Pede gentd, armas e pelrechos
de guerra. Como se pqder conservar a a1uisade dos reis e senhores da ln-
dia, faeeis em faltar ao que premeuem. Inconsiderado auxilio dado pelo ca-
pito de Goa a Rustalco. Providencias &ornadas em Cocbim. Piratarias fa-
vorecidas pelo Samorim. Seguro dado a naus de Coromandel para Malaca




Pede mereadorias para e- para ragamento de se Idos. Informa da. suc-
eesso do reino de Onor. Conteada com Timoj& por haver tomado duas naus
de Chaul. V a.c;sallagem offerocida pelo r&!i das Maldivas. Navios e provimen-
tos que mandou a Malaca; commercio que ali se pode fazer; boas condies
'aquella cidade. Necessidade de protf'ger os casados de Goa. Presentes do
rei de Sio, que foram salvos do naufragio de Flor de I& mar e se enviam
para o reino. Remette amostras da moeda que mandou cunhar em Malaca
e do ouro da mina de MennrAbo. Envia uns mappas da ilha de Goa, de
Diu e de uma ilha do canal de Cambaia, e copia de pa11e de uma impor-
tante earta nautioa de um piloto de Ja,'a. Inconvenientes do peso aovo man-
dado usar na fndia. de Diogo Mendes em Goa. Necessidade
PAO
de reprimir a ousadia dos mouros na lndia, ete., etc. . . . rx, t9
tHI! Agosto 20.-Cochim.
Carta ao rei. Agradece-lhe a meret1 de o ter feito do seu conselho.
Naus e navios que ficam na India, seu destino, quaes se inutilisaram, nome
dos seus capites. Enviar raderoos da gente e artilheria com que fica. Posse
que Pedro Mascarenhas tomou da capitania de Cochim. Agradece deixar-lhe
Aua determinao o provimento de algumas pessoas que trazem earta. En-
viara a maior quantidade possivel de sobretudo gengivre. lo-
forma F-Obrc os pngamentos aos que servem n& lndia, e d'estes, dos falleci-
dos .e dos que vo para o reino enviar relaO. Bemette tres amostras de
de que poder obter quanta se quizer, etc., etc .... x, 65
trll'l Aps10 20.-Coehim .
. Carta ao mesmo. Participa que mandou desfazer a fortaleza de Soeotor por
Diogo Fernandes com tres naus, o qual depois foi a Ormuz eobrar as pA-
reas. A fortaleza de Cdehim est bem provida, e manda ampliai-a. Moti
vos por que se no reuniu com Duarte de l...emos e foi tomar Goa. Ir ao
Mar Roxo e far por eumprir o que se lhe ordena para assentar eommercio
em Zeila e Bsrbora. Ha paz em toda a terra do Malabar, excepto em Cale-
eut. Algumas r.oilsideraes sobre Caleeut, ete ... :u, 75
151! Setembro 30.-Cocbim.
Carta ao mesmo. Participa que a armada chegada n '&qnelle aono ln-
dia concorreu muito para o sorego d'esta, inquieta eomo estava eom o
boato da vinda de rumes. Assentou por agora no desamparar as eousas de
Adem e Ormuz, ele. . .. . . . . . . . . . . . . . . . . XII, 8()
tlSI2 Setembro 30.-Cochim.
Carta ao mesmo. Pede a el-rei () castello de madeira que possue, e um
mestre que saiba tratar por lhe poder esse eastello se"ir de muito
para a guerra na lnd ia . . . . . . . . . . . . . . . . . . . xm, 81
llSii Outubro Cananor.
Car&a ao mesmo. D parte de haverem chegado na nau Coneeio os ca
pities da suissa e geD&e de armas. Bemette pimen&a e drogarias. Pro-
'
..
. PAG.
videncias que tomou sobre as naus da carga. Conta o que lbe soeoedeu com
Pedro Masc:arenhas que no 'razia o alvar das suas quin&alada.s, e como es-
las ficam determinadas na lndia.. . . . . . . . . . . . . . . XIV, 83
1612 Outubro 11.-Cananor.
Carta ao rei. D conta das pendenrias que leve com o alguazil de Ca-
nanor, e de haver conseguido do rei que o destituisse e nomeasse outro.
Ordens que deu a todos os offieiaes portuguezes para no negociarem com
os mouros de Cananor. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . xv, 85
161! Outubro 18.-Em S. Antonio avante Batecala.
Caria ao mesmo. Encarece as vantagens que j se fazem sentir na lndia
da remessa de homens e armas, e pede pano os para os vestir. . lVI, 91
tGf2 Outubro 23.-Em S. Antonio caminho de Goa.
Carta ao mesmo. Elogia frei Joo Alemo, a quem deu licena para ir ao
reino, e deseja muito que elle volte lndia ................ xvn, 93
t61i Outubro 26.-Em S. Antonio caminho de Goa.
Caria ao mesmo. Diz que cumprira o que se lhe manda sobre o perdo e
seguro aos homens que fogem para os mouros, ainda que julga isto prej.udi-
eial pelas razes que d ................ :. . . . . . X'VIJJ, 9'
tlSI!. Outubro 30.-Em S. Antonio caminho de Goa.
'
Carta ao mesmo. Ms noticias de Adem com os projectos do Sol do; por
isto previne que vae entrar o Estreito, e pede para a India as naus que
houver disponieis em Lisb.oa. Lembra serem Goa e Malaca as duas maiores
coisas da lndia e como taes precisarem ser favorecidas por tres annos com
gente e armas, e para essas despezas no faltar dinheiro, etc .. xrx, 96
lfSI2 Novembro 8.-Goa.
Carta ao mesmo. No se admira de haverem dito a el-rei que o anno pas-
sado tinham ido de Calecut a Meca vinte e tantas naus de especiaria, mas
de el-rei acreditar qne houvesse no Malabar vinte naus de quilha. No deve
haver temor de Calecut; o mal vinha do golfam de Ceilo para dentro, mas
este caminho j se cortou. Razes para algumas vezes dar soldo a mouros,
apesar de ser prohibido, ete. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . xx, 98
t6i! Novembro 8. -Goa.
Carta ao mesmo. Envia o embaixador do rei de Ormuz, a quem se deve
fazer honra e boa receP,o, e lembra que no se desista em coisa alguma
do contracto e assento j feito com aquelle rei ........ _. . XXI, tOO
t61! Novembro Goa.
Carta ao mesmo. D minuciosa conta da tomada de Banestarim, e dare-
soluo de ir a Cambaia -assentar as paies. . . . . . . . . . . . . . . . . . xxu, 101
IISi! Dezembro 16.- Goa.
Carta ao mesmo. D conta do modo por que mandou libertar a Cbaul,
onde estava captivo, o embaixador do Preste loo, e da do mesmo
embaixador em Goa. Meosagem do Sabaio, que pareoedesejar a pu com

.


DI
PAO.
oj portuguezes. Adiantamento das obras da fortificao em Baaet&arim,
8&c ~ . CIV, 381
1513 Novembro 30.- ClJRllruw.
Carta ao rei. Pede provideJJCias para obviar aos transtornos causados
peJa demora nos roncertos das naus que teem de voltar para o reino eada
IDDO . . XXIII, 117
1613 Novembro 30.-Cao:lnor.
,
Carta ao mesmo. Respoade a uma caria sobre a nau que Aotonio Real
e Loureno Moreno faziam em Coehim para a mandarem eom pimenta a
Ormuz, segundo diziam, e refere o que tem passado com elles ..... xxtv, 118
l1St3 Novembro 30.-Cananor. --
Carta ao mesmo. Mostra no ser cu I pado na m vigia de Caler.ut, que
pela aua posio abastecido de manlimentos; apesar dos meios para obstar ~
ao seu commArcio, e55e \o rendoso que os mercadores lhe correm todos
os riscos. Interesse dos reis de Caoanor e Cochim na guerra de Caler.ul eom
os portugucaes. Convm ater-se a Caleeut e Coehim para a carga das naus,
e abandonar o trato de Cananor, que no d interesse, e te. . . . . . xxv, I!!
1613 Novembro 30.-Cananor.
Carta ao mesmo. D parte de irem bem as ooisas de Ca1eeut, de se fazt'r
a fortaleu e de haver j provido alguns cargos da mesn1a. Divcnas indica-
es para o eommHrcio com aquelle reino. Envia os apontamentos do con-
trato que assentou com o Samorim, etc ..................... xxv1, 13i
1513 Novembro 30.-Cananor.
Carta ao mesmo. D tonta da boa disposio das cousas da lodia e da se-
gurana dos portuguezes que andam por aquellas terras. Depois de acabar
a fortaleza de Diu e a de CaJeeut de&ermina ir ao porto de Suez oo Ma-r Roxo
queimar-I he as naus. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .. . . . . . . xxvn, !36
f613 Novembro 30.-Cananor.
Carta ao mesmo. Queixa-se de Gonalo Pereira por elle muito favorecido,
que vai para o reino com licena, antes de aeabar o aeu tempo ... nvur, 1&0
1613 Novembro 30.-Cananor.
Carca ao ~ m o . Responde ao que se lhe escreveu sobre os eserive e
quadrilbeiros das presas e a rctpeito dos tanadares. . . . . . xxrx, l&f
1313 Novembro 30.-Cananor.
Carta ao mesmo. Responde earta que Jbe mandava dar ao ni de Co-
ehim o auxilio por este pedido contra o rei de Caleeul. Diz que o rei de
Coe h im e o de Cananor, com os mouros de ambos os reinos, consideram
prejudicial aos seus. inlt'resses a pu dos portuguezes com o Samorim,
ete.. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . xxx, I H!
1613 Dezembro 1.-Cananor.
Carta ao mesmo. Queixa-se du fal111 informaes dadas pelos seus de-
tractores, e diz no t.aver na lndia quem esteja oo oaso de wJminislrar a
PAG.
fazenda real. Relata as malversaes .e abur.os de auctoridade dos que o ac-
eusam. D explicaes sobre os quadrilheiros das presas; trata das desor-
dens dos eapites das ar1nadas, e responde ao que ae lhe esrreveu sohre ag-
gravos por elle feftos a Onor e a Timoja, te. . . . . . . . . XXXI, 155
t513 Dezembro t.-Cananor.
Carta ao rei. Expe .a necessidade de fornecer a lndia de merc.adorias,
por estar cerrada a do Estreito. Relao das mais aeeeitas e dea
rei nos que as pedPm. Genero de em mais con,enientes para o Mar
Roxo, se o assenhorear. Algumas informaae8 e reflexes sobre as \erras
das margeus d'este mar. Pede armas, e diz que a gente as recebe de boa
vontade sobre o seu soldo .......... .. , . . . . . xxxn, 167
f6f3. Dezembro f .-Cananor.
Carta ao mesn10. Responde ao que se lhe escreveu das queixas do rei de
Garopa. Diz qne Onor valhaeouto\de piratas. Affirma que sempre guar-
dou lealmente a paz a todos, eomo p110va a conflana dos, proprios inimi-
gos, que veem sua presena, sem seguro, quando manda chamar,
ete.. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . XXXDI, 17i
tf3 Dezembro t.-Cananor.
Carta ao mesmo. Envia dois eaptivos quando iam para a roma-
ria de Jerusalem, eonJ outro para lhes servir de interprete; um sobrinho
do xeque e senhor de Mau; um robo do Mar Roxo, e um espingardeiro de
Goa com amostra das espingardas que se fabricam ali to bois como as
de Bohemia. Lembra a conveniencia de cultivar nos Aores e nos palies
de Portugal a papoula do ampbio como boa mercadoria para a lodia,
etc. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . l.I1CIV, 173
1613 Dezembro 1.-Cananor.
Carta ao mesmo. Recommenda Manuel de Lacerda, qne pelos seus servi-
os na lndia, ondfl tem sido muitas vezes ferido, merece algum provi-:;
meoto... . . . . . . . . . . . . c11, 4.15
1613 Dezembro Cananor.
Carla ao mesmo. Respondendo ao que se lhe esereveu sobre haver dei-
xado ir Timoja e recolher Melrao, diz que a gente de Timoja fugira quando
lhe constou a vinda dos turcos, emquanto llelrao, homem de credito e ver-
dadeiro a quem entregara ento as terras de Goa, lhes dera batalha e os
, desbaratara da primeira vez. Participa que a mulher e filhos de Timoja fu-
giram para Goa, onde esto bem tratados e eoosiderados, ete .. xxsv, 174.
1613 Dezembro i.-Cananor.
Carta ao mesmo. Responde ao que se lhe sobre Diogo CoJTeia
e d as razes por que o nomeou capito Cananor, onde .lhe moveram
injusta guerra, e grandes intrigas forjadas em Cochim; como se deduz da
inquirio ahi tirnda. Diz que Diogo Correia morreu como eavaUeiro, o que
lhe foi melhor que vir para Portugal. .. . . . . . x.xxv1, t 76
,
I
..
X."f
PAG.
lt3 Dezembro i.-Cananor.
Carta ao rei. Envia para o reio o Ferno Caldeira com os autos das suas
culpas e a iuguirio que se drou d'elle em Goa, etc.... . . . . . . xxxvn, 178
l1Jl3 De&embro i.- Cananor. . .
Carla ao mesmo .. Refere-se ao que j escreveu do procedimento de n-
moj, que 10mou uma aau de Ormuz e duas de Chaul eom sttguros, e faz
. . q.ueixas dlelle, etc. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . xnVJn, I 79
1613 Dezembro
Carta ao D eonta d:ls lomadias feitas quando foi ao Mar Roxo,
e dos roubos commettidos pelos quadrilheiros das presas. Remetle para o
reino os quadrilheiros e e!'cri"es da quadrilharia de Malaca e os das pre-
' sas da ln dia que achou culpados, etc ........ , ...... xxxtx, 1.80
l!3 Dezembro 3.-Cananor.
.
Carta ao mesmo. Falia da sua ida a Malaca. Parece-lhe que oeca-
sio o na Ind ia por morto. ou no o reeonhel!iam por governador.
F6rma por que chamou os rapites a sobre o feito de Goa. CGJlsi-
d,eraes a im portancia c.idade. Defende-se da aecusao de
falta de guarda a 'Calecut. Explicao a respeito da tomada de algumas
naus de Ormuz e de Cambaia. que em seu tempo a Indi S se go- ... ,
verna com verdade e justia. As nau' da o reino no se occu-
pam n" outro servio sen.'o quando falta cabedal para algumas. Falia das
quintaladas, dos casamentos de Goa, Cochim e Cananor, dos accrescenta-.
mentos dos soldos, dos Pmbaixadores de Camhaia, e de ?tleJiquiaz de Diu
offerecimflntos. En,'iar, como se lhe ordena, nota da quantid.ade de
mercadqrias que podem g3s.tar-se na lndi.a. Cuidado que lhe merece a ad-
I i
rilinistra da fazenli:l real P.. o desenvolvimento do commercio da lndia,
etc., .. .' ...... .' .' ......... . . . . . . . . . . . . . . . . XL, t 81
15"13 Dezembro
. . '
Carta ao O cont.a das obras que se fazem na armada e na forti- t
. fteao de Coa partida das naus da carga. Boa que fez aos mer-
cadores, capites e mestres das naus de Ormtu a Goa eotn os c-
. "allos. da fortaleza de Despacho de em'baixadas ao Sa-
baio, ao rei de Cambaia, ao de Narsinga e de Vengapor. Obras em Pan-
gim. Embarca com seu sobrinho D. Gareia e tnmn c.onselho com eapi- '
tes sobre a ida a Adem e entrada no Estreito de Meca. Suceessos da via-
r gem a Adem e entract tio Mar Roxo at voltar a Goa,
ele., ele .. t
1613 Deaembro 16 .. -Cananor.
Carta ao mesmo. P-ede mert\adorias para p&gamAilto dos soldos gente,
no lla\'er j senie da guerra de Adem .e do Mar Roxo: Per-
gunta o que deve fazer dos judeus castelhanos e portuguezes. que entram
, . na lndia por via do Cairo , , , . XLD
1
2'3
.


\
I. VI
PAG.
1613 Dezembro
Car&a ao rei. Resposta sobre os aeerescen&amen&os de soldos, e quin-
taladas que se teem tirado, conforme o regimento. Mau servio e intrigas
dos officiaes a este respei&o. . . . . . . . . . . . ..... . . . XLIII, I6Ji
1513 Dezembro 1'.-Cananor.
Carta ao mesmo. Envia os embaixadores de Caleeut, lembra a convenien-
cia de receberem o melhor tratamento possivel, e pondera as grandes van-
tagens que resultaro da paz com o Sam o rim. . . . . . . . . . . XLIV,
1513 Dezembro 26e.-Cananor.
Carta ao mesmo. Sobre a paz com o Samorim e a vinda do seu embaixa-
dor a Portugal. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . XLV, 2r;()
1613 Dezembro 28.-Porto de Calleeut .............. XLVI, !5'
Vid. a carta da I do mesmo mez e anoo. . . . . . . . . . . . . . xxxu, 167
15!' Janeiro 1.-Cochim .

Carta ao mesmo. Envia os pareceres de todos os capites sobre o fei&o do
Goa. o.rei de Narsinga e o reino de Daquem pagaro pareas, se o eommer-
cio dos cavallos se fizer smente em Goa. No se admira da ordem de se
fazer conselho publico sobre o feito de Goa, vista das falsidades que se
teem escripto para o reino. O que lhe parece que se faa para prevenir
qualquer da parte do reino de Daqnem. Julga proveitoso lo-
mar Danda, da qual d informao.. . . . . . . . . . . . . . . . . XLVII, i59
llSI" Janeiro "-Canauor .
. Vid. a noca 2 da carta. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . XL v' ifS()
llSI" Outubro !0.-Goa.
Car&a ao mesmo. Pede perdo para uns homens que no rio de Goa pro-
cederam em prejuizo do servio real e da eonoordia da gent armada,
etc.. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . XLvm, itii
llSi" Outubro iO.-Goa.
Carta ao mesmo. Respondendo ao que se lhe recommendou sobre as car-
. tas vindas nos maos, diz que sempre as manda entregar a quem so diri-
gidas sem nunca as abrir, ao contrario do que se fazia n'outro tempo na ln-
dia, etc ............. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . XLIX, i6:J
.
ttil&. Oulubro
Carta ao mesmo. Responde s reoommendaes que sa lhe fizeraan sobre
a tQmada. da ilha de Babarem, etc. . . . . . . . . . . . L,
Outubro iO.- Goa.
Carta ao mesmo. Trata do cobre enviado ln dia para negocio; du mer-
cadorias que mandou comprar cm Cambaia para irem nas naus do reino,
e de outras particularidades carga das mesmas naus, etc . Lt, i65
Outubro 10.-Goa.
Car\a ao mesmo. Sobre a carga das naus para o reino .. Ln,
'
-
tl \ Ou&ubro 20.--GCln.
Carta ao rai. Trata do aeerescentamento de soldo ao arei de Coebim
quando se fez chrislo, e dos bons servios por elle prestados. Participa que
fez tomadia de tres elepbantes de Antonio Real, Loureno Moreno e Diogo
XYD
Pereira, e &c. Lnt, i69
161& Outubro iO.-Goa.
Cana ao mesmo. D conta de haver cumprido o que se lhe determinou ares-
peito da seda e estanho; da carga das camaras de que se faz merc aos capites,
e das providencias sobre a quebra, limpeza, pfe90 e peso da pimenta LIV, 171
161& Outubro
Carta ao mesmo. Resposta sobre a mina de ouro junto a Malaca. Trata
dos grnndes interesses do commercio da India, e lamen&a a incompeteneia
dos offieiaes das feitorias, ete. . . . . . . . . LV, i71
ll>t& Outubro
Carta ao mesmo. Desmeate o que d'elle di1 Gaspar Pereira; eonta as in-
trigas d'este e da Antonio Real, Loureno Moreno e Diogo Pe
reira.. . . . . . . . . LVI, 17H
Outubro !0.-Goa.
"
Carta ao ntesmo. Amplia o que j escreveu eerea do Mar Roxo. Trata
de Adem, do modo de. assenhoreai-a. e das novas que ha de se estar forti-
ficando. No pde nem deve fazerse fortaleza na porta do Eslreito. Falia
de Barbora e Zeila. Nolicias que tem da ilha de Camaro. Deve estabele-
cer-se assento em Mau por ser o porto principal do Preste, para d'ati in-
tender no feito de Jud, Meca e Suez, etc., ete ..... LYU, i78
151& Outubro 20.-Goa.
Carta ao mes1no. Responde ao que se lhe escreveu eerea de Gaspar
Pereira e dos cargos e officios com que a lndia, e sobre a necessidade
d.o cargo de secretario. Conta como o mesmo Gaspar Pereira serviu na ln-
dia, falia das suas intrigas, e envia os autos das suas culpas. . . . . . LVIII, 2M
it& Outubro 23.-Goa.
Carta ao Antonio da Fonseca pelo servio que lhe
tem prestado como secretario em todas as cousas de segredo, e agradece a
merc feita ao mesmo de que digno. . . . . . . . . . . . . . . . . LJx, 29!
lSii Outubro 23.-Goa.
Carta ao mesmo. Diz que prover as pessoas que levam reeommendao
d'el-rei.... . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . LX, 293
tfti& Oulubro ia.-. Goa.
Ca11a ao mesmo. Agrade.ce a concesso de poder gastar em mercs at
oito mil cruzados cad anno. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . LXl, i96e
Ourubro 23.-Goa.
Carta ao mesmo. D parte de ter n1aodado umas gals, por Jhe
convirem mais para o feito do Mar Roxo, se ali tomar asseale. Queixa-se da
c


XVDi
P.la.
m qualidade de armas que se lhe enviam. A gente da lodia gosta de hoas
armas e de bons vestidos, e no tem duvida de os pagar. Pede uma duzia
de de artilheria de eampo, etc ....................... LXII, !95
ll" Outubro
Carta ao rei. Diz que cumprir o determinado cerca dos casados que
morrerem sem filhos, das mulheres fallecidas sem herd"iros, e dos abiB-
testados. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . LXIII., i97
161" Outubro 25.-Goa.
Carta ao mesmo. Trata da obra da egreja de Coehim . . . . . . . LXIV, 298
Outubro 2.-Goa.
Carta ao mesmo. Informa do eommereio de Sofala e Moambique e dos
interesses que pde dar. . . . . . . . . . . . . . . . LXV, 300
151" Outubro 25.-Goa.
Carta ao mesmo. Respondendo ao que se lhe escreveu sobre Andr Corso, .
mostra as razes por que ao lhe deu a capitania da gal grande. Protesta
contra as falsidades que escrevem d'elJe Albuquerque para o reino. D eonta
de embarcaes que mandou construir, etc. . . LXVI, 301
ltsl" Outubro 25.-Goa.

Carta ao mesmo. Agradece a conta em que sm tidos os seus trabalhos e
dos seus e.apites na tomada de Malaea. . . LXVD, 3M
Outubro i.-Goa.
Carta ao mesmo. Participa haver empregado na capitania de Caleeut Fran-
cisco Nogueira, que viera reeommendado . . . . . . Lxvm, 305
!51' Outubro i5.-Goa.
Carta ao mesmo. A respeito do gentio Cidra, que se d por aggravado a
proposito do negocio da pimenta .......... : . . wx, 306
ll' Outubro i.-Goa.
Carta ao mesmo. Expe as razes por que no possvel tirar wdo o eom-
mercio da India do poder dos mouros, ainda que se favoream muito os
gentios. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Ln, 3()6
181' Outubro 25.-Goa.
Carta ao mesmo. Informa da despesa annual na lndia em soldos, mora-
dias e mantimentos. . . . . . . . . . . . . LU I., 3()'1
ll' Ou,ubro
Carta ao mesmo. Quintaladas que se teem tirado e vo tirando. O que se
concedeu a Joo Machado em recompensa dos senios que presk>u., e por
ter vindo apresentar-se na oecasio mais crhiQ do fei&o de Goa eom oito
ou nove christos que andavam com os mouros . . . . . . . . . . . . LXXU, 308
Outubro i5.-Goa.
Carta ao mesmo. Responde qne se lhe fez de Antonio
Real, conl&ndo o proeeclimento e intrigas d'esw, etc. . . . . . . Lxxrn, 310


XIX
P.lG.
ICSI' Outubro !6.-Goa.
Carta ao rei. Trata do embai1ador do Preste Joo, e do mau tratamento
que lhe deram n"'a India. Cumprir o que se lhe ordena quando fOr aos
portos do Preste e o mandar cumprimentar, etc. . . . . . LlllV, 312
161i Outubro irS.- Goa. ,
Carta ao mesmo. D conta de ter ido a Calecut assentar algumas eousas
o socegar o ao i mo do Sarno rim, e depois a Cochim onde teve larga confe-
rencia com o rei, da qual informa; do c.onflicto da gente de Cochim com a
de Calecut; de haver despachado Pedro de Albuquerque a ir arrecadar as
pareas de Ormuz, e Di'Ogo Fernandes r..om Jayme Teixeira para Cambaia ;
sobre os concertos da paz, etc., ele. . . . . . . . . . LUY, 318
1616: Outubro 25.-Goa.
Carta ao mesmo. Refere-sA carta em que deu conta da sua inteno de
ir ao Mar Roxo para em Mau, porto do Preste Joo, gaobar Da-
laca, e apalpar Jud. Expe a vantagem d'esta ida, e o que n'isto determina
fazer. Depois de sair do Mar Roxo, ir a Ormuz. Na India convm muito
fazer concerto com Narsinga e Cambaia., e conservar o de Calecut, etc. LXXVI, 32rJ
ICSI4 Outubro 26.- Goa.
Carta ao mesmo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Lnvn, 327
Vid. a carta de 20 do mesmo mez e anno. . . . . . . . . . . . . . . . . . Lm, 269
Outubro 23.-Goa.
Cnrta ao mesmo. Resposta sobre o preo da pimenta que Joo Serro
comprou mais barata. Modo por que se deve fazer este negocio. Dvida so-
bre o pagamento de direitos ao rei de Cochim da pimenta que no fOr
agenciada em terras do seu dominio. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . LX'I.VUJ, 329
1516ttJutubro 23.- Goa.
Carta ao mesmo. Diz que no se lhe mandaram ainda os vaJJadores que
. pediu e lhe so mui to ner.essarios. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . LXXIX, 331
1614 Outubro 25.-Goa.
Carta ao mesmo. Agradece haver-lhe sido mandado Joo Serro, homem
prudente e conhecedor das cousas da India.. . . . . . . . . . . . . . LUX, 332
Outubro 2ts.- Goa.
Carta ao mPsmo. Participa que recebeu cartas de Meliqueaz por quatro ala-
laias, das quaes vinha por capito C ide Al, o torto, de quem fa1Ja desfavoravel-
mente. Entende que o rei de Cambaia no deixar de nos eonceder Diu com as
suas rendas, ou assento para fortaleza. E o via para o Principe uma joia que
recebeu da parte de Meliqueaz. Chegada de outro Cide AI , que foi embai-
xador do rei de Cambaia. UJtimas noticias do Mar Roxo, etc., ete ... LXXXI, 332
Outubro
Vi d. a nota da carta. . ..........
151i Outubro 28. -Goa.
Carta ao Agradece as mercs feitas ao homem que acompanhou


..
'
PAO.
o embaixador, e o eredito que mPrl'rem a el-rei as eousas d'elle Albuquer-
que, apezar das aceusaes que lhe fazem.. . . . . . . . . . . . . . . . . . . Lxxxn, 33fS
161.\ Novembro
Cnrta ao rei. D noticia da despeza feita em Goa e d'onde sae. No deve
suspender-se a remessa de dinheiro para a lndia, cmc1uanto ali no houver
suffieiente quantidade de mercaderias para o obter. . . . . . . . . . . . . LXXXIII, 336
lfSitr Novembro ,.-Goa.
Carta ao Defende-se da aecusno de ter vendido algumas escra-
vas suas e d'el-rei a homens que as pediram para easar. Razes qui! teve
para augmentar alguns poucos subsdios para casamentos ....... LXXXIV, 337
16li Novembro 8.-Goa.
Carta ao mesmo. Sobre os grandes intere!'ses t(Ue podem tirar-se do eom- \
meroio de Malaca.. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Llxxv, 339
161.\ Novembro 8.-Goa.
Carta ao mesmo. Informa do mau da torre de menagf'm da forta-
leza de Cananor, e da obra que precisa... . . . . . . . . . . . . . . . . . . LXXI VI, 339
161i Novembro 27.-Cananor.
Carta ao n1esmo. D conta da chegada de embaixadores do rei de Nar-
singa, quando esta\& para partir de Goa, e da mensagem que traziam. Trata
dos grandes interesses do commereio dos eavallcs da A rabia e da Persia,
etc . . . . . LXXXVII, 3.\0 ..
161i Novembro 27.-Goa (sic).
Carta ao mesmo. Participa que apertou um pouco o porto de Dabu1, para
reclamar uns homens que tinham fugido para o ldalco, e que j tem alguns
em seu poder. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . txxxvnt, 3t.t

Novembro .
Carta ao mesmo. PArticipa que por falta de recursos mudou a teno de
ir ao Mar Roxo na de assenhorear Ormuz, e eom os meios d'ali obtidos vol-
tar ao Mar Roxo. Cnserva por ora esta resoluo em segredo. Dar parte
do que sucreder; cumprir as ordens para a st'gurana da India, e no des-
truir Ormuz, que terra para se desfructar e defender, etc.. . LXXXIX, 34-fS
ll.\ Novembro 27.-Cananor.
Carta ao mesmo. Providenr.ias que julga necessarias sobre os vinhos que
veem nas naus da earga, tanto d'el-rei como de particulares. . . . . se, 349
151.\ Novembro '
Carta ao mesmo. Manda o auto da3 culpas de Gaspar Pereira, e participa
que o substituiu por Pedro de Alpoem, homem de muita confiana. Diz que
o credito, favor e honra dados a alguma! pessoas que veem India s lhes
servetn para se enriquecerem com prejuizo da fa!enda real, ete. . . . . xcr, 3M
t61.\ Dezembro i.-Calecut .
.Carta ao mesmo. Intercede por Pedro marido de sua sobrinha,
aftm de ser restituido ao favor e servio real . . . . . . . xcu, 363

. .

PACI.
lfSttr Delembro !.-Caleut.
Carta ao rei. Participa que Manuel de Sousa, a quem dera a aleaidaria
mr de Goa!' vem para o reino, e que senira bem DO cerco de Goa. . . xan, 3!SS
161' Dezembro 6.-Na gal grandP..
Carta rainha. Sobre a earga de merraOOrias a elle incumbida. Envia
alguns presentes para a rainha, para a infanta D. Isabel e para o prin
.
et fle, etc . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . XCIV, uu
16t6r Dezembro 10.-Coehim.
Carta ao rei. D eonta do naufragio da nau S. Mih'llel do eapito Chris-
wvo de Brito, perto de Chau 1, por culpa do piloto, salvando-se s-
mente o dinheiro, t.()bre e artilberia. Lembra a necessidade de uma lei de
responsabilidade para os pilotos, que parece s vezes fazerem mau servio
de proposito ............................................... xcv, 3M
161' Dezembro 10.-Cochim.
Carta ao mesmo. Envia a resposta por Meliqueaz ao que lhe es-
crevera sobre a pretenso de estabelecimento portuguez em Diu. . . xcv1, 3ts8
161' Dezembro 11.-Corhim. '
Carta ao mesmo. Agradece as promessas de recompensa dos seus se"ios
trabalhos, e e1pe algumas razes por que entende merecei-a. . . scvn, 360
tfSI' Dezembro trs.- Cochi m.
Carta ao mesmo. D parte dos motivos por que privou do offir.io Gareia
Coelho e o substituiu por Pedro Barreto. Neeessidade de acudir s feilorias
tAND gente boarada e qne do negocio. . . . . . . . . . . . . . . . . xcvn1, 3M
1616r Dezembro 18.-Coehim.
Carta ao mNmo. Sobre o bom servio prestado por Luiz Dantas, que ao
voltar de Dio salvou muitas mercadorias e a artilheria da nau de Christo-
Tiio de Brito, que encontrou perdida perto de Chaul.. . . . . . . . . . . xcrx,
t61t. hembro 10 . .-. Cochim.
Carta ao mesmo. Relata o que passou eom o rci de Coehim para o eonven-
eer a razer-se eh ris to. sobre :as respostas d'aflnelle rei. . . c, 367
lrll6 Seaeuabro !2.-Ormuz.
Carta ao mesmo. Refere-se s ra1es que j havia dado para ir aDtea a
Ormuz que ao Estreito. O feito de Ormuz deu grande eredito e confiana s
cousas da lodia. Encarece as eondies d'aquelle reino, do qual obtivera sem
fadiga o diabfiro das pareas em divida. Se as eousas de Ormuz o nio obri-
. prem, determina pedir gente e auxilio para ir ao Roxo. Providencias
sobre o provimento de Sofala e da armada que est em Ormuz. Boas aovas
que reeebeu da lndia. O rei de Lara, e capito do Xeque Is-
mael, mandaram cumpri mental-o e razer-lhe Ainda no pde
dar noticias de Catifa, Baor e ilhas do eabo do mar da Persia, mas de
Babarem diz que mais i1nportante do que se pensa. Mandou levantar pe-
lnarinbo em Ormua. Com a tomada &carA em pMMer de Por



PAG.
tugal o commercio dos eavaiJos da Arabia e da Persia. Naus que mauda
construir cm Coohim u Galecut. Relao dos navios da' lo dia, e dos seus ca-
pites. Direitos t]Ue pagam as mercadorias em Ormuz. Manda .amos'ra da
moeda de ouro, prata e cobre d'aquelle reino. Descreve a fortaleza de Or
muz, etc. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . cr, 369
Outubro ... -Ormuz.
Carta ao rei. Reeommenda Dh>go Ho(Jlem pelos seus servios na ln-
dia. . . . . . . . . .. . . . . . . . . . . . . . . o o cn, .38()
trstrs Dezembro 6.- No mar.
r..arta ao mesmo. Affirma, j moribundo, ler cumprido o que lhe fOra en
carregado, deixando a lndia segura. Ree.ommenda seu 6Jho. . . . . . . . cn1, 380
Sem data
Carta ao rai. Pede que sejam favorecidos com Roy Gonalves e
JoO Fidalgo, porque teem prestado grande servio com a gente da orde-
- o to r 3111!
D&nr, e sao m u1 necessa 1os. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . cv, ou
Carta ao mesmo. Participa que lhe foram a seu pedido, umas
naus de mercadores do Cairo arribadas a diversos portos da costa da lndia,
o que mostra a obedieneia, ou antes a sujeio dos reis e senhores a quem
pertencem aquelles portos.. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . cv1, 386,
Carta ao Xeque Ismael. Partiei palhe que fez &oda a honra ao seu em bai-
xador. Envia-lhe Ferno Gomas de Lemos para lhe dar as informaes que
deseje a respeito dos portuguezes. D-lhe conta da tomada de Ormuz. onde
espera voltar. Expe-lhe a vantagem de uma alliana contra o Sol do, so-
bre o que seria conveniente enviar mensageiros ao rei de Portugal.. cvn, 387
Regimento que Albuquerque deu a Ferno Gomes e a Gil Simes, que
mandou ao Xeque Ismael. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 389
Do caminho que fizeram e o que fileram os embaixadores que foram ao
Xeque Ismael, e o presente que levaram. . . . . . . . . . . . . . . . . . . 391
Carta a Duarte Gaivo. Depois de algumas queixas sobre invejas de que
victima, e de algumas phrases affectuosas cerca do favor e proteco que
tem recebido d'elle ante el-rei, d-Jbe conta da sua ida a Malaca. Trata da
variedade de opinies religiosas dos mouros, as quaes do causa a graves
dissenses entre elles. Falia de do Preste Joo, do Mar Roxov.e da
determinaCJo em que fica de ali en\rar, etc.. . . . . . . . . . . . . . . cv1n, 39rs
Carta ao mesmo. Depois de tratar de algumas cousas de seu interesse par-
ticular, falia das cartas escriptas da lndia, em que a verdade se desfigura de

xxm
PAG.
tal modo que no pde el-rei tomar determinao decisiva do que quer fa-
zer d'aquella conquista, etc.. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . ciX, &O!
Carta a D. Martinho de Ca3te11o Braneo. Agradece-lhe a proteo que
lhe ~ m dado ante el-rei, que no folga de contentar os bons cavalleiros, e
favorece os que no o merecem. D oontl do socego em que est a ln dia. Traia
de Caleeut, da sua riqueza, e das boas relaes com o seu rei aetual. Falia
de Goa .e da sua importaocia, e das falsas informaes dadas a el-rei sobre
as grandes despezas que se fazem com e) ]a, etc. . . . . . . . . . . . . . . . . IX, WfS
'
..

'
CARTA I
11S07-Fevereiro 6
Senhor.-Escripto tenho a vossa alteza todo ho passado at nossa
chegada a momanbique, domde partimos caminho da terra de sam Iou-
reno: temdo detrin1inado ho capitam moor de aquy neste porto passar hos
leuamtes, nos mandou chamar todos hos capitees e pilotos e lhe pregum-
tou ho caminho que fariamos pera esta terra e porto domde estes ho-
rneens ......... todos hos pillotos que pella bamda do ......... Ruy
pire ira viera, que foy pella .. .......... eu descobry; pregumtey lhe a
.......... a Rezam que davam ........... maa nem na tinha por
nom . . . . . . . . . . . . . . . . . . ella bamda, nen1 saberem quamto ....
. . orte, somemte 1nanuell telez que cremos que veyo ..... terra de sam
louremo sem avQr vista dclla, veyo ter a hua po1nta de cabo de terra
c1n altura de homze graoos, vim do demandar a costa de quyloa: pregum-
tou ho capitam moo r o que me parecia, disse lhe que nom deu ia de hir
senam por homde Ruy pireira viera pello porto de samtiaguo e por esta
bamda do sull, porque s e ~ i a muy maoo de cobrar de momambique no
tempo em que estauamos a pomta da terra que manuell telez deixara em
homze graoos, porque quatro graoos de momambique pera hos aver de
cobrar comtra as aguoas que coriam e comtra hos leuamtes guastariamos
muyto tempo e aymda seria' duuyda podella a ver, e que ho ali hera ar-
rado comselho temtar cousas nonas e caminho que no1n era descuberto,
porque do tempo tinhamos mais necessidade; que vim do janeiro se podia
' naueguar pera homde vossa alteza tinha emderemada vossa frota a se
fa&er as cousas de vossos Rigimemtos, e que ouuesse por certo como as
naoos aventassem fumdo em terra que nom era descoberta, nom fizessem
I


DE AFFONSO DE ALBUQUERQUE
fumdamemto de com hos prumos nas moos ouuessem d andar cada dia
tres leguoas; e mais que tnhamos piloto e nao que saberia tornar ao porto
destes homens, o quall porto ns averian1os daquy de mom.ambique em
seis <lias popa e nos ficaria tempo pera sabermos de hy em diante ho
que aviamos de fazer; e mais que elle tinha matndado a taforea tornar a
ofalla a Yer se lhe queriam dar algutn dinheiro, porque da primeira se
escusarom, e que daly se fosse aguardallo terra de sam louremo pello
camiJjho do porto de samtiaguo; todavia quys ter estoutra volta dos pi-
c daly a muy poucos dias achou .tudo o que lhe dissera; quan1do de-
triminou de tomar meu con1 . . . guastado perto de tres meses ....... .
. . . . . . . . . . .. . . cem to e sessemta .......... costa.
Com esta detriminao ......... -.. capitam mo r de n1omcarnbique
. . . . . nauyos da minha armada que j aquy era1n e com bo seu nauyo
...... e a naoo de Joham gome2 c ha de Ruy pereira, J
1
queimado,
e fo1nos ave r h o parcell de samta u 1aria e h a cora d ara que eu descobry,
que achamos em altura de dezasete graoos e n1eyo, setemta leguoas de
mon1ambique ; e em tan1 peque',lO caminho nos botarom logo as aguoas


graos e meyo ao sull : cortamos por este parcell com ho prumo na
mo lJer set.e braas, oyto braas e cimquo e quatro e meya, e sorgiamos
de noite, at que ouuemos vista da terra: !ameamos l1os batees fora, fomos
e1n terra com ho capitam moor saber que terta era, tomamos hum zam-
buquinho pequeno com douus mouros, falamos com a jemte da terra; eram
caferes, nom se emtemdiam ben1 com estes da terra de sam louremco que
trouxe Ruy pireira, nem achamos nova de nenhiiua especearia senam de
gymgiure que nos amostraron1; nom lhe pregurntou ho capita1n moor por
a can1tydade que poderia a ver na terra: estes mouros que tomamos nos
amostraram douus portos. No primeiro achamos hum luguar de mouros em
que saymos; fugi nos a jemte toda do luguar, em que achamos n1uyto mam-
timemto, tomamos lho todo e pusemos foguo ao lugnar, e nesse n1ato a nossa
gemte solta matou alguuns mouros que jaziam escomdidos, e trouxerom al-
guas mulheres ao capitam moor, que deixamos hy; daly nos partimos ao
lomguo da costa com milho r Resgardo que podiam os: foram nos amostrar
tO nome d'este capito esta escripto n'uma entrelinha, mas de tal modo que e pos-
sivel Jo, ou Jo (Joo). Preferimos a primeira leitura, porque o nome do Job Quei-
mado conhecido e repelido pelos nossos escriptores das cousas da N'esta mesma
car&a mais adiante ach-se escripto com todas as lettras o nome Joham, o que julgamos
erro ou lapso do amanuense de Albuquerque.



CARTAS DE AFFONSO DE ALBUQUERQUE 3
estes douus mouros que t.on1amos, hum luguar gramde que tomamos, que
se chama lulamguane, jaz demtro em huua emseada; he huua Ilha perto
de terra firme quarnto pode ser hum tiro de bsta, tem suas abeguoaryas
em terra firn1e de 1nuytos guados e lauoyras e escrauos; amtes que naoos
aparecessem, mandamos tlouus bates diamte que __ se metessem. . . Ilha e
a terra firme por non1 deixarem passar nenhuum da. . . . . . . . . . . firme;
co1no viram as naoos surgyr. . . . . . . . . medo tam grande neles que
se lama ............. em zambuquos e deles em aln1a .......... .
capitam moor em terra ............... suas azagayas e adargas, como
. . . . . . . . . . . . . . . . . . . se muytos delles a nado. . . . . . . . . . . . . gemte
quo na Ilha esperou, se trouxe espada ........ senhor que
gramdes carentes e escarceo que fazia amtre a Ilha e a terra que
hos zambuquos todos se perderam com toda a jemte e todas as almadias
alaguadas, e h o mar era coalhado d ornes afogados e molheres e min1nos;
parece me, senhor, que amtre hos mortos da Ilha e os que se afoguarom
seriam bem rnill almas, e rnuytos catiuos que as naoos trouxeram, porque
ho capitam moor deu licema que tomasse cada hum aquelles que qui-
sesem; escolheo cada hum o que lhe bem veyo: no luguar se tomarom
alguns panos de cambaya, prata pouca e algum ouro pouco, porque trau-
tam aly as naoos de milimde e mombaa em escrauos e mamtin1entos;
tinha tamto arroz que vimte naoos ho nom puderam careguar; tres dia.s
teuemos asy ho luguar, at que cada huum tomou ho que podia alojar, e
ho ali que ficou lhe Resguatou ho capitam moor por vacas e cabras e lhe
deixou muytas molheres e minynos que as naoos nom podiam trazer: to-
mamos nossa aguoa e partimos ao lomguo da costa; mandou loguo h o ca-
pitam moor as naoos pclla Roupa de canbaya, e de todo ho ouro e p.-ata
deu ho tero a quetn ho achou, e fomos asy per espao de dias atee ver
o cabo da terra, homde gastamos muyto tetnpo sem no podermos dobrar
com lcuamtes e aguoas que coriam a ns. At aly nom podemos saber se
esta terra era apeguada com a terra de sam louremo ou era Ilha sobre
sy: tomou ho capitam moor na pomt.a desta terra hun1 homern, mos-
tramlhe crauo, disse que hy no mato avia muyto delle, ho capitan1 moor
nom lhe muyto credito; tornou a voluer daly pell.a bamda por homde
lhe tinha acomselhado e por ,homde rruy pireira viera com l1os homens
da terra. ..
E tomamdo ns asy ao lo ....... strarom hos mouros que toma-
mos em . . . . . . . . . . de que se chama ada, etn que . . . . . . . . . . . . . e
( lt
CARTAS DE AFFONSO DE ALBUQUERQUE
trautam aly muytas naoos ................... mtimentos e em fero,
que se ..... as povoaces; a jcn1te .............. lugares pareceriam
at.ee douus rnill .... azaguayas e adarguas e arcos de frecha nom ou-
srom de pelejar cotn nosco e asy acudia jcmte de hua parte e da ott-
tra por ser terra firme.
Semdo ns em n1eado janeiro, pareceo me vosso seruio, pois que a.r-
podia naueguar, acon1selhar ao capitam moor que nos partissen1os
em duas partes, eu com artnada ao cabo de gardafor e elle com essas
naoos que hy tinha de a descobryr essa terra. Respomde me que
sy, que era bem, porem que elle tinha necesydade da taforea que ll t.i-
nha mamdado diamte e do Rey gramde que queria leuar consigno: qoan1do
vy sua detreminaam e ho desbarato de minha armada e con.hecy ho tempo
que elle ll homde hya podia guastar, eemtam lhe disse que seria vosso
seruio leuar cu toda armada e ajuntalla por huu quer que achasse e hyr
fazer a fortaleza de oquotor, e daly, vimdo tempo, ajumtar a frota que
as careguas aviam de hir tomar aa lmdia, e hordenar lhe sua pa.sajem e
polias em horden1; e emquamto nom fosse tempo d atrauesarem, dar fauor
com ellas s cousas da costa d arabia que vossa alteza tinha guanhadas, e
h o que se hy mais pode fazer por vosso seruio: pareceo lhe bem, dizemdo
1ne sua detreminaam e do que esperaua de fazer de sy; emtam me deu
huum mamdado pera as naoos fazerem o que lhe ntandasse, posto que ho
eu tragua de vossa alteza abastam te pcra ysso, e asy s apartou de mym e
em muy poucos dias vim ter a momambique, homde eslaua a naoo sam-
t.iaguo e a naoo, cm que vetn Ruy diaz pircira; c a taforea que emtam che-
guara da terra de sam lourcmo, homde ha ho capitam moor mamdara
que ho esperasse, vyo tarntos meses gastados sem no capitam moor vit,
que detriminou vir se a momambique, homde leuaua por seu Regimento
que se t.ornase, c trouxe da .... milltnaticaees douro, h os quaees tnandey
emtreguar ao feitor da tninha naoo, pera quamdo vier ho ten1po ...... .
. . . . . aa lmdia hos n1andar ......... e aquy achey a naoo de laguoos
.......... . dey do caminho amtes que cheg ....... de Jionell
Coutinho, que me disseram que estaua em quyloa; e da guara que- estaua
cm militnde, e lhe mandey atnost.rar bo poder do capilam moor e carta
minha ern que lhe 1namdaua ({UC em n1ilimde aguardassem: a eara-
uella de pero coresma veyo de quyloa aquy com Roupa pera cofall
1
e aquy etn momanbiquc emtreguaron1 ao criado do ptioll do c1ato
que aquy ficou, e quando chegucy achey que era ll; se vier, ir comigo,





CARTAS DE AFFONSO DE AIJBUQUERQUE 5
e senam, nom me deterey por ella nada: veyo comigo Joham
1
queimado
e ho Rey pequeno: ficou com ho cpitam moor h o Rey grande.
E aquy neste porto achey hua carauolla que ho capitam jerall
mamdaua a ofalla, e nella vinha nuno vaaz pireira por capitam da forta-
leza, e por alcayde Ruy de brito, e por escripuam amtonyo Raposo, e com
todo h o poder que vossa alteza deu ao capitam gerall; dey lhe muyto ar-
roz que leuou, e muyto lhe fica aquy pera mandar por elle; pydio me hua
bombarda grossa que foy do nauyo de framcisquo d anhaya: hindo pera
quyloa, nom podem4o naueguar, tornousse aquy e no caminho achou a
bornbarda e a trouxe e lha dey; nom quys mais de mim e asy fiz prestes
estas naoos, e oje que he ho primeiro de feuereiro estou com as v e r g ~
d allto per a _partir.
Esta naoo de laguos que aquy achey e a carauella amdam ha tam
maoo Recado que ho nom podera vossa alteza crer, e nom ser maraui-
lha perderem se de todo, que as cuteladas e bamdos que amdam nella sam
mayores que hos de salamamca, e creo que tudo ysto faz nom se darem
por achados do capitam; h o capitam me requere que. . . gua em minha
companhia; posto, senhor, que eu nom .............. nam o que me
vossa alteza manda, porque . . . . . . . . . . . . . . . . recolherey em mym e
h os meterey . . . . . . . . . . . . . . . . a v eram do que nos deus der so . . . . .
. . . . . . . . . . at vossa alteza mandar .................... .
feitura desta. . . . . . . . . . . . . . . . . necesidade de mamtimentos
. . . . . c vinho, do quall ns temos . . . . . . . . . . . . . fiz loguo prestes a
carauella da eompa. . . . . . . de laguos, porque ha de pero eoresma he
careguada de Roupa a ofalla, e h a d amtonyo do campo h e em busca
das naoos que tenho escripto a vossa alteza, a quall carauella careguey
darroz e de milho, c asy de pam c de vinho lhe mandaremos aquyllo que
bem podermos escusar, c asy h o espero de fazer sempre dom de quer que
csleucr, abastecellos de matntin1emtos; e parece me mais vosso seruio que
deixar lhe carauella, porque clles notn na quiseram de tristarn da cunha,
nem tam pouco ouueram mester a taforea; e esses poucos de dias que a ta-
forea ahy estene, veyo tall de busano que nom he pera crer, nem pedem
8enam hum par de carauellees que traguam quatro ou cimquo homens
cada hum e que hos varem em seco cada vez que quiserem, pera lhe tra-
zer dos milhos ao lomguo desta costa, que naoos de mouros tres ou qua-
t Vid. nota d pag. 2.
/
CARTAS DE AFFONSO DE ALBUQUERQUE
tro annos ha que nom passam a ofalla, nem naueguam nesta costa se-
nam de vassalos vossos per licema dos capitees das fortalezas.
Asy, senhor, que at guora nom lhe tenho vista necesidade nenhuua
senam de pessoas que a guouernem bem e que ponham em bordem ho
Resguate, pera vossa alteza ave r quamto ouro quiser; e lembro a vossa al-
teza os fidallguos que com tristam da cunha mandastes, que aguora ficam
comiguo, de hos prouerdes destas capitanyas, porque asaz de fortuna tem
passada: feita em momambique a bj dias
1
do ms de feuereiro de t507.
(Por lettra de Affonso de Albuquerque) feytura e servydor de vosa
allteza que beyja vosas mos.
Afonso d alboquerque.
(Sobrescripto) A ellRey nosso senhor.
(ln dorso, por lettra coeva) a bj de feuereiro de 1507-dafonso
dalboquerque-descobrymento da ilha de sam louremo.
(Por lettra differente, mas tambem coeva) Vista-J'.
CARTA II
2
Senhor.-As cousas que me atee quisam acomtecidas he todo o que
lenho pasado, de que sam obrigado dar comta a vosa senhoria, se fez ha
carta pera elRei e outra pera V. S.; e porque sam cousas largas de com-
tar e a carta nom ser acabada, a nom mando per esta nao a vosa senho-
Jia, e porque eses capites qQe me fugiratn, me leixarom em tanta afron1ta
e periguo e me n1eterom em tamanho cuidado que me non1 soube dar
a comselho, por ter ordenado asy o cerquo desta cidade e proui1nento
d aguoa per as minhas naos, que nestas partes est em maneira que sem
muita jemte e nauio que est sobre aguoada se nom pode tomar: sobre
est.a aguoada estaua amtonio do campo; e asy deixarom sobre mim ha
armada de lxx nauios com mais de ffiJ.homens
3
que coje atar .mandaua
1 A seis dias.
2
Torre do Tombo.-C. Chron. P. I. , M. 6, D. 8.
3 Quatro mil homens.


CARTAS DE AFFONSO DE ALBUQUERQUE 7
vir de julfar he de sua terra em socorro desta cidade, e pera iso mandei
aleuantar os nauios deles todos tres, e me dizer que correram
aps ela, h e daly nom vy mais os nauios nem rrecado deles: estam do ma-
noel telez com o nauio carregado de mantimentos he meezinhas pera oeo-
tor a socorro da forteleza, se foy em companhia dos outros, sendo eu
h obrigado a fornecer a forteleza e a guardar e defensa dela a el Rei e a
vosa senhoria, como diz em rregimento: em todas estas obrigaes h a
perigos me deixou manoel telez, afomso Iopez da costa, a1ntonio do campo,
leuamdo me os nau i os dei Rei e jemte d armas asolldadada, artelharia e
todas as outras cousas, que
1
pera hum cerquo de ha tall cidade como
- esta, que em tamta afromta e necesydade d aguoa h e mantimentos a ti-
nha posta, que sem duuida, senhor, que se me eses omens nom fugrom,
em menos de xb dias' se meteram todos nas minhas mos e me deixaram
fazer a fortaleza que tinha comeada, e me tornarom os homens que ti-
nhom rrecolhidos a sy d armada dei Rei, c.om que me oje neste dia man-
dom tirar s bonbardadas, he mais me queimarom ha fusta que ti-
nha acerca acabada, e outras desobediencias e descortesyas com que tra-
tauom minha pesoa, das quaes cousas que asy pasaram, estes capites
que me fugirom he outras algas pesoas tinham gran1de comtemta-
mento; he casy por suas desobedieneias e cmburilhadas que amdauom
comiguo, vierom os mouros a se aleuantar contra mim e nom me querer
dar os homens nem deixar fazer a forteleza no lugar que me tinhom
dado: esta querela destes h ornes d armada dei Rei, per conselho dos capi-
tes e doutros fidalgos he eaualeiros que todos jumtamente lhes pareceo
que non1 mos dando lhes deuia de fazer a guerra, me pus rrigo niso, he
apertei que todavia me desem os homens; e posto nesta detreminaom, ao
outro dia me mando os capites huum asynado de
3
todos h, que eu nom
deuia de fazer a guerra a ormuz, e que se sase a pelejar, nom aviam de
sair comiguo nem aviom de fazer a guerra a ormuz, ainda que lho eu
mandase: postos nesta detreminaom, tendo a guerra aberta per seu con-
selho, pareceo me cousa tam feea e digna de tam gramde castiguo e de tam
gramde imfamia de caualeiros., que fiquei fora de mim e me pareceo, se-
gundo as cousas pasadas, que eles eram de fala com os mouros, e comcer-
tados com coje atar; fizeram se Juizes e detriminadores da minha supriori-

1
Parece haver omisso das palavras Io raece&sarias, ou outras equivalentes.
2 Quinze dias.
J Todos eineo .
,-
'
8 CARTAS DE AFFONSO DE ALBUQUERQUE
dade e detriminaom minha nas cousas de seruio dei Rei em m_eu rre-
gimento, as quaes cousas sam rreseruadas a elRei he a vosa senhoris man-
dar me que as faa ou nam : com este desemvergonhamento sem temor
dei Rei nem de V. S. me fugiram, estam do em guerra h e combate desta
cidade, omde pelegei muitas vezes e lhe dei asaz de costura que fazer, e me
leixarom e se fogiram, caso tam abominauell e tam feeo saberem os mott-
ros qtie os tapites e caualeiros portugueses fugiram da guerra e leixa-
uom seu capitom mo r, nom nos avemdo os mouros medo a nem ha
outra cousa senom nosa conformidade e lealdade e obedien1cia a nosos
capites, e ficar oje este. dia em ormuz tall fama de ns, e verem me ir des-
troado e perdido, e perdido ormuz p e l ~ guerra que me os meus subditos .
fezerom.
Nem poso cuidar com que querela partisem daqui; dizem me que le-
uom por albitre estrouarem a mim, pella vir vosa senl1oria fazer, fazem-
dome voso competidor, estamdo eu debaixo da ordenama e obediencia a
vosa senhoria, e asy compri vosos mandados imteiramente, como se el Rei
em pesoa mo mandase; e se querem dizer que eram mail tratados de mim,
beigarei as mos de V. S. mandar asemtar per esprito ho que cada huum
deles disser que lhe fiz e asy o que lhe tenho feito contra seruio del Rei
hc meu rregimento, e cedo irei dar comta de mim e de meus feitos a vosa
pesoa, porem, senhor, porque estes dons casos nem outros mais fortes que
posam alegar os assolue do crime e maldade que cometerom em me dei-
xarem na guerra em cerco de ha ci.dade mui gramde e proveitosa pera
as cousas de seruio dei Rei, a quall desbaratei e tomei ha vez, e to-
mara outra, se me eles nom fugiram, e fizera asemto de mercadoria e fei-
toria e forteleza muito forte e fremoza e defeDsauell com artelharia e ca-
pitam he jemte he mantimentos e com todo o necesareo, atee vosa senhoria
mandar prouer e ver o que era mais seruico dei Rei noso senhor, e isto em-
quanto os tinha desbaratados e vencidos, amtes que se dem a outros Reis
ou senhores que tenhom milhor aparelho de guerra e se defender de ns
ou de nos ofenderem, se de nouo viesemos outra vez a comquistala: por
estas rrezes he outras muitas que aqui nom espreuo a vosa senhoria, pus
o cerquo a e s t ~ cidade, com detreminaram de me nom aleuantar de sobre
ela, e por o nauio em que mandaua os mantimentos a ocotor esperaua
dauisar V. S. do feito como pasaua; portanto, senhor, vos beigarei as mos
eastigalos como a homens que tamanha traiom fizerom a seu rrei e des-
obediencia a seu capitom, he deixarem a guerra de mouros, he fugirem e

CARTAS DE AFFONSO DE ALBUQUERQUE 9
irem se dela e deixarem seu capitom; c vos terei, senhor, em merc man-
dardes mos nauios e dardes as capitanias deles aos .. fidalgos e caualeiros
que no cerquo aguardarom comiguo acutilados he feridos sem nem huum
bemfazer de mim, porque nom tenho eu mando nem poder pera agalar-
doar os taes seruios, nem as taes pesoas, omde V. S. est, que ho poder
tem de todas estas cousas; e o mais castigo que lhe vosa senhoria der,
sam merecedores e dignos de toda a pena e de toda a desomrra, porque
ha iijc anos t que caualeiros portugueses tamanha maldade nom fizesem,
nem o ly en nas earonicas portuguesas.
Deueram eles aguardar o tempo em que suas maldades podesem
emcobrir com meus erros, mas, graas quele poderoso deus, que me nom
podem eles escomder nem negar quamtos gramdes e asynados seruios
tenho feitos depois de me emtregarem minha armada, e quam dinos de
memoria e de merc som amte elRei; o primeiro he aceitar esta armada,
q1:1ando ma emtregou tristam da cunha, sem nem huum mantimento, armas
poucas e podres, de cabres, velas, mui desbaratada; poluora toda
molhada, bonbardeiros mui poucos, oficiaes de carpimtaria, tenoeiros,
ou dous; lanas todas podres, bstas sem nem hum tiro nem barmante pera
cordas, com cento e cincoenta homens morte da doema de ocotor;
loua toda perdida com arcos podres e quebrados; sem a ver antre ns
senom huum pouco de bizcoito que me ficou e parti por todas as naos,
poden1os todos ter muito de pom he agua pera oito dias: deu me deus
tam boom vemto e viajem que arribei sobre a cidade de calaiate e lhe fiz
dar he nender per fora muitos mantimentos de graa, e per maos com-
selhos de capites deixei de lhe poer as mos, e ficou obediencia dei
Rei noso s.enhor; e dali me party e fui sobre a uila de curiate e a com-
bati he emtreguei per fora e a trouxe toda espada; dali me
carreguei de mantimentos, damdo escala franca jemte de todas as ou ...
tras cousas, de que ouuerom muito proueito ; e daly me aleuantei e fui so-
bre a vila de mazeate e a combaty he emtrei per fora d armas, trazendo a
toda espada e a foguo, omde tomei muitos mantimentos, e a jemte muita
rriqueza; e daly me aleuantei e fui sobre a vila e forteleza de oar, e de-
treminei de poer artelharia grosa em terra e a combater; nom ousou d es-
perar o combate e se vieram meter todos em minhas mos, e se fizeram
vasalos delRei e rrecebrom sua bandeira e me fizeram carta disso, e a
Trezentos annos.


tO CART 1\S DE AFFONSO DE ALBUQUERQUE
villa pagua trebuto, com que se pagom os frecheiros que o alcaide da forte-
leza tem pera guarda dela; e daly me aleuantei e fui sobre a vila de guor-
faom e emtrei per fora d armas, e segui h o allcamce mais de ha legoa
do lugar, e matei muita jemte e pus o foguo uilla; e dali me
fui sobre a cidade d ormuz e surgy junto com a sua annada mui grande e
de muita jemte, e ao outro dia ao meio dia mandei levar amcora minha
nao com os bats armados, h e surgy no meo de sua armada e. asy o man-
dei aos capites que o fizesem, e o fizeram; pelegei com ella, e pelegei he
desbaratei muita jemte e meti lhe as naos no fl1ndo, em que se afogou muita
jemte; queimei lhe o arrabalde e quantas naos tinha em tera; meteram se em
minhas mos, lancei lhe Xli serafins
1
de trebuto e li pera gastos' d armada;
o asento que fyz com eles, em pessoa o espero de leuar a V. S. e nele ver
se som eu capitam pera me os capites e jcmte que debaixo de minha
amdar, deixarem me na guerra e me fugirem e asy em todos es-
tes feitos que atrs aponto a V. S., nos qDaes eles foram em pesoa, e co-
nheceram em mim que era eu capitom pera saber desbaratar os immi-
gos; h e todos os outros negocios e cousas que fiz, acabei com muita des-
queriam e temperana e como el Rei de mim comfia ; e se alga cousa
tenho errado em meu oficio, he sofrer tanto a eses capites que me fugi-
ram, que vieram a dar esa com ta de sy, que vosa senhoria vee e em tall
tempo; milhor o fizeram quando estauam fartos dunas, de pexegos e de
meles, que agora que conpria aos capites e caualeiros mostrarem seus
desejos e boas vontades pera seruir el Rei e nam darem com huum tm
gramde negoceo no cbom, cuidando que empeciom a mim, nom lhe tendo
eu feito nenhum mail nem que tenha non1e, senom com muita de-
synlulasom e tenperama passar suas desonistidades e descortesias, seus
ajuntamentos e conselhos ajuramentados santos avanjelhos, e isto
tamta desordem e com tamto aluoroo que me comprio afastalos de mim,
e antes acarretar a pedra e o barro e a call s ao pescoo, qtte os trazer
em minha companhia antre mourns mui agudos c avisados, que entendiam
tudo mui bem; e por detrs de mim me aleuantauom que queria eu pren-
der coje atar e rresgatalo por Ii dobras
3
; e semearem na cydade que fa-
zia e aquela forteleza pera os destruir he asenhorear, e outros rrequeri-
mentos que me faziom, por htia vez me aleuantarem daqui e nom fa-
l Quinze mil xerafins.
2
Cinco mil para etc.
3
Sessenta mil dobras .


CARTAS DE AFFONSO DE ALBUQUERQUE li
zer meu asento aqui, como me el Rei tinha dito, e isto, senhor, comearam
comigo despois que lhe mostrei hiia carta que rnandaua a V. S. por
ha nao de onor, em que vos esprevia minha detrem!naom e o que
me parecia das cousas de c: viratn nela c-omo depois na entrada do mar
rroxo auia de voluer a imuernar aqui a esta cidade e fazer nela meu
asem to, e mandaruol as naos grosas, he nauios pequenos ficarem comigo,
com detreminaom de rne poer a eaualo e fazer a guerra em terra firme,
e as ilhas que per aqui jazem d arredor proueitosas a seruio dei Rei, tra-
zelas a seu senhorio: esta era a minha leno1n atee ver recado de V. S.
do que de mim ouuese de fazer, e pera isto, senhor, que digno, nom me era
necesareo dinheiro, senotn jemte, porque tinha esperana em deus desta
ilha e da de h h arem a ver I. ta mill t serafins douro cad ano: esta detremina-
om minha n.om poderom eles sofrer, saberem que aviom de ficar os na-
uios pequenos comigo e eles e toda a jemte; e per todas as vias h e modos
desejauam de me deitar daqui fora, e fizeromno de feito, como V. S. vee,
porque agora me auiom por mais asemtado e mai8 senhor d ormuz e
que nam podia deixar de o leuar nas mos; e ainda outro erro fizeram
comtra seruio dei Rei mui gra.mde, mostrrom jemte que o trebuto que
se aqui deu a el Rei, auiam eles da ver partes, e que era ton1adia e nam
t .. ebuto, mostrando jemte que eles ficaram por fiadores e que eu os ti-
nha roubados do seu, defendendome eu sempre com vosa senhoria, que
o julgasse e detren1inasse, que eu trebuto dei Rei nom auin por tomadia
nem presa, e que eles nom aviom da\'er partes; que llaa iriamos onde V.
S. estcvese, que as pareas h e trebuto dei Rei nom se aviam de gastar nem
despender, que a nossa senhoria avio:n dir, que llaa o detreminase como.
lhe parecese bem: meteram com isto a jemte em tamta desordem, que casy
me nom queria seruir, e per fora me fizeram dar froll de la mar a
cada homem dez dez cruzados, tam aleuantada he aluoraada achei com-
tra mim e asy o capitom: era, senhor, jaa isto de maneira que amtre eles
mesmos avia hy rrezes huns com outros; e pareceme, senhor, que com
estas cousas e com outras largas de comtar tardrom os mouros em se
aleuantar comtra elRei noso senhor: veja V. S. laa se sam estas cousas
dynas de castigo.
Tendo eu, Senhor, as cousas dormuz postas rm soseguo, despois da
guerra acabada espalmei minhas naos he as pus em monte e lhe dei to-
t Cineoenta mil.


CARTAS DE AFFONSO DE AIABUQUERQUE
das as cousas de que tinha de quanto mos mestres delas rro-
querrom, e estauam tamto a ponto e tom sas be tam bem aparelha-
das, como se sairam da rribeira de lixboa. E este corpo desta Armada
asy concertada e aparelhada per mim e per meu trabalho he cuidado,
nom mo pode el Rei pagar este seruio, e emtregando ma com huum po
na mo, estar eu pagamdo solido a sua jemte, capitom; he, senhor, isto
pera lhe os criados deli Rei nom ousarem fugir com os nauios he jente
dell Rei; com a quall armada, com ajuda de deus, eu esperaua fazer mui
grandes seruios a ell Rei noso senhor e a vosa senhoria, e nom como
outras pesoas algtlas tem feito, lanando as naos deli Rei a traus, e suas
armadas feitas em pedaos pellas rribeiras do mar; e eu creio que este
seruio que aqui diguo, ser bem rrecebido dei Rei e de V. S. e ser dado
castigo queles que as ordenamas deli Rei e sua armada poserom em
desbarato; tambem lembro a V. S. como me eles fugrom, temdo eu
noua que se fazia armada em cambaia pera vir sobre mim: com ajuda
do muy allto deus nom me meteo a mim isto em desbarato, mas como
capitom delRci noso senhor mandei lanar outra amcora minha nao,
por verem os mouros que a armada dei Rei nom auia medo a nenhtla
cousa que viese sobre ella, e por isso, senhor, deue V. S. tomar mui Rigo
a estas cousas que sam feitas em voso tempo e debaixo de vosa gover-
nana e mando, ca EllRei noso senhor bem lhe mandara, que mandou pu-
blicar a todos capites per Rui gomez juiz da mina, e asy aos mestres
le pilotos, que nem hum nom fose tam ousado que deixase seu capitom
mor nem se aparLase dele so pena do caso maior e perdimento da fa-
zenda.
E porque V. S. saiba mais meudamente como ormuz quebrou co-
miguo, com eles se Janrom quatro homens dest.a armada, hum greguo
calafate de froll de la mar, e hum bizcainho calafate da minha nao, e hum
greguo marinheiro da minha nao, e hum portugus marinheiro da cara-
vela damtonio do campo, que jaa dias auia que andauom neste trato de
os Recolherem a sy, se nam esperauam de despachar primeiro ha nao
deliRei, que ser de tons
1
, que lhe aqui tomei no desbarato da sua
armada e lhe tomei a dar; e neste tempo me esbo.fetaram o pedreiro mes-
tre da forteleza, e outro dia me esbofetaram o mestre que me fazia a fusta,
e outras omrradas desonestidades que eses freeheiros faziom por esa ci-
t Oitocentos toneis.


CARTAS DE AFFONSO DE ALBUQUERQUE 13
dade: coje atar ora me mandaua dizer e rrequerer que me nom fose da
qui, que medo das naos de mequa, que se tomarem a cidade, que
a senhoreariam, ora me mandaua dizer que faria bem de me ir daqui ; a
estas cousas lhe respondia o que me parecia, atee me fazer forte na torre
que comecei; pasado isto, partio a nao mery, de que me eu muito arre
pendy. Entam rrecolhrom logo os cristos a sy he me tirarom loguo os
pedreiros e trabalhadores que andaulom na torre: quando achey menos
os cristos, mandei lhe dizer que me mandase emtregar os homens d armada
deli Rei; rrespomderam me que se nom auiam de perder e que logo mos
entregariom: tomei conselho com os capites, e isto, senhor, por fazer
sempre o que deuo e lhe dar parte de todas as cousas, como sempre fiz,
temdo eu jaa seu conselho por mui danosa cousa o seruio dei Rei,
e por minha onrra, todos me diserom que se me nom desem os meus ho-
mens, que lhe deuia fazer a guerra; e ao outro dia me mandrom hum
asynado seu deles todos cimquo, em que me diziom que nom deuia fazer a
guerra a ormuz, e que se a fizese, que nom auiam de ser comiguo nem fa ..
zer a guerra per meu mandado, tendo me eu jaa posto com Cbje atar, que
se me nom de se os omens d armada dei Rei, que caa em desobediemcia e
desacatamento e que quebraua o comtrato e asemto que com elle tinha
feito, e que lhe lenbrase que nunca tomara homem seu, mas amtes os que
eatiuara na guerra propeos criados sens, me mandara pedir e lhos dera, e
que soubese certo que nom era eu eapitam per.L deixar perder ha agu-
lheta d armada deli Rei e pera nom dar mui booa eomta dos homens que
me ell Rei entregara; rrespondeo me que os tinha atados de pees e de
mos e que loguo mos entregaria, que os tinha em hum lugar na terra
firme; que lhe dese h dias' d espao e que mos mandaria trazer; aptouue-
me daquelo : neste tempo mandou que nom trouxesem os paraos aguoa
senom de noite, por me poer em neeesydade d aguoa, cuidam do que os
seus frecheiros me tolheriom as aguoadas donde a traziam: quando as
cousas jaa ir craras, fiz lhe ha noite represarea nos paraos d acarretar
aguoa e em mais de iijc homens' e tomei hum criado seu que vinha de
passar os iiij homens terra firme: feita esta represarea, me mandou tor-
nar a pedir este homem, que queria mandar por elles: mandei lho; aca-
bados os b dias, diseram que j erom vindos e amostrarm nos a gaspar
t Cineo dias.
2 Trezentos homens.


\


. .

1.\ CARTAS DE AFFONSO DE ALBUQUERQUE
Rodrigues limgua, e per elle me mandou dizer coje atar que lhe mandase ,
os mouros todos em terra, e lhos mandei poer todos a ha ponta d ara
junto com a forteleza que fazia: pareceo me aquilo Ruimdade e mandei
poer em terra cento e cincoenta omens armados d arredor deles, e eu em
hum esquife ourela daguoa; foram com hum recado ou dous, vieram com
outros tamtos; emfim mandou me dizer que me mostraria hum do cerame,
e deixou me estar ao soll booas duas oras ou tres; emfim nom me quise
ram dar os homens, e neste tempo da dilasom tapaoom todas as bocas
das r1;1as com pedra e call he delas com madeira e varauom as naos em
terra: quando vy esta detreminasom soa, poer se em armas contra mym,
comfiamdo n artelharia grosa de lhe derubar as paredes da sua fortaleza
c emtrar com eles, mandei chegar os nauios pequenos a terra; a poucos ti-
ros nom tiue camelo nem coronha de bombarda grosa que nom fose feito
em pedaos, por ser tudo podre ; mandei arredar os nauios e polos em
cerco d arredor da Dha, e quis primeiro apalpar dom de aueria aguoa pera
minhas naos, porque nom a auendo, estaua mais desbaratado que or-
muz ; e saltei em queixeme, htla Dha que est perto desta cidade, donde
se traz a mor parte daguoa, e leuaria comiguo ijc homens', e saltei em
ha villa mui gramde e desbaratei lha e matei lhe muita jemte, e trouxe
daly tnuita carne he mantimentos e aguoa pera as naos; nom heram hy
mais capites comiguo que francisco de t.auora e amtonio do campo; daly
a dous dias dei em outra vila muito maior nesta mesma llha e fui sen
tido de noite, e quando dei, em amanhecendo, no lugar, nom achei jemte
nem htla nelle. Joham da noua que hia por htla parte por omde o man-
dei com sua jemte, e jorge barreto por outra parte por omde o mandei
emcaualgar o lugar com cinquoenta homens, se vieram ele e Joham da
noua ajuntar no cabo do lugar em ha casa forte omde cstavom os
capites de coje atar que guardauam a villa; cuidando de se defemder na
casa, os emtraram per fora d armas Jorge barre to h e joham da noua, e
pelegrom com eles e os mataram e muitos caualos e outros alguns que
a minha jemte sollta per esas ruas traziam espada: foy aly ferido Joham
da noua e lhe mataram hum homem e lhe feriram dous ou tres outros:
daly ouuemos asaz mantimento e aguoa per dias: fogidos eses capites e
leuados os nauios domde os tinha p o s t o s ~ jaa nom pude daly em diamte
tomar aguoa, se1n me ferirem allgtla jemte os daquella armada que eses
Duzentos homens .

,

.

CARTAS DE AFFONSO DE ALBUQUERQUE !5
capites deixarom sobre mym e se foram sem a querer desbaratar; e
asy me aleuantei do eerqoo, sendo o chamto na cidade cada noite da sede
e fome que padeciam, que nom foi cousa pera crer, tendo lhe jaa os poos
atopidos he cisternas com mouros mortos e caualos e camelos e molheres
e meninos, e mortos he decepados mais de mill homens: acuda vosa senho-
ria em pesoa ou me mande homens e nauios, porque creio, senhor, que este
tirano de coje atar de rroubar a cidade e irse; e se vosa senhoria lhe
parecer que sam escusado per a iso, lembre se que el Rei em meu regimento
carrega sobre mim o socorro e guarda de ocotor, o quall eu nom poso
fazer, porque meses capites leuaram os nauios he jemte; que estas duas
naos que me ficam, este agosto seram com V. S.; e se mos mandar, sejam
fornecidos de mantimentos, porque jemte que neles vir nom lhe da-
ram de comer nesta terra per seus dinheiros: beigarei as mos de V. S.
tornar a ese feito, que eses capites fizeram muito rigo, porque nom vom
com outro esforo de e, senom parecendo lhe que V. S. de folgar com
sua ida e com todo meu desbarato, he mandar ler esta carta perante eles,
por me fazer merc; e hei gare i as mos a V. S. mandar guardar esta carta
pera elRei noso senhor ver, porque se nom faa jaa em sua vida tam fea
cousa como esta. Joam da nona vai de mim agrauado; e certo, senhor, quem
de semir el Rei, pode contentar a mui poucas pesoas; seruio sempre mui
bem neste caminho que fiz, e digno de muita merc e omrra amte el Rei
e V. S.; fico escandalizado dele, porque o a1artei pera com elle tomar meu
conselho, e eses senhores que laa 1om o tornrom a meter na brigua
comsyguo: este eaualeiro ' criado do Duque de coimbra, ,que esta minha
dar a V. S., lhe deceparam esa mo na peleja que ouue com elRei dor-
muz; deve lhe V. S. fazer merc e satisfazer lhe sua aleigom: feita em ho
Porto dormuz a ij dias de feuereiro de 1508'.
l Era Gaspar Dias, de Aleaeer do Sal, mencionado nos Commentarios de Albuquer-
que, p. I. C. XXX.
z Torre do Tombo.-C. Chron. P. 1., M. 7, D. 6, foi. & v. um caderno que
foi remeuido para o reino, e contm copias de diversos documentos. Est assignado por
Gaspar Pereira, e no principio tem a seguinte declarao.
Neste caderno vao allgus trelados de cartas que allguas pesoas mandaram ao
viso Rey e elle mandou depois de partida a frota de tristam da cuunba at partida
desta, e asy allgus Regimemtos que deu e Requerymentos que fizeraio allgus a af
fonso d alboquerque e outras eoussas desta ealidade, que por serem de muita leitura as
nom traladei no outro liuro gramde que vay neste cofre, e as propeas ficam em minha
mao; e se alguas forem sol &as neste cofre, ser porque com a muita presa que te-
,

16 CARTAS DE AFFONSO DE ALBUQUERQUE
CARTAID
1508-Feverelro 6
Senhor.-Por apagar os aluoroos de froll de Ia mar e desobediem-
eia em que os achei contra mim, estando em guerra de immigos, tendo os
cercados, ouuindonos eles muito bem e nos tiramdo duas bonbardadas
da fortaleza por nos estremar, e com este aseseguo, senhor, se faziam c
as cousas de seruio dei Rei, eses capites que laa vom dinos de muita
pena, quis antes este aleuamtamento pagar com dinheiro que com ho cu-
telo que elles bem mereciam, e lhes mandei dar bc e R. ta cruzados', a com-
disom se o V. S. ouuese que de trebuto dei Rei e pareas ouuese d auer
a jente partes, como se fose presa ou tomadia: os capites por imdinarem
a jemte contra mim, dizem lhe que aviom daver partes e que eu que os
rroubava do seu: senpre me defendy que V. S. era juiz desa causa, que
eu nom o auia por presa nem tomadia; os eapitees todavia acen-
deram este caso quamto podrom, dizemdo jemte que eles queriam fi-
car por fiadores, e cousas feeas: este dinheiro que asy dey, vay llaa
ha arrecadaom delle, e mais Pedraluares leua mill serafins pera com
h o dinheiro que tem rrecebido e com este lhe ser feito pagamento d oito
mezes: tambem, senhor, neste negoceo d ormuz nom vos faa nimguem
em tender que eu fiz pazes com ormuz, porque tal nom h e; mas depois
de o ter desbaratado e vemcido, metendose eles em minhas mos, lhe
tornei a emtregar a governamca do reino, que o regesem e govemasem
em nome dei Rei de portugall dom manoell. e lhe lancei de trebuto XD
serafins
1
douro, e com outros pontos de muita sustancia, segundo se ver
nho, se nom podrao aquy trelladar, e por iso veja vos alheza todos os paps que nelle
forem.
cE se por vemtura aqui forem algas traladadas que j l fosem as outras viajes,
ser per erro e por estarem todas jun"s e nom poder buum homem soo "ntas mil cau-
sas oulhar, e mais em tenpo de carregao, se aqui treladao, que sam tantas as
partes a Requerer seus despachos e o tempo he brebe, que me nom sei dar a conselho ;
e por aqui nom aver papell nom tiue feito an&es da vinda das Daos.
1 Quinhentos e quarenta cruzados.
2 QuinZe mil xerafins.


\
cARTAS DE AFFONSO DE ALBUQUERQUE t 7
pelo asemto he entrega que tenho feito com eles da governama do Reino,
o quall eles am de entregar a V. S. ou a el Rei noso senhor ou a quem seu
poder teuer, com toda ohediemcia e acatamento, cada vez que lhe for re-
querido; e portamto, senhor, nam sam pazes as que fiz, mas Reino ga-
nhado per fora d armas, some tido obediencia dei Rei noso senhor, to r ..
nado a receber das minhas mos com obrigaam do trebuto que lhe pus:
da maneira que aguora fica, creyo que o trebuto sempre o pagar, mas
a entrega do Reino ser per fora d armas; e com esta pobre armada que
debaixo de vosa lama e obediencia nestas partes amda, eu esperaua, nom
me fazemdo os capites portugueses traiam, o tomar outra vez a tirar de
poder dos tiranos e tnetelo nas mos dos mui bons homens cidados e
pacificos, que nom tomaram n u n ~ a os homens d armada del Rei pera os
tornar mouros: aviso disto V. S., porque nom quis meter minhas cousas
em mos de meus imigos, que d emfadados de pelegar he com enveja
danaram o seruio dei Rei; mas iram em tempo que V. S. ser se rui do:
beigo as mos de V. S.: esprita do mar a hj dias
1
de feuereiro de 1508'.
CARTA IV
liSOS-Fevereiro liS
Senhor.-Depois de ter esprito a vosa senhoria amtes de minha par-
tida da cidade d ormuz, n1e caperom em terra he me mandou dizer eoje
atar, que se alargase os quatro homens que me tinha tomados, porque erom
jaa seus irmos, que faria todo o que quisese; que a cidade era dei Rei de
. portugall e elle era dei Rei de portugall. Eu lhe respondi, que at.ee ly eu
tinha mui booa com ta dada d armada e jemte que me elRei emtregara, e
que nom quisese deus que a ha cidade sojeita e vemcida e que pagaua
trehuto a elRei noso senhor, posto que elle se alevamtase como tirano he
quebrase bo comtrato das pazes, eu sabia que o pouo he mercadores es-
. tauom obediencia del Rei noso senhor, e que agora me tomara e . em
. ganara quatro cristas, ovelhas do m ~ n curral, de que eu som pastor, e

t Seis dias.
2 Torre do Tombo.- C. Chron. P. I .a, M. 7, D. 66, foi. tO v.
3
t8 CARTAS DE AFFONSO DE ALBUQUERQUE

mas leuara s mizquitas de mafamede a renegar o. nome de jezu christo
noso senhor e saluador, por cuja fee elRei noso senhor como catolieo
primcipe mamdaua fazer ha guerra aos mouros, e mos nom queria dar
nem emtregar, que em nem htla maneira deste mundo ~ o m avia de fazer
tamanha malldade nem lhe deixar de fazer a guerra he deitallo daly fora,
ateemo emtregar os cristos darmada delRei noso senhor, saluamte vendo
mandado dei Rei ou de vosa senhoria, que nestas parles estaua em seu
nome, e nisto mandei lamar ha batelada de mouros velhos em que tinha
feito represarea, porque nom tinha mantimento nem eram homens pera
sernir: temdo jaa minha partida detreminada, por me terem jaa tomadas as
aguoadas com muita fora de jemte daquela annada que estes capites
que me fugirom nom quiseram desbaratar, souberam parte pellos mes-
mos mouros, que os meus nauios he capites dei Rei me fugfrom ; ca-
perom outra vez em terra, mandei llaa ho esquife, vieram mouros a fa-
lar com aires de sousa chichoro he gaspar rodrigues lingoa, que llaa man-
dei; traziom comsiguo huum cristom dos quatro, marinheiro da caravela
d amtonio do campo h e portugus: na pratica que com elle tiverom, rres-
pondeo elle e dise : outrem uos mandou c; he mais disse : ns nom
eres comtemte de fazer feitoria, mas fortaleza e feitoria, e outras palauras,
he de tudo mamdei fazer huum auto pera o mandar ha vosa senhoria ou
levar em pesoa, segundo vir voso rrecado, ca soube deses capites que
fugirom, h e induziom tambem francisco de tauora que se fose com eles:
as cousas, senhor, dormuz, a meu ver, senhor, nom se aleoantrom con
tra mim senam pella forteleza que me viom fazer, ea h o trebuto tem
eles em menos com ta; que huum pobre pescador he jemte chea de temor
com booa vomtade me deixaoam fazer ha forteleza e me dauom todo
ho necesareo pera ella: estes capites com seus dessasegos semearam
amtre os mouros tamtas mentiras, que cuidrom que feita a forteleza
os auia de.lanar fora: este temor lhes fez nom entregarem os homens e
quererem que tomar isto por querela, por esconder o ali que lhe mais
doa, porque erom obrigados por bem do comtrato a me fazer esta casa;
nom tenha vosa senhoria duuida de os tomar s mos e fazer lhe fazer
quamto eu quisese, se eses capites nom fizerom a el Rei noso senhor
tamanha traiom: o trebuto h e certo sempre de o pagarem cada vez
que lho mandarem pedir, se virem que os deixam viuer em sua tirania ;
t Este fUI pareee-nos de maia.

....
CARTAS DE AFFONSO DE ALBUQUERQUE 19
. ,
fora, se lha oouerem de lhe fazer, mester gemte he mamtimemtos, por
que nom nos senom na terra firme, que tem muito poder: as mereada
rias todas tem aqui muita valia; as suas som muito caras pera ns,
nom se far nem huum proueito em portugall pello preo que as dom :
terei a esta jemte pagos de solido d oito at noue mill cruzados, os n que
1
me loguo deram os mouros pera iso, e iij do cobre' que se vemdeo dei Rei;
os iii das pareas
3
aimda estam imteiros pera leuarem a uosa senhoria eom
ij e tantos' cruzados que mandei empregar em perlloas, aimda que me
parece muito caro: aqui nom ha mais que esprever a vosa senhoria, se-
nom que vou na vollta de oeotor a partir com eles destes poucos man-
timentos qu leuo, pois Manoell telez, quo pera iso estaua ordenado e
carregado, me fugio: daly amdarei no estreito de mequa com estas duas
naos e todavia averei vista dadem; nestes lugares que vir, ou em acotor
imuernarei; vimdo o ms d agosto, mandarei estas naos pera imdia e fica-
rei em acotor, porque asy mo manda elRey em meti rregimento, sall-
uamte vendo rrecado de vosa senhoria em comtrairo, a que heigo as mos:
feita no mar a xb dias
5
de feuereiro de 1508
6

CARTA V
1510 .... Outubro 16
Senhor.-Aigas cousas me lembraram depois de ter espri\o a
vossalteza, pera vos delas fazer lembrana e vossalteza prover de l como
vir que for seu seruio.
Primeiramente se os soldos acrecemtados de dom francisco dai-
1 1':- t
\..IWeo ID1 que
2
Quatro mil do eobre.
3 Quinze mil pareas.
Dois mil e tantos.
s Quinze dias.
1
Torre do Tombo.-C. Cbron. P. 1., M. 7, D. 6, foi. 3. Esta earla e as duas
aoteeedenres, lanadas no caderno que mencionamos na nota i de pag. 15, teem nomes
mo caderno os t1tulos seguintes: a de foi. 3: ((Cartas d afonso d albuquerque ao viso Rei,
vieram em froll de la mar,>; a de fol. 6r v.: Outra sua; e a de fol. 10 v.: Outra sua
sem ser asy.nada, de letra das o sobrcesprito vinha pera o viso Rei.
3
20 CARTAS DE AFFONSO DE ALBUQUERQUE
meida e quimteladas averam efeito, ou se as tirarm de todo e asy as das
capitanias e mestres e pilotos.
Mais se se far hum comtador que tome a conta do que se despemde
por meudo por homeens que os almoxerifes mamdam e vosso feitor e ofe-
ciaes madeira, pregadura e outras muitas meudezas, que cada
dia vam buscar fora, e asy ter cuidado de quamdo o capitam mor qui-
ser saber pouco mais ou menos o dinheiro que he despeso, e ho que pode
ficar em mo de vosos ofeciaes e d algilas pessoas a que se daa cargo
de o despender, porque vay nisto muito voso seruio; que aimda que
nom seja fim de comta, he ,bem que se tome qu rezam da despesa e
Recepta, pera se saber verdadeiramente o que aimda hy ha.
E se voss alteza nom ha por bem que ho hy aja, mande a huum des-
tes ofeciaees da feitoria que tenha cargo diso ; porque o negocio de caa
vaise fazendo gramde, asy de corregimento de naos e navios, obras de
fortelezas, e asy naaos que vossa alteza mamdar fazer nestas partes, pera
que compre espalharem se muitos homeens e serem mamdados a desvaira-
dos lugares pera trazerem as cousas necesarias pera o que dyto tenho,
como se agora faz, e de tudo isto comvem hum homem que tome a comta.
E asi he necessareo tambem pera justificaam d amtre os mercado-
res, feitor e vossos tisoureiros, pcra hy nom aver comtemda nem debate
sobre suas com tas depois de terem Recebida sua carga; de maneira, se-
nhor,_ me parece que nam deveis de ter nestas partes tam gramde
asemto, como he o de cochim; sem comtador da casa e feitoria, nam pera
que seja fitn de comta; mas porque amde viva vossa fazetnda sempre, e
11am com fie nos homeens em dizerem, a portugall ey de ir dar com ta, e
trazerem em seu poder dous ou tres mil cruzados ou quamto quizerarii.
Lembro tambem a vossalteza o que vos tenho esprito sobre os ca-
pitees da uia, que ser bem mamdallos voss alteza pera imsinar esta
jemte que l vem, de quinhemtos fs., a nam fogir nem pOr em desba-
rato a outra que tem mais obrigaam a darem boa com ta de sy; digo nos,
senhor, isto, porque a vs vos compre, por hum par de naos e por dous
pares poerem bem o ferro aos mouros da imdia, que nos vam perdemdo
o medo e a vergonha, e stam milhor aposemtados que ns.
E ou lhe voss alteza bem o que fazem vossos que lhe falam
verdade e lha mamtem sobre seus seguros e comcertos; portamlo, senhor,
.mamdai fazer a guerra, porque de boa guerra vem boa paz, e tomai sem-
pre vimgana dos Rex e senhores da imdia que uos errarem, porque he
'

CARTAS DE AFFONSO DE ALBUQUERQUE il.
ha das cousas que mais compre nestas partes pera vossa faina a_
dilo: esprita em cananor a xhj dias doutubro de 15!0.
(Por lettra de Atfonso de Albuquerque) feytnra e servydor de vosa
allteza

Afonso dalboqoerque .
(Sobtescripto) Pera ellRey noso senhor-primeira via.
(ln dorso, em, lettra coeva) dafonso dalhoquerque.-Lanada
1

CARTA VI
1510 -Outubro 17
Senhor.-As cousas de goa sam tam gramdes, que tocam tamto.
segurama da imdia e a tudo o. que nos compre e desejaees, asy pera gas-
tos, despesas, ofeciaees, madeira, ferro, salitre, linho, arrozes, mercada ...
rias, roupas dalgodam, que me parece que sem ela nom poders soster a
imdia, .porque os calafates e carpynteiros com n1olheres de c e trabalho
em terra quente, como pasa hum ano nom sam mais homeens, e com goa
pode voss alteza escusar os deses Regnos, porque os ha mais e milhores que
os que c amdam.
Afora este bem de goa, tem outra cousa mui danosa pera a segu ..
rama da imdia, qoe tem muitas naos e galees e podem hy fazer quamtas
quiserem ; e por ser pesuida destes turcos estramjeiros, sempre foy guer-
reira mais que os outros lugares e sempre di sairam d armada e ouue oos ..
sairos; e h e tam danosa per as naoos de carga e pera segurama e sesego
com que a am de tomar, que nom poeria douida, se s aly meterem Rum is,
que nom faam muito dano s nossas naos, porque ou as tomarm quamdo
vem demamdar amjediva, ou lhe faram perder a carga: he ilha cercada
dagua, de muita Remda, e (muito barra de muitagQa, porto
morto de todollos vemtos, ilha de muitos mamtimentos e muita
-veados tantos que he ha cousa d espamto, lebres, perdizes, lauoiras dar-
rozaees e de triguo abastada, muito de feno, pera a jemte de cavalo, se
t Dezeseis dias.
2 Torre do Tombo-C. Chron. P. f., M. 9., D. 88.
\
'

..
ti CARTAS DE AFFONSO DE ALBUQUERQUE
hy ouuer destar, podela soster e defemder, como hy ouuer espao pera
segurar, porque se ho teu era, nunca ma os turcos emtraram.
Oulhe voss alteza bem, que se soees senhor de goa, metees em tamta
eomfosam ho Regno de daquem, que nom seria muita duuida deyxarem a
terra, se vos virem fazer forte em goa, porque eles nom tem outro bem
nem outra segurama de seu estado senam as costas que tem em goa,
porque he ilha, e perdemdo a terra, am se de recolher a ela, ho que nom
podem fazer a dabull; e tenho isto sabido per certa ciemcia pellos mesmos
mouros, porque o regno de daquem est desta maneira que aqui direi a
voss alteza.
O rei de daquem deu aterra em capitanias ou senhorios repartidos
per escrauos seus, turcos de naam, e alguuns persios poucos; estes se ale-
uamtaram e nom lh obedecem senam em lhe chamarem Rey; mamdam
lhe aguora alga joya, se querem; tem comtinoa guerra estes alguazis
bons com os outros e tomam os lugares huns s outros e s vezes fazem
amizade uns contra os outros e cada huum se trabalha por aver o rei de
daquem mo e o ter em seo poder; o abayo ho tem agora, e este he o
mo r alguazil deles e que mais terra tem e o que he senhor de goa; outro
alguazill he o senhor de chaull; este teue sempre comtinoa guerra eo a-
bayo e tem, e se neste tempo que ganhei goa, o senhor de chaull nom
morrera, nunca a perdera, porque viera logo sobre o filho de aba yo quamdq
veyo cerquar a ilha, e o desbaratara, mas fycou lhe hum filho moo he CO
meou emtender primeiro em seu alguazilado; assy, senhor, que digo que
nesta dyuisam amlr eles, tem do lhe vossa alteza tomado goa, que h e ha
gram quebra pera eles; com este fauor he logo a terra dos jemtios leuada
comtr eles, e quero perder a vida se voss alteza isto nom v, se gunha goa
e a ssegura logno; porem se detreminao em que feitura desta esto11
que he, acabada a cargua, ir com todalas naaos e leuala nas maos, a mim
me parece que deitando os mouros d e l ~ fora, ela se pode bem segurar e
defemder eom -menos jemte, aimda que o que me mais eomtemta do feito
de goa, poder ela sofrer e soster _muita jemte sem.nenhum gasto nem d e s ~
pesa vossa; e. despois que goa se segurar bem sem ter mouros demLro,
quatrocemtos,portugueses ateram viua pera sempre; mas ainda digno que,
poisela pode soster dons e tres e quatro mill homens, e a vossalteza co.m.-
pre telos na imdia pera segurama dela e pera serdes senhor dela seguro,
que por iso a deue vossalteza de soster e ter, porque todalas naos que
quiserdes. podeis aly fazer:- mais digu(), senhor, se timoja, que he mero ti-
CARTAS DE AFFONSO DE ALBUQUERQUE !3
rano, d por ela cem mill cruzados e se obriga a ter seis e sete mill ho-
meens pera defender, em que se gastarm outros tamtos, parece, senhor,
que peso he o de goa, pera voss alteza gastar de vossa fazemda com muita
confiama.
Digno, senhor, isto de timoja, porque posto que seja nosso amiguo,
he homem mui imtereseiro, e por omde pode aver, mail ou bem sempre
se. trabalha por iso; em nossos feitos sempre deles Recebeo muito proueito
e muito pouco dano; e algum descomtemtamento e reeeo, se o dele tenho,
he este; porem homem he que tem de nossas bas obras alguum conhe-
cimento e que se pega bem comnosco; nom he homem de jemte nem de
fora, senam homem de_ credito amte elrrey d onor, o qual lhe faz muita
omrra por o nosso.
partida minha oe cananor deixo ordenado e mandado aos capi-
tees morees das naos que vam pera portugall, que ~ m t o que suas cargas
forem acabadas, me vam buscar amjediva, porque j emtam serei voluido
de eanbaya de .asemtar as pazes, t r a t ~ e feitoria, e tirar esses catiuos que
l jazem, e vir amjediva e aly nos ajumtarmos todos e tomarmos sobre
goa e fazermos o que podermos: espero em nosso senhor que nos ajudar;
do que aly fazermos ou nam fezermos, vossalteza ser diso sabedor, e mi-
nha temam he no cabo deste tempo entrar o mar Roxo, e se for seguro
de maliltymemtos e agua, emvemarei em adem, e se disto nom for seguro,
no fim do ms de mayo virey emvemar a urmuz: esprita em eananor a xbij
dias doutubro de 1510.
(Por lettra d' Albuquerque) feytura e servydor de vosa allteza
Afonso d alboquerque.
(Sobrescripto) Pera eiRey noso senhor-segunda via.
(ln dorso, lettra coeva) xbj (sic) doutubro i5l0-dafonso dalbo-
querque de xbij d outubro de bex do que sabia de goa e do que esperaua
acerqa della fazer
1


Dez e sete dias.
J Torre do Tombo-C. Chron. P. f., 11. 9, D. 87 .


'
2' CARTAS DE AFFONSO DE ALBUQUERQUE
CARTA Vll
1510-0utubro 19
Senhor.-L mando a vosa aaltezaa tres pannos que ouvee do embai-
xador de xeqe ismaell e do embaixador d urrnuz; so pannos da persia e
qe se leva muito terra do preste Joo, e rnando a vosa alteza h num sayo
de borcado qe me deram e duas peas de borcado e duas peas de ve-
ludo de mequa, da roupa que se tomou da nao de mequaa que vinha pera
calequt. Duarte de lemos levaa a vosa alteza aljoTar do trebuto d urmuz;
levaa asy gomalo de seqeira o cabo do anndoor delRei de calequt
d o.uro e de pedraria, e leva hum mao de cartas, e leva tambem ha
adarguaa da persia da pesoa de xeqe esmaell, que me dero.
AB naos qe este anno vieram de portugall, deixo tomando suas car.-
gas, e segumdo meu parecer elas iro Riqas e proveitosas, porque levam
mercadarias que vosa alteza de l avisou terem neste tempo vallia; mando
a nao de joo daveiro tomaar laqar e gemgivre em cananor, e que v a
melinde a tomar especearia qe l est de presas, e creo qe ir Riquaa,
se a nosso senhor levaara salvamento.
,
A feitora desta chegro aqui novas como hemdar governador de
malaqoa era morto, qe o matara eiRei de malaqa; nom sabemos ainda a
cansa por que: as cartas que della espreveo Ruy d araujo, a vosa allteza as
mando: a malaqa mando este ano oyto naos, amlre as quaes h e a nao em
que veo jorge nunez qc mandei fiquar c; com esa determynao mando
.diogo mendez que de l veo, por capito moor, porqe me pareceo homem
de bom Recado e de bom temto ; leva as suas quatro naos comsiguo ; par-
tiro no ms dabryll e sero aqui no ms de setembro e outubro; as vo-
sas naos vam muito Ryquaas, porqe levam toda a mercadaria da nao de
mequa e muita Roupa de cambaia, qe so proprias pera l e vallem l
muito dinheiro ; dizem que levam mercadaria pera carregarem dez naos .
despecearia: mando l deixar Ruy daraujo por feitor, se quiser fiquar, e se-
nam, dioguo pereira, o qoall nom quis asemtar na de co-
chim, e sei que avemos dele de teer necesydade: se vosa allteza quer ser
Riqno, nom venho e naos mercadores pera o negocio da imdia; naos



CARTAS DE AFFONSO DE ALBUQUERQUE 25
nella qe abastem, se lhe mandardes muitas lamas e muitas armaas, e
se mais naos ouver misteer, q se dar forma como se fao: mande vosa
alteza cem corpos darmas apartados pera cadaa forteleza e quinhentas
lamas de pee pera cada hna, duzentos piques, cem padeses bezcainhoos,
porque nunca vy cousa to piadosa como h e de ver estas fortellezas; nom
nelas hila s lana nem armas.
Estees coira-ceiros soo mui boons, se lhe mandaseis muyta cravaco
e coiros;. e se c viese ho fundidor. pera a cravao, seria cousa muy pro-
veitosa e os homeens andariam muy bem armados; o fumdidor da cravao
noos falece; de todo o ali estamos bem, tudo se c pode fazer muy bem.
Peo a vosa altezaa por merc qe se lembre de me mamdaar ar-
mas, muitas lamas, muitos piquees, muitos gorgazes
1
, alabardas e partesa-
nas, pera estas naos d armadaa, q tam symgelas e tam vaziaas amdo:
poJa vemtura se allguem l fez a imdia chaam a vosa alltezaa ou vos es-
preveo que nom nella armas nem jemtee, de meu comselho este
mandaria eu c por governadoor, pois qe lhe parece qt1e sem armas e sem
jemte se pode senhorear e soster a imdia; porqe emquanto eu nela esti-
ver e nom vir vossa alteza mais asemtos na india nem mais segurama do
que agora nela ha, sempre vos ei de pedir muita jemte e muitas armas,
porqe eu nunqua ey de decer da minha openio, a quall he que seguree.s
a imdia, sem o qe nunca avs de comer dela boom bocado: outras .pes-
soas a ver ahy, qe se c vierem, qe lhes parecer que no mister mais
qe dous barquos sevilhanos; estes t.aes eu lhes seguro que levem mais di-
nheiro que eu de c, porqe seu cuydadoo ser carregarem bem sua pi-
menta e fazerem seu proveito e irem se em seu tempo: esprita em cananor
aos xix dias doutubro de t5t0.
(Por lettra de Alfonso de Albuquerque) feytura e servydor de vosa

_ Afonso d alboquerque
(Sobrescripto) Pera eiRey noso senhor-Primeira vi.
(ln dorso, lettra coeva) dafonso dalboquerque de dias doutu-
bro de bcx-cousas que envia-as naaos que manda a malaca-armas
e cousas que pede-fundidor de crauaam pera as coiraas-gente e ar-
/ mas que pede.-I .. anada
1


t Gorjaes.
2 Torre do Tombo-C. Chr. P. 1., 11. 9, D. 88

'

26 CARTAS DE AFFONSO DE ALBUQUERQUE
CARTA VIII
1610-Dezembro 22
Senhor.- A carta qe esprevy a vosa allteza sobre a. tQmada de
goa, foi logo aquelle dia tarde, porqe determynei mandaar huum na-
vyo a cananor per avisar vosa allteza polas naos da carga, as qaes man-
dey que viessem todas per gooa, porqe no perdiam nada do seu camy-
. nho, e davam favor ao feito de gooa, e amostravam ha yndia poder eu
vir ~ o b r e goa com mais naos, se quysera, e poor fazer esta mostra ,yn-
dia, poJa esperamca que tem da vinda dos Rumes nom se alvoraarem,
mas serem certeficados do poder e gramdez;.l de vosas armadas e como
pooden1os ajumtar vimle, trimta e qorenta na os, se comprir; e qys fazer
esta mostra, e nam sei se os capites comprirm meos mandados, ou se
fumdados em dar boa Rezo de sy faro outro camynho.
Na tomada de goa e desbarato de suas estamcyas e emtrada da for-
teleza noso senhor fez muyto por ns, porqe qis que acabasemos htium
fito tan1 gramde e milho r do qe ns poderamos pedir: aly falecro pas-
sante de trezemtos turqos, e daly at o paso de banastary e de gomdaly
per eses camynhos jaziam muytos mortos quescaparam ferydos e cayam
aly, e outros muytos se afogaram passagem do Rio e muitos cavalos:
despois queintei a cydade e trouxe tudo rspadaa, e per qatro dias cQm-
tinuadamente a vosa gente ffez san1gue nelles; por omde qer que os po-
diamos achaar, nom. se dava vida a nenhum mouro, e emchiam as mez-
quitas delles e punham le o fogo: aos lavradores tia terra e bramenes
mandei que nam matassem: achamos per com ta serem mortas seis mill
almas mouros e mouras, e dos seus pies archeiros, muytos deles falece-
ram: foy, senhor, hum feito muy gramde, bem pelejado e bem acabado,
e afora ser goa l1ua tam gran1de cousa e tam primcipall, aymda se c
n.om ton1ou vingana de t.reio e malldade que os mouros fizesem a vosa
allteza e a vosas gentes, seno este, o qal soar em toda parte,. e com
este temor e espamto far vir gramdes cousas vossa ohediencia, sem
nas comquystardes, e as senhoreardes: nam farm malldade, sabendo que
tem ~ paga mui prestes.


CARTAS DE AFFONSO DE AIJBUQUERQUE 27
.
Allgums gentios homens principaes, a que os turquos tem tomado
suas terras, sabendo a destruio de gooa, decro da sera onde estam
Recolhidos, e vieram ea1 mynha ajudaa e tomro os passos e camynhos,
e todolQs mouros que escaparam de goa trouxeram espada, e uom de-
ram vida a viva c.reatura. Roubaram gramde aveer, porque tomro todo
o dinheiro do pagamento dos soldos quescapou de goa, e matro hum
turqo homem primcipall que o levava, que era thesoureyro: nenl1a se-
poltura nem ydifycio de mouros nom deixo em pee; o; que agora tomam
vivos, mando os assar: tomaram aquy hum arre negado, e 1nandei o quei-
mar.
A determinao em que fiqo, he nom deixar viver mouro em goa, nem
emtrar nela, soomente gentios, e deixar gemte por agora aquela que me
bem parecer e algums navios, e com outra armada hir ver o tnar Roxo e
hurmuz o mais que tenho escrito a vosa alteza, se a nosso senhor
aprouver.
As naos dos mouros que tinham feitas, me trabalho por botar
mar e algas estam .j no mar, e asi me trabalho por deitar as que es-
tam por acabar e fazer; se a nosso senhor aprouver de eu soster goa, tra-
balharey de as acabaar, e farseam outras e muitas e qamtas vosa allteza
quyzer: achmos gramde abastan1a de ferro e de pregadura; dei seguro
ao povo meudo e ofyciaes, calafates e carpimteiros, ferreiros, pintores, e
logo Leremos abastama d ooficiaes pera tudo o neeesairo.
Deixo todalas Remdas a tymoja, tyramdo as da ylha; ha de paguar
o soldo aos pertugueses e a toda outra gente necesaira: com ha nao de
cavalos que tomamos, e com os que se tomaram aos turqos, amtre boons
e maos haver hy eemto e qoremta cavallos; nom temos aynda se lias nem
freos, seno huuns poucos devasos sem coiro, que achei em cochym.
Aqy se tomro allgas mouras, molheres alvas e de bom parecer,
e alguuns homens limpos e de bem quiseram casar com ellas e fiqar aquy
, nesta terraa, e me pediram fazemda, e eu os casei com elas e lhe dei o
casamento ordenado de vosa alteza, e a cada hum seu cavalo e casas e
terras e gado, aquylo que arrezoadamente me parecya bem: a ver hy qa-
trocentas e cymqoemta almas; estaas cativas e estas molhares que caso,
tomam a suas casas e desenterram suas joyaas e suas fazendas e suas
arrecadas douro e aljofar e Robis, c colares e maoylhas, contas, e tudo
lhe deixo a elas e a seos marydos : os bens e terras da mezquyta deixo
da. de .santa cateryua, em cpj Wa JlQJ Doso seob.or
, .

,
..



28 CARTAS DE AFFONSO DE ALBUQUERQUE
deu a vitoria polos merecimentos dela, a qual ygreja mando fazer demtro
na forteleza na cerqua grande.
L mando a vosa alteza a mostra das suas cobertas, as qaes jera].
mente todos trazem nos cavalos por amor das frechas, que he a .primei
pai arma das suas batalhas. Parecem me muyto leves, e seryoo provei-
tosas pera guerra d aliem, porque sam todos mouriscos pequenos e pode-
riam com ellas, porque os de c caminham com ellas: mando ta.mbem a
vosa alteza os seus espimgardes, que tiram com ''irotes, e trasem gramde
sooma desta gemte: mando a vosa alteza a mostra das espimgardas dos
Rumes e a fumdio (?)das que os mouros faziam em gooa, e asim mando
mais a vosa allteza da sua artelherya grossa duas bonbardas grossaas;
e mais mando a vosa alteza hua sela das de c, que me el Rey d onor
mandou: mando a narsynga huum messageiro, e mando allguuns cavalos
a elRei de naarsymgua e Representar lhe o feito de goa, aynda que j
tenho mandado dous pies com cartas a braldez, que j l tinha man-
dado, e ver se com este feito de gooa lhe podemos tirar o credito que
tem nos turqos e medo que lhe am, e a verem que somos homens que fa-
remos tam boons feitos na terra como no maar, e asy ver se o poso fazer
aballar seus arrayacs contra os turquos de daquem, e quererem nossa
amyzade verdadeira .
Despois de ter esta esprita, mandei dioguo femandez cryado de
vosa alteza com trezentos homens nas gals e paraos, e gemte, pies da
terra, com capites dei Rey d onor e de timoja, e foram per terraa a bam-
da, hua terra em que os turqos aynda estavam com jemte de cavalo e
de p, e per fora os lanaram fra dele, e agora vam sobre condall, ou-
tra terra de goa, e vay a noss gemte per mar l, e a jemte da terra per
terra, e acabado de os lamar d aquy fra, o que espero em noso senhor,
nom fiqa mais por fazer, porque toda a outra terra de cintaqola at goa
est vosa obediencia toda, e estam vosos alcaides em cada lugar, e de
goa at comdall, que he comtra dabull, nom nos falece j seno comdall:
peo vos, se11hor, por merc que me creaes de comselho, e que faaes muito
fundamento de goa, porqe he tam gramde cousa e tam principal, que vos
certefiqo, senhor, que, sendo cousa que Deos nom permyta, perdemdose
a ymdia, de goa a pods tornar a ganhar e comquist.aar, e pde noso se-
nhor ahryr camynho, como em muy pouco tempo pooderiam as vosas
gemtes emtrar o Reino de daquem e de narsynga, porque a fora dos
tuqos soo per sy nom he m u i ~ gramde, se os gem&ios oom fosem seus

CARTAS DE AFFONSO DE ALBUQUERQUE t9

soditos e nom andasem naa guerra com elles ; e os gentios so homens
cheos de 11ovidades, e se acha.-em capitam portugus que d escalla franqa
e soldo, so logo cem mill pies com elles, e tomam a Remda da terra
em pagamento de seos soldos; e os turqos so deuisos amtre sy; toda
sua fora he pies gemtios: poder ser c
1
ue parecer esta cousa bum
pouco duvidosa, e a mym c parece me muy bem, porque vejo a hum es-
cravo conprado por cynquo xerafins fazer se senhor de muitas Rendas e
de muitas terras: goa pods nella ordenar e fazer todo o que quiserdes;
nom ha mister soldo nem mantimento de vosa alteza, amtes pooders a ver
dela quanto gemgivre determynardes de mandar pera eses Rey.noos; e es-
pero em nosso senhor, segundo os homens que sam casados nesta terra
e follgo de viver nela, que os mesmos lavradores sero os portugueses,
os quaes so casados j quy muitos., e os de cananor querem se vir viver
aquy: escrita em goa ans xxij dias de dezembro de 1510.
(Por lettra de Afonso de Albuquerque) feytura e s e ~ dor de vosa
allteza
Afonso d alboquerque
( Sobrescripto) Pera e) Rey noso senhor
1

CARTA IX
11St2-Abril 1
Senhor.-Aigtlas cousas mevdas de quaa da lmdia, que ser ne-
eessareas sahelas voss alteza, as esprevo aquy nesta cart.a gramde, por
nam fazer gramde valumy de cartas. E digno, senhor, que chegamdo de
malaea aa lmdia achey as naos principaees d armada derribadas e achey
algtlas pesoas de bem lamadas fora de cochim pelo &.lcaide moor e fey-
tor a que ficou h o carguo da terra: era hum destes simam rramjell, h o
quall mandavam a goa e se foy a cananor .; daly a dias tomam do se pera
cochim em hum paguer de mouros, tomaram a ele e a outro os eaturis
de calecot; neste tempo estava mafomede maary, primcipall mercador
de calecut, com sua casa pera se ir pera ho cairo domde era naturall, e
o comprdu e o levou comsiguo.
.
1
Torre .do Tombo--C. Chron. P. I. M. 9. D. 109.
,


30 CARTAS DE AFFONSO DE AlABUQUERQUE
Saber voss alteza como de calecut partiram cimquo ou seis naoS e
levavam especearia, semdo eu em malaca c_ manoel de Iacerda com ar-
. mada da imdia em goa; deu a estas naos tam gramde vem to de poneote
que se perderam a mayor part.e delas, e mafomede maary com duas ar-
ribou aas ilhas de maldiva, omde ao presemte est, e se nos ho negoceo
de goa der lugar, nam nos escapar: com este mesmo tempo arribaram
as naos que hiam pera vrmuz, e algas delas se perderam; e creo que
aver gram fon1e em vrmuz e gram necesidade de rnamtimentos, pois os
arrozes da imdia nam pasaram: com este mesmo tempo ar1ibou ha nao
dadem, que carregou de ca.ncla em ceilam, e veyo ter a batecall e hy
descarregou; creo que haverey toda e que nam pasar em nenha ma-

ne1ra.
Partimdo eu pera malaca, leixey a mayor parte da jemte da imdia
nas fortelezas, com gramde defesa que se nam pasase d a forteleza a ou-
tra nenha jeplte sem meu espiciall mandado at minha vimda; ouue-
ram se os capitees uisto froxamente, em tall maneira que muy desem-
vergonhadamente fojiam os que queriam dum lugar a outro em pagueres
e paraos de mouros, e iso mesmo deram licema algas pesoas que fos-
sem tratar, nam semdo daqueles que voss alteza a tall liberdade deu, por
omde se fizeram allguuns maaos recados: dou esta comta a vossalteza,
porque sam cousas que obrigam a castiguo, e nimguem nam quer ver
justia ~ m sua casa; e esta devassidade foy em goa mais que em outras
partes. .
De goa deu Iicema dioguo mendez algllas pesoas pera se irem pera
eses rregnos, amtre os quaees foy hum goml1o rabello, o quall teve
cargo da tanadaria c rrecehimento da ilha de divary e de choram, e se
foy com ho dinheiro, sem dar comta nenha, e mais rroubou muita fa-
zenda a Rodrigo Rabello por seu falecimento, no quall rroubo foy hum asy-
r.ado meu aseelado que ficaua na mao de Rodrigo Rabelo e na sua buela
pera ho socedimento da capitania, quamdo dele deos desposesse alga
cousa, no quall socedimento leixava manoel de Iacerda e ficase narmada
do mar diogo fernandez at minha vimda.
Com esta mesma licema se foy hum frade de sam domimgos que
eu hy lei1ey por vigairo contra minha vomtade, o quall leva rrouhado
mais de setecemtos cruzados de defuntos, porque fazia os testablentos, e
fezse erdeiro nos testamentos e a outros que ho perfilhavam: mais fez
depois de minha partida: fez emtemder a eses homeens .. casados que es-
,
..
.
C1\RTAS DE AFFONSO DE ALBUQUERQUE 31
tavam escomungados, porque os ele nam rrecebera, nam temdo ele poder
do vigairo jerall que qu he, pera poder ministrar este sacramento, so-
mente frey framcisco da rrocha, a que estes poderes cometeo ho vigairo
quamdo me party de cananor pera goa, e este casou cemto e cinquemta
pesoas antes que partise pera malaea; e a este frade mamdou lhe ho vigairo
estes poderes despois que me eu party pera malaca; ps tamtas eseumu-
nhees nos casados que tirou de cada hum hum cruzado e dous cruzados
e iso que podia aver deles per fora; daualhc este lugar dioguo mendez
e os da sua valia, que entam rreinavam por capilees, os quaees eran1 pero.
coresma, ho cimiche, fernan1 corra: este frade que digo, por cobia de
dinheiro fez peramte mim bo que aquy direy a voss alteza: foy tomada
ha tnolher em goa, e aquele q-ue a tomou vemdeo a logo a hum mes-
tr afonso, fisico, boom cristao, que quaa amda; mandey lha tomar, por-
que nam era dada per mim; mandey a tornar christa e cas a com hum
homem que a rrequereo de casamemto : teve tall maneira este mestre
afomso, que por hum cachopo seu mamdou imduzir a molher que disese
que nam casara por sua vomtade com aquele homem, e peitou ao frade
que a mandase vyr diamte d un1 altar omde ns hiamos ouuir misa; cui-
damdo ho marido que era pera outra cousa, trouxe sua molher, e o frade
lhe fez pregumta, se casara por sua vontade; ela respomdeo que nam :
ho mestrafomso estava aly, e pedio logo hum estromento daquilo; bo ma-
rido q u a m ~ o se asy vyo, tomou sua molher e levou a, e foyme fazer quei-
xume da desomrra que lhe o frade e aquele boon1 cristam fezera; man-
dey chamar o me_stre afonso e lhe dise que como ousara ele diamte do
altar de noso senhor vituperar ho primeiro sacramento que ele ordenara,
e que imda e ~ e l trazia aquela pedrada guardada pera lhe dar; respon
d me que fezera bem e que imda se nam arrepemdia; mamdey o entam
premder, e mamdey fazer auto daquele caso: prouou se contra elle sob or-
nar a molher, e imduzila que disese aquillo e que lamcase mao do al-
tar; mandar lhe aqueles JTecados por hum moo seu, que sabia a limgua
da terra; prououse ter peitado ao frade: foy pregumtada a molher; dise
como lhe ele e o frade acomselharam como ela disese aquilo, prome-
tendo lhe mestre afonso que casaria com ela, e outras maldades deste
feito que aquy nam esprevo a vossalteza: mamdey loguo ho frade fora
pera as naaos de dioguo mendez, e o creliguo de dioguo mendez leixa-
va o em goa, porque frey frameiseo que entam era noso vigairo, avia d iir
comigo narmada; e o boom e1istam,, quisera fazer justia dele, e por ser


3i CARTAS DE AFFONSO DE ALBUQUERQUE
tisico e dizer que querya casar na terra, lhe perdoey vossa justia, e mais
per rrequerymento dos casados; e casou con1 hiia molher que ele nam
merecia: tornou ho frade ter maqeira como os casados mo mamdaram
pedir e eu l1o torney a leixar; prgou sempre contra os casan1entos e eom-
tra mim, mostramdo sempre aa jemte como aquele ano avia de v ii r outro
governador; afavoreceo isto dioguo mendez, que tinha emtam cargo de
e pero coresma e o cerniche e fernam corra, que mamdavam
enta_m toda a terra, e danavam este feito e desconfiavam os casados, a vendo
que era obra de mynhas maos, sabemdo que o mamdava voss alteza fa-
zer; e daquy naceo alguns deseomtemtamentos aos casados de goa, por
omde alguns fizeram de sy mao rrecado.
Mais fez este frade : sem do eu em malaca, casey em goa hiia mo-
lher omrrada e de boom parecer com hum Joo cerueira, homem de bem:
veyo ho marido a falecer, e ela casou loguo corn outro, e rreceb os hum
archiles godinho tambem casado em goa peramte certas testemunhas em
sua casa; namorou se desta molher hum homem, que h e j falecido, pei-
tou ao frade, e descasou a, e mandaran a pOr em casa dum homem, omde
aquela pesoa j falecida hia fazer ho que lhe aprazia com ela; como
aquela pesoa faleceo, foy logo ho frade e casou a com outro: e esta cizma
que ele prgou, de vem outro governador, danou muito aa jemte e o ne-
goceo de goa, porque as pesoas que isto afavoreceram, detreminaram dar
com goa no cham, mostramdo que ha nam a\,ia de soster ho outro go-
vernador que vynha, e que havia de derribar, e que nam era vosso ser-
uio soster goa; e aps isto cayo hum pedao de muro velho do tempo
dos mouros, nan o qeriam correjer: mandaram algas pesoas que eu
aquy nam diguo, rrecolher ho fato aas naos, e a jemte que nela estava,
com as taees prgaees assaz descomfiada; e mais prgavam ser eu morto
e perdido com toda armada aqueles que desejavam tomar vimgama nas
vossas cousas, cuidam do que empeciam a mirn; e desta mercadaria se
trata quaa na imdia, se voss alteza nam torna com muy gramde cas-
tigo a iso, porque se a em veja d amtre ns fosse desejarmos de vos ser-
uir buns tam bem como os outros, seria emtam a taU em veja vertude;
mas ho que agora quaa Reina, he querermos aquerir autoridade amte
vossalteza cos defeitos alhos, fo1gamos com as quebras e que
acomtecem h uns aos outros nas cousas de vosso seruio, e aimda nos tra-
balhaJDos com nossas envejas por os outros fazerem erradas e darem
maa comta de sy: chegou, neste tempo em que se goa nesta fortuna vio,
.....
,
-
CARTAS DE AFFONSO DE ALBUQUERQUE 33
manoell de Iacerda e diogo fernandes, que sostiveram ho feito todo e man-
daram reformar h o muro de pedra e call ; e asy me trouxe noso senhor
neste tempo aa imdia a ssalvamento, e a jemte tomou mais aseseguo e so
comfortou mais.
Saiba voss alteza certo, que as cousas que me mais mall tem (eito
na imdia e mais desaseseguo tem metido, asy nos mouros como nos cris-
tos, he dizerem vem Rumis, vem outro governador, porque j vossal-
teza sabe como os. portugueses sam cheos de nuvidades, e emtra isto tam
bem nos boons homeens como na jemte civell, semdo cousa certa a ver de
viir outro governador imdia; e com estas cousas ,fazem s vezes os ho-
meens outras cousas dinas de castiguo, que nam fariam, e os senhores
de qu e Rex s vezes tardam em viir a comcerto e aseseguo, e os que
ho tem t ~ m a d o bolem comsyguo, e outras praticas neste feito, que torvan1
muyto ho asesego das cousas de voso seruio.
E quamto vim da dos Rum is, aja voss alteza por certo, que hat
que nam emtremos h() mar rroxo e descomfiemos a imdia de nam aver
hy Rumis, nam ha de deixar cad ano da ver hy rrevoltas e emhurylhadas
na imdia algas cousas: pesoas que de l vieram, soltaram quaa esta
vertuosa nova, que vinha outro governador, e nan os nomo aquy a vossal-
teza, porque nam h e de minha comdiam danar nynguem amte voss al-
teza. E com esta mesma nova de vem outro governador, cometeram al-
guns homeens de boom aseseguo hlia boa imburylhada no Rio de go,
tendo noos os mouros-com muyta_ artelharia sobre o pescoo: crede, se-
nhor, que he esprito de comtradiam quallquer trabalho que se qu daa
jemte, porque nam podem sofrer fazer fortelezas, nem andarem no mar,
homeens que nunca trabalharam; e voss alteza manda que as faamos ns,
e os aparelhos pera iso estam nas vossas taracenas em lixboa, e portamto,
senhor, as que se qu fazem, falas deus milagrosamente, e os cavaleiros
portuguezes que vos quaa servem, trabalham nellas em cotinhos, porque,
senhor, fazer fortelezas ha mester preposyto, e ns nam temos na imdia
de que fazer preposito ; metemo nos n armada com hum pouco d arroz e
huns poucos de cocos, e cada hum com suas armas, se as tem: nos vosos
almazeens qu nam ha nenhlia cousa, hum prego que se qu faz, asy
como ho tiram da forja, asy ho vam logo pregar no costado da nao.
Digouos, senhor, isto, porque vos vejo mamdar as naos carregadas
d aparelhos, armas e jemte, pera soster as cousas que os outros Rex vos-
. sos amtecessores ganharam jumto com vossos regnos, e voss alteza des-
5
-

...
34 CARTAS DE AFFONSO DE ALBUQUERQUE
afavorece as cousas de vossa vitorea e vossa fama tam lomje de vossos
tam gramdes e tam rricas que imrrequece voso povo e emno-
brece vossos rregnos e senhorios; e sostendes gramdes gastos egramdes
despezas com as rriquezas que vos de qu vay, e com ajuda de noso se-
nhor cada vez vos ir maais, porque a imdia ha de tomar asento de ne-
cesidade, porque as cousas tam gramdes, em que ha tamta comtradiam
que tan1 lomje tem h o remedeo, h e muito ho que est feito: outras
sas poderia eu dizer neste caso, porque sam L ta anos t, e vy dous Rex vos-
sos amtecessores e o que em seu tempo fezeram; e vy as armas que ti-
nham, e armadas que fizeram, e as naos de seu rreino camanhas eram e
quamtas, e as ajudas que deram a seus amigos, e vy tambem os gastos
e despesas que fizeram e podiam fazer; e vejo agora h o que vossa alteza
tem dado depois que rreinou, e as gramdes despezas que sam feitas so-
bre. a comquista da imdia, e asy outras gramdes armadas que em ajuda
de vossos amigos mandastes fora de vosos rregnos, e a comtinua guerra
e despeza que cada dia fazees nos lugares d africa, e armadas que cadano
ao mar do estreyto mandaees, e muy gramdes e grossas naos que comti-
nuadamente mandaees fazeer; e sey certo que os R ex vosos amtecessores
vos nam leixaram tisouros que estes gastos podesem sofrer, mas amtes
vos leixaram imdividado, e ohrigaam de gramdes despesas.; e eu sey
certo que todo este feito sostem a imdia asy emgorlada como a voss al-
. teza agora logra ; e se a noso senhor aprouver que ho negoceo da imdia
se desponha em tall maneira que ho bem e rriquczas que nela ha vos
vam cad ano em vossas frotas, nam creo que na cristemdade a ver Rey
tam Rico como vossalteza; e portamto diguo, senhor, que aquemtees ho
feito da imdia muy grossamente com jemte e armas, e que vos faaees
forte nela e segurees vossos tratos e vossas feytoryas, e que arrymquees
as Riquezas da imdia e trato das maos dos mouros, e isto com boas
fortelezas, guanhamdo os lugares primcipaees deste negoceo aos mouros,
e tirarvosees de gramdes despesas, e segurarees voso estado na imdia,
e averees todo o bem e Riquezas que nela ha, e seja com tempo.
Algas cousas que acima toco a voss alteza aeerqua do negocio da
imdia de como vejo a voss alteza a ver este feito por cham e seguro; e
vejo ''ossos rrejimentos e cartas cheas de bramduras e seguros pera os
mouros de qu, avendo por certo que asy se far nestas partes as cousas
1 Cincoen&a annoa


I
CARTAS DE AFFONSO DE AIJBUQUERQUE 35'
de vosso seruio, mamdamdome que escuse ':\ guerra quamto poder,
outras palavras que em vossas cartas vem que diga e fale aos Rex e se-
nhores destas partes, com quem querees ter tratos, feitorias, vemdas e
compras de mercadarias, vossa jemte e fazem da segura; e vejo aps isto,
que mandaees fazer muy boas fortelezas e segurar vossa fazemda e vossa
jemte; e vejo que querees leuar as especearias e rriquezas da imdia com-
tra vomtade dos mouros, e que querees desfazer ho trato de mequa,
Jud e do cairo; e vejo que os mouros que gastam seus tisouros por vollo
defemder, e que sescusam quamto podem de rreceber vossos tratos e fei-
torias por suas vomtades, e queles que as tem Recebidas aguardam tempo
pera, quamdo poderem tirar ho lao fora do pescoo, poer as maos
obra; e sey certo que esta h e a comdiam dos mouros cos cristos, e ser ...
atee fim do juizo, emquanto eles poderem; e asy vejo cotno lhe lossalteza
tem tirado sua amtiga e isemta navegaam e trato, e aos Rex mouros der-
ribados de seu estado, poder e mando, que tinham na imdia, vituperados
e cheos d opressam, e lhe temdes tomado e tirado todo seu senhorio do
mar, e mares com que suas terras e reinos confinam, e alguns deles fei-
tos trebutareos, e outros que com medo vos mamdam pedir pazes; estes
taees cuida voss alteza de segurar com boas palavras, paz e seguros,
semdo mouros senhores de muyta jemte, muytos cavalos e muito dinheiro:
com boas fortalezas, muita jemte de cavallo, muita artelharia e boas
armas, vejo eu l a vos alteza segurar as cousas de vosso estado em terra
dos imfiees, e desemparaees a imdia, temdo muita necesidade de todas
estas cousas pera a segurardes, semdo a mayor empreza que nunca ne-
nhum primcipe cristo teue nas maos, e mais proueitosa, a1;y pera ho
seruio de deos como pera ho vosso nome e fama, e asy pera a verdes as
rriquezas quantas ha no mundo, e deixaila aa rnisericordia duns poucos
de navios podres e de mill e quinhentos homeens, a ametade deles jemte
sem proueito: nam digno, senhor, mais, senam que ey medo que nam
queiraees afauorecer isto em meu tempo por meus pecados velhos e no-
vos; e mais, se11hor, nam querees voos que homem s vezes cometa hum
feito na imdia, em que vay muyto voso seruio, sem nos avemturarrnos
tamtas vezes, pola pouquidade da jemte que qu temdes.
Vejo, senhor, tambem nam me mamdardes annas nem jemte nem
nenhum de guerra; vejo vossos capit-ees que de laa muy
isemtos, e omde me nam acham em pessoa darem muy pouco por minhas
determioaOees e mamdados e prem nas em oomselho _e .em v&es; _e vejo

I
,
:.36 CARTAS DE AFFONSO DE ALBUQUERQUE
que se sabem muy bem desobrigar da necesidade que aas vezes acham
na imdia, e nam nomo aquy algas pessoas que bo j fizeram, e por
mostrarem sua justyficaam e que nam viam necessidade na imdia que
os ohrigase, deram a pramcba em terra e levaram me quamta jemte sa
e boa avia na imdia, e leixaram me os espitaees e casas chas d omeens
doentes, e asy me levaram oficiaees, e presos obrigados justia, fa-
zemdo se detreminadores nas cousas de vosso seruio na imdia, e que
nam era voso seruio aver tan1ta jemte na imdia, e que eu tomara goa
com llJ homeens '; e eles sabiam certo que eram eles mill e seiscemtos e
oitemta per Roll feito per an1tonio fernandez criado de dom martinho,
feitor d armada em amjediua, e que destes que digo, eram duzemtos e
cimquemta das naos de dioguo mendez, e setemta d emxobregas, e do
bretam trinta e seis, e da lionarda quaremta, a quail jemte nam he da
ordenana da imdia, sam naaos de carga e am d i.ir sua viajem em
seu tempo, e per esta comta, senhor, que diguo, ficavam mill e duzentos;
tiramdo daquy cem malabares, ficam mill e cemto, e ficavam em cananor
setemta homeens dordenama e em coehim ficariam oitemta dordenam,
e isto porque a vossarmada amdava sobre ho pescoo das vosas fortele-
zas; e estas pessoas que asy deram a pramcha em terra e me levaram a
jemte fra de minha ordenamca, dirvosey, senhor, ho que. fizeram.
Com eles ficaram quinhemtos homeens, a milhor jemte da imdia, e
dozemtos que ficariam alapardados e escomdidos; fizeram eni cananor,
depois que meu party, homeens fojidos pera esses palmares; chamavan os
com seguros e davam lhos; faziam excramaees de mim jemte, mos ..
tramdo que a tinha por fora na imdia e que se lamavam cos mouros
por isso, e que pera que queria eu tres mill homeens na leva-
ram me ferreiros, coiraceiros e carpimteiros, sem minha licema e meu
mamdado, e outras cousas que aquy nam esprevo a vossalteza: todo seu
negoceo era culparem a mim, dizerem mail de mim, buscarem rrezes
pera s escusarem da necessidade que deles tinha nas cousas de voso ser-
vio; e deus sabe que nam merecy a nenhum deles fazerem me tam maas
obras.
Estas sam. as pessoas que l fazem a imdia cha .c as cousas destas
partes muy leves, cuidamdo que vos comprazem niso e daneficam a mim,
Yemdo qnamto dano. ao seruio de vossalteza; porque, se todos vos
' Tres mil lloaeas .
. . .

r ,.. - ' I
' I
.._ . . . . ... . '- .

CARTAS DE AFFONSO DE ALBUQUERQUE 37
espreveran1os e falaramos verdade, outra maneira tivera vossalteza nas
oousas da imdia; e digo nos, senhor, isto, algas vezes n1e falou
vossalteza neste negocco da ilndia com mayor fumdamento e detremina-
o do que eu agora vejo em meu tempo, polas rrezoees que acima dito
tenho; e sabe voss alteza h o que nace deste e necesidade em
que me vejo? tomar malaca duas vezes, e tomar duas vezes goa, e pele-
jar duas vezes com urmuz, e amdar em hiia tauoa no mar por rremedear
as cousas de voso seruio e minha obrigaam ; e se pelos taees feitos fra
do hoom comselho e ordenama da guerra cheos de necesidade alga
jemte faleceo nestas cousas que dito tenho, alem de serern pecados meus,
obrigada est a vossa coinciemcia, porque se me voss alteza mandase os
aparelhos,jemte e annas, que cumpre pera ho que mandaees fazer, nam
metera eu a jemte duas vezes no foguo em ntalaca, nem em goa duas ve ..
zes. nem os mouros d urmuz nam tiveram a vossa fortaleza, que eu co-
mecey, em seu poder.
Poder ser que esquec_er l aos que fazem h o feyto Qa imdia leve
e que nam avees quaa mester jemte nem armas, senam trato, as bram ..
duras com que os Rex mouros e senhores desta terra respon1detn e falam
aas cousas que lhe cometem per voso seruio, debaixo das quaees jazem
todas suas maldades, emganos e traiees; e querovollas eu, senhor, aquy
lembrar: cojatar e elrrey durmuz, se lhe falam em vossalteza, diien1 que
sam vossos espravos e que ho rreyno he vosso, beijam cartas e
poem nas na cabea, pagam vos pareas: ora mamde voss alteza l asentar
vossa feitoria e. forteleza debaixo destas bramduras e verdade sua, e pe ..
di r lhe h o rregno que lho voso capitam ganhou e tornou emtregar com
juramemtos na sua ley, e vejamos como ho comsemtem, senam com boa
jemte e bem armada e bnoas naoos: dezia el rrey de malaca que era voso
seruidor e que a terra era vossa, e que ele matara bemdar, porque ma-
tara os vosos cristaos, e que a fazemda das naaos que loguo era pagna,
e que folgaua com vosso trato, paz e amizade; e corn estas bramduras
fez muy forte sua cidade e sua terra, e tinha mais de ii homeens
1
de pe ..
leja eom boas armas e boa artelharia, e nam quis voso trato, paz nem
, concerto com vossalteza, e aguardou ser desbaratado primeiro duas vezes.
Elrroy de cambaya deseja paz e amizade de e precura com
embax_adores e .rrecados. seus a meude, .e diz que dar lugar pera
t Vinte mil homens.
. -

...

'


38 CARTAS DE AFFONSO DE ALBUQUERQUE
forteleza; veja ora voss alteza, se tirardes jemte e armas e boa armada
aa imdia, se comprir isto que vos promete; e tambem veja vossalteza,
se he bem que debaixo de suas bran1duras e moralidades e boas pala-
vras se deva comfiar dele vossa jemte e vossa fazemda sem fortaleza em
terra. E asy miliquiaz nam diz ele que he vosso vassalo e que vos ha
sempre de servir bem e leallmente'l este tall, se nos ele viir em algtla
quebra, credes voos, senhor, que nam dir ele que h e vassalo dei rrey
de cambaya e que nam podia fazer pazes sem sua lieemca? os mouros
de calecut nam beijavam eles os pees ao voso feitor e tomavan o por juiz
. e .detreminador de suas deferemas, chamam do se vossos espravos? nam
vee voss alteza h o que fizeram e os modos que tiveram com pedr alvares
e co vosso feitor, pera se fazer escamdolo na terra, ordenada e criada
per eles esta estucia? os mouros de cananor nam sabe voss alteza que se
chamam eles vossos espravos, e vem beijar os pees ao vosso feitor e vem
CQm gramdes vmilldades e somitimemtos_ debaixo de voso capitam, e por
muy piquena cousa vos cercaram vossa forteleza duas vezes e comtraria-
ram sempre nam se e como dizem que vem Rumis, nam vemdem
pam na praa vossa jemte: chaull paga vos pareas e sam homeens muyto
sumitidos em voso seruio, e debaixo desta verdade e bramdura ajuda-
ram a desbaratar voss armada e afauoreceram os Rumis, e deram omrrada
sepultura a maymame, capitam de calecut, que emtam aly morreo, que
oj este dia em dia est diamte dos nosos olhos, casa muy bem obrada e
muy fermosa, canonizado por samto, porque morreo em guerra comtra
os cristaos: batecala nam vos paga 1j fardos
1
d arroz de pareas, sumi tido
a tudo ho que deles quiserdes fazer? e dam ajuda ao abayo comtra ns
de muitos cavallos d urmuz, muyto salitre e emxofre, e gramdes cafilas
de mamtimentos; e ns, quamdo himos, dizem que nam h a arroz na terra,
senam ho que os mercadores tem pera suas naos. El Rey d onor nam vos
tem ele dado mirgeu com mill e tamtos pardaos de pareas? e ajuda ho
abayo contra ns, e traz seus embaxadores comtinuadamente em sua casa:
coulam nam estava somitido vossa obidien1cia? e polo vosso feitor a ver
algum descomcerto cos mouros e naos de calecut, ho leixaram hy -espe-
daar oos mouros e quamtos com eles (sic) estavam: os mouros de cochim
nam sam eles vosos espravos, e feitos gramdes rrieos com vosos tratos?
como hy haa algum Rebolio na imdia, logao a sua bolsa e companhia
t Dois mil fardos.
- .


CARTAS DE AFFONSO DE ALBUQUERQUE 39
e ajuda be metida no negoeeo: a cidade de goa nam recebeo ela meu
seguro, e lhe quitey gram parte dos dereitos que soyam de pagar, e lhe
outorguey todalas terras, rremdas e soldos que lhe ho abayo tinha dado,
e asy as terras de suas mizquitas, e viverem sua vomtade debaixo da
sua maa seta? e como viram tempo desposto, ton1aram suas armas com-
tra mim e poseram me em desbarato. E el rrey de narsymgua nam tem elle
amizade e paz comvosco? e ajuda ho abayo con1tra ns secretamente;
e demtro em besnigar nam matou hum Rumy frey luis? e nam fez nisso
neha cousa; e na primeira vez que nos os mouros entraram goa, hy
matamos hum seu capitam, e pesou lhe muy bem co a tomada de goa, e
ha muy gramde medo de voss alteza: a estes taees cortar os governos,
tomar lhe a rribeira do mar, fazer lhe muy fortelezas nos lugares
porque doutra maneira nam avees de meter a imdia a cami-
nho, ou temde sempre hum peso de jemte nestas partes, que os tenha sem-
pre asesegados, porque a amizade que asemtardes com quallquer Rey ou
senhor da imdia, se a nam segurardes, tende, senhor, por certo que volvem-
do lhe as costas, os temdes logo por imigos. E isto que diguo, costume
h e jerall quaa amt reles; nam ha quaa h o primor desas partes em guar-
dar verdade nem amizade nem fee, porque a na1n tem, e portamto, se-
nhor, comfiay em fortalezas e mamdayas fazer, seguray com tempo
a imdia, nam ponhaes ho couodo na amizade dos rrex e senhores de qu,
porque nam emtrastes vs com querela na imdia pera vos asenhoreardes
ho trato delas com bramdnras nem comcerto de pazes, nem vos faa nim-
guem l emtemder que he isto dura cousa dacabar, e acabandoo, que
vos obrigar a muito. E diguo vos, senhor, isto, porque tenho eu imda
oos pees na imdia, c pera hum feito de tamto voso seruio, tam gramde
e tam proveitoso e tam rrico, querya eu que os homeens .vemdessem suas
fazemdas e viessem a esta empresa, e nan1 pera fazer forteleza na caza
do cavaleiro.
El Rey de vemgapor nam se mostra ele vosso servidor muyto 'l co-
mo tomey goa, mandey logo bum capitam a upa com quinhemtos piees,
ha tanadaria das terras de goa que comfina com sua terra, e mandey
gaspar chanoca com cavallos a el rrey de narsymgua, noteficamdo lhe que
vossa alteza mamdara tomar goa, pollo ajudar comtra os mouros, e prim-
cipallmente comtra o abayo, que lhe sempre fizera guerra, dize11do lhe
que se quisese entemder no rreino de daquem, que eu ho ajudaria; e
mandey a el rrey de vemgapor presem te de peas de brocados e ezcarla-
'
..

CARTAS DE AFFONSO DE ALBUQUERQUE
tas e joyas boas, pedimdo lhe que me leixase comprar em sua terra
zemtas selas e duzemtas cu bertas de cauallos; desimulou o muy bem e
nunca ho comsymtio, dyzemdo que sem licema dei rrey de narsymga ho
nam avia de fazer.
Afora todas estas cousas que acima dito tenho, ha hy algum por-
tuguees que se dEsmande na imdia e seja achado de mouros, que lhe lo-
guo nam levem a cabea nas e ha hy algum navio que chegae a
porto de mouros, se ho vm estar a mao rrecado, que ho nam apalpem
loguo pera ho tomar1 afora outros emganos e maldades que lhe mevda-
mente homem quaa sofre: ora veja vossalteza, se na terra omde nos a
ns tem este amor, se ha voss alteza de mester jemte e armas e boas
fortelezas pera as soster, ou se nos deitaremos a durmir descamsados
sobre a verdade destes cees, com as portas das fortelezas abertas; e a
quem vos a vs, senhor, desta maneira espreve de qu da imdia, man-
dai lhe voos criar h o filho.
E aimda digno que pera os tratos da imdia e asemtos de feitorias
se fazerem, como compre a vosso servio, sem e a imdia
asento, e os lugares omde ouuer mercadaria rreceberem nossos tratos e
companhias, que por tres anos teria nela tres mill homeens bem armados
e bos aparelhos de fazer fortelezas e muytas armas, e as rrezees por
que me isto parece, sam estas.
Dos lugares omde ouuer mercadaria e dos mouros mercadores nam
podemos aver pedraria nem especearia por bem, e se a queremos por
fora e comtra suas vomtades, ha mester fazer lhe a guetra, e j do tall
lugar por dons e tres anos nam podemos ave r nenhum bem; e se nos
vm fora de je1nte, fazem nos omrra, nam emtra em seus coraees fa-
zerem nos engano nem Ribaldaria, dam nos suas mercadarias e tomam nos
as nossas sem guerra, e acabarm de deixar este emgano, cuidarem que
nos am de botar fora da imdia: e sabe vossalleza que n1anha he a dos
mouros de qu 1 como chego com armada sobre seus portos, a primcipall
cousa em que se logo trabalham, em saberem quamta jemte somos, que
armas trazemos; e se nos vm fora com que eles nam possam, emtam
nos rrecebem bem e nos dam as suas mercadarias e tomam as nossas
de boa vomtade; e se nos vm fracos e poucos, crede, senhor, que aguar-
dam a derradeira detreminaam e se poem a tudo ho que possa acomte-
cer, milhor que nenha outra jemte que tenha visto; asy ho fez vnnuz e
n1alaca e todolos lugares em que pus os pees: el rrey de malaca primeiro
CARTAS DE AFFONS<JDE ALBUQUERQUE 41
soube que e ramos ns oitocentos homens bramcos, e crea voss alteza que
nam arraram tres, averya hy mais duzemtos malabares d espadas e adar ..
gas: como soube que nam eramos mais jemte, ouuenos loguo por per-
didos e impivlados e em sen poder, e aguardou toda nossa detremina-
oam; e depois deste feito acabado, vo vertemutarrajajaao a jemte que
eramos em terra, e mamdava comtar as covas e ver nas casas quamtos
doemtes e feridos avia ahy, e como viio nossa pouquidade, comeou lo-
guo de bulir comsyguo; e se nam apagara toda sua casa, sempre nos me-
tera em necessidade, porque era homem de muyta jemte: per esta ma-
neira bo fez vnnuz comiguo: depois de morta e desbaratada toda sua
jemte na guerra, meteram Qa cidade quamta jemte d armas poderam, e
vyram nossa pouquidade e trabalharam por tirar ho lao fora do pescoo;
e nestes feitos taees omde hy ha fora de jemte, nam leixa entrar nos
ooraees e pemsamentos dos mouros fazerem nos traiam. E isto, sellhor,
que vos eu aquy esprevo, ha de durar na imdia emquamtO nam virem em
vosso poder as foras primcipaees dela, e hoas fortelezas ou peso de
jemte que os asessegue, e desta maneira se far ho trato da mercadaria
sem guerra e sem termos tamtas pemderrias na imdia; e tres mill ho-
meens polo soldo que ,ossalteza agora daa, pouco mais ou menos falem
(sic) eemto e limte mill cruzados cad ano, e a espeeearia que mandaees
levar da imdia cad ano, tirando os soldos da imdia, perdas do mar e ca-
q,dall, valem bum milham de cruzados: veja voss alteza se h o arvore que
este fruito daa eadano, se merece ser bem ortado e bem regado e bem
fauorecido. E aimda torno a dizer, que se querees escusar a guerra
da imdia e ter paz com todolos Rex dela, que mandees fora de jemte
e boas armas, ou lhe tomees as cabeas primcipaees de seu rreino que
tem na Ribeira do mar.
Item. Chgado de malaca a cochim, mandey loguo a gram pressa oito
caturis a goa, e foram laa em seis dias, noteficamdo lhe minha chegada
e a tomada de malaca, que muito a jemte, e os imigos nam fol-
garam com tall nova; e asy mandey entregar a capitania de goa a ma-
Doei de Iacerda, e aleaidaria a manoell de sousa, e o cargo d armada a
dioguo fernandez; e mandey soltar dez ou doze mouros que trouxe de
malaca, por esas terras todas deses rrex e senhores, que lhe comtassem a
verdade, e pelos eaturis me fiz prestes com esa pouca jemte com que
eheguey pera ir a goa, e de l me mamdaram dizer todos eses capitees,
fidalgos e eaualeiros, que em nenha maneira nam devia d ii r. com tam
6


~ 2 CARTAS DE AFFONSO DE ALBUQUERQUE
pouca jemte, porque pera defender a forteleza tinham seiscemtos homeens
e quinhemtos piees da terra e alguns outros homeens homrrados da terra
em companhia destes; e neste tempo chegou hum capitam do filho do
abayo, que se chama Ruztalcam; e h o outro capitam que estava demtro
na ilha, que se chamava pularcam, nam quis obedecer ao Ruztalcam nem
aos mamdados do cabayo: o rruztalcam teve maneira de fazer emtemder
a diogo mendez, que emtam era capitam, e vossa jemte, que vynha por
pazes, e trazia certos portugueses que cativaram com Cernam jacome e
duarte tavarees, hum escudeiro do comde dabramtes que me cativaram
na ilha de choram, porqtt'e quis fazer valemtia sem minha licema nem
meu mandado: chegamdo este capitam sobre banastary, soltou logo bo
duarte tauares com rrecados pera ho capitam da forteleza, mostramdo
quamto ho filho do cabayo desejava a paz, pedimdo lhe ajuda pera botar
pularcam, que estava alevamtado comtra ho abayo; o capitam e eses fi-
dalgos e canaleiros que em goa estavam, deram fee aas palavras de rruz-
talcam, e mamdaram batees e galees polo Rio, e rruztalcam pelejou com
o pularcam, que estaua na ilha, e o desbaratou e lamou fora da ilha com
ajuda que lhe deram; e emtrado na ilha, comeou de pedir a forteleza,
que era casa do abayo e cabea de rreino, que se no avia de dar a nim-
guem; e daly a\amte lhe fizeram os vosos a guerra, e lha defemderam
valemtemente e a vila velha.
A mim me nam pareceo bem ajuda que deram a Ruztalcam que
veyo sobre goa, e se me hi acertara, afauorecera ho pularcam, que es-
tava alevamtado contra ho abayo e nam obedecia a seus mamdados, e
pela vemtura com noso fauor e ajuda se comeara ha cousa de muito
voso seruio, porque este pularcam era homem aventureiro e valemte lo-
mem, turco de nacam, e ouuera de cometer qualquer cousa gramde, se
tivera noso favor e ajuda; e depois dele ido, conheceo ho capitam e os
da forteleza ho erro que tinham feito.
Este pularcam foy ho ~ e emtrou a ilha, e Rodrigo Rabello com trimta
de caualo, semdo os outros iij homeens
1
turcos e coraanees a mayor parte,
os cometeo ousadamente e os debaratou e fez gramde estrago neles; se-
ryam perto de mill homeens os que aly morreram; era aly ho alguazill -
velho de cananor com certos naires pera vos servir, que levou, e pelejou
valemtemente e decepou e matou muyta jemte; e a sobejidam da ba for-
1 Tres mil homens .
CARTAS DE AFFONSO DE ALBUQUERQUE 43
tuna e omrrado feito fez a Rodrigo Rabelo desprezar os imigos vemcidos
e desbaratados, e o mataram, como voss alteza j l saber; porem crea
vossalteza que ele ho fez como bom cavaleiro, e tinha acabado muy om-
rrado feito, se lhe deus dera a vida; e per aquy ver vossalteza, se se-
semta de cavallo, que eu tinha nos passos da primeira \Tez que tomey goa,
quiseram pelejar, se apagaram eles trezemtos turcos que primeiro entra-
ram na ilha e a fezeram alcvamtar contra mim e a cidade, porque os se-
tecemtos que aps estes vynham nas jamgadas, todolos meu sobrinho don1
amtonio e eses' cavaleiros que com ele eram, trouxeram espada: a ilha
se emtrou a Rodrigo Rabelo, porque nam quis fazer a torre no passo de
banastary, como lhe tinha mandado, e muita camtaria de goa a velha,
qoe lhe j hy tinha posta, em quo est toda a segurana da ilha de goa,
porque, se emtrarem cem mill homeens na ilha e ns tivermos ho passo
de benastary seguro, perderseam todos em toda maneira, porque ho Rio
per todas partes he muy largo, e nam podiam ser prouidos de mamtimen-
tos, que lho ns nam tolhesemos com ij batees; e o passo de benastary
be cousa muyto estreita e passam per ele lijeiramente, sem lho ns po ..
dermos tolher, porque est da bamda da ilha sobre ho Rio hum outro,
em qne est hum muro velho e ha porta muyto forte e alta sobre ho
passo e da bamda da terra da ilha muyto cha; e da outra vez quamdo
- mentraram a ilha, se ho passo de benastary estivera forte, perderase
quanta jemte emtrou na ilha: aja vossalteza isto por muyto certo, que a
chave de goa he h o passo de benastary; h o passo de benastary nam tem
vao, mas he ho Rio muyto estreyto.
Depois que se este pularcam foy, ho mataram com peonha, e ficou
hy ho rruztaleam; vynha hy Joham machado com elle e se lamou com-
nosco em tempo que nos ele era bem necessareo pera nosos avisos, e nove
ou dez cristos que cativaram com fernam jacome, que ele trouxe comsyguo.
Myravcem, capitam d armada dos Rumis, el rrey de cambaya que agora .
he, lhe deu licema que se fosse, e seu pay em sua vida numca lha quis dar.
Item. Como cheguey a cochim, que soube as compitiees que l
avia na jemte de goa, mamdey loguo prouer da capitania da forteleza a
manoel de Iacerda, com que a jemte tomou mais aseseguo, e dalcaide
mr a manoel de sonsa, e da capitania das naos do mar a diogo feman-
dez; deixo aquy de dar conta a vossalteza as rrezes que ma isto move-
. ram, por nam culpar tamtos homeens, que tam mall oulham ho que fa-
aem nas cousas de vosso seruio.
CARTAS DE AFFONSO DE ALBUQUERQUE
Item. Chegamdo a cochim, a mim me pareceo seruio de deus e de
voss alteza avitar alguns males que se faziam nesta pouoaam da vossa
jemte e novos, e mandey apregoar que todo homem ou molher
jemtios safastassem da nossa pouoaam e fose viver fora, porque, senhor,
estas cristas nouas tinham em sua casa x, xb e xx pessoas t, primos e
irmaos e paremtes, sem serem cristos, e tinham parte com elas, e ou-
tras casas de jemtios omde os mouros de cochim vynham dunnir com as
cristas. E asy avia hy casas que agasalhavam homeens jemtios de fora
e mouros, os quaees tinham por oficio enganar espravos e espravas, que
rroubassem seus senhores e fojisem; hia este feito tamto avamte, que sam
rroubadas muitas pesoas de cem cruzados pera cima e seus espravos fo-
jidos, e era a mais certa rrenda que qu avia; e asy algtia da vossa jemte
tinham parte com esas jemtias, emfadados j de durmir com esas crists;
e em poucos dias se tornaram bem bjc homeens
1
e pessoas cristlas, em
que emtraram panicaees e homeris homrrados; e creo que nos alympare-
mos desta maneira d algas maldades e pecados que s aquy faziam, por
omde cochim foy muitas vezes queimado e feito em cimza, e el rrey de
cochim nos deu certa demarcaam de terra pera vivermos sobre ns.
El rrey de calecut, depois que vi o que com so armada de grossas
naaos nos nam pode fazer nojo, prouounos com armdas de paraos, como
voss alteza j l tem sabido nos tempos passados; agora fez sessemta ca-
turis em sua terra, e como as naos de cochim vem, saem a elas e traba-
lham polas tomar: fao trimta caturis, deles de voss alteza e de-
les damtonio real, arei daquy, e creo que calecut nam pescar, nem os
seus caturys nam navegarm; dava nos calecut muyta opressam com. eles,
porque nam ousava ho de cananor mandar cairo nem mamtimen-
tos em pagneres e paraos a cochim, que loguo nam fossem tomados;
hiamse lamar ao monte dely e quall quer atalaya ou parao que vinha
. de goa pera cananor, pegavam logo com eles; e mais, senhor, estes ca-
turis per demtro per estes Rios de cochim creo que nam leixa passar ne-
nhtla pimenta a calecut, e asy sam boons pera se mandarem Recados e
avisos de forteleza a forteleza em dias.
Em cochim achey ha arca de cartinhas por omde imsyriam os me-.
ninos, e pareceo me que voss alteza as nam mandara pera apodrecerem
Dez, quinze e vinte pessoas.
2 Seiscentos homens.
'
CARTAS DE AFFONSO DE ALBUQUERQUE '5
estamdo n arca, e ordeney huum homem casado aquy' que imsynase os
moos a ler e esprever, e a ver na escolla perto de cem moos, e de-
les filhos de panicaees e d omeens honrrados; sam muito agudos e tomam
bem o que lh emsynam e em pouco tempo, e sam todos cristos.
No tempo que vim de malaca cheguey a C{)chym, me veyo htla
carta de choromamdell de quatro marynbeiros que escaparam de frol de la
mar e foram ter ao porto de pacee, a que ns chamamos amatora, e deste
porto se passaram em ha nao de choromamdell e vieram ter a (?),
porto de choromamdell, e os de ehoromamdell lhe fizeram omrra e gasa-
lhado e mos mamdaram por terra a cochim; e os mercadores de choro- _
mamdell me mandaram pedir seguro pera suas naos hirem a malaea,
como soyam, e eu lhos mandey; e asy me mandaram dizer que hy estava
hum jumquo dei rrey de malaca, que tinha Roupa dos mercadores cha-
tins de malaca e, tambem deluey, e que chegara ahy amtes da tomada
de malaca, pedimdo me seguro pera a roupa dos mercadores, e que a
dei Rey m emtregariam ; eu lhe dey h o seguro com a mesma comdiam,
e da parte dei rrey que a voss alteza pertemeia, fiz mercee d alga cousa
ao capilam do jnmquo, que h e chatim mercador de malaca; creo que
sempre vir parte de vossalteza doze ou quinze mill cruzados, e vay o
jumquo pera malaca; e soubecomo este jumquo imvernara sobre a amarra
na costa de choromamdell e espamtei me; porem, senhor, quando aqui
he imverno, be veram na costa de choromamdell, e se hy ha ponentes,
sam ao lomgo da costa, porque a costa de choromamdell se corre norte
snll, e os ponentes da imdia poJa m:ryor parte sam oesudnestes, os qoaees
ponentes vem per cima da . terra, e asy a ilha de ceilam e as ilhas, que
tudo faz abrigo aa cosia de choromamdell ; os levamtes da costa sam
vemtos sempre bonanosos, e no tempo dos levamtes vemtam nortes ao
lomguo da costa de choromamdell.
Vossalteza me espreve mevdamente em muitas cartas sobre o trato
de quaa, emcarregamdo mo muyto; h o trato de qn ha mester que se co-
mecee com eabedall e mercadarias de l, e eu nanas vejo nas vossas fei-
torias, as quaees estam vazias e bem varridas; e asy, senhor, querees
que se paguem soldos, o eu nam vejo mercadarias pera se poderem
gar, e se hy haa algas presas ou tomadias a mouros, esse he ho milhor
eabedall que agora quaa tem as vossas feitorias, e domde a voss armada
faz seus gastos e despesas e paga soldos e casamentos s vezes, e asy
vos vay l al.-a .deste .eabedall, porque sam eousas que l

,
16 CARTAS DE AFFONSO DE AIJBUQUERQUE
tem valia e n1andaees levar, e por isso se nam pagaa das presas gramde
soma de soldo jemte, porque os vo3os ofeciaees tomam as mereadarias
que l \em valia, pera carga das naos; e agora que j temos paz e ami-
zade com todo mundo, tiramdo ho abayo e calecut, nam ha hy presas
nem tomadias; e se vossalteza d & ~ . e j a de pagar os soldos jemte, per
mereadarias h o podees muy bem fazer, e per outras cousas de que qu
temos muita necessidade, a saber, panos chamalotes, armas, espadas, bar-
retes e adargas e panos de seda, e toda diversidade de mereadaria, imda
que malaca nos dar j disto algila cousa; e pola largueza que vossal-
teza daa s homeens, nam ha hy nimguem que nam folgue de tomar seu
soldo em mereadaria, e se qu tivera cobre e azougue e o ali que dito
tenho, nam ficara hum soo reall por pagar na imdia, porque todos ho
querem e todos ho pedem, e voss alteza escusara fazer os taees gastos e
pagamentos per dinheiro, e creo que se n,.m perderaa nada nisso nenha
cousa. Digo nos, senhor, isto, porque os homeens am mester de vestir .. e
de comer, e nam lh abasta seu mamtimento pera isto; pedem seu soldo
e rrequerem mercadarias em pagamcmto, e voss alteza nam tem marca-
daria; e se algas pessoas vos esprevem de qu que nam mamdees mer-
eadarias, porque vm s vezes estar nas feitorias alga soma dela, nam
oulham que daly a dous meses vem os mercadores e varrem tudo vas-
soira; e asy esses taees nam tem diamte dos olhos que, se vos8 alteza der
fee a suas cartas, peraa vos tornarem logo avisar que ha hy necesidade
delas nas vossas feitorias, que se nam pode meter neste aviso e proui-
mento menos tempo de tres anos; e portamto, senhor, daquy avamte
mamday gramde soma de mereadarias aas vossas feitorias, porque se
gasta j gora muyta per todas partes, e creo que ho faz., nam vir tamta
soma delas per via do cairo, como soya; e manday a goa gram soma de
cobre, por se fazerem os gastos e despezas de vossa jemte e armada per
moeda de cobre e asy pagamentos de soldos e casamentos, porque em
goa fao fumdamento de ser sempre meu asem to e aly ha d estar a fora
da jemte, porque temos aly carnes, pam de triguo, e arroz em abas-
tama, e sam os mamtimentos mais de baratos, porque os ha na mesma
_ terra, e tem valya a moeda de cobre de goa em toda a terra; nam pase
voss alteza por estas cousas que digno, porque a jemte ha mester de ves-
tir e de con1er, e querem os homeens quaa andar tam bem vestidos como
em portugal.
Eu ten_ho tocado a voss alteza, nestas canas que vos ora . vam, em

,
CARTAS DE AFFONSO DE ALBUQUERQUE .\7
merlao rrey donor. E porque mevdamente sejaees emformado do que pa-
sey com merlao, quamdo lhe dey a capitania das terras de goa, diguo
primeiramente, que merlao era sobrinho delrrey donor, ho que vos deu
mirjeu, e seu tio por algum descomtemtamento que dele teue, ho lamou
fora do rreino, e por sua morte deixou a hum seu irmo mais moo ; e
sempre ouue guerra amtr ambos, e merlao se trabalhou sempre por lam-
ar fora seu innao mais moo, por ele ser verdadeiramente erdeiro: este
seu irmo, emquamto rreynou, ho achey muy maao homem, amigo dos
mouros, de pouca verdade, e pagava mail a obrigaam de mirjeu: mer-
lao como soube que tinha tomado goa, se mandou oferecer com sua jemte
e seus cavallos pera vos sernir na guerra, e eu mandey por ele a bate-
cala, da maneira que em outras cartas esprevo a vossalteza: chegado
merlao a goa, veyo hum capitam com ele espedido dei rrey de narsymga,
que se chama iarrao, homem de boa fama e boa presema: como h o
irmo de merlao, que emtam era rrei donor, soube que merlao era em
goa e eapitam das terras de goa, mamdou seus misyjeiros a mim, temen-
do se que daria eu ajuda a seu irmao pera lhe tomar h o rreino, e sobre
isto era ho recado que me trouxeram: ouue hy alga murmuraam am-
tre a nossa jemte e capitees sobre ho escamdalo que el rrey d onor tinha
sobre en rreeeber seu irmao em vosso seruio; eu mamdey dizer a el rrey
d onor, que agravo lhe fazia eu em rreeeber bem seu irmao? amtes es-
perava de os meter em comcerto e em aseseguo: e agora prouue a deus
que morreo el rrey d onor seu irmao, homem muy mao e de muy maa
condiam, e socedeo ele ho rreino: morte de seu irmo ho.achou em
bisnagar em casa dei rrey de narsymgua; foi se l quamdo ho os turcos
desbarataram nas terras de goa; e agora que soube que eu era vimdo de
malaca, m espreveo de bisnegar e muytos ofiricimentos e desejos de ser-
uir voss alteza oo rreino donor e toda sua jemte e fora., cheo do boom
conhecimento da omrra e gasalhado que rreeebeo de mim; aly me deu
ha tripea forrada toda douro, que foy dei rrey de narsymgua, para
vossalteza, e com os pees feytos em torno forrados todos douro, obra
muy bem feita, e porque os homees quamdo nestas partes vem algtla
cousa bem feita louuan a, e quamdo daly vem a naeer algna cousa que
obriga, encomendamse a ese murmurar; e portamto folguey de merlao so-
eeder h o Reyno d onor e lhe ter feito tamta omrra e gasalhado.
Depois de tomado goa, timoja se veyo pera mim, e demtro em goa
armoa duas aLalayas gramdes suas e me pedio licema que as querya

'8 CARTAS DE AFFONSO DE ALBUQUERQUE
mamdar a onor, e mandouas muy bem armadas sobre chavll e tomaram
duas naos de chavll e levaranas com mercadat'ia a onor; mandey as pedir
a elrrey donor, dizendo lhe que eram de chavll, lugar trebutareo de vossal-
teza; nam alargou mao delas fe nisto chegam dous misyjeiros de xeque-
driz governador de chavll, fazemdome queixume de timoja, como lhe to
mara as naos e mamdara suas at.alayas armadas do rrio de goa omde ele
estava comigo; chamey timoja peramte eles; nam me deu outra rezam,
s.enam que as suas atalayas nam fizeram aquilo por seu mamdado. E por
ele j ter tomado este mesmo ano htia nao d urmuz com seguro meu, por
htla cousa e por outra lamcey mo dele; merlao que emtam hy estava em
goa, sayo por seu fiador, e eu lho emtreguey com hum assynado seu em
que prometia d emtregar as naos ou me tornar timoja, e asy os deixey
nas terras de goa quando me fuy caminho de malaca.
Item. No comeo do ms dagosto, depois de minha"Vimda de malaca
em eochim, chegou um misyjeiro do rrey das ilhas de temdo j
esprito algas cousas sobre as ditas ilhas nestas cartas que ora emvio a
vossalteza, o quall m enviou dizer, que ele queria ser vassalo de voss al-
teza e ter aa vossa obidiemcia todalas ilhas, e que ho tirase do roubo e
opressam dos mouros de eananor: mamale e seus irmos como isto sou-
beram, renunciaram todos ho direito que tinham em certas ilhas que ty-
nham tomadas por fora a este rrey, a hum seu irmo que se chama iapo-
car, e fizeram com el rrey de cananor que lhe desse nome de Rey e deu
Digouos, senhor, que estes mouros de cananor, se lhe nam daees hum
boom aoute Rijo, que vos am de fazer em algum tempo alguum gramde
erro oo cousa de que voss alteza receba gramde desprazer, afora nos tra-
zerem sempre el rrey amomtado seno vennos, nem falarmos com ele, e
mais sosterem calecut diamte dos nosos olhos e com nosos seguros, e
afora seus beocos e suas soberbas em que sempre vivem comnosco; e se
isto, senhor, nam mandaees fazer, pareceme que pera os beocos de ea-
avees mester sempre ha ba armada; e se eu fora mais comfiado
em voss alteza, eu vos mandara mamal e com ha mea duzia deles dos
primcipaees; e parece que deue vossalteza de mamdar secretamente que
volos leuem, e poder ser que alguns outros s emfrearm, se Yirem que
voss alteza lhe quer l tomar a com ta; e mais esta empresa que agora to-
ma mamale e seus irmos, em se fazerem comquistadores da imdia diamte
dos olhos de voso capitam jerall e de vossas armadas e de vosso titulo,
quererem comquistar e aseohorear as ilhas; e mais, senhor, cartas tenho
,
-
,
CARTAS DE AFFONSO DE ALBUQUERQUE '9
eu de vosos ofeciaes de cananor, em que me mamdam dizer, polos mou-
ros de cananor, que deuia de segar aquele trigo, porque nam crecesse
tamto.
A mim, senhor, me certeficaram como miravcem capitam dos Ru-
mis, quamdo se parti o, espreveo aos mouros de cananor e aos de cochim;
e os de eananor con1earam loguo de fazer duas naos de quilha, que agora
sam acabadas; ho pera que, nano sey; somente chegamdo-eu de malaca,
eles me mamdaram loguo hiia carta a cochirn, dizemdo que faziam duas
naos novas pera malaca; porem elas foram comeadas quando eles aleuam-
taram amtre sy que era perdido com todarmada da irndia: mais, senhor,
achey que cheriua mercar de cochim mandou hiia nao d adem carregada
despecearia, e tomou seguro do feitor per ela, dizemdo que a mamdava a
vrmuz, e que com temporall fora l ter; e ele sabe que sou eu tam boom
piloto, que sey que nam fala verdade, porque com tormenta de levamte
popa avia de correr a vrmuz, e com tormenta de ponente popa a vr-
muz nam tinha nenhum vemto que a fezesse ir per forca ao estreito, sc-
nam por sua propria vomtade, como foy; e agora muy desemverg{)nlla-
damente me vinha pedir seguro pera tornaviagem dela: cousas, senhor,
sam estas pera nimguem sofl'er a estes mouros em lugares omde voss al-
teza tem muy bas fortelezas, senam eu, que sam agachado e descomfiado
-de \'OSS alteza: digo uos, senhor, que ha cousa vos h e muyto necessaria
na imdia, se querees ser amado e temido nela, tomardes Rija vimgamca
de quallquer cousa que vs estes arrenegados fizer e ~ , e crede me, senhor,
verdadeiramente; e se querees que e s ~ a s cousas curem os Rex que os se-
nhoream, nam ha hy Remedeo, porque peitam tam Rijo que acabam
quamto querem: por amor de deus nam deixees vadear h o feito da imdia
aos mouros; aly omde vos fizerem a maldade, aly lhe day logo a paga
que eles bem merecem ; e voss alteza me nomear em algum tempo: nam
fez piqueno balamo na imdia em ver a vimgama que se tomou de ma-
, laca e a vimgama que se tomou de goa; e as casas do aamory e a po-
voaam dos mouros e suas mezquitas e suas naos queimadas, nam foy
pequeno espamto na imdia: muyto credito e muyto fauor deram estas
cousas que digo, ao feito da imdia.
Algtla parte disto que diguo, que ma mim quaa parece vosso seruio,
curaria eu qu, senam tivesse receo de me vossalteza mamdar ir em tempo
que eu nam podese curar estas chagas que abrise, e se as achar abertas
quehl vier de supito, chamar lh am l quebras minhas: diguo, senhor, isto
7

. ,





50 CARTAS DE AFFONSO DE ALBUQUERQUE
pollo feito d urmuz; pedia eu fortaleza e asem to de feitoria e os ctistaos
aos mouros, e nam falava nas pareas; nam me leixou dom framcisco cu-
rar esta chaga, c comtemtou se de rreceber as pareas, e voss alteza manda
agora fazer forteleza e asem to de feitoria; esta chaga quisera eu que eles
cttraram, que as pareas certas estavam.
Neste tempo que esta esprevo a voss alteza, a imdia amda bem revolta
e bem desasegada (sic) com a uimda dos Rumis e perda de muitas naaos
que hiam pera ho estreito de mequa e pera vrmuz, porque a motiam des-
tas duas navegaees case toda he em hum tempo, e o temporall os tomou
juntamente naquella parajem do golpham de acotor; e os mouros de ca-
nanor amdam tam empolados, que os nam pode homem amamsar, sa-
bemdo que temos ns boas fortelezas e boons cavaleiros nelas, e 11aaos
pera quallquer feito: e quis noso senhor que chegou jorje da silveira, e
com a fama de naaos e jemte e armas que voss alteza mandava, nam ha
hy mouro que ouse de falar.
J em outras cartas toquey a voss alteza, como depois de minha che-
gada a cochim mamdey a malaca duas naos; hia bernaldim feire por ca-
pitam moor deles, e veyo hum pouco de temprall, estamdo sobre a barra,
e bernaldim freire teve hum pouco de pejo d ir neles; e por lhe l ir al-
ga fazemda sua, me tnmou a pedir samta ofemea, em que pero mazea-
renhaz veyo no ms de mayo imdia, que l mandey na mouam do ms
d agosto; e com a verg alta pera partir teue h o mesmo pejo da primeira
e leixou dir l: os dous navios levou deles cargo framcisco de melo, semdo
capytam dum deles; os dous navios e agor samta ofemea levaram pro-
vimentos ,pera l de ferro, c h u m ~ o , pregadora, emxarcia, estopa, e leva-
ram alguns ferreiros e carpimteiros de casas pera ho madeiramento das tor- .
res e apousemtamento da fortaleza, e mamdo l fazer seis galees por agora
hum pouco mais piquenas que a gal pequena, per a tirar de l as naos:
' aviam logo de fazer duas pera a .companhia da gal gramde que J est:
estas galees am de ser esquipadas de jaos, e sobressalemtes xxb at xxx
homeens
1
; estes jaaos am de ser espra vos casados, ao costume de malaca:
e asy mandey alguns quadernaees de varar nnos, e alguns vasos e cabres-
tamtes, nam por mimgua de madeira que l aja, mas por poucos carpim-
teiros e por hy aver l menos carpemtaria que fazer, e acudir com cedo
s naos nam se vam ao fumdo.
t Vinte e cinco at trinta homens.



CARTAS DE AFFONSO DE ALBUQUERQUE 51
Malaca nam ha mester naaos, somentes aquellas que determinardes
de amdar no trato daquelas partes: as galees am d estar varadas em terra,
muy atiladas e comcertadas c com suas bombardas grossas e sua arte-
lharia mevda, metidas em suas taracenas cubertas, pera a guarda da terra,
porque l ha ladrees, como em toda outra parte, costumados a saltear
as terras de malaca; posto que a mim me parece, que a vossa jemte leixa
l tam hoa fama de sy, que eles nam ousarm de vi ir buscar a Ribeira
de malaca, como soyam em tempo dos mouros: e a mim, s_enhor, me pa-
reee que por omrra e nobresa da terra nam terya menos de doze galees,
porque remeyros nam am de falecer, da maneira que dito tenho; e sobre-
salemtes abastar ijcR homeens' pera todas doze; e malaca, por bem do
tfato que se ha daly demtender em muitas partes, sempre ha de ter jemte
pera hlla cousa e pera a outra, e tomando asemto, pouca fora ha mester
pera a soster e defemder, porque sempre nas cousas gramdes ha hy con-
\radiam, e de necessidade am de tomar asem to, se sam bem defemdidas;
-
e as cousas destas partes asenhoreadas de voss alteza com boa forteleza,
que btla vez tomarem asemto, telo am at fim do juizo; e se ho querees
que ho tomem, com guerra guerreada he destruiam dos lugares e com
peso de jemte conserva e asesega tudo. .
Ho porto de pacee e pedir nam sam mais que quamto malaca neles
faz, nem devees deles fazer mais fumdamento que da pimenta que malaca
poder gastar na vossa feitoria; se vossalteza quiser, com pouca fora vos
seram trebutareos, he pouca cousa de levar nas maos, e com piquena fora
os asenhorearees: creo, senhor, que em alga maneira vos comprir nam
lhe eomsymtirdes que a pimenta daly vaa dar sai da em lugar omde vos faa
nojo: a maneira que se agora terya neste caso, nana saberey eu logo detre-
minar, porque emtra aquy ho trato e naaos de eambaya, com quem avees
de ter amizade, e suas naaos am de navegar seguras; emtra aquy a seda
destes portos, de que temdes necesydade, e cambaya lhe muito necesarea
a seda destas partes e gastam muyta, e as ilhas que com ajuda de noso
senhor estaram cedo em voso poder, tambem gasta muyta seda destas
partes: as mercadarias de cambaya sam muyto necesareas pera estas
partes de amatora e malaca, e voss alteza nam lhe pode dar tamta soma
como lhe trazem as naos de cambaya, e he necessareo deixardes lha tra-
zer; e seu retomo j voss alteza sabe que nam ha de ser senam pimenta
'
2 Duzentos e quarenta homens.




'
..

I
52 CARTAS DE AFFONSO DE ALBUQUERQUE
e seda e camfora; e todalas outras sortes de mereadaria que levam, de
malaca lhe vem; portamto, senhor, se a boa paz e amyzade e trato os
querees soster, he necessario que lhe deixees a emtrada e sada das mer-
cadarias que dito tenho, naaos e trato, como sempre custumaram; e se
os querees asenhorear por fora, lijeira cousa he dacabar.
Destas partes vay gram soma de pimenta a bemgala e a choromam-
dell e he muyto barata e muita; e posto que se na terra gaste gram soma
dela, todavia a nao que vay a bemgala e carrega de roupa bramca, au-
cares e pimenta de c.amatora levam muytas vezes e pimenta longa, e va-
zam per amtr as ilhas e vam demamdar h o estreito, e as naos de choro-
mamdell asy o fazem, quamdo lhe bem vem; e portamto, senhor, digo
que, se a pimenta de amatora e pedir he tall,. que per bem do preo dela
a queiraees levar eses Regnos, que cornsyrees -l bem a maneira e
trato que querees ter com pedir e pacee, porque na vosa mao est ma-
laca, debaixo de cuja detreminaam todas estas cousas, e que os
Rex e senhorees destes dons portos nam faram senam h o que voss alteza
ordenar; amvos tnuy gram medo e temem vos muyto; achoos por agora
fiees e asesegados.
No navio samta ofemea, que agora mamdey a malaca, mamdey hum
homem com rroupa de cambaya, que imda na feitoria de cananor estava
da nao mery, que ficase em amatora co esprivam do navio por esprivam,
aos quaees mandey que fezesem a carga do navio prestes, emquamto
chegava a malaca de breu, porque algas outras mercadarias que o na-
vio ha de trazer, em malaca as ha de tomar; porem a primcipall carga
ha de ser breu, ho quall achamos qu que he milhor que ho desas par-
tes; temos dele muita necesidade: per estes esprevy a el rrey de pedir e
de pacee, noteficamdo lhe como vossalteza querya toda a seda deses lu- _
gares, que me mamdasem dizer as mercadarias que queryam; e mamdey
a joanes, feitor das naos dos mercadores, tornar a malaea emtemder na
carga das suas naos, que l ficaram aguardamdo por ela; a este mamdey
que decese em terra em amatora com estes dous homeens e que temtase
ho preo e peso da seda e as mercadarias por ela tomaryam, e asy
os preos, trazem do me de tudo verdadeira emformaam, porque he ho-
mem que ho emtemde bem: mamdarey daquy sete ou oiro pesoas com
mercadaria, que faam a compra da seda nestes dons lugares em tamta
soma como vossalteza mamda pedir, e nam farey.outro asemto nem trato
nos ditos lugares, at nam ver vossa detreminaam .
.

CARTAS DE AFFONSO DE ALBUQUERQUE 53
-
A navegaam, senhor, de malaca. pera a terra do malabar he em
tempo que cadano poJas naos da carga podees ter recado de malaca; e
mais digo que a nao que de portugall vier e chegar terra de malabar
no ms dagosto, pde ir a maJaca, porque deps da chegada de jorje da
silueira a cochim partio samta ofemea pera malaca.
E asy digno qt.te a nao que carregar em malaca, pde vazar per
amtras ilhas de camdaluz e camdecall, e ir demamdar moambique, ou
por detraz da ilha de sam Ioureno na mouam das naos que tomam a
carga em oochim; e as naos que na mouam do ms d agosto ou verem
d ir tomar sua carga, ha mester que a tenham prestes, porque h e ho tempo
curto, e as que forem no ms dabril, espao tetn que lh abaste.
Malaca he muyto gramde cousa, e est em lugar que, aitnda que hy
nam ouuera malaca, polo trato. daquelas partes vos comprira fazerdes aly
ha fortaleza; aquentaya e afauoreca por hum ano e dous e tres e qua-
tro com jente e naos, pera os senhores daquelas partes vos temerem e
acatarem, e precurar-em vosa amizade e quererem vosos tratos; e diguo
isto, porque se faa sem guerra, e se quizerdes ter em malaca jemte que
vola estm comtamdo co dedo: pela vemtura nam falecer d algtla parte
jemte que cuide que vos pode tirar malaea das mos: e a grusura de ma-
laca tudo pode sofrer e manter. E pera malaca nunca falecer jemto que
deseje viir a ela, tam grossa he e tam Rica.
Pera malaca e goa me compre qu valadores e taipeiros ; porque he
ho momte de malaca, onde est a vossa forteleza, com ha aberta que se
faa do Rio per derredor do monte ao mar, que he espao piqueno, fica
btla vila muito forte e muito bem cercada, pegada com a vossa fortaleza;
e jemtes desas partes que qu quiserem viir viver, e casados, aly ser a
sua pouoaam: he lugar de boons ares e muitas aguas, em que ha laram-
jeiras e limueyros e parreiras de boas huvas, e comias eu, e mui\as frui-
tas da terra.
Iso mesmo tem goa necesidade de valadores pera se alimpar a cava
amtiga da villa velha, e ficar a mais forte cousa do mundo, e asy alguns
pedreiros pera se fazerem moemdas em. alguns estcyros que hi estam, em
que emt1'a gram peso d agua com a preamar; e malaca neeesidade tem
de pedreiros pera obras da feitoria e da forteleza.
Na igreja de malaea ha mester hntn Retauollo d anunciaam de nossa
senhora e seja Rico, porque ha hy mais ouro e azull em malaca que nos
paos de simtra; e hum pomtyfieall beno merece malaca; demascos, se-.
..


5"4. CARTAS DE AFFONSO DE ALBUQUERQUE
das e brocados, mamde voss alteza ao voso feitor que gaste bem deles,
que em malaca se acharm em abastana: dos dous panos Ricos que aqui
tinha esta Igreja de oocbim, lhe mandey hum; e asy orgaos pera estas
igrejas da imdia parecerm quaa muy bem, porque nunca qttaa falece
quenos saiba tanger; e porque me nam esquea, digo, senhor, que es ..
tas igrejas an1 mester liyros missaees meaos, porque nam ha hy senan1
podres e esferrapados, e destes moy poucos.
Voss alteza tem goa nas maos, e temdes a mayor cousa destas par-
tes pera cnfrear a imdia e a ter asesegada; porque asy cercada como
achey, aimda goa he tam temida que nam leixarm os rex e senhores
destas partes precurar e desejar vossa amizade com medo dela; e agora
deste cerqo se mostrou mais verdadeiramente as foras de vosos portu-
gueses e de vosas fortalezas, e os turcos cheos de soberba e de vitorya _
comtra estes jemtios em descredito ficam nos olhos de toda a imdia, e os
portugueses em gramde estima e fama: guardayvos, senhor, de con1selhos
d omeens a que a guerra emfada, porque goa em voso poder h a de fa-
zer pagar trebuto a elrrey de narsymgoa e a elrrey de daquem: lembre-
vos, senhor, isto que vos digo, porque com ajuda de deus cedo ho verees,-
porque el rrey de narsymgua, por segurar batecala e seus portos e os Ira-
tos dos cavalos que vam a sua t.erra, ha de fazer ho que vs quiserdes,
e os turcos do Reino de daquem; e o abayo, por segurar dabull, vos
de dar de necesidade as terras de goa, porque, tomando lhe Dabull, ti-
raeslbe todolos cavalos darabia e persia, e jemte branca, que nam tern
por omde emtrar no reino: afauoreca muyto, porque asy averees as ter-
ras de goa, que ma mim qu parece muy lijeira cousa d acabar, e que
de necesidade volas am de dar, porque he muy gramde renda e gram se-
nhorio nestas partes. -
As vossas fortelezas feitas a nossa vsama com cavas, torres e arte
lharia, bem prouidas e boa jemte, com ajuda da paixam de noso senhor
nam tenhaees receo delas nestas partes, aimda que vos l digam que es-
tam cercadas; porque, mediamte deus, se hi nam ouuer traiam, nam ha
hy que temer de os mouros com.traryarem vossas fortelezes e cousas rle
que vos com vem lamar mo; nam he d estranhar cercarem nas os R ex e
senhores a que as tomardes, e serem cercadas hfta e doas e dez vezes;
mas portugueses cos capacetes nas cabeas amtr as ameyas na1n lhe to-
mam asy a forteleza: bem sabe voss alteza que amjediva, que he hum mato
maninho, vieram cercar os mouros vossa jemte que hy estava; pero da ....

CARTAS DE AFFONSO DE .t\LBUQUERQUE. 55
nhaya em ofal'l cercado foy de mais de ii homens';. cananor doas vezes
volo cercaram; e goa, que lte ha tam gram cousa, chave do reino de da-
quem e de narsymga, cabea de Reino, comfiama e escora do senhorio
do abayo,.rezam he que os turcos, que tamtos anos guerrearan1 com nar-
symga sobre ho feito de goa, tomada duas vezes de r bc porluguesest com
tamto estrago neles, que venham com seus arrayaees sobrela e a cerquem
hua e duas e dez vezes, e que iijc cavaleiros
3
portugoezes lha defendam.
Eu, senhor, nam mespanto de ha virem cercar, porque me parece que
goa ha de ser caminho pera lamar fora os turcos do reyno de daquem;
e quamto mais viir aprefiar sobrele, tamlo mais maa de parecer que he
a milho r empresa que voss alteza nestas partes pode ter, porque de ne-
eesidade ha de tomar asento com muylo voso proueyto e muyto voso ser-
. vio, porque goa remde ijc cruzados', e o livro que vos l levaram, era
feito per conselho de timoja, que folgaua d apagar a rem da: as foras
das tanadarias de goa e lugares primcipaees todos tem Rios gramdes, em
que podem em\rar caravelas e galees nossas, e com piquenos curtijos em
que estm seguros trinta homens portugueses em cada tanadaria, podees
comer os de rei tos da terra seguramente; e goa nam vos gasta mais que
vosos soldos e mamtimentos ordenados; e cuidam os danadores das cou-
sas de voso seruio, porque vm pagar os mamtimentos vossa jemte
per arroz pacharill e nam por curzados, que h e gramde gasto, e dizen o
aqueles que fojem dela ela est cercada, e vem buscar as mo-
lheres mundairas de cananor e cochim. E sofro lhe eu qu isto, e pollos
nam danar amte vossalteza os nam nomo aquy.
E mais, quem fez a el rrey de cambaya mamdar os vosos cristos
que estavam catyvos, sem lhos eu mamdar pedir'? goa: e quem lhe fez
mamdar embaxador, que comigo amda, pedir pazes, senam termos ns
tomado goa? e quem fez a chavll mamdar dous mill pardaos de
demtro a goa, e batecala estar tam obediemte e tam sojeita a voso serui ..
o, que nam faz neha cousa senam ho que lhe mamdo? e agora neste
tempo que arl'ihou htla nao dadem carregada de canela sobre batecalla,
como esprevy a dame chatim que tivese mo nela, logo me mandaram
seu misijeiro, que a tinha aly prestes pera se fazer ho que eu mamdase;
'Vinte mil homens.
2 Mil e quinhentos portuguezes.
3
Trezentos r.avalleiros.
4
Duzentos mil cruzados.
'

56 .CARTAS DE AFFONSO DE ALBUQUERQUE
todolos mantymentos e cousas que nos sam necessareas, com muy gramde
delijemcia sam loguo feitas: quem meteo estes lugares nesta sojeiam e
ubidienicia? goa, que est na vossa mao : e as naos da ordenamca da
vossa carga como vem elas ter amjediva ha e ba, duas e duas? credes
vs, senhor, que se goa estivera em pee e em poder dos turcos e Rumis,
que ouueram as naos da carga fazer este caminho e vi ir demamdar am-
jedivu, senam em corpo e com boa armada? por certo nam; jorje da
silueira, que veyo soo ter amjediva, nam escapara s naos e armada de
goa, a quall tomava por openiam e empresa tomar todaa nao que com
voso seguro navegase: e mais, senhor, quem vos faz a vs seguro vrmuz'l
goa, que est sobre batecala e sobre os tratos dos cavalos, que he a prim-
cipall cousa que vem d ormuz: e quem tem a soberba de cananor enfreada,
e descomfiado calecut de sua detreminaam, senam termos ns tomado
goa, em que estava toda sua escora e cotnfiama? quem toda a imdia
em rrevolta e detl'eminaam de se fazerem todolos mouros em corpo con1
gramdes armadas pera nos botarem fora da imdia '! goa, cabiceira destes
bamdos: torno vos, senhor, a dizer, que folgara muito de vosa alteza po-
der ver goa e como derribou a famtesia aos mouros, e como asesegou a
imdia, e a maneira de que somos recebidos em quallquer porto de mou-
ros omde chegam portugueses e mercadaria vossa: quem derribou a_ so- --
berba do reino de daquem, e narsymga ternos tam gramde temor, senam
terdeslhe tomado goa, que est metido amtreles'll, senhor, vos tenho
esprito pel armada de gonalo de siqeira a grandeza de goa, e como he
lugar, terra e porto, pera se daly tomar a comquistar a imdia e soster
todo peso que viese em comtrairo a ela; e Joam serram e outras pessoas
que qu estiveram e navegaram na "imdia nos tempos passados, pregum-
te lhe voss alteza como acharam mamsos os portos de eambaya e o trato
e mercadarias dos lugares da imdia domde ha primeira. nam podamos
aver e dos mouros da imdia podia _imda vossalteza ser milhor em-
formado, se lho podssees preguntar.
Falamdo a vossalteza na jemte quaa mamdaees casar, a mim me
parece muito gramde seruio de deus e voso; e a imcrinaam da jemte e
desejos de casar em goa, se ho voss alteza vise bem, espamtar s ya; e pa-
rece cousa de deus desejarem os portugueses tamto de casar e viver em
goa; e asy me salue deus, que a mim me parece que noso senhor ordena
isto e imcrina os coraees dos homeens por alga cousa de muyto seu
seruio eseomdida a ns; e estas cousas am mester muyto afauorecidas

CARTAS DB !FFONSO :DE: ALBUQUERQUE 57.
de voss-alte2a e vejiadas com muyto cuidado e em paro de vosso gover-
nador e capitam jerll que qu tiverdes; porque certefico a vossalteza que
traz ho diabo tam gramde cuidado d ell)comtrar e danar este feito e rroer
este enxerto que nam crea, que os mesmos port.ugueses e pesoas de que
1ossalteza comfiarya quallquer cousa, se trabalham de ho danar e estor
Tar quamto podem, e dar com este feito na metade do cho, com toda
maa temam, maos enxernpros e maos comselhos e com toda desordem
podem ordenar e fazer; e esta he a mayor perseguiam que agora
qu tenho na imdia:)nam creaees, senhor, que hy ha homem na imdia
nem. ha de viir a ela, que lhe lembre neha cousa das que por seruio
de deus quaa mamdaees fazer, senam caiTegar de pimenta, furtar ades-
tre sesto, auer tudo por vaidade e cousa de pouco proueito, senam ho que
eles fazem.pera sy; e portamto, senhor, muy poucas pessoas avees da-
char que vos faam moesteyros d oservamcia, se os qu mamdardes fazer;
nem casar homeens na imdia, afauorecelos e defemdelos, que vivam com
suas molheres como cristos; nem que torne cristos, e faa outras cousas
que voss alteza quaa mamda e ordena, fumdadas em seruio de deus: e
digo nos, senhor, isto, porque ho vejo eu qu em algas pessoas, que sey
certo que vos l am de louuar tudo, e quaa se trabalham de o danar quamto
podem; e quero, senhor, primeiro falar em min1: eu cuido que vos syrvo
bem em todas estas cousas de que vos eu aquy aviso, mas eu Yos certe-
fico, senhor, que eu ho fao mais com medo que con1 vergonha nem boa

1mcnnaam.
- E neste feito dos casados pregumte vossalteza a diogo mendez, por-
que folgou, nesse piqueno tempo que teve cargo de goa, de ho danar e
desafauorecer, e deixar os homeens correr em toda desordem contra es-
ses casados e suas molheres, domde naceo algum mail e descomtenta-
mento aos casados, cuidamdo que este feito era obra de minhas maos;
porq.ue quaa, como se hum homem. agrava de lhe nam darem muito solido
e quintaes, detremina logo de dar com todo ho feito no cho; e Rodrygo
rrabelo, se fra vivo, eu tinha bem de que ho rrepremder e castigar; e
asy oo fezeram bem mail minha vomtade os que governaram cananor e
cochym, no tempo que me deles; nam falo aquy em outras pesoas
qo esperam mercee e de voss alteza, que estas cousas sempre fol-
gam de danar. Dou vos, senhor, comta.de todas estas cousas de voso ser-
lio e- vossa detreminacam, as quaees podees prouer e fazer e ir
avamte rom faoor, .em, tall maneira que se simta na imdia, e escu-:
8

..
,
58 CARTAS DE AFFONSO DE ALBUQUERQUE

sars ho Rigor de voso capitam mor, eom que comvem e sos-
telas; e estas cousas da imdia ham mester muyto bem apomtoadas, e
aimda que seja lomje dom de alteza est, muyto se sem te qo voso
fauor e desfauor, porque ho trago eu diamte dos olhos dos homeens, com
que s vezes faco milhor as cousas de voso seruio, e acho me bem diso;
e voss alteza deu ia pubricarnente de repremder as cousas mail feitas da
imdia, e louvar pubricamente aqueles que as fezerem bem e com boom
zello de vos se ruir; e com vem vos fazer isto, porque vam as cousas de
voso servio avamte e vosa detreminaam, porque pera ho bem da imdia
que he qu outro senhorio voso, outro mando e outro mundo, mais ha
mester de vs que jemte e armas.
As joyas que a vossalteza mamda elrrey de siam, leva as nuno vaz:
he htla espada e hum Roby e ba copa douro, que escapou da perda de
frol de la mar, a quall se tirou quebrada, que depois mandey correjer;
e na carta gramde dou larga oomta a voss alteza do que se pasou com
. el rrey de syam.
A moeda douro, de prata e de cobre e destanho, que se em voso
nome lavra em n1alaca, dela leva nuno vaaz e dela leva ho ouuidor; per-
d se muita da do estanho em frol de la mar. Por ser fruita nova da im-
dia, deoiaa ho padre samto de Receber em oferta hum dia de sua missa,
porque cousas sam que se devem muyto d estimar e serem louuadas am-
tre jentes que tiverem fee: dons crises, que sam adagas dos jaos, com as
bainhas d'ouro e pedraria e os punhos, com bocaees douro e pedraria,
que trazia pera vossalteza, nam se poderam salvar.
Pero d alpoem leva a amostra do ouro da mina de menemcabo, que
est defromte de
Da pimenta, que me vossalteza espreveo que se tomase a pesar pelos
pesos de l, demtro na torre da menagem da fortaleza de coehim os en-
treguey a cheryna mercar e mamale mercar e a todolos outros mercado-
res peramte el rrey de oochim, que hy estava: eles o receberem sem pejo,
pera daquy avamte pesarem per eles, e entregaram lhe quintaes, arro-
vas e meas arrovas, arratees e meyos arratees, e toda outra meudeza de
pesos.
Eu nam em tem do como voss alteza qu inandou ho peso novo, temdo
a imdia criada ha dez anos em pesaf pelo peso velho, e as mercadarias
vemdidas per ese peso e pelo mesmo peso imviadas a eses Regnos e car-
regadas nas naos, e todolos mercadores da imdia terem ho seu peso aleal-
\



CARTAS DE AFFONSO DE AJ .. BUQUERQUE 59
dado co voso peso velho; e agora com este novo emtra muytas du-
uidas neles, e vyo eu em goa, mercadores que tiveram duuida no peso;
e as partes a que se daa algila mercadaria, muitos sembaraam co peso
novo, e estam miserycordia das cifras dos vosos deuia voss al-
teza de tornar ao peso velho, como con1eastes de criar a imdia, e o nouo
est asy pera rreeeber ho cobre e mercadarias que de l vem deses Re-
gnos.
Em froll de la mar se perdeu a manilha que se tomou a nahoda
begea, que esprevo a voss alteza que vos mamdo na carta gramde, e mais
o trelado do rejimento que dey aos capites que mandey s ilhas do cravo;
e mais se perdeo a carta delrrey de siam, que mamdava a vossalteza com
as joyas que vos l levam, e a menagem de Ruy de bryto, posto que l
ficase ho trelado no livro da feitoria: perd se o Rol I dartelharia que dei-
xey na fo11eleza, e pouco mais ou menos ho mandarey com ho caderno
destoutras fortalezas; perd se a menagem que tQmey a fernam perez dar-
mada que leixey, de que ho fiz capitam mor, em que lhe mandava que
obedecesse em todo e per todo ao capitam da forteleza ; e mais se per-
deo ho rrejimento que leixey a Ruy daraujo cerca da governama e
oomservaam da eidade e prouedoria de vossa fazemda e dereitos da
terra; e asy se perdeo os rrequerimentos, Recados e messajeens de parte
a parte, que pasey com el rey de malaca amtes de o destruir e lamar
fora da terra; e tambem se perdeo ho roll dos fidalgos e cavaleiros e
homeens de bem que foram no feito de malaca nomeadamente cada pes-
soa por seu nome.
,
Falamdo a vossalwza no feito de diogo mendez que em goa pas-
sou, ela he a mais fea cousa que eu numca vy ; e como j tenho esprito
a vossalteza em outras cartas, parece costolaam minha, que quer danar
os homeens e fazer lhe fazer cousas feas e que em nenhum tempo do mundo
as nam ha numca de fazer nimguem: depois de ho as galees de vossalteza
fazerem amainar, amdamdo ele com sua jemte posto em armas de ha
volta na outra, a mim mo trouxeram preso; preguntei lhe porque fezera
aquillo diamte dos olhos de quamtos embaxadores de e senhores da
imdia estavam comigo, fazemdo hila forteleza de voss alteza nos olhos de
narsymga e do reino de daquem, semdo acordado per comselhos de ca-
pites, cavaleiros e fidalgos nano dever de leixar ir a malaca, pola pouca
jemie e fracas naaos que tinha, sem lhe dar ajuda, os quaees consellios
asynados por le_vou Ioureno de paiva; ele me rrespomdeo pe-
8



60 CARTAS DE AFFONSO DE ALBUQUERQUE
ramte todos, que porque. ho mandara aa ilha de choram .socorrela qne
a nam emtrasem os mouros, ho quall foy ele e manoel de Iacerda com ou-
tros batees e jemte: eu lhe respondy, que socorrer aas oousas de voso
seruio em guerra -tam justa avia ele por mazcabo de sua pessoa;e mais
me dise, que porque mandara aos mestres das suas naos.e conlramestrei
pagar dous cruzados a cada hum, po1que de riootc furtar vacas a
ilha de dyvary, e nam me dise mais; ho all elle ter cuidado do ho poer
de sua casa, con1o fazem os outros; os autos diso leva ho ouvidor: e por-
que tynha j detreminado ele nam ir a malaea, por lhe eu nam poder dar
ajuda e dar lha .carga em cochim, quamdo os premdy, dey as capitanias
das naos, a fernam peres a trimdade, e a gaspar de paiva Samtantonio, e
a dom joam a comceiam, e a caravella a james teixeira; e pus(Jle em de-
treminaam di ir demandar h o estreito de mequa e dy ir a vrmuz, como em
outras cartas digo a voss alteza: a noso senhor aprouue de fazer ho caminho
de malaca, e pola demora que l poderia fazer, eu leixey manoell.de Iacer-
da com as naos e navios darmada da itndia e com rnayor par\e da
te, e dioguo fernandez qlte havia de viir d urmnz e se .ajuntar com ele,.e
as fortalezas prouidas de mamtimentos e artelharia, e tudo isto segundo
forma de vosso rrejimen1o, no quall me mandastes que oomprindo ir eu
algum lugar afastado da costa da imdia, deixase ba pesoa eom navios e
jemte que guardase a costa, e prouese as fortalezas, e asy ho
E a fazernda e naos de dioguo mendez eo as oune por perdidas
poJo caso e erro em que cairam, e as tomey sop minha guarda. e obriga-
am, como cousa de voss alteza, e as gramjo e aproueito h o. milhor que
poso; praza' a deus que sejam eles asy castigados e reprendidos por ornrra
da imdia, que nam fique eu daquy feitor dos mercadores, mas de voss-
alteza; e peo nos, senhor, por mercee, que oulhees poJas cousas da imdia;
que sam muito temrras e quallquer cousa piqnena lbe faz muito gramde
dano e nojo; depois que a deus segurar como V{)OS desejaees,
ser outra cousa. . . . . , . .
-H o que agora lte feito . destas naos e mreldarias., eu as levey a ma
laca eomigno ero sua mouam e tempo verdadeiro de su ida, com boons
eapitees e seus propios esprivees e suas mereadarias eseu:diw
nheiro em moy boom rreeado; e navegamdo asy, as friy 'suijir diarntede
malaca: eles me pediram parte das presas pera as naos, eu lhe rres..;
pondy que nam pediam justia, porque a eles era vedado per voso
mento nam fazerem tomdias .nem presas de; ceilam pera nem
'




CARTAS DE AFFONSO DE ALBUQUHRQUE 61
-
. meuos eram companheiros nas despesas e gastos da voss8rmada da imdia,
nem emtravam nas avalias que armada fazia, nen os desviara de seu ea-
mioho nenos levara a outra parte per fora, mas antes os afauorecera
com armada de voss alteza e lbe fezera .ba eompanbia at malaca, om
de eram obrigados a tomar sua carga, e que ainda lhes dezia que fos ..
sem descobrir pego, oomo traziam per seu comtrato ; aa jemte dey suas
partes.
Oulhamdo como as naos destarmada nam podiam ir a purtugall
aem serem tiradas em picadeiros, dey carga nao trimdade, e as outras
leixey aguardamdo pola oarga do cravo e outras mercadarias por que es ..
peravam by cada dia; e asy as leixey, porque se nam oorrejer to..
ds quatro em cocbim aquele ano, polo negoeeo de eochim ser todo acu ..
pado nas vossas naos da earga e de \'Oss armada, e mais a verem de ser
eorrejidas custa de voso eabcdall, porque, se do seu se correjeram,
nam. tinham cabedall pera tomar carga; e portanto decraro qtie o correji-
mento das naos vay metido n armaam, pera voss alteza l ver seu: direi &o
e sua parte
1
porque eles quamdo logo vieram, foram comtentes de aguar-
darem pola ajnda que lhe promety pera a monam em que fuy com eles
a. malaca. . , .
A mim, senhor, me pareceo que dioguo mendez como homem que
sabefazer ho que lhe compre, fez :em goa ho que vossalteaa sabe; e pa-
rece me se o nam fezera, que lamara perder de , IA)doj
porque. quatro naos, a mayor parte delas e que todas a'iam
carpemtuia e ealafates, liaam e tavoado e .pregadura; pera tor-
Darem a essees regnos, e que pera isto aYiam mester gramde e
gramde despesa,. e nam 8e podia fazer. senam em: eoohim e vossa oosfat
deiumdo de fazer todas as eousas de vo:.;so servio e de minha
am, e o ile@eeeo de coebim nam est tam oceOBo que todo ho ano aam
'enhaqne Jazer, e s vezes temos muita necesidade e naai podemos a
tRoo sop1ir; rezOees que dito tenho, namrpodePamesta&naoa
ir- a.portugai em .nenhiia mneira, seoam desfazerem se, ou .fazer Dltl)'
gramde demOra e .gramdes gastos de solido, pera lhe eadano :poderem
renovar ba" .
'
Mais, smthor, diguo que estarmda, se a leixara ir, em toda
se perdera, porque em tnalaca nam ouuera de poder tomar carga; tor-
naodo paoee e a pedir a .querer tomar carga de se: lbra deram,
que -lt.e .o ms. de janeiro e feuereiro, fra Dle forado ficar l, por nam

..

....
81 AFFONSO DE ALBUQUERQUE
ser tempo pera viir imdia; e ficamdo l, fOra se. ho fundo, que l aam
rreconhece a . mar,. para se poderem espalmar ; e mais sam naos podres o
moito. comestas de busano; e digo mais, que nam tomando carga e vimdo
a oochim, nam tinham cabedall pera tomar carga de oochim nem. pera.se
correjerem, .nem ho negoceo de cocbim estar tam oeeoso que ho podal&
fazer como dito tenho; de maneira, senhor, que se me este.negOGeO nam
cara nas maos como eottsa de voss alteza, diogo mendez perdera em
maneira est armada; e se fojira, como leva\'a caminho, emtam. tinha mais
certa sua perdiam polo que soeedeo em malaca, e bem asy por ele oam
ousar de \ornar a buscar ho remedeo omde leixava tam gramde erro feito j
e fieou me este s costas, temdo eu tamto sobre meu pescoo,
que sobeja per cima das gavias: l mam,do os autos de suas culpas e ho
trelado do seu comtrato, no quall est hum eapitolo, em que me voss aJ.
teza mamda que ho leixe ir livremente, sem lhe poer pejo. E na carta
que mele deu de voss al\eza, ne mandavees que toda ajuda e boom com
selho lhe dese; e segumdo as cousas socederam, a mim me parece que
deus pelejou pr elle; ele s apegou ho capitolo do seu dizemdo
que era isemto, fazendo executador desse feito, e. o capitolo da seu
eomtrato he mamdarme a mim a vossalteza que ho cumpra, e nam a ele
que ho exuqe\e (sic). . . . !
A rrezam que diogo mendez daa a seus. amigos deste feito; quam-
do ho querem culpar, diz. que quis .comprir eos mercadores; :parece que
lhesqueceo a obrigaam que tinha aas cousas de voso seruio. E com: tudo
istO, eu vos afirmo que dioguo mendez he boom homem e que
h aYisado e: cavalP.iro e homem . de bom comselho; espamtei me fazer is-
to, porque ..sempre m estranhou. muyto ho feit9 d urmuz; e. mais, senhor,
vos digo qUe he home.m que1 imda que cemtanos amdara comygooDUB
ca podera rreceber 4esprazer de mim nem eu dele, tem com-
diam iso, e eu lhe tinha afeiam e amor gramde, que .. sempre em
nossas pratioas .e .comselhos achava nele, 'e
dele .nem ele mim; e aimda, senhor, Yos digo, que. se ;O :caso
nam ceusa que ao desfauor da imdia e .descreditodo
nome de vosso capitam jerall e do corpo e mamdo qUe nestas partes Re-
presemta vosso nome. e. estado, oerto .eu, senhor, lho pasSara levemente.
verdade st que. depois que eu fny em malaca e ele speedeo . a ca ..
pitama, em algtla .. quis tomar vim gamo&: COJJSas
1
de .'ftl80
seroioo ses. e oomforto dos eoraees dos omeens : qae ;.CIIIl 18 ar:-
-

CABTAS ,DE AFFONSO DE ALBlJQUERQlJB 63
mas afiam de defemder vosas cousas; e no reformamento da forteleza e
sostimento dela, em suas praticas e comselhos e oousas que me diseram
que l esprevera; e asy neses casados setem mail trata-
dos dele; e pero coresma era a cabieeira destes bamdos, e prenusticador
do que avia de ser de goa e dos casados, e do que era feito da minh ar ...
mada e jemte; e jeronimo eerniche e fernam corra desta volta e com se-
lho eram em danar todo o feito, e desta maneira cuydavam todos que to-
mavam vimgama . de mim: eu lhes perdoo, porque nosso senhor lhe
amostrou bem suas culpas e seus erros e sua detreminaam e mao com-
selho n minha ida que me levou a malaca, e cousas qoe l socederam.
Ho feito dos casados vay muyto avamte, porque casam muitos ho.-
meens de bem e muitos ofeciaes ferreiros e carpimteiros, tomeiros e bom
bardeiros, e alguns alemees sam qu casados ; e creo, senhor, que se
-nam partira de goa, casaram aquelle ano mais de hc pesoas t; a ver
em cananor e eoehim cem casados, e em goa perto de duzentos; e estam
tamtos criados de vossalteza e dos duques e comdes de portugall em goa
pera casar, que ho nam podara crer vossalteza; e per cartas sam avisa-
do dos casados, em como minha licema sam muitas molhares tira-
das de goa per alguns homeens que as tinham, porque eu nunca dey
molher a nenha pessoa, seno eom comdicam que se a quizesse casar,
que lhe daria alga cousa por ela, e que ninguem as nam tirase de goa
sem minha licema.
Se pela vemtura a jemte casar desta maneira, parece me que ser
neeessareo mandar voss alteza botar fora os naturaees da ilha e dar as ter ..
. ras e lavoyras aos casados, porque as terras de goa nam ha patrimonio
de ninguem, senam do rey e senhor da terra; todolos outros lavradores
e jemte sam Remdeiros, e por oouodos I h arrendam a terra e as amores,
segundo ho fruyto que daa.
Alguns hramenes e neiquebarys sam tornados cristos e seruiram
vossalteza neste cerqo de goa bem e fiellmente, e cojeqny, mouro quituall
.e tanadar de goa, ao qnall <l_ey estes oficios por seus seruios e fieldade,
asy desta vez derradeira que tomamos goa, da outra, e porque era
homem que sabia muy bem mamdar a jemte da terra, conhecela e tra
:tala, e a.sy os prouimentos das cousas da terra, jemte de trabalho e. ofi;.
eiaees pera as obras da forteleza, que tudo trazia muy Redomdo e muy -
Qninbentas pesaoas.
/




C!B'JIAS DE .AFFONSO DE ALBlJQUERQUE
oom muyta delijemcia e cuidado; se. ele Yiera, ele diao
amte vossalteza de muita mercee e omrra; em soas obras era cristo, e
morreo com ho de noso senhor e de nossa senhora na boca ; nam
pOde ser bautizado, porque o feryram por voso seruio e durou pouco;
dey os oficyos a seu filho, ho quall quer ser cristo.
Amtes da chegada destarmada em que veyo jolje de melo, eu tinha
aos maos das cartas que n armada de dom gareia vieram e
me Joo serro e pero mazcarenhaz tinham dadas; e porque algilas
sas vam nas ditas Repostas das artas a que voss alteza proueo pelar-
mada que depois veyo, saiba vossalteza que ho tempo e a
foy causa diso: posto que a outras taees cartas j tivesse respomdido,
foy todavia necessareo rrespomder a elas outra vez, pera voss alteza ser
certeficado do que era feito e comprido, e do que estava por comprir e
acabar; e aos maos da dita armada de jorje de melo Respomderey apar
tadamente per sy: esprita em cochim ao primeiro dia d abril, antonio da
fomseqa ho fez, de
Nesta primeyra vya vos vay ha carta gramde, em que vos dou re-
zam de tudo ho que fiz desde a partida das naos de doarte de lemos e
gonsalo de seqneira at tornada de malaca a eocbim; foy comea-
da em malaca e acabada em eoohim, e perdoe me v.oss alteza, se na mesma
carta e modo d esprever dela me achardes nestes dons lugares de que a
carta faz que vos eu esprevo, polo gramde trabalho que he es-
prever a voss alteza largamente, queem todo ho dia e toda a noute tem
que emtemder em outras cousas: mandouos, senhor, tambem hum padram
da ilha-de goa, de dyo e da ilha do canall de cambaya, que .. vos prome-
tem pera a fortaleza e segurama de vossa feitoria; tambem vos vay hum
pedao de . padram que se tirou d tia gramde carta dum piloto de jaoa, a
quall tinha ho cabo de hoa esperama, portugall e a terra do brasyll, ho
mar rroxo e ho mar da persia, as ilhas do cravo, a navegaam dos chins e
gores, eom suas Iynhas e caminhos dereytos por omde as naos hiam, e ho
sertam, quaees reynos comfynavam huns eos outros: pareceme, senhor,
que foy a. milho r cousa que eu nunca vy, e voss alteza ouuera de folgar
muyto de haver; tinha os nomes por letra jaoa, e eu trazia jao que sabia
ler e esprever; mamdo esse pedao a voss alteza, que francisco rrodriguez
empramtoa . sobre a .outra, domde voss alteza poder ver verdadeiramente
os chins domde vem e os gores, e as vossas naos ho caminho que am de
fazer pera do cravo, e as minas do ouro omde sam, e a ilha dejaoa
DE AFFONSO DE ALBUQUERQUE fi5
e f.le ba1ndam, de noz nozcada. c 1naas, c a terra delrrey de syam, e asy ho
cabo tla terra da navgaatn dos chins, e asy pera omde volve, e con1o daly
a diamte nam navegam: a carta p1imcipall se perdeo em froll de la n1ar:
r,o piloto e con1 pcro d alpoP.nl pratiquey ho sy1ntir desta carta, pera l
saberem dar Rezam a voss alteza; ten1de este pedao de padram por cousa
1nuyt.o certa e 1nuyto sabida, porque he a 1nesma nvegaam por omde
eles vam e vem: min1gualhe o arcepedego
1
das ilhas que se charnam ce-
late, que jazem arntrc jaoa e malaca,
(Por lettra de Alb'Uquerqu.e) feytura e servydor de vossa allteza
. Afonso d alboquerque.
(Sobrescripto) A ell Rey noso senhor t.
X
11S12- Agosto 20
Senhor.-Per pero n1azcarenhaz me foy dado hum n1ao de c.artas
de vos alteza, aas quaees respondercy per capitolos apartados, por nam
faze1 gramde valumc do cartas, E pelos ditos capitolos ser vos alteza
emformado de que calidadc e sostamcia eram as cartas c asy a rreposta
do que vosalteza quer ser certeficado.
Primeiramente/ cu vy ha carta de vos alteza, em que me fazia do
seu oomselho, .e eu ho Recebo na mayor mercee do mumdo e vos beijo,
senhor, as maos por iso, porque sey que vos alteza ho fez sen1 vos nim-
guem impurtuna.r; seja vosalteza certeficado que eu vos syrvo taro des-
emganadament.o na imdia, que toda a omrra que tne fezerdes, sam me-
t'ecedor dela: outras pesoas ten1 vos alteza que l1o faram milho r, po-
rem disto que acho quaa em mim, n1e quero gabar; os comselhos eu nam ..
sam pera os dar a c sam tnilhor pera emxecutar os que vos
alte&a poser em detreminaam.t porque ey de fazer com delijemcia
bom c.uydado. ho. que me Iuamdardes, ajndamdon1e noso senhor.
t Arehipelago.
2 Torre do Tt1mho-C. Cbron. P. 4,, M. f4!' D. r.o.
9
6() CARTAS DE AFFONSO DE
Em ont.r'a carta (1ucr vosaltcza saber as naos e navios que na im-
dia ayia e n1e ficatn: diguo, senhor, que na in1dia avia f1
1
ol de la 1nar, ho
cirne, ho rrey gramde, a rnn1esa.; estas eram naaog da gramdura quP.
vos alteza j l sabe. .
Mais rle navios pequenos: san1 cristovan1, samta n1aria d ajuda, a
gara, outra ajuda, de duarte de len1os, h o rrosairo, samt esprito, a ca-
ravelinha latina e a cara velinha rredonda, ho rrey peqeno e a taforea: na
lyvnarda nam falo, por a n1andava (sic) correjcr pera se tornar com stta
carga, como vosalteza de l mamdou.
Os capitees da.s naos gro3as: a capitaina, frol de la mar; ho cirne,
manuell de Iacerda; h o rrey gamdc, diogo fernandez; a lyvnarda, gas-
par de paiva; e a run1esa, Iopo d azevedo.
Dos outros navios piqenos sa1n capitees: duarte de melo do rrey
peqeno; a taforea, ayres pereira; samta rnaria d ajuda, pero da fomseqa;
a caravela Jatyna, symam afomso; a caravelynha rredomda, amtonio daze-
vedo; a gara, symam velho; a samta maria d ajuda, a rnemd afomso;
ho rrosairo, a_mtonio de saa; sarn cri ... stovain, amtonio de matos; san1t es-
prito, francisco sodr; a gal gramde, duarte da silva; a gal pequena, sy-
mam martinz.
Com esta armada que dito tenho, e com cimqo naos das novas de
goa, co as de diogo mendez, depois de em tres comselhos em que detre-
minaram todos per seus asynados que,,se fosen1 a malaea, que se per-
deriam, e eu j tomado fumdamento de lhe dar carga em cochim, me
party caminho do estreito do meqa e d adem, tem do primeiro mandado
diogo fernandez com tres naos diamte a levamtat a forteleza de acotor,
e esperar por mim na dita ilha at meado mayo; e se aly nam fose at
ho dito tempo, soubese que eu era arribado com tempos, a vr1noz, com-
trairos, e que me fose aguardar a mascate: pus em caminho minha detre-
minaam c comselho que d amtes tnhamos avido; saimdo de goa, nunca
tivemos tempo pera dobrarmos os baixos de padua; vendo que a mouam
e navegaam do estreito e vrmnz era pasada, arribar sobre goa,
e deixey hy a livnarda, que j hy ficava por nam poder navegar e pera
se correjer h o rrey pequeno, samt esprito, a. rrumesa, e outra nao nova
de goa de duzemtos tonees, que irndaestava em picadeiros, as quaees
deixey muy emcomendadas, e mestres e carpymteiros pera as a verem de
varar em terra, e daly me fuy caminho de cochim, omde leixey ho cirne e
todalas outras naos e navios d armada da imdia; e asy deixey em
'
e I
CARTAS DE AFFONSO DE ALBUQUERQUE 67
e em cochim mais da que tinha ; son1ente leuey a rnalaca frol de
la mar e a taforea, e as iiij naos que foran1 de diogo mendez, que hiam
seu verdadeiro can1inho seguindo seu comtrato, e a nao e1nxobregas; e
levey cimqo naos novas de goa e as duas caravelynhas e o )lretam e as
duas galees; a gal peqena co a botnbartla grosa que syrnam 1nartinz
nam quis tirar fora per meu n1a1ndado en1 cochitu, e cobre que sy1nam
martinz ouue em cochim ouue etu pagarnento de seu soldo, que carregou
nas cabeas da gal, alquebrou a gal no n1ar a travees de ceilam, e lanl-
ou a fora, porque tinha toda a lyaan1 podre: salvamos a jemte
toda, e a gal ficou aly: a laforea de podre leixou desfazer 110 n1omte
em n1alaca; frol de la mar apousentou se jun1to com pacee; e vimdo aa
itndia cuidamdo dachar armada que leyxey, rrefortnada, e achey bo cirne
perdido e a lyvnarda perdida e a rrumesa e o rrey peqeno, e o Rey gramde
queimado de podre, e. satntesprito, e a nao de duzen1tos tonees nova des-
feita, que ficava em goa. Esta he a comta e despesa que achey darmada
e naos que lebtey .na irndia, natn le,amdo 1nais que frol de la mar e a
taforea: nam quero culpar as pesoas que este feito ficou ctncomendado,
benos conhece vos alteza. E por os taees casos, senhor, vos digo eu, que
voos apeguees voos a booas torrees de menajen1, as quaees nam rrece-
bem estes imeomviniemtes.
Os capitees que foram a malaca das naos e navios em minha com-
panhia sam estes: fernan1 perez na nao de diogo mendez, dom joo de
lima na nao de jironimo cerniche, gaspar de paiva na nao de pero co-
resma, jrunes teixeira na caravela da mesma companhia, bastiam de mi-
ramda no bretam, aires pereira na taforea, jorje nunez em xobregas, de-
nis fernandez na nao ahaya de goa, pero d alpoem, ouuidor, na nao samta
catherina de goa, symam damdrade na nao joya de goa, arntonio dabreu
na nao samtiago de goa, nono vaz na nao sam joham, que se fez em canl-
guiar; e achamos no Rio etn goa duarte da silva na gal gramde, symam
martinz na gal peqena, afonso pesoa n na galeota de goa, sytnam afonso
a caravela latina, a cara velinha rrcdomda jorge botelho.
Aa minha partida de malaca se quis viir don1 joo de lima e ficou
na sua naao femam perez d amdrade por capitam no mar; veyo se lam-
bem gaspar de paiva c fycou na sua nao joo Iopez alvim; veyo se james
teixeira e ficou Iopo d azevedo na caravela; veyo se bastiatn de miran1da
e ficou no bretam vasco fernandez coutinho; veyose duarte da silva e fi-
cou n gal pero de faria, filho do con1endador aluoro de faria; veyo de-
9

11is fernandez e ficou na sua nao fratncisco serarn; veyose pero d alpoern
ouuidor e fycou na sua nao amtoniu d abreu; veyo se nuno vaz e ficou na
sua na.o airs pereira; e a nao sa1ntiago que tinha amtonio d abren, ficou
nela cristova.m rnazcarenhaz; veyose syman1 da1ndrade, ticotl na sua nao
eristovan1 garcees; fica na cara velinha rredotnda amtonio d azevedo e na
latina syman1 afomso.
Estas naos que aquy nomo, ficaram em n1alaca; as duas dos mer-
cadores e a caravela ficaram aguardamdo por carga con1 dinheiro e nler-
cadarias suas; a nao abaya e a nao samta catherina e a caravela latina
...
sam carregadas de Inercadarias aas ilhas do cravo carregar de cravo: vay
nelas por capitan1 moor an1tonio d abreu, sota capitam framcisco serro,
vay na caravela latina afomso, vay por feyto1 das na&s joo freire,
criado da senhora Rainha vosa irma, vay por espriram diogo borjes,
eriado de vosalteza: partiram no ms de novembro, dons meses e meo
amtes que eu partise; levan1 dous pilotos da terra c tres portugueses, he
hum gomalo d oliveira e o outro luis botim e o outro framcisco rrodri-
guez, homem mamcebo que quaa amdava, de tnuy boom saber, e sabe
fazer padrees; h iam bem furnecidos de man1tin1entos e d a1telharia, e em
1.odos tres navios sem to e vimt omeens bramcos e vim te espravos
pera a bomba, com muitas b.amdeiras e boas velas e boons aparell1os,
ca)afates, estopa e breu : praza a noso senhor que os qeira le,ar e tra-
zer a salvan1ento, c com fumdamento d irem ilha de bamdam, ilha das
maas e noz nozcada, c dy irem espalmar a hum cabo que se chama anl-
bam, de ha ilha gramde que est ({Uatro dias de caminho das ilhas do
cravo; rreconhece a mar aly muito, c isto se lhe cun1prise.
As naos e capitees que lehcey na imdia, foran1 estes: rnanoell de
Iacerda no cirne por capitam moor darmada; e a nao nova que se fez
em cochim, fycava diogo pereira por capitan1 dela; ficava pero da fom-
-seqa co seu navio, duat1e de melo co seu navio, n1emd afonso co seu na-
vio, francisco sodr co seu navio, symam velho co seu navio, amtonio de
saa co seu navio, diogo fernamdez no rrey gramde, que veyo no ms
dagosto durmuz, e com ele amtonio de matos no seu navio, gaspar catn
no seu navio; ficava a Rutnesa em goa sem capitatn, c a livnarda sco1
ca.pitam, pcra se correjcrem: deixcy eu hum 11oder abastamtc a manuell
de Iacerda pera Jh obedecerem todos estes capitecs, e todos foram jum-
tos; porn1 armada da imdia as priincipaees naos delas ach as
das, e et1 ao tempo que esta esprevo, fico com muita necesidade deJas,
..
DE Ali'FONSO DE ALBUQUERQUE 69
polas novas dos Rq1nis c n1inha detrerninaam d cn1trar ho 1nar rroxo: se
estas naos se perderam no mar, nam tivera diso nenha dor, porque, co-
mo hometn atnda pelos caminhos de voso Rejimcnto, toma homem ho que
acha das tnaos de deos; mas je1nte chea d oceosidade, em hoom porto e
forteleza vosa, vosa feitoria e almazem em que ha dinheiro e fazenda, dei-
xarenl perder naaos &cirnty ! c se querem dizer que satn velhas, co esas
navega hontPin na imdia, que se arrnada da ouuer de ser correjida
oomo as naos da c3rga, faram mais .gasto do que elas podem fazer de
proueito ;. n1as asy me as rremendadas, faz hotnem as cousas de voso
sertrio, porque natn m entregaratn nao que nam fose mais Rezam de a
desfazer qnc navegar nela: rl algiia destas cousas tomari eu s vezes
mais estreita a com ta, sse hos, homeens natn fosem tam mimosos de vosa
altza, e que eorrrtem muy descanlsados custa da barba lomga.
Quamto he aa. soma da jemte que 1ne fica, asy de criados de vos
alteza como. de toda a outl'a sorte c diversidade .de jemtes, e bem asy a
soma dos bombardeiros e espimgardeiros que me ficam, artelh.ria do mar
e da terra; todalas cousas desta cal idade iram em cadernos apar1ados per
sy, co1n flo que vosalteza quer saber.
Per outra carta de vosalteza sam avisado dos paga1nemtos que se
am de fazer dos que vos:alteza daa alglias pesoas pera ave-
rem nestas partes seu pagamento, os quaees vos alteza ha 11or bern qe
ajatn efeito depois do furnimento da carga, mamtitnentos c soldos, e o
mais que se nela contm, a quall carta logo mamdey Resistar nos livros
das feilorias, e mamdey que sem neha rrezam que possam dar, se cum-
pra a detreminaam de vos alteza; e portamto, senhor, foy boom avysar-
desme diso, pot\)Ue vosos sam cumpridos na maneira e forma
que vos alteza man1da, asy neste caso como em todolos outros, e asy se
fr se1npre, se hy nam ouuer caso de fortuna, ou tall necesidade pera
que comvcnha mudar comselho, e por iso oulhe bem vosa alteza ho que
asyna pera a imdia, que he tnuy lomge.
Em outra carta me faz saber vosalteza como pero mazcarenhaz vi-
nha aquy por capitam, com fundamemto de sachar aquy dom amlonio
tueu sobrin1lo, que deus aja: pagou bem a obrigaam que tinha a sua ley
e a seu Rey e senl1or, e todos temos; e a pero mazcarenhaz foy entregue
a forteleza ao outro dia dcspois de sua chegada, por espetarmos por el rrey
de oochinJ, e pubricamente se leu vosa carta peramte os casados da vosa
c.idade e fortaleza de cochim e toda a outra jemte d armas que comigo es-
70 CARTAS DE AFFONSO DE ALBUQUERQUE
tava, peramte vosos creligos e vigairo e el rrey de cochim com
toda sua jemte, e lhe foy totnada per n1im a menagem. .
Per outra me faz saber vos alteza em cotno deixa a mim a detrc-
tninacam dalguns prouitnentos que algas pesoas trazetn pera esLas par ..
tes per vosa carta. Eu, senhor, vos beijo aas rnaos por esa
1nas crea de min1 vos alteza, que emquamto achar vosos c1iadDs ou da
trainha nosa senhora, dalgos .e cavaleiros e escudeiros que vos qu am-
dam seruimdo, nam ey de dar vpsas tousas a outra neha pesoa, sal-
vante se fr per obrigaarn que eu saiba que lhe vos alteza te1n, ou per
criaam da senhora itfante, que deos aja, e da. senhora Rainha vosa ii' ..
ma, e da senhora duqesa, que qu rn enviam seus certos os
quaees cumpro naquelas cousas que eu creo que vos alteza ho a ver pQl,.
seu seruio, desas cousas da imdia.que sam muitas e abastatn pera todos,
e nam sam cousas que impidam vosos rrejimentos e
Em outra carta diz Yosalteza, que alem da son1a do jemjivre que
he ordenado per vos alteza e asy canela, se aja mayor soma que aquela .
de que son1os avisados: diguo, senhor, que toda fotn1a se daa pera s ave r
toda camtidade tl especearia que podemos, porque mioha detreminaam
he estar sempre nesta feitoria carga de dous anos e tres guardada o conl-
servada e etnfardelada, e o ali parece cousa de por esoarnho; c noso se-
nhor ajuda bem a voso prepsito, por sua piadade, e creo que vos alteza
ho ver cedo per obras, pois que lh ele aproue de uos meter tnalaca nas
1naos e todo governo e trato de ceilarn pera demtro, sem comtradian1,
e tirala aos arrenegados: e quamto he ao jetnjivre, cada aver vos
alteza mayor sorna dele, porque espertou n1uyto aos lauradores dele
preeura.-mos ns pollo aver, e nam duuido averse dobrada a sorna do que
desejaes.
Quanto carta em que vos-alteza diz acerqua da decraraarn da
je1nte e rrol dos acrecentados, e que se faa livro e asemto da jemte, asy
do mar como da terra, con1 decrararAm daqueles que per vosos aluaraecs
ouueratn ho dito soldo, e asy os que qu foram acrecemtados, etn espe-
cial} ho dos finados, sobre que l ha muita duuida; digo, senhot', que a
que est na imdia, he esta_: ns fazemos cabea primcipall do
asemkl da jemte a feitoria de cochim, e aly vem cada b.urn buscar sua cer-
tidam e seu pagamento e sua arrecadaam, e quamdo se em-
bora vam pcra portugall, e quelas pesoas que en1 V08a8 annadas rrecebem
soldo do tisoureiro da dita armada que he tristam de gaa e esprivan1 am-
I
CARTAS DE AFFONSO DE 71
\onio de sousa, pa.san1 cad ano hnm caderno das pesoas a que tem feitos
os .taees pa.gamentos, emderooado feitoria de cochim, ao tempo que as
nanos tomam sua. carga, por tall qne as sobreditas pesoas ajam finall
vArrladt'ira comta do que lhe hc deuido e Iene sua vf:'rdadeyra arrecada-
pera cscs rregnos; e esta mesmn maneira tem as feitorias de vos al-
teza, aas qoaees ead ano estas certidees e decraraees per
rlernos aa dita feitorin de cochim, sen1 a quall certidan1 se nam faz comt.a
aas pesoas que vem doutras feitorias ou armadas.
E tamto que 6S ofeciaees de cochim vm os ditos cadernos das pe-
. soas nomeadas, vam ver h o rresisto de seu livro, e se h o acham, fazem lhe
sua vetdadeira comta e seu verdadeiro despaho, e se l1o nam acham no
liv.ro, rremeten o a mim sem lhe darem despacho porque ho nam
aeharn em soldo ordenado. E as taees pesoas se vem a mim rreqerer sua
justia., os qoaees am mester muit.a proua, a quall he, omdc servyram,
em que armadas amdaram e e1n quall vieram imdia, omde seruiram,
se narmada no ou nas fortalezas, e se sam maryoheiros ou homeens
darmasou goMmetes; e emtam lhe mamdo que me tragam certidees de
seus capitees, eertidam dos esprivees dos ditos navios, e se sentiram
em fortelezas, dos capitees dus fortelezas; am de trazer sua certidam
dos esprivees e feitores d&s feitorias, dos almoxerifes dos mamtimentos,
fJUamlos meses r receberam seu mamtimento; e depois desta proua bem
crara dar juramento aa parte, e acabada esta delijencia, lhe mando
pasar bom aluar, que ho asem tem em soldo que vos alteza l ordena,
que he quinhentos is, porque da vimda do marichall comeeey eu de go-
uernar a imdia, e a que ele trouxe vinha toda com quinbemtos
rs; e se fora no ano que vos alteza deu seiscemtos.. seiscemtos lhe dera,
e se fora no ano qne vos alteza deu dons curzados, dous curzados lhe
dera, porque nam alo nem abaixo mais bo soldo que aquele que vos al-
teza l ordena, nem tiro aas pesoas ho que tinham, sem ,oso especiall
mandado:
Os esprwees darmada cadano mamdam a esla feitoria certidam
das pesoas faleeyd:is e do dia e era de se11 falecimemto, e os ofeciaees
dos defumtos emtregam ho dinheiro dos def11mtos com seus testamemtos
ao. feilor 1de cochim, e dy lhe pasam seus segumdo forma de
vosos. ftiejimentos.
, Ho rreeebimem&o do tesoureiro d arn1ada nam he do dinheiro das
feitorias, ho que as armadas amdam por .omde quer que

i2 DE
fiam, que sam paaeas, presas-, tornadias, fresgates de n1ouros, e vetnda
ti alga 1nercadaria de vos alteza que nas naos amdan1 pot fnnde quer que
h imos; paga se uaqqy soldos, casan1emtos, dadivas a embaxadores .de Rex
1nouros e senhores que vem a mim, e asy mesejeiros que vi o en1 nonlc
de vos alteza a e ses vosos seruidores c amig ts e qeles que vos pa-
gam trebuto e sam 'rosos vasalos; e n1amtimemtos pera arn1ada, e asy
algas cousas de qe s \rezes temos neccsidade, posto ,
1
ue das presas
(jUe fazen1os, aquelas tnercadarias que l sa.1n proueitosas, sempre
mando aas feitorias: fiz este oficio de tesoureiro d arrnada, porque ache
vosalteza sempre hlia pesoa a que se tome sen1pre rrezam de vosa fa-
zemda.
H o livro gue vos alteza mamda que vos mamdem, far se sy daqui
em dyamte, porque ha dons anos que nam vytn a cochirn, senan1 quatro
dias qne chegueyf quamdo hy ouoe deferema no rreinar dos ,Rex; sostive
aquele que vos alteza coroou: e porque na ci4ade e fortelez.a de oochin1
ficaua jernte e ndos pera segurama desc feiLo, me party logo em l1a
gal em busca darmada, que tinhaametade dela sobreealecut e atnetade
ao momte dely, e nam soube mais a delijemcia que os faziam
no despacho da jemte e suas al'recadaees, comfiamdo que as. cousas
estavam ordenadas de maneira que nam podia nimguem rrecebcr emgano
em seu despacho. -
Os que vos alteza pedee, leva os h o feitol' comsigo pera sua
comta, porque no. livro do pagamemto dos soldos da feitoria jaz 1cida esa
decraraam, e se os vosalteza quer cadano perafer.se ba hy npvidades
d asemtos, ou. as calidades das pesoas que vps qu servem, e asy a certeza
das pesoas que em voso servio falcem, h&mny bem qne C:tilano vaa a
vos alteza ho tr-elado do litro da jemte da imdia e asy dos que sam fale-
cidos, com as Jl}ais decraraees que em vosa carta vem; e se vos alteza
manda que volo levem pera a verdadeira comta dos pagamemtos dos sol-
dos das pesoas que de qu vatn, posto que levem suas
ano ha hy em que se nam vay nimguetn de que se fara (sic) livro, e s
vezes se vam dous e tres; parece ore que do tam pouca jetnte nan1 se
pde fazer livro, porem comtudo eu mamllo y ca11a de
teza na feitoria,. e mamdo que cad ano faam as ditas delijemcias fios fa
lecidos, que me parece cousa IDU)' necesarea, porque por 11osos pecados
sempre hy ha hila piqena de costa desc feito; e se alga destas delijem-
eias vos alteza nam viir muy imteiramente rompridas, saiba que nam sam
CARTAS DE AFFONSO DE ALBUQUERQUE 73
eu na terra, e que a vos armada toma sua acitaa1n ( sic) e caminho
omde ha mamdaees.
Per outra me faz vos alt.eza lembrama do imdio que de l vos alteza
emviou; ser bem tratado, agasalhado e omrrado, e naquelas cousas de
voso seruio pera que ele for pertemcente, ho emcarregarey; e esas cou
sas aproueitam qu, porque nam mataram os mouros de cananor
mouro que vos alteza de l em vi ou e forrou, senam porque comtou
gramdezas de voso estado e a multidam das naos que avia em lixhoa, e
as mercees que de vos alteza .rrecebeo; e imdo de cananor pera caleeut
c.om esa nova, foy apagado no caminho. _
Em outra carta mavisa vos alteza do partido e mercee que vosal-
teza a framcisco pereira capitam de quilua, nam averdes por uosO
seruio dardes lho, e o mais que se na carta eomtm: digno, senhor, que
eu mamdey amtonio de saldanha ha carta, comforme ho que me vosal-
teza mamdou per rrejimento e cartas acerqua das cousas da costa dalem:
creo que h o trelado de tudo ser dado a v o; alteza, aimda que por meus
pecados ho mao da segumda via, que dey a rrogo de tristam de ga a
hum seu irmo que chamam amtam de -gaa, se foy meterco mao da
meira via, que era gonalo de siqeira; ho quall se ho vos alteza nam
castiga, pareceme, senhor, que lho ha deus de dar; porque governar
vos alteza hiia terra de tam lomje, e a verdes d estar aguardam do polos
rrecados do riegoceo todo e detreminaam do voso capitam mor e
na.dor da imdia e homem prouer as cousas em duas naos e tres, e fazer
esse homem bl1a tam dcsemvergonhada malclade, creo eu, senhor, que
nam pasar este feito amte vos alteza sem castigo, porque vos toca muyto;
e mais bem sey qu ha vosa alteza de saber a causa por que ho. ele
Amtonio de saldanba mamdey prouer aquelas cousas da bamda
dalem, na maneira que ho vos alteza mamdou, porque tinha l tres na-
vios; e abaixo de tudo iso e':l pus algas cousas de minha casa, que me
pareceram voso serttio, e at ho presemte nam tenho visto Reposta dele,
somemte per este navio que diamte de meu sobrinho veyo, fuy eertefi ..
cada que framcisco pereira nam estava bem com os de quilua e aimda
co1n a jemte .da forteleza, e o alcaide mor nam veyo muito comtemte dele:
vyr meu sobrinho dom garcia embora, que feitura desla aimda aquy
nam he, e mamdarey mais imteira emformaam daqelas partes a vos
teza, e com todo far se ho que vos alteza mamda na mesma carta. .
Em ou\ra carta m avisa vos alteza que das especearias e
tO
'
7i CARTAS DE AFFONSO DE ALBUQUERQUE
que em vosas feitorias ouuerem e poderem a ver, nam se d em paga-
mento a nimguem por divida que lhe devam, nem lhe sejam dadas por
preo nem per c.ompra. Digo, senhor, que. vos beijo as m3.tios por ese
feito, porque ho fauor da vosa armada e do voso capitarn moor e suas
delijemcias faz dar a carga aas naaos, porque sem esta nam me
parto eu pera nehum cabo, porque ho jemjivre que eu ajuntey em cana-
nor, nam se deu aas pesoas que ho l levaram per meu mamdado; pera
as vosas naaos ho busqey eu; e nam digo mais deste feito, porque sam
cousas j pasadas; e agora que vos alteza quer que se iso proueja, est.ar
tudo a boom Recado, aimda que qem he Rey e senhor de malaca, bem
pde partir com seus amigos. Porm digo isto polo jemjivre, que he mao
dajumtar a copya que vosalteza quer, por amor da. guerra que temos
com calecut, imda que me parece que daquy a dous ou tres anos se far
quamto vos alteza quiser, que na ilha de goa .se poder aver gram soma
dele, porque he terra da feiam de calecut e cananor, e fazse muyto
boom e nela.
Outra carta vy de vos alteza sobre a ida de gonalo femandez: certo,
senhor, ele he homem avisado, tbmou a sy este modo de viver, e algtlas
pesoas se anojatn dele, e creo que os homeens nestas partes nam se da-
nam senam se lhe homem d azo e jeito de sy pera iso, e ele he homem
avisado e descreto, e se homem que a quiser, saber ele milhor fazer htia
maldade que os outros, porem eu ho achey sempre hoom homem; posto
que em algum tempo me fezese ms obras, achava emtam em que pacer
e amdava mais anafado; l ir todavia ao tempo de sua embarcaam.
Per outra de vosalteza fuy avisado de como as naos chegamdo bo
porto de cochim ou cananor, omde quer que tomavam suas cargas, era
logo toda jente em terra: certo, senhor, quaa me pareceo muy mail feito,
e j algas vezes avisey ho alcaide mor de cochim e capitam de cananor
que taU cousa nam comsentisent; e posto que a imdia estee hum pouco
emfreada, todavia ho boom custume sempre he bem que se faa peta ficar
em vso, porque se ns tivermos imigos aa porta que tiveram boas galees,
creo eu que nam tomarant sua carga sobre hum estrem, e hum co que
ladra a bordo, como aas vezes eu sey que estam, e nam omde eu estou;
porem fars.ho que vos alteza rnamda, com mayor cnydado, imda que os
homeens de qu sam muyto mimosos de vos alteza, e eu os trago muyto
mais, pola necesidade que deles e portamto pasam aas vezes por
estas cousas folgadamente, posto que fiqem avisados por mim.


CARTAS DE AFFONSO DE AIJBUQUERQUE 75
Na seda que 1ne vosalteza toqua en1 outra carta, digo, senhor, que
doje avamte, com ajuda da paixam de noso senhor, quamta quiserdes po-
derees aver, porque toda a de a1natora est em vosa ,mo e toda a dos
cl1ins e toda a d urmuz: h o preo da d urmuz nam crea vos alteza que a
faraola de l vali em vrnluz a trimta serafins, cotno a eu da outra vez
oomprey pera vos alteza, posto que ha d urmuz he em peso Cara-
cola e meia de cochim, pouco mais ou menos; nern ho aljofar e perlas va-
lem ho preo por que as l comprey pera vosalteza, porque cojatar at
.. fin1 do juizo l1a d escurecer as cousas d urtnuz, porque h e mui lo avisado e
muito ten1ido, e pode o fazer: a seda dos chins vali a faraola em malaca
a catorze e quimze curzados, e case toda l1e bra1nca, be ho babar de
tl'o quin1aes; a de amatora vali a (sic) a seis curzados e a sete, he
ho babar de quatro quintaes: l levam a vos alteza amostra de tres;.
a de que se vos alteza mais comtentar e l se fezer mais proueito, se
dar quamta camtidade dela quiserdes, porque as vosas naos da orde-
narna que vosalteza ouver por bem que cadano vam carregadas de pi ...
. menta do malabar pera os chins, nam traram outra mercadaria senam
seda, ouro e Rui barbo, porque os jumqos de malaca amdam j gora em-
voltos cos chins, e vam l e vem, e nam he navegaam tam lomje .como
vos l fazem entender, amtes he muito perto caminho, senam estes imi-
gos da fee se1npre folgam d escurecer todalas Riqezas da imdia: esprita
em eochim a xx dias dagosto: an1tonio da fon1seqa ha fez, de 1512.
(Por lettra de Alfonso de Albuquerque) feytura e servydor de vosa
allteza
Afomso d alboquerque.
(Sobrescripto) A EIRei noso senhor
1

CARTA XI
1512-Agosto 20
Senhor.-Per Johan1 serraam n1c foy dado hita carta gran1de en1
capitolos apartados per sy, ho quall aquy rrespomdo ern cada capitolo per
sy a vos alteza.
t Torre.do Tombo-C. Chron. P. t., M. ii, D. 66.
76 CARTAS DE AFFONSO DE ALBUQUERQUE
.
Item. No primeiro capitolo me faz V. A. lembramca do que me tem-
des esprito sobre acotor, e asy algas rezees que vos moveram, por
omde parece voso servio alevamtarse de todo. Digo, senhor, que pelas
mesmas Rezees que V. A. daa e pela dita forteleza ser pouco prueitosa
e obrigar a muito, eu mamdey alevantar a dita forteleza e rrasar pelo cho,
e trazer algas molheres cristas e asy outras pesoas que se quisesem viil
por sua vomtade, e mamdey a este feito diogo fernandez com tres naos,
pera n1aver hy desperar, com fumdament_p demtrar bo mar rroxo e de ir
imvernar a vrmuz, e lhe rnan1dey que m aguardase at meado ho ms de
mayo, e nam imdo, que tne fose aguardar a vrmuz, e nam chegamdo eu
a vrmuz, pedise as pareas e se viese embora; e elle fez tudo com 1noy
boom recado e boom cuidado, e como pesoa de que se deue comfiar toda
cousa, e V. A. ho deuc de ter ne: ta comta, e deve daver prazer de a
l'osa guarda roupa criar hun1 tam boom homem e que tam boa conta
sempre quaa deu de sy e dos carregos que lhe pus nas maos.
Item. Per outro capitolo diz V. A. que a forteleza d cochim e ca-
nanor sejam sempre bem prouidas de rnamtimemtos. Digo, senhor, que
mquamto eu aquy amdey sobre as forlelezas, sempre elas tiveram boons
payoes, e agora que vim de malaca, asy mesmo as achey bem providas;
e asy mesmo a de goa bem socorryda foy das outras fortelezas e de vos ar-
mada e capitaees que na imdia ueixey, e bem defemdida aos mouros; ver-
dade st que os capitees de cochim e cananor sam s vezes mais com fia-
dos uo que eu querya, porem tudo se poer a muy boom recado o ajuda
do muy alto detts.
Item. Per outro capitolo diz V. A. que a forteleza de cochim vos
parece hum pouco pequena e de pouco gasalhado. Digo, senhor, que asy
mo parece a mim, e portamto com muita delijerncia mamdey logo fazer
ha cerqua pera a bamda dotnde varam as naos, maneira dalbacar, a
quall vay j em boa altura; vayem quadra hum pouco perlomgada pera
omde estam as naos, e vem erntestar no muro da mesma fortaleza, de ma-
neyra que os cubelos da forteleza guardam a e os lamos do al-
bacar, porque os corre a artelharia de lomgo a lorngo; fao lhe ha porta
pera ho mar e outra pera as naos, e fao lhe dous cu belos ns dons
tos que vay pera a bamda das naos; ey de fazer cimqo naves de casas ao
travees deste albacar, com as portas pera a bamda do mar; as quatro sam
pera as mercadarias, e htla he pera h o almazem; e os mamtimentos fao
fumdamento de os alojar demtro no apartado da forteleza em payoees:
cARTAS DE AFFONSO DE ALBUQUERQUE 77
estas cimqo naves am de ser de call e catnto, cubertas de chumbo, e de
demtro muy bem obradas e tnuy ben1 lavradas, e parecen1e que nam ha
menos mester, se nesta feitoria ouuer dacudir todalas mercadarias do rre-
t.orno das vosas feitorias, colno qu fazemos fumdamento, por bm da
carga que as naos aqny am de vi ir setnpre tornar, e aimda me parece pe
quenas estas quatro naves, porque a carga de malaca, que aqui ha destar
deposito de tres anos, faz gramde valume, porque vem emfardelada; e a
carga d emxohregas nen1 no castello nem fora dele nana p o d ~ a m o s a ver
agasalhada, tan1 gramde valun1e faz: farA> fumdamento de fazer a torre da
menajem desta forteleza pegada no mar, no baluarte que est sobre a
porta do castelo, ho quall baluarte tem hum soo sobrado ; creo que vyr
asy desta maneira rnuy fermosa a fo11eleza, e as feitorias e mercadarias
que nela estiverem, estaram muy guardadas e muy seguras, e co ajuda
de deus, ~ oje a dous anos seram hoas pera ver a riqueza que se nelas
achar de todas partes; e fica asy a forteleza desta maneira que dito te-
nho, de hoa gramdura, e ho corpo e cerqua dela primeiro fica por
apartado. .
Em outro capitolo diz V. A. que eu vos tinha esprito ho fundamento
'lue tinha de me ir ajumtar com duarte de,lemos. Digo, senhor, que eses
eapitees e cavaleiros que em minha companhia eram, vos diram como
1ne pus cm can1inho com vosa armada c detreminaam de comprir ho que
vos tinha esprito: trouue me noso senhor a goa e me desviou dese cami-
nho; nam sey dar outra rrezam de mim, senam que as cousas. de deus
lhe homem d obedecer e to malas po milho r, porque vim te naos de cas-
telos davamte que ficavam em goa e em camguiar, e goa que nam lei-
xava j navegar nehlla nao com voso seguro, nam eta pera desimular e
leixar este feito detrs das costas; e pois que a noso senhor aprouue de
saeabar, tomay a por cousa muy gramde das maos de deus e por cousa
muy primcipall pera a impresa da imdia, e nam digo mais, porque ela
dar testemunho de sy. E quamto a mais vir contrariada dos imigos,.
tamto mais m esforo a dizer que s acabou hum dos mayores feitos e. mais
proueitosos da imdia que V. A. podia desejar: prazer noso senhor qne
a comservar e defen1der de seus imigos, e que aqueles que a agora
guerream, ela os far imda vosos trehutareos.
Em outro capitolo diz V. A. que se faam quamtas presas, mail e
dano que se poder fazer em todolos lugares e naos que se demtro no
mar Roxo acharem: certo, senhor, minha temam hoa he nese feito, e
'
78 CARTAS DE AFFONSO DE. ALBUQUERQUE
hen1 sabem os mouros da imdia que lhe nam ey de criru os filhos, e aque-
tes que sam de guerra e me caem nas mos, de maraYilha am de toroat
a soa :terra: demtro do estreito ha ilhas em que pescam gramde camti-
dade daljGfar, sam piquenas e e chegamdosc aa costa dos abexins,
est dalaca e outtas ilnas Ricas, em que hy ha bem que Roubar e tomar,
porque estas seu oficio he comtinuadarnente resgatar ouro dos abexins.
Em outro capitolo diz V. A. que se asemte trato cm zeila e bar-
bara em maneira que seja mais voso servio. Digo que, leYamdo 1ne l
nso senhor, se far ho que mais voso servio for; porem eu querya que
os mouros nos visem milhor arreigados na imdia, pera nos averem por
,ezinhos e nam por ospcdes e caminhantes, e emtam Receheryam milhor
,osos tratos e nos dariam suas mercadarias e tomariam as nosas; e nam
pase V. A. por isto que vos digo, esta he a cousa que vos mais
dano tem feito a vosos tratos e a vosas mercadarias, porque ho tenho eu
quaa visto por esperyerncia; con1o nos melhormos en1 algum lugar, logo
nos recebem milhor nosos tratos e companhias, vemdas e compras con1
eles; e sotnos j gora mylhor recebidos e1n seus portos com a tomada de
goa: e calecut qcn o manteve ele at gora em sua cmganosa deLrenlina-
senam cuidat que avemos ns de deixar a in1dia e que os Rumis
nos am de botar fora dela, e os mouros, que escurecendo seus tratos e
suas mercadarias, que nos emfaremos (sic) e que nos e nam rece-
llem neba opresam de lhe tomaren1 ha nao, nem dez, nem vitnte, nem
trim1a; todo seu feito est em asenl1orearem ho mar da imdia, comoMyam,
e ser todo ho negoceo da imdia ajacemte a eles sem comtradiam, como
era da primeira, e mais am por pecado tratarem comnosco, vemderen1 nos
as soas mercadarias, desfazermos ho trato de mequa e sua romarya.
Per outro capitolo me diz V. que asemte paz com toda a terra
do . malaoor, liran1do calecut, sal vamte se rreceber as comdiees que V.
A. Digo, senhor, que toda a terra do malabar dasesego
comvosco e rrecebe vosos tratos e mercadarias, e asy ho farya calectit,
se V. A. pera iso dse lugar. Esta guerra de calecut nam vejo proueito
que dela se syga, pois que nam determinaees de ho asenhorear; e aimda
dirya, que se lhe querees tirar h trato de meqa, que com paz e trato
com ele sobre ho jemjivre, em que tamto vay, ho podees fazer milhor
que com a guerra; e . se lhe querees fazer a guerra, seja de verdade e
metei lhe ha vila de madeira demtro na metade do seu arame e arra-
_salo todo por terra, porque nam vy cousa em calecut de fora; e ho aque-
CARTAS DE AFFONSO DE ALBUQUERQUE 79
cido parece aoute de deus, porque eu nam vy duzemtos naires, e vy os
cemto deles estirados aas portas dei rrey, e l1o goverl)ador da cidade coro
alguns caimaaees; e h o noso desbarato foy desemparo, que deixaram hy
dez doze bomeens decepar; alguns outros que faleceram, era de jemte
que nam quis volver com seus capit.ees, nem lhe lembrar a ohrigaam
que tinham; a jemte solta que an1dava por esa cidade a Roubar e os nai-
rcs a rroubar, na casa omde s acertauam, os mais venciam os mais ,pou-
cos, e os naires que daly arrcn1caram comnosco, que nos ''inham la-
drando detrs das costas, seryam sesemta at setenta, e ,ia hir dyarote
mim lutm corpo de jemtc de quinhentos ou seiscentos. homeens, sem ne.-
hum deles pregtimtar por seus capitees mores; e quamdo volvy. da di
amteira, omde hia com n1inl1a bamdeira, dizemdo me que pelejava ho ma-
rychall, nam chegou comigo on1destava ho marychall senam a minha ban-
deyra e diogo fernandez; acabou aly a minha hamdeira, que leva,a gon-
qehnado, valente homem de sua pesoa; asy, senhor, que nam ,.y
fora em calecut pera que lleixees de lhe pormos as n1os, quamdo man-
dardes de verdade; e se a querees destruir per guerra guerreada, ba
mester hila .armada acupada sempre sobrela, e armada da imdia nam he
tam gramde que se posa dela fase r dous corpos: porem se me V. A.
gurar dos arrufos delrrey de cochim e de cananor, s qerem .
ver esta porque ficam caimaees de todo, a mim me parece que eu
a\erey todo ho jenjivre de calecut sem trato nem asemto, e lhe tolh.erey
toda a navegaam de meqa; e metendo me neste negoceo, com ele per-
der ho medo que \os tem, e receber forteleza de vos alteza, porque a
meu ver el rrey de calecut ha tam g1amde medo de vos.alteza,, que lhe
parece que nam quer vos alteza trato e forteleza em sua terra senam pera
ho destruir, e ajuda o a isto ser homem ein que ha pottca verdade, e pa-
rece lhe que lha nam falar nimguem, e poso lhe a ver todo h o jemjivre
sem comfiar dele hum homem ; porem h e necesareo que, se vos deren1
todo ho jemjivre de sua terra, que lhe deixees viir os mamtimemtos a seu
porto, e fique se1nprc em aberto cada vez que V. A. lhe quiser pOr as
mos, e nam perderees tam gramde soma de proueito, se ho jemji,Te l
tem esa valia que dizem.
E diz mais vos alteza que asy mesmo asen1te com malaca: ela.DfWl
quis rreceber voso trato nem ase1nto, e cuidou que nam eranaos homeens
pera ousar de p<lr ho pee em terra, e mais que su armada que fez, nos
desbaratariam; c se fez forte em e comfyou que a mouam que vi-
'
80 CARTAS DE AFFONSO DE ALBUQUERQUE
nha cedo, nos lamaria fora de seu porto, e amdou sempre comnosco em
pomtos, e fezeram nos sempre oitocemt.os. homeens, e eu ereo que nam
eramos mais jemt.e pronue a noso senhor e a nosa senhora que
nos deu vitorea comtra eles: despois de muitos requerymeotoa e protes-
taees que lhe fiz, e ho desbaratar l1a vez e tol'nar lhe a largar a cidade
sem dano nehum, nunca quis vyr a com certo; e ho negoceo de malaca
me pareceo cousa ordenada por deus, porque nam souberam comservar
seu estado com muyto dinheito que tinham, nen1 com trato e ascmto de
V. A., que lhe tam bem vynha, nem com fora de jemt.e e artelharia,
temdo gram soma della. .
Per outro capitolo diz V. A. como gaspar da imdia metera qu em
vso ton1arem os n1ercadores mereadarias fiadas, e pagarem em pimenta.
Digo, senhor,-que gaspar da imdia sabe milhor fazer seu proveito qu
nestas partes que h o de vos alteza, porque uosos ofeciaees comearam ese
negoceo, e vay agora em tarn gram crecimento polos preos que as vosas
mereadarias tem em cambaya, naqueles lugares e portos daquela costa
omde tratam, que tomarm das vosas quan1tas lhe quiserem
dar, e todavia se lhe d gram soma dela, tnas he com boom temto; tem
l agora esta valia, porque das mercadarias desta sorte que soyam entrar
na imdia per via do cairo e nam ve1n; V. A. saber l ho que isto he:
espri&a em cochim a xx dias d agosto, amtonio da fomseqa ha fez, de
!512.
(Por lettra de Albuquerque) fe)rf.ura e servydor de vosa allteza
Afonso dalboquerque.
(Sobrescripto) A eiRey noso senhor
1

CARTA XII
1CS12-Setembro 80
Senhor.-Asy con1o as cousas da iindia sam governadas per nosg
senhor, asy amostra a vosalteza ho e ''erdadeiro comseJho nas cou-
sas de qu, porque armada que leixastes de matndar a malaca e estano
t Torre do Tombo-C. Chron. P. t.a, M. 22_, D. 6,.
,
CARTAS DE AFFONSO DE ALBUQUERQUE St
veyo aa imdia, e asy as outras naos, jemte e armas, vieram a tempo em
que a imdia amdava Revolta e desasesegada com a vymda dos Rumis, e
as primcipaees naos da vos armada de quaa da imdia derrybabas, como
per outras cartas mevdamemte tenho esprito a vos alteza, e a milhor jernte
que tinha e as naos novas de goa ficarem em malaca e eu soo em cochim
com emxobregas, e em goa cimqo navios piqenos e a nao nova que se fez
em cochim, toda esta jemte, navios e forteleza, sem nehua arma nem
lama: chegamdo est armada, naos e jemte e armas tam cedo e tam im-
leiras, e asy a errada vyajem de meu sobrynho, que pareeeo misteryo de
deus, fizeram a imdia tam mamsa e tam asesegada, que nam ouue hy
mais nehum Rumor nem aluoroo, nem mouro que ousase de falar em
vimda de Rumis: eu abaley logo com todarmada caminho de cananor,
deixando os cofres e feitores das naos em cochim Recebetndo sua pi-
memta em casas, e fazemdo suas cargas, em taU maneira que tornamdo
aas naos, em quinze dias podesem todas tomar sua carga cada ha per
sy, sem ave r hy mais pejo, nem cousa que as detivese, e este impito dos
Rumis, se vyessem, apagalos em tall maneira que nam tornase nehum.ue-
les a sua terra.
Tamto que for em eananor e a vimda dos Rumis segura, vyr neste
tempo a nova de malaca, e as naos tornarn1 tomar sua carga, que ser
meado outubro; e o que agora poso dizer a vos alteza da detreminaam
em que fico, he ter dyamte dos olhos adem e vrmuz por cousas muy ne-
cesareas, e de necesidade se averem dacabar: nqso senhor sabe ho que
ser mais seu seruio, e omde querer emderencar meu preposito e minha
detreminaam; e o pejo que neste caso tynha, que era desfalecimento de
pesoas domeens pera os taees carregas e ajuda minha pera os taees fei-
tos, fra estou dele, pois que vos alteza acudio em tempo e com taees fi-
dalgos e cavaleiros, e com taees naos e aparelhos de guerra, que tudo se
deve de cometer; e a noso senhor lh aproou e d amostrar vos a necesidade
que a imdia tynha e o feito de malaca que tinhamos nas maos, e o mais
pera que comvinha socorro e ajuda de vosalteza: esprita en1 cochim a
xxx dias de setembro de t5t2.
(Por lettra de Albttquerque) feytura e servydor de vosa allteza
Afonso d alboquerque.
(Sobrescripto) A el Rey noso senhor'
t Torre do Tombo.-C. Cbron. P. t., M. li, D. t2.
82 CARTAS DE AFFONSO DE ALBUQUERQUE

CARTA Xill
1612-Setembro 30
Senhor.-A mim me diseram quaa que vos alteza tinha hum cas-
telo de madeira que abastaria pera cinquoemt omeens ou sesemta; terey
em mercee a vosalteza mamdarmo, porque he cousa muito necesareo
pera IJgo segurar quallquer cousa de que quiserdes que )ameemos mao,
e daly em diamte lavrar se a forteleza, ou quallquer outra obra que com-
prir, porque j por vezes me vy em gram neeesidade diso ; e aimda pera
quallquer lugar que comprir destruir se de todo, nam ha hy nehtla cousa
tam boa como he meter demtro hum castelo de madeira, pera dy ho
poer per terra, e levamtar ho castelo de madeyra, se comprir leixalo, e
pera quaeesquer outras cousas piquena& e gramdes omde comprir ter cim-
quemtomeens ou sesernta: toda,ia mo mamde vosalteza, porque asy em
malaca, vrmuz e em goa sempre ''Y dJsposysam e cousa em que me fora
muy proueitoso; porta1nto vos beijarey as maos todavia me viir, e se a
deus aprouver, eu ho terey milhar gramjeado do que qua foy a vila de
madeira que quaa mandastes; e venha muy comcertado, e mestre dele
que h o sa yba . com certar, com h o armemos, e nam seja muito gramde:
esprita em cochim a xxx dias de setembro de i512.
(Por lettra de Albuquerque) feytura e servydor de '?asa allLeza
Afomso d alboqucrque.
(Sobrescripto) A elRey noso senhor'
1
Torre do Tombo-Gav. t ~ . Ma. t9. N. 26.
CARTAS DE AFFONSO DE AI4BUQUERQUE 83
CARTA XIV
-Outubro 9
Senhor.-Os capitees da soya chegaram per detTadeiro na nao
eonceiam, e asy alguns homeens de bem cabos desquadra e fez me vos al-
teza a mayor mereee do mumdo, porque mayor medo ey no desarramjo
da jemte a pee quaa nestas partes, que en1 cometer quallquer feito, e
quamdo homem achar hum corpo nas costas, mais poer as
maos obra: sam muy bons homeens e eu os trato homrradamemle, e
trabalharey por lhe aproueitar com as migalhas da imdia; fazem trezem-
tos piques, cimquemta besteiros e outros tamtos espimgardeiros, e esta
he a detreminaam em que agora ficamos.
Item : senhor, acerqua das naos da carga que est ano vieram de por-
tugall, e asy as de dom garcia; eu tomey por fumdamemto de irem estano
a vosa alteza xxxbiij quintaes t de pimenta e drogoarias, que poderiam ,
alojar as cimqo naos novas; e porque a nazar estava hum pouco duvi-
dosa, se poderia a carga seguramente tornar nela, eu mamdey a iso mes-
tres, pilotos e carpimteiros ajuramemtados, e polo que neles achey, n1e
pareceo voso servio nam se avemturar a carga nela e que seria milhor
ir em hlla nao nova, pois que a nazar era nao que de necesidade avia
de levar mill e quinhemtos quintaees de carga menos que a primeira, de
maneira que ficava em sete mill e quinhemtos at t>ito mill quintaes, que
pouco mais ou menos carregam as naos novas: fica tambem sani pedro,
porque de hlla bamda e doutra Rompeo liames no monte que pOs em
moombique. E fica samta n1aria da serra, nao que poder muy bem
aguardar ho ano que vem : a nazar far de Ires caminhos hum, ou ir
com mercadaria a malaca, ou com pimemta a vrmuz, ou com carga d es-
peeearias a moombique no ms de fenereiro: esta he minha detremina-
am ao presemte, ho que qepois soceder, deus. ho sabe ; e se pela vem-
tura as cousas de goa e malaca socederem como homem espera em deus,
e que me nam obriguem, ao estreito com ajuda da paixam de noso se

' Trinta e oito mil quin 'aes.
tt ...


'

-

8 ~ CARTAS DE AFFONSO DE ALBUQUERQUE
nhor espero d ir. E com esta jetnte da ordenatna, sem do 11oso senhor
em minha ajuda, nam ey por nada adem, nem jud, pera lhe deixar de
pr as maos Rijo.
Item: pero mazcarenhaz tomou juramemto nos samtos avamjelhos,
que ele lhe ficara ho alvar de suas quimtladas na casa da imdia, e so-
memte no caderno vynha seu soldo. E porque vy a jorje de rnello trazer
quimtladas e soldo, parece me que deu ia de ser asy: emtam lhe rnamdey
carregar est ano aquele que lhe coube de seu seruio, e ele me deu hum
asynado de sua mao, que nam serndo verdade que ele tinha tall aluar,
que a pimenta fycase por vos alteza, e neste caso t:a]l sempre deu ia de
viir mais decrarado, pera homem saber ho que avia de fazer, posto que
j nam venha caderno de quimt1adas.
Item: as quintladas imdia ficam agora nesta maneira: a todo homem
que nam he voso criado, nam se carrega quimtladas da vimda de gom-
alo de siqueira por diatnte, 111as paga se aquele ano segumdo forma' de
voso man1dado, e aos vosos criados carregam lhe aquele ano ; e est ano
desta carregaam pagam se lhe suas quint I adas, e aos piees nem a nehfia
outra pesoa narn se paga mais nehiias quintladas, porque vos alteza m es-
preveo, dizemdo que os escudeiros averiam dons cruzados e os piees
averiam quinhemtos rs, e os degradados narn averyam soldo, e que bons
nem outros nam averiam quintladas. E porque vosa1teza nam falou na
paga dos tres anos, como tinhees ordenado, fiz fumdamemlo que se lhe
nam avia de pagar 1nais tempo que est ano aos vosos criados e o pasado
a eses piees e jemte me v da; e os capitees somente ficam agora com
quintladas, asy os das fortelezas como os das naos, e alga outra pesoa,
se tem alvar de vos alteza agora novamemte; os navios que dou com as
mes1nas quintladas que os outros trouxeram de portugaU, as am de mim:
e foy boom comear vos alteza laa ese negoceo das quintladas, porque os
Recebe1n os de quaa com menos escatndollo; porem as quintladas atrs
da vinda de gomalo de siqueira, as que sarr1 deuidas se carregam aos
homeens e mais nam: esprita em cana no r a ix dias d outubro de 1512.
(Por lettra de Albuquerque) feytura e servydor de vosa allteza
Afonso d alboquerque.
(Sobrescripto) A El Rey noso senhor
1

t Torre do Tombo-C. Cbron. Part. 1. .Ma. li. D. 13.
CARTAS DE AFFONSO DE ALBUQUERQUE 85
CARTA XV
1512-Outubro 11
Senhor.-A mim me pareceo voso seruio fazer com elRey de ca-
nanor que todavia tirase este seu alguazill de cananor e posese outro, e
creo que se muito tardara en o fazer, que m ouuera d obrigar a mais, por-
que ele tem tres cousas pera nam poder deixar de ser; a primeira h e
pouco siso, a segunda he ser amigo dos tnouros, a terceira he ser muy
gram tirano e cobioso; e trazia nos tam Revoltos e tam cheos de desase-
sego todolos moradores de cananor e a forteleza, que parecia que agora
novamente comea vamos d asemtar na terra; e cl1egamdo a cananor lnam-
dey falar a elRey, elRey duuidou de ho fazer; emtam fiz huns capitolos
comtra ele, os quaees sam estes.
Item: primeiramemte, que ele tomara toda artelharia, pimemta e ou-
tras cousas muitas das naaos que se perderam nos baixos de padua, e
nan a qerya tomar.
Item: que matara arevol1o, por ser servydor de vos alteza, e vosos
oficiaees da feitoria e capitam da forteleza confiarem n1uito delle.
lten1: que mandara matar hum 1nouro que l foy n armada do viso
Rey, que vos alteza quaa tornou mandar, por dizer que vira muitas naaos
e jemte em lixhoa e outras gramdezas de vosalteza.
lte1n: que nam leixava vi ir nehum n1ercador tratar a vosa feitoria
nem falar ao capitam e moradores da forteleza, sem sua licetna.
Item: que matara ho natury primcipe de cananor com peonha, por'
ser servidor de vos alteza.
Item: qtte calecut navegava todo cos seguros {}Ue lhele ve1ndia e
pedia na fortaleza, em tall maneira que ho arroz era mais de barato ern
caleeut que em eananor.
Item: que era muito liado com mamalle e com outros mouros que
nos querem mail, em tall maneira que se nam fazia na terra senam ho
que eles mamdavam e queryam; e como hy avia novas de Rumis, nam
vemdiam pam na praa aos portugueses.
Item: que avemdo fres anos que nam viera a cananor, temdo lhe
'
'
86 CARTAS DE AFFONSO DE ALBUQUERQUE
vosalteza feito muita mercee e eu dado dad.ivas, boom trato e gasalhado,
chegamdo agora a cananor achara a cidade toda despejada, como jemte
posta em alga maa detreminacam, ou detreminada em ajudar os Ru-

IDJS.
Item: que tinha destruido pocaracem voso seruidor e o nam leixar
viver por ser voso amigo.
Item: que tinha destruido ho alguazill velho, por vos ir seruir a goa
com jetnte, e telo enearrado etn casa com naires que ho guardavam.
Item: que mamale se fazia comquistador das ilhas com seu fauor, e
que el rrey de cananor per seu comselho dera ho nome de rrey das ilhas
a hum irmao de n1an1ale. .
Itetn: que as naaos e mercadores d urmuz eram Roubados e maU
tratados deles, serndo lugar de vos alteza.
Item: que ele e marnalle fezeram ha armada de muitos paraos e
jemte, e se foratn em busca dos Rumis, que deziam que vynhan1 ao lomgo
da costa, estamdo eu etn malaca, e goa cercada de mouros; e daly toma-
ram as naos d urmuz per fora d armas sobre meu seguro, e os fizeram
viir a cananor. por fora.
Item: que hum guzurate seruidor de vos alteza e de vosa forteleza,
com seu Inedo de ho narn matarem, como fizeram aos outros, se tornara
em espia c dcscubrydor de todos nosos segredos, e hum seu sobrynho,
que premdera nese mar, e lhachara muitas espimgardas, que levava pera
os mouros, e como levara polvora, emxofre e salitre aos mouros que fa-

ztam a guerra a goa.
Item: mais em tempo do governo deste alguazill cercaram os nlon-
ros a forteleza dei Rey noso senhor per seu comsimtimento, e lhe fizel'atn
a guerra ele e eles, scrn aver hy causa, podemdo ele estorvar com seu
oficio, e no mestno caso foy n1ais culpado que os mouros; e agora per
derradeiro fuy avisado pela molher-e filhos de cojebequy, que estam pre-
sos em calecut, que nos querya tornar a tomar a forteleza, quamdo me
vyo fora da itndia.
Mostrados estes capitolos a el Rey, alguns deles confesou, outros
uegon, c a outros deu algas escusas e rrezees etn defesa do seu algua-
zill, escusamdose nan o tira, porque hc ho1nem mole e governado por
ele: quamdo vy que todavia ho querya ter, lhe mamdey dizer, que em
quallquer terra do mundo omde ouuese justia, nos dariam hum juiz sem
sospeita, que cmtendese em nosas deferenas, e que todavia nos devia de
CARTAS DE AFFONSO DE AIJBUQUERQUE 87
dar outro, vemdo como este era comtrairo a voso seruio e cheo de todo
desasesego; e peramte hum seu esprivam que lhe este rrecado levava.,
mamdey dar juramento dos samtos avaamjelhos aos vosos oficiaees e ao
capitam da forteleza, que mais nam Recebesem ho alguazill demtro na
forteleza, nem fizesem mais comcerto com elle, nem compras, nem vem-
das, nem preos de vosas mercadarias, nem lhe cousa ne-
hua; e quamdo alga cousa comprise, que ho Cosem falar a el Rey; e
asy lhe mamdava que nam desem seguros a naos de cananor, e abastava
navegarem sem seguros, pois que vos alteza asy mamdava; e asy lhe man-
dey que natn comprasem h o jemjivre a cananor, e lhe fiz logo peramte
ho esprivam dei Rey quaremta seguros pera os pagneres de calecut, di-
zemdo que quem trouxese ho paguer ca1regado de jemjivre beledy, lhe
dava lugar que fose caregar d arroz: quamdo el Rey est.as cousas vyo, em-
tam me outorgou pOr outro alguazill.
Amtes disto chegamdo eu a cananor, me veyo ho alguazill ver e
mamal e, e outro seu irmao que fizr.ram Rey, e eu mamdey chamar os
capitees e oficiaees de vosalteza, e peramte eles dise a mamalle e ao
alguazill, que qe dereito tinham eles nas ilhas pera fzerem seu irmao
Rey, e como ousava mamale de se fazer comquistador, sabemdo que se
chamava vos alteza comquistador das imdias1 e pregumteilhe que direito
era h o que tinham nas ilhas 1 Respornde me mamal e, que hum gramde
homem se alevamtara comtra ho Rey das ilhas, e que ho Rey das ilhas
lhe pedira socorro e que ele lho dera, e que emlam lhe dera certas ilhas;
e eu mamdey emtam chamar peramte mamale ho misijeiro do rrey das
ilhas, ho quall se mamdava meter vosa obidiemcia e emtregar as ilhas
e senhorio delas a vosalteza, e que ho livrase do poder dos mouros de
cananor: ho misijeiro lhe dise que ele tinha ho Rey fora de sua pose e
tomado as ilhas por fora, e agora ho qerya lamar fora e fazer seu ir-
mao Rey, e que as ilhas que lhe dera, fra porque ho tiveram ReteYdo
em cananor, e poJas opresees que lhe faziam, e nam por sua vomtade.
Dise emtam man1alle, que ele tinha cartas diso, e que fose el rrey de ca-
nanor juiz diso; e eu lhe rrespomdy, que el rrey de cananor era jemtio
e que as ilhas eram de mouros e que os naires nam navegavam, nem el
rrey era juiz desa causa; e que nam divera ele de dar nome de Rey a
seu irmao, nem comsyn1tir comquystar as ilhs a mamalle, vemdo voso
poder e fora na imdia, e sem do esa vosa obrigaam e voso senhorio; e
mais lhe dise, que eu lhe mamdava de vosa parte, que de demtro de

88 CARTAS DE AFFONSO DE ALBUQUERQUE
cimqo meses tirarem sua jemte e seu governador das ilhas, e deyxasem
el Rey isemto com todo seu poder e mando, pois se fizera vasalo de vos al-
teza e viera vosa obidiemcia; e que se algum direito tinham nas ilhas,
fosem rrequerer sua justia diamte de vos alteza, e que pasado ho tempo
que lhe aly limitava, soubese certo que cousa sua que se achase nas ilhas,
se narn d a r i ~ vida; e mais que lhe emtregava ho rrey _das ilhas vivo da
parte de vos alteza e lhe dava voso reall seguro, e semdo caso que ele
Recebese algun1 Revs ou comtradiam em seu governo e mando, ou polo
n1esrno caso lhe fose feita alg.a imjuria ou morte a sua pesoa, que ele
fose obrigado a dar con1ta diso, a quall lhe serya tomado per mim tnuy
estreita: e mais lhe dise, que vosalteza mandava aly fazer forteleza, e a
navegaam de malaca nosa avia de ser por aly con1tinuadamente, que se
decesetn de sua errada fatnlesya.
Dito isto, ho irmao que se chamava Rey das ilhas, con1eou de tra-
tar comigo, dyzemdo que ho fizese Rey e que ele terya as ilhas por
vos alteza; eu lho nam outorguey, nem me parece voso seruio, por ser
perto de cananor e mostrarem ter dereito nelas, e terem sempre ajuda e
fauor de cananor pera quallquer maldade que quiserem fazer, e asy polo
outro ser Rey de direito e -viir vosa obidiemcia, sem ter outra ajuda,
nem favor, nem socorro, senam a que lhe vos alteza der, o quall dar
todo ambar a vos alteza cadano e todo cayro que vos for necesareo, e
alguns panos Ricos das ilhas; e mais nam navegar per hy senam qem
vosalteza ouuer por bem, nem se dar lugar a naos que naveguem do
golfam de ceilam pera demtro, senam aquelas que levarem vosos segu-
ros, e estar bo cairo das ilhas todo em vosa mao, que se nam dar se-
nam a quem vos alteza mandar.
Outra pemdema tive com ho alguazill: a comory se foram vemder
certos cavalos de vos alteza, e os mouros vemdo que comea vamos de tra- -
tar neles, peitaram Rijo a el rrey de comory, en1 tall maneira que diogo
pereira se veyo sem dinheiro e sem cavalos: soube eu que era hum mi-
sijeiro dei Rey de comory a cananor com dinheho comprar ca vallos, e
ma.mdeilhe socrestar ho dinheiro, e quamdo vym a cananor, fojyo ho mi-
sijeiro del rrey de comory e deixou h o dinheiro: pedy ao alguazill que
me mamdase emtregar ho dinheiro ao feitor de vos alteza, rrefusolJ de M
fazer, dizemdo que avia de pagar primeiro Xi fanes' a mamale, emtam
t Vinte mil fanes.
J

CARTAS DE AFFONSO DE ALBUQUERQUE 89
lhos fiz pagar e emtregaram ror fanes t; e o alguazill me dise que lhe
mamdase primeiro pagar -lx faries i que lhe deviam do jemjivre, e eu
lhos mamdey logo pagar, e asy emtregou os Rij fanees que se em co.;.
morym tomaram dos vosos cavalos.
E porque me parece que estes mouros de cananor e este alguazill
arndavam hum pouco danados, pelo trato e companhia que estes vosos
oficiaees tinham com eles, e ho afulavam e fauoreciam em todo mail, lou-
vamdo lhe suas maldades, temdo pouco cuidado de minha obrygaarn,
mostramdolhe como vosalteza cria muyto nele e que nam avia dir mao
a cousa que ele fizese, e outras mevdezas neste caso, que vos eu, senhor,
nam esprevo, por omde eles qeryarn -fauorecer suas omzenas, e mais os
mouros quarrido- an1 mester fauor, peitam logo Rijo; eu rnamdey aos v
sos oficiaees, que mais_ nam tratasem seus dinheiros e fazemdas com os
mouros de cananor, nem tivesem mais imtelijemcia co1n eles que aquela
que fizesem a ben1, de voso trato, s pena de perderem tudo ho que lhe
asy fOr achado, seus oficios e ordenados, e que po-deryam tratar per sy
em outros lugares: e asy lhe dise, que bem sabia eu que polos seus tra-
tos e omzenas e por seu dinheiro.estar eih poder dos mouros de cananor,
sabiam eles nosos segredos, e lhos descobryan1 e praticavam todas nosas
cousas com eles; e os traziam chcos de samdices c d alvo-roos, qtie vy:..
nha outro governador, e que este que vos alteza quaa tinha nam era.boom
e que h o avia vos alteza de mamdar de quaa ir preso em ferl'os, e que
goa nam valya nimygalha, que ha avia vosalteza de mamdar derribar,
que gastava muytos tnamtimemtos; acomselhamdo ho alguazill e a
male h o que aviam d esprever de mim a vos alteza, afano recendo os com-
tra ho capitam da forteleza, dizemdo que era posto por mjm e que nam
tinha poder, nem marndo, nem autoridade, e outras. cousas que qu ha
na .imdia e danam muyto: tudo isto que asy esprevo a vos alteza, pasa
asy na verdade; os . mouros de cananor e todolos lugares de mouros
desta terra nehia cousa desejam mais que vernos fra de goa,
goa todolos te1n apertados na mao.
Ho asemto que se nisto tomou, he este: el rrey de cananor me manl-
dou alguazill, homem de linhajem amtr eles, boom homem e de
boom saber, e mo mamdou entregar, que fizese tudo ho que lhe eu mam-
1 Quarenta e dois mil fanes.
J Sessenta mil fanes.
,
.

ti

90 CARTAS DE AFFONSO DE ALBUQUERQUE
..
dase; eu ho rreceby omrradamente e lhe dey algas dadyvas, e ho mam-
dey omrradamente a sua casa, e desisti o d en1tender no feito das ilhas,
asy naquelas de que lhe mamale dava a Remda, como naquelas em que
mamale tinha sua jemte; e mamdey logo soltar jemte das ilhas, que ti-
nha tomado em .htia nao de cairo, que viera sem seguro, e lhe rnandey
dar hum seguro a hum homem primcipall deles que tinha cargo de certas
ilhas, e lhe mamdey que nam obedecese a mamale, nem aos seus roam-
dados, senam ao Rey que est obediemcia de vosalteza: ho outro al-
guazill foy logo fora de cananor; e se lhe isto fizera quamdo ele deu lu-
gar que os mouros cercasem a forteleza, e veyo com eles em pesoa, nam
nos trouuera ta1n Revoltos cadano; e os mouros de cananor andam hum
pouco mais asesegados, e os vosos servidores foram mais fauorecidos.
E asy marndey a todolos vosos oficiaees de cananor, que nehum no
fose tatn ousado que mais dse seu dinheiro a ganho aos mouros de ca-
nanor, nem tratasem com eles suas fazemdas, nem tomasem companhia
em suas naos; que de fra poderiam fazer seu proueito, tratar, comprar
e vemder, como lhe per vos alteza era dado lugar.
Depois disto tudo mamdey a jorje de melo que fose ver el rrey, e
foy l com muyta jemte, e omrradametnte el rrey os Recebeo, e com m u i ~
tos oferecimentos, mostram do se sem culpa dos erros do seu alguazill, e
mamdou a iapocar, irmo de mamalle, que leixase ho titulo das ilhas; e
os mouros em gram quebra e derribados, de verem na metade dos seus
olhos tirar lhe h o alguazill que eles traziam criado de sua mao: esprita
em cananor a xj dias d outubro de 1512.
(Por lettra de Albuquerque) feytura e servydor de vosa allteza
Afomso d alboquerque.
(Sobrescripto) A el Rey noso senhor.
(ln dorso por lettra coeva) dafonso dalboquerque de xj dias dou-
tubro 1512 sobre o de cananor e ilhas.
Pera elRey ver pera o que ha de responder aos embaixadores-
vista
1


t Torre do Tombo...:.-C. Chron. P. t., M. 22, D. 96 .


CARTAS DE AFFONSO DE ALBQUERQUE 91
CARTA XVI
11S12-0utubro 18
Senhor.-Agora me parece que querees pagar imdia ho que vos
ela merece, que he jemte e arn1as que lhe faa tomar asemto e asesego
sem guerra, e que se acabem muitas cousas de voso seruio e o que de-
sejaes, sem nos aventurarmos tamtas vezes: e sabe vos alteza ho que fez
esta jemte e armas que mandastes? de todolos lugares m espreveram lo-
guo todollos Rex e senhores muytos oferecimemtos, mais com medo que
per suas vomtades, e tudo est asesegado, ho que d amtes disto nam era,
com a nova da vinda dos Rumis, aquall praga creo que nam sayr da
imdia cad ano, at que nam entremos ho mar Roxo e que descomfiemos
estes arrenegados de a ver hy Romis, e a imdia asesegue e nam faa fum-
damento de sua vymda: caleeut est de todo despovoado, todo h o fato e
gemte se foy serra.
As armas que vosalteza mandou, deixo de dizer o gramde seruio
que foy voso; mas aimda, senhor, fizestes niso seruio a deus, porque eu
vos juro pola verdade que sam obrygado a dizer a vos alteza, que na im-
-dia averya amtes da chegada destas armadas mill e dozemtos homeens,
deles em malaca, deles em goa e em outras fortelezas, e amtreles nam
avia trezemtos homeens armados, e amet.ade deles sem lamas, e na vosa
armada nem nas vosas fortelezas somente ha arma, nem lama, nem
piqe; e esta he a verdade. Agora, senhor, nam ha homem que nam tome
de muito boa vomtade dous pares de coiraas sobre seu soldo, se lhas
quiserem dar; lamas e espadas, que amtre ns nam avia, tambem as to-
mam d ~ muy boa vomtade sobre seu soldo, porque j hy nam avia ne-
ha espada amtre ns portuguesas, senam eses traados deses mouros,
de maneira, senhor, que era ha cousa pyadosa de ver: fartay, senhor,
a imdia darmas, e dayas sobre ho soldo jemte, porque nam Recebem
diso nehum escamdollo, antes certefico a vos alteza que os metem em
desejos de fycarem quaa: e certo, senhor, ho que vos esprevo na reposta.
do mao d armada de dom garcia, nam foy senam com muita Rezain, por-
que vya malaca em voso poder, qu fonte das especearias e Riquezas
li
..
CARTAS DE AFFONSO DE ALBUQUERQUE
destas partes e chave da navegaam . do e goa, que he freo de
toda imdia e segurama de toda a navegaam das naaos de vosa carga,
e8capola primcipall das mercadarias que vam pera ho regno de narsymga
e pera o regno de daquem; e nam ver jemte nem armas pera as segurar
e comservar, pera tomarem asemto, e vervos mamdar armadas imdia
sem jemtc e sem armas, tiramdo vosalteza hum milham douro, parecia
pecados meus, que ordenavam darc1n algum aoute em minha omrra.
Deixo aquy, senhor, de dizer d urmuz, que est no ar, sem Reeberdes
dela nehun1 proveito senam as pareas, e ade1n e outras cousas gramdes
da imdia, as quaees, como tiverem vosas fortelezas no pescoo, pde vosa
alteza durmir muito descamsado, porque, qu y aja alguns Rebates e al-
uoroos de povo ou jemtc que venha sobr elas, nam am d ousar d oulhar
a vosa forteleza, como e1n ordem; e como hila vez tomarem asem to,
ano de ter pera sempre: e deste feito deue vos alteza de ter menos Receo
que nehum outro que posa sobrevyr imdia.
Pode vos alLeza isto ver per goa, que nam ousou h o idal ham, filho
do abayo, de vyr sobrela, porque conheceo os portugueses da primeira
vez que nol a ganhou, e sabia que se nos ccrcasemos, que nam nos avia
de poder ganhar a forteleza; c estes turcos sam homeens que mais tra-
balham por con1servar ho credito e sua fama que neha outra jemte que
tenha visto, e desimulan1 muitas c.ousas, por nam Receberem qebra; man-
dou hum seu capitatn s terras de goa, ho quall emtrou a ilha, porque
me nam quiseram crer meu conselho, nem cumprir meu mamdado em se-
gurar h o passo de bcnastary, e creo que tudo pecou de falecer Rodrigo
Rabello: afavorecey, senhor, muito goa, porque ela vos ha de fazer ostra-
tos da imdia chos, e os Rex da terra muyto mamsos.
Pois vos alteza nos proueo bem darmas, provedenos de panos pera
nos vestir1nos, porque tudo tomar a jemte sobre seu soldo: esprita cm
samtamtonio avamte batecala, a xbiij dias doutubro de !5!2.
(Por lettra de Albuquerque) feytura e servydor vossa allteza
Afonso d alboquerque.
(Sobrescripto) A eURey noso senhor'
t Torre do Tombo-C. Chron. P. t,, 10, D. 113.
CARTAS DE AFFONSO DE AI4BUQUERQUE 93
CARTA XVll
llS12-0utubro 25
Senhor.-Frey Joham alemo veo ha Imdia com tamtos carreguos
que nom pudia deixar seruir bem vosalteza, e no esprituall e temporall
sempre trabalhou por vos mercer merc, e ha muitos aproueitou sua ea-
rydade: foy na tomada de goa e de malaca.e em todollos feitos depois
de sua chegada que se na lmdia fezerarn por voso seruio; e neses es-
pritaes e doemtes follgou sen1pre de fazer obras de seruio de deus e de
vos alteza, e cousas que alguns h ornes somenos delle nom fezeram. E por
elle ser pesoa que seu oficio fez sempre bem, e na guerra sempre ~ e acer-
tou nos primeiros; e no comselho palavras de pesoa que deseja voso ser-
vio; e. posto que elle viese delegido ha eoehym, por elle ser pessoa de
que me mais podia aproueitar n armada, lhe Rogey que hamdase comi-
guo, porque elle tnostrou sempre qu gramdes desejos de seruir vosal-
teza, como elle por obra, asy em goa corno em mallaca e em cochym. E
pollo achar s vezes mais perto de mim nos tempos de neeesidade, lhe
dey sempre eomta de meus malles e pecados, e lhe tenho alguum amor
e afeiam, como ha meu padre esprituall e seruidor de vosalteza: elle
vay ll; por ha necesydade que lhe sobreveo de cajam mais que doutra
cousa, me pedio licema e eu lha dey; se qu tornar em meu tempo, fol-
garey muyto com elle: esprita em samt amtonio caminho de goa aos xxb
dias de outubro i5i2.
(Por_lettra de Albuquerque) feytura e servydor de vosa allleza
Afonso d alboquerque.
(SobrescriPto) A elRey noso senhor
1

t Torre do Tombo-C. Chron. P. 1., M. 1!, D. 22.
,
9 ~ CARTAS DE AFFONSO DE ALBUQUERQUE
CARTA XVill
1IS12- Outubro 26
Senhor._. Per htla carta de vos alteza vy ho que me mamdaees aeer-
qua d omeens que se lamam cos mouros, e o seguro e perdam que lhe
vosalteza mamda e daa: eu, senhor, tenho tamanho cuidado de nestas
cousas e em outras que sam servio de deus e de vos alteza seguir vosa
detreminaam e temcam e desejos, que sempre me trabalho polas fazer
quamdo vejo lugar omde ai poso empregar: alguns que se lamaram no
Rio de goa sam tornados, e outros que cativaram com fernam jacome, a
mayor parte deles se vyeram com joham machado; os que se lamaram
em tempo de diogo memdez, amtes que eu viese de malaca se tornaram
alguns, _e dous deles se tornaram arrepender outra vez; os que se lam-
aram em minha estada no Rio de goa me dam algas Rezees que foy
causa do que fezera, tudo lte maas pregaees e maas praticas que ou-
nem a quen os matnda.
A todos estes dey seu soldo do tempo que l amdaram e lhe mam-
dey dar algtla cousa pera seu vestir; aos que imda l sam, lhe tenho
dado seguros e lhe mamdo agora noteficar ho voso perdam.
A maneira de que estes homeens, senhor, sam tratados amtrc os
mouros: como hy ha guerra, estes turcos que acapitonean1 a jemte, aas
pamcadas os fazem pelejar na diamteira, por omde alguns deles j per-
deram a forma do sayo; ten1nos em muy pouca comta e nam lhes d nada,
quer se varn, quer se venham; amdam soltos e livres e dam lhe soldo; e
os vosos capitees outro tamto lhe fazen1, tirarndo as pamcadas; e pera
jemte que nam tiver fee nem temer a deus, he a milhor calaarya do
mumdo, e se a ley ho premetise, em comselho sery eu de lhe nam da-
rem seguro, porque eles como l sarn, arrependem se logo e sabem que
tem ho seguro cert9 cada vez que ho mamdaren1 pedir; e portanto muy
desemvergonhadamente vam e vem per esa estrada caminho dos mouros:
esprita em samt amtonio caminho de goa a xxbj, dias d outubro de t 512.
(Por lettra de Albuquerque) feytura e servydor de vosa allteza
Afomso d alboquerque.
(Sobrescripto) A elRey noso senhor'
1 Torre do Tombo- Gav. l. Ma. 21. N.o 18.
CARTAS DE AFFONSO DE ALBUQUERQUE 95
CARTA XIX
1512-0utubro 30
Senhor.-Eu mamdo a vos alteza per Joham serram as cartas que
me espreveram os homeens que cativara1n em adern no bargamtim de
duarte de lemos, e parece me, segumdo ho que vy pelas cartas, naquelas
partes ha nova que ho soldam faz fumda1nento da porta do estreito e
dadem; e mouros que de l vieram, esta nova trazem comsygo, e adem
se teme deles; e a mim sempre me pareceo que eles nam careceryam
deste comselho, e creo que nas rninl1as cartas pasadas eu toquey a vos a}.
teza nesta cousa, como homem asombrado diso, e esta causa memoveo
a fazer ho caminho do estreito, quamdo 1ne noso senhor volveo ao cami-
nho de malaca: este feito he mais danoso do que pode sobrevir irr1dia,
porque afora cerrarem ha boca do estreito e terem fora nela, fazemdo
asemto em aden1, nos meteryam em gramde despesa e obrygaam, e as
naos dos mouros navegariam com as especearias onsadamente, e a imdia
tomaria tarde asemto. Tres judeos que agora vieram do cairo, esta nova
me comtaram e mais 1ne diseran1 que ho soldam mamdara pedir cem mill
serafins ao xeqe d adem e que ll1os nam quisera mamdar, e o soldam lhe
tomou a mamdar dez mill frechas e cem arcos e ha arredoma de bal-
samo, dizemdo que com aquelas frechas e arcos bo avia de matar, e
aquela arredoma de balsemo era com que avia de abalsemar seu corpo.
Asy, senhor, que a mim me parece que eu devo dacudir a este feito
este ano Rijamente, aimda que algas cousas da imdia ficasem em pem-.
dema, porque, senhor, posto que malaca fiqe com boa fortaleza e boa
armada e boa artelharia e boons cavaleiros, todavia he cousa fresqa e
ha mester quente e prouida com minha pesoa e com armada que ha vaa
a q u e ~ t a r e afauorecer; e goa, senhor, cousa fresqua h e e bem contra
riada, como cousa primcipall e danosa pera os mouros, e cortou toda a
esperama do ajuntamento dos mouros da imdia, porque dela se fazia
cabea primcipall deste ajuntamento; he cousa que afavorece muyto noso
credito na imdia, c tambetn ha mester armada e jemte que ha aquente,
ataa que tome asemtn, que pera a forteleza ela est de maneira q u e ~
nam fose semte1na de de11s sobre nosos pecados, nam pode atltftl' Pt ..
..


96 CARTAS DE AFFONSO DE ALBUQUERQUE
rygo nehum, que venha todo daquem sob r ela; e deixamdo eu a imdia
tam asesegada, agora que vim de malaca, com a nova dos Rum is achey a
muy Revolta: ora vede, senhor, que serya terem nos em adem por vezi-
nhos, afora ho credito que tem nestas partes.
Portamto minha detreminaam he, ajudamdome noso senhor, em-
trar ho estreito est ano, posto que tenha poucas naos e muyto em que
emtemder, e fazer ho que me parecer ''oso servio e o que noso senhor
ouuer por bem; c a jemte nam he tarnta na imdia como vos alteza cuida
pera este feito, se fose necesareo defemder lho com fora de jemte e ar-
mas, porque malaca jemte acupa e goa, e nam ha mester que lha tirem
por hum ano ou dons, ataa que se faam tam mamsas como cochim; e
amtes que este caminho faca, me parece que ser a nova de malaca co-
migo: e como j per outras cartas esprevo a vos alteza, esas naos que se
lamcam atravs na Ribeira de lixboa, milhor se viryam elas quaa desfa-
zer sobreste feito; e com pouca custa as podiam quaa trazer, porque ao
presernte esta he a mayor necesidade que tenho, por achar as principaees
naos d armada da imdia todas derribadas por culpa d omeens que vos
nam querem servir na imdia senam como meus compitidores, polos mi-
mos e omrras que lhe fazees: aperte vos alteza isto na mao, porque h e .
ha das cousas que vos mais nojo qu faz, e nam se faz isto omde eu
estou presemte, porque todalas cousas estam a direito, mas como volvo
as costas, husa cada hum de sua comdiam, e eu ey poucas vezes das-
prever a vos alteza os erros dos homeens, mas todo bem que poder, guar-
damdo verdade.
E pera este feito d adem e do estreito nam sam pouco acusado dos
capitees, cavaleiros e fidalgos, que leve as naaos da carga comigo, dam-
dome. asaz Rezees pera ser muito voso servio fazello, mostramdo que
ba carga nam se perde, mas tomando adem e a porta do estreito, se se-
gora a carga pera sempre, e que as naos podem levar sua carga ho ano
que vem; e posto que m este parecese boom comselho, porque sam desta
cativa comdiam nas cousas de vosa fazemda e voso proueito, alargar s
vezes a mao por se dobrar por outro cabo, ho nam ousey de fazer mais
que baqueias que quaa ficam, polas Rezees que dito tenho em minhas
cartas. E o que mais ao diamte s o c e ~ e r at partida das naaos da carga
pera portugall, h o espreverey a vos alteza largamente; somente digo ho
que at feitura desta carta se pasa na imdya, :e minha detreminaam em
que estou.


CARTAS DE AFFONSO DE ALBUQUERQUE 97
Torno vos, senhor, a lembrar que terndes as mayores duas cousas
da imdia nas maos, goa e malaca, e que hafauorecaees ha imdia por
tres anos com jemte e armas e naos, pedreiros, ferreiros e carpimteiros
e todo ho aparelho de se fazerem boas fortelezas, e tirarvos deus de
rnuytas sospeitas e duuidas, que vos cada dia am de ir da imdia, e das
duuidas que l ha em algtias pesoas das cousas da imdia, que s vezes
darm a vos alteza mayor descomtemtamemto das cousas de qu: nam
tema vos alteza os gastos dos soldos e mamt.imemtos da jemte, porque
deus vol os d quaa, como j tenho esprito, e tornem me a mim os cabe-
daees que em vosas feitorias estam ganhados pela vosarmada e as espe-
cearyas e mercadarias que vos J vam avidas desta maneyra, e eu paga-
rey ho soldo jemte: a grusura da imdia h e muito grande cousa, e se h o
peso da vosa jemte e armada todolos gastos que faz tirase das vosas fey-
torias, vos alteza saberya ho que se quaa despemde custa alheya; nem
he nada <hlzentos mill cruzados, de que se podem pagar quatro mill ho-
meens, pois que a mercadaria que vosalteza mamda levar, vali hum mi-
lham e trezerntos mill cruzados, e se vos noso senhor der vrmuz e adem,
como agora temdes malaca, abasta pera todalas despesas do mumdo quam-
tas quiserdes fazer; como se vos alteza comtemtar do trato somemte des-
tas partes pera eses Regnos, e leixardes ho trato de quaa, trebutos e pa-
reas e percalos da vos a r m a d ~ , podees ter dez mill homeens na imdia;
se quiserdes, podees fazer na imdia quatro ou cimqo homeens gramdes
de gramde mamdo e de gramde Remda, que abastarm pera defe_mde-
rem a todo mumdo, com ajuda de noso senhor.
E a jemte que vos alteza diz que vos nam mamde pedir em soma,
nam pode leixar de ser, porque d uum ano pera h o outro sobrevem ne-
cesidade pera que se ha mester, e ns nam estamos em lugar pera a po-
dermos alargar e tornar aver quamdo nos comprir: vosalteza sabe bem
ho que mamda fazer, e sabees que avemos l diir, se noso senhor der
pera iso iugar; a jemte que cada cousa ha mester, he necesareo que ha
traga na mamga, e se querees que logo certeficadamente vol o diga, sam
cousas que estam imda no mato, e nano saberya detrcminar.
Nem vos ey, senhor, desprever acerqua da jemte e arrnas e cousas
neeesareas pera segurama da irndia, como os vosos oficiaees l espreve-
ram do cobre: viram estar nas feitorias algaa soma dele, espreveram l
que ho nam rnamdasem, que se nam gastava, e eles daly a muy poucos
dias gastaran o todo, e primeiro que ho aviso l vaa e a mercadaria ve-
. 13


I
98 CARTAS DE AFFONSO DE ALBUQUERQUE .
nha, se pasarm tres anos: asy serya ho da jemte e armas, se esta ma
neira quisese ter; faa vos alteza fumdamemto que me trabalho com
quamto siso e saber me noso senhor deu, por segurar voso estado na
imdia; ajuday a este feito com as cousas necesareas, porque a jemte em
meu poder nam come seu pam oceoso, porque, senhor, de meu fraco
juizo eu ey todalas outras cousas por hum pouco de vem to; nem esas
carregas despecearias que cadano l vam, nem as Riqezas que vos de
quaa levam, tudo me ha de parecer cousa e1nprestada, at que vos eu
nam veja muy forte na imdia, e nam no mar, mas na terra, naqueles lu-
gares domde as vosas cousas podem Receber comtradiam, pois vos alteza
despois do descubrymeinto da imdia t gora sempre teve nestas partes
fora d armada, e vistes que se nam melhorava nehtla cousa voso prepo-
sito nas cousas da imdia, asy nos tratos como no encurtar das despesas
e gastos, oomo na estima e credito e fama de voso estado e voso nome.
Provay agora isto que vos digo, e pela vemtura, senhor, voi aeharees.
milhor, posto que vosa alteza nesta detreminaam est, segumdo tenho
visto per vosas cartas; acuda vosa alteza com jemte e naos pera se aca-
bar ,osa detreminaam com tempo, porque a dilaam nest.as cousas sem-
pre as faz mayores e mais trabalhosas dacabar: esprita em samtamtonio
caminho de goa a xxx dias doutubro de 1512.
(Por lettra de .Albuqtrerque) feytura e servydor de vosa allteza
Afonso d alboquerque .
. (Sobrescripto) A el Rey noso senhor '
CARTA XX
11S1S-Novembro 8
Senhor.-Nas cartas que me vos alteza espreveo per Jorje de me,o,
me mamdastes dizer que ho ano pasado foram de ealecut vimte e tamtas
naos carregadas despecearias a mequa; e eu, senhor, nam mespamto de
vol o dizerem, mas de vos alteza crer que ha em toda a terra de malabar
vimte naos de quilha, quamto mais que calecut se tirou de todalas naos
Torre do Tombo-C. Chron. Gav. 16, Ma. l,, N.o 38.
CARTAS DE AFFONSO DE ALBUQUERQUE 99
gramdes com que navegava a meqa, e se pOsem navegar esas espicia-
ryas que podese escomdidamente levar, em terradas de cem babares, du-
zemtos babares de carga, esquipadas de boons Remos, as quaees serm
por todas dez ou doze ao mais, e algas destas navegam pera bemgala
e. pera cambaya; e ese ano de que a vosa carta faz memam, pessoa
que vos tall dise ou espreveo, pergumte lhe vos alteza omde estava symam
afomso com a caravela latina e jorje botelho com a cara,'ela Redomda,
e simam ramjell com Reposta minha ao amory, ho quall sempre esteve
bramdimdo ha espada emtamto lhe simam Ramjell deu meu Recado; e
aps estes dons navios veyo duarte da silva com a galee gramde, que se
ficou conejemdo em cochim, os quaees tomaram ha nao com pimemta
que saya da costa de calecut, e outra de cochim com pimenta, a quall
mamdey alargar; sinaees saro isto pera vos alteza crer que vos falo eu
verdade; hy era nono vaz na nao sam Joham, que se fez em eamguiar;
l vay ele, pregumtelhe vos alteza por ese feito.
E est ano que fuy a malaca, manoell de Iacerda a que ficou armada
e cargo desta costa e da guarda das vosas fortelezas, acudio ao eerquo
de goa, e emtam pasaram seis ou sete, que nam ha hy mais, com jemji-
vre e pimenta; e noso senhor, que se lembra de mim e he em minha
ajuda sem lho eu merecer, espedaou delas quatro em ocotor com tor-
memta, e tres arribaram s ilhas de mal diva com mafomede macary, que
se h ia com sua casa pera ho cairo, e duas aJT!baram a dyo, e a d adem
carregada de canela arribou a batecala, e muytas outras que hiam pera
urmuz, delas se perderam e delas arribaram com este temporal! costa
da imdia; e esta he a verdade.
Crea vos alteza que ha verdade deste negoceo nam ey de leixar de
vol a esprever sempre, porque estas cousas nam pecam por mimgua de
delijemcia e boom cuidado, que ho tenho nas cousas de voso servio
quamto abaste, mas por mimgua de naos e jemte; e estas caravelas e
gal gramde e o navio sam joham que sobre calecut amdaram, bem de-
sejey eu de meles ajudarem a carretar a pedra e fazer a forteleza de goa;
e porem, por acudir a ha cousa e outra, os mamdey aly amdar nesta
travesa, e as caravelas meado mayo pelejaram diamte de calecut com ha
destas terradas, que trazia muyto dinheiro e muytos Run1is, emcalhou eni
terra e salvou se a jemte e o dinheiro; e as caravelas nam ousaram de
pOr a proa em terra em seco com ela; esta be a verdade do que pa$8.
Nam tema vos alteza calecut, que nam he j nada seu feito; ho gol-
t3
..
..
tOO CARTAS DE AFFONSO DE ALBUQUERQUE
fam de ceilam pera demtro he ho que vos fazia l todo mail e dano, por-
que comtinuadamemte l1iatn cad ano pera meqa carregadas cimquenta
naos de quamtas cousas se podcn1 nomear de ma laca e desas partes;
agora, louuores a noso senhor, cortado lhe temdes ese caminho.
E bem asy me diz vos alteza nas mesmas cartas, que nam d soldo
a mouros; e creo que vol o diseram por miliquy ufu, quamdo lhe mam-
dey correr as terras de goa; e a mim me pareceo muyto voso servio e
muy boom comselho mamdar apalpar a terra firme per mouros e jemtios,
como mamdey, os quaees Recebera1n paga de soldo por esas terras por
omde hiam, amtes que mamdar portugueses, que hum dia amanhecesem
degolados n e ~ e campo; e os mouros desta terra bem sabem ho amor que
lhe eu tenho e corno lhe crio os filhos, e a comfiama que neles tenho:
esprita em goa a biij dias de novembro de 1512.
(Por lettra de Albuquerque) feytura e servydor de vosa allteza
Afonso d alboquerque.
(Sobrescripto) A ElRey noso senhor
1

CARTA XXI
tts12-Novembro 8
Senhor.-Ese embaxador durmuz ha dias que amda comigo; trou-
xe me cartas pera n1im dei Rey e de cojatar; traz hum cofre fechado e
cartas cerradas pera vos alteza, natn me pareceo bem bolir com neha
cousa do que asy leva, nem abrir h o cofre nem as cartas; e leva duas
omas de caa; foy cristo ; h e homem em que vos ai teza achar Rezam
em muitas c.ousas.
Vos alteza nam deve d alargar a mo do com trato e asemto que com
eles tenho feito, porque mouros acnsturnados sam a se fazerem mizqui-
nhos: nam he nada pera urmuz xxx serafins t que pagase de pareas, nem
he muyto escamdolo pera eles; todo seu feyto he nam estar hy forteleza
de vos alteza, nem asem to nem feyturya em que estm portugueses que
l Torre do Tombo.-C. Chron. P. I. , M. 12, D. 40.
2 Trinta mil xerafins.

CART\S DE AFFONSO DE ALBUQUERQUE 101
emtemdam que cousa he vrmuz, porque tem cojatar tamta oservamcia
nisto e tam gramde vejia que nam pode ser mais, porque sabe que he
vrmuz Lan1 gramde cousa, que nam ha nin1guem que ha veja, que nam
deseje de ha levar nas maos, e sabe que quen a guanhar, que ha ase-
nhorear pera sempre, porque vrmuz nam tem de que se temer senam
da bamda da persia, domde ele est muyto seguro, por nam ter embar-
caam pera poder pasar a ela jemte.
Vos alteza deve de fazer otnra a ~ s e e1nbaxador e lhe amostrar al-
gas cousas de voso estado, porque el Rey d urmuz ten o em todalas cou-
sas, asy em sua caa, de .muytas temdas, falcees, galgos, omas, jemte
de eavallo que ho acompanhan1, como em ser aguardado porta de seu
pao de muytos cavallos e tnuytas mulas, como de capitees e homeens
omrados demtro no pao comsigo: esprita em goa a biij dias de novem-
bro de 1512.
(Por lettra de Albuquerque) feytura e servydor de vosa allteza
Afomso d alboquerque.
(Sobrescripto) A ElRei noso senhor
1

CARTA XXII
1512-Novembro 23
Senhor.-Esprito tenho a vos alteza da minha partida de cochim
pera goa e minha chegada a cananor com as naos d armada e asy as da
carga, com detreminaam de m achar com armada dos Rumis, segttmdo
ho aluoroo, desasesego e nova deles a via na ilndia; e e ramos por todos
dezaseis velas, afora quatro navios que imda estavam em goa; e tiramdo
as naos d armada, natn via navios ne1n fora pera me parecer que pode-
riamos Resistir ao peso d armada que dez iam que vinha, se deus nam
obrase com seu poder e fose em nossa ajuda, porque, como tenho esprito
a vosalteza em outras cartas, as primcipaees naos dannada da imdia
achey as cu derribadas quamdo vin1 de malaca, e as outras que hy avia,
parle delas leixey em malaca e outras mamdey s ilhas do cravo.
t Torre do Tombo-C. Chron. P. t., M. ti, D. 26.

CARTAS DE AFFONSO DE ALBUQUERQUE
Chegamdo a cananor j tarde, polos vemtos serem Rijos e o ms de
setembro e outubro ser aquele ano na imdia imverno, aly achey a nova
dos Rumis hum duuidosa sua vimda, e alarguey logo de mim duas
naos, que eomeasem de tomar carga, e as despachey camynho de eo-
chim, e fiz em cananor ho que per outras largamente tenho esprito a
vos alteza.
Partido de cananor, vym ter sobre a barra de goa detreminado de
lamar os mouros fora de benastarym, pois que via que a nova dos Ru-
Inis nam dobrava, amtes per algas pesoas que d adem eram vimdas fuy
certeficado como aquele ano era duuidosa sua vimda imdia, amtes lhe
parecia que armada dos Rumis emtemderia primeiro no feito d adem e se-
_gurama da porta do estreito que em outra cousa.
Surto sobre a barra de goa, mamdey emtrar todalas naos ordena-
das per vos alteza a verem de ficar na imdia demtro em goa e dom garcia
com toda a da jemte, e deixey algas naos da carga, que imda vi-
nham comigo, surtas na baya, e por mais breve despacho das naos nam
quis emtrar em goa, omde me os moradores e casados de goa tinham or-
denado hum homrado recebimento, como adiamte dircy; mas antes logo
emtrey na barra de goa a velha co navio ferros e os dois navios piquenos
per nomes chamados samta maria d ajuda e o rosairo, e a nao sam pedro
d armada de dom garcia, porque minha detreminaam era forar a arte-
lharia dos mouros e tomar lhe h o paso de benastary, cereal os, e atalha! os
em tall maneira que nehum deles tornase a sua terra; e avia isto por
cousa muy primcipall, posto que algas pcsoas ouuesem feito por
muy duuidoso e de muyto perygo; h o perygo certo estava, porque os
mouros tinham muyta artelharia e muy grossa, suas bombardas asemta-
da.s ao lume dagua, muy grosos tiros e muy furiosos; e a duuida das naos
emtrarem ho paso de henastary nana tinha, porque hy avia agua no Rio,
quarnta abastase pera as naos emtrarem ho paso de benastary e ahalroa-
rein com os seus baluartes, e lhe tolherem ho socorro e mamtimentos, e
ho mais que anoso senhor aprouuese; e alijey a jemte darmas toda das
naos, somente ficaram marynheiros e bombardeiros, e pus nos navios e
nao sam pedro os milhares bombardeiros e artelharia e grosa que avia
n armada, e asy fuy achegamdo os na.vios e nao sam pedro, at me pOr a
tiro de bombarda com a forteleza dos mouros; pus tristam de miramda
por capitam de sam pedro, pero da fomsequa no seu navio samta maria
dajuda, no ferros amtonio Raposo, najuda piquena vicente dalboquer-
'

..


CARTAS DE AFFONSO DE ALBUQUERQUE t03
que, no Rosairo aires da silva, ao quall dey cargo sob-re os outros todos
como seu capitam mor, tanto que me apartase deles.
Naquele lugar omde j tinha postas as naos, aguardey a forca dar-
telharia dos mouros, e que quebrase sua furya e a nosa jetnte perdese ho
receo e espamto da su artelharia: alguns capites, cavaleiros e fidalgos se
quiseram viir de goa pera mim, e eu lho nam comsemty, porque quamto
menos jemte estivese nas naos, tanto menos dano Receberiamos das bom-
bardas dos mouros: naquele lugar nos fez asaz dano nas naos artelharia
dos mouros e na jemte muy pouco, e as nosas naos com artclharia lhe
fizeram asaz dano e nojo; e como a jemte comeou de perder h o medo,
mandey hum pouco achegar mais as naos e asy ha nao malabar grarnde
de pocaracem, mouro de cananor, e garcia de sonsa nela, a quall man-
dey atrauesar por em paro das nosas naos; e aquele dia deram os mou-
ros tam gram forca dartelharia sobre as nosas naos, que ousaria de dizer
a vos alteza que de duzemtos tiros de bombarda grosa nam arraram os
dez, e vazavam as naos de craro en craro con1 as pedras tam gramdes
como as das nosas e delas mayores; aparelhey emtam ha
barca gramde e 1he fiz ha muyto gramde arrombada e muyto forte, e pus
nela hum camelo de metall, tiro muy furioso, e mety nela seis homeens e
ho condestabre nao conceiam, e de noute mandey surgir defromte
das suas bombardas grosas pegada co seu baluarte: ao outro dia mou-
ros jogaram com sua artelharia muyto Rijo s nosas naos, cousa que nim-
. guem nam poderya crer, porque comtinuadamente tiravam cemto e cim-
quenta tiros, e os menos eram cem to: a esta barca mamdey que nam
tirase senam s suas bombardas, e o comdestabre h o fez asy, e a suar-
telharia nos alivou mais hum pouco e lhe quebrou a prineipall bombarda
e mayor que eles tinharrt, e lhe matou dous bombardeiros arrenegados
que se com eles lamaram, hum galego e outro castelhano: bom-
barda grosa mamdo l a pedra a vos alteza.
Neste lugar mandey por dons dias estar quedas as naos, sem se ala-
rem mais avamte; e no primeiro combate que lhe as nosas naos deram,
aires da silva se atravesou co rosairo, e as bombardas dos mouros tiraram
todas ela em tall maneira que ho ouueram de meter no fumdo, e o fogo
saltou em tres barris de polvora que tinham na proa, de ha pedra de
bombarda dos mouros que ho vazou e emtrou demtro na sua pol,ora: foy
espiciall mercee de noso senhor nam se queymar ho navio, nem ouvy di-
zer que tres barris de polvora ardesem em ha nao debaixo de coberta .
t04 CARTAS DE AFFONSO DE ALBUQUERQUE
que a nam queymase; lamou lhe a coberta toda pera cima, e o castello
de proa e a pomle toda ao mar, e queymoulhe alguns malabares e tres
gorometes, e toda a outra jemte se lamou ao mar; botou duas tavoas
fora de proa acerqua do lumy d agua, e s no na,'io ficou aires da silva:
os mouros ''iram nosa fortuna e trabalho, e deram muy grandes gritas,
. tamjemdo suas trombetas; saltey ao navio en1 hum esquify soo, e che-
gamdo a ele bradey jemte que sacolheo a nado nao malabar, omde
estava garcia de sousa, acusamdo os com minha pesoa; dizemdolhe algas
palavras de Reptemsam os fiz volver nao, e os mouros nam cesaram de
jugar su artelharia todavia ao navio; mamdei lhe logo dar ha rajeira por
popa e desatravesar l1o navio das bocas das hombardas dos mouros: os
marynheiros tomaram esforo quamdo viram minha pesoa, e ousaram de
volver ao navio, e a noso senhor lh aproou e de apagar ho fogo de todo,
de que fiquey ho mais espamtado homem do rnumdo: a nao malabar ouue
tamtos tiros de bombarda grosa, que fojiram todos os mouros dela, e gar-
cia de sonsa se vyo en1 boa afromta e em boom perigo, e eu ho mamdey
sair fora da nao e algas pesoas de sua companhia que com ele estavam,
e fiz volver os mouros a esgotar a nao, nam se ao fundo; e ao ro-
sairo acudiram lhe os calafates com coiros e pregos estopares, e esgota-
ran o Rijamente com caldeirees e com as bombas, e esteve asy at que
veyo a noute, que ho mamdey alargar pera fora hum pouco.
Ao outro dia mamdey alar a nao sam pedro avamte dos navios pi-
quenos,. e de noute lhe mandey melhorar as porque de nam
ousava nehum bate li de aparecer nem se alargar fora da sua nao: a nao
sam pedro, como se alou avamte, tirou lhe a bonibarda grosa, e quatro
tiros da sua bombarda mayor a vazaram, afora outra artelharia tamanha
como os nosos camelos, de que muy poucas pedras fycavam demtro na
nao: a forteleza dos mouros foy tam aprefiada d artelharia das nosas naos
grosa e meuda, que nam avia mouro que parecese, e todos jaziam em co-
vas, e o capitam com eses principaees nam em travam na forteleza de dia,
e lhe mataram muyta jemte e 1nuytos cavalos, e lhe derribaram parte dos
seus baluartes: os mouros se viram asy perseguidos dartelharia das naos,
que continuadamente faziam repairos a seu muro, e o alevamtaram ha
braa mais do que era.
Neste tempo emcarreguey dom garcia que me fizesse fottes d arrom-
badas dons navios dos de pera meter pela outra bamda danosa for-
teleza per h o Rio que vem ter ao paso de benastary, e dom gareia deu

CARTAS DE AFFONSO DE ALBUQUERQUE 105
muy gram presa e os fez fortes etn gram maneira, e ao voltar do paso
nam pode pasar h o 1na yor; tiramdo lhe arrotnbada das pipas do cairo so-
bre que escorava, polo peso que tinha em cima do velun1e da ponte e ga-
vias nos mastos, veyo ho navio barnda e oobrou; e o outro piqueno
pasou, em que era fcrnam gomez de lemos, c Joham gomez era em ha
barca de bombarda grosa, que dom garc.ia pela outra bamda mamdou em .
ajuda do navio, com gramde arrombada; e fernam gornez de len1os e jo-
ham gomez ho fizerarn ousadamente, e pegaram logo com ho baluarte da
outra bamda, e de cima do n1uro e do baluarte fora1n bem perseguidos
d arte lha ria dos mouros e algum dano lhe fizeram; e todavia como homens
d esforo tiveram mao e nam se afastaram afora; as bombardas dos
mouros pasavam as arron1badas e o navio cada vez que lhe davam, e es-
tavam pegados com ho baluarte quamto serya hum jogo de bola, omde
os mouros tinham asemtadas quatro bombardas grosas; destoutra bamda
domde estava, estava hum baluarte que tinha no Besteiro tres bombar-
das grosas, e jugavam de cima outras tres mais sotnenos.
Como vy su artelbaria repartida em duas partes, emtam mamdey a
tristam de miratnda que de noute 1namdase portal lrua ancora aa estacada
com que tinham atravessado h o Rio; de detntro do baluarte de luia bamda
e doutra tinham atravesado ho Rio con1 duas estacadas, em tall maneira
que por amtr ambalas estacadas pasavan1 seus paraos c jamgadas carre-
gados de mamtimentos e de jemte e do que lhe bem vynha, e eu mam-
dey a tristam de miramda que abarbase a nao sam pedro com a estacada,
e aires da silva que hy era demtro na nao, porque ho navio rosayro fi-
cava j de fora polo caso aquecido; e aps a nao sam pedro se achega-
ram loguo os outros navios piqucnos, pero da fomsequa no seu navio,
amtonio raposo no seu, e vicente d alboquerque no outro navio piqueno,
on1de ho mamdey pr; e asy se achegaram mais estacada, e por ho paso
ser estreito, asy da terra firme como da forteleza dos mouros sempre fo-
ram bem apresados, asy d artelharia como de frechas e espimgardas.
Emquamto este negoceo se fazia, dom garcia deu presa a se faze-
rem bamcos pimchados, mamtas e artelharia grosa e mevua em carretas,
e outros carros com pedras e polvora, e todo outro aparelho e comcerto
de darmos combate aos mouros per mar e per terra; e asy os capitees
que me vos alteza mamdou da soya imsynavam e amestravam sua jemte
e a punham en1 ordem.
Tudo isto prestes e aparelhado, posto que fosse chamado per muitas
ti
106 CARTAS DE AFFONSO DE ALBUQUERQUE
vezes dos capitees, cavaleiros e fidalgos, eu me nam say do paso de be ..
nastary at que nam mety as naos de demtro da estacada; c ha noute
mamdcy arrencar parte da estacada, e de noute mamdey a tristam de
miramda que portase htia amcora alem da estacada na tnetade da pasa-
jem, e alasem a nau Sarn pedro de demtro, e mamdey airrs da silva que
os navios piquenos se achegasem mais, e fizeran o asy todos; e neste tempo
que mamdava chegar paso a paso os navios, mamdava alguns piees sal-
tear os caminhos, e tomavam me jemte que vinha pera a forteleza dos
mouros, de que era avisado de todalas cousas que os mowos faziam e
sna detreminaam.
Cercados asy os mouros e atalhados de todo ho socorro, ajuda, pro-
vimento de mamtimentos, deixey aires da silva por capitam primcipall da
nao e navios, e deixey mamdado aos outros capitees que lhe obedecesem
e fizesem ho que ele mamdase; e na nao e nos navios ficariam at cemt
omeens, e lhe deixey paveses pera todos desembarcarem apavesados da
bamda do mar, que he lugar muyto forte, e nanos podemdo por hy em-
trar, corresem ao lomgo do muro a se ajumtarem comnosoo ao dia por
mim detreminado, em que lhe ouvese de dar ho combate per terra; e os
deixey prouidos de mamtiniemtos e hum parao que os provese d agua, e
seus bats prestes, guardados da bamda d artelharia que lhos nam ar-
rombasem.
Durou esta dilijemcia e boom comselho de lhe tomarmos ho paso
per fora com as naos oito dias, cousa bem comeada e que a noso se-
nhor aprouue de ser bem acabada e com pouco dano na nosa jemte, e as
naos de vos alteza bem espedaadas da suartelharia e pasadas per muy-
tos lugares de bamda a bamda, pegadas cos seus baluartes e nas bocas
das suas bombardas; que pela vemtura ha muytos anos que nestas par-
tes de cristos se nam fez tam omrado feito, porque em todos estes dias
nunca os mouros de noute e de dia cesaram de tirar com sua artelharia,
que ha t.inham muy boa e grosa, e alga que nos tomaram no caravelam
e fusta: as emxarcias das naos, mastos e toldas, era tudo cheo de fre-
chas; dos nos os nam aparecia nehum homem que os seus lhe nam .tira-
sem com espimgardees do alto, e no Resteyro com sua artelhara, qtte
tinham muy bem asemtada; de demtro da fort.tleza dos mouros nam pa-
recia mouro que nam fosse derribado com artelharia meuda das naos, e
o resteiro das suas bombardas grosas e seus tiros bem Rebatidos e com-
trariados d artelharia grosa das naos, principallmente de dous camelos de
DE AFFONSO DE AIJBUQUERQUE I 07
metall que estano vieram nestas naos, tiros muy furyosos e muy seguros:
os mouros de noute lamavam feixes de palha acesos ao pee de seu muro
e craridade do lumy jugavam su artelharia e nam arravam cousa a que
tirassem. Poso com verdade dizer a vos alteza qtte nestes oito dias e oito
noutes as naos tiraram mais de quatro mill tiros d artelharia grosa e
mevda, pelo comto dos pilouros e pedras e gasto de toda a fora da pol-
vora que tinhamos.
Ho dano da jemte' das naos nam foy muyto, como dito tenho, por-
que lhe tirey toda a jemte, somen1te marynheiros poucos que aviasem suas
Rajeiras e seus proizes: os eapitees h o fizeram muy ousadamente.
E tristam de .miram da e vicente d alboquerque, posto que fosem mo-
os, deram boa Rezam de sy e o fizeram muy ousadaiLemte, e seus de-
sejos e boa vontade de amostrarem cujos filhos eram, aproueitou mu)10
s naos irem avamte, como lhe per mim era ordenado e lhe mamdava de
ha gal em que estava sobreles; e certefico a vosalteza que eles foram
mais vezes Repremdidos e castigados de mim por nam seguraren1 suas
pesoas e vidas do perygo d artelharia dos mouros e quererem amdar per
cima das guaryLas das naos e lugares perygosos, dos que ho nimguem
poderya acusar de froxos: no mesmo tristam de miram da, como ho-
mem que espera por sua lama a\'er mercee de vosalteza, comea bem;
e vicemte d alboquerque ho fez tam ousada1nente em seu navio e tam de-
sejoso de se pOr na diamteira, que por a nao sam pedro emtrar diamte,
ho mamdey hum pouco alargar atrs, porque ho Rio naquele paso he es-
treito : fycaram ambos de dous tam atroados d artelharia, que por espao
de dias nam ouuiram neha cousa que lhe falasem ; e asy toda a jemte
das naos mereceram bem a cavalaria, e eu lha dey; a mereee vosalteza
lha ter guardada.
Aires da silva h e homem ousado, e fel o como cavaleiro aqueles dias;
e o caso aeomtecido no rosairo foy porque diamte de todalas naos mam-
doQ. pOr ho seu navio, e nam curou de Rajeira nem de proiz, senam ache-
gar se comcrusam; aja vos alteza por certo que h e cavaleiro e que nele
nam ha medo, e o carrego de prouer os navios todos fel o muy bem, e
noso senhor h o livrou muytas vezes . de ho nam matarem: mamdey lhe
que dese ha noute, eom a jemte dos navios que com ele estavam da
bamda da terra firme, en1 algila jemte que aly eslava, que traziam mam-
timemtos pera os mouros e ha cafila de bois de carga que emtam che-
e ele dito JlQS mo.uros de nqute
ti
,
tOS CARTAS DE AFFONSO DE ALBUQUERQUE
e lhe queymaram as casas .e mataram deles e estragara1n a cafila dos
mamtimemtos e os poseram em fujida.
Pero da fomsequa e amtonio Raposo satn cavaleiros e omeens que
deram sempre boa comt.a de sy, e neste feito tam desejosos dachegar
seus navios e de sua artelharia fazer todo mail e dano que podese aos
imigos, e ao portar de suas an1coras em seus bats tam senl medo das
bombardas dos mouros, que s vezes me pesava nam trabalharem mais
por segurarem suas vidas; e se na.m fora a ordem que mamdava ter nos
navios e no portar das atncoras deles e call se avia d afastar e achegar e
dar lugar hum ao outro, a mim me parece que eles estavam todos tam
desejosos de servir vos alteza, que eu nam saberya detreminar quall deles
h o fez milhor: feyto foy dino de mercee e d omra, porque foraram seus
mestres e pilotos e n1arynheiros a todavia alarem seus navios avamte, e
quem viir os costados e guarytas dos seus navios pasados per tamtas par-
tes, espamtar se aa em que lugar se salvaram estes homeens, porque vos al-
teza tenha por certo, que d artelharia grosa os mouros tiraryam pouco me-
nos que as vosas naos, e d artelharia mevda ns m ~ i s que eles.
Deixados a nao e navios surtos no paso, me vim a goa, omde estava
dom garcia. com todalas cousas ordenadas e artelharia comcertada, que
comnosco avia de ser no feito, c a je1nte toda bem comfesada e be1n co-
mumgada: os mouros pasaram de seis mill homeens de peleja, c ave1ya
hy tres 1nill ho!llcens, jemte sem proueito; veyo lhe de socorro, amtcs que
lhe atalhase1nos ho Rio, cem espimgardeiros que lhe mandou lufulary,
hum capitan1 do abayo, turco: tinham trczcmtos cavalos; acubertados,
me parece que averya cemto.
Esf.amdonos asy aparelhamdo com nosa detreminaam e comselho
de poer as escadas ao muro e os emtrarmos escala vista, damdo lhe pri-
meiro algum combate d artelharia, os mouros saira1n fora da sua forteleza
e nos vieram dar vista com jemtc de cavalo e de pee em batalhas per ho
campo; man1dey sair a eles dez de cavalo, que lhe foscm dar a Yista; era
pero mazcarenhaz, amtonio de saldan'ha, joham machado, symam d am
drade, manoel de Iacerda capitam da forteleza, diogo fernamdez, ho adaill
femam caldeira, manoell fernamdcz, joham cabiceiras, Louremo prego,
homeens casados de goa: chegamdo aa jemte dos mouros, tne marndaram
dizer que averya ahy tres mill ho1neens no campo; mamdey logo sair Ruy
gomalvez e Joham fidalguo con1 a jemte da ordenama, que seryam tre-
zemtos piques ecimquenta besreyros e cimquenta espimgardeiros, jemte
\
\
CARTAS DE AFFONSO DE ALBUQUERQUE t 09
muy luzida e muyto pera arrecear, e se foram pela estrada dereita e se
achegaram aos mouros hum pouco mais do que lhe per mim foy orde-
nado: apds isto me veyo hum Recado, que os mouros todavia queryam
pelejar e achegavam; vimdo suas batalhas de jemt.e, ma1ndc} cn1tan1 ca-
valgar alguns fidalgos e cavaleiros nestes cavalos, e os mamdey que se
fosem ajumtar com os outros dez de cavalo que eram fra, e serJam per
todos trlnta e cimquo de cavalo, c lhes mamdey que estivesen1 quedos
sem travar cos mouros, e me mamdascm dizer se lhe parecya qne toda-
via queryam os mouros pelejar comnosco no campo; e os mouro3 chega-
ram mais suas batalhas e vieram a tiro despimgarda com a da or-
denania: os capitees os aguardaram ousadamente, comcertados e pos-
tos em .ordem de batalhar, e os n1ouros nam ousaram de romper neles:
veyo emtam joham machado a mim e me dise que os turcos todavia que-
ryam eu lhe respomdy, que pera a detreminaan1 em que estava-
mos eu devia escusar quamto podese de meter ho feito -em alga desor-
dem, e que a mim me parecia que os turcos nam pelejariam comnosco.no
campo, e que ha sua jemte solta que eram archeiros e nos poderyam em-
cravar muyta jemte; que os po11ugueses eram homeens armados e jemte
pesada pera amdar escaramuatndo no campo cos seus archeiros, homeens
despejados e lijeiros, que se podiam achegar e afastar de ns quamdo lhes
bem viese, e que nam era jemte que ouvese de vir Romper as nosas ba-
talhas: joam machado s afirn1ou que todavia pelejariam comnosco; e eses
fidalgos e cavaleiros e capitees de vos alteza, desejosos de vos s('rvir e
fazer omrados feitos, apertaram Rijo comigo, qtie todavia devia de sair;
e eu m escusey diso, damdo lhe algas rezces, dizem do lhe que pera h fia
tam gramde detreminaan1 cm qtie estavamos pogtos, nan1 era necesareo
escaramuar cos mouros no campo, mas achegarmo nos ao feito que nos
mais compria, que era ganhar lhe a sua fort.eleza e lamal os fora dela; to-
davia tornaram apertar comigo, que deuia de sair; e eses de cavalos que
eram fora, me n1an1daran1 dizer que a jemte dos turcos Yinha toda fora da
sua forteleza co1no jemte detreminada de pelejar.
E posto que minha detreminaam e vomtade fose comtraria ao pa-
recer de n1uytos e a seus desejos, todavia fuy forado deses fidalgos e ca-
valeyros, e aimda praguejado deles case por fora me fizeram sair, e mais,
senhor, vy tam gramde alvoroto na jemte e l.am gramdes desejos de pele-
jar, que se me lamavam pelo muro fora e a porta da vila forada deles:
mamdey entam repicar, e toda a jemte se ps em armas, e mandey abrir



fiO

CARTAS DE AFFONSO DE ALBUQUERQUE
as portas e say fora com eses capitees, cavaleiros e fidalgos, e me fiz
em tres batalhas, afora a jemte de cavalo, ha da jetnte da ordenama e
outra da outra jcmte: como fuy vista dos turcos, abalaram vimdo suas
batalhas pera ns, e eu mamdey pr a batalha da ordenama no meyo e
dom garcia meu sobrinho de ha ban1da da mo dereita com eses capi-
tees, cavaleiros e fidalgos que com ele eram, e eu com toda a outra
jemte tomey hum meyo vale da bamda da mo ezquerda e mamdey
jemte da ordenama que habalase comtra as batalhas dos turcos, e a meu
sobrynho que se detivese hum pouco mais; e eu com a minha batalha
comecei me d ir melhoram do e tomam do a ilharga das batalhas dos mouros.
Os t.urcos vemdo nossa detreminaatn de os aguardar, se detiveram,
e pareceo me que se queriam r e t r a e ~ atrs, porque vi os metidos em de-
sordem, como jemte 1nudada de sua_ detreminaan1: mamdey jemte da
ordenama emtam que apertase mais Rijo com eles, e a meu sobrinho
que se achegas e com a sua batalha a eles per aquela ilharga dom de hia:
a nosa jemte de cavallo nam hia posta em ordem, porque alguns capi-
tees que saram ao repique a cavalo, tornaram a mamdar sua jemte com
seus agiees, e 1nanoel de Iacerda a jemte da cidade e forteleza: os tur-
cos comearam d abalar comtra a sua forteleza e nps nam quiseram aguar-
dar; fiz emtam dons corpos da minha batalha e mamdey apertar hum
pouco mais rijo cos mouros, porque me pareceo ten1po desposto pera em-
trarmos com eles de Roldam na sua forteleza, ou ao menos ll1e poderia-
mos atalhar algua parte da sua jemte q ~ : ~ e se nam recolhese toda ~ forte-
leza, porque hiamos muyto pegados com eles, e mamdey alga jemte de
cavalo solta que tra,?ase neles: como a jemte de cavalo pegou na traseira
de sua jemte, e os mouros vira1n achegarmo nos Rijo a elles, apartaramse
logo mais de mill piees, e eu mamdey abalar Rijo ho corpo da jemte
que apartey da 1ninha batalha, que se metese amtre aqueles mill piees
que se apartaratn e o corpo da outra jemte dos mouros que levava ho
Rosto na sua forteleza: os mil I piees, como se viram atalhados do outro
corpo da jemte, tiraram todos direitos ao vaao de gomdaly, por omde se
salvaram, e alguns deles s afogaram, e pasaram ho Rio per aquele paso
terra firme.
A jemte da ordenama e dom garcia com eses capitees, cavaleiros
e fidalgos, que sua parte era1n, hiam j tan1 pegados cos mouros e tam
perto da sua forteleza, que polo lugar ser estreito nam podmos ir em
ordem e em batalhas apartadas, como hiamos, e essa jemte de cavalo,
CARTAS DE AFFONSO DE ALBUQUERQUE iii
capitees e cavaleiros, se soltaram a pr as lamas nos muros Rijo e lhe
fizeram perder os cavalos e cerrar a porta; e a jemte dos mouros se vyo
tam apertada da nosa jemte, que nam pde aver a forteleza, e muytos
deles alaram com toucas demtro, outros coreram s ilhargas da sua for-
teleza e emtrara1n per outro cabo, outros atolados na vasa morreram, e
algnns se lamaram ao Rio; e acudi o a ires da silva cos hatees e eses ca-
pitees que com eles eran1, e desembarcaram todos ao pee do muro apaue-
sados, como lhe per mim foy mamdado, e os mouros de cima do muro
lhe frecharam alguns e com pedras e espimgardees os fiseram tomar aos
batees, porque daqttela era ha forteleza dos 1nouros muy forte e
muy defemsavell.
Pegados os capitees, fidalgos e cavaleiros no muro e a jemte da
ordenama, apertaram rijo a _queretem emtrar h uns per cima dos outros;
os mouros acudiram s muros e defemderam ousadamente seu muro, e
alguns morreram em cima do muro de lamadas da nosa jemte que es-
tava ao p do muro, e com artelharia e espimgardas nos fizeram algum
nojo, trabalhamdo sempre por emtrar, e alguns cavaleiros e fidalgos e
outra jemte se em cin1a do muro e foram lamados fra; e da-
quele cabo da porta que estava amtre duas torres era lugar muyto forte,
e a nosa jemte se acertou aly mais que em outro cabo e os cavalos que
aly deixaram os mouros; por ter suas portas fechadas deixaram aly se os
e nan os poderam salvar, os quaees Rifamdo huns com outros,
meteram tam gramde descomcerto na nosa jemte, que nana leyxava pe
lejar nem chegar ao muro daquela pa_rte, nem porta.
Os mouros demtro na sua forteleza se poseram em desbarato e de-
tan a forteleza por en1trada, c nosa tardama os fez volver ho muro a de-
femdel o, h o quall, se tivera mos ha escada ou escadas, como tinhamos
detreminado, daquela vez os emtraramos; e acudiram com muit.as pane-
las de polvora e moytos feixes de feno ac.esos e espimgardas e frechas e
pedras; e bonabardas que tinhatn postas, nos fizeram assaz de
dano, mais quelles que estavam afastados do n1uro que aos que esta-
vam ao p do muro, c mais nam virmos com aquela detreminaam, nem
aparelhados pera combate, como tinha ordenado: duas vezes quisera afas-
tar a jemte do combate e nan1 pude, porque os capitees que me a iso
onveram dajudar, eses eram os que trabalhavam por se botarem em cima
do muro, aperli:1mdo poJo fazer, damdo de pees huns aos outros, que-
rendo trepar polas lamas, desfazendo lhe as amas com as lamas; e de-
ti2 CARTAS DE AFFONSO DE ALBUQUERQUE
ram tam gramde fora de panelas de polvora, que quein1aram alguns
homeens e os fizeram afastar; e per natn termos sabida a forteleza e os
lugares por omde ha bern poderamos entrar, foy causa de nam ser em-
trada, e o lamo que combateram era tam piqueno, e a nosa jemte nam
se dobrou ao combate, nem se chegaratn aos muros senam os cavaleiros
e fidalgos e jemte limpa, toda a outra safastou, afora somente a jemte
da ordenama, aquela que os capitees poderam apertar e achegar com
ela ao muro; e pola terra ser forte em sy e ser alagadia a lugares, e
hum esteiro com agua e vasa, nam foy bem socorrida de mim nem pro-
vida aquela parte da. bamda da porta, porque cay eu com a 1ninha bam-
deira da bamda da Ino ezquerda do esteiro omde estava ha torre que
defemdia miliquiaz, ho segumdo capitatn da forteleza, ho1nem hon1rado e
cavaleiro mais que Ruztalcam, capitam primcipall.
Era daquela bamda comigo garcia de sousa, jorge da silveira, diogo
mendez, cm alguns cavaleiros e fidalgos, que aquele dia ho fizeram muy
ousadamente; e foy bem aperfiado feito daquela parte domde estava gar-
cia de sonsa trabalhamdo por sobir ao muro ele em pesoa e jorje da sil-
veira e eses cavaleiros que con1 ele eram, em tall maneira que a mim me
parece que a minha batndeira se posera no muro, se per outras partes
podara ser acompanhado ; ain1da que tam grosa jemte conto era a dos
mouros, e tam gramde fora, nam era pcra entrar hum homen1 ou dous,
mas portaU gramde ou lamo de muro deribado, por onde emtrase fora
de jemte grosa, porque benastary natn era forteleza, mas vyla muy gramde
com oito mill homens de peleja demtro e muros muy fortes, a que a nosa
artelharia fazia muy pouco nojo: e estas cousas que vy, me fez nam aper-
fiar ho combate, e dar lugar jemte que se afastase do combate, por
nam ser aquela a minha detreminaam, nem virmos aparelhados pera ho
tall feito con1 nosas escadas, man1tas, bamcos pimchados e artelharia grosa,
como tinha ordenado; c port.amto, senhor, eavaleiros e fidalgos carrega-
dos darmas por gratnde calma, vin1do a p de goa a benastary, foy cousa
de que me muyto espatntcy velo pr as n1os no rnuro, e com tamto tra-
balho e desejo dachegar, e a p e r f i ~ r a emtrada 'dos muros aos turcos, que
ha sabem 1nuy bem defemder, e tnatarem muytos deles amtr as ameyas
s lamadas, e mataren1 n1uytos amtes que se recolhesem de todo aa sua
forteleza, omde os alavatn co1n toucas por cin1a do muro; queles que fi-
caram atalhados ao cerrar da potta, mataram lhe aly dous capitees, mi-
rale e conaiqe.

CARTAS DE AFFONSO DE AIJBUQUERQUE t. !3
Naquela banda da porta e lamo do muro se acertaram os eapitees
e fidalgos que aquy nomearey a vosalteza: dom garcia, manoel de Ia-
cerda, pero mazcarenhas, pero dalboquerque, lopo vaz de sampayo, am-
tonio de saldanha, francisco pereira, jorje d alboquerque, jorje nunez,
gomalo pereira, dom joham d ea, diogo fernandez, dom joham de lima,
gaspar pereira, Rui gomalvez e joharn fidalgo; da outra bamda comigo
era garcia de sousa, jorje da silveira, diogo mendez; todos estes eram
capitees e levavam cargo de jemte.
Os que aquele dia foram queimados e ferydos, foy manoel de Ia-
cerda, pero dalboquerque, jorje da silveira, Iopo vaz de sampayo, Ruy
galvarn, francisco pereira sobrinho de diogo corra, e pero corra, joham
delgado, que vinha por esprivam de ofala, Ruy gomalvez capitam da
ordenama, diogo fernandez, manoel de sousa alcaide mr, jeronimo de
sousa, e outros homeens de bem, e jemte da ordenama que os capitees
dela poseram ao p do muro, e dons ou tres dos piques foram emtrados
ern cima do muro e lamados fr queymados e ferydos.
Afastada a jemte do combate, nos posemos em lugar omde nos a
su artelharia fizese menos nojo, e estivemos vemdo os lugares por omde a de-
viamos combater, e por quamtas partes a podiam os escalar e emtrar, e daly
party caminho da cidade, e lhe trouxemos todo seu gado e alguns cavalos.
Os cavaleiros e fidalgos e jemte omrrada que aquele dia eram pegados
no muro com seus capitees, per Roll os mamdo a vosalteza, os quaees
acompanharam bem seus eapitees, pelejaram em seu lugar muy ousada-
mente, aprefiamdo todos demtrar ho muro, sem Reco do fogo, espimgar-
das, frechas e algas bstas dos arrenegados, lamas, pedras e bombar-
das, com que os mouros defemderam bem seu muro e nos feryram cemto
e cimquemta homeens e a outra jemte baxa afastada do pee do muro.
E abaley asy com toda a jemte caminho de goa, e estive asy /por
dous dias damdo folga jemte, pomdo a artelharia em caminho, escadas,
bamcos pimchados e mamtas, alviees e emxadas, pipas vazias pera no-
sas estamcias, e toda cousa que pera ho tall feito amtre ns se podia
aver; e ao terceiro dia mamdey logo sair a jemte da ordenama, bestP.i
ros e espimgardeiros, e se foram com a artelharia e a minha temda asem-
lar ao meyo caminho de benastary; e algllus capitees abalaram logo suas
\emdas com seus agiees e temdas e jemte, e as asemtaram de redor da
minha: as tem das eram papafigos de naos, monelas e outras velas, de que
t Assim est no original, mas entendemos que se deve ler mone1a1.
IIS
I ti, CARTAS DE AFFONSO DE ALBUQUERQUE
fiZemos muy boas temdas e gramdes, e noso arrayall muy bem asem-
tado e cada capitam em sua tetnda, bamdeiras postas uelas; chegados os
capitees ao outro dia todos com suas temdas, c noso arrayall cercado
d artelharia, os fiz afasl.ar de lomge, e asy nos detyvemos aly dous dias,
polo prouimento e mamtimemtos da jemte que era trabalhoso d acarretar,
por nam termos as cousas neccsarias pera a ser\emtia destas cousas.
Pasados dous dias nos posemos todos em armas em batalhas, fomos
dar vista fortcleza dos mouros, que nos bem recebeo com muitas c
boas bombardas, e a jemte da ordenama com artelharia jumtamente
mamdey logo acl1egar pel'to da forteleza: como a nosa artelharia come-
ou de jugar, despejaram logo ho alto de seu muro e quebraram suas
bombardas, e nam deram lugar que jugasem mais; emtam me decy de
hum faquineo meu, soo e a pee me acheguey omde estava artelharia c a
mamdey chegar mais forteleza, naqueles lugares omde me parecia que
podia fazer dano e derribar l1um lamo de muro por omde podesemos
emtrar fora de jemte, e por aquele dia nam fizemos mais, somen1te asem-
tamos noso arrayall de rredor da forteleza do.s n1ouros, naqueles lugares
omde suar telharia ilos podese fazer menos dano.
Vimdo a noute, mamdey chegar as estamcias ao muro quamto se-
ria hum jogo de barreira, c dey cargo disto a meu sobrinho dom garcia,
e mamdou aquela noute pr as pipas em seu lugar chas de terra, e ar-
telharia amtr elas, e as mamtas mtty bem ordenadas: toda a noute traba-
lharam nisto perto de quatrocemtos homeens, piees da terra; e ao ou-
tro dia pela menha tinhamos nosas estamcias muy fortes e nos arte lha-
ria muy bem assemtada, c detrs das estamcias em hum baixo estavam
os capitees da ordenama com sua jemte, e noso arrayal e temdas majs
afastados: comeou a nosartelharia de tirar ao muro tam apresada e tam
Rija que os tnouros nam ousaram de vir amtre as ameyas, e comeamos
de Romper ho muro per ha parte, e at tarde numca artelharia cesou
de lhe tirar ; tinhamos cimquo camelos de ferro e hum camelo de metall
e hna espera de metal, dezaseis cees, vimte beros, e t r i ~ t a e sete bom-
bardeiros com a artelharia, que h o fizeram todos muy bem aquele dia at
tarde; e das gavias das naos, que estavam da o u t r ~ bamda, capearam
com bamdeiras, que lhe fazia l nojo a nosa artelharia, e eu mamdey avi-
sar os bombardeiros que tirasem mais baixo e desem resguardo s naos,
e mamdey achegar todas nosas escadas jumto aas estame ias; cada capi-
tam ps as suas em seu lugar.



CARTAS DE AFFONSO DE ALBUQUERQUE t i 5
Vemdo os mouros nosa detreminaam c a artelharia nosa que lho
derribavam ho muro, combatidos per mar e-per terra, cercados e atalha-
dos, se remderam e se deram, e pediram seguro e fala, e eu mamdey
joham machado falar com eles; per ele n1e mamdou Ruztalcam dizer
que lhe dse seguro, e que era o querya que ele fizese? mamdeylhe di-
zer que mamdase dons arrefeens, c que mamdaria l joham machado:
mamdou dons turcos, homeens primcipaees, e foy l joham machado, e
lhe dise da minha parte, que se queria leixar artelharia e os cavalos, e
emtregar me os arre negados que l amdavam, que eu os leixaria pasar:
chamey a comselho os capitees e fidalgos, e nam pude acabar corn eles
senam que todavia os combatesen1os e emtrasemos por fora d armas, asaz
apasionados de mim e descomtemtes, por me verem emtemder etn com-
certo cos mouros; e eu lbe respomdy, que a milhor cousa que os mouros
tinham, era a artelharia e os cavalos; e toda a outra jemte, aimda que ha
cativasemos, nana avia de meter na forteleza comnosco, porque estava-
mos carecidos de mamtimemtos, e que damdo lhe ns combate, a pesoa
de Ruztalcam serya duuydosa cousa tomai o, e punha em comdiam ma-
tar quatro ou cimquo fidalgos, ou vimte pela vemtura; e qtie 1nouros cer-
cados e atalhados, sem neha esperama de salvaam e n1uita jemte, sam-
gue aviam de fazer em ns, primeiro que os apagasemos de todo; c por-
tam to que eu determinava, deixan1do eles artelharia e os cavalos, leixal os
pasar terra firme.
Ruztalcam e os turcos vieram a este com certo, e eu lhes dey seguro;
e Ruztalcam de noute pasou suas rnolheres e sua fazemda e alguns cava-
los de sua pesoa, c ele e miliquiaz, ho segumdo capitam; e a jen1te toda
ficou muy asombrada, e ficou tan1 gramde aluo roo e desbarato a1ntr eles,
que muytos se lam.aram ao mar e se afogaram: acheguei me ao muro
com toda a jemte, que nam pude ter a jemte que nam emtrase; foyrnc
emtam forado, por lhes guardar meu seguro, livrai os da jemte que
os narri matase nem Roubase; e emtrey demtro na vila e era tamta a
jemte na borda do mar e na ''ila, que eu fiquey espamtado, e muytos
turcos e Rumis e persios e muytos cavalos e todo seu fato sem remedeo
nehum de pasajem.
Mandey emtam vir os batees das naos que aly estavam, e outras
atalayas;barcas e navios de Remo que aly tinha, e os rnamdey pasar, e
com asaz trabalho os pude defemder da nosa jemte que os nam Roubase,
e .trabalharam nist.o dous dias en os pasar; e aquele dia que pasaram,
15



116 CARTAS DE AFFONSO DE AI.,BUQUERQUE
chegou Iufylary, capitam do ldal ham, a lhe dar socorro, ho quall nam
podaram emtrar em neha maneira; e daindo lhe socorro, parece me, com
ajuda de noso senhor, segumdo a boa vomtade da vosa jemte, hum ca-
minho levaram todos; e asy Recolhemos os cavalos e artelharia toda, e
asemtaram seu arrayall na terra firme, domde se lhe logo foram tres ou
quatro capitees turcos com muyta jemte branca: lufulary se tornou a
suas terras domde viera com sua jemte, e louvaram todos minha verdade,
guardar lhe imteiramente meu seguro; e primeiro que pasasem, memtre-
garam os arrenegados que se com eles lamaram.
E isto acabado, ho Ruztalcam se trabalha agora por minha ami-
zade, Receoso do ldalham ho tratar mail; e creo, com ajuda de noso se-
nhor, que as pazes se asemtarm com Idalham como seja voso servio,
e sempre nos leixarm partes das terras de goa: eu fao os pasos fortes
com torres, ainda que eu me afirmo que eles nam tornarm mais ilha
de goa, porque se viram cercados e a pasajem tomada com naos de qua-
trocemtos tonees atravessada no passo de benastary, que eles muy maU
euidaram que poderya ser.
Os arrenegados eu lhe dey a vida a requerymemto do Ruztalcam,
e os mamdey daneficar em seus membros, e aleijados e decepados e de-
sorelhados, por espamto e memorya da traiam e maldade que comete-
ram.
Ho em que agora fico ao presemte: lamo armada fora da barra e
vou sobre cambaya asemtar as pazes e alarguey as naos que fosem tomar
sua carga, e as outras, com ajuda de noso senhor, pera ho ano iram a
cambaya: espero de tomar mamtimemtos e com ajuda da paxam de noso
senhor, semdo ele em nosa ajuda, como sempre faz, espero d ir so ...... .
prazer ele, pola sua mizericordia, que nos leixar acabar este feito como
vosa a l t e ~ a deseja, com acrecemtamento de voso estado e fama dyamte de
todolos primcipes do mumdo: a imdia fica muy mamsa e asombrada,
posta em toda sojeiam e obediemcia de vos alteza; queira a noso senhor
comservar: espryta em goa a xxiij dias de novembro de i 5 I 2.
(Por lettra de Albuquerque) feytura e servydor de vosa allteza
Afomso dalboquerque.
(Sobrescripto) A el Rey noso senhor t.
a Torre do Tombo-C. Chron. P. 1., M. li, D. 3i.

CARTAS DE AFFONSO DE ALBUQUERQUE l t. 7
CARTA XXDI
1IS13-Novembro 30
Senhor.-Tras me posto em tamta necesidade e trabalho h o corre-
gimento das naos da carga quaa na India, e cousas que pedem de que
mostram ter necesidade, que de l de vosos almazeens podiam muy be1n
vir repairadas e remedeadas pera sua tornaviajeni, que he necesareo man-
dardes muitos _oficiaees ha imdia, ou naaos cadano pera qu ficarem na
imdia. Digovos, senhor, isto, porque elas chegam ~ o ms dagosto e se-
tembro de purtugall imdia, e eu no ms de setembro e outubro, e se-
gumdo a parajem em que amdo e os tempos e a navegacam d lugar vir
buscar a imdia, acho tomados os carpimteiros, ferreiros, calafates, tanoei-
ros, cordoeiros, e mais h o tempo em que me ey d aparelhar pcra tornar logo
a sair pera omde vir ser mais voso servio, que conviraa de necesidade
emvemar na imdia e correjer armada, porque sempre amdmos a quatro
bombas e chamamdo pola virge maria. E asy me fazem s vezes partir
tam tarde, que na1n poso alcamar os lugares omde me mamdaes ir; e
estes quatro oficiaees amarelos que hy ha na imdia, ben os ha mester a
vos armada cad ano: teria em mercee vos alteza oulhar bem por iso, por-
que vay muito a voso servio e a vosa fazemda; que omde nos deus d
de comer custa alha e todalas despesas e gastos de vosa armada e
soldo jemte, se ouuesemos d imvernar sobre o pescoo de vosas feito-
rias, creo que lhe dariam os ha boa pamcada nos cofres: portam to, se
as naaos da carga qu am de ser Remedeadas e lhe am d acudir com as
cousas que pedem, mester ha que mamdees mais oficiaees que acudam
a ha cousa e outra num mesmo tempo, ou as mesmas haaos tragam seus
oficiaees dobrados, e todalas outras cousas que pera sua tornaviajem arn
mester, porque eu saberia no ms de novembro e dezembro pera omde
quer que ouvese dir. E porque me tomam agosto, setembro, outubro,
novembro e dezembro, nam poso sair da imdia senam em maro e em
abriU, e aimda com ha mao nas barbas e outra na bomba: e frol de
la mar por iso levou as cimtas do costado de podres na mao com as ca-
deas e emxarcia, dum balamo que tomou; e estamdo sbel amarra, levou

-
"'


tiS CARTAS DE AFFONSO DE ALBUQUERQUE
abita com as camaras dos marynheiros, os excouveens, e outras cou-
sas que por este respeyto nos cada dia acomtecem, que sam largas de
comtar, porque os temporaes de qu pouco dano me tem feito, graas ao
muy alto deus, porque lhe guardo sempre sua comdiam: de novembro
a xxx dias de f5f3.
(Por lettra de Albuquerque) feytura e servydor de vosa allteza
- Afomso d alboquerque.
(Sobrescripto) A cl Rey noso senhor.
(ln dorso, por lettra coe v a) d afonso d alboquerque sobre o dano e
muito voso desseruio que lhe l fazetn os coregymentos das naos da ca
regaam: que se proveja.-Pera ver .
t ~ A R T A XXIV
11>13 -Novembro 30
Senhor.-Per outra carta memviou dizer vosalteza que amtonio
Reall e lourcmo moreno faziam ha nao pera vol a mamdarem carre-
gada d especiaria, e como Louremo moreno vos mamdou pedir a capita-
nia dela; e pry1neiro que a isto respomda a vos alteza, quero uos cspre-
ver ho fumdamento desta nao: vosalteza ha de saber que nam ha.hy
cousa no mundo mais atrevida nem mais desordenada que ho1neens da-
quela marca com milnos e fauor de vos alteza, porque nan1 tomam os car-
regos e cousas que a eles cometees, com aquela onestidade e bramdura
c da maneira que ho vos alteza mamda; mas pem logo os pees tam Rijo
per cima de tudo, com tamto atrivimemto e com tamta soberba e descom-
temtamemto dos homeens, que ho nam podem sofrer, e irnda os dana
muito mais dourai os eu em seus cart:egos e afauorecel os niso e tratai os
homrradamente; e digo nos isto, senhor, porque lhe con1etestes carrego
de vosa fazemda isemtamemte, poder de justia e d alada e pagamento
de soldos jemte, e as chaves do dinheiro de voso cofre, licema que po-
desem tratar carga e descal'ga de vosas naaos; e husaran1 em seu tempo,
polos eu nam ver nem chegar nunca a cocllim, tam isemtos de seus po
1
Torre do Tombo-C. Chron. P. t., M. 13, D. IO:S.

CARTAS DE AFFONSO DE ALBUQUERQUE ti9
deres e alem de seus poderes, que lhes parecia que nam tinha soperiori-
dade neha que Reinase sob r eles, nem carta que eu esprevese, nem
necesidade miilha que lhamostrase, nem acudiam a nada; nem esas sem-
temas vimgativas que davam semdo reprovadas por mim e feita Reste-
tuyam s partes, nunca ho quyseram dar execuan1 per meu roam-
dado, senam sempre em desordem, comfiamdo no fauor e credito
que vos alteza tem, e asy por se fazer logo huum an e meyn e dous

que os nan1 VCJO.
Creceo esta desordem em tarnta maneira que, tomada goa a se-'
gumda vez, esprevy aas fortelezas de vosalteza avysos do que me delas
compria pera me fazer forte em goa, por tall que vimdo os n1ouros sobre
mim, me nam lamasem fora dela: pasaram tres meses que numca me
Respomdeo a forteleza de cochim, nen1 me acudiram com neha cousa
que lhes mamdase pedir, nam tem do ns outra ajuda nem outro fano r
na imdia senam ho das vosas fortelezas: quamdo ''Y este desacatamento
e pouco temor de sua obrigao, certo, senhor, eu detreminey de volos
mamdar presos ambos de dous, e pasey luia carta per eles que viesem
logo a goa dar Reza1n de sy, e daly a dias parec me que estorvava huum
pouco h o despacho da carga, porque era j na derradeira; pasey outra
carta, que sobrestivesem asy at ver outro Recado meu, e emtam me Re-
spomderam que em cananor lhe tomavam todolos maos das cartas; po-
rm eu afora as cartas esperava por cousas que l mamdava que me
trouxesem.
Pasado isto asy, como digo a vos alteza, nam curey de lhe tomar
mais esta com ta; quamdo fuy pcra malaca, deixey eu manoel de Iacerda
corri esas naos d armada pera se a verem de correjer, e mamdey que ho
cime fose correjido pera minha pesoa muito bem, damdo cr que pode-
ria ser que ho mamdaria pera eses Reynos; e tememdo me logo deles,
dey hum poder a manoel de Iacerda, que en1temdese no correjymemto
da dita como se propiamente em pesoa eu hy estivese, porque
vos alteza me mamdou que an1tonio Reall ficase asy na fortaleza, e eu
poderia deixar ha pesoa com meu poder e autoridade, se me bem pa-
recese ; e por iso leixey manoel de Iacerda, que somente no corregimento
das naos d armada emtemdese.
Louremo moreno e antonio Reall, como homeens que lhe ficou .da
erama do visoRey husarem da justia vimgativa e de todalas outras
cousas, imda que seja vosa custa, tyveram ho cirne descoberto todo ho

-
!20 CARTAS DE AFFONSO DE ALBUQUERQUE
imvemo, e esteve acerqua de sete meses seno vararem: tomaram manocl
de Iacerda e comearam de ho bamquetear e emganar, e fizeran o com- .
sem ti r em quamla desordem niso quiseram fazer: ho comselho d amtr eles
foy dizemdo, pesar de tall que ele nos mamdava ir presos, desfaamos ho
cirne e ponhamos lhe ho fogo, e perder ele sete ou oyto mill curzados
que hy tem nele; e pera ajuda disto achavam que as feiticeiras de cochim
maviam por despachado. Isto era ho segredo dan1trelcs; ho de fra que
eles preegavam jernte, era que se fazia gramde custa em se correjer ho
cirne, e que seria menos custo fazer se ha naao de novo: depois d estar
seis meses no Rio, todavia meterana emvasadura no cime: como a em-
vasadura abicou a grade, parecia lhe amtonio Reall que a nao sayria fra,
e semdo tam forte e tam Rija como era, que os culparia muyto, fazemdo
eles h o que tinham detreminado: deyx o asy estar tamtos dias que os va-
sos se arearam, e apodreceram os imdios, e a emvasadura alargou, e o
cirne ps ho couce nas simeas da grade: janeanes quamdo ,i o estas cou-
sas, emtemdeo muy bem ho negocio, e tirou hum estromemto pera res-
guardo de sua obrigaarn: persyvall vaz, que era esprivam, foy preso,
porque fez requerymemtos sobre h ~ varar do cime e sobre ho cobrirem;
os esprives da feitoria tambem fizeram Requerymemto sobre ho mesmo
feito, e foram presos e mail tratados: esteve asy ho cirne por espao de
treze ou catorze dias na grade, at que deram a semtema que ho quey-
masem: queymaram h o cime e a emvasadura e a grade e a1ga arte lha-
ria que estava no cabo da grade pera a fazer tomar fumdo.
Acabado de tomarem e se vin1garem de mim nas vosas propias cou-
sas, arvoraram esta nao: ao pr das cavernas e picas, comearam d am-
dar hum pouco as Redes: viram os esprives da feitoria vosa fazemda
mail aviada, jornaes e madeira gastada; fizeram requerymemtos sobriso
e foram presos e mail tratados: porque ha chegada de cochim, quamdo
vim de malaca, achey toda esta imbrurylhada, quamdo vy ha tam gramde
. nao arvorada sem mamdado de vos alteza, nem comsymtimemto meu, nem
credito pera iso, fiquey pasmado serem eles tam atrevidos que cometeram
cometer t.am gramde gasto e despesa, com dous carpymteiros amarelos
que nam poderam acabar a de jorje harreto, que lhe primeiro nam apo-
drecese a quylha: chegam do eu de malaca que vy tam gramde despesa
feita, que nam ousey de mamdar desfazer a nao, amtes sobre ho feito do
cirne mamdey fazer auto diso e trazer a lume os Requerymemtos e pro-
testaees feitas amtonio Reall e a Louremo moreno e asy ho estromemto

CARTAS DE AFFONSO DE ALBUQUERQUE 1 ~ 1
que tirou Janeanes e todo ho mais que se nese negocio pason, dyse me
amtonio Reall e Louremo moreno que faziam aquela nao pera ha mam-
darem carregada de pimemta a urmuz, e caley me; deixey ir a cousa
avamte, e esprevy a vos alteza que pera iso se fazia esta nao, nam espre-
vemdo suas culpas: eu creo que pero d alpoem levou l ho auto deste
negocio, e pola carta que vy de vosalteza, em que mamdavees que se
nam fizesem quaa naos nem navios, senam daqueles de que tivese nece-
sidade, certo, senhor, eu lhe quisera meter a mao nas suas buetas; e
depois quys tudo guardar pera vosa alteza, pois que j ho mao Recado
era feito; mas esta foy a quylha da nao e a primeira caverna mestra que
lhe poseram e seu nacimemto.
Ho que saberey dizer a vos alteza desta nao, he que ela me tem
asaz torvado. minha navegaam e o despaho do correjymemto darmada;
e . a jemte come s vezes custa do voso cofre com esta tardama em tall
JDaneira, que ho prego que se lamar na nao, custar mais que em lix-
boa tres vezes; say gramde naao; porque se amtonio Reall vay, eu lhe
pedy fiama nao, e a louremo n1oreno que segurasem a sayda da nao
pola barra fora, e que acabam do se a nao, nam fi case a quilha podre e
a liaam de baixo, polo tempo que ha que est em estaleiro; como a vir
em mar e fora da barra, emta1n poderey dizer a vos alteza se hyr segu-
ramemte a eses Reinos com especiaria; pera aquaa parece me mayor nao
do que he necesareo, e se navegar com carga, ser pera malaca ou pera
urmuz com pimemta, aimda que as naos que quaa am d amdar em vosos
tratos, devem de ser naos que sem pejo emtrem no Rio de cochim com
ha carga que trouxerem de fra e posam espalmar em outras partes, se
lhe comprir. ,
A nao leva forte madeira; ha dons anos que est no estaleiro; nam
sey quamdo sacabar; de muitas cousas tem necesidade: de cananor a
xxx de novembro de 1513.
(Por lettra de Albuquerque) feytura e servydor de vossa allteza
Afonso d alboquerque.
(Sobrescripto) A ellRey noso senhor.
(ln dorso, em lettra coeva) dafonso dalboquerque e reposta que
- vosa allteza lhe espreueo sobre a nao nova que se fez em cochy.-Pera
ver .
t Torre do Tombo-C. Cbron. P. t., M. 13 .. D. 108.
16
\
122 CARTAS DE AFFONSO DE ALBUQUERQUE

CARTA XXV
liSlS-Novembro 30
Senhor.-Vosalteza me culpa na guarda de calecut. Digouos, se-
nhor, que ha guarda de calecut pera lhe nam virem mamtimentos, que
he . trabalhar debalde, porque na terra ha muito arroz, e tramapatam e
cananor h o abaRtecerm sempre em gramde soma, e vos alteza nam lho
pode tolher, senam tolhP.mdo a navegaam a cananor, porque de trama-
, patam a calecut he muy piqueno caminho por terra, e as naos de calecut
se varam em tramapatam; e asy lhe vem mamtimemtos da terra de nar-
syrnga em gramde abastama; e portamto, senhor, he em vam trabalhar.
sobreste feito; porque as naaos de cochim, se vem necesidade, J levam
os arrozes a vem der: e quamto ao que toca ha navegaam de suas espi-
ciarias e guarda de calecut digo, senhor, que ho primeiro ano que come-
cey a governar a imdia, eu hia com xxij naos caminho do estreito, dei-
xamdo lhe queimadas suas naaos todas no ms de janeiro, e sua navega-
am e pasajem he no ms de feuereiro e maro, e per .esta comta nam
navegou estano; e a noso senhor aprouue mudar meu caminho no feito
de goa; veyo depois armada de gonalo de siqueyra e louremo moreno,
e eu say de goa quamdo ha leixamos aos turcos, e todo ho ms dagosto,
setembro e outubro amdaram naos sob r ela, symam martinz, framcisco
marecos, garcia de sonsa, manoel de Iacerda, e tomaram hiia nao de me-
qua: fuy naquele tempo sobre goa, no ms d outubro, e ficou symam
afomso na sua caravela, e jorge botelho na caravela Redomda: ganhada
goa me mamdou ho amory falar nas pazes, e eu tnamdey symam Ram-
jell em ha fusta de goa a calecut, e se meteo na caravela de symam
afomso, que hy jazia diamte do porto, e estiveram nestas praticas de suas
falsidades e emganos, por saber milhor parte das naos que carregavam e
por se guardar milhor a Ribeira do ~ a r : a forteleza de goa feita, eu me
fiz prestes caminho do estreito no ms d abril, fican1do as cara\'elas e fusta
deamte de calecut, e tinha mamdado Diogo fernandez a acotor, que
m esperase hy at meado mayo, e nam sem do hy at meado mayo, sou-
besse que eu era arribado a urmuz com tempo, e nam m achando em

...
CARTAS DE AFFONSO DE ALBUQUERQUE t.23

mascate ou nesa costa, emtam se fose a urmuz e pedise as pareas: prouve
a noso senhor de eu nam fazer este caminho, por ser j ho tempo muito
_ gastado; emtam arribey sobre goa e alarguey de mim parte da jemte,
e o rey piqueno e o navio samtesprito e a lyonarda e a Rumesa e ha
nao nova de goa em picadeiros e ha galeota e duas fustas e hum na-
vio piqueno dos de goa; e dy me vim a cananor e lhe deixey alga
mais jemte, e parti me dy e vi me a cochim, ho cirne, ajuda gramde e ajuda
piquena, e o Rosairo e a gara e sam tom, nao nova de cochim, e mais
os capites, deles cavaleiros e fidalgos,. .e jemte do mar que nelas anda-
vam; e deixey manoel de Iacerda com poder de lhe obedecerem todolos
capites no mar, e como viese agosto sayse logo de fora e guardase bem
a costa de calecut: sobreveyo neste tempo a emtrada dos turcos na ilha
de goa e acudi o l manoeJ de Iacerda, e veyo diogo fernamdez d urmuz
com tres naos e a jemte de acotor; e per esta com ta achar vos alteza
dezoito velas, com ha nao nova que ficava em goa em picadeiros, e mill
homeens na imdia, nas fortelezas e em goa, dos quaees cristovam d ~ brito
e dom aires acharam em goa perto de setecemtos homeens, que era toda
a milhor jemte e mais homrrada que eu trazia na ilndia e as milhores
naos darmada: deixey isto asy ordenado, porque me dise vosalteza em
hum c.apitulo do meu Rejimento que, navegamdo eu aos lugares per vs
ordenados, apartam do me da costa da imdia, deyxase algum homem com
alguns navioos em guarda da costa. E polo feito de goa ser muy fresco,
posto que ha fortaleza ficava pera dar rezam de sy a toda a jemte da iro-
dia que viese sobre)a, todavia, por mais Resguardo e polo reco que se
sempre deve de ter darmada do soldam, eu alarguey de mim todarmada,
nam levamdo comigo senam frol de la mar e a taforea e as d ~ a s carave-
las e as duas gals e hila galeota de ~ a : a galeota e a gal piqoena se
foram ho fumdo atravs de ceilam, e salvey a jemte e alga artelharia; e
asy levey cimqo naos de goa, quatrocentos homeens da imdia, duzen
tos malavares, e as naos de diogo memdez com duzemtos homeens, a
mayor parte deles negros da Ribeira de lixboa, e hereses gorometes, e
emxobregas e. o bretam eo a jemte do mar; ora veja vos alteza as cartas
dos homeens da imdia, e vede, senhor, se vos dam esta comta desla ma-
neira verdadeira e cha detodo voso rejimento e tudo mylhor provido do
que mo vs imda emcarregastes: e estano nam navegou calecut, porque
at per todo h a ms d abrill amdou a vos armada sobre o pescoo d ~ ca-
lecut.
-

t
I
., ...
'

CARTAS DE AFFONSO DE ALBUQUERQUE

Semdo eu em malaca, sayo manoel de Iacerda com as naos de co-
cbim, e o feito de goa ho fez leixar a costa de ealccut, e partiram seis
naos carregadas d espyciaria; e nos o senhor por sua piadosa merc, que
foy sempre em minha ajuda sem lho eu merecer, se lembrou de meu car-
rego e de minha obrigaam, e semdo as naaos tamto avamte como caco-
tor, pegadas nas costas d amtre ho cabo de gardafuny e magadaxo, deu
t.am gramde temporall nelas que se perderam aly duas, e ht1a arribou a
batecala, de que vos l foy a canela nas naaos de dom garcia e jorje de
melo: mafomede maary, ho primcipall mercador de calecut, que se h ia
pera ho eairo com toda sua casa e fazemda e levava simam Ramjell com-
prado, e levava tres naaos suas carregadas d espiciaria, correo com tem-
porall as ilhas de maldiva e camdaluz; doas safumdaram logo no golfam.
E ehegamdo ele s ilhas na sua em que hia, foy atravs e se perdeo, e
salvou d aly alga espiciaria, e comprou ha comdura das ilhas, e como
veyo tempo, partio nela com alga pouca d espiciaria que escapou, e sy-
mam ramjell com ele, e veyo a ver calayate e aly se perdeo a com dura;
e partio d aly em ha naao d urmuz e veyo adem. Esta he a verdadeyra
com ta; ora veja vos alteza as cartas que vos os homeens ooeeosos espre-
vem da imdia, e vede, senhor, se achaes isto nelas.
Ho anno qme chegou dom garcia, say eu de cochim e fomos sobre
banastarym, e noso senhor foy em nosa ajuda e lamamos os turcos fra
da ilha com partido . de m emtregarem os cristos ........ espravos e
espravas que eram fogidos de goa, e todolos cavalos e artelharia, como
j l tenho escrito a vos alteza: acabado este feyto, mamdey logo meu so-
brynho dom garcia volver a cochim correjer eses navios que m espedaa-
ram esas bombardas dos turcos em benastarym, e guardar ho porto de
calecut, e sempre amdaram navios sobre calecut; faziamse prestes dez
naaos com earga despeciaria, e sabia o eu certo; e neste tempo falava ho
nambiadery, primcipe de ealecut, sobre as pazes de calecut e dar forte-
Ieza e tributo a vos alteza, de maneira que neste tempo nam sayo neha
naao, e eu fiquey em goa fazemdo forte ho paso de benastarym, que he
a chave da ilha de goa, e fiz sobre a Ribeira do Rio e paso h o castelo de
sm pedro, que at quaremta ou cimquenta homeens abastar pera o de-
femder; e mamdey fazer outra torre em pamgym com sua cerca de redor
e baluarte no mar, e mamdo agora fazer outra sobre a barra e emtrada
do porto omde estava. hum baluarte dos mouros: acabado meu sobrinho
de ter eorrejido as naaos, eu lh esprevy .que alargase a costa de caleeut,

'

....

CARTAS DE ~ F O N S O DE ALBUQUERQUE 1 ~ 5
descobryndo lhe secretamente como minha determinaam era emtrar ho
mar Ro1o e ir sob r adem, e que me seria milhor comselho dar lugar s
naaos que carregassem, polos acolhermos com toda sua Riqueza dentro
no mar roxo na boca dele; dom garcia meu sobrinho ho fez asy: che
gamdo ele sobre a barra de goa, estava eu j embarcado com toda a
jemte; eramos por todos mill e se tecem tos homeens, ficavam em goa qua-
trocemtos e em cochim oitemta e em cana no r oitenta: deu nos noso se-
nhor tempo de ba viajem, e fizemos h o que mais largamente vos alteza
ver pela carta gramde: mamday agora, senhor, vir as cartas que vos es-
prevem da imdia, e vede se vos dam comta desta maneira do negocio da
imdia, ou se vos esprevem como compitidores do voso capitam mor e em-
vejosos de seus trabalhos e de seus servios; e outros ho fazem s vezes
por escamdolo de seus castigos e Repremsees que por suas culpas me-
recem, e outras vezes porque me pedem ho que lhe eu nam poso dar.
Pattidas as naaos de calecut .. em pamdarane, antes que part.issem,
se perdeo ha, e semdo tamto avamte como acotor, deu hum temporal}
nelas, que lambem deu em ns, de vemto sul] e sudoeste; elas seryam
ree de ns cem to e cimquemta legoas; com este tempo nos metemos
ora quamto podemos aferrar a terra da costa do cabo de gardafuny pera
den1tro, porque hiamos com levamtes a meyo estreito demamdar adem,
que nos demorava a loeste em sua altura propia, e o vemto que leva-
vamos era lesueste amtes que nos dese ho sull: dmos tamta fora de
vela s naaos que aferramos a costa e ouuomos vista dabedalcuria, e to-
mamos a terra de felez: com este acemdimento deste vemto as haguas
corryam a vem to comtra ns; leva vamos mar e vem to que nos sobejava;
perdemos os. caturys que levavamos por popa, e asy fomos costeamdo a
cost.a. Este temporal) que dito tenho, fez arribar as naaos de calecut e
meteo logo duas no fumdo, e as outras alijando espiciaria e cos mastos
quebrados, veyo hfia delas ter a Inayrn, outra veyo ter a danda, duas
vieram ter a dabull, ha a amgiar, outra a batecala, outra correo a ca-
lecut e se perdeo em panane, outra emtrou em mamgalor, entras naaos
que vinham lle amatora e martabane e bemgala arribaram s ilhas e at
ora nam sey ho que h e feito delas; e duas de mamal e de cananor com
seguros desymulados pera urmuz, dados poJo capitam comtra minha de-
fesa, das quaes ha emtrou em diu e outra en1 chaull: eram em cama
com estas naos hum jumqo de pego, que levava alacar e marfim e arroz
e almizquyry e alga pedraria, e arribou com este tempo: da volta que


..
126 CARTAS DE AFFONSO DE AIJBUQUERQUE
agora volvy do estreito, vym correndo a costa, e no jumqo e nao que es-
tava em rnaym nam quis emtemder, por acabar de dar este noo ao com-
certo de cambaya; e vym a chaull e a damda, omde m emtregaram a nao
com toda a espiciaria e arte lha ria; e em chaull I eixo hum carpimteiro e
fernarn de resemde fazemdo duas caravelas latinas.
A maneira que agora tem calecut pera navegar suas espiciarias, he
esta: mercadores primcipaes de calecut ha j muy poucos; os do cairo
foram se pera o cairo e alguns pera urmuz e outros pera cambaya, e ou ..
tros foram pera ese sert_am de narsymga: todo feito de calecut agora he
de mouros de l desas partes de afim, douram, de tremecem, de tuniz,
do tripuly dos jerbes e de grada, e arrimcaram de l com suas fazemdas
e vem do cairo a jud, e de jud vem a calecut com dinheiro na mo e
chegam em agosto. E em setembro e em outubro, novembro, dezembro,
janeiro e feuereiro, fazem naos novas cm calecut e carregan as d espicia-
ryas e vam se, e comeam agora de fazer este caminho: pregumtey alguns
deles como se avemturavam vir tratar a calecut, estamdo amtre duas for-
talezas nosas e nos armada; Respomderam me que eram tam gramdes os
ganhos, que a todo Risco ge punham, que faziam de hum curzado doze
e treze de calecul a jud c adem, e que a pimemta valia a xxb curzados t,
e em jud e no cairo ho jemjivre e pimemta nam tynham preo: e eu,
senhor, ho creo, porque natn sam eu tarn desprovido de minha obriga-
am que s vezes nam atnde e1n ha tavoa no mar, por dar booa comta
de mim e de meu carrego ; e as naos de calecut que eram a viajem, pa ..
reee que ho meu cuidado lhe faz elas perder ho tempo verdadeiro de sua
partida, e mais noso que tem cuidado de guardar e comservar as
vosas cousas, porque nam ha quaa li homeens ', de que vs fazs Uin-
danlemto; e prouuese a deus que com os de malaca fossemos dons mil]
e quynhemtos: lembra me, senhor, ho que dezia bo prioll do crato meu
tio a el Rey que deus aja, que emtraram na graciosa xxx homeens
3
, e
ns numca nos podemos ajnmtar tres mill, porque quamtos emtravam,
tamtos sayam doemtes, afora os falecidos; e j vos l lenho isto esprito
nas cartas passadas; nam vem qu toda a jemte que embarca em lixboa,
nem embarca em lixboa a jemte de vosa alteza faz fumdamernto; asy,
senhor, que me nam obryguees como homem que tem cimqo mil I ho-
t Vinte e cinco cruzados.
2
Cinco mil homens.
Trinta

&
CARTAS DE AFFONSO DE ALBUQUERQUE li7
-
meens, porque se os tivesse na imdia, com ajuda de noso senhor e das
suas piadosas chagas e com a boa querela que temos comtra os
imigos da sua samta fee, eu m esforo a derribar a soberba da imdia e a
ganhar as mayores cousas dela, aimda que as cousas sam j asperas, e a
jemte com que pelejamos he j outra, e artelharia e armas e fortelezas
he j tudo tornado a nosa husama.
E porque vem mao, querouos, senhor, falar neste feito de cale-
cut: vos alteza me tem esprito sobre a paz e a guerra de callecut per
muitas vezes; a primeira foy polo marychall e mamdastel o isemto, some-
tido eu a seu comselho e parecer cerqua de lhe poor as maos, ou nam,
e paz e. comcerto com ele em alga maneira me tocastes, como seri
voso servio emtemder se niso com algum Resguardo do descomtemta-
memto dei Rey de cochim; depois me tornastes a esprever sobre ho mesmo
feito desta mesma forma e maneira, e desejamdo j mais sua deslroyam
e que ha precurase, e em todas me tocastes nam poer jemte em terra; eu,
senhor, fiz sempre h o que me vs mamdastes, e el Rey de calecut m es-
preveo e eu lhe respomdy: ho nambiadery, primcipe de calecut, me mam-
dou falar e m espreveo, e eu lhe respomdy; tudo eram cousas desapega-
das; as de minha reposta fazia o mais poJa obrigaam de n1eu oficio, que
he respomder aos Rex e senhores que m emviarem seus embaxadores e
suas cartas, ora seja nosos amigos, ora nosos imigos, que por me parecer
que ho amory daria forteleza nem receberia vosa jemte em sua cidade, que
era toda sua destroycan1, e com este feito ho poderiees milhor emfrear e
asenhorear e.trilhar, e fazerdes de calecut tudo ho que quiseses, pois que
ha quymzanos que lhe temdes feito muy pouco nojo com guerra, nm me-
nos vosas armadas lhe tolheram numca sua navegaam, por esta Rezam:
vosos navios amdavam sobre a costa de calecut, e se eram piquenos e pouca
jemte, armavam sob r eles, e alguns estiveram em comdiam de ser toma-
dos, e quamdo deste perygo escapam, afastam se afora; e eles botam suas
naaos ho mar e carregan as, e as vosas caravelas e navios piquenos nam
am dousar dematndar l seus bats, porque tem pouca jemte e nam lhe
am de, poder empecer, e estarm em comdiam de os tomarem dous pa-
raos; e eles tem cem paraos carregados de mercadaria de redor de btla
nao, e carregan a em duas oras, e co terrenho de noute vay a- nao na volta
do mar e os vosos navios ficam surtos; e hiia sae de panane e outra de
pamdarane e outras de cramgalor e do arrecify e outras de
e outras partem tle tramapatam cos seguros que lhe daa cananor; e sem-

I !8 CARTAS DE AFFONSO DE ALBUQUERQUE
pre fizeram esta navegaam e faram, se lhe nam tiverdes estes portos to-
mados cotn muy boas naaos e muitos navios de Remo que estm pega-
dos em terra com costas qucmtes de naaos, em tall maneira que se nam
erye armada sobreles; e vos alteza manda que duas caravelas ou dois na-
vios piquenos guardem a costa de tomarvolosam, e eles nam am
de tomar nada de calecut, porque hua nao de calecut que no ms de se-
tembro chegou de jud, nana tomou ela ho navio ferros nem ousou dem-
vestir com ela, e tinha vista amtonio de saldanha em frol da rosa: natn
sam as cousas da imdia tam moraes eomo as l fazem, nem estam da
que soya a ser: digouos, senhor, que as naos de calecut da
maneira que agora custumam fazer, que he carregarem em tres oras da
noute, e como salta h o vem to a terra fazem se na volta do mar, que se os
vosos navios da guarda da costa nam estiverem emcadeados com elas,
que as nam verm partir, e se nam forem boas naaos e boa jetote, pela
vemtura as nam tomarm.
Mais, senhor: porque temdes vs guerra com calecut polos desati-
nos d aires correa e que rs que tamt.os anos estee voso poder na imdia
em descredito com esta guerra de calecut que faz a veneza ter comfi-
ama das cousas da imdia e de seu trato amtigo, que faz ao cairo fazer
armadas e com fiar que botar vosas jemtes e naaos fra da imdia 1 e em-
tamto calecut estiver desta maneira, numca ho cairo nem veneza desisti-
rm de seu preposito: e por cartas dei Rey de .. cochim e dei Rey de cana-
no r e dos feitores de vosas feitorias e esprives deixaes vs de tomar
asem to com calecut, quymz anos ha; e deyxaees de desbaratar voso imigo
com paz e forteleza .. pois que hat gora com guerra lhe temdes feito muy
pouco dano: que vos h a vs d esprever Louren1o moreno, senam ho que
elRey de cochim que vos am a vs desprever os esprives de co-
chim de vosa feytoria, senam ho que el Rey de cochirn pedir'! que vos
ha vs descrever amtonio Reall, senan1 ho que elRey de cochim quyser1
que vos ha vs descrever gaspar pireira, senam ho que lhe el Rey de co-
chim pedir'! porque estes ambos de dous que vem por feitores, cuidam
que estarem cemtanos na imdia por feytores est na mo deiRey de co-
chim, se vos escrever bem deles; e acomselhan o h o que vos espreva e o
de que se ha d agravar ; descobrem lhe os segredos de purtugall e as de-
treminaes de voso Rejymemto; meten o em escamdolo co voso gover-
nador, e sem verem voso rejimemto, se me vm fazer alga cousa das
que me mandaes, fazem lhe emtemder que tall me nam mamdastes nem di-

CARTAS DE AFFONSO DE ALBUQUERQUE
s8stes;. pedem lbe cartas pera vos alteza ead ano, e eles as me-
nntas.
Mais, senhor: quem sostem calecut senam el Rey de cananor e el Rey
de echim, porque as suas naos lhe -levam os mamtymemtos 'P as suas

naaos vam tomar com vosos seguros as esptciarias por essa costa e por-
tos de calecut: amtes, senhor, crede que estes mesmos os sostem,
terdes eomtinua guerra com ele, e haa vosa e de vosas armadas
tem seus portos pouoados de muitos mercadores e de muitas mereadarias
e tratos, e nano querem destro ir: nam sey eu que el Rey de coehim que
tem ele xxx nayres ', e eiRey de eanano que tem mais de iX
1
1 porque
ho nam vam destroir? e porque nam foram ajudar ho marychall e a mim,
e foram senhores de calecut1 porque nos querem trazer nesta pemdema
at do juizo: alga pratica desta tive eu com el Rey de cochim, e quamdo
lll alegou a morte de seus paremtes por voso servio ; e eu aleguey a morte
do marychall e de muy boons cavaleiros e fidalgos por sua honra dele e
polo que ele alegava, e o meu brao esquerdo, que ho nam poso alevam
tar, dizemdolhe que se ele e elRey de cananor sost.inham calecut, que
como ho aviamos ns dacabar de ho derribar1 e eu detreminava-de lhe
nam fazer mais guerra nem paz, sem mamdado de vosalteza: bem llie
parecia ele nam ousar de vir hum recado de cananor a eochim em hum
parao, que logo nam fose tomado, nem de coehim pera cananor, e que
as naos de seus portos cos seguros de vosalteza lhe levavam as cargas
dos arrozes demtro a calecui. Esta mesma maneira tem os vosos ofieiaes
com el Rey de eananor, e o trazem posto em todo deseoincerto; e: sam
nesta ajuda e comselho com peitas e dadivas a elRey de cochim e aVO-'
sos oficiaes .e aos vosos capytes das fortelezas os mouros mercadores de
eochim e os mouros mercadores de cananor, por tall que as suas naos
naveguem seguras e sens tratos mais proueitosos, e que 0$ de ealecnt
nam naveguem nem tratem: oulhay, senhor, por isto, que vos vay muito;
abasta a boa paz e que temdes com elRey de coehim, seu por&o
e sua terra muito Rica e ser escapola da carga de vosas naaos ho porto
de eocbim, de que tamte proueito Recebe. E fazey vosos feitos mny bem
e como vos compre, porque asy ho faz elRey de coehim, que faz seu com-
certo e sua paz cos caymaes e senhores da terra de mala v ar, que sam
com el Rey de calecut, por seu proueito e por segurar sua homra; Recebe
1 Trinta mil naires.
2
Sessenta mil.

17
\
-
-
130 CARTAS DE AfFONSO DE ALBUQUERQUE

a e mercadores da terra de Repelym demtro em seu semdo
terra delRey de calecut: e os chatins de calecut nam vem eles de calecut
carregados de pedraria 1 pois rezam parece que tenhamos ns esta cabra
polo pescoo, e que ha estm eles mamamdo 1 nam querem fazer gUerra,
e querem que ha faamos ns; nam nos querem ajudar, .e querem lhe eles
dar todolos . mamtimemtos e provymemtos que podem; e Rex de. qu
sabem jugar seus jogos como os de l, e tem comselho e syso: guarde se
vos alteza das cartas de vosos oficiaees, que eles sam hos que estorvam ho
comcerto de calecut, e trazem danado el Rey de coebim e o de cananor,
e lhes parece que seus oficios ficaraam abatidos; e sam muy grosamemte
peitados dos mouros: quem amamsou a furia de cananor senam verem
que dava eu orelhas paz de E portamto, senhor, seguray ca ..
lecut com forteleza,se vola leixar fazer;perdey ho deseomtentamemtoque
dele temdes, os vosos homeens foram causa de sua morte e asy
os de @ulam; nam curs de trato de cananor, que he sem proueito, nam
tem porto nem Rio pera as naaos nem galees, nem mercadarias nem pe ..
drarias, nem mercadores que tratem em vosa feitoria; abraai vos com
cochim e ealecut pera a carga de vosas naaos, que prazer a noso se-
nhor que durar at flDl do juizo: este he ho milho r comselho que podees
tomar e mais proueitoso; e agora he tempo, que ho amory he morto,
homem de tam pouca verdade, cho d emganos e eovardo, que com medo
numca ousou de fiar de ns: abra vos com estes dous portos, porque
aquy temdes todo jemjivre beledy, toda a pimemta do malabar, e outras
muytas drogarias e toda a pedraria de narsymgua. e gasto de muitas mer-
cadarias, que avemdo tamtos anos que temdes guerra com calecut, aimda
oj este dia h e a mayor cousa da imdia nesta parte e mais Rica; e cana-
no r, avemdo tamtos anos que temdes paz e amizade com ele, aimda oj este
dia nam vay hum homem ho lugar, que nam vaa com a barba sObe lo
ombro, nenos deixam cortar hum paao por nosos dinheiros em sua terra:
nam creaes comselhos nem cartas da imdia, porque os homeens que vol as
esprevem, nam vestem as armas, amtes mamdam por couraas a punu-
gall pera vemderem por R e I cruzados t : tir vos, senhor, desta guerra
de calecul, porque acabaees muitas cousas com a paz e segurama dela,
que nimguem nam chama os Rumis imdia senam calecut; com a paz
lhe cortaes esta esperama, e avees todalas drogoarias e jemjivre beledy
1
Por quarenta e cineoen&a eruzados .


CARTAS DE AFFONSO DE AIJBUQUERQUE 131
de sua terra pera a carga de vosas naaos, e pedraria, e em hum mesmo
tempo estam as vosas naaos tomamdo carga vista has das outras. Ca-
nanor he hum regatam, que nos estam vemdemdo os mamtimemtos polo
dobro, de que nam avees proueito nehum, nem aproueita pera nehtta
cousa senam pera nome de fortaleza; todalas outras cousas que nele ha,
a caleeut vam por elas: torno vos, senhor, a dizer que asemtees a esca-
po la de vosas naaos nestes dous portos, e quem vos ho comtrairo acom-
selhar, perdoe lhe Deus: e acabamdo vos alteza ho feyto de calecut da ma-
neira que dito tenho, eobrars gram credito na imdia pera as cousas de
voso servio, e muito mayor temdo hum pee demtro nele, que destroylo
de todo nam pode ser: e ha nesas partes do cairo e veneza e turquya e
outros muitos Rex e senhores emvejosos de vosa fama, de vosa vitoria e
comquysta e das Ryquezas da imdia, que estam todas na vosa rnao, ti-
radas a eles; pomdel os com este feito acabado em todo descredito e des-
comfiama das mercadarias da imdia, porque nam ousarm de vir a ela,
que temdes tudo acopado; portam to, senhor, h o que nestas partes nam
poderdes acabar com guerra, com boa paz e forteleza nosa husama
as mamsars e asenhorears.
Digo mais neste feito de ealecut: ho amorym he morto que vos fez
a trayam; veyo outro Rey soceder ho reino e terra; quer paz com vos al-
teza; Recebe vosa forteleza e vosos tratos e mercadarias; quer vos dar as
que ha em sua terra; nam vos fez a guerra nem nehum deservio: por-
que nam folgar vos alteza de ho ter por servidor e de se aproneitar
da Riqueza de sua terra e do que nela ha 'l e estars fora desta duvida
das espiciarias . de e tem dei o asenhoreado eom ha fortaleza de
eemtomeens, e hum pee sempre nela demtro pera o destroirdes cada vez
que quiserdes; e dous navios com cemtomeens nam podem isto segurar,
nem sam boons pera nimygalha j gora na imdia. E nam ter ho cairo
nem veneza neha eomfiama j das cousas da imdia: e eu ey por certo
que bo nambiadery matou ho amorym com peonha, porque em todalas
minl:las cartas lhe esprevi que matase ele ho amorym com peonha, e
que iia paz eu me eomcertaria com ele. E se n.,ste caso quers que
se guarde as jemtilidades e cerymonias dei Rey de cochim e seus paras
cadano, fazey, senhor, ho que quyserdes, que vs paz universal] me
dasts emcomemdar e assemto e ase sego com toda a terra do malabar;
soeedy a voso mamdado e parecer, porque estam do vos alteza na imdia,
nam poderees aver milhor eomselho cerca da terra do inalavar,: omde
17

CARTAS DE AFFONSO DE ALBUQUERQUE
vosa.c; naos estam tomamdo sua carga sobre hila amarra, e s vezes nam
fica nela senam hum cam que ladra a bordo, aimda que sobre
este feito das naos ficarem asy soos, me temdes esprito, mas hos homeens
nam fazem tudo ho que lhe eu leixo ordenado: haas vezes ponho de mi
IJ)la casa ha pouca de fora. .
Quamto h e ao que me vos alteza diz sobre a navegaam de calecut, que
vos parece esquecimemto diz me, senhor, omde m acham a
mim vosos recados, pera que vos parea que eu sam esquecido do que
me vs mamdaes fazer. E quamdo me vos alteza quer culpar, mamde vir
primeiro vosos rejimemtos diamte e veja os bem, e saber que morto ou
vivo estou omde me mamdaes ir, e que todolos outros Resguarde (sic) minha.
ida, tocados em vosos Rejimemtos, ficam prouidos. Se as cousas nam so-
cedem s vezes como vs quers, logo vosa alteza ha de crer que des-
prouimemto de minha lembrama ho causou; mayores danos vos tem a
vs feito as cartas da imdia qu este, porque vos nam deixam tomar ver-
dadeira detremynaam no feito da Imdia, que vos tem feito assaz de dano,
porque nem os Rex e senhores da imdia, nem os mouros, nem os cava-
leiros e fidalgos e jemte vosa que vos qu amdam serrimdo, tomam asemto
e asesego, nenos coraes dos de.l, fra de duvidas: de cananora xxx
dias de novembro de !513.
(Por lettra de Albuquerque) feytura e servydor de allleza
Afomso dalboquerque.
(Sobrescripto) A Ell Rey noso senhor. . I
(ln dorso, por lettra coeva) d afonso d alboquerque, as rezes que
pera a paz de caleeut:-pera ver
1

I
CARTA XXVI
1CS13 -Novembro 80
. I
SenhQr .. cousas de calecut .tomaram asemto depois da minha
vinda do , mar Roxo, as quaees foram bem comtrariadas d algas
emquamto amdey fra; guarde lhe vos alteza l seu galardam quamdo
lhe pedir merc: a fortaleza est perto do seu arame na Ribeira
I
1
Torre do Tombo-C. Ghron. P. 1., M.13, D. 106.
. .
l
CARTAS DE AFFONSO DE ALBUQUERQUE 133
do mar no pou8o de suas oaos e Remamso do arreeify; a obra , feitura
desta vay parecemdo; parte dela sObe la terra mamdey a fazer por agora
tamanha. como a cerqua do apartado de coclm ho mestre. ,da obra toms
ferJia.lidez, que he. maravilhoso homem e vos tem bem servido em seu
oficio: framcisco nogueira tem cargo da obra e cargo dos nosos. e. cargo
de, justia com L. ta rs.
1
ead ano e seu mamtimemto, e asy tom :da mim
que, feiia ba torre da menajem e a porta arrada da fortaleza, se ehame
eapitam dela, com aquele ordenado que ha:vosalteza aptouuer: goD)alo
memdez tem cargo de feitor e pagador das obras com quaremta .mill fS;.
joham serram tem cargn desprivam da feitoria e das obras com xu-.rs':
os apomtamemtos do comcerto l os inamdo a vosaJteza: tres cousas sam
primcipaes,. a saber, dar se toda a pimemta quamta ns quisermos a
troco de mercadarias de toda sorte; ho jemjivre que se comp.re nesa praa.
alavradores que ho. hy vem vemder per ordenama da terra, a outra, he.
paga de vosa fazemda; a ou\ra, de trebuto cadano ametade da
dos seguros das naaos, que he ha gram soma, . aquall se paga em .
nheiro, porque :as naos do. Reino e doutras partes que hy tratam, he
gramde .eamtidade: as que pedem, l ho escrevo a.vosalteza;
creo que se gastar hy gram soma dela;, e que os mercadores. de cochim
am de vir a dar a pimemta a troco de mercadaria pela compitlam dt
calecut, que foy a mayor cousa que.se imda fez na imdia, dar se pimemta
a troco de mercadar.ia dada pelo e peso.de canaDor, porque.he ray ..
lhor- pin1emta que de eoohim: este feito, senhor, he de dom g.rcia,,
porque ele ho comeou e o acabou, e mais. tem mamso e comtemte el
de cochim em alga maneira at mynha ida, que asesegaray tudo; porm
castigo aviam mesler aquelas pesoas , que ele tinham danado. e Rijo;
algilas eu de oochim por este Respeito e por outros, e asy pelo
Rijo tratar com pimemta e cobre, que omde vo8as feytQrias .etam nam
he.neeesareo trato de purtugueses,. porque este tratar.me tem ,melido em
tamta desordem, que nam poso meter a jemte a Jam espalha ..
amda; e praza a deus que nam naa daqoy algiia pemdema ha estima
de vosas mercadarias e s tratos de vosas feitorias, porque os vosos ofi-
ciaes nam tratam eles arecas, nem em arrozes, nem cocos.
Nesta paz de calecut emtra elRey de cananor, ho quall mamdou
seus embaxadores a elRey de calecut, e asy os mamdou a elRey de eo-
1 Cineoe:ota mil ris.
2 Trinta mil ris.
't
'
I
-
!34 CARTAS DE AFFONSO DE ALBUQUERQUE
chini, acomselhamdo o que emtrase ria paz comnosco e deixase a guerra,
pois que Jio amory era morto: com ajuda de noso senhor tudo s amam-
sar e asesegar; nam comvem agora mais dizer deste negocio a vos al-
teza, smemte que fartees ha imdia de mercadarias e que dees sayda has
da terra.
Porm, senhor, dura cousa he de sofrer estes vosos. ofyciaees e pe-
soas a que daes tamto credito, os quaes sem vergonha nem temor de
vosalteza se por danar quaa e laa as cousas de voso servio,
as quaees eu amdo metemdo em ordem com ho voso Rejimemto metido
debaixo do brao ; porque neste feito de ealecut os vosos ofieiaes de co-
chim e cananor e gaspar pereira com eles tinham tam danado ho negocio
de calecut e tam Revolto el Rey de cochim e o de cananor, que aimda
oj este dia em dia nam cree el Rey de calecut que ha forteleza e paz se
faz de verdade, e cada dia me toma salvas diso, alegamdo me ooosas
mesmas que 'lhe eles mamdavam dizer. Pejam se com gornalo memdez,
porque lhe era muyto comtrayro quamdo estava em eananor, e era muyto
liado com ho alguazill h o velho e com el Rey de cananor, e diz que lho
tre daly, porque era muyt{) comtrairo haa paz; estou eno fazr, e asy
polo feito de pocaraeem ; nam emtemdo agora nisto, por dar despacho em
dons dias s naos, estas que se embora vam, porque os vosos ofieiaes to-
dos se : emeomemdam ao tempo que cure as cousas: estes gastos me v dos
com que se daa qu avyamemto ao negocio, nam oom boom emjenho,
em breve ho despacho; e asy senhor tiro barbosa de cananor, porque ele
he lymgua e causa de todas estas Revoltas: esprita em cananor a xxx
dias de novembro de 1513.
(Por lettra de Albuquerque) feytura e servydor de vos& aUteza
Afomso d alboqoerque.
(Sobrescripto) A Ell Rey noso senhor.
dorso, por lettra coeva) dafonso d&lboquerque sobre o asento
-ae calecut:-pera vr ' ' '
1
Torre do Tombo-C. Chron. P. 1., M. 13, D. ttl.
-
CARTAS DE AFFONSO DE ALBUQUERQUE t35
CARTA XXVII
30
Senhor.-A maneira de que agora estam as cousas da imdia, .meu-
ho direy aquy a vosalteza; e manday, senhor, meter esta carta
minha na vosa bueta, porque hat fim do juizo achars isto que digo, se
a noso senhor aprou.uer de comservar h o como agora est: vos al-
teza tem paz e amizade com todolos Re1 e senl10res desde urmuz at
choroiDandell; com el Rey de cambaya, d vos forteleza omde a vs de ..
sejaves sempre, que he dyo, sem lhe mostrarmos desejos de ha. querer
aly, somem te ele por sua propia vmtade ; e se a noso senhor apraz qe
este feito aja ho fim asy como parece, nam temdes acabado piqerio oe
gocio na Imdia; porm quatro cousas lho fez fazer de necesydade: a
cesydade das merendarias de punugal que se tiveram atrs, polo
que demos ho mar roxo e por lhe 'cortarmos ho caminho de sua navega-
am, por omde lhe n.am vem j_ nehas mercadarias; a outra, porque
temos guerra cooninua com adem, e a .fua nam vem a cambaya como
soya, ou Ruiva com que timjem os panos de eambaya; e tiramdo lhe esta
mercadaria, era lamala a perder de todo,, porque, se se a Roupa. ouuese
de timjir com alacar, hum pano que vali quatro, valeria vim\e,
e nam averia alacar no mumdo que abastase a dez mill panos; e outra
. necesidade te o o reyno de eambaya, que he de cobre de pJe faz n100da,
porque com todo ho que ela podia aver regnos e o que lhe vinha
do eairo; que ela tudo gastava em moeda, aimda agora tem tamta nece ..
sidade. de moeda. meu da, que hamendoas com casca he moeda mevda no
reyno de eambaya, como ceytis em purtugall, e por elas se acha tudo ho
qe qerem na praa, e iemdo soma de cobre, faria moeda meda; a outra
he, senhor, que cambaya tem muito piqena terra no mar da imdia, que
he de mamgalor e umuoate at maym ,muito poucos portos e muyto
curto caminho;. qeremdo lhos destroir e levar na rnao, nam he nada dQ
fazer; toda sua for no rosw do mar he a cidade de camhaya, aqtl-.11
bayxamar fica hum mumdo de parcell em que se llam.pode


l

-


f36 GARTASDE:AFFONSO DE ALBUQUERQUE
crer, e por iso a escapo la primcipall he goga, porque he eanall; postoque
ho parcell espraye e fiqe emxuto, sempre no canall fica agua que abaste
pera as naaos; e este canall ,D:Rm >vay a goga, que fica a mao
esqerda sobre div, e cambaya a mao direita pomdo ho rosto de mar em
fra na terra firme.
Vindo pola costa dereito at chaull, est asesegada e bem emficada,
e gram parte da terra vos pagaria trebuto, se lhe tivesees tomado a for-
teleza de damda, a quall me nam pareceria errado comsell1o .tornar se e
sosterse, porque he ha ilha tamanha como ho corpo dos vosos paos de
lixboa; jaz sobre campos e terras de sememteiras, tem Iluitos tamqes
d agua demtro etn sy e muitos arvoredos, e cousa muito: fresca; tem Rio
sem barra. que com todo temporal! na metade do imvemo podem emtrar
demtro as naos e estar amcora e pruiz: estaa esta ilha e forteleza pegada
com ha terra, e amtre ela e a terra firme ha hy seis e sete e o menos
cimeo braas, a milhor cousa he piqena que vy nestas partes: dizem que
d aqny eomeram os turcos ha ganhar h o reyno de daqem, porque he
tudo campos e vales sem nehfia serra: hp lugar que est logo hy e porto
he tamanho como chavll, muito fcrmosas casas e muito abastada terra:
, as e tributos que vos a terra pagaria, qeremdo vs aly ter forte-
leza com OJteint omeens que ha bem poderyam defemder do mar, porquo
da terra nam lhe podem fazer nehum_ nojo, poderiees bem soster qua-
tro fortelezas, porque chavll paga dous mill pardaOs e pagaria seis, e
damda e a terra pagaria dez ; e que .l fortelezas a)guem parea que ho-
brigam, se elas forem feitas a nosa busama .e elas mesmas pagarem os
soldos e mmtimemtos jetnte, nunca leyxees, senhor, de ha fazer nes..
tas partes em lugares proueytosos e de boons portos, porque nam ha de
falecer jemte: l nesas parts, se vs tiverdes solao qoe lhe dar: neste lu.; -
gar e porto de damda m a nao dos mercadores do eairo COIIJ
toda sua especiaria que carregou em ealecut: dabull.est em toda vosa
obidtemeia e o abayo senhor dela desejador de vosa paz e de ser Toso
servidor, perdemdo dabull, he d todo perdydo, que lhe
p6de por :outro lugar emtrar cavalos, nem jemte bramca pera.
se-. arrayll; goa he vosa.; onor; ho fey dela paga nos pareas, ;e est.
vbsa obidiemcia; bateeala faz tudo ho que 'lhe homem mamda; elRey de
narsymga treo que vola dar! polos cavalos d arabia e persia que vem a goa
Wrl?s _a Seu reyno, porqe asy mo espreveo .ohanoCa per
zes, que t tmba mamdado ;todos esoutros lugares ate momte dely tomam

,
'
CARTAS DE AFFONSO DE AIJBUQUERQUE 137
vosas mercadarias e dam as suas, e alguns pagam alguns fardos dar-
roz.
Cananor est como esteve sempre, emtra na liga e amyzade de ca-
lecut como vos alteza, e mamda embaxadores a el Rey de cochim que ho
faa asy, dizemdo lhe que h o amory h e morto, e estoutro quer ser voso
servydor e que pede paz; e que oulhe quamto n1all e dano se recrece da
guerra, e como os mercadores sam destroidos pola guerra que ha tamtos
anos que dura; que nam qeira com armas e favor dos portugueses fazer
a guerra a calecut nem a neha outra parte, pois que os desejos de
vos alteza he ter paz com toda a terra do malavar, e que as jemtes da
imdia naveguem seguras; que lhe roga e pede que se dea dese errado
comselho e emtre n amyzade de calecut e que sejam todos irmaos, como
d amtes eram, dom9e se gasta muyta jemte com a guerra, e s escusam
. gramdes gastos e morte de jemte, e pedi me hum homem pera mamdar
per terra com os seus embaxadores, e eu lho dey: alguns portugueses a
que vos alteza tem dado credito nestas partes, emquamto fuy ao mar roxo
tinham danado eses rex e Revolto tudo em tall maneira, que com traba-
lho pude isto amamsar; punham lhes diamte a vimda doutro governador,
e outro novo comselho avido de vosalteza; apregoavam isto com peitas
e dadivas dos mouros de cochim e cananor; se fra capitam com fiado,
as cabeas deles lhe metera nos muros da forteleza de calecut, porque
fra voso servio, mas tem tamto credito e autoridade de vos alteza, e eu
nestas partes dou lho muito mayor, e por estes respeytos lhe dam os rex
e senhores nestas partes f e credito; e a cobia desordenada que amtre
ns amda, quaa far por hum Roby fazer a hum homem quamto quyser:
peo uos, ssnhor, por mercee que pagus aos homeens amtes dobrado seu
servio custa de vosa fazemda que lhe dardes autoridade e credito quamdo
lhe nam he necesareo pera seus carregos: a comcrusam, senhor, he que
el Rey de cochim e de cananor emtrarao nesta amizade com el Rey de
calecut, porque compre asy a voso servio, porque sabem que calecut
chama os Rumis, sabem que calecut he escapola amtiga do cairo e de
veneza, e vm qe estas duas cousas sam muy comtrairas ao servio de
vos alteza, ase sego e todo bem da imdia; e vm que htla tam gramde cousa
como elRey de calecut he, d vos forteleza por sua propria vomtade, e
meter se debaixo do jugo de vos alteza; qeremdo eles este feito emcom-
trar e danar, mostravam se vosos deservidores, desejadores de guerra e
preeuradores de todo ho desasesego da imdia, porque estaa esta rezam
t8




\
138 CARTAS DE AFFONSO DE ALBUQUERQUE
quaa viva diamte dos holhos dos homeens e quamto voso servio he aca-
bar se h o feito de calecut com tam gramde fama de vos alteza e tam gramde
credito de vosas cousas nestas partes.
Coulam quer paz e quer pagar h o que tomou, e nam tenho lempo
pera l poder mamdar e dar este noo: choromandell est vosa obidien-
cia, toma vosos seguros e trata em malaca; el rrey de ceilam he morto;
avia hy dous filhos e devisam amtre eles sobre ho socedimento do rreyno;
diseram me que hum deles mamdara dizer a cochm que lhe desem ajuda,
e se quysesem forteleza, que daria lugar pera iso.
Ho Rey das llhas pede vosa ajuda e quer estar vosa obidiencia,
e eu nam poso l ir, nem mamdar, porque tenho pouca jemte e poucos
navios: el Rey de pegu leva gramde comtemtamemto de vosa amizade,
quer vosos tratos e vosa jemte e vosa ajuda; em seu reyno Recebe vosa
jemte que vay de malaca, sam trazidos em amdor cobertos de panos douro
e d lhe gramdes dadivas. Desta maneira sam Recebidos os vosos homeens
dei Rey de syam e tanaary e sarnau: os bem galas Recebem vosos seguros
e desejam em seus portos vosas mercadarias e naaos: el Rey de amatora
fars dele quamto quiserdes; e todolos rex da imdya asy estam asombrados
e asenhoreados do feyto de malaca: el Rey de campar e de menemcabo,
onde est a mina do ouro, todos vem com suas mercadarias e ouro a ma-
laca; el Rey de campar vos paga trebuto e amda na guerra em ajuda dos vo-
sos: el Rey de pam, domde vem ouro a malaca, quer vos pagar trebuto e
quer ser voso servidor: ho primcipall Rey de jaoa quer vosa amizade e
a deseja, e esas pouoaees que hy ha em sua terra, ho seram de nece-
sidade, ou com .muy pyquena armada que vaa em ajuda deste jaao rey
primcypall os destroyrees; as outras ilhas, segumdo me dise amtonio
dabreu, fracas sam e ficam todas vosa obidiemcia: os chins servidores
sam de vos alteza e nosos amigos, e os gores farm ho semelham te, como
ouuerem conhecimento de ns: urmuz paga como soya, e est hum pouco
mais forte do que soya com esta carapua e adoraam de xeqesmaell que
receberam; nam me comtemta nada, queria amtsver em poder de vos al-
teza com hum capitam posto nela e jemte, porque ela por sy pagar bem
os custos e despesas que aly fizerdes e quyserdes fazer.
As vosas jemtes amdam seguras por toda a terra da imdia, asy pelo
mar como pelo sertam ; em toda a terra de cambaya lhe nam pregumta
pcra omde vay, e em todo reyno de daquem e em toda a terra do mala-
var compram e vemdem em toda a terra, e amdam tam seguros como neses

"
CARTAS DE AFFONSO DE ALBUQUERQUE 139
regnos: os vosos capites e naaos nam tomam nao, paguer, nem parao,
nem lhe dam caa, nem arribam sob r eles, quer tragam seguros, quer
nam; os que aparto de mim, em seus Regimemtos levam a n1esma deter-
minaam asemtada neles; pregumte o l vos alteza a eses que vam de ma-
- laca e o que foram descobrir ho cravo.
Acabada a forteleza de di v e de calecut, se anoso senhor aprouver,
despejados ficamos pera emtemder no mar roxo, porque, senhor, ho feito
do mar roxo ha mester preposyto, e he necesareo ficar l1omem l ha
mouam, que de necesidade pelas navegaes de q se gastar hum ane
meyo. E desta maneira poderemos fazer fruyto demtro, e emtemder no
porto de suez e qeymar lhe suas naaos e su armada, se a tem feita ou
quyserem fazer, porque, como lhe ganharmos ho porto, com toda nosa se-
gurama, tres ou quatro navios que aly estm, nam lhe deixarm botar
neh!' cousa ho mar, que lhe nam queymem, e ser necesareo ter aly
muita jemte h o soldam pera lhas nam queymarem; e se nam acharmos
nada, tersaa maneira como ho capitam da forteleza man1de sempre ve-
sitar ho porto de suez, e avisar ho voso governador em quallquer parte
que estiver: de cananor a xxx dias de novembro de i5i3.
(Por lettra de Albuquerque) feytura e servydor de vosa allteza
Afomso dalboquerque ..
(ln dorso, por lettra coeva) d afonso d alboquerqu_e em que d conta
da disposisam em que esto as cousas da Imdia e no cabo, o que se deve
fazer no mar roixo e o tempo que se deue gastar:-pera vr el Rey t.
t Torre do T o m b o - C ~ Chron. P. 1., M. 13, D. 103.
t8.

'
,
140 I CARTAS DE AFFONSO DE ALBUQUERQUE
.,
CARTA XXVIII
,
1513-Novembro 30
Senhor.-Nam pde ser que me alga ora nam agrave dalgum ea-
pitam, pois que tamtas sagrauam de mim: fao vos, senhor, queyxume
de guomallo pereira; elle veyo muito desejoso de vos servir qu; como
chegou, dei lhe loguo a nao sam tom ; mamdey lhe pagar seu desembargo
em pimemta, eomtra voso Regimemto, e fez seu proueyto; os vinhos. que
trouxe, emtregouos hy na feitoria; mamdeio pelas pareas a chaul, trou-
xeas; e tomou vimte cruzados de cada pipa, comecey de lhos nam que-
rer levar em comta, e elle fez has mostramas que queria chorar, e ale-
goume morte de seu irmo e seus seruios; lleixei lhe tomar o dinheiro
per fora; fiz lhe sempre muyta homra, tratei o muito heem, e aimda hum
pouco milhor que aos outros, por dar Resgardo s cousas pasadas do
viso rey, por nam lhe parecer que me lembrava alga cousa. Apart{)use
elle de mim jumto com dio quamdo viemos dadem, e veyo ter a chaull.
E primeiro esteve nos baixos de camhaya em sequo, omde a nao abryo
e fez agoa asaz: chegam do eu a chau], achey o hy; ally me pedi o licema
pera se ir, dizem do me que tinha molhe r moa e que era de pouco ca-
sado, e que tinha muito que fazer em seu casamemto; eu lhe Respomdi
que lhe lembrase que disera a vosa alteza, que vos serueria qu tres ao-
nos, e que olhase o que fazia, que pareceria a vos alteza que nam viera
qu senam pera lhe pagarem bem seu desemharguo e seus vinhos; toda-
via afirmou sua ida; emtam lhe dey licema. E porqae tinha necesidade
de leixar ally algllas naos, ally lhe dey despacho, e dey a sua nao a fer-
nam gomez de lemos, aimda que nam est em vosos liuros, porque tem
ha perna aleixada de ha ferida que ouue em malaea, e ha muito que
qu amda. E o navio 'que elle trazia, dey o amtam nogueira, que ha mui-
to tempo que qu amda, e jouve cativo por voso servio, o qual navio foy
de caldeira e doutros casados de goa, que lhe tomey pelo erro que fize-
rom.
Partido eu de .ehaul pera damda, gomalo pereira nam quis emtre-
gar a nao, dizemdo que queria estar na sua nao asy _at ver se vinha ou-

'
CARTAS DE AFFONSO DE ALBUQUERQUE 141
tro governador, agravamdo se de mim, dizemdo que tinha parte narma-
am de dioguo memdez, que como levava fernam perez a sua fazemda,
pedi me ha das naos, e nam lha dey, porque nam era Rezam que ha ty-
rase a quem as trouxe de maUaca: chegam do a goa, pregumton lhe Fram-
cisco corvinel porque se hya. Respomd lhe, porque os gastos da Imdia
sam tain gran1des que nam ha ninguem que os sofra, e mais o capitam
moor tem me ha espinha: desta maneira se vay de qu com muitos cru-
zados e muito dinheiro, e aimda agravado de mym: sprita em cananor a
xxx dias de novembro de 1513.
(Por lettra de Albuquerque) feytura e servydor de vosa allteza
Afomso dalboquerquc.
(Sobrescripto) A ElRey noso senhor.
(ln dorso, por lettra coet}a) dafonso dalboquerque sobre gonalo
pereira, de que faz queyxume a vosa alteza:-pera vr
1

CARTA XXIX
1513-Novembro 30
Senhor.-Per ha carta de vosalteza que no mao damrrique nu-
nez vynha, vy da maneira que vos alteza era emformado dos quadrylbei-
ros e tanadares e escrives das presas, e cotno nam eram cometidos a
pesoas dinas do dito carego ', nem de tall ficldade e recado qua]l devia
ser por voso servio, e bem asy pera
3
o que toca s partes; e que as pe-
soas dos ditos carregos devem fazer seu oficio com toda fieldade, em tall
maneira que oulhamdo se voso servio, as partes tenham' descamso, e ou-
tras mais decrraes que na dita carta vynham
5
: digo, senhor, que as
quadrylbarias de quaa eu as dey at gora algilas pes.oas
6
criados vosos, e
'Torre do Tombo-C. Chron. P. t., M. 13, D. fOD.
2 do dito carego-oos dito& caregos. As variantes que vamos notando, resultam da
confrontao eom outra via d'esta earta, que se guarda no mao f3 do Corpo chnnaol. P.
I. , M. f O ~ .
3
pera-por
tenham- recebam
s vynham- vem
1
at gora algiias pesoas-d& pe10a1 at gota a
,

I
,
'
142 CARTAS DE AFFONSO DE ALBUQUERQUE
outros que vosalteza nam pode escusar de hos tomar, asy pollo mui\o
tempo ' que ha que \'OS quaa servem, como por serem filhos de pesoas
muyto homrradas, os quaes muytas vezes peramte meus olhos por seus
asynados servios vos tem merecido muita mercee; c estes taes nanos
tem comtynuadamente, mas ora a huns, ora a outros, porque se ho' asy
nam fizese, serya ho mayor escamdolo do munde, que a estes taes nam
poso dar as escrevaninhas de vosas feytoryas, porque as daa vos alteza,
nem feitorias, nem capitanias, almoxerifados, provedores dos defumtos,
pubricos escrives de todos estes carregos, capitanias de fortelezas, de
naos e navios, esprevaninhas de naoos e navios, aJcaidarias mores, com-
proveadorias de vosa fazemda, juizes da balama,
3
e todo outro
.carrego que debaixo da governama da imdia est; em tall maneira que
desas' migalhas que l escorregavam de vosos asynados, provia quaa al-
guas pcsoas que ten1 mel'ecimemto amte vos alteza, acutilados e ferydos
muitas vezes por vos alteza
5
diamte dos meus olhos, e veja os vos alteza,
os quaes nomearey aquy depois que este carrego me foy cometido. E eu
6
creo e. cotnfeso a vos alteza, que naqueles que de l vem, como na-
queles de que eu quaa comfio os ditos carregos, ahy ha alguns que ho fa-
zem bem mail c sempre amdo com eles s punhadas e lhe tiro os oficios,
c lhe fao tornar todo mail e dano que basy fazem; e isto toca son1ente
7
ao menear da fazemda, Recebimento e emtrega a voso feitor, porque dare-
partyam de que se partes aqeyxam, niso nam tenho eu culpa, mas os
vosos Feitores, que vemdem as presas e as despemdem en1 Yossas feito-
rias, e carregam em vosas naoos as especiarias e mercadarias delas am-
tes de nos darem nosas partes, e quamdo vymos nam achmos parte
8
nem
presa; e estas
9
sam as sospeies que se deste o feito pode ter, vos alteza as
prezas gastadas, e ns nam termos avidas nosas partes, porque nam dou
eu'' armada e jemte lugar pera iso, domde nos vos alteza deve sete ou oyto
1 muito tempo-tempo muito
2 ho-ho eu
3
da balama -de balamas
desas- destas
5 vos alteza-vo1o &ervio
'E eu-Eu
., toca somente- somente toca
8
parte-partes
e estas-e1tas
1
o se deste -deste
1
' dou eu-dou

/
CARTAS DE AFFONSO DE ALBUQUERQUE i4.3
mill curzados do alacar e mercadarias da nao mery; das t naos de pimenta
e jemji.vre e ferro que tomamos sobre batecala, trazydas aly as espicia-
rias em paraos de calecut; as naos carregadas d arroz que foram s fei-
torias de cochim e cananor; outras naos das ilhas co1n panos e cayro; as
naaos de goa e artelharia e a nao de meqa, de nada disto temos parle
2
,
tudo foy entregue aos vosos feitores; os quadrilheyros e esprives que '
disto tinham cargo, nam duuido nada de se aproueitaretn do que pode-
ram, a jemte da imdia tem hum poucochynho a comciemcia gros-
seta, e parece lhe que vam a Jerusalem em Romaria quamdo furtam: os
quadrylheiros deste tempo foram jorje da silveira, aluaro vaz, criado de
vos alteza, e antonio chaynho, criado de vos alteza, jorje botelho, criado de
vos a)teza, diogo fariseu, criado do duque de bragana, e diogo paez, criado
de vos alteza, e antonio dabreu, que foy descobrir lto cravo, Ruy da costa,
criado de vos alteza, bras vieyra, paje meu, a que vos alteza j tinl1a to-
mado por seu criado, bastiam de 1niranda e tristam degua
3
, e nono vaz,
criado do duque de coimbra, e gomalo afomso 1nealheiro, amo da filha
de dom joo camareiro moor de vos alteza, emcarregado per carta vosa,
bernaldo velho, criado de \os alteza, e gaspar machado, criado de vos al-
teza, nuno martins, cunhado de diogo fernandez, criado de vos alteza, ja-
mes teixeira, criado do duque de coimbra: estes deles eram esprives e
deles eram ' quadrylheiros, ora h uns, ora outros, asy que as sospeies
que hy ha, que vos alteza tem a fazem da das partes, que nam nol a mam-
- daes pagar, porque nam ha destar a vosarmada aguardamdo repartiam
de ha nao, porque gastaria ho tempo e os mamtimemtos, e nam faria
proueito nehum; e a ordem que daes na vosa .. carta na
5
maneira em que
se am de Repartir e emtregar ao voso feitor, iso
6
fiz sempre: as presas
que fizemos emtregaranas
7
a francisco corvinell, feytor de goa, delas em-
tragaram ao feitor de cananor e delas ao feitor de cochim ; temos de tudo
isto muy poucas partes; poderia ser que neste
8
Recebimento e emtrega
...
t das-e das
2 parte- partes
3 brs vieyra, paje meu, a que vos alteza j tinha tomado por seu criado, bastiam
de miranda e tristam degua- bcutiam de mirarula, tri&tam deguaa, br& tJieyra, paje meu
lJ1U t101 alteza j tinha tomado por eu criado.
t eram-falta esta
& na-da
'iso-asy ho
, entregaran as- falta.
8
neste_.,,



t44 CARTAS DE -AFFONSO DE AIJBUQUERQUE
sempre
1
lhe ficaria algua cousa pegado nas maos; e delles tenho eu em
com ta d omens de muy boas comciemcias e muy sas
1
; rnas ser feito
boom Recado, nem mao recado nas mesmas presa8, essa com ta tome:\
vos alteza aos vosos feitores
3
, porque imda at gora gastam as vosas naos
as cotonias da na o 1nery em suas velas, e ns nam temos nehiia parte:
eses capites que l foram em tempo de garcia de sousa e jorj"e da sil-
veira, eu lhe mamdey dar vim te cruzados a cada hum asy s nam vistas;
e as partes poucos ouoeram sua paga, porque est tudo em poder devo-
sos oficiaes. E se hy ha algua sospeiam diamte de vos alteza, mamday
s vosas justias que apresentem ao pee de hiia pol estes quadrylheiros
e eles vos dirm a verdade.
E posto que algtias pesoas de que vos alteza comfiava, tenham er-
rado e feito ho que nan1 devam em vosa fazemda l e quaa, nam pdc ser
q,ue amtre tamtos se nam ache hum justo, pera perdoardes e terdes de
quem comfiar, e se ho nam achardes amlre aqueles que diamte de ''os al-
teza tem fama de vertuosos e homens de comfiama, buscay o amtre os
maaos e pela vemtura ho achars.
Hos qoadrylheiros de malaca e feitor de vosas presas que hy fiz,
foram estes: primeiramemte, feitor das presas joham de moraes, criado
da senhora duquesa vosa irma, emcarregado per carta sua; quadrylhei-
ros, Iopo dazevedo, framcisco serro, tristam deguaa, amtonio chaynho,
criado de vosalteza, jorje botelho, gonalo vieyra, criado do comdesta-
bre, joham viegas, porque esteve cativo, afomso gomez, meu criado, que
veyo co viso Rey e tinha quaa servido tam bem que aqeryo omrra e ba
nomeada; frey Joham corv quatro partes pera mos malsynar, ho quall
1 sempre-se
2 boas eomeiemeias e muy sas-ba comcimcia e muy &os
3
Depois d' esta palavra falta uma passagem que appareee mais adiante; transcreve
mos tudo, notando em italico as variantes de palavras: ((feitores e se. hy ha alga sos-
peiam dyamte de vos alteza mamday haas vosas justias que apresentem ao pee de ha
pol estes quadrylheiros e eles vos diro a verdade. E posto que alguas pesoas de que
vosa (altesa) eomfiava, tenham errado e feito ho que nam devem em vosa fazemda l e
quaa, nam pode ser que amtre tantos se no ache hum justo pera perdoardes e terdes de
quem com fiar, e se o nam aehardes amtre aqueles que diainte de vos alteza tem fama de
vertuosos e omeens de eomfiama, buscayo amtre os maaos e pola vemtura o aehars;
porque imda at gora gastam as vosas naaos as eotonias da nao mery em suas velas, e
ns nam temos neha parte: eses capites que l foram no tempo de gareia de sonsa e
jorje da sylueira eu lhe mamdey dar vinte cruzados a eada hum asy s nam vistas, e as
parles poucos ouueram SUtJ$ partes, porque est tudo em poder de vosos ofieiaes.,
'


CARTAS DE AFFONSO DE AIABUQUEBQIJK

lh asaoou cimqo mill falsos testemunhos, e jugou as punhadas com :lodos
eles
1

Outros quadrylheiros ouue hy, que foram higualadores da
franca amtre as parles', joham piteira, irmo de diogo fernamdez que quaa
veyo por mestre do cirne comigo, e pedraluarez froez, criado de
teza, e Louremo da silva, hum cavaleiro casteJhano que quaa amda
meu tempo.
A maneira que com estes sobreditos tive, foy dar lhe jnramemto dos
samtos avamjelhos. E porque niso nam podia emtemder meudamemte,
fiz jorje da silveira quadrylheiro moor quaa das presas da imdia, que
temdesse em minha obrigaam e em seus erros, o quall eu avia por ho ...
mem saam; e a Iopo d azevedo fiz tarnbem em ma)aca quadrylheyro moor,
que tambem emtemdesse e oulhasse por minha obrigaam: ho que
sumo he que em foy feito algum maao recado, asy pelo feytor
como pelos quadrylheiros, -e soube o quaa na primcipalmemte ho
amtonio chaynho, que morreo e lhe acharam fora de se testamemto mill
e tamtos miticaes douro; e asy me diseram que ho afomso gomez, n1eu
criado, e joham viegas algum maao R-ecado fizeram no jumquo que lhe
emlreguey em guarda; e tam\o que h o soube, mamdey l tom pires, bo-
tieairo do primcipe, por me parecer homem solicito, que ele e Ruy d aravjo
e o capitam lirasem imquiriant sobre todo este feito, porque com. mea
trabalho desordenado nam pude emtemder em nada, senam trabalhar por
segurar maiaea, damdo pressa s obras da fortaleza; ho mais,. eles tem
seus livros e suas comtas, tome lha vos alteza. E pois gaspar/pereira veyo
com ho oficio de provedor e oomtador, devera logo d emtemder nas
sas daquy desta costa, mas eu nam pude acabar com ele que fose comigo,
mostramdo me ha fumda, dizem do me que era quebrado e muito doem te.
Os quadrilheiros que estano foram no estreito e em adem, foram
estes: Francisco corra, filho d amriqne corra, persivall vaz, cristovam
figueira, Roy paez, aluoro pereira, Ruy da costa, valemtim de samta ma-
ria, Louremo tavares, criado da rraynha nosa senhora, pero
querque, quadrylheiro moor pera ouJhar meudamente ho que faziam; co-
mearan o de fazer tam mail, que jurey de nunca mais fazer quadrilhei-
ros, e tirey lhe os oficiosa todos, e daly avamte todalas presas

I eles-falta.
a partes-partt1, ' (oy
t9
'
I
li& CARTAS DE AFFONSO DE ALBUQUERQUE

a manoel da costa, voso feitor das presas, e seu esprivam Ruy medeyros';
e parece me ho feitor boom homem e sam e Ruy _medeiros seu esprivam,
e por iso lhe dey ao feitor ho oficio de pagador dos soldos de vosa ar-
mada, e esprivam deste oficio gill symez, moo da eamara de vos alteza,
que veyo por esprivam de samtamtonio. ho piqueno; ao feitor e seu es-
privam, sem mais nada que o que 1em, d
3
esa roupa que se toma, on
mercadarias que nam sam espiciarias, ho voso feitor per meu mamdado
em pagamento de seu soldo s partes, e he esprivam desta despesa ho gill
symez, porque tem ho livro de toda a jemte, e esprivam da receita Ruy
e de outras despesas e emtregas a vosas feitorias per meu mam-
dado.
Esta he a maneira que se at gora teve, daquy em diamte se far
ho que vosalteza ordena, que quadrylheiros o feitor da forteleza
omde as presas forem ter, e diogo fernamdez e gaspar per eira; e quamdo
nam forem todos tres ser o feitor da forteleza e o feitor das pre-
sas e diogo fernarndez; mas eu toco poucas vezes vosas feitorias e mam-
do lhe l emtregar as presas, quamdo se podem a elas trazer; creo que
nam poder ser peramte mim, senam se fosse feito no mar ou em ' lugar
omde per voso mamdado acertasemos d imvemar: gaspar pereira h e fei-
tor de cochim, nam sey se poder ser em todolos outros lugares comigo
por bem de seu carrego, porque lhe vy hum pejo d amdar d armada, nam
temdo ele imda carrego da feitoria; e porque s vezes ha hy eseamdolo
de ho eu dar a has pesoas e nam a outras, teria
5
em mercee a vos alteza
prouel o de l, porque quamdo forem postos por vos a]teza, nam terey eu
tamta culpa no mail q eles fizerem; porque, se por sospeies os qoadry-
lheiros am de ser s vezes lhe vejo eu trazer peas, que lhe
digo eu no Rosto que as tomaria polo custo, mas nam com seu emcar-
rego; e prouemdo vs, senhor, es1as a pesoas de comfiama, pela.
vemtura averm
6
mais medo e vergonha, e porm nam se lhe tolhe
7
quaa
ho castigo a quen o mail faz, imda que nam seja com aqele Rigor que
eles merecem.
I das presas-falta.
1
e seu esprivam Ruy medeyros-1 Ruy medtyros seu tsprivam
1
cl-falta.
ou em-ou l er11
teria- ltri1J
1
averm- atJw
' se lhe &olhe - 1e tolhe


..
CARTAS DE AFFONSO DE AIABUQUERQUE li 7
Alguns oficiaes doutros ofieios mamda quaa vos alteza, asy como
1
provedor dos e esprivam de seu oficio, e como qu foram, lam-
aram se a levar boa vida e nam curam senam de levar boa vida, e nam
lhe lembra os carregos
1
que lhe daa; e o lampra se leixou ficar
em oochim, e o prouedor e1n goa; portamto, senhor, quem vos l pedir
oficio, avisayo que ho sirva.
E asy mapomta vos alteza sobre os tanadares: digo, senhor, que da
primeira ''ez e segomda. que tomey goa, mamdey pOr homem
3
nesas tana-
darias, e eomeeey primeiro d apalpar a terra firme com capites mouros
e jemtios com pies da terra e co soldo pago per eses lugares da terra,
que eles mesmos arrecadavam, por nam meter a ,osa jemte na terra firme,
omde os achase ha menha degolados; c portam to quys primeiro tomar
a s&lva com mouros e jemtios, os quaes nam podiam fazer mais mail que
fogirem e hiremse e levarem alguns dereitos da terra que arrecadassem;
e este h e o soldo que J fiZeram emtemder a vos alteza que eu dava' aos
mouros, sem vos dizerem ho respeito por que ho fazia, e sem vos darem
comta que era de dinheiro que estava no mato, porque da vosa fazenda
propia nam se faz neha despesa senam a ordenada per voso rejimemto,
e as extreordynarias, que s vezes comvem fazer se por voso servio, se
fazem das escumas da imdia, que sam muy gramdes
15
, dom de se fazem to-
dolos gastos de vos armada e se paga alga soma de soldos e mamtimem-
tos e casamemtos, domde se dam dadivas e outras muitas meudezas que
por voso servio com vem fazer: depois que dey esta tem ta terra firme,
e
6
a jemte veyo vosa obidiemeia tomar vosos seguros, mamdey emlam
eses
7
homeens jeraes hum a cada tanadaria com cimquemta pies, e reco-
lheram eses dereytos da terra, os quaes se emtregavam ao voso feitor, e
se despemdiam nesas obras da forteleza, quamdo nos comeavamos de
cercar: neste tempo arremdou timoja as e tomou a guarda delas
sobre sy; mandey em1am vir eses homeens que l tinha e seus esprives.
e deram comta a francisco eorvinell do que tinham recebido e do que
t asy como-como
2
nam euram sanam de levar boa vida, e nam lhe lembraoscarregos-taaa cara
doi can-ego
3
homem -I&OBieftl
dava-dat1a quaa
5 muy gramdes-gramdes
1
e-falta.
1
eses-tleses
I I '

CARTAS DE AFFONSO DE AJ,BUQUERQUE
emregaram: timoja como homem que nam tinha mais foras que pera ar-
mar quatro atalayas donor e ir furtar, ganharam lhe os mouros a terra,
e a sua jemte fogio pera onor.
V eyo a segumda tomada de goa, e eu mamdey logo s tanadarias
deses homeens valadis que por hy achey, a mayor parte deles degrada-
dos, dous a cada tanadaria com cem pies da terra a cada hum, que cor-
rasem ho alcamce a eses mouros que fogiram da forteleza e cidade t de
goa, e nam desem vida a neha pesoa: fizeran o eles muy bem; mata-
ram e afogaram nese Rio mouros e mouras sem comto, e algas alvas de
boom parecer me trouxeram, que oje estam casadas em goa: estes da
remda das terras pagavam estes pies que traziam, e todo outro dinheiro
mais que arreeadavam
1
, vinha mo de voso feitor, domde se faziam meu-
damente as despezas ha jemte que trabalhava na fortaleza, porque da
rroupa baixa da nao mery e dos dereytos das terras de goa e outras des-
pesas, .todas faziamos daqoy, porque emtam estavam obediemcia vosa,
e se fez a forteleza de goa
3
e outras despesas de noso mamtimemto e paga
dalguns casamemtos; como vy a terra comear de tomar asemto, prouia
logo d oficiaees vosos criados: na tanadaria d amtrus pus diogo c.amacho
e diogo gisado por seu esprivam; e tanadar' de caste
6
pus pere aluares,
paje que foy de dom Iopo, e gaspar machado seu esprivam, criado de
vos alteza, e mamdey viir joham salgado e pero salgado presos; e em ou-
tras ,em que hy avia menos asesego, mamdey outros homeens doutra
sorte ; diogo camacho marndey o logo viir preso, porque soube pelos es-
prives jemtios que cm ele amdavam, que nam vinha todo ho dinheiro
que, ele Recebia vosa feitoria, e que tomava muitos espravos e espra-
as, que ele vemdia seeretamemte; e asy mamdey vi ir preso diogo gisado,
criado de v.osalteza, seu esprivam '; outro tamto fiz a pere alvares e a
seu esprivam, e a todos tomey espravos e espravas, e asy a outras pesoas
a cjue as eles vemdiam: este caminho levaram os primeiros que mamdey
1 e cidade-falta.
' arrecadavam-arrecatlamm
3
terras de goa e outras despesas, todas faziamos daquy, porque emtam estavam
obediemcia vosa, e se fez a fortaleza de goa- tenas tU goa lJW tMitJM IIIGNM t Ma
obediemcia, 1e fz a (ort1llsa de goa.
- e tanadar-taa tataadaria
5

6
seu esprivam-por uprivam
' ! .



CARTAS DE AFFONSO DE ALBUQUERQUE t ii
correr a terra
1
, que foy fernam vaaz do pimdo, joham galego, degradado,
joham caldeira, degradado, jane memdez, n1eu criado, e gomalo gill,
crjado do -oomde de fram, brs lieyra, eriado de vos alteza, que foy meu
paje e estava
1
em cin1tacor com trezemtos pies, e diogo de salas que
foy criado do mordomo que foy
3
da raynha DOS\ senhora, todos lieram
presos, e tomados eses espravos e cspravas que tinham, e tirado os ofieios
e todo ho mais que se lhe pode prouar: diogo gisado e diogo camacho ',
quamdo por eles mamdey tanadaria d amtrus, pedi me esta tanadaria
giam nunez, vigairo que foy de cananor, e faziao bem, e sempre acudia
com dinheiro; e trazemdo dons mill pardaos oomsigo, a1raveson em eima
de bum symdeiro soo de ha ter1a pcra a outra; saltaram eom ele cimqo
ou seis ladrOes e roubarano e mataraoo
5
, e foy deixar cem pies que tra
zia em hna alda damtrus omde ele pousava.
Neste tempo veyo- Rao, e eti lhe arremdey as oomo j l
tenho esprito a vos alteza, e lhas emtreguey e me party de goa, pomdo
bo. Rosto em adem e no es1reito, e a noso senhor aprouue de me levar a
outro cabo, eomo vos alteza j l tem sabido: deixey Rodrigo Rabelo por
eapitam per vosa carta, que lhe mamdaves dar batecala ou qnallquer
forteleza que se fizese; como volvy as costas, ps ele tanadares nesa ilha
de goa, de divary e choram e outra ilha piquena: em goa ps ROdrigo
aluares, casado, porque lhe parecia bem sua molher, e em divare e eho- '
ram ps seus criados, e tirou os criados de vosalteza que eu hy leixey,
e asy se meteo a fazer cavalgadas na terra finne e leixou de fazer forte
ho paso de benastary com hua torre como lhe por mim .f<lymamdado; e
depois dele falecido,: fogio pera l amt.onio Rabello, seu criado; que ele
teve por tanadar, e se foy sem dar comta; com peita que deu a diogo
memdez que emtam era c.apitam, e peita que de a Roy galvam; alcaide
moor;de :caqaBOr, que lao tinha preso por fei1o- crime, p;eitou a louremo
moreno que lhe deu o' deSpacho sem meu :mandado, paga: de. seu soldo e
embarcaam. Rodrigo Rabello e diogo memdez e pero coresma e femam
corra e o cemiche e o frade prgador que l foy, como me viram par-
tido, comearam logo de semear que eu que levara 1nuito dinheiro das
I
a terra-terra
2 e estava-que estatJa
3
salas que foy criado do mordomo que foy da- criado que fay do MOrtlorlao tla
diogo gisado e diogo eamaeho-tlioge ccfiiGrM 't!ogo giM . .
i e roubaraoo e rOW.tllio
t 58 CARTAS DE AFFONSO DE ALBUQUERQUE
terras de goa, pera darem que esprever aos poetas da Imdia, que. sem-
pre esprevem suas cartas de poesia de cousas fimgidas, e asy Rodrigo
Rabelo como diogo memdez bem s aproueitaram do que podaram amtes
que eu chegasse.
Falecido Rodrig(} Rabelo, tomaram a poer afomso pestana, que eu
damtes tinha posto por tanadar, quamdo souberam minha chegada a oo-
chim; este achey alevamtado eom duas mill tamgas, e porque nam dava
outra Rezam de sy senam que fazia eesam de seus beens, mamdey ao
ouuidor que bo posese ao pee de ha pol; como sa1y vyo, emtregou logo
as duas 'mill 1amgas ao voso feitor: outro iam to fiz a ouno martinJ, cu-
nhado de diogo fernamdez: tomou seteeemtos pardaos a ha nao dur-
muz, nan os queria tornat e fazia cesam de seus. beens, e o ouuidor apre.
semtou o ao pee de ha pol e logo emtregou os setecemtos pardaos ao
voso feit.or; e lodas estas emborylhadas se fJZeram emquamto eu fuy a
malaca.
Asy, senhor, nas cousas de voso servio e de vosa fazemda, e
asy em outras cousas que .me de l mamdaes que faa, nam mora em
mim . neqa cousa tam certa oorno a prestes execuam ' de quallquer
gocio desles; e se quiserdes que mela nestas cousas e outras mais a mo
na chave do ,rrigor, poder que me nam aguardar nimguem; mas
abasta em em darem se estas cousas e nam lamar a perder os homeeos
com vos alteza, e trazelos comtinuadamemto nos trabalhos e e
perygos a que nos ho voso rejin1emto obriga: de cananor a xxx dias do
novembro de I 5l3. .
(Por lettra.de Albuquerque) feytura e servydor. de vosa allteza
Afomso d
(SfJbrescripto) A Ell Rey noso senhor.
(ln tlorso, wr letlra coeva) dalbaquerqe Resposta do que
allteza lhe espreveo eorqua. dos quadr-lbeiros e tenadares-pa
I
.
j
1 a prestes a:tOMftMFetft
2 Torre do Tombo-C. Ckroa.- .JI. D. -I lO. . . :, .
,
CARTAS DE AFFONSO DE A.LBlJQUERQUE t 51

CARTA XXX
Novembro 80
Senhor.-Per outra carta de vosalteza, que no dito
me diz vosalteza que el Rey de cochim vos espreveo, pedimdovos por
merc, que pois ele continuava em faze guerra a el Rey de calecot,
que me mamdase vos aheza que lhe dese lodo fauor e ajuda que lhe com-
prisse; e mais diz na llita carta a maneira de que lha devo de dar, nam
poemdo jemte em terra: dygo, senhor, que el Rey de cochim he homayor ,
amigo que eu nestas partes tenho, e que em cousas e voso servio e seu
estado eu ho tenho aiudado e posto na sela, como vosalteza mandou, e
estaa Rey pacifico asemtado en1 sua cadeira, apesar de calecut e do ou-
tro Rey a que ho reyno pertemcia de dereito, segumdo sua jemtilidade:
a guerra que el Rey de cochim faz a calecut, he ajudar a hum gram se-
nhor qne est na serra sobre ealecut e comfina com ele, e aly vay ao seu
para ead arro sua husama; e se ele quisera pr ho fogo. a crangalor e
terra de Repelym, muitos anos ha que lha \ivera com nosajuda gua-
nhada: isto que hagora mamda reqerer a vos alteza, nam sam senam ciu-
mes da paz de raleeut, que ele via ao amorym em sua vida Requerer
muyto Rijo: ele onue l1as cartas mynhas que hiam pera o amorym, em
Reposta doutras, que me esprevera palavras desapegadas: hum pouco
falou ele comigo e amostrou me as ditas cartas peramte gaspar pereira e
louremo moreno e peramte diogo pereira; Respomdy lbe eu : esas cartas
minhas sam; e mais lhe dise: nam vos pareee a vs rezam, que per bem
de meu carrego, em nome dei Rey noso senhor, que Respomda aos ami-
gos e imigos, quatndo me mandam cometer paz1 nam vos vejo eu fazer
muy bem vosos feitos com vosos imigos e amigos, e terdes moodos e ma-
neiras com elles, pera que a segurama de voso reyno e terra estm se-
guras, e achegai! os em amizade comvosco 1 pois como vos pareee a :vs que,
aimda que ho amorym seja noso imigo, nam aja eu de ver o que ele
quer, Respomderlhe e dar lhe Rezam de mim? e jumtocom isto fazer lhe
a guerra e queymar I h as naos, porque ha paz na mao dei Rey nosO se-

. .,
15! CARTAS DE AFFONSO DE ALBUQUERQUE
'
nhor est: ele ficou comforlado e eomtemle, e parece lhe que por Rezam de
_meu oficio nam podia deyxar de dar rezam de mim aos imigos e amigos.
Agora, senhor, ho amorym he morto, ho mais maao homem e mais
cho demganos que as nuoca_pariram, e seu irmo ho nambia-
dery sempre foy desejoso de vos servir; comete a paz e sojeiam a vosal-
1eza, forteleza e tudo o que quiserdes; reeolheo pera sy ho alguazill ve-
lho de cananor, voso verdadeiro e leal I servidor, h o qnall foy na peleja
com Rodrigo Rabelo, .e fez gramd estrago nos mouros ele e seus parem-
tes, que hy vieram a meu chamado, desafauorecido dei Rey de cananor
e perseguido do alguazill de cananor que soya a ser desejador de ho ma-
tar. A meu rogo ho rcy que agora be de calecut U1e deu ho alguazilado
de calecut, por estar a terra mais asesegada em voso servio.
SoLre os apomtamemtos da forleleza eu detxey, quamdo me party
pera adem c pl ra o mar Roxo, framcisco e gomalo me1ndez,
feitor que foy de cananor,. que fosem falar co amorym e co primcipe seu
irtno, e nesle meyo tempo morreo ho amorym.; .estes ambos de dons
aviam de fazer a no su arame, porque em lugar tam gramde
nam se podia fazer .com fora de jemte nosa, que nam fosse gramdescam-
do1o ; sey que foram l duas vezes e vieram : quamdo embora chegar a
eananor e falar com francisco nogueira e gomalo memdez, saberey como
es'c negocio pasou; dou a vosalt.eza es1a piquena comta, porque vou de
caminho pera.l respomdemdo s cartas de vosalteza: vs, senhor, vos
compre muyto a\erdes calecut mo com paz e forteleza, pois que at
quy com guerra lhe temdes feito muy pouco nojo, porque guanbaes gramde
crediio nestas partes e gramde fama l nesas ; tetndes escapola verdadeira
pera carga de vosas naos em oochim e ealecut, porque aquy jaz toda a
carga da pimemta e do jemgivre, e alargay cananor de vs, que nam vos
be proueitosa pera carga, nem pera neha cousa; tirai vos das pemdem-
. as de calecut, que ha dezoitanos que est em pee, porque, imda que
ho podeses destruir, nan o devies de fazer por amor da carga do jemji-
vre beledy e doutras muytas drogoarias e muita pedraria do reyno de
narsymga, e mais semdo duas cousas tam vezinhas e tam jumtas como
he caleet1t com cochim; amtes me pareceria rezam meter vos alteza a mao
na paz amtre ele e o Rey que agora he, pois ho amorytn l1e morto; e se
tiverdes caleeut e eamba ya e goa, ainda que venha todo h o poder do sol-
dam e todo o poder do turco, nam nos podem cmpecer, nem levar espi-,
ciarias da imdia, se vos alteza quiser.



CARTAS DE AFFONSO DE ALBUQUERQUE _ 153
E pois ho amorym he morto, que foy tredor e maao, estoutro que
vos nam te1n errado e vos mete comsigo demtro cm seu Reino, e vos d
forteleza, com que podees segt1rar as especiarias e mercadarias que va.m
de calecut pera o caito, com oytemt omees na forteleza, e queremdo os
trazer no mar em guerra, nam lhe podees tolhe a carga, e se forem pou-
cos navios, falosam afastar afra; cspiryemcia, senhor, temdes tomado
disto que vos digo; pol amor de deus, senhor, crede me o que vos de qu
esprevo: as cousas que se vos meterem na mao sem guerra e com for-
teleza, aceitay as, pagam do elas os soldos e mamtimemtos jemte e semdo
cousa proueitosa, ou pera d trato, ou pera segurama da imdia.
Que releva aos vosos oficiaes e capites das vosas fortelezas escre-
verem vos sobre a guetra de eles nam an1dam no mar, nem es-
tam s bombardadas com eles, nem tem cargo de lhe tolher a navegaam
de suas espiciarias e mamtimemtos, nem lhe daa mais qu que vema ca-
lecut que os portugueses; e estes taes lembra:lbe. muy mail que ha de-
zoytanos que vivemos em descredito com esta guerra de calecut quaa e
l ,e nam dam outra Rezam senam que el Rey de cochim que ho ha por
mail; tem vos alteza mais obrigaam a el Rey de cochim que ho soster em
seu estado e fazei o Ryco e omrrado, e pagar lhe gramdes dereytos da pi-
memta? mas que aimda suas gemtilidades e seus custun1es de seus paras
e de sua guerra ajaes de guardar com outros Rex e senhores, que que-
rem ter paz e amizade comvosco'! nam me parece, senhor, que vos com-
vem terdes tamta pemdema na imdia, mas quem abrir seu porto a voso
trato e mercadarias, na1n deixs de ho receber com segurama de vosas
jemtes e mercadaria, e asy hirs ganhamdo credito e fama na terra, e a
imdia hir tomamdo asemto, ao menos de cambaya at ceilam, omde as
vosas naos am de fazer sua carga: eu, senhor, vos cert.ifico que ho
e esprives de cochitn vos nam an1 descrever isto, nem menos os de ca-
nanor, nem os capites das fortelezas de cochim e cananor, porque bem
sey eu as emborylhadas que eles 1.en1- feitas sobre este com certo de cale-
cut, com peitas dos mouros de cana.nor e cochim e dei Rey de cananor e
de cochim, e nam ouso de dizer a vos alteza cam ousados sam os hon1eens
na imdia a fazerem ha gramde maldade, como lhe dam dadivas, e os
vosos seguros nam amdam eJes muyto metidos em ordem, porque s ve-
zes desimulo eu muytas cousas, por nam danar amte vosalteza tamtos
homeens.
1
Parece-nos que de mais esta eonjuneo e.
20

154 CARTAS DE AFFONSO DE ALBUQUERQUE
Tomay, senhor, por fumdamemto que el Rey de cochim e el Rey de
cananor nam querem fazer a guerra a el Rey de calecut nen o querem
destroir, mandar a voso capitam e vos armada pera que ho destrua,
amtes acodern Rijamemte s suas necesidades e o sostem, por tall que
se nam venha meter em vosas maos, porque sabem que he tam gramde
o trato de calecut e tarn abastado de mercadarias, que ficam eles dus '
caymaaes muyto piqueninos; e a vos alteza comvem ho comtrairo, que ha
car'ga de vossas naaos at fyrn do juizo seja em cochim e em calecut, e
que estes comservees e guards como cousa muyto primcipall e necesarea
a vosos tratos e despacho de vosas naaos, porque ha carga sortada de de-
versidade d espiciarias nanas podees a ver senam trazydas por estas for-
migas de desvairadas partes gram e gran1 sua terra, e aly comprar-
des lhas por preo que se faa l proveyto. E isto, senhor, digo, emquamto
vos alteza nam mamda homeens por imdia que saibam dar avia-
memto ao negocio, porque eu ey vergonha do embarao e pouco saber
dos feitores que qu terndes na imdia, que asy me deus ajude, que ti-
ranldos da carga, que fazem hy dous escreaves (sic) negros malavares,
nam sam homens pera saberem comprar dez ris de pam na praa, e por
isto, senhpr, nam deves vos luzir vosos feitos e vosos tratos na imdia,
mas amortalhados e escurycidos e chos de mill desordeens; tudo Re-
dumda em fazerem seu proueito, falarem vos l em nomes de tratos e
d espiciarias, como fazem os buticairos nos nomes das drogoarias, e como
qu sam, esqecelhe logo tudo ho que vos prometeram e diseram que fa-
ryam, e todo seu feito he escreverem vos como a vs de governar a imdia.
Digo isto, senhor, por descargo de minha comciemcia; valha quamto po-
der valer; porque se em meu tempo tivesse mercadores que .soubesem o
trato e dar aviamemto a vosas mercadarias polos lugares do trato que te-
nho amdados e asemtados, vos alteza louvaria mais meu servio.
Querees, senhor, ver se vos falo verdade? pregumtay aos feitores de
cochim, se lhe tenho mamdado que mamdasem Roupa de cambaya pera
ofala? porque h o nam fizeram? se eles sabem mamdar naos carregadas
d espiciarias e mercadarias a dyo e a urrete, como nam mamdam eles
a vosa?
Tambem lhe tenho mamdado que mamdasem Roupa de cambaya a
malaca; porque h o nam fizeram? estes taes como mamdarm eles naos
CARTAS DE AFFONSO DE ALBUQUERQUE 155
com mercadarias a urmuz e a pegu, e outras a bemgala e outras
a zeila, a barbora e zeila, e outras a malaca e amatara, e a tana-
arym, e outras a sarnao, e outras a ceylam trazer todalas diversidades
de mercadarias has vosas feitorias pera carga de vosas naaos, pois que
duas cousas tam piqenas, como acima digo, nam quiseram pr em obra?
nan o sabem fazer: torno vos, senhor, outra vez a dizer, que vos esprevo
isto por descargo de minha comcyemcia; e digo que devia vosalteza dei-
xarse amtes roubar a dons frolemtis, que ver tamanho descredito em vo-
sos tratos e feitorias da lmdia e tam mazcabados, metidos em tamta des-
ordem e tam pouco voso proueito, porque estes taes naceram no negocio
e sabeno fazer: esprita em cananor a xxx dias de novembro de l5l3.
(Por lettra de Albuquerque) fcytura e servydor de vossa allteza
Afon1so d alboquerque t.
CARTA XXXI
11S13 -Dezembro 1
Senhor.- alteza me culpa, me culpa, me culpa em algfiuas
cousas de qu .da feitas comtra vos rrejimernto, e crco que ser
por m emformaam que vos de mim darm algas pesoas, que com em-
veja e dor de meus feitos e meus servios vos servem agora qu, como
meus compytidores, danamdo as cousas de voso servio e de todo bem
da imdia, cuidamdo que danefycam a mim; e credemo, senhor, porque
esta he a mayor praga que agora quaa ha na imdia, porque a vida que
fao, meus trabalhos e minha limpeza, culpa todolos homeens e obrig os
a muyto, e porque ha carga he muy gramde e nam podem com ela, nem
podem sofrer a execuam de vosos rejimentos e determinaees, que nos
traz metidos a todos en1 tamto trabalho, perigo e fadiga, que nam ha ofi-
ciall, nem capitam, nem homem na imdia, que me nam deseje morto mill
vezes destroydo; e aqueles que com seus carregos me podem daneficar
e empecer, por tall que d maa comta de mim, nam cessam d noute e
..
Torre do Tombo.-C. Chron. P. t., M. t3, D. 107.
I
f56 CARTAS DE AFFONSO DE ALBUQUERQUE
de dia cuidar nesta ma teria, e pl o em obra quamdo lhe vem mo: es-
tes taes que asy pasam sua boa vida oceosa, nam term eles tempo pera
vos espreverem mill emganos e cartas chas de poesia, fimjimdo n1ill cou-
sas e mill emganos e cartas cheas de poesia, fimjirndo mill cousas que nam
sam nem numca foram, por tall que os deixe outro bispo que vier, viver
em sua oceosidade descamsados, e os farte de vosa fazemda, e faam tam-
tos erros que emcubram suas maldades, e que tenham negocios e embu-
rylhadas que vos esprever? porque certo e craro est que aqueles oficiaes
deste oficio que vos estas cousas esprevem, nan1 amdam em minha com-
panhia, nem me vm ho Rosto, nem sam companheiros em meus traba-
lhos, perygos e fadigas, nem vestem as armas, nem trazem diamte dos
bolbos a segurama de voso estado na imdia e comservaam de vos ar-
mada nestas partes e credito, mas querem ganhar autoridade em vos es-
preverem mill emganos e falsydades, e nam dam nada que se perca a
imdia per este caminho, e que vosalteza traga em descomtemtamemto
todolos boons servidores que qu trazs e que vos fielmemte servem, mos-
tramdo se chos de dor das cousas de voso servio, e amostram esas car-
tas dagardecimemtos de vosalteza, ha quall os acemde em tall maneira
que, quamdo nam tem que dizer, assacano, e cremlho; prenosticam e
profetizam, falam com feiticeiras que lhe diga ho que est por vyr, e
ajumtam toda esa masa, de que fazem ese paste li que l mamdan1 a vos al-
teza cadano; e prouuese a noso senhor que este em gano e dano tocase
somemte s partes a quem qerem fazer mail, e nam trouxesem vosal-
teza em tamta duuida das cousas da imdia e tam revolto, que vos nan1
deixam tomar verdadeyrQ asemto e sam nas cousas de voso servio, nem
vos acabardes de determinar ho caminho que qers que leve ho negocio
da imdia.
Digovos senhor, isto, porque se bem onlhardes vosos rrejimemtos
e determinaees, cad ano vem hum comtrairo a outro, e cad ano fazs
ha mudama e avees novo comselho, e a imdia nam he ho- castelo da
mina, pera cadano bulirdes com ela, porque ha nela muito gramdes rex
e senhores de muitas jemtes de cavalo e de pee, e de muita artelharia, e
que s esfora a vos defemder que nam segurs voso estado nela, nem vos
faaes forte na terra, nem lhe ganhees os lugares primcypaees; e estam
comfiados que avees vs de leyxar a imdia, e mais qerem vos trazer nese
mar, at que hum dia se apague de todo vosas foras e armada e jemte
toda que quaa trazs, com ha muy piqena trovoada ou desaBtre que

,
CARTAS DE AFFONSO DE ALBUQUERQUE 157
muitas vezes acorntece; e vos alteza ajud os a seu preposito da maneira
que hatrs dito tenho; porque ha ora pomdes hum emprasto pera este
feito vir a furo, outrora.lhe pomdes defelr1syvos que nam crie matcria; e
tamto pode vosalteza ir por este C.Lininho, que dars corn todo feito no
cho. E isto, senhor, vos faz fazer P.stas cartas dos pu elas da imdia,. que
lhe nam d nada, qer se perca a imdia, qer se ganhe, qer seja de mou-
ros, qer de jemtios, qer de cristos; atrs seus propios proueitos
e on1zenas, e ajudam se bem de vosa fazem da, quan1do podem; nam ves-
tem as armas por voso servio, Reprerndem os feitos hornrrados de qem
vos bem serve, vestidos en1'camisas mour)"scas, determynamdo em oceo-
sidade os feitos da guerra e governama da in1dia, e o que comsygo
mesmo detern1inam, aquele lhe parece ho mylho1 con1selho, e aquylo vos
esprevem que faaes; e nam quero eu mayor synall pera vos alteza ver
quaam desapegado estaes na imdia, que as mudam.as de voso comse-
lho; e este mail nace todo das cartas da imdia, que prouuese a noso se-
nhor que defemdese que nimguem vos nam esprevese, senam
os capytes que sam esteos deste corpo, e aimda destes tiraria os das
fortelezas, porque sam mortaes compitidores daqeles que navegam ho ca-
minho de vosos Rejimemtos, e desejam de os ver desbaratados e perdi-
dos, porque tenham que vos esprever, com sembratnte de que se eles no
feito foram, nam se acomtecera tall cousa ou tall, e que sua
tenha autoridade e merecimemto amte vosalteza.
Estes qe vos asy esprevem o feito da imdia, _ho primeiro pomt.am
que pem a seu preposito he falar vos em vosa fazem da, mostram do se
muito chos de dr dela, doem do se dos vosos gastos e despesas, e per
este caminho comeam d emtrar; nam lhes d nimigalha, qer vos espre-
vam verdade, qer nam, porque lhes parece que a este negocio acode
vosalteza mais Rijo que a outro nehum, e com esta desitnulao se aju-
dam muy bem de vosa fazemda e a comem e Roubam e trata1n com ela,
e sam feitos gramdes Ricos, e vosos tratos dane ficados e vosas mercada-
rias abatidas, e os preos delas abatidos e sonegados; e tornaes me a mim
a culpa, mamdamdo me que nam emtemda meudamente nas vosas fei-
torias; e digo estas cousas por descargo de minha comciemcia; e prou-
uese a deus que per cima de todo este emgano seu e m comciemcia fo-
sem eles pesoas de saber e comfiama pera menear vosa fazem da, e a
meter em caminho que fizese algum fruyto; tnas eu, senhor, vos juro poJa
verdade que sam obrigado a vos dizer, que vs nam temdes na imdia h o-
..



. 158
CARTAS DE AFFONSO DE AI .. BUQUERQUE
mem pera que dele devaees comfiar vosa fazemda, nem que saiba que
cousa he ser feitor, nem tratar, nem comprar, nem vemder, nem fazer oe-
hum proveyto, nem fruyto; todos dam as velas a fazer seu proueito e a ver
ho que podem, bem avido ou mail avido: e se vos dos taes esprevo al-
giiua ora alguum bem, he porque me choram tamtas lagrymas, que de
piadade ho fao: oulhay, senhor, as naos dos mouros de cananor eco-
chim, que foram carregadas de pimemta e espyciaria adem com seguros
desymulados dados pera vrmuz: mamday ver os portos de cambaya, de
dio at chavll, e de chavll at batecala, e achars todolos mercadores
chos de cobre- e pi1nemta e toda las doutras mercadarias e espiciarias,
que vem da mo de vosos oficiaes e capites e d outras pesoas que ha na
lndia, os quaes vos esprevem cartas culpamdo me a mim e minha lym-
peza, fra de suas emborilhadas e companhias, tam isemto e tam lympo -
que nam ousam eles de ter ho rosto dereito em tnim.
Diz me vos alleza que se eu isto vejo, porque lhe nam dou h o cas-
tigo que Digo uos, senhor, que numca estou na terra, nem so-
bre vosas feitorias; e mais, senhor, que direy eu comtra Louremo mo-
reno, que tamto credito e autoridade trouxe de vos alteza, tamta com-
fiama e tamta isemam em vosa feitoria, fazemda e trato? e emtemder
neste negocio mevdamemte temdes mo vs defeso, e per groso nam poso,
porque me mamdaes que nam emtre na terra; somem te co asesego dos
portos e lugares de fra e com as espiciarias aquerydas e avidas por mi-
nha negoceaam e de vos armada carregam eles vosas naos, ganham do
autoridade amte vs custa alha. Digam estes taes quamtas cartas tem
eles espritas a vos alteza de tratos de vosa feitoria, aviso de preo de mer-
cadarias, e de compras e vemdas e tratos, e em outros portos? eu creo,
senhor, que poucas; todo seu feito h esprever de mim e falar em.mim,
Repremder meus caminhos e meus feitos, que amdam na estrada de voso
Rejimemto, por tall que apegamdo se vos alteza a mim, se ajudem eles
emtamto do voso movell, e os aja por justifycados: e posto que os eu nam
reprentda, nem v com todo Rigor contra eles, sempre em minhas cartas,
domde quer que estou, lhe mamdo avisos de suas culpas como qen as
muy bem sabe. "
Digo tambem, senhor, por gaspar.pereira, que agora veyo com trimta
-oficios e nam quis servir nehum, os quaees lhe eu dourey, e lhe dey
tamto favor e credito, que se ele outro fora, ele soubera aquerir autori-
dade amte vos alteza e fallla de boom e trabalho doura vosos o fi-
..
CARTAS DE AFFONSO DE ALBUQUERQUE !59
ciaees, se me quiserem ajudar fielmemte; mas sam homes que desas cou-
sas sabem pouco, e d emborylhadas, sotilezas e revoltas, sabem mais que
todolos outros homeens, pera ter que vos esprever, e em vosa fazemda
nam saberm dar hum noo a hum negocio proueitoso: e aimda, senhor,
vos digo, que prazer a noso senhor que viver vos alteza cemtanos, e
que numca vers outro proueito Resultar destes homeens que se l mos-
tram muyto gramd'es servidores, chos de saber de negocios e tratos e de
feitorizar bem vosa fazemda, senam cartas de qu de comselhos sobre ho
feito da imdia, e de Revoltas e emburylhadas que eles ordenam, fazem
e desfazem; e tem niso tamto saber ,e tamta agudeza, que se quiserem
_ danar dous arrayaes, faloam. Estes taes que castigo lhe poso eu dar, que
eu numca estou omd eles estam? e mais mamdaes me que _!lam em\emda
com eles mevdamemte, e no groso nam poso, que amdo sempre de fra;
e se ele pera iso vynha, como . nam se nam hia ele comigo? porque de
cochim at banastarJm por fora h o fiz ir; e qeremdo levar comigo, amos-
trou hoa fumda que trazia, e alguas dores suas. E debaix1l disto jaz
escomdido os trabalhos de guerra e perygos do lar, de qe se os homens
na imdia sabem muy bem escusar, se eu nam tivese ho leme em teso:
nam cra vos alteza que os homeens sam qu na imdia como seles l
pimtam amte vs; mas como se qua vm, deixam toda sua obrygaarn
por seu proprio proueito; e nam falo neste feito mevdamemle, por nam
danar tamtos homeens hipocl'itas ~ e voso servio e vestidos ern peles d ove-
lha, que com suas danadas temees e imcrinaees avees sempre daver
muy pouco proueito de seus servios: todo feito destes h e danar quem
podem, aproveitar a sy mesmos, e dizer mail e desdanhar as cousas que
os obrigam a trabalho ou a guerra; e porque vem a preposito, ho quero
aquy esprever a vos alteza: goa, qamdo estava cercada, nam dezia nim-
guern bem dela, todos desejavam de dar com ela no cho e de ha emtre-
gar s mouros, e nam dava outra rezam senam. que goa gastava muytos
mamtymemtos, e que se pagava a vosa jernte por mamtimemto: estes que
isto deziam, nam sabiam eles que ha Jemte oceosa de cochim tambem
recebiam cada ms seu mamtimemto, e que a jemte da imdia omde qer
que estiver, ha de gastar seu ordenado de mamtimemtos e s o l d o s ~ agora
que pasou esta trouoada de benastarym, como dizem que he a milhor
cousa do mundo, e que se goa nam fose, que se perderia a imdia, e que
vymdo quallquer trabalho haa imdia, que goa soo he poderosa pera a sos-
ter e defemder at fim do juizo?


,
160 CARTAS DE AFFONSO DE ALBUQUERQUE
Antonio Reall e o feitor, q da justia que lhe vs emtregastes? como
semtemcearam e degrada1am eles vosos cryados, nam temdo tall poder
em seu mamdo de justia? como mamdararn eles syma1n Ramjell em hua
nao de mouros a cananor, ho quall foy \en1dido en1 calecut corn ba-
rao no pescoo e levado ao cairo, e diogo fernamdes, cl'iado que foy do
baram, pera goa, e gomalo fetnamdez pera ho castelo de eitna, e isto
.emqua:r.to eu fuy a malaca? premderam vosos esprives, alymparan1 a
terra dos homens avisados e sesudos, por tall que nam en1temdesem a
masa e companhia do vigairo Diogo pereira, amtonio Reall e o feitor, seus
tratos e mercadarias; e chos desta boa e isemam, fauor e credyto
de sov alteza, tam boa semtema dava ho \'igairo no crime como no civell;
e asy punha . .seu synall na semtema como cada hum deles: prcgu1ntay,
senhor, estes por vosos tratos e mercadarias; pregumtay lhe, senhor, cu-
jas eram as naos totnou sobre tanor, estamdo carregamdo pitnemta, as
quaes naos eram de cochym e por iso as alargou; e pregumtay lhe cuja
era a pirnemta qne aly estavam tomamdo; pregumtay, senhor, arntonio
Reall polo cirne, samtesprito e o rey gra1nde, que derribou por eu nam
estar na terra; pregumtay lhe poJa gal de symam martinz e pola ajuda
gramde, qe sem mar e vemto, correjidas daqela ora, da sua mo se fo-
ram ho fumdo: pregumtay, senhor, amtonio Reall porque nam foy a ma-
laca; darndo lhe a capitania de dous navios c muy boom partido, e que
fose dar ordem c.omo se levamt.asem e reformasem esas naos que l fica-
. vam, dise me que era quebrado e que nam era j homem pera servir .
Pregumte the vos alteza quarndo se h lia nao das de goa, mamdam-
do a passar a benast.arym, tiraran1lhe arrombada de hua ban1da, foy
bamda e alagou se no Rio, mamdey o chan1ar pera a levamtar e nam quys
vir; mamdey o chamar pera ir comigo ho n1nr Roxo, como vos alteza mam.
dou, e nam quis vir; lhe s pena do caso mayor hua e duas ve-
zes, e nam quys vir; sem do homem que h at gora nan1 . te1n vestido as
armas por voso servio, sempre ho en1carregastes en1 a.ucares e pimcmta
e em cousas de seu proueito, de que sempre se ele soube ajudar, e sabe;
os sev.uros que ele e Louren1o moreno dava1n s naos pera malaca.
quamdo eu l estava, como me nam. esvrevyam e davam Rezan1 de sy
corno a seu capitam mr: e sahecs, senhor, h o castigo que lhe eu dey por
este feito, e por outros que eu aquy nam digo, deyxeilhe a capitania da
forteleza, sabemdo certo que el Rey de cochim numca mais emtrou na
fortaleza por aver por desomrra amtonio Reall ser capitam dela, e numca
,
CARTAS DE AFFONSO D-E 6t\LBUQUERQUE t6t

vol o quis esprever: tiveram sempre vosas feitoryas em casas de palha, e
os seus cofres e seus vinhos e suas atafanas em casas de pedra e call Co-
chadas (sic) de chumbo: pregumte amtonio Reall polos aparelhos
e emxarcia de duas naos e esqipaam de poleames e todolos outros apare-
lhos, porque os meteo em casas de palha e nam omde estava seus fornos
.de poya e suas amasarias? saltou ho fogo na casa e despachou tudo: pre-
gumte tambem vosalteza amtonio Reall., se vs acudistes has vosas fei-
. torias e acrecemtamemto da forteleza, de se fazer tudo de pedra e call'l
quem lhe mamdou os oficiaes da obra, defemdemdo lho eu que nam
emtemdese e os levou a fazer as suas casas com pedra da igreja e
vosa cal I, pera as vem der que se vaa? pregumte lhe tambem vos al-
teza porque leva aos capitees espravos e espravas de peitas por lhe cor-
rejer seus navios, e aos mestres e marynheiros pregumte lhe como se tem
aproueitado de vosa fazemda mevdan1emte per esa Ribeira e per outras
cousas de voso almazem, com que ele s vezes socorre has naos dos mer-
cadores por seu propio proveito, e nam de maneira que venha a ba ar-
recadaam a vosa Fazemda? eses taes que tamtQs anos ha que logram
esta boa vida, e s aproueitan1 de vosa fazemda, e se fazem pagos d
mo do voso e se sabem guardar dos imcomYeniemtes da guerra e
trabalhos da imdia, e tratar co voso cobre e pimemta e outras mercada-
rias defesas por voso Rejimemto, pedi lha comta do feitorizar de vosa fa-
zemda e da negoceaam dela que fyzeram em seu tempo, que ha carga
da pimemta amchecala e cidra, dons esprives jemtios, h a fazem: e se
eles tratam nas mereadarias defesas per vos alteza, nam fariam milhor
. esta negoceaam de vosa fazemda, pois que recebem soldo de vs e o tem
per Rejimemto? bem sabem eles que sey eu todas estas cousas, e nan os
castigo, porque tem eles mor autoridade, poder e credito nelas -que eu,
amtes cad ano com lagrymas demtro na minha c amara me pedem cartas
pera vos alteza, e porque se acerte milhor h o caminho, pedem mas por
duas vias, e do que esprevo nelas tenho asaz con1ta que dar a e a
vos alteza: ora, senhor, vede bem as cartas que vos eles esprevem sobre
meus feitos e sobre ho negocio da imdia, e asy outras pP.soas que agora
nam nomo, e vede ho que fao e omde estou quamdo vos dam suas car-
tas, e vede vosos Rejimemtos, se sam comformes aos caminhos por omde
amdo, e o que vosas naos e jemte e cavaleiros empremde por voso ser-
vio e mamdado, porque nam tenho outros compitidores na io1dia senam
. vosos oficiaees .

!t

'

'
/
t 62 CARTAS DE AFFONSO DE ALBUQUERQUE

E segumdo ho que agora vejo neste mao de Cartas que me deu
amrique nunez, m acusa \'Os alteza pt'irneiraanemte d acrecemtamemlo de
soldos: nan1 he be1n, senhor, quamdo m ou verdes de cu1pa1', que vejaes
vosos livros da feitoria e os meus n1amdados que hy acharm asemtados?
est he h o Rejisto da verdade, e nam as dos caronistas da imdia;
e acharm no livro da vosa feitoria hnm mamdado meu que diz, que
vemdo eles despacho, ou marndado, ou at'recadaam pera a feiwria, asy-
nada per mim, comtra voso rejimemto, que ha nam cumpram; e_ pera
verdes, senhor, como eu guardo a osservamcia do estado da in1dia e cre-
dito de n1inha verdade e minha fama, mamday lhe pedir os alvaraees asy-
nados per mim que vem feitoria rejimemto; e asy poder
ser mais cert.eficado da verdade, porque nam sam eu homem
que aja d erncher a imdia d alvaraes emganosos e palavras de pouca ver-
dade, porque, senhor, eu sam pessoa pera que, se me meterem doze rey-
nos na mo, pera os sber governar com muita prudemcia, descriam e
saber, ba co1nciemcia e boa imcrinaam; aimda que nenha destas cou-
sas nam aja em mim, sam gramde leterado nelas e tenho hidade pera sa-
ber ho bem e o mail.
Os acrecerntamemtos que sacharm, sam estes: vosalteza ntamda
quaa de quinhemtos fS e deles de dous curzados; e algtlas des-
tas pesoas sam oficiaees pedreiros, ferreiros; se os qero mamdar servir de
seus o fi cios, a que eles nam sam obrigados, pods lhe vs tolher de boa
con1ciemcia nan1 lhe pagardes ho soldo e partido ordenado aos outros que
quaa vem com esa comdiam, os anos, ou meses, ou dias, que vos servi-
rem de seus o fi cios? a mim me parece que nam: e portam to, quamdo ser-
vem os ditos oficios, lhe mamdo acrecemtar ho soldo a rezam de como
os outros oficiaes quaa tem; se outra cousa achardes em vosos livros, pa-
gue se minha custa.
Vos alteza m espreveo que se pela vemtura os homeens se nam po-
desem mamter co man1timernto que lhe vos alteza tinha ordenado, que lhe
acrecemtase mais alguuma cousa: nam boly com neha cousa destas, so-
mem te espre,y a goa hum esprito a manoel de Iacerda, capitam da for-
teleza, em que ho mamdava avisar que nam travase escaramua cos mou-
ros de benastarym, nem sayse fra da cerqa da vila a repique, e lhe mam-
dey que todo homem que quisesse ter bsta e ser hesteyro, ou espimgardeiro,
lhe dava dobrado ho mamtimemto, e que estes mamdase sair fra em
corpo com hum capitam, quamdo lhe viese correr jemte, e nehuum ou-
CARTAS DE AFFONSO DE ALBUQUERQUE t63
.
tro homem nam: fizeram se cem besteiros e cem espimgardeiros; deram
ta11 varejo aos mouros que numca rnais ousaram de vir correr a forteleza.
Durou esta desordem e gasto de vos alteza h o imverno qJie imverney em
cochim quamdo cheguey de malaca, que l nam pude ir: outro tamto fiz
em malaca, e os jaos s afastaram de virem tnais a fazer nehilua samdice
pouoaam dos chatins e quelins: digo mais, senhor, nam tem os vosos
oficiaes hum capitulo do meu Rejimemto aserntado em seus livros, asy-
nado por mim, em qun diz, os que foren1 escudeiros averm duus curza-
dos, c os pies averm quynhemtos fS e os degradados nam averam soldo,
e nem huuns nem outros nam averm quymteladas? se pasam voso mam-
dado, mamday lhe cortar ho pescoso, e se eu asynado despacho comtrairo
a voso rejimemto, rnamday me decepar hua mo; mas na imdia nan1 ha
hy despachos, nem ha hy pitiees, nem alvaraes: qem qer despacho e
pagamemto de seu soldo, vai se feitoria; da maneira que ho achan1 asem-
tado, desta maneira he julgado, e desas cousa me lamco fra, porque
sam asemtadas com letras douro e asynadas per vos alteza: os
que os hornens atn mester de tnim, he pera pagamen11o de seu soldo e
ida pera purtugall; nam diz mais h o meu alvar, senam que seja despa-
chado de seu soldo, segomdo ordenado de vos alteza; e eu cuido, senhor,
que esta he htia das cousas por que gaspar pereira amda descomtemte
da imdia, porque nam ha hy pitiees, nem despachos, nem negocios,
nem percalos, nen1 Rejistos, uem nada das cousas pasadas. Duas regras
minhas e o rejimemto da vosa feitoria e o despacho dos homeens, nam ha
hy outra negoceaam; suas armas e cortar ese mar corn voss armada, e
ir sorjir nos portos e lugares omde nos marndaes: primeyra Remdia
este oficio mi li curzados, e agora Rem der I h a bons xxb cruzados t: a jemte
despacho a em dan1do lhe rezam de myn1 omde ma Reqerem, e se h e cousa
de vosa fazemda, vam se a esa feitoria co1n duas regras n1inh;1s pera seu
despacho: todo negocio da imdia agora est nos percalos de voss armada,
despacho de soldos neles e prouedoria dos defumlos; destes dous carre-
gos nam pude eu acolher gaspar pereira demtro na naao pera husar de
seus oficios e carregos, nem ho prouedor dos defumtos que quaa yeyo,
nem ho ]amprea, seu esprivam, porque s \rezes os percalos em taees lu-
gares pagam se com bas frechadas e cutiladas e boas bombardadas; ho
feitor das presas e seu esprivam somem te amdam comigo; estes recebem
a Vinle e cinco cruzados.
,

. .
. -
t6i CARTAS DE AF.FONSO DE ALBUQUERQUE

vossa fazemda e a dcspemdem per meu mamdado, e peleja muy bem por
voso servio: a jemte que quaa amda na ilndia, que nam veyo no tempo
deste esame descudeiro e pian1, se lhe guarda iso mesmo a comdic.a1n de
voso rejimemto sobre h o soldo, asy como agora esta ordenado per vos al-
teza l na casa das imdias, pola decraraam do capitolo de voso Reji-
tnemto sobresle paso.
Mais me culpaees nos quadrylheiros e presas, co1no ho nam fazem
bem: certo, nese feito algiiua culpa tenho, porque hy nam ha
quadrylheyros que na1n determine de furtar, e 5 vezes acudo a iso; maS
na imdia, emquamto nela amdar, nam ey de mamdar justiar nehum ho-
mem por furto que faa, porque outras cousas ha hy de mais servio de
deus e voso, em que se eles empregam cada dia; dou lhe eses castigos
que me bem parece; e d em fadado. j de ver quadrylheiros furtar, agora
no mar Roxo os tirey e j nam fao quadrylheiros, n1as tomada a presa,
se emlrega ao voso feitor e esprivam tudo, e daly ponho lhe dons honeens
de bem, que recebam a nosa parte; e depois que governo a imdia,
presas que se fizeram, se e1ntregaram logo haas vosas feitorias; e quan1do
vinha ho tempo de nosa tornada, achhYa tudo vemdydo e carregado ao
voso feitor, por omde vosa alteza deve haas partes ha parte da nao de
meqa e a parte da nao mery e a parte das naos e pimemta e jemjivre que
se tomaran1 atravs de batecala, e mais devees a artelharia e naaos de
goa e ha nao que se tomou atravs do momte dely; e oul.ras presas que
m agora nam lembram, tudo foy a vosa feitoria, e at gora natn temos
avido partes: ouue a jemte partes senam das naos de malaca; e creo
que nam ha hy cemt omens na imdia cujos estas partes sam; e per aquy
descarrego eu minha comciemcia, e o netefico asy a vos alteza.
E asy me culpa voss alteza em alguas desordeens que qu fazem
capites d armada nestas partes: qem a voss alteza estas cousas espreve,
se vos disese a minha execur.am nese feito, nam teria logo de que fazer
cartas; na imdia, desde ho tempo que ha comeeey a mamdar at gora,
nam he feito nehutn agaavo, nem tomadia, netn dano, somem te no tempo
que fuy a malaca ho que fez ho cunhado de domingos fernamdez, guarda
Roupa, e o fez ho caldeira, meu paje, casado em goa, per estucia de diogo
memdez, porque emtam estava por capitam, porque temdo os mouros em-
trado a ilha, deu lugar aos homeens que fossem amdar de fra, temdo ele
assaz necessidade deles, e posto que tivese hnum asynado meu que po-
dese ir d armada, com tall comdiam que trouxese a presa ao porto de goa
. .



'
I
r..ARTAS DE AFFONSO DE Al .. RTJQlJERQUE t65
pera apr{)var h o eapytam de goa, se era bem tomada ou mail tomada;
e crea vos alteza que diogo memdez lhe deu licema a ese fim que agora
vcyo, porque tinha asynado meu, E a ele daria eu a culpa de em tal
tempo com aqele comprir asynado: ho cunhado de domingos femamdez,
posto ao pee do torn1emto, tornou os setecemtos partlaos que tomou ha
na.o d urmuz: ho caltlei1a foy preso, e eu ho mamtlava etnforar, nana po-
Jas presas que fez, mas polo seguro que mamdou pedir sobre a barra de
goa, amtes que emt.rase; porque diogo merndez, pera fazer mais feyo ho
caso da minha licema, acbegao a sele amorar e alevamtar; porque, como
j tenho ditt>, Diogo memdez tetn saber pera s aproveytar destas manhas
e eseornder seus erros: ho caldeira foj i o co cacereiro pera a igreja por
culpa d amtonio Reall, que era alcaide mor, e a ele divera eu de toma1
est.a com ta: per amtonio Raposo mamdey tirar imqniryam feito
a .chaull, e ho mamdey l com ele preso; pedio carta de seguro, e mam-
dey lha dar; Cl'o que ho auto de seu feito, que ho leva ho ouuidor a
vosalteza: acho culpado nam vir aprovar as presas a goa, como dezia
no meu alvar, e ven1deo ho voso quinham' ele e o esprivam que pus po
vossalleza, sem licenca de voso feitor: todavia eu nam semty nehia cousa
destas tamto, como vir ele pedir seguro: e porm diogo memdez estaoao
an1earndo na pousada, que dyvera de desimular isto e premdel o e nlam-
dal o em forcar: nam ha hy outra cousa feita na lrndia per purtugueses,
depois que ha qu governo, porque todalas naos d urmuz e de cambaya
navegam certides de seu Roy, como l tenho esprito a vossalteza;
e as de cananor e eochim navegam cos seguros, porque os tem os Rex
da terra, pera a ver por eles dynbeiro; e a diogo memdez com estas cou-
sas t.aes que com suas estucias e lex que apremdeo em salamamca, ho .
sabe bem fazer, a ele se devia de dar ho castigo. .
Voss alteza me tocou em onor serem lhe feitos alguns agravos, e asy
a timoja, e quamdo diogo memdez estas cousas ordenou que voss alteza
soohese, porque apremdeo de lex em salamamca, soube o muy bem l
lamar: onor nos faz a ns a guerra, que. nam ns a ele, porque h e ha
cova de ladrees comtino, e os Rex e eses senhores da. terra sempre ar-
mam atalayas e tomam na metade das nossas barcas as naos de ehau]l e
todolos pagueres e que trazem mamtimemtos e prouimemtos pera
goa, porque diz que, se nam furtar no mar' que nam pde pagar oitemta
: A1iu-bar&af (')
\
166 CARTAS DE AFFONSO DE ALBUQUERQUE

mill pardaos que paga pola' terra a el Rey de narsymga; e se voss alteza
mamdava cadano a vossarmada, que viesern eon1 as naos de eananor at
ebaull, com reeeo d armada de ealecut, onor e goa, nam he bem que goa
alympe esles ladres furmigueiros, que nam deixam navegar nimguem e
qebram vosos seguros'? h a terra toda que recebe meu seguro, se aqeilOU
deste feito, e eu tarnbern m aqeyxey, por o no r as mercadarias que
vynham pera goa; e agora trago comtinuadarnemtc seis fustas de goa, que
os mouros tinham em benastarym feytas, e omde qer que acho hatalaya
armada, mamdo que haly omde os tornarem, que aly os despachem logo,
sem Inais apelaam, nem agravo; e timoja por isto foy rreteudo de mim,
porque estamdo em goa comigo, armou as suas atalayas aly seeretamemte,
e as mamdou de fra e tomou duas naos de chaull carregadas de beira-
mes, e hua d urmuz de e aljofar, e todas tres traziam meus se-
guros, e por iso laarncey mo dele: as naos foram ter a onor, e elRey
donor lamou mo delas; muitas vezes lhas mamdey reqerer e numca as
quys dar; nem por iso lbe fiz mail nem dano, mas se lhe topara quatro
ou eimqo naos de seu porto, tomara lhas, e fizera restetuiam, a chau II e
a.urmuz, por serem lugares trebutareos a vossalteza, e navegarem com
meus seguros: onor nam trata de mercadaria, todo seu feito he armar
esas atalayas cadano e furtar; e assaz de dano fez a goa, quamdo estava
cercada, porque nam ousavam de \ir mamtimemtos a ela:: estas cousas
nanas avia l de lamar diogo memdez e seus com esta
decraraam, porque nam pareceram logo capitolos, mas calalas e eseom-
der os erros e desomrra que cometeo eomtra ho estado da lmdia.
De timoja vos lenho j.l dado eomta, que quamdo veyo a
ser capitam das terras de goa em nome de vossalteza, eu lho emtreguey
sobre fyama: metido ele em pose das terras de goa, pelejou cos turcos,
e tinhaos. desbaratados, se lhe nam mataram hum capi1am seu: foise
pera oarsymga ele e timoja; morreo l timoja, e sua molher e seus filhos
fogiram d ooor pera goa, omde agora estam bem tratados e omJTados de
mim: ho rrey donor que vos pagava as pareas, he morto e outro seu so-
brinho que foy Rey; e agora este que ficou por Rey, dizem que este Rey
de narsymga ho tira e o d a melrao.: de nehua destas que eo
aquy esprevo a vos alteza e tenho espritas, nam sabe diogo memdez tam
pouco de lex,.que estamdo ele presemte:a tudo isto, nom. soubese.virar ao
emvs; e fizeram vos emtemder que timoja era hum gramde senhor nesta
terra, e que melrao era hum tredor e mao homem. Digo UOS.;. senhor, que
'

'

CARTAS DE AFFONSO DE ALBUQUERQUE t67
timoja era hum estalajadeiro noso, que sempre nos bem por
seu proueito, e suas obras comnosco sen1pre foram cheyas de tirania; e
se por tredor e mao ouue1a de ser alguurn homem comdenado, timoja ho
ouuera de ser, porque ele tinha na ilha de goa tres mill pies pagos das
de goa, e deyxou emtrar ha ilha a t1ezetntos turcos emlameados,
sem ar1nas nehas: tnilrao he de linhajem de R ex, e bometn
de fama amtre os jemt.ios, e cho de rnuita verdade e muito est.io1ado e
amado da jemte dest.a costa, e nunca nele achei emgano nem trayam ;
e se ho eu tivera em goa, de fina fora os turcos leixaram as terras de
goa. E qen o a voss alteza pimtou doutra maneira, comprio lhe fazei o asy,
por virem as cousas todas a seu preposito: ach o mais verdadeiro e mais
leall errais desejador de morrer em voso que alguas pesoas que
eu aquy nam qero nomear; e asy nisto, como em- todolos outros n1eus
feitos, nam ha hy mastelada nem emborilhada; todalas cousas de voso
servio e de voso estado na imdia oulhadas e feitas com muy boom
comselho, e noso senhol' has traz a hoom fim ; e melrao, que vos a vs
dizem que era tredor, primeiro ele deu a batalha s turcos e foy desba-
ratado, que leixase as terras de goa.
De cananor ao primeiro dia de dezembr de_ t 5 t 3.
(Por lettra de Albuquerque) feytura e servydor de vosa allteza
Afomso d alboquerque.
(Sobrescripto) A EllRey noso senhor'.
CARTA XXXll
1
Senhor.- A vs comvem fornecer a ytndia de lnercaderias daquy
avamte, porque a boca do streito, prazemdo a nosso senhor, arrada est,
porque a destroiam que fizemos em naos l demtro, e ser lugar muy es-
treito e seren1 elles certificados que nom a vemos ns de leixar aquela em-
presa, pois que, louvado seja noso senhor, todallas outras cousas estam
asemtadas e asesegadas, nam ham d ousar de yr abocar lugar tam streito,
1
Torre do Tombo-C. Cbron. P. 1., M. 1&, D. 3.

I

t6M CARTAS DE AFFONSO DE ALBUQUERQUE
porque nos nam podem em nynha n1aneira escapar. E saben1-em todol-
los portos da yn1dia, que n1e fao prestes pera tornar l; portamto,
senhor, marnday muytas mercaderias das sortes que vos aquy aviso.
Item: primeytamemte calecut pede grande soma de coral laurado e
em rama, e o mais dele em rama; pede cobre, azougue e vemelhanl; bro-
cados baixos, veludos crymyzins e gramde sorna; alcatifas, aa-
fram, aguas rosadas, escarlatas c outros panos doutras sortes.
Item: cambya pede azougue, vermelharn, escarlatas, brocados bai-
xos e arrazoados veludos crymyzins e de graam; veludos pretos grarn soma,
panos brancos e pretos finos; sedas rasas netn damascos nynha cousa,
porque vem muytos de n1alaca; pedem aafram, agoas rosadas, e se per
via de levanLe poderdes a ver cetins avilutados de cores, que c chamamos
veludos de mequa, faze o os em alepo, erri brua e torquia, no til ser m
mercadoria; alcatifas de leuan1te poucas. -
Item: asy mesmo se gastar gramde soma de boreados e veludos na
terra do preste joham.
Item: em peeguu, em syom, se gastar gramde soma dazougue e
vermelharn, panos bramcos e pretos, veludos e brocados baixos alguns, e
escarlatas de c da ymdia, Roupa de cambaya.
E pera malaca veludos de toda snrte, escarlatas, borcados baixos; -
azougue, ve1melham em .toda parle se gastar; aafram todo este mumdo
de caa o pede e o ha mester.
Item: em urrnuz soma de cobre se gastar e d azougue e verme-
lham; pedra ume nom faz per a l.
En1 narsyrngua e o Reyno de daaquem brocados e veludos gastarm
e cobre e azougue e vermelham e escarlatas e aguas Rosadas.
Bemgala toda nosa mercaderia pede e tern necesydade dela.
amat.ora azougue e ver1nelham, cobre pouco, escarlatas, borcados,
veludos pretos e crymysyns; seda Rasa netn damascos nam os harn mes-
ter, e mays o que vosa alteza l ver per carta sua sobre a soma da seda
que pedis.
Tambern se gastarm caa azeites de purtugal e auquares alguns
boons, e muytas outras myudezas que desas partes qu emtram na yndia,
a que non sey o no1ne, que tudo se gasta.
E aynda, senhor, que o ganho narn seja ta.m groso d algas merca
de rias de l, que aquy nam nomo, deve as vosa alteza todavia de mam-
dar, porque se far e abastecer se ha a yndia daquelas cousas

..
I
t 70 CARTAS DE AFFONSO DE ALBUQUERQUE
com quatro gals lhe tolhers que as nom lamcem ao mar, porque bem
as podem fazer em terra; mas varando os cascos das naos ao mar, quei-
mai as ha ha gal sem comtradiam, e quamtas mais lanarem ao
tantas mais se perderm e lhe queymarm; de maneira, senhor, que
aynda que todo o mundo o ajudase, como gaanhardes pose do
mar Roxo, nunca mais pde fazer armada, porque nom tem portos ar-
rados asy defemsauees em que a crie, que lhe ns l non1 emtremos, e
nom tem outro senom uez, porque de todallas outras partes he muy
longo camynho ao cayro.
E tudo he Ribeira de mar e he muy curta navegaam de meu e
dalac e da terra do preste joo, de que vosa alteza deue fazer funda-
mento. !o porto de uez navegaam he de xij ou xiij dias, e se vos mais
quiserdes chegar adiamte, ahy tendes a ylha de uaquem, muy bom porto;
e que hy nom aja agua, hy cisternas que abastarm pera a fortaleza,
e da terra firme trazem muyt.a agua a vender; porm a meu ver, senhor,
vs ganhars jud sem conLradiam, porque he r,ousa pequena e fraca; e
o soldam hy mandar gemte que a defemda de ns, ha de Ser
muy trabalhosa de bastecer de mamtymentos, porque he mny lomgo ca-
mynho do ca yro a jud: se nosos pecados nos deram logar que chegara-
mos l, com ajuda de noso senhor nom ouvera hy comtradiam de a le-
varmos nas mos, porque no1n era aymda cercada da banda do mar: o
que agora a vemos mester h e rnuytos Remos pera gals, panos de vila de
conde, que nom venham podres, duas duzias de carretas ferradas pera a
artelharia grosa e meda.
Tendo vs, senhor, feito asemto em meu e na do preste joo,
ha se de despovoar de necesidade jud, porque nom lhe ham de vyr es-
peciarias nem n1ercaderias, nem os mamtimemtos de fra; e querendo o
soldam hi ter gemte de gornicam, nom ha pde bastecer de mamtimem-
tos; e vosa alteza pode a soster cos provimentos da terra do preste jobam,
que est defromte: ganhada jud, nom ha y casa de meca, nem quem
ouse de morar nela, e de necessydade a ham de leixar os alfenados, por-
que est hum dia de caminho de jud: a n1eu ver eu, senhor, hey o feito
de meca por muy pouca cousa; sua destroiam leue cousa d acabar;
asy, senhor, que de galees avs de voso fundamemto; em cada lu-
gar se podem correjer c e.spalmar, e em cada lugar podem emtrar, como
pejo da armada do cayro for
E .asy, senhor, nos deue vosa alteza mandar armas, porque a deva-
.. _,

CARTAS DE AFFONSO DE ALBUQUERQUE t71
sidade d.; portugueses nom ha armas nynhas que a abaste, nem tem
em com ta soldo, nem as tomarem sobre seu soldo; e portanto, pois he
nosa custa, mande nos vosa alteza abastimemto delas, e agora vos com-
pre mais que nunca, pois vosa alteza tem detc:minado de segurardes a
yndia elos ymconvenyentes que podem sobrevyr. E asy ,os compre, por-
que temdelos ymygos aa potta: armas brancas de corpo norn as devia
vosa alteza caa de mandar, porque sam mais trabalhosas de mamter que
hum cavalo de cobertas, e perdem se todas; couraas sam muy baas ar-
mas pera caa, nom ham mester esr.amel nem corregimento nenhum, sal-
uamte se se daneficam os couros per tempo; tomam os homens cravaam
e couros sobre seu soldo c corregen as, e amdam sempre em pee: pelou-
ros de espera e de serpe nos rleue vosa alteza de mandar, que nom ha
eaa nynhuns; ese castelo de madeira que me dizem qne vosa alteza tem,
se o tiveramos em adem, sem comtradiam fra nosa, porque armaramol o
castelo na agua de rubaa, que \'OS l tenho esprito, e sf'gnra a agua,
sem contradicam tinhamos adem nas mos; piques pera a jente da orde-
nama e lanas qne tirem sangue aos ymygos, porque nol as mamdam
asy como vem de biscaya, sem amolar, emcomendadas a hum barbeyro
yneharlo que c ha na yndia, e armada nom pde esperar por iso, porque
eu nom tenho na yndia mays tempo, nom ymvernando nela e vymdo de
fra, que novembro e dezembro; em janeiro me convem partir pera o
strei1o, se nele ouver de fazer fruyto, e pera urmuz em feuereiro, pera
malaea Pm abril: ora ou lhe vosa alteza quam pequeno tempo tenho pera
me aparelhar pera yr ao estreito, vymdo de fra no ms de setemtro e
outubro, como vym; portamto, senhor, emquamto trazs a obra
quemt.e, manday nesas naos todo aparelho que mandaes fazer por voso
Regimento, porque, louvado seja deus, aynda que seja homem velho e
fraco, nom ha d aborolf'cer nynha cousa em meu tempo. E se vosa al-
teza quer que a vosa armada est aguardando por iso, custar vos ha hum
prego cem cruzados e hum machado ou alYiam duzentos cruzados. E se-
gundo-a demora que a vosa armada fizer, asy far as avalias.
Tambem nos mande vasa alteza alga soma de chumbo, porque temos
diso nPcesydarle: em cananor o primeiro de dezrmbro de 1513.
(Por lettra de .Albuquerque) feytura e srnydor de vosa alteza
Afomso d alboquerqne.
A el Rey noso senhor
1

'Torre do Tombo-C. Chron. Pa11. 1., Ma. 1,, D. 1.


t CARTAS DE AFFONSO DE ALBUQUERQUE
cARTA xxxm
11S13-Dezembro 1
Senhor.-Diz vos alteza que soes emformaado qo el Rey de garo-
paa he escamdilizado dallgnuns navios da vosa armada e jemtes terem lhe
feilas allgas tomadias e danos, e asi toda a terra com Rezam muito es-
eamdilizada: perdoe Deus a quem iso espreve a vosa alteza: qne danos
-e tomadias sam feitas em guaropaa, e a onor que naaos lhe sam toma-
das e sam feitos rnuy f!ram Riquos com duas tomadas de
guoa, e muito dinheiro avido dos portuguflzes com Refresquos e cousas
de nomnarla que vem d onor: o Rey de garopaa. que vos deu mirjeu, h e
morto, e he tnorto ontro, e aguora est huurn por mel Rao, o
qual nos tem_ per muitas vezes posto em n'tesidade, por tomar estes bar-
quos pequenos que vem pera guoa com Refresquos. e tomam as naaos
que trazem vosos seguros: este que haguora hy est por Rey, mamdou
a guoa h uns pouqos de fardos d arroz podre em das pareas, e mam-
dei lhos tornaar; e pior he que no tempo de guoa estar cerquada, e ns
esperavamos ajuda de mamtimentos de sua terra, amdavam elles emtam
tomando os que vinham com o provimento e mantymentos pera guoa:
onor he cova de ladres, tem at.allaias e fustas; pagua o Rey da terra
lxxx pardaos
1
ha e) Rey de narsimgua cad ano, e a terra nam na pode
suprir, e o Rey daa lnguar que harmas e furtem, e partem coan elle e desta
maneira ,iuem; e eu tenho mandado a esas fustas de guoa, que homtle
quer que hos hacharem armados, que hos castiguem mui bem, e havisado
primeiro el Rey d onor que ta11 nam consynta, porque temos paz com toda
a terra, e toda naveguaam sfguro de vosa allteza; a paz lhe foy-sempre
guardada mny imteiramente e toda \'erdade, asy a elle como a todos: e
quero eu dizer a vosa allteza qne comfiam tamto nossos imiguos de mym,
que sem seguro sabem certos que .se \'em direitos omde eu es1ou, qne
hasy lhe guardo o seguro como se o tevesem asinado por mym; e he m_uito
esLimada minha pallaora na Imdia e de gramde credito, e nam ha homem
I Oilellta mil pardau.
CARTAS DE AFFONSO DE ALBUQUERQUE 173

que mamde chamar, que nam confye de mim: pregumte vosa alteza se os
mouros que vieram a ealecut de demtro do cairo, se os mamdey chamaar .
a cochim, e se vieram cimquo ou bj deles? e se ha hy mercador ou pes-
soa omrrada em toda a 1erra, se o eu mamdar chamaar, que nam venha
a mym comfiamdo em minha pallanra, sem me pedir seguro? bem sabem
os da imdia que numea fiz Riballdaria nem vileza, nem quebrey minha
palavra nem meu seguro, E os nosos amygos muy qoemtes e muy eom-
temtes de mym; e nam oj este dia mouro em toda a imdia, que se o
mandaar chamaar, que nam venha omde eu estiner; tam ystimada e tam
dourada est minha pallavra.
Na lmdya homens qne ho eomtrairo fazem, sam homes frogica-
dores, e farm mil! e mill emvorilhadas por hum Roby, e que-
brarm .mill vezes minha pallaura por aver hum synabafo: homem sam,
senhor, que guardo primor em meu carrego e o fao guardar aos que tra
guo per ,oso mandado minha ordenana: scripta em cananor ao pri-
meiro dia de dezembro de lt:-1.
(Por lettra de Albuquerque) feytura e servydor de vossa allteza
Afonso d alboquerque.
(Sobreacripto) A el Rey noso senhor
1

CARTA XXXIV
1518-Dezembro 1
Senhor.-Eu mamdo ll a vos alteza dous abexys que foram cati-
vos imdo pera a romaria de jerusalem, no serto da ilha de uaquem;
sam homes emtemdidos danosa ley, e sabe hum delles esprever muy bem
em slla lymgoajem: mamdo lambem a vosalteza hum mamcebo abexy,
que sabia ara.bia, e lamousse com Ruy gal\'o em zeilla; foy espravo do
feitor do solido, que est em jud; e mamdoo pera lymgoa dos outros,
que nom sabem falar aravia, e ele sabea muy bem e mais limgoajem de
soa terra; e asy mamdo a vosalLeza hum sobrinho do xeque e senhor de
Seis.
1
Torre elo Tombo-C. Cbroa. P. t., 11. I&, D. t. . .

'
t 7 i CARTAS DE AFF9NSO DE ALBUQUERQUE
meu e senhor de dalaca, que me moreo vymdo pera a Imdia, que sabe
a limgoajem do preste Joham e a de dalaca: mamdo a vos alteza hum Ru-
bam do mar Roxo, que tem sua molher e filhos em jLJd; homem a\isado
he. saber dar boa comta dos portos e navegacam do mar Roxo, sabe bem
seu ofycio: mamdo tambem a vos alteza hum ofyciall dos de goa, que fa-
zem tam boas Espymgardas como as de boemea e asy lavradas com pa-
rafuso; l far seus emgenhos; l vos mamda pero masquarenhas amos-
tra dellas: mamdo vos tambem hum mouro d adem, que sabe laurar afyam
e a maneira de que se colhe.
Se me vos alteza quyser crer, mamday semear donnydeyras das ilhas
dos aores em torlollos paes de purtugall, e mamtlay fazer afiam, que he
a melhor mercadaria que cobre pera estas partes. e em que se ganha di-
nheiro: por este aoute que dmos adem, nam veo afyam imdia, e onde
valia a doze pardaos a faraolla, nam se acha agora a oytemla: o afyam
nam he outra cousa, senhor, senam leite de dormedeiras; do cayro, domde
soyam a vyr, nam vem, nem dadem; portamto, senhor, mamdayo semear
e laurar. porqoe ha nao carregada se gastar cada ano na Imdia, e os
lauradores ganharm tambcm muyto, e a jemte da lmdia perde se sem elle,
se o nam comem; e meta vos alteza este feito em ordem, porque nam vos
esprevo pouqo: esprita em cananor ao primeiro dia de dezembro de i 513.
(Por lettra de Albuquerque) feytura e servydor de vosa alteza
Afonso d alboquerque.
(Sobrescripto) A el Rey noso senhor
1

CARTA XXXV

11513-Dezembro 2
Senhor.-Per outra carta diz vosaltcza ser emformadn que ley-
xamdo ir tymoja e nam m aproueitamdo dele nas cousas de voso servio,
rrecolhera mel Rao, ho quall vos dyzem que nam he de fieltlade nem pera
dele fazerdes fomdamento. Digo, senhor," ho que j dise em outras car-
tas, qe qem vos estas cousas espreve, espera por outro governador: ho
Tom do Tombo-C. Chron. J(;t .. , M. 11. D. 36 ..

CARTAS DE AFFONSO DE ALBUQUERQUE t 75
que passa deste feito h e isto: timoja estando comigo em goa, eomo j l
tenho esprito a vos alteza, apanhou iso que pde das terras de goa; e esa
jemte e eses da terra a qe ele pagava o soldo, fogyram logo como
ouuiram dizer que vynham os turcos: veyo mel Rao a goa, como j l
tenho esprito a vos alteza, e emtreguei lhe as terras de goa, avemdo ele
de dar cad ano quaremta mill cruzados delas: vieram os turcos, e ele lhe
deu a batalha com quatro mill piees que tinha e trimta de cavallo, e des-
baratO os, e no alcamo lhe mataram hum capitam primcipall seu; morto
ho capitam, os turcos se tornaram a fazer em corpo e o desbarataram:
he homem de fama e de verdade, e cavaleiro, Rey d onor de direito, e
nam qer tomar ho Reyno agora, porque lhe pede el Rey oitemta mill par-
daos cad ano: timoja h e morto, boom homem e boom estalajadeiro de ns
outros; sua molher e filhos fogiram d onor pera goa, omde estam bem tra-
tados e omrrados e bem emcavalgados: scripta em cananor a dois dias de
dezembro de tt 3.
(Por lettra de Albuquerque) feytura e servydor de vosa alteza
Afonso d alboquerque.
(Sobrescripto) A el Rey noso senhor t.
CARTA XXXVI
1IS13- Dezembro 2
Senhor.-Vi outra carta que me vosa alteza spreve sobre diogo
eorreya, o qnall eu pus em cananor por capitam, at vo.c;sa alteza proner
quem lh bern parecer; e nam ouve aqui mais Respeito que ser l1uutn ho-
mert caJy,o por vosso servio e Roubado quanto tinha, e ll em portu-
gall muy mail tratado em sua fazemda e em sua homrra, amdamdo elle
qu servymdo; e tambem porque era homem mamso e sem pomtos pera
asesegar a comdiam de cananor, porque el Rey nam pOde sofrer manuel
da cunha: partimeu pera mallaca, e quamdo vim, achey esta embrulhada,
que eu aqui diser a vosa alteza: Joham serram escamdalizado delle, e
nam sey porqu; e achey a massa de cochim, que era o amtonio
Reall, Louremo moreno e diogo pereira, mny queixo:;os delle. E mexi-
t Torre do Tombo-C. Cbron. P. 1., M. 16r, D. 6. ..
' '
- 1
\
\
I 78 CARTAS DE AFFONSO DE ALBUQUERQUE
ricaram no oom el Rey de coc.him, dizem do que elle dana seguros a ca-
leouL; que bo espreuese asy a vosa alteza: fizeram com o vigairo que po-
sese amtredito em cananor, e durou o amtredito sete e per espi-
ciaH privilegio deu o vigairo llugar alguas pessoas que ou visem misa em
suas casas: o por que o vigairo pOs amtretlito, dill o ey aqui a vosa alteza:
amdamdo hum esp1avo de hum homem da feiloria jugamdo as punhadas
na cidacie de cananor com hum naire, sayo hum naire cristo em ha al-
madia a bordo da terra na praya da cidade, e acodio ao arroydo ajudar
o moo da fortalleza e tnatou o naire dei Rey de cananor, e aeolhse
igreija: mamdey eu tirar irnquiria.m; prououse co1110 lhe diseram que
hum naire dei Rey de cananor da,a ern hum moo da fortalleza, e como
lho diseram, que tomara sua espada e adarga e saltara fora d ahnadia, e
chegamdo omde estaua o naire, que ho moo se metem eo1n elle s eoti-
ladas e o matara: el Rey de canaoor per muitas vezse se mamdou agra-
var do mesmo feito, com muito escatndollo: tirada a imqueriam, prouoose
o prcposito; mamdey lirar o naire fora da igreja, e por ser crist.o nouo,
e conhece aquela merc e aluigo da igreja, mety hon1ens que Rodeada-
memte lbe petlisem a via a el Rei de cananor, e el Rey de eananor n1e
mamdou dizer que lhe mamdase decepar h tia mao, e mais nam; mam-
deyo assy fazer, e el Rey de cananor ficou mamso e satisfeito: o vygairo
nam lhe parecia, segumdo o favor de vosa alteza com que chegou im-
dia, avia outro governador senam elle, e foy pr amtredito em cana-
Dor e pena de iiije cruzados
1
ao capitam, dizemtlo que a elle pertencia
aquela determinaam e nam a miro: emtrou aqui tambem nesta embru-
lhada ser gomalo memdez, feitor, afilhado do vigairo; e porque gomcalo
memdez nam estatta bem com diogo correya, espreuia a cochim esta em..-
brulhada destes seguros e t.odollos mexericos que podia a\'er; e porque
a masa de eochim eram detern1inados a fazer huns por ajudar
llum ao outro, e tinham joo sarro por amigo, Reuol,iam tudo isto; e
como homens que sempre amostraram emcontrarem minhas obras em to-
dalas cousas de voso servio, lratauo asy diogo correya, cuidando que
era posto da .minha mao, e s vezes lho llama\'am em Rosto; e per com-
selho desta massa de cochim veyo dorn a ires e cristovam de brito mostrar
a diogo oorreya que elle nam era nem tinha Regimemto, e qoe
elles ,eram. capites e podiam .pOr capites e tirar capitam, .pois que eu ali
' Quatrocentos cruwlos.

t"ABrlB D11 ArFONSO DE WJUQBDQVE i TI
naun era; e eixaram asy esta olliam ordenada por iBtR IDI8Ba e pOr o
feitor de cananor tall maneira, que bo algtrozil de elnanoi' le)Q MHo
dia dizer na metade de Ros&o a diego caiTeya qae elle nam era apitam,
aem eu nam podia .por e que dom airM disera que alia de vir
aquele lllG ho almirante e que ea que me avia d ir -
Cousas b. hy tamtas na imdia, que as nam poderia acabar ciesp.msr
em mil anos a vosa alteza, somente diguo, senhor, qae se diego -oorreya
fOra tam velho eom eu, quamdo dons cachopos capites de nOs, sem
poder e 8elll a-eciito de 'osa Alteza, vinham assy vytuperar vossa fortal-
leza e voso capitam e o lleixavam em deseredito amtm os tllfRrros eom
suas soberbas e pallauras desonestas, elle lhe correra a tramea e os ty-
vera asy at minha vimda, pera vollos eu mamdar em ferros e bem cas-
tigados, e mamdara as naos oo8 mestre$ e pilotos, que as levaram muy
bem e a salvamemto a portugal, e pela vemtura lhes tomara a .conta dou-
tras travesuras que elles quaa fizeram; porque, selles foram pelo cartaxo
e tomaram ha gallinha hltm morador, furam elles mui bem presos e
arrecadados do juiz, que he hum omemzinho vestido em hum chapeyram
ele hurel, com hum cajado debaixo do brao, e elles virem com desones-
litla4es e soberbas "Yetoperar hum voso eapitam e hda msa fortalleaa: rs
vezes seria boom Repremder vosa alteza.ll estes feitoe taes, porque nam
naa algum mal da.qui; que diogo corra pelas desonestidades do
zil e soberba criada e ordenada pelo feitor de eananor e ma8a de mbhitn
dise ao algaozil que se mais fallase, que ho mamdaria premder e ll8tar
9lll htla torre.
'
E se eu deste eorpo e massa de cebim espreuese as oouaas qae et-
les tem feitas, e como se elles mostram cbeos da dor das eousas de "*>
aervioo e de vosa fazemda, como elles tomam na mio o esprever ..os
IJIIhBelhos das cousas da lmdia pera desemular e encobrir as cousaB que
ella fazemt espamtarsia vosa alteza; e se vs, senhor, soubeses Mm
qaamta desordem tomam o credyto e favor que lhe vosa alteza daa em
WltS cousas, per vemtura nam lhe metera autoridade de jMtia e f08a
fctemda em poder; que com lagrimas muitas vezes na minha eamara tra-
balham elles por amamsar e nam nos Reprendr; porqtt8 potioos dias
ha que eu ry doo.s espriues da feitoria de cochim aver Rezes com Lon-
remo moreno, porque espreuera C&l1a8 a vosa alteza sam tliM e aem se-
rem disso sabedores.
Mandei tirar, senhor,. Datuilicam e nem acbey -.iriA . correia
. 13
'
178 CARTAS DE AFFONSO DE AI,BUQUERQUE
, neha cousa, amtes ho Repremdi domem froxo e per a ponco e por elle
aeusar a dom aires e a eristovam de brito que por que nam ficavam el-
. les cos cercados e leixasem ir as naos pera portugall.
Por isso apresemtaram laa seus seruios desa maneira: como
cavalleiro em vosso seruio, e creyo que lhe foy milhor que ir pera por-
tugall vivo, segundo suas cousas ll eram mail aviadas: sprita de cananor
a ij dias dezembro de i 5 t 3.
(Por lettra de .Albuquerque) feytura e servydor de vosallteza
. Afomso dalboquerque.
(Sobrescripto) A ElRey noso senhor
1

CARTA XXXVll
1G18-Dezembro s
Senhor.-Eu mamdo ll fernam caldeira meu page, que foy casado
em goa, mamdamdome vos alteza pydir nuno vaz, porque vy que este em
o que l culparam amte vos alteza, e a mym que lhe dera licema: l o
mamdo com. os autos de suas culpas, que j ll temdes, leuados per pero
d allpoem; e depois mamdey aimda antonio Raposo ha chaull, e emtre-
guey lho demtro no navio, que o leuase l e que tiraSe Imquiriam delle;
e trouxe me esa imquyriam que l mamdo a vos alteza: todas estas dili-
-gemcias fiz amtes que mo vos alteza sprevese, e pellos autos se ver; por-
que ssaiba vosa alteza que a meu proprio filho nam perdoaria a
se a merecese, por conseruar as cousas de minha obrigaam e dar
comta .de my: mas a diogo memdez devia vosalteza de dar o castigo,
porque lhe deu licema em tempo que elle estaua cerquado de moros c
tynha necesydade de jemte; e asy polia tomada da nao d ormuz que ello
mandou . tomar, e pela nao dei Rey de garopa que elle mamdou tomar,
semdo eu em malaca: sprita em cananor a ij dias de dezembro de t5l3
(Por lettra de .Albuquerque) feytura e servydor de vosa allteza
Afomso dalboquerque.
(Sobrescripto) A. el Rey noso senhor
1

Torre.do Tombo-C. Chron. P. t.a, M. ti, D. tt.
1
Torre elo Tombo._.C. Cbroa. P. t., M. 16, D. 8.
CARTAS DE AFFONSO DE AIJlUQUERQUE I 79
CARTAIIXVIll
1IS18-Dezembro 2
Senhor.-Outra carta no mesmo mao me espreneo vosa alteza so-
bre o feito de timoja: certo, senhor, muito folguo eu de volos homes
spreuerem de qu todallas cousas de vosso servio, mas conueria que de
tam lomje, pelo que toca voso servio, o fizeram verdadeiramemte, per
as cousas serem corregidas per vosa alteza com tempo: neste feito de ti-
moja eu tenho dado Rezam a vosa Alteza como passou, porque depois
das cousas de vosso Regimemto e mamdado, de que vos eu dou sempre
meda comta, volla dou tambem de todollos casos aquecidos e cousas da
I
Laa tenho sprito a vosa alteza pelas naos de dom graeia e d ontr
armada, que jumtamemte vieram imdia, como timoja estamdo comigo
em goa, armara demtro no Rio de goa sacretamemte tres atallayas gram-
des e sairam de fora sem no eu saber. E tomou hua nao d nrmuz com
meu seguro e tomou duas naos de chaul com meus seguros, e as _suas
atallayas as levarom a o no r: el Rei d onor lamou mao de lias; mamdei lhas
Requerer per muitas vezes; ntpnca mas quis emtregar; e os messajeiros
de ehaul vieram a goa fazer me queixume peramte timoja: mamdei em-
tam poer tymoja em garja, e tinha hrium. capitam com vimte homens garda
delle; veyo melRao, de que jaa ll sprito alteza a goa, pedimo
e me leixon hum esprito, ficam do por fiador que se tornaria toda a riler-
cadaria das o aos: foy sse o mel Rao das terras de goa quamdo o desba-
rataram os mrcos, os quaes elle tinha desbaratados, e como lhe mataram
hum capitam seu, tomaram .aver vitOri os mouros: foi se timoja com o
mel Rao pera bisnegar. E sua molher e seus filhos se vieram pera goa;
omde os tenho bem agasalhados e homrrados e bem. tratados: deixo ou-
tros Roubos e tiranias que elle fez nesas terras de goa emqnanito estiue-
ram vosa obidiemeia e vos pagaram os trabutos das terras, que elle Re
eebeo como e nam pagou nada naquele tempo; salvamte al-
guuns pies que trazia a soldo; e por ser caso novo fr de voso Regi-
memto, tenho dado larga cmld a:vosa como leohb por cstwne
ia

I
,
MQ tlU\.TA8i DB. AlFONSo- M ALJJIJQlJBB1lD
de o fazer; e ereyo que aimda que ho nam fizera, que diogo memdez e o
cerniehe e fernam correya e pero coresma e o frade pregador que ll foy,
teriam cuidado de vollo apt.e$em&al, pQr'P' era no tempo em que elles
homrraram bem o estado da imdia: sprita de cananor a ij dias de.zembro
de 1513.
(Por lettra de e de vosa allteza
Afomso d alhoquerque.
(SQbreacriJ*) A el Rey Di80t saahor
1
,
CARTAXXID

....
Senhor.-Nesta ida do mar rroxo fizemos muito poucas presal;
\M. naos, imd& hy estavam por descarregar de: Roupa. de cambaya
4iam\e, d.adem., &uharamnas esa jemte darmada, sem lhe eu poder
per avamjelhos nem imqniries nunca se descobre nemigalba: to-
llua nao com beirames e algua especiaria; n.unca pude valler
ql.le os mesmos quadrilheiros e os bats que ha yam descanegar, a
llam palite della.: vy tam gram: desordem que me foy for-
tirar os. quadrilheiros, e diSo que fioou nam quis dar parte jemt.e,
ise aos capites que mamda.sein, \omar a Roupa. daqu . nao,
qu.e; lhe D&Ql avia de dar par.tes: era. pouca. ooosa. o que leixaram
,, -.. assy em. poder de maDUel da costa, feitor das: presas: vede se
av.v.ts pQr vosso.seruiO dissoque.leixaramde tomar,.mamdarlhDAJa,, qJI&
emt poder est..: depois nos emtr.egaram hua. naQ achamos em
negaQa despecearia. ele ealecut; esta nam sey se. e presa e se
ae .. 4iMo dar par.te ll. vosa. alteza a.
Q98ias. e tamhem por apagar a mannura.am Q
d#Nn. deoa, Q qu4ll,; senhor, eu ll. mamd.ara, $aoam. fQia danallo
I; contra meu Re&illleinW e minha defaaa. fez bila. de
if . e da});u)l,_ tomou mQUGOS. e.
Wiaa \'ftJ imqpiri.am e.mamy tuilos utowwae
i ' '
i
I t I
'
"
'
CABTAS AVFONSO DE ALBTJQWBQ1JE 181
ea moaros.; e pela perda da nao e polo. iez, eu ho quisera ll mam-
da.- pera le tomardes mais, apertada comta, e depois oooe- doo dslle.
L senhor, a vosa alteza os quadr.ilheiros e sprivss da qua-
dDJlllluia, asy es de malaca, que de l presos pela imquiriam
que l llltMI!dey tirar em que os acharam culpados, como os de quaa das
presas. da imdia em meu tempo: como vos alteza for fra das sespeies
per elles, mamdai nos . pagar o nosso que nos devees: spriR. em cananor
a ij dias de dezembro de 1513.
(Por lettra de Albuquerque) feytura e servydor de vosa alteza
Afomso d alboquerque.
(Sobracripto) A el Rey noso senhor .
CARTA XL
3
Senhor.-Vosa alteza me spreveo ha carta gramde em eapitnlos
apartados per sy de cousas de voso aa qual Respomdo a cada
capitulo. .
Primeiramemte me diz vosa alteza. ter Recebido pelas naos de que
er.a capitam dom ayres da gama e cristovam de brito, cartas e Reeados,
asy damtonio Real como de louremo moreno e dos oficiaes de cananor,
eomo doutras pesoas, pelas qnaes cartas diz vosa alteza ser sabedor da
mynha yda a malaea e da gemte e armada que leuey, e o mais que no
GapituJo diz. .
Digo, senhor, que a yso sam elles obrigados, avisar vos. saammemte
das cousas da yndia e dar vos verdadeira comta de tudo o que nela pasa.
E segumdo as culpas que l tive diamte de vosa alteza, como vejo per
vosas cartas, eu creo que eles m ouverom por morto e a armada perdida,
porque asi ficava amtre elles asemtado aa mynha partida, diam&e d& barra
Qe. eodlym onde elles com elRey de cochim me vierom ver aa nao, e al-
p. pratica tivemos sobre meu camyaho e navegaam. E ayuda me pa.-.
receo. yato deles que digo, l em malaca, porque vy segui'OB seus daclo
Tom do Tombo-C. Cbron. P. I. , lla. 16 . ., D. . . J
'


1 8 ~ CARTAS DE AFFONSO DE AIJBUQUERQUE
aas naos de chormandel pera malaca, as quaes forom ter comygo, sem me
leuarem cartas deles nem Recados, nem me darem comta do que faziam,
em que me pareceo que me aviam por morto e perdido, ou que me nom
conheciam por seu soperior e governador das yndias. E tiro eu"daqui que
nom spreveriam elles a vosa alteza como eu deixava na yndia o cirne,
sam tom, nao nova de cochym, a ajuda grande, a ajuda pequena, o Ro-
sayro, a gara, estas em cochym; E em goa a lionarda, o Rey pequeno,
a Rumesa, a caravela samtesprito, ha nao nova de duzemtos tonees das
de goa, hum navio pequeno que dey em casamemto a certos homens de
bem que casey em goa, as duas galiotas de goa, e diogo fernamdes co
Rey gramde e co navio sam cristovam, e ha nao nova das de goa, e
j jc homens
1
na yndia nas fortelezas e na armada, e ysto em tempo que
me vosa alteza tinha mandado por meu Regimento, que apartando me da
yndia, deixase dous ou tres navios em guarda da costa: se vos esta comta,
senhor, nom derom de mym, perdoelhe deus.
Em outro capitulo da mesma carta diz vosa alteza a maneira de que
ham de ser chamados os capites a eomselho sobre o feito de goa, pom-
do lhe diamte as Razes de pr e comtra, sobre soster se ou nam, como
no mesmo capitulo se contm, e asy outras Razes que me vosa alteza diz
ter vos sprito per carta mynha sobre o feito de goa; e mays me diz vosa
alteza as calidades das pesoas que neste comselho emtrarm, fra os- ca-
pitaes, e com outras mays decraraes que no mesmo capitulo mandaes.
Digo, senhor, que asy se fez tudo, como vosa alteza mandou; liDaS
terse comselho pubrico na yndia em tal feito, nom me pareceo voso.ser-
nio, por ser eousa tam danosa e ympidosa ao aseseguo em que agora
est a yndia, como por estar diamte dos olhos dos homens que goa per
sy soo fez duas ousas muy grandes no feito da yndia, aseseguo e com
se"aam de voso estado.
A primeira foy desfazer esta liga e determinaam de nos botarem
fra da yndia cainbaya, os Rumes, goa e calecut, porque estamasa numca
se desfez, nem abrandou de seu preposito e tenam, senom depois de ve-
rem goa em voso poder, que era a primcipal cabeceira destes bandos,.pol-
los Rumes terem aly seu asemto e determynaam de serem aly Recolhi-
dos, e de se Reformarem aly, e ajuda do abayo; a outra he ser tal porto
e jazer em tal parajem que nom navegaria a yndia, nem naTegaria can
a Mil e tresentos homens.
'' t l !
' ' '
''

,


CARTAS DE AFFONSO DE AIABUQUERQUE 183
baa, nem nynhum lugar destas partes, se ella nom quysese; ela per sy
soo trouxe eambaya e calecut a se meter em vosas mos; agora
. os mouros da yndia que em tal feito se temtara conselho, nom hy cousa
na yndia asesegada que nom bulise comsyguo. E as que estam pera to-
marem asemto proveitoso nas cousas de voso seruio, creo que nom aguar-
dariam comcrusam, at nom ver o fim que avia o feito de goa, e que mo-
vimemto e conselho era este que avia amtre ns, porque esta dureza da
yndia nom querer uosos 'tratos nem uosas mercadorias, vendo se Rouba-
dos, acutilados cada dia e decepados, nom era outra cousa senom ve-
rem nos muy desapegados na yndia e que nom faziamos fundamemto da
terra, e que a armada que traziam os no mar, que se acabaria, e que nom
poderiamos sofrer tam gram trabalho e despeza como era a do mar, por-
que at gora nom vyrom eles asemto na yndia a que tivesem acatamento,
senom a goa, nem nos ouverom por vezynhos e moradores perpetuos na
yndia senom quando nos virom fazer fumdamento de goa. E aynda, se-
nhor, vos digo que maliquacaz de diu me spreveo, espantandose de ns
nom fazermos fumdamento da terra, nem ganharmos aJgas cabeceiras
primcipaaes pera segurana de noso feito. E tomou a comta a diogo py-
do que se ganhava no trato da yndia, parecendo lhe que pela grande
- despesa que via fazer, os ganhos nom seriam taaes que per Rezam nom
deixasemos a yndia cedo, afra ver que nom faziamos fundamento da terra,
como homens que espera vamos de a deixar cedo; e os aliceces de goa ti-
rarom estes errados pemsamentos dos coraes dos mouros da yndia, Reis
e senhores dela; e nom crea vos a alteza que aproveitou pouco este nego-
cio vernos aperfiar tam Ryjo na guarda e defenso dela, que como
deu gram credito na yndia nas cousas de voso seruio, asy nos vieram j
agora a tomar pello Rabo, se a nom asenhorearamos e nom fizeramos for-
tes nela, porque ouveram logo de tomar a arrar as portas de seus tra-
tos e mercadorias, como d amtes faziam, e escurecer a Riqueza yndia.

Nom tenhaes, senhor, duvida nysto que vos sprevo, porque duas ve
zes se desatou o asem to de cambaya; nom por al senon por asaearem al-
guns purtugueses que vynha outro governador, logo as cousas se Reteve-
rom atrs, at verem o comselho e novidade que o outro que vosa alteza
mandava trazia, porque as cousas da yndia aynda estam muyto temrras,
e qualquer movimento destes faz grande empresam no negocio, e c ha
algas pesoas na yndia que sabem que danam estas cousas, e sabem as
asacar e seinear em seu tempo ; e crede me, senhor, que vos falo verdade.:
18' CARTAS DE AFF()NSO DE ALBUQUERQUE
portanto, senhor, conselho pubrico em tal feito guarde nos deus dele, mo
ta! tempo que as cousas .de calecut e de cambaya estam pera dar hum noo
proveitoso; se a noso senhor aprouver que s acabem, comtra a vontade
dos compitidores e emvejosos do voso govemador das yndias que eaa
anda, tende, senhor, por certo que he acabado() mayor feito que eu numca
euydey, mays homrrado e mays proveitoso e que mays vos compria nes-
tas partes pera todo o bem e aseseguo da yndia, e daquy nace o escusar
das despesas e obrigaam delas.
Mas neste negocio que quers saber, leuey este eamynbo: pus por
ytem os eapitulos de vosa alteza sobre este caso, e dey juramento aos ca-
pitaes qne tivesem segredo, e disesem a vosa alteza cada hum per sy seu
parecer asynado per soa ~ o e eos eapitulos asynados por mym cosidos
oom seu parecer, e gaspar pyreyra lhe tomava juramemto que tivesem se-
gredo nyso; desta maneira poder vosa alteza ser mylhor emformado do
pareeer de cada bnm. E se .os chamara a conselho e lhes posera diam\e
algas eousas qne estam mays nvas diamte dos meus olhos por bem de
mynha grande obrigaam, podera ser que a alguns lhe parecera bem, e
os movera de se11: preposito; e pelos ymeonvenyemtes que dito tenho e
por este Respeito nom me pareceo voso servio ter conselho pubrico.
E asy me diz vosa alteza que nom oulhe neste caso ao que tenho
trabalhado em ganhar goa: nom me prezo eu, senhor, tamto dese_ feito
que me cegue o boom juizo e sao nas cousas de voso seruio, nem sam
omem Tao, porque seria eayr na cova que fiz: lembrese vosa alteza do
que vos dise na camara de lixboa jumto oo a baranda, estando hy a se-
nhora Raynha e a senhora yfamte vosa filha junto da vosa cadeyra, que '
a yndia era a mays perigosa cousa do mumdo pera homens vaos e cheos
de vemto, porque nom fundiriam nymygalha, e dariam com tudo a tres;
poys, senhor, como credes vs que me eu avia dyr meter neste emgano
e vaydade senom per quatro conselhos de eapitaes, amtes de lhe poer as
mos, asynados per elles, que Ioureno de payva leu ou 'l e provera a noso
senhor que por meu soo. conselho a tivera eu no pomto em que ela agora
est, porque tam grande cousa e tam honrrada, de tam pouco gasto e des-
pesa e de tam pouca obrigao, como tomar asemto, e que asy tem em-
freada a yndia e a soberba dos monros dela, eu me gabara bem dtme feito
a vosa alteza, e vola mandar muytas vezes pymtada. Mas pera mynha vay-
dade aaz tenho de qne me louvar, e pera mynha grande satisfaam aa&
que . alegar, porque, senhor, em malaca hum palmo de merecimemte te-

CARTAS DE AFFONSO DE ALBUQUERQUE !85
nho, em cochym outro palmo, em cananor outro palmo, quando trouxe o
voso presente que me outorgarom a pomta e gomalo gil comeou logo
abrir os aliceces, e em goa tenho outro palmo, em onnuz outro palmo.
E aynda que na estampa de metal do visoRey, que est pegada em htla
torre, en1 que se chama o pryrneyro fundador da forteleza de cochim, me
queira tomar o meu, nom chegou aynda a vaydade a mym pera a daly
mandar tirar; mayores cousas de voso seruio me log1ar o estamago, 8e
me nelas quyserdes meter, que a governarna da yndia nem a tomada de
goa. E meu parecer sobre o feito de goa l yr a vosa alteza cos outros,
verdadeiro e so segundo deos e mynha comciencia.
Per outro capitulo da mesma carta diz vosa alteza ser emformado
que no provimento das capitanyas das naos e na vi os e asy o fi cios nom
guardo ymteyramente o que me tendes emcomen1dado e mandado. Certo,
senhor, bem poderey arar nese caso, porque vosa alteza das por merc
aos homens, e eu provejo caa alguns pella necesydade que deles tenho;
porm os que trazem cartas ou vosos mandados, sam logo providos e com-
pridos vosos mandados, porque quamdo os taaes nos cargos de que lhes
fazs merc fazem algum erro, nom sam eu culpado, e sam muyto obri-
gado emcarregar c taaes pesoas delles que me tyrem as barbas de ver-
gonha, porque mais me fundo eu nysto que digo, que em fazer meus crya-
dos grandes e Ricos.
Neste prouymento d oficios e capitanyas vosa alteza nom est bem
emfonnado, porque os vosos cryados andam caa tam mymosos de mym
e iem tam certo o galardam e ylos chamar aas pousadas, que nom quer
nynhmn deles tomar spreuanynba de nao nem navio, nem meyrynhadego,
nem almoxarifado; todos pedem feitorias, sprevanynbas destes oficios, al-
eaydarias, capitanyas de naos e navios, e hy nom ha pera todos destes
que elles pedem; e dos outros que elles c enjeitam, sey eu certo que an-
dam elles em Requyrymemto primeiro que os elles ajam de vosa alteza
hum anno: o almoxarife do almazem de cochym que de l veo, como c
chegou, no1n quys o oficio; garcia coelho como c chegou, nom quys mays
seruir a sprevariynha da nao, e asy outros desta calidade que vosa alteza
l provee, como c sam, muytos deles os alargam; porm, senhor, eu vos
beijara as mos tocardes me particularmente alguum, porque por aly me

emendara e Resistira. E posto que seja hum pouco comprida a Reposta
deste capitulo, darey eu Rezam d algas cousas que pella vemtura nom
pareceriam bem diante de vosa alteza acerqua destes provymentos.
ii


186 ~ U l T A S DE AFFONSO DE ALBUQUERQUE
Saiba certo vosa alteza que ataa vynda de dom garcia meu sobry-
nho, e a armada em que veo jorje de melo e jorje da sylueira, aynda es-
teve bem necesytada de bos homens, en1 tal maneira que servy eu al-
gas pesoas pela necesydade que tynha, bos homens e homens de feito ;
e digo, senhor, que aa mynha yda a malaca Ruy de brito emjeitou hum
navio e joham Iopes d alvym outro; nom avia por entam outros homens
de que se deuese comfJ.ar mando de gemte, porque todollos outros esta-
vam providos; cada hum destes me pedia ha capitanya de ha for-
taleza, e emtam por mymgoa de bos homens emcarreguey dynys fernan-
dez do mestrado e capitanya da nao abaya, que a leuase asy at malaca;
nuno vaaz, cryado do duque de coymbra, dey lhe ha nao de samguycar
sem castellos e sem cuberta, que a viese correger a cochym; gastou nela
do seu proprio dinheiro cem cruzados, afra o que se gastou de vosa fa-
zemda, e quando a trouve pera goa onde eu estava, amtes que partise
pera malaca, tomou sobre taanor ha nao carregada de pymenta dos de
cochym, por bonde elle nom estava muito bem com amtonio Real nem
com eses oficiaees, e creo que o acusariam l: o ouvidor pero d alpoem,
cryado de vosa alteza, ouve outra nao das de goa, porque nom tinha
nynhum hordenado com seu oficio, e tinha leuado muy grande trabalho:
james teixeira, cryado do duque de coymbra, leuava cargo do navio dos
mercadores, at ouvir de sua justia baltesar da sylua. Esta he a desor-
dem que c he feita por mymgoa de hy nom aver homens cryados de vosa
alteza e pola mynha determynaam d ir a malaca, tendo pouca gemte; o
fruyto que delles Recebestes, vosa alteza o saber laa, e nuno vaaz e je-
mes teixeira e dynys fernandez, se souberom elles apertar sua gemte e
emtrar as tramqueyras e fora de malaca; e ese dynys femandez, asy ne-
gro como o vosa alteza vee, em todollos homrrados feitos da yndia andou
tam branco como hum papel, e a mym me nom pesaria nada de o trazer
junto comigo com cem pies em tempo de ha afromta: o ouvidor pero
dalpoem he tal homem, que antre dous ou tres homens homrados e fidal-
gos que vynbam nesa nao, que leuou per fora e comtra suas vomtades,
veemdome perder, arribou sobre mym, e se cada hum daqueles fora ca-
pitam, perdera me eu e cemto e }ta purtugueses que vynham comygo.
Estes que aquy apomtey a vosa alteza, outo meses lograrom suas
capitanias, e as merecerom mny bem em goa e em malaea, porque os ho-
a Cento e eineoenta portuguezea.

CARTAS DE AFFONSO DE ALBUQUERQUE 187
mens em que ha esforo, sam muyto de estimar em tempo de tamta ne-
cesydade, por bonde aas vezes p.sa homem por hum moo fidalgo, aynda
que seja crasto ou atayde; e a mym nom me parec.eo mal o comde de
borba no feito do alcaide tomar os bos cavallos e dallos aos bos ho-
mens que tynha j c esperimentados, e acabou por isso hum gram feito:
acabado o feito de malaca e mynha necesidade, dey a nao de dynys fer-
nandez e de nuno vaaz e de jemes teixeira a outras pesoas criados de
vosa alteza, e cada hum destes avia oito annos que vos c seruia, e creo
que deles leuam muy pouco cabedal; e estes o fi cios e capitanyas dados
na yndia a cryados vosos, a quem comete vosa alteza a examinaam de-
sas pessoas, a mym ou a quem vos spreve? se ese cargo tem quem vos
espreve, faa o, d as elle, eu as comfirmarey; se a vosa alteza l nom
comtemta, tudo est aberto, emenday o como virdes que he voso seruio.
Item. Se o dizem pollos cargos de goa, esas cousas estam todas em
aberto, aguardando por vosa determynaam: a capitanya, alcaydaria e
.. sprevanynhas da feitoria, sam dadas a vosos cryados, e a feitoria a fram-
cisco corvynel; os outros oficios ten os alguns omens de bem que casarom
em goa, com muy pouco ordenado, at que os vosa ai teta proveja; algas
cousas deixo eu d esprever a vosa alteza nesta carta sobre os e s c ~ n d a
los do dar dos cargos e capitanyas. que a jemte c Recebe, e falo hey
por tnynha letra, porque ser voso seruio saberdel o, porque todallas
cousas da yndia sam dadas por voso mandado, e aynda as avagamtes de-
las, e estas cousas nom tocam a mym de dous em dous anos ha vez
que dou com a graa do gram mestre.
Diz vossa alteza no mesmo capitulo, que nom .soomente se syguyria
. nom comprir vosos mandados, que he cousa que tamto deuo fazer e em
que primcipalmente nom deu o crear, mas escusar se ham muytos escam-
dalos aos homens: a ysto, senhor, nom sey que Respomda, soomente com-
prir vosos mandados ao p da letra, sem me apegar ao que nese caso me
tendes sprito sobre os provimentos que de l daaes, dos quaes aluaraes
e provymentos se ha vosa alteza mais cedo darrepender de os dar a al-
gtlas pesoas a que os daaes, que eu de os nom comprir, porque c nesta
terra nom se faz cousa senom justamente o que vosa alteza de l hordena
e manda; na ele iam das pessoas poso algum ora errar; porque sam cou-
sas somente Reservadas a vosa alteza, emende as como viir que he seu

seruto. .
Per outro capitulo da mesma carta me d vosa alteza culpa sobre
ii


l88 CARTAS DE AFFONSO DE ALBUQUERQUE
a guarda de calecut, dizemdo que vosa alteza he emformado que se nom
fez asy como mo tynhes mandado, e que neste tempo pasarom muytas
naos carregadas despeciaria ajud e ao cayro. E posto, senhor, que j
sejamos fra desas culpas, e o amorym morto, e o Rey que agora Reyna
estar a voso seruyo e a vosa obidiemcia, e dar fortaleza em sua terra,
pagar a vosa fazenda, dar de trebuto ameatade da Renda dos seguros,
todavia nom me quero eu esquecer de dar Rezam de mym a vosa alteza,
como o fao per outra carta mynha que l vers. E a este capitulo nom
tenho mays que dizer, soomente que estas pesoas q1:1e asy emformarom
vosa alteza mal de mym, e estas culpas que me dam, sam culpas d ornem
morto, como me elles tynham festejado: a comcrusam destes. homens he
qoe mands outro governador aa yndia que emtre em suas companhias e
eni seus partidos e em seus tratos com elles, e que os deixe viver em sua
desordem. E parece, senhor, que pollo que vos elles tinham sprito de
mym, esperavam elles este ano por outro, o qual, sendo eu no mar Roxo,
tinham elles festejado e alevamtado e canonyzado na yndia, e quando che-
guey a diu, esta h e a prymeira nova que me derom da yndia: nom te-
nho, senhor, mais que dizer a estas cousas, senom que se vier, que des-
camsaremos ambos, elle e eu; e se eu nom ouvese medo de vosa alteza,
ha .duzia destes danadores de todo bem vos mandaria metidos em ha
I
gayola, porque o te1n muy bem merecido a deos e a vosa alteza.
Per outro capitulo da mesma carta me diz vosa alteza serem c to-
madas algas naos d urmuz e cambaya, em espicial htla que veo ter a
cochym, que vosa alteza diz que mandey que se tomase, por outras duas
~ q u e os durmuz tomarom, e o mais que no mesmo Capitulo diz.
Digo, senhor, que a nao d unnuz que se tomou em cochym, eu nom
a vy, mas vy os mercadores dela que me forom ver a goa; a nao nem os
mercadores nom eram d urmuz, mas vynham d urmuz cotn mercaderia, e
eram mercadores do cayro; traziam hum seguro do ano pasado de ha
nao que foy de batecala pera ormuz; e per estas Razes que dito tenho,
n1amdey e ouve a nao por bem tomada, soltey os mercadores que fosem
buscar outra, pera lha tornar a tomar por aqueJle erro: os feitores da vosa
feitoria pedian1 partes, e ela nom foy tomada, mas veyo quasy aa costa
sobre la barra de cochym; vy me tam apresado delles sobre as partes, e
por me nom parecer justia, lhes dey por escusa que ella nom era presa
nem tomadia, senom Represaria polas naos de vosa alteza que coja atur
tomou em ormuz: quamto ao que vosa alteza me em comenda que oulhe
..
,
CARTAS DE AFFONSO DE ALBUQUERQUE 189
como nas cousas semelhamtes se faa justia s partes, quem se destes
feitos taes agravar de mym, ba fazenda mynha tem l vosa alteza, mande
lhe pagar mynha custa; nem vejo nynguem agravar se disto que me vosa
alteza spreve, nem tampouco m an de parecer tam as perlas alhas,
que tomadas por fora a seus donos e sem justia, vos faa ese seruio
em vol as mandar; muyto dinheiro tem vosa alteza pera voU as mandar
comprar na yndia, quando com ellas folgardes.
Item: quant9 he ao que n1e vosa alteza diz, que nestas cousas m alem-
braes a guarda da verdade, com verdade e com justia se governa a yndia em
voso nome em meu tempo; e quern guarda as certides e verdade dei Rey
d urmuz e as certides e verdade dei Rey de cambaya e as certides e ver-
dade de meliquacaz de diu, nom quebrar a sua, dada em voso nome e
com voso poder e avtoridade; e aynda que este mal por nosos pecados
ande muyto corruto amtre ns, que he falar pouca verdade, todavia, se-
nhor, de mym comfiay que nas vosas cousas e de voso seruio he 'guar-
dada toda yerdade e todo fauor e justia aos que nestas partes sam vo
sos seruidores; e quanto ao que vosa alteza diz, que aynda que os mou-
ros e as gemtes de caa as guardem mal, que sempre por ela bradam, e
folgam muyto de lhe ser guardada, e que guardar se lhe ha vosa alteza
por. hum dos pryncipaes da cornservaam do bem da yndia, certo est
que as jemtes destas partes pouca verdade falam comnosco, mas nom be
bem que os traten1os ns por esta mydida, porque, como vosa alteza diz,
a verdade ser a primcipal parte da conservaam da yndia, e creo aynda,
senhor, que de toda outra terra do mundo.
- Per outro Capitulo me diz vosa alteza acerqua das naos da carga,
vos parecer que se nom devem acupar em outra cousa alga, e que o fei-
tor deuo leixar com ellas, e que asy vos parece que nom deno ymvernar
etn cochym, pera mais despejadamente se fazer a das naos:
a ysto, senhor, Respomdo que as naos da carga c nom se ocupam em
outra cousa, senom quando ahy nom ha cabedal pera todas ; e quamto he
a deixai o feitor com a carga, com verdade poso eu jurar a vosa alteza,
que depois que eu sam governador da ymdia, que numca vy carregar nao
nynha, nem estive aa carga delas, saluante agora que me mandou cha-
mar o feitor sobre a prata que vosa alteza mamdou sem ouro. E quamto
he, senhor, ao non1 invernar em cochym, e ter vos sprito que ese era meu
proposito, asy o fiz sempre doyto anos pera caa: nom ymvem em oo-
chym senom duas vezes, ha quando mos vosos poderes, vosas menajes


-



t 90 CARTAS DE AFFONSO DE ALBUQUERQUE
e fortelezas, vosos capites e alcaides moores e vosas torres da menajem
me premderom, e me rnetorom em ha nao em poder dos ho1nens de pee
do viso Rey, que andarom comygo tamto por ese mar, at. que se emfa-
darom e depoys me forom meter em hiia torre, e isto nom mo fez o viso
Rey, mas as pesoas que dito tenho, e voso poder que me c mandou; ou-
tra vez emverney em cochym quando ''YlD de rnalaca, que me lanarom
em terra com hum pao na mo e em camysa; todollos outros ymvernos e
veros bem saber vosa alteza h onde a vosa armada tynha as amcoras;
nom se escuse nymguem comygo acerqua da carga, porque nynhtia com-
trariadade nem ynpidimento Recebem esas cousas de mym, amtes digo a
vosa alteza que o meu fauor e ajuda de fra a doura, e vos vam algas
especiarias que vos l nom soyam d yr.
Item: diz vosa alteza em out.ro capitulo ser avisado de caa que, pera
a ver efeito o Regymemto das quyntaladas que tendes mandado que se le-
vamtasem, devies mandar que leixasem yr de c os homens das quymta-
ladas que c antlan1 .. e os que quysesem ficasem sem elJas: <l_,igo, senhor,
que j vos l tenho sprito que nom hy quyrntaladas na ymdia: se me
vosa alteza nom cree, crea os livros da feitoria; e se vos os vosos oficiaes
o comtrayro sprevem, nom he ai senom que querem outro governador, e
mais sabem que lhe nom ha vosa alteza de leuar cen1 cruzados de pena
por cada carta que lhe achardes cha de emganos. E quamto he ao que
vosa alteza diz dos homens que andam, que pasados os tres anos os
leyxe yr, digo, senhor, que hy ha poucos homens na yndia que se quey-
ram yr, a que eu nom dee licerna; pela vemtura parecer a vosa alteza
que os homens andam c costramgidamente, polas cartas que sprevem a
seus pays e a suas mys e a suas molheres e a seus filhos, que os cha-
mam de l por muytas vezes, e elles nom querem yr, e fazem se forados,
e com esta Reposta se varo l a vosa alteza a fazer estas excramaes, e
ham cartas pera se yrem ;. e como lhe chega a carta, vem se a mym com
ella, fazendo me oferecimemtos que pello meu querem ficar na yndia, que
alteza me sprevia que o leiyase yr: nom y outra meezinha pera se os
homens nam yrem da yndia, senorn dar lhe escala franca que se \'am. E te-
nho ysto esperynletntado; e alguuns que de c van1 escondidos, norn vam se-
nom por algas tra.vcsuras, e por terem seu soldo perdido e por suas culpas.
Item: per outro capitulo diz vosa alteza que os doemtes e mal des-
postos que os leixe e os mande yr; asy os mando, e os vosos capitaes
os nom querem leuar, e leuam outros por peitas .

CARTAS DE AFFONSO DE ALBUQUERQUE ' l9l
Item: per outro capitulo diz vosa alteza que cesem os casamemtos,
asy os de goa como os de cochym e cananor: per este capitulo e per ou-
tra carta digo, senhor, que ha hum ano que ese feito est de cala, porque
hy _nom avia dinheiro; alguuns fizerom vosos oficiaes neste tempo, nom
sendo eu na yndia, porque querem tambem governar e mandar; agora
que vosa alteza mamda que cese este feito, far se ha.
Item: per outro capitulo me diz vosa alteza serdes certeficado que
saem de goa d armada per esa costa os que nela estam com autoridade e
previlegio que pera yso lhe dey : nom y, senhor, tal cousa como essa
no mundo, nem hy tal previlegio nem vollo amostrar nynguem, por-
que iso nom seria previlegio, senom abomynaam e maldade: l vos
leuou a licema que dey a quatro casados de goa, a que dey hum navio
de goa de xxx ou R. ta tons
1
em pago de seus casamentos, que anda-
sem em guarda ~ d a costa; e se algtias presas tom asem dos ymygos sem
seguro, as viesem alialdar ao capitam d e ~ g o a , se as avia por bem toma-
das ou nom. E pus lhe sprivo per vosa alteza. Diogo mendez, estando
cercado, semdo eu fra, deu lugar a ese escandalo que se fez: a liberdade
que elles tem de vosa alteza, he que posam tratar e vam per toda a costa
tam seguros como de lixboa a samtarem; a liberdade que tem de mym,
he que nom apousentem com elles, nem possam ser presos por casos ci-
ues senom sobre suas menajeens, e que posam emleger juiz e almotacel,
e todallas liberdades que a ponte de sor tem, e mays nam: as fustas da
armada que cada ano manda o capitam de goa, he pera nom deixar ar-
mar onor e bacanor, que tomam as naos d urmuz e as de chaul e as de
cochym, quando podem, e dam opresam e fadiga. E eu vy que mandava
vosa alteza que viesem em guarda das naos de cochym at chaul, e as
tornasem leuar: se mandaes que se alargue este feito, alargar se ha, e se
mandaes que lhe ponha as mos, merecido tem elles hum muy boom cas-
tigo, porque tem tomadas muytas naos com vosos seguros, muyto Ricas
e com muyto grandes presas, e nom ha c, senhor, na yndia homem que
vos isto spreva; todo seu feito he culpar me a mym; e aa feitura desta es-
tam hua galyota e duas Custas sobre la barra d onor, que hy mandou lan-
ar pero mazcarenhas per meu mandado, e que nom deixasem emtrar
nem sair nynha cousa no porto, at que me nom emtregasem as duas
galiotas que ten, e mays que jure el Rey que nunca mais arme nem dee
a Quarenta toneis.
'



'
t 9 ~ CARTAS DE AFFONSO DE ALBUQUERQlJE
licena pera armar: mandou me el Rey prometer que me emtregaria as
fustas e que nunca mais tornaria armar, e nysto estamos agora: esta he
. a armada que sae de goa cada ano. E se nom quyserdes que saya de
goa, sayr de cochym ou d ~ cananor, donde vosa alteza quyser.
Sobre os acreeemtamemtos de soldos diz vosa alteza ter me sprito
por vezes, asy do tempo pasado do viso Rey, como do meu tempo, e que
por mynhas cartas tem vosa alteza visto que fiz eu nyso o que me man
dou, que era alevantai' to iollos acrecemtamemtos que eram postos pelo
viso Rey. E aynda alguuns que por voso Regimemto estavam, aproveitava
em alga maneira, por me parecer que se podem escusar. E agora diz vosa
alteza ser emformado que o nom fiz eu asy. Digo, senhor, que asy est
asemtado nos liuros da vosa feitoria por capitulo do voso Regymemto asy-
nado per mym, e por aquela determynaam de vosa alteza se faz comta
cos hon1ens, e aly-lhe fazem comprymemto de seu pagamemto, ou lhe dam
arrecadaam pera a casa das yndias: se vosa alteza l vee o comtrairo,
manday tomar a comta a vosos oficiaaes porque o fazem, e manday leuar
o Registo do voso liuro, e achars o capitulo de voso Regimemto aly Re-
gistado e asynado por mym, em que diz que os escudeiros averam dons
cruzados e os piaes be rs. ', e os degradados nom averam soldo; e nem
huns nem outros nom averam quymtal.adas. Se p e l ~ vemtura vosa alteza
chama acrecemtamemto de soldo vyr de l hum homem d armas de
bc rs ', e ser muy boom pedreiro, ferreiro ou carpimteiro, Er eu ter necesy-
dade dele e mandai o seruyr de seu oficio, nom he Rezam que lhe dem
o hordenado de vosa alteza: podem estes desta calydade ser na yndia at
xx pesoas. E qoamto be, senhor,a ter vos sprito que aproveitava em alga
maneira aqueles que per voso Regymemto estavam, eu vos faley muyto
grande verdade, porque os sprivaes de malaca trymta myl tem cada hum
at que provejaes yso vosa vomtade; os sprivaes da feitoria de goa
trymta myl rs. tem cada hum, e quando estavam cercados quorenta myl,
pola careza dos mamtymemtos; o alcayde mo r tem agora oytemta myl,
sem quyntaladas, at que vosa alteza proveja como vos parecer bem; o
alcaide de benestary tem xbj ' sobre seu soldo de dous cruzados, com a
alcaidaria da torre, at que a vosa alteza dee a quem lhe bem parecer;
o alcayde da torre de pamgy tem cinquo ou seis myl rs. sobre sua mo-
Qninhentoa ris.
1
Dueseis mil .
CARTAS DE AFFONSO DE ALBUQUERQUE 193
radia, que sam per todos xxb r is t, sem quymtaladas, nem o de benes-
tarym nom tem quyntaladas; manueL de sampayo tem a alcaydaria de
pamgy e he casado; nuno freyre tem a alcaidaria de benestary e he ca-
sado; as sprevanynhas da feitoria, htla tem vicemte da cosla, filho do ti-
sico moor de vosa alteza; christovam de figueyredo, cryado que foy do
marychal e ora he vos o, tern a outra, e sam ambos casados em goa; spre-
vanynhas de navios, pilotos, mestres postos por mym, todos tem menos
soldo que aquelles que vem hordenados per vosa alteza; proveadores dos
spritaaes .postos por mym xbiij almoxarifes postos per myrn menos
tem do que lhe vosa alteza hordenou; pro veado r dos defuntos da armada
nom tem mais que seu soldo e seus percalcos de quaremta por mylheiro,
porque o hordenado per vosa alteza nom o quys yr seruyr. Duarte de lemos
trazia Uf rs. e iijc quyntaes
3
com quat1o navios; e manuel de lace1da com
xbiij ', com que ficou na yndia, cl rs. e lx quymtaes
5
a quarto e vyntena;
fernan1 perez capitam moor de xij navios em malaca, cl rs. e quoremta
quyntaes a quarto e vyntena: a comcrusam, senhor, he que todo oficio
que eu provejo, at o vosa alteza dar a quem lhe bem parecer, sempre
lho dou com mU)
1
to menos do que lho vosa alteza daa. E a quem a vosa
alteza spreveu o comtrayro, perdoe lhe deus; l yrm os liuros dos feito-
res que em meu tempo for,m, e neles achar vosa alteza o que dito tenho.
Per outro capitulo da mesma carta diz \'OSa alt.eza ter avido Recado
como el Rey de cambaya me mamdara seu embaixador, o qual machara
em goa, e me mandara proferias e oferecimemtos pera as cousas de voso
seruyo, e procurava vosa paz e amyzade com toda eficacia: tudo isto, se-
nhor, he asy, e eu vollo tenho j l sprito. E eu mandey l com certos
apomtamentos e avisos, que jaa d :amtes tinha de vosa alteza per cartas,
trystam degaa; e quando agora vym do mar Roxo, achey tristam degaa
e o embaixador dei Rey de can1baya com cartas pcra mym e Repost.a dos
apomtamemtos, dizemdo que nos daria fortaleza em dyu, e se quysese-
mos a ylha que dizyamos, que a mandasemos ver, que era
por cobras e bychas que hy avia, e pellas grandes corremtes e nom teer
porto pera naos : mayn1 nos davam, e tristan1 degaa Respomdeo qu era
1
Vinte e cinco mil ris.
2
Dezoito mil ris.
3
Tresentos mil ris e tresentos quintaes.
Dezoito.
r. Cento e cineoenta mil ris e sessenta quin&aes .





t 9i CARTAS DE AFFONSO DE ALBUQUERQUE
lomge da cidade de cambaya, e que faryam grande custo as mercaderias:
quamto he aa obrigaam da soma do cobre, a yso Respomdeo que elle
nom era mercador, que os mercadores emtemderiam nyso: malecupy dise
que at Xx quy1ntaes
1
compraria cambaya cada ano, e meliquiaz de dio
dez myl; as mercaderias de vosa alteza nom paga1m direitos, e as que se
comprarem de sua terra pagatm; a justia de vosas gemtes ser de voso
capitam, e das suas do seu: em pareas lhe nom mandey falar; de nom
acolher os ymygos, dise que os nom acolheria em sua terra, porm se
viesem tomar agua r. Refresco a seus portos, que eram. mouros, que lho
nom podia tolher: ysto est asy asemtado ; o seu embaixador he comigo
etn cochym pera leuar a nao meril, que elles tomam por preo de sua
homra; com elle yr diogo femamdez e se ter a bordem e maneira que
vosa alteza de l sprever, porque em lugares tam gramdes e de tamta
gemte, quando dam fortaleza por sua vomtade, dous homens abastam
pera meter a obra a camynho, e asy se faz a de calecuL: per outra carta
dou mays largamente comta a vosa alteza deste feito e de melyquaeaz.
Diz vosa alteza acerqua de meliqueaz de dyu, como vos diogo fer-
namdez spreveo do acolhymemto e homrra e gasalhado que o dito meli ..
queaz lhe fizera. E depois de diogo femamdez me ter emformado deste
feito, eu lhe fiz gramdes profertas e oferecimemtos pera as cousas de sua
homrra e segurama dela; asy lhe sprevy como vosa alteza por carta my-
nha era emformado dos d e s e j o ~ que eU e tinha de vos seruyr, e que vosa
alteza folgara muyto com yso, e Recebera sua ba vontade e desejos de
vos seruyr, e que sempre acharia em vosa alteza homrra e merc e favor
e ajuda pera estar seguro de sua homrra, e outras palavras e oferecimem-
tos de mynha pesoa, que lhe asy mamdey; e ysto lhe emviey dizer secre-
tamente, asy por el Rey de catnbaya nom ter coceguas de o ver tam me-
tido comnosco, como pela competiam dele com n1elycupy nom trazer
dano a noso comcerto, se diso tivese coceguas: agor;t quamdo vym do
streito, que vym por diu, meliquaeaz fez cousas domrrado homem e de
gram prymor, asy na comfiana que teue em se achegar a mym e vyr fa-
lar comygo a bordo da mynha nao, como em dadivas a mym e a eses ca-
pites, mamtymemtos pera a armada, corregymento de bats e navios; e
toda lyndeza e cortesya nos fez, e amostrou a eses eapitaes que em terra
forom, toda sua artelharia e a mym toda sua fustalha; todo seu com certo
t Vinte mil quintaes.
-
CARTAS DE AFFONSO DE ALBUQUERQUE 195
e todalas suas cousas me parecerom bem d ornem manyfico; tamta arte-
lharia como elle tem, nom cuydo que aver em nynhum lugar de chris-
tos, e toda boa; dyu parece me fraca cousa, grande cerqua e povoaam
pequena pera o que eu cuydava.
Per outro capitulo m avisa vosa alteza das penas que leuam os mey-
rynhos, asy em cananor como em cochym; eu tudo deixey n1uy bem hor-
denado e asemtado quamdo m apartey das fortalezas e me puz eo a ar-
mada em mar: aver xiiij meses, que sam fora de cochym e cananor,
agora verey se hy algum mao Recado feyto, e emendarseha como vosa
alteza manda; agora mandarey apregoar, que todos aqueles a que tem
leuadas desordenadas penas, venham a mym, seram castigados aquelles
que vosa determynaam e mandado pasarom e consemt.yrom pasar.
Per outro capitulo diz vosa alteza ter sabido mynha yda a
aquy nom cabe outra Reposta senom ser vosa alteza l naos do
ano pasado avisado do caso de malaca, e agora por estes capites do que
l pasou depoys da mynha partida.
Per outro capitulo me fala vosa alteza acerqua dormuz e da segu-
rana delle; e do que sobre ese caso me tendes sprito, at agora, senhor,
nom he nada feito, porque tenho eu cartas vosas, que prymeyro que em
nynha outra cousa entenda no feito d adem, e asy o fao, porque nom
lena vosa alteza errado conselho em segurar adem e o mar Roxo, e em
buscar a amizade, eon1panhia e trato do preste jobam, porque sam gran
des alieeces pera todo o bem de voso estado e de voso proveito: e prou ...
, Yese a noso senhor que por vosa soo determynaam e comselho, sem ver-
des nynhila carta de caa senom a do voso governador, se fizesem as eou ...
sas de voso seruio, porque elas mays avante hum pouco do que ellas es-
tam: o que sobre este feito d adem e do mar Roxo tenho feito, per carta
gande vay a vosa alteza: todallas outras Razes que vosa alteza d acer-
qua do feito d adem e do mar Roxo serem cousas muy primcipaes, e que
muyto tocam a voso seruio, e donde se pode Recrecer mny grande pro-
veito e muyto seruio a deos, tudo me parece asy, porque o tenho eu
visto pollos meus olhos; e asy o que- agora per derradeiro mandaes que
faa per estes capitulos desta carta, os quaes todos falam no feito d adem,
tudo se asy compryr ymteyramemte, at que vosa alteza seja emformado
do que sobre yso he pasado; . e polo que nyso tenho feito, hey por Res-
pondido a estes seys eapitollos desta car&a.
Item: diz vosa alteza que feito isto d adem, posa em tender nas ou-
i6

t96 CARTAS DE AFFONSO DE ALBUQUERQUE
tras quatro c.abeas que ficam; asy se far como vosa alteza tem metido
em bordem, e o tempo e as cousas, como socederem, asy vos amostra.rm
o conselho que nyso devaes tomar, e o que nos ouverdes de mandar que
faamos: em quanto he da mynha yda a ormuz, da tornada do estreito,
eu o quysera fazer, e as naos que trazia de carga mo estrovarom e a obri-
gaam dos provyrnemtos de malaca, de que eu at emtam nom tynha nova.,
porque o dia que party de goa camynho do streyto chegarom fernam pe-
rez e amtonio dabreu a cananor, e nom Jeuey nynha nova comygo, e
tambe.m me desuyou deste camynho e asem to de cambaya e calecut que tra-
zia amtre as n1os; mas acerca d ormuz e de babarem tudo se far com ajuda
de noso senhor a seu tempo, porque as cousas grandes gastam sempre
muyto tempo, e mays nestas part.es em que ha certo tempo de navegaam.
Per outro capitulo me diz vosa alteza que feito isto d adem, que
mandase a l g ~ a parte da vosa armada emtrar ao mar Roxo: peo vos, se-
nhor, por merc que nom dysemuls este feito da armada do soldam, por-
que estam as vosas cousas na yndia em gram fauor e credito, e toda a
yndia vos teme e vos tem grande acatamemto e obediemcia, e todollos
Reis e senhores della procuram vosa amyzade. E se por nosos pecados
estes caes destes Rumes ouvesem alga vitoria de ns, era todo este
feito, que atrs digo, em tornado e barelhado outra vez: agora, senhor,
convem Registir suas foras com dobrada armada, ylos buscar a seus por-
tos e ferra com fora de gemte, e segurama de t a ~ gram credito e fama
como temos g-aanhado, poys que nom podmos nem deuemos descobryr
esta cilada, c ver em que os ymygos tem sua com fiana; com ba armada
e ba gemte o deue vosa alteza de fazer, ao menos por esta primeira vez;
e mais agora que sabem que os fomos buscar, pella vemtrira se poerm
em bordem com suas foras pera nos comtrariar nosa emtrada no mar
Roxo, ou asemto, se ho hy quyjermos fazer: portamto, senhor, agora he
tempo de dobrar de ll gemte e armada, porque seguremos as cousas que
nos ficam traJas costas, nom bulam comsygo, acomtecemdo nos cousa que
deos defenda; e como gaanharmos pee e asem to no mar Roxo, com muy
pequena armada que v visytar Suez, se se crya nelle alga cousa, lhe
quey1narm quamtas naos botarem ao mar, amtes que as armPm e apa-
relhem. E quamto he ao que vosa alteza diz, que se tomarm l presas,
por nosos pecados hum gram golpe de Riqueza erramo ns este ano, por-
que arriharom mais de lx naos, delas com temporal e delas de demtro
do cabo de guardafuum, onde ouverorri novas de ns.

CART.\S DE AFFONSO DE ALBUQUERQUE 197
Item: per outro capitulo me diz vosa alteza que vos mande dizer a
soma da mercaderia que se pde gastar na yndia; e que vos he sobre yso
sprito de c per desvayradas maneyras: eu faley con1 mercadores de cam-
haya, e faley com mehesamdely, homem voso seruydor, pryncipal merca-
dor de chaul, e asy com outras pesoas, e poJo que eu tenho visto e sabido
de certa sabedoria, per outra carta o mandarey muy decrarado a vosa al-
teza, porque tenho j tomada toda a emformaam per yteens dese- feito;
e o que me parece he que se tendes mo no mar Roxo, que se gastar
tanta soma de diversydade de mercaderias e marcerya, asy nesta parte
da yndia como no golfo de ceylam pera demtro, e em malaca e nos chyns
e jaaos, que as nom poderm as vosas naos trazer, porque as vejo vyr
avalumadas, chas e abarrotadas com muy pouca mercaderia.
Per outro capitulo da mesma carta diz vosa alteza que tenha muy
grande e espicial cuydado d aproveytar vosa fazemda, e de vos fazer Rico,
como volo tenho sprito, porque sem faze1nda mal se poder obrar na
guerra: qnamto he, senhor, ao aproveitar de vosa fazemda, a que tendes
em terra em vosas feitorias, vos alteza tem cometido o carrego dese feito
a vosos oficiaaes, e a mym que nom emtenda com elles myudamemte, nem
ynverne em cochym, por lhe nom dar trovaam: eu, senhor, o tenho asy
feito at aquy, e aynda lhe tenho todollos portos das mercaderias e trato
abertos e asesegados, e a terra toda muyto mamsa e pacifica: em tal ma-
neira pasa o negocio, que mandam os ~ o m e n s a bisnagua arrecadar di-
nheiro de mercadores, e trazem lho; andam os homens por toda a terra
do malavar, e nom lhe perguntam pera bonde vay, nem donde vem; an-
dam os homens por todo Reyno de daquem comprando e vendemdo, sem
lhe nynguem falar; andam per todo o Reino de camhaya comprando e
vendendo, sem lhe nynguem preguntar donde vem, nem pera onde vay.
Esta he a mynha obrigaam, pera se a fazenda que tendes em vosas fei-
torias aproveitar; ponham elles a diligencia e o meno, e saibam fazello,
e darvosham muito proveito: mas eu soube que partira diogo pyreira este
ano pasado de cochym com bna nao de pimemta e cobre e seda, e foy a
cambaya e a chaul, e trouxe xbj pardaos
1
em ouro, e nynhum deles pera
a vosa feitoria. E quamto he, senhor, aa Yosa fazenda que a armada ga-
nha no mar, e busca andando, e gasta e despende, desa vos darey 1nuy
ba conta e o voso feitor das presas, a qual he tam grande soma aas ve-
1
Dezeseis mil pardaus.

198 C.t\RTAS DE AFFONSO DE
zes, que se espamtar vosa alteza; e faz se em meu tempo cou1 t.anta
peza e cuydado que vosa. alteza deue esl.ar muy descamsado; e comfyay,
senhor, ysto de mym, poys que nom tenho outro penhor netn outro fia-
dor senom vosa alteza, que me te1n todollos anos de meu seruyo e meu
trabalho, e toda csa myseria que me a furluna deu.
E diz me mays vosa alteza, se rnuytas especiarias vos emviar de c
e muyto ouro, como esperaes em noso senhor que o daquy em diamte
farey, vosa alteza me emviar tamta gemte, corn que nom soomemte toda_
a yndia, como, louvores a deus, est jaa sogygada, mas aynda a persya
e esas outras partes do sertaam. Digo, senhor, que, louvores a deus, que
leixou falar verdade e compryr o que vos sprevy, que pela vemtura pa
reeer l ysto domen1 que desejava governar a ymdia: vosa al-
teza aja por certo que os portos d urmuz at ceylam, e asy todallas mer-
caderias que nesta parajem jazem, estam prestes e abertos todollos t.ra-
tos e portos pera Receberem vosos feitores e o voso trato e vosas com-
pras e vendas. E asy de ceilam pera demtro todollos portos e mereade-
rias e mynas douro e de prata estam eo as portas abertas pera Receber
vosos tratos e mereaderias, visto pellas vosas gemtes e tratado com elles:
preguntayo, senhor, a todas esas gemtes que da yndia vaam. E eu vollo
mandarey per asynado de todos, ajuramentados aos avamgelhos,
se he isto verdade ou nam; at os chyns podem vosas naos e mercaderias
yr seguras e tratar. E que a noso senhor aprouve de eu comprir o que
vos tinha prometido, cumpra vosa alteza com a esperana e confiana que
eu tenho do grande galardam de meus seruyos, porque vos posa mais
abastado e mais homradamente seruyr, se vos de mym esperaes aprovei-
tar, porque hum homem velho e desagalardoado nom he bom pera so-
memte ha ..... ilem pera o mar nern pera a terra: sprita em cananor
a iij dias de dezembro de t 513.
(Por lettra de feytura e servydor de vosa allteza
Afomso d alboquerque,
(Sobrescripto) A el Rey noso senhor
1

r
1
Torre do Tombo-C. Chron. P. t., M. t&., Doe. 12 .
..

CARTAS DE AFFONSO DE ALBUQUERQUE 199
CARTA XLI
11S13-Dezembro 4
Senhor.-Despachadas e partidas as naaos da carga da Imdia per
dom garcia, qe a iso foy, qe deu gram delijemcia e aviamemto, ficou asy
em cochym aviamdo e correjemdo esa naao e navios que meses mouros
de benastarym espedaaram com sua artelharia, e asy outros navios da
imdia que diso tinham necesidade; e parte da outra atmada sestava Re-
formamdo de mamtimcmtos e doutras cousas, e espalmamdo ern chavll;
e outras estavam sobre a barra de dabull, e eu estava ern goa damdo or-
dem a se acabar ho castelo de sam pedro em benast.arym, e asy a torre
que comecey etn pamjym; e algas outras naaos tinha espalhadas, pera
fazer vir ao porto de goa todalas naaos d urmuz con1 os cavalos, ten1do
tomado por determinaam ser voso servio os cavalos d arabia e da persia
estarem todos em vosa mao, e virem ao voso porto de goa, por dous
Respeitos: o primeiro, por afauorecer ho porto de goa, e polos gramdes
dereitos qe pagam os cavalos e tornar a pouoar a cidade como amtes era,
e virem as cafilas de narsymga e do regno de daqem com as mercadaaias
a goa em busca dos cavalos; a outra, por el Rey de narsymga e os do
reyno de daqem desejarem e procurarem a paz e reconhecer estar em
vossa mo sua vitoria, porqe sem comtradiam vemcer huum ao outro
aqele qe ouuer os cavalos d arabia e da Persia, de qe sam muy necesita-
dos, e dam muito por eles; a outra, por estarem sempre em goa pera
quallqer tempo de necesidade qe sobreviese, qatrocemtos, quinhemtos
cavalos de 1nercadores, afora os das estrebarias de vossa alteza; a outra,
por desfazer ho porto de hatecala, ho quall nam he feito senam polo trato
dos cavalos e mercadarias d urmuz, porqe nam tem porto nem barra pera
que possa emtrar huum batell, nem tem a desposisam da barra e porto
de goa, em qe as naos dos mouros emtram carregadas, imda qe demam-
dem tres d agua.
Feita esta de1ijemcia, vieram ao porto de goa naos d urmuz, qe po-
deriam trazer quatrocemtos cavalos muy fermosos e de muy gram preo:
mandei lhe fazer estrebarias muy e trezemtos homeens da terra

CARTAS DE AFFONSO DE ALBUQUERQUE
que comtinuadamente lhe acarretava a erva; e o mamtimemto pera eses
cavalos lhe daua h o feitor graos, carregamd os sobre os mercadores, a
qe lhos daua pera depois fazerern sua com ta: mamdey dar aos mercado-
. res as milhores casas que hy avia pera seu apousemtamemto, e todo boom
trato e gasalhado e omra lhe foy feita: mamdey lhe dar cabrestamtes e
madeyra pera varar suas naaos, cairo, breu, e azeite de pescado; por seus
dinheiros se lhe dava tudo ho qe lhe fazia mester, e mamtimemtos pera
suas pesoas e sua jemte, sobre seus cavalos e mercadarias; e bem asy lhe
mamdey Jogo ordenar suas cargas de pimemta, jemjivre, noz noscada,
arroz e cobre, qe mamdey vir das feytorias de cochim e cananor, e creo
qe as naos que daquy em diamte tomaretn carga em goa, iram mais Ri-
cas naaos qe partirem das imdias, pola carga das espiciarias qe aly to-
mam, e lugar de as poderem levar a urmuz.
Hos mercadores, capitees e tnestres das naaos, foram asy bem tra-
tados e gasalhados e afauorecidos e ajudados, qe a n1im me parece qe
numca jamais leixarm ho porto de goa, e bem asy pola liberdade da es-
peciaria e lugar qe pera iso dou has naaos da imuia que a vierem tomar
e carregar etn goa, em qe cuido qe se far muito proveito, e que ga se
far ho mais Rico porto e mylhor cousa destas partes: esta espiciaria qe
sy dou lugar, he smemte pera a escapo la d urmuz e nam pera nehua
outra parte.
Haa fama destes c.avalos vieram em muy poucos dias mercadores
de narsymga, tnisijeiros delRey de vemgapor, sobre compra dos cavalos;
e asy estavam hy dous misijeiros do abayo, que vieram a mim conl car-
tas sobre ho comcerto de nossa paz, e qeriam comprar
Hos mercadores destas naaos traziam aljofar, panos de seda, e porqe
amtre ns avia homem de muy pouco cabedall pera ho averem de com-
prar, eles me pediram licema pera ho irem vemder a.batela (sic), e eu
lhe dey J ugar per a iso.
Nestas naaos destes cavalos foy achado cojamir, mouro mercador a
qe emtreguey duas naaos da terra em goa a primeira vez que ha toma-
mos, com algiia mercadaria de vossalteza daqela qe se achou em goa de
cimqo naos de cochim e cananor que tinham tomadas, e com ho emba-
xador de xeq esmaell e com os misijeiros qe a ele emviava, ho quall co-
jamir foy bem despachado e1n vrmuz, e trazia cavalos em retorno da mer-
cadaria; e vim do imdia, sabem do como goa era alevamtada comtra ns,
metsse em dabull, e levou os cavalos apresemtar ao abayo: mamdeyo
CARTAS DE AFFONSO DE ALBUQUERQUE ~ 0 1
premder em ferros a ele e a hum seu filho, tomei lhe vimta tamtos cava-
los, e alguuns destes cavalos e asy outros daneficados das vosas estreba-
rias de goa mamdey vemder sesemta a pocaracem, mouro mercador, por
dez mill oras douro, pera se reformarem as estrebarias de vos alteza de
milbores cavalos, daqeles qe novamemte eram chegados d urmuz.
Neste tempo dey t.am gramde delijemcia, asy de fornos de call como
de camtaria acarretada em barcas doutras partes da ilha pera benasta-
rym, e asy de pedra e camtaria qe os mouros tinham nos muros da vila
qe tinham feita, qe em muy poucos dyas se fez obra tam fermosa e tam
forte e tam bem obrada per maos de. toms fernamdez, qe pareceo qe
noso senhor obrava nela com sua ajuda; asy crecia a obra em tall ma-
neira, que ha minha pattyda 6cava pera se defemder a todo mumdo qe
viese sobr ela, da torre como ha cerqa e baluarte; a torre de tnuy gramde
altura e muy bem obrada de suas guaritas em cada quadra, de camtaria
e de muy fermosa pedraria: e eu poso dizer a vos alteza com verdade, qe
nas terras de cristqaos qe tenho amdadas nam vy mais fermosa pea nem
mais forte: to ms fernamdez a quys asy fazer por sua memoria: pus lhe
nome ho r.astelo de sam pedro, polo nome da nao qe primeiro aly che-
gou, e cerrou ho paso: a torre he de quatro sobrados daltura, qe se vee
dos muros de goa: ficou no primeiro sobrado hua torre pegada nesta,
sobre a Ribeira do Rio, madeJrada sobre piares e coberta ao modo dei-
rado; faz Rosto terra firme, dom de jog artelharia grosa; e a outra torre
sob i o sob r ela tres sobrados; tem hum poo de muyta agua ao pee da torre
primcipall; l ha mamdo pimtada a vos alteza: est asemtado ho castelo
sobre ha Ribeira do Rio, que he terra de gramde altura sobre a borda
d agua, omde he a passajem da barca.
E neste mesmo tempo despachey diogo fema"ndez, adaill de goa, e
com ele joham navarro por lymgua, com os misijeiros do abayo sobre
os apomtamemt.os da paz qe qeriam : mamdey a garcia de sonsa, qe es-
tava sobre dabull, que alargase a navegaam ho porto, nam semdo mer-
cadarias defesas per vosa alteza, e qe se seguros qysesem, que mos mam-
dasem pidir a goa, pois que ho abayo qeria pazes; e mamdey com diogo
femamdez e Joham navarro ho filho de gill vicemte, e dei lhe emcaval-
gaduras e vestidos, suas despesas: mamdey huum capitam da terra com
xx pies pera os aver de servir, e os misijeiros do abayo bem despa-
chados, e em nome de vos alteza lhe foy feita alga merc segundo cali-
dade. de suas pesoas.
18



iO! CARTAS DE AFFONSO DE ALBUQUERQUE
_ Asy_ despacbey logo ho misijeiro del Rey de cambaya, qe veyo a
mim com cartas, depois do seu embaxador .despachado sobre a paz e
comcerto qe pede; e porqe minha temam era ir em pesoa a este nego-
cio, e meu sobrinho dom garcia pola gramde acupaam qe teve em co-
chim nas naos da carga nam podia j ir a tempo, pera em pesoa ho ir
acabar, qe nam perdese a navegaam do estreito de meqa, emtam deter-
miney de mamdar l, tomamdo por determinao da sayda do estreito vir
sobre cambaya, depois dei Rey de cambaya ter j sabido a determinaam
de vosa alteza, apomtamemtos e comdies com qe lhe daryees segura
paz mamdey com ho seu misijeiro tristam degaa, e joham gomez por
esprivatn; de tudo ho qe se nisq pasase, levava em minha estruam e apom-
tamemtos, como dito tenho; e mamdey lhe ho presemte que vosa alteza
mamdava a timoja, e alguas outras cousas que pude aver; e partiram
em ha nao de meliquiaz qe hy veyo com mamtimemtos e misijeiro seu
com cartas pera mim, e visitar me depois da vymda de malaca.
Ao n1isijeiro delRey de cambaya e de miliquiaz mamdey amostrar
a vila que os mouros tinham feita em benastarym, e os baluartes no mar
e sua artelharia grosa, e ho arrabalde qe era mayor povoaam qe ha vila, e
as estrebarias dos vosos cavalos em goa, e as cubertas qe agora novamemte
se fazem, e duzemtos besteiros e duzemtos espimgardeiros, porqe todo
. homem casado e solteiro fiz ter bsta ou espimga (sic), asy pera goa como
pera armada, como pera quallquer cousa omde comprise socorro; e or-
deney a q ~ y este corpo mais qe em outro lugar, porque hos homeens de
goa comem pam de trygo e carne e muy boom pescado em gramde abas-
tama, e tem coor domeens; e asy lhamostraram como as naaos de vos al-
teza abalrroaram cos baluartes da sua artelharia grossa, e lhos ganha-
ram, por omde me parece que miliquiaz ter pouca comfiama nos seus,
quamdo fizese alguum erro.
E asy despachey gaspar cbanoca pera narsymga, ho quall minha
partida pera malaca era l: el Rey de narsymga me mamdava seu em-
baxador em Reposta dos apomtamemtos qe lhe mamdey e com joyas pera
vosalteza; nam macharam e tudo se tornou: per chanoca lhe mamdey
dar comta do feito de benastarym, e os cavalos qe vos alteza avia por bem
virem todos ao porto de goa; e amtre outras cousas lhe mamdey dizer qe
todolos Rex da imdia tinham dado em suas terras lugar a vos alteza pera
mercadarias e tratos; qe ele devia de dar a vosa alteza batecala; que dos
cavalos qe viesem darabia e da persia ao porto de goa, lhe seriam sem-
\. ....
CARTAS DE AFFONSO DE ALBUQUERQUE !03
pre guardados aqeles de qe tivese necesidade, e outras muytas cousas qe
neste feito amdam j movidas.
Foy tarnbem despachado neste tempo ho misijeiro dei Rey de vem-
gapor, o qual I precura muito ser servidor de vos alteza e nosa amizade, e
faz muito fumdamento diso: partem suas terras com as terras de goa, e
oferecese com sua jemte e fora comtra a guerra dos turcos; pedia que
lhe leixasem tirar cai ano de goa trezemtos cavalos: sua amyzade nos he
muito necesaria, por ser sua terra muy abas.tada de mamtimemtos, e ser
a estrada verdadeyra e chaam pera narsymga; e aimda me mamdou ofe-
rycimemtos per a governar as terras de goa, emtregamdo lhas eu, e damdo
certa cousa por elas.
Despejado d emtemder nestes nego cios de fra, dey ordem torre e b a ~
luarte de pamjym e cerqa de sua barreira de redor pegada no Rio, a quall
obra ficou sobre a terra ha minha partida, porque avia ahy muita camtaria
e muitos fornos de call, e ha delijemcia de toms fernamdez, que he mayor
que ba minha: e asy pus na ilha de horam e dyvary huum cavaleiro ca-
sado em goa, que se chama manoel fernamdez, ho quall tinha j muita cam-
taria e muita casca d ostra pera fazer call, e dado ordem pera se fazerem
as torres qe ordeney nestas ilhas, de pedra e call, como as obras de goa.
Chegamdose ho tempo da minha- partida, Rualcam, eapitam do a-
bayo, que estava em benastarym, precurou per vezes de me ver e falar
comigo, e eu mescusei diso, porqe emtemdy que as terras boliarn com-
sygo, por lhe verem pouca jemte e fra da ilha de goa; e depois me pa-
receo bem, pois qe tarnto precurava nosa amizade, qe em quarnto ho com-
certo damtre mim e o abayo arndava em apomtamemtos, qe narn trazia
perjuizo ir lhe falar, aimda que ha terra tomase asesego com ele e lhe acu-
dise com os de rei tos, pois lhe nam avia de fazer a guerra; e ele com de-
lijemcia acudia com mamtimemtos e servimtia da terra e todalas outras
cousas necesareas a goa: fuyo vr ao Ryo de benastarym: ho qe pasou
d amtre mim e ele foy oferecimemtos qe me ele fez, e desejar de ser ser-
vidor de vosa alteza, e a iso lhe respomdy cousas desapegadas, que nam
sam necesareas sabei as vos alteza; e depois disto foram homens nosos a
seu arrayall, e jemte sua vinha cada dia a goa, e os moradores e lavra-
dores da ilha se tornaram todos a la\'rar e aproueitar como damtes, jem-
tios e nam mouros; e asy se tornaram todolos oficiaees d artelharia, de
bombardas e espimgardas, as quaees se fazem de ferro em goa milhares
que has d alemanha.
..
i04 CARTAS DE AFFONSO DE ALBUQUERQUE
Posta asy em ordem as cousas de goa, a mim me pareceo voso ser-
vio mudar a ela per o mascarenhas, e o n1amdey chamar, e ele levou
gramde comtemtamemio de halargar a capitania de cochim pola de goa;
e ficar em cochim por capytam jorje dalboqerqe, e levey comigo
manoel de Iacerda; e pero mascarenhas ficou em goa por capitam, e lhe
leixey huum rejimemto assaz largo de cousas de qe goa estava bem ne-
cesitada, e eu confio dele qe o far em tall maneira que as cousas de goa
sejam oulhadas e gramjeadas que tornem muy cedo ao qe eram, porqe
os capites pasados sempre folgaram de ba destroir e danar, emchem-
do lhe ela a bolsa de dinheiro.
Neste tempo, amtes de minha partida, me chegaram novas como ca-
malcam, capitam primcipall da casa do abayo e governador de toda sua
fazenda, era morto dos turcos, e que havia aby devisam no arrayall do
abayo, os persios e coraanes cos turcos, porque ho camalcam era per-
sio; e asy el Rey de narsynga era abalado com seus sobre per-
gumdaa, qe era alevamtado com ho outro que savia por Rey de nar-
symga; e asy el Rey de cambaya com seu arrayall, depois da morte
seu pay, abalou comtra ho estremo do Reino de mamdao, que vynba
elRey de mamdao sobrele: dou esta comta a vosa]teza, porqe he bem
que dos movime1ntos e divisees dos Rex e senhores da imdia vosa alteza
seja sempre avisado, ho quall p1azer ao muy alto deus qe a ver hy tamto
descomcerto e guerra amtr eles, que alguuns vos tomarm por valedor e
vos darm parte de suas
Chegado meu sobryoho dom garcia no ms de feuereiro, ele e eu
estivemos por espao de quatro ou cimqo dias aimda em goa pera des-
pacharmos framcisco nogueira e gomalo memdez, feitor qe foy de cana-
nor, pera o negocio de calecut, e embarcamos logo.
Recolhidos todos os capitees a suas naaos e jemte, os mamdey cha-
mar e lhes dise, qe as cousas determinadas e mamdadas per rejimemto de
vosa nanas avia de p<lr em comselho se as faria ou nam, salvam te
vemdo tamtas comtrariadades ou causas por omde se nam divesse de fa-
zer e comprise comselho sobre ese caso, somem te noteficar lhe vosa de-
terminaam e vomtade; e portam to lhe dezia qe per rejimemto e cartas
de vos alteza me mamdava qe eu fose adem e emtrase ho estreito de meqa:
se lhes parecia q"Qe havia hy imcomveniemtes a noso caminho e deter-
minaam de vos alteza, que cada hum disese aly per seu asynado; e a to-
dos nos pareceo que por emtam hy nam avia impidymemto a noso cami-
,

CARTAS DE AFFONSO DE ALBTJQUERQUE !05
nbo e fazer ho qe nos vosa alteza mamdava, e asynaram todos e se foram
pera suas naaos; e ao outro dia pola menhaam lhe fiz synall acostumado,
levamos nosas amarras e nos fizemos todos vela com vemto largo de
boom viajem, que nos noso senhor deu.
Fazemdo asy noso caminho via do cabo de gardafuy, no golfam
achmos bonamas, por omde gastmos mais agua qe aqela qe me pare-
cia qe nos poderia abastar at chegada d adem; emtam determyney d ir
tomar agua a acotor, porqe no 'cabo nam avia aguada pera tamtas naos,
e tambem por nam sermos <.lescubertos. E ouuemos acotor e fomos to-
dos sorjir dyamte do oeo, lugar omde soya d estar a forteleza de vosa
alteza, e no lugar avia hy j cimquemta fartaquys, que comeavam de
correjer suas eass e o r ~ s ; e fortaleza e nehum modo de sua defemsam
lhachey: poseramse logo na serra todos contra calacea, e ns tommos
nosa agua no mesmo lugar do oco todos, e lenha: aly nos vieram falar
alguuns cristos e cristas da terra, aos quaes mamdey dar alguuns pa-
nos e arroz, e se foram embora pera suas casas, e mamdey derribar to-
dalas casas dos mouros e por lhe ho fogo.
No mesmo dia qe sorjy, mamdey logo correr a ilha at calacea com
ha caravela, tememdome que alguum barco dos fartaquys estivese em ca-
lacea e pasase haa bamda de fartaqe e dofar dar novas d armada, ou al-
gilua nao de mouros que fosse pera ho estreito e estivese aly tomamdo
agua. Joham gomez, capitam da caravela, ho fez asy como lho eu mam-
dey; e polos vem tos serem levaintes, pera tornar: a mim lhe comvynha
balrravemtear. ha volta h mar e outra terra: imdo huum dia na volta
do mar, topou com hua nao de chavll, que hia pera ho estreito, e ha to-
mou; nam lhe fiz nehuum nojo, por ser de cbavll e nam levar neha
espiciaria, porm lev a sempre comigo e aproueitey me do seu piloto, qe
at emtalil nam levavamos piloto mouro nem homem que soubesse adem,
somemte martim memdez, piloto, qe fra j em canacany, que seria xx
legoas dadem: quys logo ho piloto mouro que atravesasemos de acotor
dereytos adem, que jaz na mesma altura de cao tor leste oeste com ele:
fazemdo asy noso caminho, saltou ho vemto ao susueste, e por ser hum
pouco escao e o tempo ser j tarde, determiney de meter ora quamto
podese, e aferrar a terra do cabo, por nos pormos a balravemto, e c ~ m
todolos vem tos e ramos senhores da boca do estreito: fizemo lo asy, e o
vemto s vezes era susueste e s vezes era sull, e deixounos afeiTar a
terra per sotavemto dabedalcuria.

!06 CARTAS DE AFFONSO DE ALBUQUERQUE
Aferrada a costa na mao, a fomos asy perlomgamdo, porqe minha
temam era, e eomselho de martim memdez, que de mete atravessemos
adem, e o piloto mouro asy ho dezia, e levmos asaz de vemto que dito
tenlio, per espao de tres dias, corn mar asaz, porqe as aguas corriam
oomtra vemto; e fazemdonos per este caminho dez legoas de mete, de-
termynamos d atravesar adem; e posto que ho piloto mouro disese que
h noroeste hiriamos dar em adem, quis me eu ter a balravemto d adem,
porque escorremdo adem, nam podia tornar cos levamtes a ele: e mam-
dey fazer bo caminho do nomoroeste, e huum dia noute leixey a costa
e cortey aqela noute e o outro dia e a outra noute logo seguimte com
pouca vela, e amanheey sObela costa no mesmo lugar em que ho piloto
mouro disse que hia tomar por aqele Rumo, que he amtre canacany e
ha serra que se chama darzina, e aqele dia noso caminho ao
lomgo da costa: quamdo veyo a noute, por nam escorrermos adem, lam-
amos has naos de mar a travs em pairo, e jouue1nos toda aqela noute
at pola menham qe nos fizemos vela; e caminhamdo asy, ao sol posto
ouuemos vista da ilha d adem, e parec nos que nam era bem irmos de
noute sob r ela, por nam sabermos ho porto e ser armada gramde, e ao
sorjir de noute no porto nam darmos h nuns por outros; e amaynamos to-
dalas velas, com fumdamemto daqela noute pairar: veyo pero d alboqerqe
minha nao no seu batell, dizemdo que hacbara fumdo de xxxb braas
1
:
cerram do se a noute, fiz synall s naaos qe se fizesero vela cos traqetes,
e cos prumos na mao fomos cortamdo por aquele parcell at tocar ho
prumo em catorze braas jumto com ho porto d adem: eramos j sem ti-
dos, e fizeram nos os mouros dadem foroll em outra pomta, cuidam do qe
h o iryamos ns demamdar e escorrer ho porto: aly surtos at
poJa meQham, dia de sesta feira d emdoemas, e nos fizemos todos vela,
e postas em armas todalas naaos e jemte, cuidamdo que baebasemos hy
outra jemte de fra; e tomamdo todalas naos pouso, algas naos semba
raavam com outras ao surjyr; e polas naos serem gramdes, e muitas as
que hestavam em adem e terem tomado ho pouso abrigado do levamte,
ficmos ns huum pouco de fra: e posto que ha jemte posta em armas
quysera logo pOr ,as maos ha obra, a mim me pareceo por aqele dia boom
OOUiselho segurar bem as naaos d amarra, desembaraamdo se h nuas das
outras, por tall qe acudimdo alguum levamte Rijo nam se fizese algum
a Trinta e cinco braas.
CARTAS DE AFFONSO DE AIABUQUERQUE
mao Recado; e alguuns foram neste parecer, e outros que logo se devia
cometer a cidade; e eu folgara muyto, por ser sesta feira, dia da paixam
de noso senhor., senam fora ho segurar as naos d amarra, em que tamto
hia; e depois sayo boom comselho, porque vemtou ho levamte Rijo; e
guas naos surjiram tres ou quatro amcoras h mar, e pasou logo ho
tempo.
No mesmo dia de sesta fQira me mamdou miramerjaam, governa-
dor dadem, dizer, qe era ho qe qeria, e mamdou huum mouro de eana-
nor conhecer qem era; e eu lhe mamdey dizer qe era ho capitam jerall
das imdias per mamdado . de vosa alteza, e qe aqela armada eram naos
da ordenama da imdia, que vinha em busca dos Rumis e da sua armada,
e que os avia diir buscar at jud e suez, a ver sera verdade ho qe de-
ziam os mouros, que fazia bo soldam armada comtra ns em suez: tor-
nou se ho seu misijeiro e deu lhe esta reposta minha, e tornou outra vez
com hum presemte de limees, laramjas, galynhas, carneiros, e eu duoi
dey de h o aceitar, dizem do qe nam era meu custume tomar presemtes de
lugares e senhores com qe nam tnhamos paz asemtada: ele me Respom-
deo que dez ia miramarjam que ha cidade era de vos alteza, e qe tudo se
avia de fazer ho qe eu quise se: emtam lhe respomdy que oulhase bem ho
que dezia, que com aqela comdiam lhe Recebia ho presemte, e qe disese
a miramerjam que se ele estava obediemcia de vos alteza, qe abryse as
portas e reeebese vosa b1mdeira e jemte na cidade; e asy mamdey dizer
aos mercadores das naaos, polos tirar fra da cidade, qe eu lhe dava se
guro a suas naaos, polos tirar fra da cidade, e qe eu lhe dava iso mesmo

seguro a suas pesoas qe se VIesem pera soas naaos: myrameiJaam me
respomdeo que era do xeqe; se eu algua cousa qerya, qe ele me viria
falar Rybeira com xx homeens, e qe eu nam levase mais doutros vimte:
eu lhe respomdy que era escusado vermonos ambos de dons em outro
eabo senam demtro na cidade; e asy se foram os misijeyros com esta re-
posta, e nam tornaram mais a mim; e os mercadores me mamdaram di-
zer qe as naaos eram j emtradas dos nosos, e qe nam ousavam de tiir
a elas.
Sobre adem nam ounemos pratica nem eomselbo do qe aviamos de
fazer, porqe em acotor estive eom todolos capites sobrese feito, porqe
em cousa tamanha como be adem, e qe tam prestes tem ho socorro, de
lomje deviamos de trazer determinado ho qe ouuesemos de fazer; no quall
eomselho asynado por todos detenninamos de lhe as. maos.



CARTAS DE AFFONSO DE ALBUQUERQUE
gamdo sobrele, nam vemdo ns cousa que impidise noso eomselho e de-
terminaam. E portamto naqela sesta feira em qe chegmos, nam ouue
hy outro comselho senam todos nos poermos em armas pera vos servir
com boa vomtade e com a obra; somem te ficmos em com certo de h o
combatermos por.- dons lugares, e fazermos da nosa jemte tres batalhas:
dom garcia com certos capites e jemte, e eu com outros tamtos, e Ruy
gomalues e joham fidalgo com a jemte da ordenama, que baviamos d es-
calar e combater ho lugar por duas partes: dom garcia pola parte da mo
dereita, e eu com ha outra Jemte da bamda da mo esqerda, todolos ca-
pytes com suas escadas, e a jemte da ordenama com sua escada per sy:
e recolhemos muitas barcaas pera pOr a jemte em terra, porque os ba-
tees nam abastavam; e dey jemte da ordenama duas barcaas gram-
des, com qe se carregam as naaos em adem: levmos bamcos pimchados,
pees de cabra, alviees, picees pera derribarmos huum lamo de muro
com polvora.
Pa..c;ado ho dia de sesta feira, quamdo veyo a noute mamdey cha-
m_ar os capites, porqe me pareceo pola necesidade d agua qe amtre ns
avia, ganhamdo ba cidade, se nam tomasemos a porta da serra, qe todo
noso feito era nada, e que de necesidade nos tornariamos Recolher aas
naaos; e ficamdo em qebra com adem, poJo tempo ser j gastado, nam
sabiamos p\lr emtam domde nos Reformar d agua; e este impydimemto
que m amim soo tocou, domde me parecia que armada e jemte se punha
em eomdiam, me fez mamdal os chamar, e lhes dise a eles somemte, que
a ns nos comvynha peleja bem, e qe se nam ganhasemos ha porta, qe
nam tinbamos nada feito, porque poderiam meter na cidade tam gram
peso de jemte, que ho nam poderiamos ns sofrer; e asy lhe pu.s diamte
ho pejo qe acima dyto tenho: a pareceo que bo feito se pode-
ria acabar, e que as outras cousas noso senhor nos proueria, e alga agua
se poderia na cidade achar, ou mercadores da terra firme a poderyam
negocear pera sy e pera ns; e comemos amtre todos de nos comfiar
hunos aos outros sobreste caso qe lhes pus diamte, por omde determin-
mos de h sabado, em amanhecendo, pr as maos e as escadas h muro.
Prestes todos e comeertados como tinhamos ordenado, semdo duas
oras amte menha mandey tocar hua trombeta na minha naao, e toda a
jemte se armou, e comeo e bebeo, at que comeou de romper alva do
dia, e embarcmos todos; e porqe me pareceo qe e ramos pouca jemte e
poucas escadas pera escalar ho muro, e a cidade e pouo posto em ar-
..
,_
,
CARTAS DE AFFONSO DE ALBUQUERQUE
mas, e qe escalam do por duas partes, nam poderiamos poer jemte de huum
golpe em cima do muro, pera que ousase de correr ho muro e decer dem-
tro, dterminey de todos jumt.os darmos combate por hum lugar, por tall
que ha jemte fose dobrada ho muro, e podesemos socorrer huuns aos ou-
tros, e filo asy: jumtamemte fomos todos dereitos ho muro, e polo mar
ser aparcelado tocaram hos nosos batees huum tiro de besta do muro, e
a jemte desembarcou toda pola agua, que nos fez asaz de dano aos es- ,
pimgardeiros, qe se lhe molhou toda a polvora, e jemte homrada, que
sayo toda molhada. ,
Desembarcados todos os capitees, como valemtes cavaleiros e cria-
dos de vosalteza, desejadores de vos servir, como se aly viram presemte
vos alteza, tomaram suas escadas muy prestes e ps cada huu11_1 a sua no
muro, e foram eles os primeiros da escada, do qe me a mi bem pesou,
porque eles fizeram seu dever como cavaleiros, e a sua jemte ficou logo
desarramjada ao pee do muro; e cavaleiros e fidalgos poserarn os
pees em cima no n1uro com seus capites: joham fidalgo com ha jemtc da
ordenama e seus cabos d esquadra, a qe eu emtreguey hua muito gramde
e muito larga escada que podiam ir seis homeens a par, fez tambem seu
dever, porque Ruy gomalvez era doemt.e, e ps sua escada no muro, e
sobio per ela primeiro sua bamdeira e jemte das picas com ela; e algua
outra jemte da ordenama at cemtomeens atravesaram hiiua pomta de
hiiua Rocha qe vem emtestar no muro, por omde lyjeiramemte poderam
decer demtro cidade, semdo capitan1 deles arnryque homem, qe eu qu
mety na ordenama por capitam de certa jemte, e amda ha ordenama
de Ruy gomalvez e jobam fidalgo, ordenados por vosa alteza.
Postas asy as escadas ao muro e a jemte com muy boa vomtade
pegada no muro, desejosa de vos servir, e sobiram polas escadas, traba-
lhamdo se de qen o faria primeiro: foy tam gramde ho peso da jemte nas
escadas que qebraram as escadas jumtamemte todas, e asy ha da orde-
nama, que era escada qe de cada vez podia lamar cemt omeens em cima
do muro, e foy socorryda per meu mamdado, quarndo vy tam gram peso
de jemte sobr ela, pola jemte das alabardas, que sam homeens da minha
guarda, os quaees se poseram de htlua bamda e d outra com as alabar-
das a pomtoal a, e todavia qebrou, e fez em pedaos as alabardas, e fica-
ram mail tratados hos homeens delas.
Dom garcia, meu sobrinho, com os capites que com ele eram perto
de mim, naqele lamo de muro mamdou pr suas escadas; apertou com
'1.1
210 CARTAS DE AFFONSO DE ALBUQUERQUE
sua jemte Rijamemte ao combate omde os mouros tinham toda sua fora
de jemte, porqe est naqele lugar est (sic) ha porta qe eles tem por
fecia que por aly se ha de ganbar adem, a quall porta dom garcia temtou
de ha qebrar e achou a forrada de parede por demtro: tynham aly peso de
jemte, e todavia lhe fizeram despejar ho alto de seu muro, qebrar as es-
cadas co peso da jemte, foy ferido dom garcia e algua parte dos seus;
por os mouros terem aly sua fora, recebeu aquy a nosa jemte mais dano
qe em outra parte: quamdo dom garcia vyo que aly nam podia aprovei.
tar, eorreo ao lomgo do muro comtra omde eu estava, e asy ferydo e mali-
tratado como estpva, nele esteve aqele dia depois dajuda de noso senhor
ho remedio dalguns fidalgos e cavaleiros que no cubelo ficavam; e o que
me mais dele aqele dia pareceo, nano ouso de dizer, porque he meu so-
hrynho; somemte digo, senhor, que dom garcia he hfia pesoa domem
de qe vos alteza deve de comfiar em quallquer parte gramde peso de ne-
gocio e jemte, porqe me parece pera muito mais: he muito amado
dos homeens, e tam conhecido dos llex da imdia e tam estimado am-
treles, que todos lhe esprevem e ho mandam vesitar; e sobrele carrega
agora ho negocio da imdia, de que vosa alteza deve fazer muy gram
fumdamemto.
Quebradas as escadas, ficaryam no muro at }ta homeens
1
, capi-
tees, cuvaleiros e fidalgos e jemte homrada; descomfiados de socorro
poucos deceram abaixo do muro, amtes alguns se recoll1eram a huum cu-
belo, fazem do se aly fortes; e eu mamdey destapar certas bombardeyras
do muro e de huum baluartP, e marndey tyrar hua bon1barda dos mu-
ros pera fra, por despejar a bomhardeira; e aly acodio a jemte muy pres-
tes e muy Rijo a qerer emtrar poJas bornbardeiras, omde tive mao a nam
dar lugar senam a bsteiros e espimga:-deiros quamtos podia, e joham. de
tayde e alguuns homeens de bem com ele.
Viram os mouros a pouca jetnte no muro, e -vyram as nosas esca-
das qebradas, e acodiram Rijo ao pee do seu muro a .defemder as bom-
bardeiras, e pelejaram bem sobre ese feito; e os nosos, porque os mais
deles escalaram com espadas e adargas, sern lamas, nam poderam
que nam defemdesem as bornbardeyras muy bem, omde morreram mui-
tos d espimgardas e setadas polas mesmas bombardeiras; e nisto dereram
abaixo do muro jorje da sylveira, aires da silva, dom joham de lyma, vi-
' CiDcoenta homena.
CARTAS DE AFFONSO DE \LBUQUERQUE 211
eente d alboqerqe, dom joham d ea, Roy galvam, joham de meira, Ruy
palha, joham de tayde, manoel da cosla, feitor das presas, joham gom-
aluez, criado de dom martinho, tystam de miramda, a]uoro de crasto,
louaemo godinho, gill symees, e deram nos mouros, e derybar=m per
hum terreiro boa s\lma deles, at os meteren1 polas tramqeiras das suas
Ruas: os mouros quatndo viram qe aqeles nam eram socorridos e as es-
cadas eram !Jebradas, e a jemte da ordenama que a serra
nam decia abaixo, sayo ho capitam d adem a cavalo com hum golpe de
jemte e deu nos nosos, e eses poucos cavaleiros e fidalgos qe se hy acer-
taram, tiveram os Rostos qedos neles e pelejaram bem com eles per buum
espao, omde feryram e derribaram alguuns mouros, e feriram mira mer-
jam; e creceo ho peso tam gramde da jemte. qe eles se Recolheram ao
muro, semdo j ferido aires da sylva, dom joham de lyma, joham de meira
e o mestre ja madanela e huum goromete e huum homem de hiiua pica
da ordenama, e jorje da sylveira que haly faleceo.
Recolhidos asy estes fidalgos e cavaleiros ao muro, garcia de sousa,
amtonio raposo, duarte de melo, gaspar cam, joham gomalvez, diogo es-
tao e dons homens, e diogo d amdrade e joham de sousa e amdr corra,
se fizeram fortes em hum cube]o, e os mouros se achegaram Rijo ao pee
do muro; e polo cho ser mais alto da parte de demtro que da parte de
fora, fycava ho amdar do muro muy baixo; e por alguuns dos nosos nam
terem lans, por escalarem com espadas e adargas, e receberam assaz
de dano de pedradas e de frechadas, e com alguns zagumc.bos se achega-
vam ousadamemte os mouros: a jemte da ordenama que no cutelo da
serra estava, se reteve atrs, porqe acudio peso de jemte dos mouros pola
serra, e com pedras os tratavam muy mail.
Neste tempo nos trabalhamos dom garcia e eu por remedear o feito
quamto fosse posivell, e com troos descadas qebradas atadas has nas
outras podmos socorrer aos do muro com hua escada por omde se re-
eolheram;e recolhidos, ouue hy jemte qe qysera outra vez tornar ao muro,
e foy tamta a jemte na escada, que quys sobir, que outra vez ha fizeram
em pedaos, e eu dey volta sobre a jemte da ordenama que deceo da
serra, a fazei a outra vez volver, e nam pude acabar ese feito, tam desor-
denada amdava j a jemte: volvy outra vez sobre dom garcia, ho quall
j tinha remedeado hua escada e cordas aos do cubelo, e pola escada
ficar huum pouco curta os do cubelo s aproueitaram das cordas, e se sal-
varam per elas; e at emtam os mouros nos tinham feito muy pouco dano,
i7.
-
212 CARTAS DE AFFONSO DE ALBUQUERQUE
e ns a eles muita jemte morta e feryda de bstas e espimgardas e bas
lan1adas e cutiladas; e alguum nojo nos fizeram com duas bombardas qe
jugavam ao lomgo do seu pelo resteiro, em tall maneira que nos
afadigaram com elas; e nam sabia se Remedease estes capitees, cavalei-
ros e fidalgos, e dom garcia que hy era pegado no p do muro, damdo
pressa ao combate, ou se acodise aos de cima do muro; e daquy recebe-
mos alguum dano: durou ho combate ds da ora que posemos as escadas
at quatro oras do dia, qe afastey a jemte do combate j cmsada, sem
termos escadas, nem maneira de lh emtrar ho muro, e grarnde calma, e
huum pouco comtra suas vomtades, desejosa de tornar ho feito, e embar-
cmos em nosos batees muy de vagar, e a mar era j pegada comnosco
no muro ; e por huum boom espao fomos emtrar nos batees, polo mar
ser aly aparcelado, e nam nos poderem vir tomar ao pee do muro; e asy,
senhor, que deste feito nam mais que sprever a vosa alteza, so
memte que os mouros defemderam mail ho alto de seus muros, e os vo-
sos capitees, cavaleiros e fidalgos lho ganharam muy prestes, e defem-
deram muy bem ho pe de seu muro, quamdo viram as escadas qebradas,
e a jemte que avia de socorrer ha outra, atalhada.
Recolhidos asy aas naaos, outro dia mamdey jemte a terra sobre a
torre e baluarte de molde qe tem feito, domde nos tiravam assaz de bom-
bardas, polas naos estarem pegadas com ela; e mamdey haas naos que
com artelharia grosa ajudassem aa nosa jemte, e tiravam ao alto da torre,
e foy muy prestes ganhada, omde lhe tommos xxxbj bombardas t gros-
sas, delas. de gramdura de pedra dos nosos camelos, e outras pouco me-
nos, e a tivemos asy at nosa partida, e asy todalas naaos do porto que
estavam cos proyzes no molde: h e cousa muito forte; se h o quiserem bem
defemder, ser trabalhoso de ganhar.
Acabado este feito, os capitees, cavaleiros e fydalgos quiseram dar
outro combate cidade, e quyseram qe levaramos artelharia grossa, bam-
oos pimchados, pees de cabra, alviees e polvora, pera lhe darmos com
huum lamo. de muro no cho, ou lhe qebrarmos as portas da cidade, e
emtrarmos com eles per fora; e eu nam quys por alguas rezees qe
ma iso moveram, e a prymcipall, porqe_ eu estava mais cercado qe os
dadem e em mayor necesidade por nam ter agua, e a mouam dos le-
vamtes ir se gastamdo, e punha em comdiam armada e jemte, se huum
' Trinta e seis bombardas.
CARTAS DE AFFONSO DE ALBUQUERQUE !13
soo dia mais estivese sob r adem, porqe pera tomnr atrs, avia d aguardar
dous meses e meyo, e pera emtrar ho estreito estava j na fim dos levam-
tes ; e posto qe lhe tivessemos as portas do mar e porto cerrado, tinham
eles muy abertas a do sertatn, pera lhe vir quamto socorro quysese.
H o qe poso dizer do feito d adem a vos alteza, he qe foy a milho r
cometida cousa e mais prestes do qe ho vosalteza pde e todos
eses capitees, cavaleiros e fidalgos pegados no muro, e o emtraram tam
ousadamemte e com tamto esforo e desejos de vos servir, como se vos al-
teza em pesoa estivera aly e os vira; e a furto na, emvejosa de suas bom-
ras, quys qe qebrasem as escadas jumtamemte todas, porqe, sem comtra-
diam, com ajuda de noso senhor tinhamos ho feito acabado, qe na cidade
nam avia jemte pera nas Ruas delas ousarem de pelejar comnosco, aimda
que avia j tres dias qe eramos semtidos e vystos na costa em qe estaa a
serra qe se chama Darzina, qe viemos demamdar, e comtudo nam lhe era
vimdo imda peso de jemte de socorro, eom qe bem nam poderamos,
aimda qe nam eramos mais de mill e setec.emtos homeens brancos, e nam
saymos todos em terra por mingua d embarcaam; mas os desejos de vos
servir nos faziam dobrada a jemte, e as nam qebraram senam de
peso de jemte, qe desejava _de vos fazer asynado servio aqele dia.
Neste tempo vieram alguas naaos da imdia demamdar o porto, e
todalas recolhemos, e daly em diamte nos trabalhamos haas toas por sair
pera fra, e de demtro da cidade nos tiravam com tiros grosos e furyo-
sos; e postos asy de fra,. eu me fiz vela caminho do estreito, sem mais
neste feito ter pratica nem comselho, porqe me pareceo por emtam asy
voso servio; e amtes qe me partisse, qeymey todalas naaos d adem, e asy
outras qe tomey de novo, qe seriam per todas vimta nove naaos muy gro-
sas e muy gramdes, e dey primeiro lugar aos mestres qe s aproveytasem
dos aparelhos e cousas de qe tivesem necesidade, e aBY aos capitees e
jemte desa mercadaria que imda estava por descarregar nas naos, que ba
baldeasem nas suas: acabaram aly as naos grosas do xeqe todas e outras
d outras pal&es, e asy tomamos naos de barbara e zeila carregadas de
mamtimemtos muitos e boons, de qe tinbamos assaz pecesidade.
Neste tempo qe asy estive diamte d adem, mamdey ver a pomte qe
est. trs as costas d adem, e porto eycelemte de todolos vemtos cerrado,
a qe os mouros chamam hujufu: foy a iso manoel de Iacerda, symam
damdrade, symam velho, pero da fomseqa, e acharam huum esteiro muito
estreito e de pouca agua de baixa maar, e todavia chegaram domde vi-

21i CARTAS DE AFFONSO DE ALBUQUERQUE
ram os piares da pomte por omde pasam os camelos com mamtimemtos
e agua da terra firme cidade, posto qe de demtro da pomte por omde
vem o cano d agua, estaa ha al\'erqa de cant.aria feita, em qe o cano vem
verter agua, dornde ha os camelos levam pera a cidade, e fizeram lhe com
artelharia leixar o caminho que vay ter porta da cidade; e os camelos
rodearam hum cutelo de hua serra, e vynham sair porta da cydade, e
outros camelos vynham com mamtymemtos da terra firme, e faziam seu
caminho por hum campo e per hllua estrada Ja .. ga da terra firme qe vem
por fora pelo campo, e vinham qele mesmo caminho per detrs da serra,
sem pasar a pomte nem agua nehua, em tall maneira qe adem nam he
-""- ilha, porqe estamdo ns no porto pousados, vimos os batees da outra
bamda da pomto, e jemte e camelos ir e vir pola estrada e campo da terra
firme e emtrar pola porta da serra; e estes capitees que aly mamdey, to-
maram naaos de barbara e zeila carregadas de mamtimemtos, e
tomaram os mamtimemtos e poseram ho fogo s naos e se vieram.
Visto isto tudo, chegamdo capitees, me fiz vela caminho 'a porta
do estreito, e posto qe fose caminho de huum dia e hua noute, pus nele
dous dias, por guardar ho cus tu me de descobrydor; porque toda esa costa
per hy he limpa e parcell de boom fumdo pera sorjir em quallqer parte;
e chegamos ha porta do estreito e lhe fyzemos toda a festa d artelharia e
trombetas e bamdeiras qe bem podemos: sorjimos de demtro da porta do
estreito por aqele dia no pouso dos leuamtes, todos jumtos; e ns surt.os,
vem ha nao de mouros demamdar a porta, e qeremdo abocar a porta do
estreito, ouue vista de ns que estavamos surtos, e teve se ora, e sorjyo
detrs da ilha qe estaa na boca do estreito, a qe os mouros chamam myvm ;
e por estarmos a sotavemto e nam podermos ir a ela, se salvou; e at .
emtam nam era diamte de ns senam hua soo na o de dabull, todalas ou-
tras eram atrs de todalas partes, que a jud aviam de vir com espicia-
ryas; e nam ousamos aly esperar hum soo dia mais, que ho tempo e a
necesidade d agua me tinha posto em gramde afromta, por ser terra nova
que aviamos de descobrir co prumo na mao, em terra em que hy nam
ha agua, nem por entam nam tinhamos sabido outra senam dizerem os
mouros que havia em camaram; e nas naos de barbara e zeyla tommos
pilotos do estreito, qe qu chamam Rubees, homeens conhecedores dos
baixos e dos pousos e dos portos, e comtudo hua nao de chavll que tra-
zia tomada, que depois alarguey por nam trazer espiciaria nehua e ser
de lugar trebutareo de vos alteza, mamdey a com xx homens
CARTAS DE AFFONSO DE AIABUQUERQUE ~ 1 5
diamte de mim porta do estreito, pera me tomarem huum Robam, porqe
moram aly todos, e com huum dos judeos que trago por Iymgua, que se
j tornou cristo; e todalas naos qe rtntram ho estreito os vem aly tomar:
chegamdo ha nao ha porta, emtrou logo huum Robam nela, e os nosos
se alevamtaram logo domde estavam escomdydos, e lamaram mao dele,
e aps isto chegmos ns, e era muy boom homem e sabia muy bem seu
oficio; moram aly na porta do estrr.ito, e vivem per este oficio, e tomam-
nos aly as naos que navegam pera o estreito, e levam xxb
1
, xxx cruza-
dos at jud.
Daly nos partimos e fizemos noso caminho polo mar a qe eles cha-
mam largo, qe he a meyo estreito, vemdo sempre a ost.a da ilha darabia
e a costa de preste joham; e hiamos demamdar ha ilha que se chama
jebelzocor, e jaz a meyo estreito, omde surjem as naos qe vam pera jud:
nana podemos aver aqele dia, e por sermos muytas naaos e nam amco-
rarmos de noute sobre ilha e terra qe nam tnhamos descuberta, pedy aos
Rubees qe me desem porto, e emtam arribamos sobre a terra d arabia,
e aly r JUSamos em fu1ndo d oyto braas, dez braas, doze braas, detrs
de hfua pomta, qe nos abrigava dos levamtes, e aly istivemos aqela noute
surtos todos jumtos, omde achamos certas naos de barbara e zeila, que
hiam carregadas de mamtimemtos e moos e molheres da terra de preste
joham, qe hiam vemder ajud e meqa: tomamos os mamtimemlos e mo ..
os e molheres da terra de preste joham qe hyham vemder a jud e a
meqa, e os mouros se salvaram a nado, e mamdei lhe tomar os mamti-
memtos e pr ho fogo s naaos; e mamdey aly decepar as maos a cer
tos mouros da terra do xeqe d adem e cortar as orelhas e os nary1.es, e
lamal os na terra d adem, e a todolos outros qe se tomaram de demtro do
mar roxo, fiz ho semelham te, tiram do os de camaram, qe deses m espe-
ra\'a aproveitar em nosa navegaam. .
E por meyo estreito, a qe os mouros chamam mr largo, vemdo sem-
pre a costa da terra de preste joham e da bamda da terra d arabia, fize-
mos noso caminho via de camaram, e ouuemos vista da ilha de jebelt{)
cor, omde os Rubes deziam que fose sorjir; e case tamto avamte com
ela ouve por milhor comselho arribar sobre a terra e sorjir, porque ho
vemto era ao lomgo da costa, e como era noute acalmava, e arreceey ho
pouso da ilha ser piqeno e nam podermos todos sorjir nele, e aly omde
' Vinte e cinco.
2!6 CARTAS DE AFFONSO DE AIABUQUERQUE
esta vamos surtos vyamos a ilha; e a mim me pareceo qe nam poderya-
mos aver pouso da ilha de dia, e os Rubees me levaram em fumdo de
dez braas, omde jouvemos surtos aqcla noute perto da terra da bamda
darabia.
Quamdo veyo outro dia pela menham, nos fizemos vela, e fizemos
noso caminho via de eamaram ; alargando nos em mar, nos achegmos
jumto com a ilha de Jebelocor, e fizemos noso caminho dereito a cama-
ram. Semdo duas oras amtes de sol posto, pedy porto aos Rubees, porqe
sempre qelas oras hia tomar pouso, por nam fazermos algum mao Recado
. de noute, polas naos serem muytas, e tomarem pouso de dia; eles me le-
varam ha hua emseada de huum lugar qe se chama luya, qe tem ha
pomta e hua Restimga ao mar, e detrs dela h e boom pouso de levam-
tes: arribamQs ha terra has oras qe dito tenho, e huum Rubam deles huum
pouco leve quis se vemder emtam por mais sabedor que -os outros, bra-
damdo qe fossemos ora qua{Ilto podesemos, e hiamos com ho prumo na
mao, e nam dobravamos por aqele caminho a Restimga; e dom garcia
qe era diamte, levou o ho seu Rubam ao porto verdadeiro; e imdo ns asy
somdamdo, ho prumo mimguava de cada golpe tres e quatro braas, como
fumdo dalfaqes e nam pareell: quamdo vy h o fumdo asy mimguar de
golpe, bradey ao navio Rosairo qe fose diamte de mim e qe somdase imdo,
e ele ho fez bem mail, porqe ho noso prumo tocou oyto braas, e ao ou-
tro golpe tocou quatro e meya; e o noso piloto, nam muito esperto, de
nam onlhar qe, nam e r ~ parcell mas eram alfaqes, deu lugar ao comselbo
dos Rubees, por omde eu mamdey fazer ho caminho, e o prumo tocamdo
quatro braas e ma, a nao deu tres pamcadas em huum bamco, e demos
fumdo amcora, e as velas demos com elas dalto a baixo, e a nao afilou
f sobre. amarra e cayo em cimqo braas e meya, e nisto acudiram os bats
deses navios, qe sorjiram derredor de mim, a saber, Iopo vaaz de sam-
payo, dom joham dea, pero da fomseqa, symam velho, femam gomez de
lemos: alguas naaos conheceram noso trabalho, e coryam de Iomgo to-
mamdo ho pouso omde estava dom garcia, somemte manoel de Iacerda e
aires da sylva e symam d amdrade, qe sorjiram em pego, e mamdaram os
seus bals a me ajudar; e outros ouue hy que ho nam fizeram tam bem.
Vemdo asy ir as naos de lomgo, aqelas qe tinham batees gramdes
pera portar nosas amcoras, deyxey emcarregada a nao a Iopo vaz e a pero
da fomseqa e eses capitees que hy eram, e a diogo femamdez, que posto
qe estivese muito ferydo de htlua espimgardada em adem, sayo acima e
'

CARTAS DE AFFONSO DE ALBUQUERQUE il7
man1dou muy bem a nao, e trabalhou muyto pola sua salvaam; e logo
aly ouuemos comselho, que damdo hiia toa a madanela, alam do se a nao
a ela, sayria em desaseis haas; e o piloto da nao ho fez como bom ho-
mem, e trabalhou niso maravylhosamente, e saltou logo em hum esqyfy
e son1dou tudo de redor da nao, e achou boa sayda per aly, por acor.. /
darmos de dar ha toa: emtam me mety em huum navio piqeno dos de
goa e fiz lhe dar as velas, e alcamcey as naos e filas sorgir e amaynar,
dizemdo alguas palavras aos capites qe ao tempo comvynham, e nisto
a nao satoou, e nosa Senhora da guadelupe e nosa Senhora da serra a
tiraram em muy pouco tempo e espao em fumdo de catorze ou quymze
braas, e ajuda de cavaleiros e fidalgos e je1nte homrada qe nela hia, qe
jumtamen1te trabalharam todos como homeens de bem e em qe avia es-
foro e omrra, porqe os marynheiros naqele tempo todos vam buscar as
suas caixas; e a nao nam fez agua nehua, e ficou tam estamqe como
quamdo partio de purtugall, porqe has tres pamcadas nam foram senam
muy piqena cousa, somernte quamto ha naao fumdiava ao pasar daquele
bamco: dom garcia nam soube disto nada, porque era diamte, e estava
no pouso verdadeiro, nem me podera socorrer, aimda qe quisera, porqe
ele estava surto a sotavemto de mim.
_ Ao outro dia nQs fizemos todos vela, e viemos sorjir jumto com
camaram, e estivemos aly aqela noute: tamto qe surjimos, mamdey cer-
tos ootees armados e vela, porqe via sair jelbas do porto de camaram
vela, e cuidamos qe era a nao de dabull qe vinha diamte de ns e hia
a uaqem com Roupa; e os batees tomaram alguuns barcos da mesma
ilha que passavam a jemte da ilha ha terra firme, e tomaram hy certos
mouros e mouras e alguuns Rubees, e detiveram ahy ht1a nao do soldam
do cairo .da feiam das do mar Roxo, e outra nao gramde de mercadores,
e duas novas, varadas em terra; e ao outro dia, depois de som dado ho
caminho e o pouso pelos nosos pylotos, viemos surjir. no porto de cama-
ram, e ao outro dia nos leixaram os levamtes e comearam de vemtar os
ponemtes.
E posto qe fosse no cabo dos levamtes, os pilotos mouros que tra-
zia, e os Rubees de demtro do estreyto me poseram esperan1a qe ave-
ria hy levamtes que me levasem ajud, suez e ao tor, que trabalhase por
tomar nosa agua ho mais cedo qe ser podese; e dey nese feito tam gramde
presa e delygemcia, qe em sete dias tomamos todos nosa agua, e daly
avamte nam bebemos agua das naos senam sempre da terra; e com as
iS
,

' I
2t8 CARTAS DE AFFONSO DE ALBUQUERQUE
vergas d'alto e nosas amcoras a piqe, aguardamdo a merc de deus, aly
ouuen1os gramde abastama de carne de cabras e can1elos, que habastou
a tod armada; e alguuns mouros e mouras que nam tiveran1 tempo pera
pasar terra firme, se tomaram depois na ilha, amtre os quaees se tomou
huum homem homrado, que foy xeqe e senhor da ilha de dalaca e de me-
u e das ilhas da pescaria do aljofar, e hum seu sobrynho: perdeo sua
terra, porqe ho xeque d adem deu ajuda ao qe agora estaa por senhor da
terra, que ho desbaratou e ho lamou fra dela, e paga pareas ao xeqe
dadem.
Pasados asy alguuns dias que vy qe os levamtes nam vynham, certo,
senhor, eu magastey bem, porqe at emtam pola mayor parte sernpre
vemtaram oestes, oesuduestes, e sbela tarde volvia o vemto ao noroeste
e ao norte; e parec me que os pilotos e Rubees me tinham emganado,
e que de fra da ilha hiam outros verBtos: emtam determiney de mam-
dar a caravela de fra da ilha ver os vemtos que l vemtavam fra, e
achou os meJmos vemtos, porque ha ilha de camaran1 he toda Raza case
ao olivell do mar, e os vem tos qe de fra corryan1, eses mesmos tinhamos
aly; e daly alguuns dias comeou de vemtar levamtes, e nos fizemos to-
dos vela, e saymos de fra per amtre huas ilhas e coras d areia, lu-
gar asaz bem apertado pera as nosas naaos, e fomos a bnuas ilhas
que estam fra na sayda pera o mar largo, e jaziamos amcorados em
fumdo de xxx e xxb
1
e xx e xb' braas: os vem tos tornaram logo ao po-
nemte, oeste, oesnoroeste, e sobre noute norte e nornoroeste, e aly esti-
vemos surtos xxij dias, aguardam do a merc de deus: s vezes nos vinha
vemto Rijo maneira de viraam, qe durava tres e quatro oras, e tornava
logo a calLnar, e por as naos estaren1 em fumdo alto, alguas comsemtiam
d amara: nestes dias mamdey joham gomez na caravela ao mar e o piloto
domimgos fernamdez, que fosem ver mar e vemto qe hia de fra, e che-
gasem a h \lua ilha qe chaman1 ceibam, qe est no meyo do estreito e ua-
vegaam pera jud e pera suez e pera todas aqelas partes, e fizerano asy:
de hua volta na outra cobrarao1 a ilha, e tomaram somda derredor dela,
e volveram logo omde eu estava, gastados os dias determinados Por mym,
e acharam as mesn1as bonamas que ns tinhamos, e somda derredor da
ilha, e nam acharam fora d agua qe pera ha bamda nem pera
a Vinte e cinco
J Quinze.
j
'.
I
CARTAS DE AFFONSO DE ALBUQUERQUE 219
o
a outra, que nos deu assaz esforo pera nosa determinaam, avemdo hy
vemto, pera na volta e na outra podermos cobrar jud, ou ao 1nenos da-
laca e meu e a terra portos de preste joo, ou em quallquer outro
lugar daqela costa e terra do . preste joham, qe se chama arquyqo e jaz
fromteira na ilha de dalaca e da ilha de meu.
os dias qe dito tenho, nos faleceo agoo e volvemos a ca-
maram tomar agua, omde achamos duas naos da feiam das de cambaya,
sem jemte e achegadas terra firme, e pouco fato nelas: vynham de ji-
zem, que he_ navegaam de dons dias de camaram comtra jud, terra e
porto de h num xerife daqela terra de jizem, e qeryam sair per a adem;
e tomamos nossa agua ho mais prestes qe podemos, e volvemos logo ao
lugar que dito tenho, com hiiua bafujem de terrenho que nos l ps, di-
zemdo me os Rubees e pilotos, que saymdo huna estrela ao sull, a que
eles chamam turia, viryam dous ou tres dias de levamte, qe ao menos
nos poeryam na terra de preste joham da bamda d alem, navegaam de
dons dias e ha noute; e aguardamos aly alguuns dias que nos vyese
tempo pera atravesarmos; e estam do asy naqele lugar surtos, corntra a
de preste joham nos apareceo _huum synall no ceo de ha cruz desta
feyam, muy crara e respramdecemte, e veyo ha nuvem sobrela; che-
gamdo a ela, se partio em partes, sem tocar na cruznem lhe cobrir sua
crarydade; foy vista de muytas naaos, e muita jemte se asemtou em jyo-
lhos e hadorou, e outros com devaam adoraram com rnuitas lagrymas:
rnamdey tirar imquiryam per todalas naaos, e a mayor parte delas s afir-
maram verem ho synall da cruz estar por huum boom espao muy crara
e da feiam e amostra qe aquy vay; e eu tomey daquy que a noso se-
nhor aprazia fazermos aquele caminho, e qe nos mostrava aqele synall
pera aqela parte por omde s avia por mais servido de ns; e como ho-
meens de pouca fee nam ousamos de cometer o caminho, qe creo que has
nosas naos de h tia volta na outra o poderam a ver: e pecou isto tambem
por ser j homem velho, vadeado da comdiam e incrinaees dos ho-
meens, porque asaz de descomtemtamemto me ficou de nam cometermos
aqele caminho, porque me pareceo que ouueramos todavia a terra de
preste joo da bamdalem (sic), omde fizeramos a deus e a vosa alteza
muy gramde e muy asynado servio, porque vejo ho feito da imdia levar
hum caminho como cousa emderemada per deus.
Estive asy mesmo naqele lugar surto asaz de dias, aguardamdo a
merc de noso senhor, at que agua se e o ms de mayo em qe
i8

I
220 CARTAS DE AFFONSO DE ALBUQUERQUE
tinhainos algua esperama de boom tempo, era j acabado, e volvemos
a camaram, j que os vemtos eram oesnoroestes e noroestes de todo po-
nemtes: emtatn aparelhamos aly nosas naaos, e demos pemdores quelas
. que diso tynham necesydade; tomamos nosa agua huum pouco mais deva-
gar: fizemos redes com qe pescavamos, e he lugar que ha hy avomdama
de pescado, e alguuns camelos que imda amdavam montados pela rlha,
diso nos mamtinhamos, e comyamos muy bem; e de todolos outros mamti-
memtos tinhamos asaz, porque tomamos muitas naaos de mamtirnemtos,
que hiam pera jud e meqa; e alguns mouros e mouras da ilha de cama
ram me vierarn Resgatar por mamtimemtos, e nos trouxeram 1nuitas vacas,
cabras e galynhas, huvas, pesegos, marmelos, Romas, tarnaras e figos da
imdia; e pasamos asy ho ms de junho e julho sem neha chuva, nem tempo
em que nam podese amdar muy bem huum batell per todo ho mar Roxo.
Volvido a camaram a segumda vez, feito futndamemto de haparelhar
nosas naos pera no ms dagosto sayrmos fra, determiney de mamdar a
caravela fra ao mar, ver se podia a ver alga jelba, pera sabermo.:; alga
nova da terra, porque ho estreito todo ano se navega com estas jelbas pi-
qenas ao Remo e vela, e levou por determinaam minha ver se podia
a ver a ilha de dalaca e meu, e lhe dey huum Rubam da mesma terra;
e nam fiz mais preposito nem fumdamemto nisto que mamdar joham go-
mez e a caravela asy gastar alguns dias, e descobrir terra por ese estreito
omde podese; e ele se deu a tam boom Recado, e o fez tam bem, que
ouue a ilha de dalaca e algiias ilhas per hy derre.dor, omde pescam ho al-
jofar, e nam pde tomar neha, porqe sam navios sots e lijeiros, e me-
teran o por eses bayxos e cabeas d ara em taU maneira, qe nam foy polo
caminho da verdadeira navegaam, e chegou a dalaca, sorjio no porto, de
fra de huuns baixos que ho porto tem, foy ho esqify da caravela em terra
fala com a jemte; nam curaram de pergumtar qem eram, porque dias
avia que per todo .ho estreito era sabyda nosa emtrada e .avisado lugar,
em tall maneira qe certefico a vosa alteza, que barco nem almadia numca
navegou ho mar, nem as aves nam pousavam no mar, tam asombrado foy
ho mar roxo com nosa emtrada e tam ermo; somem te lhe pergomtaram
qe qeryam: diselhe joham gomez, que vynha aly por meu mandado, se
qeryam comprar algas mercadarias, que lhas vemderiam. Respomde-
ram lhe que na terra nam avia mercadores, senam jemte de guerra; e asy
se despedi o deles, e correo a ilha e descobryo a muy bem; e por nam levar
certa determynaam minha, nam se achegou terra firme do preste jo-
I
CARTAS DE AFFONSO DE AIJBUQUERQUE 2 ~ 1

ham, qe se chama arquiqo, que estava asy sua vista como Ribatejo de
lixboa; e meu jaz l mais lomje demtro em hua emseada ao longo da
costa caminho de buum dia.
Acabado de ter tudo . visto, e descoberto todas esas ilhas per hy der-
redor, se tornou polo caminho largo e de gramde fumdo por omde as naos
dos mercadores navegam, e mais nam fez que ho que dyto tenho, porque
nam levava rrejimemt.o nem determinaam minha, somemte descobrir ho
caminho, com fumdamento da nosa hida l, se algum vemto nos viese
pera podermos navegar, porqe, se fra de todo descon1fiado do tempo,
mandara este feito milhor provido, e omeens que tinha j ordenado com
Rejimemto e cartas pera mamdar ao preste joham, os quaes poseram na
terra firme em poder de capitees seus, qe os levaram, e eu creo que ele
fizera tudo, como homem de bem que ele he; e trouxe me dalaca pimt.ada,
ilhas e mar, h o milho r q ele pde: l ha man1do a \'Os a alteza esa atnostra.
Estamdo asy em camaram, deter1niney d esprever ao xeqe d adem
sobre os cativos que l tem, que se perderarn no bargamtym de duarte
de lemos; e huum mouro que tinha cativo com sua molher, lhe dise que
eu lhe daria sua molber, se me levase hua carta ao xeqe e outra aos ca-
tivos cristos, e amdase no Resgate dos cristos: era hum n1ercador que
j outra vez eativey, e a rogo de miliquys ho soltey, e tiuha j alguum
conhecimemto de inim: mamdeyo pr na terra firme com as cartas e des-
pesa pera sua ida a hua terra que se chama zebit, terra omde bo xeqe
d adem est, jornada de sete dias d adem: ho mouro chegou a casa do
xeqe, e lhe deu minhas cartas, e tornou e omens do xeqe com ele, os
quaes numca mais ho leixaram Calar comigo, nem vir mynha nao, nem
falar com nehum ... homem que l mamdase, somem te amostravan o de
lonje, e ele mamdava prometer cem pardaos por sua molher, ora mam-
dava prometer duzemtos: reposta do xeqe nem dos cristos me nam trouxe,
nem menos.lhe- comsemtiam dar me rezo de neha cousa destas per pa-
lavra; e deram lhe lugar que mamdase galynhas e carnehos e vacas e hu-
vas e marmelos e Romas e toda fruyta da terra, e nam pude emtemder
este negocio, some1nte nam poder a ver mais nehum Recado dos cristos:
ho qe soube deles, he que comearam de fojir amtes de minha vimda, e
semdo em mar em hua jelha, os tomaram, e deram lhe a comer hua
viamda com qe os embebedaram, e estiveram tres dias sem darem acordo
de sy, -e lhe fizeram ho synall de mouros emquamto asy jaziam sem
acordo, e mais nam pude saber: diseram me que eram quatro ou eimqo

,
ft! CARTAS DE AFFONSO DE AIABUQUERQUE
Neste mesmo tempo que estive em camaram, mamdey fazer espe-
ryemcia de call aos pedreiros que trazia comigo, e achamos pedra em .
abastama pera a fazer, e das casas e mezquitas e adefycios amtigos muit
camtaria e pedra: na ilha ha pouca lenha, somcmte em ha terra alaga-
. dya do mar em que ha mangues piqenos, 111ato, arvoredo disto; despo-
sysam e lugar pera forteleza, a mylbor do mumdo; porto morto de todo-
los vem tos, boom fumdo e booa tema das amooras: a terra firme est
tam perto como dalmada a lixboa; agua muita e em muitas partes da
ilha, que em todalas outras ilhas qo estreito nam ha, somemte em hilua
ilha chegda mais ajud dons dias de camaram ba hy agua e alguns mo-
radores: he do senhorio do xerife jytem: na ilha de camaram ha gramde
avomdama de pescado boom; em todas as outras ilhas nam ha hy agua
por todo ho estreito, somemte en1 dalaca, nem menos em meu hy
agua; da terra firme do preste joham a trazem, que est tam perto da
terra que pde h u u q ~ homem bradar e ouvilo na outra bamda: quan1do
chove, recolhem agua em cizternas: a rezam por que nam fiz forteleza
em camaram, em houtra carta ho direy a vosalteza mais largamemte.
Em Clmaram, da primeira vez que chegmos, achmos quatro naos
gramdes:.duas em mar, que eram do soldam do cairo; bo feitor seu, que
est em jud, tratava fazemda do soldam nelas; e outras duas, que esla-
vam em terra correjemdose, como j dise: e asy achmos algua marca-
daria de Roupa do cairo, veludos, brocados, peas de pano de lynho com
ourelas de seda, panos azuees de lynho com bamdas, outros panos de
seda que chamam tafeciras, e panos de laam azuees e vermelho, cobre
feito em pees, gramde e mail feito: diseram me estes judeos do ca.iro que
trago comigo por lymguas, qe era cobre fumdido no cairo de moeda do
cairo, e que lhe mesturam chumbo poJa qebra que ha na fumdiam, por-
que nam podem a ver cobre no cairo, por nam virem as gals e naos, como
soyam, pola espiciaria.
Aly em camaram tommos mouros de jud, Rubees e marynheiros,
qe sabem a navegaam e portos do mar Roxo; deles avia dous meses que
partiram de suez, e outros que emtam chegavam de jud e outros do tor;
e de todalas partes tive nova: ho qe soube_ de jud, he qe ela he cercada
da bamda da terra firme de muro e torres que lhe fez mira ocem: he lu-
gar piqeno, a mayor parte casas de palha; tem hy ho soldam huum fei-
tor qe terr vimte mamalucos; arrecada os dereitos da espiciaria; e os de-
reitos de todalas outras mercadarias e mamtimemtos sam do xerife par-

CARTAS DE AFFONSO DE ALBlJQUERQUE
cate, senhor de meqa, ho quall amda sempre em temda com eses alarves
que vivem derredor da cidade de meqa; nam se fia da jemte do soldam,
quamdo vem a cafila, porque ho levaram j preso ha vez cairo; vem
poucas vezes ajud: ho porto de jud he abrigado de todolos vemtos,
cercado d arrecifes de pedra maneira d ilhotes, aparcelado hum pouco
pera o lugar, em taU maneira que todalas naos estam hum boom
afastadas do lugar: de jud a meqa ha huum dia de caminho de huum
homem a cavalo; e a p e de camelos de carga he jornada de huum dia
e meyo: em jud nam ha hy mamtimemtos, nem lhe vem da terra; todo
provimemto he de zeyla_e barbara e de dalaca e de meu e dalguns lu-
gares desa costa darabia, terra do xeqe dadem; e de jud se mamtem
meqa: foy posta jud e meqa em gramde necesydade de matntimemtos
com ha nosa emtrada do mar Roxo, porque lhe nam acudio mamtimem-
tos nehuuns de nehiia parte, e algua jemte mevda se foy dela, pola ca
reza dos mamtimemtos; e alguns moradores se partiram ha j dias dy,
polas espiciarias e mercadarias nam como nos tempos pasados;
e eses que hy ficaram, estam comfiamdo, que lhe dise ho soldam que fa-
ria tam gtamd armada pera a imdia, que tornase abrir h o caminho e trato
como d amtes era; mas eu comfio na myserycordia do muy alto deus, qe
eles nam qereram Romper as lamas sob r esa qerela cos vosos cavaleiros
e vosa armada.
As verdadeiras e certas novas de suez e d armada do soldam sam
estas, comtadas per mouros que de l chegaram avia muy poucos dias,
pregumtados hum apartado do outro, e todos comcertaram na mesma
cousa, dizemdo que alga fustalha meda avia hy feita at xb peas
1
,
aguardamdo pola madeira das naos que lhe l tomaram em Rodes; e que
depois da ida de mira o cem de qu da imdia, a cousa s esfryara, e nam
lavraram mais neha cousa, somemte avia ahy em suez trymta homens
que as guarda'Vam nanas qeymasem os alarves, que s vezes hy vynham
correr; e a nova que se lamava daver hy muitas naos, era por se nam
desfazer ho porto de jud, mas qe a verdade era aquela que eles comta
vam: diseram me mais que estes xxx hon1ens que haly estavavam em
guarda, que lhaguavam os costados cada dia pela menbam, polo soll nanas
abrir, e que nam avia hy mais neha nao, nem madeira, nem carpim-
teiros, nem mastos, nem velas; e asy me diseram que as nosas naos po-
I Quinze peas.
2!4 CARTAS DE AFFONSO DE ALBUQUERQUE
diam ir at suez, que avia hy muy boons portos, nomeamdos por seu
nome, e he muy piqeno caminho de jud a suez, e muito mais piqueno
de camaram ajud; e de jud ao tor piqueno caminho he, porqe ho tor
est amtre suez e jnd; he lugar todo de cristos da cimtura, sojeito ao
soldam: suez foy hua grande cidade; despouoada, adeficios gramdes to-
dos derribados, he synall de ser naqele tempo gramde pouoaam, e aly
m pareceo que devia de ser syamgaber, de que ha brivia fala.
Ho senhor e xeque de d a l a c ~ e de meu, que tomey em camaram,
me dise que hum seu prin1o com irmo que ele matara ho pay, com ajuda
do xeqe d adem h o lamou fra de senhorio e da terra, e per este respeito
tem ho xeqe dadem por capitam hum seu espravo na ilha de dalaca, e o
xeqe est na ilha de meu, e nam tem mais que ho nome, porque este
espravo tem tudo e recolhe tudo e dalhe o qe quer: este xeqe que asy
tomey em camaram, me deu larga comta da ilha de meu e de dalaca,
e como o senhor daqelas ilhas asenhorea pescaria do aljofar toda, e que
a eJe pagarn os dereitos as jelbas que de muitas partes da costa d arabia
e doutras partes ho vem aly pescar, e afora os dereitos lhe dam, logo
como ven1, os primeiros dous dias da pescaria pera o senhor da terra e
os derradeiros dous dias, quamdo se qerem partir; e me dise como os
mercadores do caito, de jud e adem ven1 aly no tempo da pescaria a
hua ilha que est chegada com dalaca, que se chama nura, omde os
pescadores todos vam tirar ho aljofar, e que levam dinheiro e rnercadaria
e mamtimemtos, e que compram gramde soma daljofar, e pagam a estes
pescadores que h o amdarn pescam do, e muitas vezes lho dam d amte mo
fiado; e que ha hy aljofar groso, e que h e muito fino ho que se aly pesca.
E asy n1e dise como meu he hna ilha jumto com a terra do preste
jobam, qe tem ho lugar pouoado de tnouos, de muy boas casas e moy
fermoso lugar: nam ha hy agua nele senam de ciztemas; he muy boom
porto de todolos vemtos; h o porto de preste joham qe est defromte, cha-
mam lhe os da terra dacanam, e os mouros chamam lhe zeila a velha: as
naos da imdia vem primeiro a dalaca, e de dalaca vam a meu, e aly
Resgatam suas mercadarias por ouro, marfym, cera, mamteiga e alguuns
esctavos abexins furtados na terra; as mercadarias que levam, saro estas:
espiciarias de toda sorte, e a mayor soma pimemta, brocados e sedas e
perfumes, cotonias dalgodam, teadas dalgodam, roupa baixa doutras sor-
tes: pagam de rei tos ao xeqe de meu, e pagam iso mesmo no porto de
preste joham, qe estaa da outra bamda da ilha de meu: diz qe vem aly

CARTAS DE AFFONSO DE ALBUQUERQUE 225
frades dos avitos de sam domimgos; trazem laramjas, limes e h uvas a
vemder, e compram algua Roupa pera ho moesteiro, que ser per es-
pao de quatro jornadas daly: diz qe aver mill frades naqele moesteiro.:
tem o preste joham sobre aqela terra hum governador e capitam de jemte
de cavalo e de pee: a terra qe estaa fromteyra de dalaca, h e ha cabila
de mouros sojeita ao preste joham, jemle pouca, e vivem na Ribeira do
mar, e a qe est fromteira de meu, qe se chama dacanam, h e toda de
cristos: na soma do ouro me nam soube dizer certeza do qe se cad ano
por aly tira, somem te me dise qe se fosem cem naos cad ano carregadas
de pimemta e de cotonias e teadas, Roupa dalgodam baixa, que todas le-
variam seu Retorno em ouro; que na terra do preste joham ha gramde
soma douro e gramdes minas dele, e que ~ e gastaria gramde soma de pi-
memta, se ha levasem. Dise me mais que ho preste joham se trabalhara
por muitas vezes por ganhar a ilha de meu, e qe nam tinha com que
pasar a ela, e qe temtara j de tapar ho brao do mar que vay amtre
ilha e a terra firme, e nam podera; e qe a terra de preste joham he muito
necesitada de roupa grosa dalgodam da imdia: diseme mais qe tinha
gramdes desejos de nos ver e de nosa comversaam e trato, e que lhe pare-
cia qe se aly chegase capitam de vos alteza com armada, qe viria h o preste
joham em pesoa a velo, e ver as naaos e armada de vos alteza; e qe tinha
gramdes desejos de destro ir a casa de meqa, e qe lhe parecia que damdo lhe
vosa alteza embarcaam, qe pasaria. gramde soma de jemte de cavalo e de
p e alifamtes: e eu ho creo verdadeiramemte, por emformaam que tenho
doutras muitas pesoas; e os mesmos mouros tem que h o preste joham h a
de dar de comer a seUB c a ~ a l o s e alifamtes na mesma casa de meqa, e est
asy asemtado amtr eles como porfecia: prazer noso senhor que lhe dar
vos alteza ajuda pera o tall feito, e qe seram vosas naos, capites e jemte
no mesmo feito, porqe a travesa he de dous dias e hiiua noute.
Dalaca he hua Ilha gramde posta com ha terra firme do preste jo-
ham: aver nas aldas da ilha setecemtas casas de jemte de trabalho: ho
lugar primcipall ser de duzemtas casas; ter aqele capitam do xeqe qe
aly est, cemtomeens; ter dez ou doze cavalos: a ilha he de gramde crya-
am de gado; h a hy nela poos d agua, cizternas muitas; e na ilha de
meu nam ha hy jemte d armas senam mouros naturaes d adem e dou-
tras partes, e xb ' ou xx homens qe ter ho xeque daqelas ilhas, tem ca-
J Quinze.
CARTAS DE AFFONSO DE ALBUQUERQUE
sas de pedra e call, he lugar muy fermoso: outra ilha que chamam nura,
ter at xxx casas: alguas ilhas piquenas per hy derredor de dalaca, as
qe tem agua, tem alguuns moradores, pescadores e jemte mizquynha, e
todas sam senhoreadas deste dalaca e de meu.
Avida toda a emformaam de todalas cousas de demtro do mar Roxo,
algas vistas per mim e joham gomez com a caravela que per meu mam-
dado foy a dalaca, e bem asy portos, ilhas e lugares, qe desposisam po-
deriam ter pera nela tomarmos asemto, e nos fazermos fones, eu tomey
por determinaam, se a noso senhor aprouuera de me leix.ar chegar l,
fazer forteleza em meu e asenito, por ser boom porto pera nosas naos,
e estarmos pegado na terra do preste joham, porto primcypall de sua
terra, abastada de mamtimemtos e de jemte de socorro, se nos comprise,
e de todalas outras cousas de qe podesemos ter necessidade, e qe
ra a pescaria do aljofar, e a tem toda debaixo de seu mamdo, e por
omde vos alteza poderia aver todo ouro da terra de preste joham, e gas-
tar gramde soma de pimemta e doutras muitas mercadarias; e sam tam-
tas.outras cousas de servio de deus e de vos alteza qe se aquy podaram
fazer, que nam podem escrever: e digo isto a vos alteza, porqe vy h o
mar Roxo, e vejo corno noso senhor vay despoemdo; as cousas da imdia
a todo bem, e asy as do acrecemtamemto de voso estado e fama e nome ..
como as de toda a.Riqeza, e ouro quamto poderdes desejar, sem neha
comtradiam: e quamto s fortelezas da ilha de camaram e ilha de mevm,
que est na boca do estreito qe se agora chama da vera cruz, e doutras
partes de do mar Roxo de qe nam fiz fomdamemto, por emtam,
<\e fazer hy fortaleza, per outra carta darey diso rezam a vos alteza mais
largamemte; somemte digo, senhor, que faaes fora no mar roxo, que
nam se poder crer a Riqeza que averees, e como todo ouro qe emtra na
imdia da do preste joham estar todo na vosa mao, sem nehua
duuida, afora ho gasto de cobre e mercadarias deses Regnos, de que se
pode aver gram soma de dinheiro na imdia.
E porqe vos alteza tenha emformaam verdadeira das cousas da boca
do mar roxo pera demtro, di las ey aqy h o mais em breve qe poder, e as
miudezas poder vosalteza saber per muitas pesoas que l forem; so-
memte digo, senhor, qe a porta do estreito, a qe os mouros chamam ba-
belmamdem, he lugar muyto estreito; da hua bamda vay a ter.ra do
preste joham, a que os mouros chamam ajem, e da outra bamda vay a
terra darabia, a que os mouros chamam a ilha darabia: nesta boca do
,' ...
.. ,

CARTAS DE AFFONSO DE AIJBUQUERQUE
-
mar Roxo est hua ilha a qe os mouros chamam mium, como dito te-
nho; jaz atravesada neste estreito da bamda da terra d arabia, terra do
xeqe dadem; amtre ela e a terra finne vay huum canal de largura
hum pouco qe dalmada a lixboa, e por aquy pasam todas as naos dos
mouros que vam pera jud e pera todas esas partes, porqe vem com le-
vamtes, e pousam da bamda da terra d arabia, terJ;a do xeqe d adem, qe
he boom porto de levamtes; e defromte da ilha de mi um, no mesmo pouso
e porto de levamtes, est huna qe de baixa mar pasam a p emxuto
pera ela, e nesta ilheta estam casas dos Rubes, que sam pilotos de
demtro do estreito, e as naos surjem aly, porque leva cada hua seu Ru-
bam daqeles pera sua navegaam, lugar e porto pera omde qer fazer seu
caminho, de demtro do mar Roxo: ha no mo deste canal I amtre a terra.
dos Rubees e a ilha de mium doze braas, e no pouso dos levamtes oito,
nove, sete, e a porta do estreito em altura de doze graos e dous teros:
desta bamda da terra omde est ha ilha dos Rubees comtra adem,
tes que emtrem a porta do estreito, est huum boom pouso de ponemtes,
e tem agua huum pouco afastada da Rybeira do mar; no lugar omde os
Rubees estam, nam ha hy agua, nem no pouso dos levamtes; trazem lha
ahy em camelos.
O outro canall qe vay da outra bamda da terra do preste joham,
amtre ha terra firme e a ilha de mi um, ha gramde fumdo de xxb ', xxx
braas; tem de largura da terra firme ilha como de lixboa a barra a
barra (sic); per este canall navegam poucas naos, polo que dito tenho,
mas he mais, alto e mais largo que ho outro.
Partimdo da porta do estreito at suez, fazem os mouros tres repar-
ties no mar roxo pera sua navegaam, e tomam por fumdamento que lar-
gura do mar Roxo ha hy xij jemas, que sam tres symgraduras das nosas
naos, que poder hy aver xxx legoas no mais largo do estreito, e repar-
tenas nesta maneira: quatro jemas, que he hua symgradura de mar
ujo dilhas, baixos e parcees, ao lomgo da costa da ilha darabia at suez;
e outras quatro jemas de mar ujo ao lomgo da costa da terra de preste
joam at coaer, porto que est case norte sull co tor, no cabo do mar
Roxo perto de suez; e dam outras quatro jemas de mar lympo per meyo
do estreito: os Rubes que tomam na porta do estreito nam sam pera na-
tegaam do mar largo e limpo, que he a meyo estreito, sanam pera quamdo

a Vin&e e ciaoo.
'




228 CARTAS DE AFFONSO DE ALBUQUERQUE
hy ha tempos comtrairos e as naos qerem vir buscar ha bamda e outra,
saberem lhe dar portos amtre aqelas ilhas e baixos, porque a meyo es-
treito nm mamda nimguem as naos nem ho caminho senam os pilotos
que levam da imdia: este meyo estreito, a que eles chamam mar largo,
tem de fumdo, xxb
1
, xxx braas, e de quaremta e cimqo pera cima nam
sobe h o fumdo em nehul1m lugar do estreito; polo mar a que eles cha-
mam ojo, sam dez braas, oito, nove, e sam pareees, que eo prumo na
mo se podem achegar a terra quamto quiser,.e afastar, e sorgir omde
quiser: per este mar largo navegam as naos que vam pera jud, e pasam
per has ilhas que jazem meyo estreito, que chamam jebelzocor, e alem
delas comtra jud est outra ilha que chamam ceiham; nelas
quamdo , lhe vem bem; todas estas vimos ns; porm, com todos estes
beocos de mar ujo qe eles dizem, de hua bamda e d podem as
nosas naos seguramemte navegar com boom Resguardo de dia e nam de
noute, e a meo estreito de dia e de noute sem nehum pejo; e podem sor
jir a meyo estreito com boons avstos, e nas ilhas que jazem a meyo es-
treito podem nelas surjir: nam ha hy agua doce, nem ha hy eses pene-
dos debaixo d agua, que diziam, nem eses medos que nos ponham, nem
tempestades, nem tormentas, nem tempos traveses, nem trovoadas; e os
vemtos naturaes do estreito sam levamtes ou ponemtes, e algua ora
terrenho, somem te h e terra qemte por ser mar d amtre terras, e naqele
tempo estar ho soll achegado ao tropioo.
As terras da boca do estreito pera demtro de hna bamda e doutra
direy aquy a vos alteza os senhores delas e a qem obedecem: primeira
memte, partimdo da porta do estreito ao lomgo da ilha darabia, jaz a
terra do xeqe dadem, que jura desde adem at eamaram; ao lomgo da
Ribeira do mar jazem aldas e nebuum lugar primcipall; nam ha hy por-
tos primcipaes, somemtes pomtas que habrigam, delas de levamte, e de-
las de ponemte: de camaram por diamte jaz a terra de hum senhor que
se chama o xerife de jizem; estende se a soa terra at perto de jnd: jud
e meqa. sam do xerife parcate, e alguns alarves que vivem neses desertos
e areaes de redor de meqa: da terra deste xerife parca te at o to r vyvem
alarves: ho to r he ha cidade de cristos, como j dise, e no sertam do
to r e daly at suez tudo sam cabilas d alarves, e duram estes alarves e
estes desertos at eerqa de jerosalem, vam se lamamdo polas costas da
serra de momte synay ho mar da persya e o do mar Roxo.
'Vinle e cinco.

CARTAS DE AFFONSO DE ALBUQUERQUE
De jud pera o tor ao lomgo da Ribeira do mar est hum porto que
se chama lyvmba; daly tres jornadas pera o sertam jaz medina, ha ci-
dade em qe est ho malvado corpo do seu profeta; esta cidade e est..ontro
lugar, que se chama lyvrnbu, eram senhoreados de has cabilas que se
chamam benybraem; estas cabilas Roubaram a cafi]a da romaria de meqa,
e correram ha cidade e Roubaram a Casa de meqa: mamdou h soldam
jemte sua de cavalo, mataram e premderam muitos deles, e ps em mi-
dina hum xeqe de sua mo ..
H o _ xeqe d adem ter at mill e quinhemtos cavalos e mais nam;
jemte de p muita, se quiser. _
Ho xerify de jizem he homem de vj
0
cavalos t e mais nam; ho xe-
rify parcate, senhor de meqa, ter trezemtos cavalos e mais nam, e des-
tes alarves que lhe obedecern cavalgados em camelos; ha jemte de cavalo
sua sam espravos seus; a jemte destas partes da terra firme he de pou-
cas armas, e sam homeens ousados e nus da cimta per a cyma e descalos.
Da ilha de mivm terra que est defromte da terra de preste jo-
ham, he de hum senhor mouro, que se chama azaly, he senhora per
eosta dez ou doze legoas, piquena terra, e pouca jemte; e dy por dyamte
ao lomgo da costa jaz outro senhor alarve mouro, que se chama Dam-
ealy; asenhora at cerqa de dalaca, e he trebutareo e est obediemcia
do preste joham, e daquy de dalaca at meu e at eerqa de uaqem se
ehama a terra arquiqo; he asenhoreada do preste . joham: os mouros e
abaxis chamam ao preste joham elaty, nome demperador, e nam lhe cha-
mam preste joham. De uaqem at coaer vivem cabylas dalarves e jemte
de cavalo, e armados alguuns deles: coaer be porto no mar Roxo; he
ha cidade gramde despouoada, com adeficiQs de pedraria e igrejas der-
ribadas com synaes de cruzes, nas pedras litreiros de letras gregas: ca-
minham do deste coaer, que est no cabo do mar Roxo, pelo sertam at
ho nilo, est hum casall que chamam cana, caminho de tres jornadas, por
omde agora os jndeos de purtugall e de eastela fazem ho caminho pera a
imdia e vem tratar nela, porqe por jud e meqa nam podem: neste ser-
tam de coaer e cana vivem certos alarves, jemte -de cavalo e de pee, e
s vezes por lhe peitarem do eairo Rompem h creeimemto do Rio nilo, e
espalhano por alguuns vales de sua terra: mamda ho soldam muitas ve-
zes sobreles, e s vezes com a I a m ~ e s vezes com dadivaa os tras ase-
t Seileelltoa eanllos.
\

'

I
!30 CARTAS DE AFFONSO DE AI,BUQUERQUE
segados, que nam faam aqele dano, porqe se deixam de Regar algumas
terras mais altas daqelas qe semeam de redor do cairo do crecimemto do
nilo, quamdo os alarves cortam h o crecimemto por outra parte: a jemte
do preste joham, quamdo vay em romaria a jerusalem, fazem este cami-
nho; vam se ao lomgo da Ribeira do mar Roxo polas costas de uaqem e
de coaer e polas costas de suez, e dy atravesam a jerusalem, ficamdo lhe
momte synay mo dereita, e nam he gramde caminho: hum destes que
l mamdo a vosalteza, foy cativo ele e outro na cafila que hia pera-je-
rusalem no sertam de uaqem, e daly foy vemdido com outros adem, e
estam do sob r adem da sayda do mar roxo, se lamaram ele e seis ou sete
outros comigo.
A terra do preste joham he muy gramde; estemdese polas costas do
sertam de magadaxo comtra ofala, e destoutra bamda estemdese comtra
ho cairo pela Ribeira do mar rox at uaqem, e pelo sertam diz que
s estemde e comfina com nuba, a que ns chamamos tio pia, e com ha terra
duns mouros que se chamo ajaje, domde ven o ouro a uaqem em pe-
daos quadrados como dados; e asy se vay estemdemdo a terra de preste
joham comtra manicomgo e terras da Ribeira do mar daqela bamda l, e
costa que vem ter ao cabo de boa esperama: ha na terra de preste jo-
ham muitas minas douro: a meu ver ho ouro que vay ter a ofala, he da
terra que obedece ao preste joham, e asy a magadaxo e a mombaa: ho
adady, senhor de zeila e barbora, he muyto piqena cousa, nam ser ho-
mem de duzemtos cavalos; desmolas do sertam dadem e daqelas partes
~ e mamtem, porque faz guerra sempre aos cristos do preste Joham; leixa
de ser destroydo do preste joham, por aver hy pouca agua na sua terra
por aqela parte por omde h ~ jemte do preste joham lhe vem s vezes cor-
rer: zeila nam he destroyda do preste joam, pola necesidade das marca-
darias da imdia que lhe por aly vem. -
Da ilha de mevm a duas legoas pera a bamda da terra do preste
joham est huum porto, que tem boa agua e muita; estam hy has ca-
sas de palha de pescadores; a ver da ilha de mivm a este porto tres legoas.
Neste tempo qe asy istivemos na ilha de camaram, per vezes me
Reqereo huum homem qe foy mouro e se lamou em azamor cos cristos,
que iria per terra per jud e meqa, tor e suez, e dy ao cairo e a purtu-
gall ; que fazia isto por servio de vosa alteza; veyo de l desas partes
por homem darmas nesta armada: vemdo eu seus desejos, ho mamdey
lamar no sertam defromte de camaram, terra do xeqe dadem, e per pa-
CARTAS DE AFFONSO DE ALBUQUERQUE 231
lavra lhe dise ho que avia de fazer, e o caminho que avia de levar; dei lhe
alguum dinheiro e pulo com hua braga de ferro e em ha almadia, como
espravo que fogia.
Neste mesmo tempo qe asy emvemamos em camaram, nunca nos
ehoveo, e dizem nos as jemtes daqelas partes, que de maravilha chove no
mar Roxo; e estamdo asy htla noute, vimos correr polo ceo hum rayo de
gramde comprimento e largura, nam d estrela, mas ha maneira de hum
Rayo de fogo, e sayo da bamda da terra de preste joham, estemdemdo se
polo ceo d espao, e foy cair sobre a terra de jud e meqa.
O mar Roxo chamam lhe os mouros per sua lymguajem babar qey-
zum, e na nosa mar em cerrado; e mar Roxo h e mais natural! nome, e
soube lho muy bem pr queno primeiro asy nomeou, porque no mar Roxo
ha muitas malhas d agua vermelhas como samgue ; e estam do ns surtos
na porta do estreito, desembocava pola boca do estreito hua veya de mar
muy vermelha, e corria comtra adem, e estemdia se pE-r demtro do mar
Roxo quamto hum homem bem podia vr do chapiteo da nao: pergumtey
aos mouros que era aquylo; diseram me que era do revolvymemto debaixo
dagua das mars, porque no mar roxo nam ha hy correrntes dagua, se-
nam momtamte e jusamte, que emtra pera demtro e say pera fra; e por
bem do mar ser aparcelado e de pouco fumdo, hum pouco corre agua co
vem to, quamdo vem ta teso; se sam ponemtes, say hum pouco mais rija
pera fra do estreito, e se sam levamtes, corre comtra jud e suez hum
pouco mais Rijo: do cabo do mar Roxo, que he porto de suez, ao mar de
levam te he muito curto caminho: a voz dos mouros h e que alixamdre
quamdo comquystou a terra, quisera Romper este mar no outro: e vay
ter este caminho per desertos d areaes amtre jerusalem e o cairo, e cha-
mam lhe os mouros terra deste caminho samyla.
Vymdo ho tempo de nossa partida de camaram, aos quimze dias de
julho saymos fra do porto, e caminhmos caminho da porta do estreito:
pasando a porta, sorjy logo detrs da ilha e as naos todas comigo ; e
hua amtemenhaam me mety em hum batell com alguuns pilotos, e tres
ou quatro capites em seus batees, e fomos a huum porto que a ilha tem
da hamda da terra de preste joham, e emtramos nele: h o porto he ha
emseada que emtra demtro na ilha, e faz demtro em sy tres emseadas;
como fomos demtro, cerrou se a boca por omde emtrmos, que nam vi-
mos mais mar nehum; poderm caber duzemtas naos demtro; fumdo de
dez, doze braas, oito e sete, e seis a lugares, abrigado de todolos vem-
.....
..
..
CARTAS DE AFFONSO DE ALBUQUERQUE
tos : deeemos em terra, e corremos gram parte da ilha, e achamos ha
cizterna do tempo amtiga, descoberta maneira de tan1qe, atupida gram
parte dela, sem agua: amostrro n1e os Rubes hum poo atupido de
terra e pedra, vimos a boca dele, e mais nam: a \erra da ill1a h e serra de
pedra solta gramde e piqena, sem arvore nem erva; tem hum vale d ara,
testa comtra o mar Roxo; pus hua cruz d um mas to gramde na boca do
estreito no moro que est sobre ha emtrada, e nos viemos hos batees, e
daly nos tornamos pera as naaos, e posemos lhe nome a ilha da vera cruz.
Ao outro dia pela menha mamdey Ruy galvam no seu navio e jo-
ham com ele na sua caravela descobrir zeila, e ter pratica eos da
terra, e ver ho modo e maneira do lugar, jemte e trato dele; e tomada
toda a emformaam qe bem podese, posesem fogo a todalas naos qne hy
achase, e volvese en1 rninha busca adem, omde macharia.
Fizeram tudo muy bem, e corn muy boom Recado descobriram ho
porto, emtrda e sayda dele; qeremdo ter algua pratica com eles, foram
tamtas as escaramuas de jetnte de cavalo e de pee etn terra, que a R11y
galvam lhe pareceo e asy a joham gomez que nam qereryam ter pratica
com eles: emtam lhe qeymaram toda las naaos muy gramdes e muy gro-
sas, e se lamou l1um abexym com eles, que l vay a vosa alteza; foy es-
pravo dum feitor do soldam, que est em jud, e o espravo estava em
nura com seu filho compramdo aljofar. .
Partido Ruy galvarn e johatn gomez ca1ninho de zeila, me party eu
eamynho dadem, e daly a poucos dias veyo Ruy galvatn e joham gomez
de zeila: surtos diamte dadem vimos na ilha de eira mais torres e mais
muros que d amtes tinha, e todavia lhe tornamos a ganhar ho molde e a
torre e baluarte dele, e achmos hy muy gramdes naos e muitas; mam-
dey em duas delas poer dous camelos e na torre outro, e mamdey che-
gar os navios piqenos perto de seu muro com booas arombadas; com
aqueles camelos lhe derribaram os bombardeiros gram parte das casas da
cidade; e no alto da serra daqela ilha, que se chama eira, tinham armado
hum trabuco, que tirava arrezoada pedra, e vynha sempre dar no terrado
da torre omde ho noso camelo estava; e joham luis, fundidor, lhe rompeo
ho trabuco duas vezes co camelo da torre, at que fizeram ha parede
por em paro: avia na cidade muyta jemte, e tinha milho r artelharia e mais
da qe lhe leixamos, de gramdura de pedra que tornavam a tirar com as
dos nosos _camelos: os da cidade me mamdaram co-
meter Resgate das naos, eu lhe respomdy que per nehum preo saviam
..
CARTAS DE AFFONSO DE ALBUQUERQUE
.
de dar as naos senam polos cristos que tinha h o xeque d adem cativos,
senam, soubesem que nam avia descapar neha que se nam fizese em
carvam, e nam me tornaram mais Reposta neha: eses dias que hy estive,
me trabalhey por saber bem as emtradas e saydas dadem, e se era ilha
ou nam: e saiba vos alteza por certo que adem nam h e ilha, e gue na
mais estreita terra qe tem, he tam gramde largura como do tejo pomte
dalpiara; ha agua que say por debaixo da pomte, nam vem qu sar ao
mar da bamda domde estavamos amcorados, mas estemdese por bum
campo abaixo em alagoas, e por este campo vem ha grande estrada de
reita cidade, sen pasar ha pomte; a pomte se fez naquele estreito, por
que he caminho daquelas partes de zebit, domde o xeqe mais vezes
est; e agua vem por junto daqeste caminho per canos, e passa por
hum cano posto na ilharga da pomte, e vem dar agua em hum gramde
tamqe que est da bamda d adem, omde os camelos vem por agua, h e
acerqa de htla legoa da cidade; e se os caminhantes, ou os camelos qe
trazem agua, nam tiveram a pomte por onde pasar, em hum dia nam po-
deram arrodear as alagoas e vir cidade, e nam fizeram mais de hum ca-
minho d agua em huum dia e ha noute, e os camynhamtes fizeram
gramde volta em. arrodear as alagoas pera vir estrada que dito tenho;
e asy, senhor, que adem nam h e ilha; mas se hy ouuese fora de ca-
melos, e se cortasc h o cano da pomte, valerya htla carga d agua trazida
per derredor das alagoas hum serafim douro, porque, por piqena o pre-
sam que agora receberam de ns, valia pouco rneuus ha carga dagua
trazida do tamqe jumto com a pornte: agora faziam novamemto hua ciz-
terna em cyma da ilha de eira, e se ha acabam, tirar nos am dum trabalho,
e ser toda destruyam per elles, que cimquemta purtuguezes a defende
riam a todo restamte do mumdo, avemdo hy agua, e lhe destroyryam
porto e sua cidade, sem Remedio.
Sob r adem istivemos dez dias despois da tornada do mar roxo, aguar ..
damdo a la nova dagosto, e depois quatro dias, que he ho verdadeiro
tempo pera ir daly demamdar a imJia; e marndeilhe qeimar todas esas
naaos muy gramdes e muy fermosas e novas; tornamos hua carregada
de pasas; e alguas jelbas piqenas e naos piqenas que tinham pegadas
no muro, pareceo a todos que avemturar hum homem por tam piqena
cousa comaquylo, que nam era bem qeymarlhas, porque tinham asestada
sob r elas muita artelharia; alguuns pareceu h o comtrairo; e por alguuns im
eomvenyemtes qe punham a nanas qeymarmos, que m amym parecia ho
30


..

I
23i CARTAS DE AFFONSO DE ALBUQUERQUE
,
eomtrairo, quys eu tomar a espiriencia diso, e mamdey eem mareamtes
eom certos mestres e pilotos, e de noyte em terra, e poseram ho
fogo a tres naos, e por nam levarem abastama de polvora, as leixaram
de qeimar todas; ardiam maU, porque as tinham mas d agua; correram
toda a Ribeira, e obra de xxx mouros que hy dormiam, mataram a mayor
parte deles, e recolheram se todos a seus batees, e eu fuy no meu esquify
com as minhas trombetas pera os pr em ordem e os afauorecer: fel o aly
muy bem femamd afomso, mestre que emtam era de samta maria da
serra, e domimgos femamdez, piloto da mesma nao, que he boom homem,
e hertolameu gomaluez, mestre que emtam era de sam jiam; e outros
mestres e pilotos e marynheiros, homeens de bem, todos ho fyzeram ousa-
damemte e apagaram eses mouros que per hy acharam: recolhidos a seus
batees muy bem, se vieram s naaos, e o outro dia aparelhamos nosas naos
e nos afastamos pera fra do porto: e alguuns capitees quyseram sair
todavia em terra, e a mim nam me pareceo bem, e filos asy ter, porque
todos desejavam de pr as maos ho feito, aimda que por emtam lhes
parecese ho comtrairo; e creo qe se os deixara sar, que ho feito saca-
bara de todo, e a Ribeira ficara despejada.
Ho que me parece dadem, diloey aquy a vosa alteza: adem he hua
cidade tamanha como beja, muito forte, e as mais fermosas casas que c
vy, muyto altas e todas acafeladas de call; a sua cerqa ser mayor que
ha devora; os castelos que tem pola cumiada da serra, nam me parece
qe podem defemder a cidade, nem ofemdel a quamdo quyserem; sam tam-
tos .e tamt.as torres, que parece mais feito por fermosura que por cousa
proveitosa; he mais forte da bamda da terra firme que do mar; per al-
guns lugares se pde emtrar per o roubar e destroir, e nam pera o sos-
ter,.porque nam tem agua; nam ha nele jemte pera poder defemder tam
gramde cerqa como tem, e tantos castelos, vymdolhe por espao
de c1ias do sertam: tem huum morro de serra talhado a piqe no mar, em
que h o muro da cidade vem em testar, e este morro est ametade sobre a
cidade: ganhado este morro, nam se pde defemder adem, porque os dons
lamos do muro que vem emtestar nele da bamda da cidade, nam ousa-
ria nehuum homem chegar se ao muro de demtro pera o defemder, que
escapase com artelharia que estivese no muro: este morro est sobre hum
porto que os mouros chamam focate, e tem duas torres e huum baluarte
com artelharia muita nele, e hum trabuco; tem mais a ilha desapegada
da cidade o. porto; aque eles chamam eira:- fizeram hum molde desta

CARTAS DE AFFONSO DE AIJBlJQUERQUE ~ 3 5
ilha atravesamdo ao porto que lh abriga suas naaos de levamte, e no cabo
do molde ha torre com hum baluarte muito forte: na ilha nam ha hy
agua; <Wrcavana agora toda de muro, e tem muitas torres feitas nela: ho
muro que est diamte sobre o porto do mar, por omde ns escalmos, he
piqeno lamo; ser como da porta doura porta da Ribeira de lixboa:
parece me, senhor, se tivera visto adem, qe ho nam cometera por omde o es-
calmos; e comtudo, senhor, digo que adem se ganhara com pouco traba-
lho e perygo, nam tem do neeesidade d agua, porque partimdo armada da
imdia, vimdo tomar agua a acotor, por pouca gemte que leve, nam p6de
estar sobradem mais que quymze dias, e se fr no tempo ein que eu fuy,
cinqo e seis dias, porqe lhe comvem logo pr cobro sobre sy, e emtrar ho
mar Roxo amtes que se gastem os levamtes, buscar agua, que pera tor-
nar atras nam ha hy tempo: ha serra d adem h e toda de pedra sem nehuum
arvore nem erva; fazse logo dons ou tres anos que nam chove nela; al-
giiua agua, se vem alguum ora, he de trovoadas: a primeira vez que ha com-
batemos, nam vy nela jemte p e r ~ nola defemder, e se aprouuera anoso
senhor que todos emtraramos demtro, nam avia hy duuida de ha levarmos
nas mos; sostel a parecia me cousa duuidosa, pola necesidade d agua,
que nam avia na cidade nem nas naaos: a maneira que se deuia de ter
pera se ganhar adem e soster, h e a qe aquy direy a vos alteza: adem tem
hum porto que se chama hujufu, porto abrigado de todolos vemtos, boom
fundo pera nosas naaos; este porto est trs as costas da cidade e serra
d adem, daqela bamda dom de a pomte est, h e defromte desta serra d adem
da bamda da terra firme estam quymze ou dezaseis poos d agua, e est
hy hum palmar e huas poucas de casas palhaas, em qe vivem pescadores
e jemte pobre; chamase ho lugar omde estes poos estam, Rubaca: da
serra d adem a eles h a acerqa de duas legoas per mar: ganhada aqela
agua, com algua fora feita nela nam ha hy neha comtradiam a se nam
ganhar adem, cortamdolhe a pomte, e achegando nos cos navios pyqenos
perto da porta da cidade qe vem pera o sertam, que ser espao de hnum
tiro de bero da borda do mar porta da cidade; e neste lugar seria
meu comselho fazer a forteleza por sua vomtade ou comtra sua vomtade,
por amor do porto pera as nosas naaos e d agua dos poos de Rubaca,
qe se pde segurar da maneira que dito tenho, e abastecer d agua armada
e jemte que fyzese fumdamento de ganhar adem e o soster: tomada adem,
desta maneira se p6de soster: na fortaleza que neste lugar se fizes_e, deve
de ter ciztemas em abastama pera a jemte que nela fOr rdenda, e quamdo
30
'
236 CARTAS DE AFFONSO DE ALBUQUERQUE
hy nam ouuer chuva, se podem Reformar dos poos que dito tenho; e esta
fadiga e trabalho pde durar at dous anos, porque ho xeqe de necesidade
ha de fazer ho que vos alteza quyser, porque toda sua Remda he a do porto
d adem, e da Ruyva de sua terra, que cad ano aly carrega, que sam vim te
mill fardos, e s vezes xxb : nana pde ninguem comprar e carregar
senam ele; paga aos lavradores a seis serafins ho fardo, e vemder em
cambaya a xxij serafins; toda a outra Rem da de sua terra he muy pi-
qena; e nam duuidaria, por nam perder este trato e remda, fazer a vosa
alteza quallquer partido que quizer, sem do lhe feita fora.
Adem se fez grande porto, depois que vosa alteza tem emtrada a
imdia, porque a vosa armada nam deyxa navegar em seu tenapo verda-
deiro as naos do estreito, de jud e meqa; e por partirem tarde, nam po-
dem emtrar ho estreito, e descarregam suas mercadarias em adem, e vem-
denas, e compram outras que aly trazem de jud, de l desas partes, e
os mercadores dadem mamdanas depois ern suas naos a jurl: ha em
adem muitos estamtes e mercadores do cairo, he gramdes fazemdas suas
demtro em adem; e sam vim dos muitos mercadores de jud viver adem,
por as naos nam poderem alcamar em seu tempo ho porto de jud, e
per esta causa se emnobreceo mais adem do que soya a ser; tem fama de
mais Rico lugar de qu destas partes; toda a fora do ouro de preste joham
emtra em adem e todalas mercadarias da mesma terra do preste Joham.
Adem est sobre a boca e navegaan1 do estreyto, e per jumto com
adem pasarn todalas naaos das irndias que vam pera jud, no ms de no-
vembro, dezembro, janeiro e feuereiro, e as qe partem da imdia no ms
de maro aferram a costa do cabo de gardafu, e vam sempre vista da -
terra de barbara e zeila, por amor dos vemtos qe naqele tempo sam j
sull e susueste, e estas nam am vista d adem.
Vosa alteza ha de saber que do dia que posemos as escadas adem
a quymze dias, foy a nova no cairo em camelos corredores, mamdada polo
xeqe d adem, em qe lhe fazia a- saber que os cristos tinham emtrado ho
mar rroxo e cortado o camynho da romaria de meqa: a Reposta qe lhe
veyo foy, que se os cristos eram emtrados, que guardase ele muy bem
seus portos e sua terra, que ele guardaria a sua; e nam lhe respomdeo
mais, porque estam de qebra, que lhe mamdou pedir ho soldam adem,
dyzemdo que fra sua: per este correo mais nova que jud se despejara
, a Vmte e cinco mil.

CARTAS DE AFFONSO DE AIJBUQUERQUE ~ 3 7
.
de toda a jemte com medo d armada, e que avia gramde revolta no cairo
com fama de virem os cristos desas partes sobre alixamdrya, e serem j
chegadas naos darmada sobrela, e que xeqesmaell era vimdo jumto com
alepo com seus arrayaes, e a vosa arn1ada e jemtes eram no porto de jud;
e que aho soldam parecia que era comcerto sobre sua destroyam; e que
ho governador de damasco era alevamtado, e nam viera a seu chamado,
com medo, porque ho soldam tinha morto emir quebir e devdar quehir e
mircelaa, tres gramdes capitees, e que scedem ho Reino quamdo ho sol-
dam morre, e s vezes tomam a cadeira por fora: esta mesma nova que
achey nos mouros dadem, me deram judeus purtuguezes e castelhanos
que neste tempo _vieram do cairo imdia.
Ho que me parece do mar Roxo e de nosa emtrada laa, he que
vosalteza tem dado ho mayor aoute na casa de mafomede do qe ouue
de cemtanos aqu, porque lhe chegastes ao vivo e lugar de toda sua com-
fiama, porque jud e meqa nam tem n1antimentos, senam ho qe lhe
vem por mar, e hua nao de carga de xij quintaes
1
, a qe os mouros cqa-
mam mucumary, pregadia, qe cadano vem de suez com mamtimemtos
d esmolas e rem da que l tem meqa, he desfeita jud e meqa, de todo
perdida: mais me parece, qe se vos fazeis forte- no mar Roxo, qe tem-
des toda a Riqeza do mundo nas maos, porqe todo ouro de preste joham
est nas vosas maos, h e tam gramde soma qe nam ouso de falar, por
espicyarias e mercadarias desas partes ; e mais tolherdes qe per via do
cayro nam emtre mercadarias nas imdias de l desas partes, senam as
qe trazem vosas naaos, qe he hua tam gramde soma de Riqeza que ey
medo de falar niso, porqe vejo a fome qe na imdia ha das mercadarias
de l, que soyam d emtrar nestas partes em gramde abastama cad ano ;
e mais todo aljofar qe se pesca no mar Roxo, e todo ouro qe vem a uaqem,
qe dizem os mouros qe vem de nuba, porque eles chamam etiopia nuba,
nem he lonje o mar Roxo do mar de guinee, porque atravesamdo do mar
roxo a manicomgo per terra, nam a ver hy seiscemtas legoas a meu vr.
Nem he piqeno servio que Carieis anoso senhor, em lhe destroirdes
a sua casa d abominaam e de toda sua perdicam.
Pela ventura vos quis noso senhor dar as imdias com tamta fama e
riqeza, pera lhe fazerdes este servio: eu nam duuidaria que ha fee e com-
fyamaJdas cousas da imdia, que smemte ficou a vos alteza depois de
1 Dole mil quinlael .
..

!38 CARTAS DE AFFONSO DE AIJBUQUERQUE
tamtas oomtrariadades e duuidas de muitos coraees, fose espicyall graa
de deus: ouso, senhor, descrever isto a vos alteza, porque vy a ymdia alem
do gamje e aquem, e vejo como noso senhor vos ajuda e vola vay metemdo
nas maos: gramde balamo e gramde asemto fez a imdia depois qe vosa
alteza ganhou goa e malaca, e mamdou emtrar ho mar Roxo, e buscar
armada do soldam, e cortar ho caminho da navegao de jud e meqa e
tirardes lhe as mercadarias e migas do ouro de preste joham, que h e hua
tam gramde soma que se no pde crer.
E porqe vos alteza veja mais craro a maneira de que deuees segurar
ho mar roxo, por agora h e poer se em obra h o feito d a.dem e forteleza na
ilha de meu, porqe tenas costas postas no poder do preste joham, e
he terra e lugar em que a forteleza per sy soo obrar muito, porque he
senhora da pescaria do aljofar, qe jaz toda de redor dela, e far seu trato
e mercadaria na terra firme; e vimdo a ela comtrariadade dalga parte,
nam lhe he necesareo socorro de vosas armadas, abasta a jemte do preste
Joham e sua terra e sua ajuda e o amor qe nos tem, e o desejo qe tem
daliama e amizade com vos alteza, desejadores de pelejar e morrer poJa
fee de cristo, verdadeiros cristos.
E quamto ao feito d adem, lijeira cousa he d estroir e levar nas
maos; mas eu qerya que fose de maneira que s aproueitase toda a Ri-
qeza dela, que he hua gram soma: e porque as nosas naos tem aly muy
maravilhoso porto e carrado de todolos vemtos, forteleza nele he cousa
muito sostamciall e proueitosa; e por agora nam buleria com mais: nes-
tes dous lugares me faria forte, e aquy poerya minha armada; e do ne-
gocio da imdia que nos fica atrs, goa vola ter asesegada e mamsa, como
at quy fez, asy comtrariada per muitas vezes, como foy, porque ela soo
per sy amamsou a imdia sem nehuum trabalho de vosas armadas, e em-
. freou aqeles que ha perseguiam, e aimda bem receosos e bem cheos de
temor delas.
Torno nos, senhor, dizer outra vez qe em adem e na ilha de men
vos devees de fazer forte, e por agora d adem pera demtro nam vos espa-
lhardes mais, at que estas duas cousas tomem asemto, e o faam tomar
a toda a terra; e qe este feito seja comtrariado d ~ l g a parte, nam alar-
guees mo destas duas cousas em neha maneira que seja, mas resesty
com fora e jemte, quamto pera iso fr necesarea: guardese vosalteza
de comselhos d omeens emfadados, que he o mo r perygo que quaa ha,
porque este feito nam lhe vejo neha comtradiam dos da terra, nem dos
CARTAS DE AFFONSO DE AIJJUQUERQUE !39
que navegam ho mar da imdia, nem das foras e naos de demt.ro do mar
Roxo, porque tudo h e pouca cousa: alguum pejo, se ho hy, deue de ser
do soldam; e pois que este feito nam pde acudir senam per mar, eu es-
pero na misirycordia do muy alto deus que lhe apagaremo_s suas foras,
e que numca mais tornarm a ese feito, porque ho soldam nam fica a sua
erama a seu filho, nem pde ficar; espravo comprado ha de ser ho que
soceder a cadeira do cairo: os seus mamalucos nam emtram no mar; com
jemte asoldadada e fiosteira de muitas partes faz suas armadas, a quall,
como recebe seu soldo e pde aver terra, desesquypa logo sua armada:
oulhay, senhor, ho feito de goa, que foy bem comtrariado, como cousa
primcipall e gramde, e agora que tomou asemto, fica senhora de todo ho
negocto da Imdia, obedecida e temida: e como comearmos de trilhar h o
mar Roxo, e chegar a suez, tres jornadas do cairo, com vos armada, mo-
vimemto gramde ha de fazer no cairo, porque ho poder do soldam nam
he tam gramde como volo fazem emtemder; ter xb at xhj de cavalo',
comprados por dinheiro, arrenegados; com estes sojiga a terra; ho seu
pouo he sem armas e sem nehum exerccio de guerra: hoyto mill ma-
malucos ha mester ho cairo pera o senhorear e ter sojeito; vimdo fora a
outra parte, pera qe comprise acudir l, nam lhe obedeceraa ho cairo,
nem lhe pagar as peitas e pedido que lhe cada dia lama, porqe as rem-
das sam piqenas, e ele paga cada ms de soldo lxxx cruzados
2
de soldo;
e per Respeito dos Roubos e tiranias que faz, he fojida gramde parte dos
mercadores do cairo mouros e judeos, e sam emtrados na imdia, porque
do trato da especiaria nam tem j nehum proueito; e os mamalucos hum
soo dia que lhe nam pagase, era logo morto, e por este respeito matou
ele os tres primcipaes capitees seus, e deu os oficios a espravos seus: ho
feyto do soldam he muito fraca cousa, porque, afra ter pouca jemte, nam
ha de sair a resistir em pesoa a nehua parte fra do cairo, nem numea
say de hua fortaleza fra, e tem xeq esmaell s portas, que ho ha de
persiguir rijamemte.
A quatro dias d agosto partimos todos diamte d adem e fomos ave r
vista do cabo de gardafum, e d aly vyemos a ver vista de divlcimdy; e
corremdo a costa de lomgo, viemos ter a mamgalor e a cimunate, portos de
cambaya, e dy a div, porto de miliqiaz, omde correjemos nosos bats, e
a Quinze at dezeseis mil de cavallo.
Oitenla mil cn11&dos.

/
,

!iO CARTAS DE AFFONSO DE AJ.,BUQUERQUE ,
fomos bem recebidos de miliquiaz e bem festejados de dadivas e mamti-
memtos e muito gasalhado; e mamdey desembarcar aly espicyarias eco-
bre de vos alteza, e deixey por feitor daqela mercadaria fernam martins
avamjelho, e escrivam j o ~ e corra; e acabado de gastar aquela marcada-
ria, se aviam de vir; e deixey hy emxobregas descarregamdo as mercada-
ryas e tomamdo outras.
Partido de div, mamdey diamte amtonio raposo no seu navio a goa
fazer lhe saber minha vim da, e mamdey a cananor e a cochim Roy gal-
vam e jironimo de sonsa nos seus navios, e eu me vym. dereito a chavll,
omde ho voso feitor das presas descarregou algtlua espiciaria e mercada-
ria que trazia de presas; e dey ordem pera me fazerem hy duas carave-
las, e mamdey dy levar soma d emxofre e salitre e de lynho e arroz e trigo:
fomos bem recebido de chavll com muitos mamtymemtos e Refrescos, e
todalas outras cousas de qe tinhamos necesidade nos deram com muita
delijemcia em abastama.
Chegamdo a chavll, achmo8 ho embaxador delRey de eambaya, e
tristam degaa e joham gomez seu esprivam, que l tinha mamdado sobre
os apomtamemtos e comcerto de paz : deram me as cartas dei Rey _de cam-
baya e a re-posta dos apomtamemtos da paz e asemto de feitoria em sua
terra, e cartas de miligupy, que vosaltezaj l conhecer per fama, ho-
mem primcipall de sua terra, desejador de vos servir; outorgou nos forta-
leza e asem to de feitoria em di v, e que se gastaria cad ano em sua terra
quaremta mill qointaes de cobre poJo preo que de vimtanos a qu ti-
vese, que sam no vem ta serafins h o babar, que do peso velho sam cimqo
quintaes, e todas as outras mercadarias de l desas partes que se pode-
sem gastar em seu Reyno, e pera vosa alteza todas as que de sua terra
quisese; e me mamdou dizer, que me rogava que lhe mamdase a nao
mery, a quall eu tenho metida no Rio de cochim, correjida de novo e com-
certada pera lha mamdar: mamdou me hum cavalo e huas cubertas
d aceiro e hua adaga de soa pesoa e hua sela; e mamdou a vos alteza
hua adaga douro: tristam degaa, misyjeiro que a ele emviey, foy bem
recebido dele e agasalhado e bem tratado e feita mercee; tristam dega h o
achou achegado ao estremo do reyno de mamdaao, em guerra com gramde
arrayal de cavalos e de mui ta jemte e artelharia e toqo aparato de guerra.
Na carta delRey de cambaya nam falava nada disto, somemte dezia
que se faria tudo ho que eu pedia, referimdo se carta de miligupy, que
mais largamemte m espreveria tudo, na quall vynham todas estas decra-

......
. ',!'
CARTAS DE AFFONSO DE AIABUQUERQUE
raees que acima dito tenho, e asy mesmo ho trazia tristam dega na re-
posta de sua estruam, dizemdo mais que qeria mamdar hum estamte dos
guzarates a malaca, e suas naos que navegasem l seguras; praticaram
em maym e na ilha que est no canall de goga, que me davam da pry-
meira: maim dise tristam dega que era lomje de caQlbaya, e que fariam
as mercadarias muito custo: a Ilha di se el Rey que ha daria de boa vom-
tade, mas que nam era proveitosa pera nosas naos, que era hua ilha em
que avia muitas cobras e bichos, e que ha mandase ver primeiro# e de (sic)
se dela fose comtemte, que ha tomase, e que por iso nam era pouoada; e
que em diu poderia fazer h o asem to e forteleza; que os Rumis nam aga-
salharia em sua terra. Respomdy logo de chavll a suas cartas com agar-
decimentos, dizemdolhe como vos alteza, polo amor e amizade e trato que
com ele folgava de ter, numca mamdara fazer guerra a sua terra, nem
qeymar seus portos e lugares, nem lamar pedra de bombarda em suas
fortelezas; e se alguum dano tinham recebido has na os e jemte de sua
terra, que eles eram os culpados, porque nos mares e portos dos Rex com
que vosa alteza tinha guerra, suas naos e jemte os ajudavam comtra ns
com sua artelharia e suas armas, como fizeram em adem e em malaea e
em outros muitos lugares; mas qe h o mar de sua terra e de seus portos
at ho dia d oje numca foram qehrados nem emtrados, e outras palavras
que hao caso e tempo comvynham: a miligupy esprevy mais mevdamemte,
agardecemdo lhe da parte de vosa alteza folgar ele tamto de fazer bem as
cousas de voso servio, pomdolhe alga esperama de galardam de seus
servios, por asy tomar cuydado das cousas de voso servio: bo embaxa-
dor mamdou as cartas a -elRey, e se foy comigo pera trazer a nao mery,
e eu dar ordem a se fazer ho asemto e forteleza em dyv.
Em todaa esta costa me pediram seguros pera naos de malaea, e a
todos os dey, e outros pera naos e portos durmuz, com tall. comdiam
que os eavallos tragam a goa, porque asy fica asemtado por toda esta
costa nam emtrarem cavalos d arabia e da persia em outro nehum porto
sanam em goa; e creo que ho farm, polo boom despacho que as naos
do ano pasado levaram: foram a salvamemto a vrmuz, muito Ricas e bem
crregadas, do porto e cidade de goa; .e as de todolos outros portos que
hiam pera vrmuz, tornaram com gramde temporall e cos mastos ,qebra-
dos e desaparelhadas ha costa da imdia, e asy as naaos de calecut como
dos outros lugares que hiam para ho estreito, e perderam se muitas delas;
e he, senhor, eousa muito pera espamtar, a ver tres anos que a mayor
31

CARTAS DE AFFONSO DE ALBUQUERQUE
parte que hiam pera adem, jud e meqa se tomaram atrs cad ano, per-
demdo se muitas delas, -e a mayor parte delas de amatora e de ceilam
pera demtro; e sam muitos mercadores da imdia desfeytos e derribados
de tres anos aqu; e esta foy a causa por qe est ano nam tommos cem
naos no mar Roxo, e amim, senhor, me parece que, afora serem ajudas
de noso senhor em todalas vosas cousas, que he pola vosa armada amdar
tam viva sempre cortamdo os golfos, caminhos e lugares por omde eles
navegam, e nam ousam de partir at nam saberem a citaam qe a vosa
armada leva, e depois que ho sabe partem, semdo j no cabo de sua na-
vegaam, e acham j tempos comtrairos, que os faz volver atrs, por que
eu fuy espamtado nam virem cometer a boca do estreito cem naos.
Chegado a div, soube como as naos de calecut arribaram com tem-
poral}, e jaziam por estes portos de cambaya at momte dely, e hua en-
trou em damda, terra de chavll: chegamdo sobre o porto de damda, pedy
qe me emtregasem a nao, que era de meceris do cairo, nosos imigos, car-
regada d espiciaria, e emtregaram me a nao e perto de tres mill quintaes
d espicyaria, de pimemta e jemjivre: aly me detive alguuns dias, e reco-
lhy a espiciaria, e varey a nao h o mar: emtregaram me toda sua artelha-
ria, amcoras e velas e toda sua emxarcia; h e hua fermosa nao da fey-
am das do mar roxo, a que os mouros chamam moruazes: partido daly,
vym sobre dabull e amgiar, e pedy duas que hy estam demtro em da-
buli e ha em amgiar: comearam de qerer amdar em pratica comigo;
leixey hy emtam Iopo vaz com tres naos em guarda delas, e que nam dei-
xase emtrar nem sair neha nao at qe as nam emtregasem: creo que to-
davia m emtregarm as naaos e espiciaria.
Soube tambem qe emtrara outra em batecala; mamdey emtam am-
tonio raposo com hua galeota de goa lamar sobre o porto, e pidir qe
ma emtregasem, e parece me que todavia ma emtregarm: mamdey lam-
bem lamar fernam gomez de lemos com hua fusta de goa sobre mam-
galor, omde estam metidas duas, com determinaam de nam deixar na-
vegar o porto ataa que maas nam emtreguem: foy d e ~ d i t a nosa tornarem
atrs estas naa.os com temporal), porqe tom.aramos huum mundo de Ri-
qeza.
Chegado a goa, achey huum presemte de panos da persia e hnum
anell com h num diamam, que me mamdou h o embaxador de xeq esmaell
que veyo ao Rey de daqem, e ao filho do abayo, e alguuns oferecimem-
tos seus de parte de xeqesmaell, e se tomaram pera homdes&ava ho em-
CARTAS DE AFFONSO DE AIJBUQUERQUE 2i3
baxador, quamdo m y nam acharam, e deixaram dito, que vimdo eu do
mar roxo, ho embaxador me veria ver e falar comigo cousas de xeq es-
maell, amtes de sua partida pera a persia.
Achey mais em goa huas comtas e hua campaynha, qe me mam-
-dou ho guardiam de Jerusalem, qe era vimdo ao cairo a chamado do sol-
dam, e achou hy huum judeu purtugus morador em jerusalem, que vy-
nha pera a imdia, e per ele me mamdou este presemte, dizemdo que as
comtas eram tocadas em muitas relquias# e que ha campaynha era da ca-
pela de nosa senhora, com qe se sempre tamjia misa: mamdo l esta
joya do guardiam a vos alteza; prazer a noso senhor que s abrir este ca-
minho e romaria per qu per estas partes por omde estas joyas vieram:
esprita em cananor a iiij dias de dezembro de 1513.
(Por lettra de Albuquerque) feytura e servydor de vosa allteza
Momso d alboquerque
1

'
1513-Dezembro 15
Senhor.-A jemte da imdia ha mester pagamemto de soldo, porque
s vezes se pagava custa dos imigos gram parte dele, e agora navega
ho mumdo todo seguro, qer tragam seguros, quer nam; nem temos guerra
senam com adem e com ,ho estreito de .meqa e jemte do cayro, os quaees
creo que emtrarm poucas vezes a imdia, porque viram ho aoute que lhe
dey est ano, e o credito em que estam as vosas cousas na imdia, e como
est tudo someti lo vosa obediemcia, e vos emtregaram as naos deles
com toda sua mercadaria por eses portos por omde jaziam.
Alguas naos qe se tomaram sem vosos seguros, vy tamtas amea-
as de vos alteza, que j gora qer traga seguro, quer nam, nam lhe pre-
gumtam pera omde vay nem domde he; estas naos, se sagora tomaram
dos mercadores do cairo, emtregase toda a espiciaria a vosos oficiaes; pe-
dimos lhe dinheiro pera pagamemto de soldo, dizem que no o o ha hy; pe-
dimoslhe mercadaria, dizem que nona ha hy: asy, senhor, que compre a
I Torre do Tombo-C. Chron. P. 1., M. li., Doe. 16.
\
CARTAS DE AFFONSO DE AIJBUQUERQUE
vosa alteza mamdar de l mercadarias pera o pagamemto da jemte, panos
e armas qe tambem tomaremos sobre nosos soldos; e se qerees ter a jemte
comservada na imdia, mamde vos alteza haas vosas naos que tragam mui-
tos vinhos pera as vosas feitorias, porque os homeens toman o sobre seu
soldo; e alem de vos alteza fazer seu proueito, daa vida aos homeens, e
asy pera os doemtes como pera os sos e jemte de trabalho esfora muito
a compreysam dos homeens qu nesta terra.
Nam he, senhor, nada meterdes na imdia cemto e duzemtos mill cur-
zados de mercadaria, porqe nam vem cobre nem mercadaria de neha
outra sorte que soya a vir; pregumtey aos judeos mercadores qe vem do
cairo, e asy a outros mercadores, porque nam vynha cobre; diseram me
qe tam caro l como na imdia, e nam vir de veneza nem de turqya
polas guerras; e polas espyciarias e mercadarias da imdia, que eram muito
caras no cayro, que por iso nam vynha cobre.
Eu, senhor, qeria saber savees voos por voso servio deixar amdar
na imdia estes judeos castelhanos e purtugueses qe vem per via do cairo,
ou se qer vos alteza que os apague hum e huum por omde qer qe os po-
der aver: de cananor a xb dias de dezembro de !5!3.
(Por lettra de Albuquerque) feytura e servydor de vos allteza
Afomso d alboquerque.
(Sobrescripto) A ElRey noso senhor.
(ln dorso, por lettra coeva) Dafonso dalboquerque. Pede marca-
daria pera os soldos, porque, louuores a deos, nom ha presas de que se
paguem, por tudo estar a voso seruio e nom terem guerra senom com
adem e o mar roxo.-ijc cruzados
1
de mercadaria:-falla:-Judeos cas-
telhanos e portugueses que entram na India por via do cairo, quer saber
a maneira que vosa alteza ha por seu seruio que se tenha com elles
1

I Duzentos mil cruzados.
J Torre do Tombo-C. Chron. P. t.a, M. D. 27.
-
CARTAS DE AFFONSO DE ALBUQUERQUE 245
CARTA XLill
1513-Dezembro 24
Senhor.-Eu quys saber domde naceram estas culpas que me vo.sa
alteza punha, d acrecentamentos de soldos e de quymtaladas que aynda
nom eram alevamtados, e soldos postos pello viso Rey: ymdo por este
camynho, achey que os vosos oficiaes, queremdo gaanhar fama falsa e
credito amte vosa alteza, tinham aynda asy os liuros em pee, e cada ano
vos spreviam de ha frma, e nom proviam mynha determynaam segundo
frma de voso Regimento, porque o capitolo do meu Regimento est Re-
gistado no liuro da vosa feitoria pera este feito. E porque a ~ o s a gemte
est espalhada per desvayradas partes, e cada hum destes no tempo do
viso Rey tinham desvayrados soldos, quando vem a lhe fazer final despa-
cho de seu pagamento e sua comta verdadeira, que he na feitoria de co-
chym, emtam lhe fazem a comta e paga segundo frma de voso Regimento,
tirando lhe os acrecentamemtos postos pello visoRey, porque em todalas
outras feitorias nom h e necesaryo saber se o soldo que cada hum tem, e
todavia saben o, porque aos taes nunca lhe fazem pagamento de seu soldo,
mas dam lhe sobre seu soldo tamto ou tanto, e cada ano vam os cadernos
das feitorias ao tempo da carga a cochym pera lhe fazer sua comta e fi-
nal pagamento aas partes, omde estam os cadernos que vem de purtugaJ
com as pesoas nomeadas eco o soldo que cada hum ha daver, homde est
a determynaam de vosa alteza asynada por mym, sobre os acrecemta-
memtos do visoRey e sobre os spravos asemtados em soldo: se elles que-
rem fazer pagamemto aas partes todavia pellos soldos acrecemtados do
.viso Rey e pelos liuros que aynda estam em pee co titulo de cada hum e
soldo que soya da ver, esa culpa nom tenho eu; nem tinha a vosa gemte
jumta, pera a cada hum por seu nome lhe mandar tirar seu acrecemta-



246 CARTAS DE AFFONSO DE ALBUQUERQUE
mento; nem achar vosa alteza mandado meu nem asynado em que con-
firmava o tal acrecemtamento a nynha pesoa, nem eu nom creo que
o elles fizesem; e se o tem feito, foy por me danarem a mym vosa
custa.
mesma maneira se tem nos soldos que se pagam na vosa ar-
mada por onde quer que amda; d se sobre o soldo de cada pesoa certo di-
nheiro: nom diz no titulo do liuro, ouve de seu soldo de tanto
a rezam de tamto por ms; mas diz no titulo, deram lhe sobre seu soldo
tamto; porque os cadernos dos soldos que de l vem e ordenados das pe-
soas que c emviaes, est tudo em coehym, omde vam sempre acabar de
fazer sua final comta.
Porque, senhor, pera se fazer ymteyro pagamento a qualquer pesoa
que anda na vosa armada, nom abastara saber se o soldo verdadeyro que
de vosa alteza tinha, porque aynda avia d amostrar certides de todallas
vosas feitorias do que nelas tinha avido sobre seu soldo per meu man-
dado, ou se tinha posta alga verba, ou se devia na feitoria a1gua outra
cousa; e amdamdo eu per tam desvairadas partes e tam lomge das vo-
sas feytorias, domde a gemte nom poderia asy ligeyramente aver as pro-
vises pera lhe averem de pagar seu. soldo, lhe mando dar certa cousa
seu soldo a cada hum, temdo sempre o Resguardo que nom aja
mays que aquylo que lhe poderia ser devido e menos ymda: quamdo a
vosa armada chegua, vay logo o sprivao co lyvro aa feitoria de cochym,
e lanam logo no titulo de cada hum o que asy Recebeo.
Esta mesma maneira tem a feitoria de cochym; nom fazem final
comta aos homens, nem lhe dam seu despacho, at que nom trazem cer-
tides das feytorias e do liuro da armada: ysto he o que eu mando e or-
deno; e porque hy ha muytos mandes e muytos que tem poder de man-
dar pagar soldo, poder ser que farm eles o que quyserem, e tomarm
toda a culpa a mym: mande nos vosa alteza levar l todos presos, e cada
hum dar Rezam do que fez, porque por meus pecados nom me. tem a
mym muyto amor estes vosos oficiaaes, e deos sabe que eu lho nom te-
nho merecido, senom, quando vier de fra, Receberem me com Ramos nas
mos e com grandes precises, porque sempre noso senhor d pro-
veito que trazermos a este corpo que tendes na ymdia, e proveito aas vo-
sas feitorias, aynda que aas vezes seja com trabalho e periguo de nosas
peso as.
Quanto he, Senhor, aas quyntaladas, j vos diguo, senhor, que se


. CARTAS DE AFFONSO DE ALBUQUERQUE 247
.
nom d nem carrega quymtaladas a nynguem por meu mandado da vynda
de louremo moreno pera caa; a alguns homens fizerom pagamento de
. suas quymtaladas segundo vosa ordenana, at que me derom os maos
da armada de dom garcia, em que vosa alteza mandava que nem huns
nem outros nom ouvesem quynteladas, sem mandardes que todavia ouve-
sem os tres anos de pagamento, como na prymeyra tinhees mandado, de
suas quymtaladas; e portam to se nom paga jaa aguora a nynguem, sal-
vamte algum que aynda ahy ha dos tempos pasados, que vosa alteza he
obrigado a pagar e carregar.
Agora, Senhor, que o exame do soldo se faz de escudeiro e pyam,
como ordenastes, esa maneira se tem nos que c estavam na ymdia, que
os que de l vem, eixaminados vem: bem pde agora, senhor, cuydar o
que est em malaca, que tem os dons cruzados que tinha em tempo do
viso Rey; porm vymdo aa feitoria de cochym buscar seu despacho, do
tempo determynado de vosa alteza lhe nom ser feito pagamento, senom
segumdo a cal idade de sua pesoa e a comdiam de voso eixame, do tempo
da vosa em diamte: digno eu agora, senhor, estes taes que
vem de malaca aa feitoria de cochym e diserem aos vosos oficiaes, eu ti-
nha tamto soldo do visoRey, e os vosos oficiaes vos spreverem ysto, logo
eu sam culpado: faam eles sua comta segundo vosa detremynaam asy-
nada por mym, e nano vam buscar aos lyvros do viso Rey, mas busquen os
nos lyvros dafomso dalboquerque, e vejam vosa detremynaam. E se eu
dou mandados comtra vosa detremynaam, porque vollos n.om mandam 1
mas os homens querem gaanhar amte vosa alteza com enga-
nos, porque sabem que em yr l hum Recado e viir, tem elles primeiro
acabado. os tres anos.
E portamto; senhor, os que o comtrayro fizerem do que vs de l
ordenaes cerca des.tas cousas que acima tenho dito, nom lem polos lyuros
da mynha ygreyja, senom pelos liuros do viso Rey: eu yrey a cochym e
mandarey a vosa alteza o Registo dos provymemtos que cerca des\e caso
estam Registados, asynados por mym na feitoria; e avisayvos, senhor, dos
homens da ymdia, que tem as comciemcias danadas e amdam a toda Roupa,
e avs dachar em muyto poucos verdade; e a vosa alteza nynha eoosa
vos he mays necesaria que vos falarmos todos verdade, porque a
se comquysta per voso mandado e Regymento; as pazes e oomterto eos
Rex per voso Regymemto se fazem; o provymento de vosa fazenda, des-
pesas e carregua per vosa detremynaam . se faz: se vos emformarm'os mal




248 CARTAS DE AFFONSO DE ALBUQUERQUE
e vos nom sprevermos verdade, daremos com tudo no cho: sprita de ca-
nanor a xxiiij de dezembro de l5 t 3.
(Por lettra de Albuquerque) feytura e servydor de vosa alteza
Afomso d alboquerque.
(Sobrescripto) A el Rey noso senhor. .
(ln por1ettra coeva) D afomso d alboquerque acerqua dos acre-
centamentos e outras cousas de repostas
1

CARTA XLIV
1513-Dezembro 24
Senhor.-EIRey de calecut mamda seus embaixadores a vosa al-
teza com algas Razes de desculpar de o presemte nom ser con1o sua
gramdeza, e manda alga especiaria, pouca cousa, nesa nao, asy pera
despesa de seus 'mesejeiros, como pera lhe trazerem de l algum brimco:
o que deseja he n1andar vosa alteza a elle soomente dirigido hum homem,
ou dons, que mostre comfirmaam de paaz, e sua terra e seus vasalos to-
mem mays aseseguo e sejam fra de duvidas, porque aaz de trabalho
leuou em asemtar os gramdes de sua terra emsystidos na dureza e deter
mynaam do amory Rey pasado, e trazellos a todo asemto e aseseguo
de paz, e lanalos mouros stramgeyros de sua terra, e os naturaes muy-
tos delles feytos em pedaos diamte dele por este mesmo caso.
Asi, Senhor, que vosa alteza devia de fazer muytos comprymemtos
com calecut, nom porque o el Rey pea, mas porque compre a voso ser-
uio muyto afavorecer este Rey, sua pessoa com homras, e seus porlos
com muitas mercadarias deses Reynos, porque elle me parece homem
abalado. em outras mayores cousas de voso seruyo que fazer pazes com
vosa alteza, segundo suas praticas comyguo e sua determynaam em que
se pOs comtra todo comselho de seu Reyno e comtra todallas duvidas dos
mouros: mande lhe vosa alteza algas joyas deses Reynos, e a sua mo-
lher e a Stla yrma, porque elle nom tem o outros Rex; ha
soo molher tem, e seus filhos cryados como proprios seus .
, 'Torra do Tombo-C. Chron. P. 1., 11&9. D. 3i.
-

I
CARTAS DE AFFONSO DE ALBUQUERQUE 2'9
Sua molhe r e sua yrma fizerom muyto na paz e asem to; Receba lhe
vosa alteza suas boas vomtades e faa lhe mercees, e asy ao alguzyl ve-
lho que. foy na peleja com Rodrigo Rabelo, e vos seruyo nese feylo como
portugus e nom como gemtio, e ele comeou esta paz e pocaracem como
voso seruydor; ambos e dous amdarom nela; faalhe vosa alteza merc,
qae vol a merecem. . -
Seus embaixadores. sejam bem despachados, e martde lhe. vosa al-
teza fazer merc: douray, este feito de calecut, e day graas 3
noso Senhor de vol a asy meter nas mos, porque se vosa alteza vise o
aseseguo da yrndia com este feito de ealecut e o esmayo dos mouros e/
o sometimento e sogeiam delles, parecervoshya espicial merc de deos.
O Retorno de sua especiaria deve vosa alteza de deixar trazer a seus
embayxadores no qtre quyserem, que ele nom _manda l yso a que lhe eu
dey lugar, senom por mostra.r segurama e aseseguo de sua vom
tade.
Quer carta aselada de voso selo pendemte, feita em h o;
mande lha vosa alteza fazer a mylhor feita que poder ser, e o selo nom
seja de chumbo, senom de prata ou douro, comtirmandolhe suas pazes,
segurando lhe seus portos e terras, porque eU e faz caa ha douro.
pera vosa alteza: he homem verdadeyro e tymydo muyto em sua terra e
muyto amado; a favorece muyto os natoraes seos, e estima pouco os es-
tramgeyros, aynda que elle diz que na ymdia numca navegou nynhum
estramgeyro dos chyns atee o cayro, senom em seu porto, e diz verdade.

Lembre vos, senhor, que vos d pimenta a troco de mercadarias de
toda sorte, que he a mayor cousa que se na ymdia acabou, e com es\a
compitiam vola ha de. dar cochym quanta quyserdes.
A fortaleza me derom homde a eu pydy, pegada na povoaam dos
mouros, e da outra parte s chatyns sobre o porto e pouso de suas naos,
de demtro do Remamso do arrecife: parecem j sobre a terra as duas
torres que estam no mar e o lano do muro de torre a torre; o corpo da
fortaleza he tamanho como a cerca do apanado de cochym e hum pouco
mais esforado;. bate o mar nas duas tores que estam nos dous camtos
da fortaleza no flosto que faz ao mar; fiz lhe fazer duas t.orres neste tu-
gar, porque querem do &lr socorro aa fortaleza, desembarque a gemte
amtre ha torre e a outra, sem contradiam nem peryguo nynhum da
fora do lugar, porque o corpo das torres estam de fra do muro; a torre
da menajem est no meyo deste mure amtre estas duas torres de den..tro
ai
..
250 CARTAS DE AFFONSO DE ALBUQUERQUE
no corpo da fortaleza; outras torres ficam h ordenadas nos outros. lamos;
tem hum postiguo no muro pera o mar, pera Receber o socorro; e a porta
principal da fortaleza se ha de fazer a ha ylhargua dela, guardada com
seu baluarte; nom lhe pus o nome, porque nom tem aynda as portas ar-
radas.
Crea \'Osa alt.eza que este ano deu vosa alteza tres aoutes grandes
na easa de mafamede e descredito do gratn soldam e de todollos merca-
dores do cayro: o prymeiro foy emtregarem vollos R ex mouros as naos e
espiciarias que hyam pera o cayro nos portos omde se acolherom; o ou-
tro foy a fortaleza e asemto de calecut, e o outro a emtrada do mar Roxo:
praza a noso senhor que vos conserue este negocio: sprita de cananor a
xxiiij de dezembro de t5 t 3.
(Por lettra de Albuquerque) feytura e servydor de vosa allteza
Afon1so dalboquerque.
(Sobrescripto) A el Rey noso senhor.
(ln dorso, por lettra coeva) Outra tall dafonso d alboquerque sobre
eallecut e seu embaixador
1
-
CARTA XLV
11S13-Dezembro 24
Senhor.-Bem sabe vos alteza como elRoy
2
de ealecot he ho mr se-
nhor de to_da a terra do malavar, e .seu porto ho mayor de todalas imdias,
de trato e mercadarias e de muitos mercadores Ricos e homeens primci-
paes e de gramdes
3
fazemdas; e pois que a noso senhor aprouue que
vos alteza fizesc asem to e paz com el Rey, e ele, sem do precu-
rase sempre vosa amizade e as cousas de voso servio, vos alteza deve de
folgar de calecu t tornar a seu credito pri1neiro e a seus tratos e a suas .
1
Torre do Tombo-C. Chron. P. t., M. Doe. 33. ..
2
el Rey-ho Rey. As variantes que van1os notando, resultam da comparao d'esta
cart.1 com outra semelhante, mas datada de cananor a & de janeiro de que existe
no C Cbron., P. i., M. tt., D. t\6. ,
3
e de gramdes-1 gramtla.

...

CARTAS DE AFFONSO DE ALBUQUERQUE 25t
grandezas
1
como era da primeira, porque h o Rey com que vos alteza teve
guerra, he j falecido, e el Rey que hagora he, nese ternpo sempre pra-
curou a paz e nam tem neha culpa nas cousas pasadas.
Depois que Reynou, meteo em paz toda sua terra: eu lhe .niamdey
falar no con1cer&o de nossas pazes per ho
1
alguazill que foy de cananor,
e per pocaraeem, vosos servit.lores, e el Rey folgou de fazer pazes e ami-
zade con1 vos alteza, e vos den forteleza e feitoria em seu porto, e alguuns
mouros com&r3iros ha paaz lamou fra de sua terra; e aimda que
3
ouve
senhores de seu reyno eomtra ha paz, e el Rey de cochim e eananor ha
estrovasem, ele sempre comsemtio na paz corr1 muita verdade e segu-
rama, eomfiamdo que vos alteza folgar' 1nuito com ha paz, e o _qerer ter
por amigo. e servidor, e que far seu porto gramdeJ e mamdar a ele muy-
tas mereadarias, porque hasy lho tenbo eu dito que ho vos alteza far
8
,
porque ele sabe que com voso poder e autoridade asemtey as pazes com
elle, e deu fee a minh&S palavras, as quaees lhe fizeram em tem der el Rey
de eochim e elRey de cananor e alguuns purtugezes danados que era
tudo "falsydade e emganps; e por. seu coraam ser limpo, sempre me creo,
e sempre me fez tudo ho que lhe eu Reqery, e me deu ho lugar pera a
(orteleza omde lho eu pedy, com todalas abastamas de pedreiros e jemte
de trabalho, pedra e call e todo ho necesareo, e isto com muita verdade
e muito amor e com muito boa vomtade, e recebeo os vosos homeens e
vosa jemte de sua segurama e de sua verdadeira palavra.
. Oulhe vos alteza estas cousas, que sam muito gramdes, e que as de-
vees d estimar em muito, porque
6
huum tam gramde Rey como h e el Rey
de ealecut, folgou de ,os dar parte em terra e asy ametade dos car-
tazes e toda carga de pimemla e espiciaria
7
que quyserdes por marcada-
rias deses Regnos
8

Quer, senhor, de vos alteza, que' por este servio e boa vomtade
oom que asentou a paz e amizade com vosalteza, que em synall damor
' suas grandezas-aua grantk.ra.
per bo-pelo.
3
que-quy.
t folpr- folgaria.
5
Tos alteza far-far"' all1:a.
1
porque-poi fJfU
., espiciaria-eapeciaryu.

1
por .mercadarias deses Regnos -a troco di ercadaritu qw guiswtk.
1
que-faha.
\ .
,

..
I

252 CARTAS DE AFFONSO DE ALBUQUERQUE
e verdadeira paz vosalteza mamde hum homem ou dons derejidos a ele
com a reposta de seu Embaxador e suas cartas; e quer que has naos que
ouuerem de vir a seu porto, venham dereitamente a ele, e as mercadarias
que vierem a seu Porto, que
1
se nam descarreguem em outro porto pri-
meiro; e t quer que lhe mautdees abastama de mercadarias, quamtas se
em sua terra posam gastar; e quer que vosalteza lhe mamde tudo isto
comfirmado
3
, e tudo ho que com ele asemtey, per carta vosa, asynada e.
aselada do voso selo, que dure a paz pera sernpre, porque ele vos me-
rece isto e muit.o mais,. por sempre vosa paz e amizade e dar for
teleza a vos alteza
4
e1n sua terra.
Mamda seu embaxador a vos alteza com joyas que vos leva: peo a
vos alteza por mercee que seja despachado
5
e quamto h e rezam;
e lhe emvie vos alteza presemtaes e dadivas, e asy ha Raynha sua molher
e sua irma, que .falaram muito na paz e trabalharam muito no comcerto
dela.
Pera todas estas cousas lbempenbey minha verdade, que vosalteza
as despacharia e comfirmaria como ele merece e he rezam, porque deixou
ho. trato dos mouros do cairo por tomar b de vosalteza; deixou as mer-
cadarias do soldam por Receber as de yosalteza em sua terra; deixou a
guerra que ho outro Rey tinba, por folgar com ha paz e por i1nrriquecer
sua ierra: oulhe vosalteza por estas cousas, que sam gramde&, e
bee as
6
com gtamde amor e boa vomtade; e amostray ,a el Rey de calecut
com boas obras ho amor e amizade que com ele folgaes de ter, aprovei-
tamdo lhe sua terra e muitas mercadarias desas partes de que Receba al-
guum proveito, e naos que carreguem em seu porto e dem sada haas
mercadarias e espiciarias de sua terra, pois que deixou as dos mouros do
cairo que lhe cad ano vynham. .
El Rey oo calecut h e gramde senhor, homem muito verdadeiro; tem
muita jem'e e muita terra; lodolos Rex sen'.ores do malavar sam cai-
maes pera ele e de pouca fora diamte dele, e todalas naaos da imdia na-
a qae-falta.
1
e-falta.
t3 eomfirmado-;frmtJdo.
vos ah&Za-.tua altesa.
seja despachado- 1tja bma tllapacluJtlo.
Recebeeas :_ Recsba .

CARTAS DE AFFONSO DE ALBUQUERQUE !53
vegam em seu porto; toda a pedraria e aljofar ha na cidade de calecut, e
todalas Riqezas t e bnas cousas s acharm
1
nela.
Seu embaxador leva algtlua espiciaria pera sua despesa e pera tra-
zer alguas cousas com que ele folgar; mamdeo vos.alteza bem despa-
char e cedo, e d I e
1
logar que traga toda mercadaria e todallas cousas
que lhe elRey mamda trazer, e traga ba carta e comfirnaam do asemto
que fiz com el Rey, que- vos ele mamda' pP.dir, e Receba sua joya
1
e seo
presemte com aqele amor e boa vomtade que elle amostra ter has ron-
sas de voso servio.
E Rainha sua molhPr e a sua Irma esprevalhe vos alteza agarde-
cimemtos do que nsta paz e lhe mamde
6
alguas dadivas de l,
e asy alguuns
7
aceitos a ele, e ao algoazill e a pocaracem, que no comcel1o
trabalharam bem, e imda agora no fazer da .fortaleza eles ten o cuidado
de dar aviamemtO a todo nrgocio com as pesoas
8
que elRey tambem or-
denou pera amdarem nese feito.
Diz tambem elRey de caleeut, .se vos alteza quiser fazer naos, ga-
ls, caravelas, navios, que no seu Ro e portO de chalea ha muy gramdabas-
tama detoda madeira e muito de barato, que pde vos alteza mamdar fa-
zer qnamtas quiser.
Torno vos, senhor, a lembrar qoam
1
estimado deve de ser este feito
de ealecut amte vosalteza, e quan1 gramde qredito deu a todalas vosas
cousas da imdia, afora os Rex e senhores desas partes l, mercadores,
tratos, companhias d emfiees, perderern
10
de rodo a comfiama e esperamta
da verem tt as cousas da imdia; e t.udo isto fez elRey de ealecut com ha paz
e .amizade e que Recebeo em, sua terra. Rezam he que vsalteza,
oolhamdo todas estas r.ousas que tamto tocam a voso servio, com boas
obraa comservees paz e amizade, e guardees seus portos e seus tra
t todalas R i qezas -toda a RiiJUIIa.
J 8 aebarn - arAam.

3
d le-dl Uae.
voa ele
80& joya-IIMU OfltJI
e lbe mamde-1 mtmltle lk1.
' asy a
as JJ'IOGI
lembrar quam -ldnabnJr pa.
1o perderem-pertkro..
11 da verem-tlt .,.,..
. ..
,
254: CARTAS DE AFFONSO DE ALBUQUERQUE
tos como cousa muito e lhe qeyra vos alteza comprazer e outorgar
todalas cousas que vos mamda Reqerer: sprita de c,ananor a xxiiij de de
zembro de ii3'.
(Por lettra de lbuquerque) Ceytura e servydor de vosa allteza
Afomso dalboqucrque.
(Sobrescripto) A el Rey noso senhor.
(ln por lettra coeva) Dafomso dalboquerque sobre a paz de
calecut
1
.
CARTA XLVI
3
1513-Dezembro 28
Senhor.-A vs vos comvem fornecer a lmdia de mercadarias daquy
avamte, porque a boca do estreito, prazem do a noso senhor, oarrada est,
porque a destroyam que fizemos em naos ll dentro e ser lugar nuy es-
treito e serem elles certeficados que nam a vemos ns de lPixar aquela em-
- pois que, louuado noso senhor, todallas outras cousas estam asem-
tadas e asesegadas, nam bam d ousar d ir abocar I lugar tam estreito, por-
que nos nam podem em neha maneira escapar, e sabem em todollos por-
tos da Imdia que me fao eu prestes pera tornar H; portamto, senhor,
mamday muytas mereadarias das sortes que vos aqui aviso.
Item: primeiramente calecut pede gramde soma de eorallanrado,
em Rama, e o mais dele em Rama; pede cobre, azougue, vermelham,
boreados baixos, velludos eremesys e pretos gramde soma, Alcatifas, aa-
fram, ag9as. Rosadas, ezcarllatas e outros panos doutras sortes.
Item: cambaya _pede cobre, azougue, vermelham, ezcarlatas, borca-
'dos baixos, e arrezoarlos velludos cremesyns e de graam;- veludos pretos
gramde soma; panos bramcos e pretos finos; sedas Rasas nem damascos
a sprita de cauanor a uiiij de dezembro de t613 -,.ua ,. o ij dial til
jtM1iro tk I ISI &
1
Torre do Tombo-C. Cbron. P. 1., Ma. t,, D. 3&.
3
Esta carta semelhante a que fica \ranscripta sob o a um. nm a pag. 167; tendo
porm diversa data, e otrereeendo algumas variantes, en1endemos que nio a deviamos
omiltir. Preenr.hemos com i&alico os Jogares em que o originalesl deteriorado, aprovei-
taDdo o &exlO da car&a j referida.

...

CAI\TAS DE AFFONSO DE ALBUQUERQUE
nehoa cousa, porque vem muitos de malaqua; pedem aafram, agoas Ro- .
sadas, e se pela vemtura poderdes aver cetins avellutados de que
qu chamamos veludos de mequa,- fazem nos em lepo, em bru.a, em tor-
quia, l!arn ser anaa mercadaria; alcatifas de levamte poucas.
Assy mesmo se gastarm gramde soma de borcados e velludos na
terra do preste joo.
Em pegou e em siom se gastar gramde soma d azougue e
lham, panos bramcos e pretos, veludos e borcados baixos alguns, e ez-
. carllatas; de qu da imdia roupa de cambaya. .
E pera matJaca veludos de .toda sorte e ezcarlatas e borcados bai-
xos, azougue e vermelham, e em toda parte afyam, porque todo este
mundo de qu o pede e o ha mester.
Em ormnz soma de cobre gastar e d azougue, vermelham; pedra
ume nam faz pera llaa.
Em Narsimga .e o de daquem boreados e veludos gastarm,
cobre, azougue, verrnelham, agoas rrosadas, e ezcarlatas.
Bemgalla toda nossa mercadaria pede e tem necessidade della.
amotora (sic), Azougue e vermelham, e cobre pouco, ezcarlatas,
boreados, veludos pretos e cremesys; seda Rasa nem damascos nam nos
ha mester; e o mais, o que vosa Alteza I l ver per carta sua sobre a soma
da seda que pedis.
Tambem se gastarm Azeites de portugal e ao queres alguuns boons
e moitas outras meudezas que desas partes qu emtram na yndia, a que
nom sey o nome, que todo se gasta: e aynda, senhor,que o ganho nam seja
tam groso dalgas mercadarias de laa, que aqui nam nomeyo, deveas
vosa alteza todavia de mamdar, porque se far proueito e abastecer se
a imdia daquelas cousas que a ela soyam de vir per outro eaminho, e
escusars mamdardes dinheiro de I l, amtes se vosos tratos amdarem bem
aviados, vos yr de qu muito ouro, como mo vosa al&eza serepve.
Sobre o Azougue que qu mamdaes, ser bem que saiba vosa al-
teza que queria eu amtes o que se perde ead ano por ms vasilhas, que o
que me vs daes com a gouernama da imdia: os mouros da imdia o tra-
zem qu em duas cousas, em coquos e em canudos d canas cul1os, que
sam tam gordos como a perna de hum homem do giolho pera baixo; fa-
. zem hum buraco no meyo do estremo do canudo, arramno allaquar,
e est seguro, numca se vai; a..q,y mesmo fazem s cocos, abrem lhe hum
daqueles olhos, arram no com alacar, e numca semtoma.
-

256 CARTAS DE AFFONSO DE ALBUQUERQUE
Tambem, senhor, aviso vosa Alteza dos panos que qu mamdaes,
que deviam de vir muy empresaJos e embrulhaJos e n1etidos en1 sayos
de llona, earados muy be1n e metidos em arca pregada, breada e pricym-
tada, que lhe nm emtra nehua agoa, e nam nos meter em poder dos arru-
madores das naos, mas em lugares escolhidos e amtra1nbalas cubertas,
arrumados popa omde lhe nam toque nehtiua agoa, por muita que chova,
porque ha aUy coberta e e tolda e nam pasa agoa abaix_o. E as
armas e llonas que qu tnanciaes, desta maneira aviam .de ser arrumadas
e bem tratadas; asy, senhor, que narrumao da nao Recebe s vezes vosa
mercadaria gramde quebra, e ay se faz no azougue e na.s ar1nas; os mes-
tres metem tudo a granel, os arrumadores por honde-lhe bem vem; os feito-
res das naos quer a emtreguem ca podre, quer nam, nam lhe Releva nada;
os feitores della nam tem mais obrigaam que de as emtregarem demtro
nas casas, pesadas e comtadas; mamde vosa alteza olhar por estas cou-
sas, porque por buscarem hua pipa de vinho boom, amdam logo todallas
mercadarias de boombordo a estribordo e per ese emsaees desas naos; e
toda outra mercadoria, tiramdo cobre e chumbo, Recebe dano na viajem
de ll pera caa.
. Senhor, acerqua do dalguas cousas de que qu temos
necesidade, aviso alteza, e diguo prymeiramemte, que se a noso se--
nhor apraz que ns faamos asemto no mar rroxo e descobrirmos estes
biocos de Suez e d do soldam, que vosa alteza se devia de tirar
das naos e trazer vosa armada em galls, e aimda que amtre ellas am-
dem tres ou naos, nam be senam bem; e como hua vez formos
seguros darmada do soldam que ha nam ha hy no mar, aimda que de-
pois se fizesem mil velas e sajuntasen1 todollos Reis mouros do mumdo
a fazer naos, com quatro galls lhe tolhs que as nam lamcem ao JDar;
porque bem nas podem fazer em terra, mas varamdo os casquos das naos
mar, queimallas ha hua gall seoi com&radiam, e quamtas mais lam-
arem mar, tantas mais perderm e lhe queimarm; de maneira, senhor,
que aimda que todo ho poder do mundo o ajudase, como ganhardes pose
do mar rroxo, nunca mais pde fazer armada, porque nam tem portos
arrados assy defemsaues em que ha cryee, que lhe ns ll nam emtre-
mos, e nam tem outro senam uez, porque de todallas outras partes h e
muy Jomgo caminho ho cairo.
E tudo he Ribeira de mar e he muy curta navegaam de meo e
dallac e da tmtra do. preste joo, de que vosa alteza deue de fazer {utda-
--
-
CARTAS DE AFFONSO DE AljBUQUERQUE 257
memto: ao porto de uez naveguaam he de xij ou xiij dias. E se vos mais
quiserdes chegar adiamte, ahy temdes a ilha de uaquem, mui boom
porto; e que hy nam aja agoa, ha hy cisternas que abastarm pera a for-
taleza, e da terra firme trazem agoa a vemder; porm a meu ver, se-
nhor, ganbars jud sem comtradiam, porque he cousa pequena e
fraca, e queremdo o soldam hy mamdar jemte que ha defemda de ns,
. ha de ser mui trabalhosa de bastecer de mamtimemtos, porque he lomgo
caminho do eairo a jud; e se nosos pecados nos deram llugar que che-
ga ramos llaa, com ajuda de noso senhor nam ouvera hy contradiam de
a .levarmos nas maos, porque nam era aimda cerquada da bamda do
mar: o que agora a vemos mest.er, he muytos Remos pera galls, panos de
vil de comde, que nam venham podres, duas duzias de carretas ferradas
pera artelharia grosa e miuda. -
Tem do vs, senhor, feito asemto em meu e na terra do preste joo,
base de, despouoar de necesidade judaa, porqoe nam lhe ham de vir es-
pecearias nem rnercadarias nem os mamtimemtos de fra. E queromdo o
soldam hy ter jemte de garniam, nam na pde bastecer de nlamtimm-
tos, e vosa alteza pde a soster com os prouimemtos da terra do preste
johatn, que est defromte: ganhada jud, nam ba hy casa de mequa,
quem ouse n1orar nella, e de necesidade ha ham de leixar os alfenados,
porque est hum dia de caminho de jud: a meu ver, senhor, hey o feito
de mequa por pouca cousa; sua destro iam h e leve cousa d acabar; assy,
senhor, que de galls avs de fazer vosso fumdamento; em cada lugar se
podern correjer e espalmar, e em cada llugar podem emtrar, como esta
armada do soldam fr segura.
E assy, senhor, nos deue.vosa alteza mamdar armas .. porque de-
vasidade dos portugueses nam ha arrnas nehiiuas que abastem, nem tem
em com ta soldo, nem tomarem nas sobre seu soldo, e portamto, pois he nosa
custa, mamdenos vosa alteza abastimento dellas, e agora vos compre mais
que numca, pois que vosa tem determinado de segurardes a imdia
- dos imcomveniemtes que podem sobrevir; e \'OS compre, porque te-
mollos. imigos porta: armas bramcas de corpo nam nas devia vosa al-
teza qu de marndar, porque sam n1ais trabalhosas de mamter que hum
- .
cavallo de cobertas, e perdem se. todas: couraas sam .. mui bas armas pera
qu, nam ham mester escamei nem outro coregimemto nehum, salvamte
se se denaficam os couros per tempo, tomam os b.Jmens crauaam e cou-
ros sobre seu soldo e correjem nas e amdam em pee: pelouros
33
,
,
'

CARTAS DE.AFFONSO DE ALBUQUERQUE
despera e de serpe nos deve vosa ;llteza de mamdar, que nam ha qu
nehuns: ese castelo de madeira que me dizem que vosa alteza tem, se o
tyueramos em adem, sem contradiam fra nosa, porque armramollo
castello nagoa de Rubaca, que vos l tenho sprito; segura agoa, sem
contradiam tinhamos adem nas maos; piques pera a jemte da ordenama
e lamas que tirem samgue aos imigos, porque nol as mamdam assy como
vem de bizcaya, sem amolar, emcomemdadas a hum barbeiro imchado
que qu ha na imdia, e armada nam pde esperar por isso, porque eu
nam tenho na imdia mais tempo, nam emvernamd'O nela e vimdo de fra,
que nove1nhro e dezembro; en1 janeiro me convem partir pera o estreito,
se nele ouver de fazer fruyto, e pera vrmuz em feuereiro, e para mallaca
em abril: ora olhe vosa alteza quam pequeno tempo tenho pera mapa-
relhar ir ao estreito, vin1do de fra no ms de setembro e outubro,
como agora vim; portamto, senhor, emquamto trazs a obra-quemte,
mamdai nesas naos todo o aparelho que mamdaes fazer por voso Regi-
mento, porque, louvado seja deus, ainda que seja homem velho e fra-
quo, nom ha d aborelecer nehua cousa em meu tempo. E se vosa alteza
quer que a vosa armada est aguardamdo por isso, custarvosha hum
prego cem cruzados, e hum machado ou ai viam duzemtos cruzados; e se-
gumdo-a demora que vosa armada fizer, asy far as avallias.
Tambem nos mamde vosa Alteza algua soma de chumbo, porque
temos diso necesidade: sprita em o porto de calecut a xxbiij dias de de-
zernbro qe t5i3.
(Por lettra de Albuquerque) feytura e servydor de vosa alteza
Afomso d alboquerque.
(Sobrescri]Jto) A cl Rey noso senhor .

..

I Torre do Tombo-C. Chron. P. t., M. D. 36 .


CARTAS DE AFFONSO DE ALBUQUERQUE 2!19

CARTA XLVII
114-Janeiro 1
Senhor.-L mamdo a vos alteza os pareceres de todollos capites
sobre o feito de goa; delles leua dom joham e delles joham de sousa, e
outros antonio dabreu, porque hos tinha espalhados per desvairadas par-
tes, nom nos pude ajumtar todos: goa fica asy agoardamdo vosa detre-
minaam, as sprevaninhas das feitorias dadas a criados vosos, casados
hy; framcisquo corvinel feitor, pero mazcarenhas capito, alcaide mor
joham dataide; os almoxarifes, posto que nom sejam vosos criados, sam
homens de boa linhajem, e pera serem, casados ha y com muy pou-
qua cousa sobre seus solldos cos ditos carregos, e asy os alcaides das
torres de pamjym e benastarym IQuy pouqua cousa tem ou nada sobre
seu solido : nam boly com nenha cousa destes, nem dey estes carregos
alguuns criados vosos, por duas rezes: a primEira, porque h o nom quy-
seram tomar com tam pouqua cousa, porque tem tamto de moradia e
solido como os, ordenados dos ofycios; dey o a homens casados, porque
no tempo da guerra podesem milbor mamter suas casas e suas pesoas ...
Est aimda asy tudo agoardamdo a de vos alteza. E fei-
tura desta me spreveo francysqo corvinell, que has terras das ilhas estauam
todas arrendadas por doze mill e oytocemtos e lta. pardaos t, afra as Em-
tradas e saydas das mercadarias e o trato dos cavallos: pde vosalteza
agora Repartir tudo como vos bem parecer, e dardes vosos o fiei os a quem
quyserdes.
Amtonio de sousa e joham teixeira que vieram de narsymga, pella
Emformaam que delles ouue, aja vos alteza. por certo que se o trato dos
cavallos est em vosa mo, se os nom comsintirdes yr a outras partes se-
nam a goa, que vos el Rey de narsymga de pagar pare as e todo o Reino
de daquem; nem deue vos alteza de comsymtir que has naos d ormuz
venham ao porto de batecalla, senam a goa: os de batecala me comete-
ram que me pagariam os direitos dos cavallos, e que hos leixase yr aba-
tecalla, e eu, senhor, nom quys, porque se far goa a mayor cousa des-
' Cincoenta pardaus.
33

'
'
260 CARTAS DE AFFONSO DE ALBUQUERQUE
tas partes .e Ri"qua, como antigamemte soya de ser, porque batecala
nom tem barra nem porto, e todalas mercadarias que soyam de vyr a
goa, vem agora a e esta escapolla dos cavallos far vyr todal-
las mercadarias a goa, e sam tam desejados e tem tamta necesydade dei-
les, que ham de fazer tudo o que vos alteza pedyr. Afra isto ter ssabido,
antonio de sonsa e joham teixeira o vitam per espiriemcia: o direito dos
cavallos e o ganho do trato delles he hiia muito gramde cousa, e nom
toqua outra paga senam dinheiro na mo: troueram tres mill pardaos
dallguuns cavallos, que ficaram dos que eram vemdidos a pocaracem: os
outros que se perderam, verey per justia quem nos ouuer de pagar, e
pagarseam, porque, ou pocaracem, on o capito e de cananor
que ho premderam, huuns destes hos am de pagar.
Eu, senhor, me espamtey primeira n1amdar vosalteza ter comse-
lho publico sohre o feito de goa, e,agora que descobry esta rnina de car-
tas que vos de qu spreviam, nam rne espamto senam como nom rnam-
daueis pr o fogo a tudo, porque hos vy tam ousados no modo do spre-
ver, que pareceo ter vos alteza nelles toda a comfiama das cousas de qu,
e terem elles j avido per muytas vezes aprouaatn de todas cartas
e do que nellas vos spreviam, porque em carta d oyto folhas de papell de
marqua mayor nom se achar hua s Yerdade que vos sprevesem, e agora
antonio Reall pelo juramemto dos samtos avamjelhos negar tudo, e com-
fesar que todas' aquellas cousas que na carta yam, eram falsydades e em-
ganos, e diogo pereira danado desa maneira que vosalteza l ver, tudo
per estucia e comselho de gaspar pereira.
Deste feito de goa tenho largamente sprito a vos alteza, e destes tur-
quos que asenhoream D Reino de daquem, e da jen1te bramqa que vem
per mar buscar seu soJldo, e asy os cavallos que lhe vem d arabia e da
persya; e aimda avisey a vos alteza dos embaixadores de xequesmaell,
que este ano emtrararn na irodia, e asy lhe vem fundidores desas partes .
e fazedores d artelharia: vem me muytas vezes estas cousas ha memorea,
porque cuydo sempre os emcomvinyentes que podem sobrevyr ao negoceo
da imdia, e de nenha cousa tenho tamanho Receo como destes turquos e
. Rumis que hasenhoreatn o Reino de daquem, porque ha divisam que han-
tre elles ha comtnua, os faz nom emtemder em noso feito, e pella vem-
tura, se vos alteza desymulase huum pouquo este feito da imdia, fazemdo
se elles em hua podervosyam obrigar a muito, porque jsam na Ri-
beira do mar, e sam homes comquystadores e sabem bem na guerra,




CARTAS DE AFFONSO DE ALBUQUERQUE 261
e. sam mais d arrecear que hos Rum is, porque heses vem per mar, e os
do Reino d ~ daquem demtro na lmdia tem seu poder e sua fora; e pello
que daquy pde nacer em alguum trinpo, ha mim me parece, senhor, que
vs lhe de vs de tolher a jemte bran1ca e toda a reformaam que lhe vyer
de fra, e os avallos que estm na vosa mo; e per derradeiro leuar lhe
os lugares primcipaes que tem na ou relia rio mar, e cortar lhe todollos
gouernos, c pella vemtura os lamars a perder sem comtradiam: sua
terra he desfie chaull at cimt.acora, t.iratndo goa, que est nas vosas

mos: chaull, se o asenhoreardes, vos de pagar as despesas e gasto que
hy fizerdes e o solido jemte, e damda outro tamto, e dabull e camgicar
asy o fa1m. _
L sprevy a vosalteza como damda he huun1 lugar bom e porto
prymcipall pera todalas carraquas entrarem nelle, e tem hua Ilha muy
pequena, ern que hos mouros tem hiiua forteleza muito fe1mosa, de gramde
arvoredo e muytos tamques dagoa: ser a ilha tamanha como os paos
de lixboa; ha seis braas d agoa antre ella e a terra fyrme; parece me,
senhor, que a de.uernos dasenhorear, porque chaull e damda vos dar
quamto vs pydyrdes, ou ao menos metellos no serto, que he gramde
vituperio deixallos aly estar; mas e lia he ha das boas cousas que qu vy
nestas partes: aquella foy a prirneira cousa que os turquos ganharam
nestas partes, e daly comearam de comquystar o Reino de daquem. Jaz
esta. forteleza ~ o b 1 e cao1pos de lauoyras d arrozes etinhos: e jaz antre
dabull e chaull; he porto de cambaya: lugar he desejado de todos ns
outros que ho vimos, e nom ha y gasto nem despeza, porque ella pagar
o solido a cemto homes que hella mester, e a mill, se mill quyserdes
nella ter, e nom vos pde obrigar, porque est no mar: a elles lhe pesou
muito de a eu ver, e se agastaram muito quamdo viram amdar o pmmo
de rrador da, ilha: aly em damda me emtregaram a nao do cairo carre-
gada despiciaria, sobre que ll sprevy a vosalteza: sprita em cochim ao
primeiro dia de janeiro de mill e quynhentos e quatorze anos.
(Por lettra de Albuquerque) feytura e servydor de vosa allteza
Afomso d alboquerque.
(Sobrescripto) A Ell Rey noso senhor. _
(ln dorso, por lettra coeva) D afonso d alboquerque sobre o de goa e o
que fallou em amda (sic), que parece rnuito. proueytosa pera voso seruio
1

1
Torre do Tombo- C .. Chron. P. f. , Ma. flr, D. W.


2 6 ~ CARTAS DE AFFONSO DE ALBUQUERQUE
CARTA XLVIII
ll4-0utubro 20
Senhor.-Per hua carta de vosalteza em reposta doutra que es-
prevy acerqa das- culpas dos homes que no Rio de goa oulbaram mail as
cousas de voso servio e comfirmidade' de vosa jemte e armada, e a re-
zam e comta que dey a vosalteza dese feito, peco a vos alteza por merc
que lhe perdoe, e que me nam aja por homem que fao o que nam devo,
em acusar alguuns fidalgos e cavaleiros que vos qu fizeram alguuns ser-
vios, e que ho que fao he comtra minha nacam (1)'e comdyam; por milho r
m esta ri_ a a mim dar lhe duzemtas dobras e hum ginete e salvai os de voso
castigo, e os trazer em descontentamento de vos alteza; 1as eu, senhor,
vos jllro pola verdade que sam obrigado a vos dizer, que nem destes nem
de vosos oficiaes, nem de neha pesoa que na imdia amde debaixo de
meu governo, vos ouuera d esprever deles suas tachas e seus erros, se
nam fOra dar Rezam de min1 e das cousas falsas que de mim esprevem
e dizem. porque nam poso eu dar rezam de mim e mostrar me sem culpa,
que eles nam fiqem culpados, porque vosalteza he boa testemunha de
como vos sempre esprevy bem dos homeens, e de muitos que agora he
forado dizer suas culpas e seus defeitos, por mostrar minha verdadeira
justificaan1; e se por outro modo e maneira ho eu podera fazer, deus sabe
que eu nam amdo e1n lugar pera nam perdoar a morte de meu pay e
quamtos erros me tiverem feitos, se eu alguum conhecimemto tenho de
deus: acabada em goa a xx dias doutubro, amtonio da fonseqa a fez,
de f 51 q..
(Por lettra de Albuquerque) feytura e servydor de vosa alteza
Afomso d alboquerque.
(Sobrescripto) A ElRey noso senhor
1


Torre do Tombo-C. Chron. P. t., M. !6, Doe. tlt.


CARTAS DE AFFONSO DE ALBUQUERQUE
CARTA XLIX
114-Outubro 20
Vy a carta que me vos alteza espreveo sobre as cartas das
partes que qu mandaes metidas nos maos, e a maneira que vos alteza
qaer qe se niso teaba, e que elas sejam todavia dadas, porque asy com-
pre a voso servio, e que em outra maneira seria voss alteza muito deser-
vido. Digo, senhor, que quem esprever comigo, ter cuidado por meu
mandado de fazer o roll, e receber asynados das partes a qem sam da-
das as cartas, e ir por mim e eadano a vos alteza; nem
eu criaam nem comdiam pera fazer o comtrairo, nem sam ceoso
de minha vida e meus custumis; em praaa vemdo e em praaa remato,
como dizem os porteiros, pera que emtre em mim duuida por omde se
deixem de dar as cartas cerradas haas partes a que as mandaes; nem
qero saber mais segredos que baqueies que me vos alteza revelar; e aimda,
senhor, vos digo mais: que sabemdo certo que vinha carta imdia pera
eu receber algum castygo ou dano de minha omrra, nana abryria por
ser senhor do mundo; e se eu fose homem desas cozquilhas, nos maos
qt1e vem de lugar a lugar omde eu estou, abriria as cartas das partes,
como se soya a fazer nos tempos pasados, e nam espreveria nehum ho-
mem a outro sem minha licema, como achey por husansa na imdia.
Nam fOra pouco voso servio as cartas que vieram amtonio Reall de
seus provymemtos, virem a mim, e a notefieaam a ele, e ouuera ele a
merc que lhe vosalteza dava em seu tempo, e nanas apregoara e lera
de quamtos cavaleiros e fidalgos vinhm d adem com as pernas
qebradas por voso servio, imdo se ele pera eses Regnos. Deixou semeado
este eomtemtamemto nos coraees dos homeens, que aimda agora nam
poso amamsar, e nam mespamtaria escreverem os homes de qu ese re-
eo, por tall que amdasem sempre escuras as cousas que vos de qu
previam de mim: nam peo a vosalteza outra merc neste caso, senam
que ha liberdade que ho direito daa a hum pobre lavrador, seja guardada
. a mim, a quall he nam se dar semtema sem ouuir as e eles se
,





\

26i CARTAS DE AFFONSO DE ALBUQUERQUE
emendarm de seus erros. De goa a xx dias doutubro, amtonio dafom-
seqa .a fez, de 15!4.
(Por lettra de Albuquerque) feytura e servydor de vos alteza
Afonso d alboquerque
1


CARTA L
114 -Outubro 20

Senhor.-Acerqa do que me vosalteza per outra carta escreve do
feito de babarem, e da maneira que se nisso deve de ter pera se segurar
e asenhorear, e arremcar daly o nome de m.afomede, digo, senhor, que
esas cousas taes sam muito leves d acabar, nem estam asy desatadas e
fra de vosa sojeiam, senam por duas cousas: a htlua, polo corregim.ento
das naos, que nam podemos meter dous dedos d estopa sem serem vara-
das em. terra, pollo fraco reconhecimento das mars nas partes da imdia,
o quall feito gasta o tempo, que nam pde homem chegar a tempo que
cure tao1tas. cousas; a outra h e a empresa do mar Roxo e adem, que sam
cousas novas e que com vem serem trilhadas de ns a meu de; mas com
ajuda de noso senhor, seguro vrtnuz, nam ha d estsr neha cousa-daque-
las partes fra de v o s a ~ obidyerneia, nem pde, imda que qeira, porque
tem por seu em paro e por sua cabea pritncypall a cidade d urmuz, e por
seus eorntrayros e imigos os arabios, em cuja terra estam: babarem, se
nhor, he cousa muito grosa e muito Rica; ha Pescaria do aljofar nam he
nada dasenhorear, porque sam homeens que ho pescam jemte de traba-
lho e mizquinha, que vem aly ganhar sua vida cadano, e parece me que
pescamdose com Rastos de l d e s a ~ part.es, que se dobraria o proveito;
o em que, senhor, fico neste feito, he este, como j digo em outras car-
tas, que vos alteza tem avido boom comselho em asenhorear vrmuz, e nesa
deter1ninaam fico, porque, aimda que estas cousas paream grandes e
trabalhosas de soster, como tomam asemto, sam muito pouco custosas e
llluito proveytosas; e os mouros destas partes, como homeens que has
ganharam e asenhoraaram sem lhe ficarem da erama de seus avoos, alar-
' Torre do Tombo-C. Chron. P. t. , M. 16, D. 63.
I
,
CARTAS DE AFFONSO DE ALBUQUERQUE
ganas de sy muy cedo, se lhe fazem fora e lhas defemdem ben1: ganhado
vrmuz, babarem seguro e todalas cousas do mar da persia, e nam he
joya pera deixar em poder dos mouros, ao menos pelo trato das espycia-
rias que qers \irar a meqa e ao cairo, e com vem a vos alteza de necesy-
- dade dardes lhe sayda per outra parte: acabada em goa a xx dias dou-
tubro, antonio da fomseqa a fez, de t5l4.
(Por lettra de Albuquerque) feytura e servydor de vos alteza
o Afonso d alboquerque.
(Sobrescripto) A el Rey noso senhor'.
CARTA LI
1514-0utubro 20
Vy a carta que me vos alteza espreveo sobre a soma do
cobre que qu mamdaes, e a. maneyra que vos alteza queria que se tivese
logo chegam do as naos, mamdamdo que logo se baldease .. da nao em ou-
tra, e que h o mesmo feitor h o levase carregado sobre sy, com esprivam
que lhos vosos oficiaes poriam pera as compras e vemdas, ficamdo o
bre carregado em Recepta sobre o feitor de cochim_; o quall feitor que asy
levar o cobre, levar de vosos oficiaes regimemto do pree .por que ho ha
de dar, e dy pera baixo o nam possa abaixar senam alevamtar, e doutraS
mercadarias que levar: digo, senhor, que eu mamdo logo esta carta aos o
ofieiaes de cochitn, que cumpram imteiramemte ha determinaam de vos al-
teza, e que se ponha logo em obra; e acerqa.da vemda do cobre nam ha
hy duuyda, que chegam do a dyu ou a cambaya se vemder logo; e ao
que vos alteza diz, que h o dito . .feitor que asy levar h o cobre sobre sy
avi . . . . . . . no doutras mercadaria&i venha ........ . . feitor
como. cousa emderemada .......... em tall maneira que nam aja hy
... Recepta e ha despesa e hua com ta, aquall .... por bem
que seja a do voso feitor em cochim, e asy se far como vos alteza or ..
dena. .
E porque na nao sam migell em que vinha luis damtas, que chegou
. .
Torre do Tombo.-C. Cbron. P. t., M. t6, D. ia.

\

'
CARTAS DE AFFONSO DE ALBUQUERQUE
aps framcisco pereira sobre .a barra de goa, trazia bje quintaes
1
de co-
bre e certa soma de marfim de moambiqe, a mamdey logo partir d aquy
a gram pressa camynho de cambaya, asy pera vemder as mercadarias,
como pera trazer alaqueqas e anill, que mamdaes levar nas naos, porque
abaixamdo se a cochim e tornar a cambaya, ser que acharia j as
naos da carga partidas, e vay da maneira que vosalteza ordena em vosa
carta: ho feitor que trazia o cobre sobre sy, ho vay vemder coes-
privam da n1esma Rao, e am de tornar co retorno feitoria de cochim, e
hi ha de ser Receitado ho cobre sobre o feitor de cochim, e o mesmo fei-
tor, que se chama jorje rodrigues, dar comta do que vemdeo e cotnprou
ao feitor de cochim, por hy nam ver senam lra Recepta e hua despesa
e ha com ta .......... vernda do feitor da nao se. . . . . . . . . . o peso
sobre o feitor de cochim.
E asy, senhor, lhe mamdey trazer soma de Roupa pera ofala, e
mamdey pero sobrynho, esprivam que foy de ofala, com . eles, porque
conhece a roupa que ofala mester; fiz esta dilijemcia, porque alcam-
asem estas cousa8 .s naos da carga, e por- nam ser aimd vimdo chris-
tvo de brito mamdey luis damtas na mesma nao.
Quamto he, senhor, ao Regimemto de christvo de brito, tamto .
que ele chegar lho darey na mneira que me parecer mais voso servio,
aimda que toda fora do Regimemto est neste capitulo em que vos alteza
mamda que lhe seja posto em Regimemto, que he nam .fazer presa
nem tomadia, salvo pesoas e lugares que lhe der per Regimemto.
E quamto h e ao trelado do regimemto que lhe der, porque respomdo a
esta sem ele imda ser chegado, que sam xxbj dias ! de setembro, ho nam
ponho aquy nesta mesma carta; quamdo lho der, hir ho trelado a vos al-
teza.
Quamdo aquy chegou framcisco pereira, ns esta vamos em asaz ne-
c ...... e comveo tirarmos da nao .......... asy pera aoso mamti-
memto, com. . . . . . . . jemte tocar soldo, que ho pidia . . . . . . . . asy
pera se comprar algum arroz pera armada, porque nam padecia o tempo
aguardarmos que fose a cochim, aimda, senhor, que a nao vay tomar carga
a calecut; e se el Rey de cochim nam tem maneyra pera se nego cear a
carga da pimemta pelo preo qu me vos alteza avisou per.outra carta
'Seiscentos quintaes.
1
Vinte e seis dias.



...
CARTAS DE AFFONSO DE ALBUQUERQUE 267
que a jam serro ouuera, a mim me parece que emquamto se nam fizer
soma de dinheiro, que ho partido de calecut he milhor que ho de cochim,
que he dar pimemta pelo precQ e peso de cananor a troco de mercada- .
. rias de toda sorte; e porque no cobre se perde muito, parece me, senhor,
que he muy gramde partydo gaStarem se doutras mercadarias, e do co-
bre m\ly pouca cousa; imda que em cochim nem em outra parte dse
a pimemta a vos alteza a troco de cobre pelo preo da feytoria, nam se
devia de dar em nehiia maneira, porque se perde muito nele; e damdo se
per outra sorte de mercadarias, como calecut tem asemtado, parece me,
senhor, cousa proueitosa: julgue o l vos alteza, porque eu nno emtemdo
qu milhor; e comtudo, senhor, digo que se se a carga da pimemta fizer per
dinheiro, que avees da ver a pimemta muito de barata ........ eito ha
mester que de vos alteza ......... cabedall, mas ele imda se .. .... .
. . scarrega das naos, logo he .... las a mayor parte dele, e o que fi-
.... homens qerem pagamemto de seu soldo; quamdo vem o outro ano
desta maneyra se hade fazer a carga: aguardam pelo cabedall que de l
vem pera comearem a carga, porque eu nam vejo qu hum soo Reall
nem hum soo quintal de n1ercadarias nas vosas feitorias, nem vejo des-
pesas tam desordenadas de que m espamte; tudo he fazer ha gal, que
custa bjc cruzados t, e fazer hiias poucas de paredes das vosas e
acrecemtamemto forteleza, que custa ij' crusados!; o corregymento .
das naos d armada pouco gasto fazem; soldo tem e mamtimento os car-
pimteiros e calafates, tonoeiros e ferreiros: a despesa da imdia, como per
muitas vezes tenho dito a vos alteza, tudo Redumda em mamtimentos e

soldos; as armas dos homeens boom dinheiro lhe custam: e pois senhor
daes escala framca.aos mouros, que pisem ese mar ha sua vomtade, e hy
nam ha percalos pera que a jemte toqe soldo, nam he nada a mercada-
ria que mamdaes imdia, pois lhe vedaes ho mar Roxo.
Nem a mercadaria vem di da. . . . . . . . . . cambaya nam pode vir a
tempo . . . . . . . . ga haas naos. D uum ano pera . . . . . . . . . . de ser o
dinheiro feito pera a carga ......... da; digo, senhor, que ha carga
feita nam seria senam cousa proueitosa, porqu.e de janeiro por diamte
.a dinheiro se poderia a ver a pimenta muy de barato, e naquele tempo
pde vir ho retorno das naos do trafego de cambaya; e por iso digo, se-
' Seiscentos cruzados.
2
Tres mil cruzados.






'
268 CARTAS DE AFFONSO DE ALBUQUERQUE
nhor, que no tempo que as mercadarias chegam de purtugall e se am dir
vemder a cambaya e com aquele dinheiro se ouuer de negocear a carga,
que nam podem as naos aquele ano ir a eses Regnos; feito ha d estar h o
dinheiro dum :mo pera ho dinheiro (sic), pera se negocear a carga pelo
preo que desejaees, e per mo de vosos oficiaees nesa terra ondela nace:
acabjlda em goa a xx dias doutubro, amtonio da fomseqa a fez, de t5t4-.
(Por lettra de Albuquerque) feytura e servydor de vosa alteza
Afnso d alboquerque t

CARTA LII
- 1514 -Outubro 20
Senhor.-Vy a carta que me vos alteza espreveo sobre as naos da
carga que estano chegaram imdia, dizemdome que pela ymemta da
carga da imdia, do lotamento das cargas das espiciarias que mandaes qne
levem, e que pelo mesmo lotamento viria as sortes e soma das espiciarias
que na diia carga am diir. Digo, senhor, que damdome pero dalpoem
ho mao, que foy a ptimeira nao que chegou imdia, mamdey logo ha
fusta de g o a ~ omde macharam, cos cadernos da carga, avisando ha feito-
ria de cananor e de calecut e de cochim da espicyaria que mandaes le-
var; e porque hy ha muy gramde deferema do jemjivre de calecut ao
de cananor, mandey ao feitor de cananor que nam comprase nehum jem-
. jivre senam aquele que j tinha Recolhido em pagamento das mercada-
rias que j tinha fiadas aos mouros, ho quall nam avia por voso servio
carregar se pera eses Regnos, mas que h o em vias e a goa per a se vem der
has naos d urmuz, quamdo viesem cos cavalos.
E asy avisey logo ho feitor de calecut, que do jemjivre beledy eom-
prase mill e quinhemtos quintaes pera a carga destas naos, que era a soma
que vos alteza mandava levar.
Feita esta dilijemcia, chegou a nao em que vinha luis damtas, que
trazia seiseemtos quintaes de cobre, pouco mais ou menos. e bem asy
trazia soma de marfim de moambique; e por ter sempre gramde valia

I Torre do Tombo-C. Chron. P. t., M. t6, D. 6.7 .



CARTAS DE FFONSO DE ALBUQUERQUE 269
na imdia, mandey logo a nao a correte a grarn presa, e o mesmo feitor
dela que feitorizase a mercadaria e comprase a soma d anill e alaqueqas
que mamdaves levar, e bem asy trouuese Roupa pera ofala e pera ma-
laca.
E quamto h e, senhor, ao que vos alteza diz, que asy estas que agora
mandaes, como outras que qu estam, vol as mande carregadas, Res-
pomdo, senhor, que emquamto hy ouuer cabedall, que nam ha de ficar
neha naao na imdia das ordenadas ha carga, carregadas estas deste ano,
se ficar nas feitorias dinheiro e mercadarias que abaste pera a carga de-
las, deixamdo alguum Resguardo pera mamtimemtos desas fortalezas:
aquy tenho a nao sam pedro e a nao emxobregas do estaleiro
e muy bem aparelhadas, que qu ficaram, por lhe os vosos feitores gas-
tarem seus cabedaes, e nam por minha culpa, como eles l espreveram,
as quaes iram carregadas.
E quamto h e ha necesidade que delas quaa p de a ver, quamdo o
vir pelo olho, emtam m aproveytarey delas, mas em outra maneira nam.
E quamto be ao que vosalteza diz, que as naos vam bem carrega- .
_das, tudo se oulha q como compre a voso servio, sobre esse feito se
faz sempre dylijemcia: .acabada em goa a xx dias d outubro, amtonio da
fomseqa a fez, de i 5 t 4.
(Por lettra de Albuquerque) feytura e servydor de vosa alteza
Afon1so d alboquerque.
(Sobrescripto) A el Rey noso senhor t.
CARTA Llll
11>14-0utubro 20
Senhor.-No que me vosalteza espreve sobre o acrecemtamemto
do soldo do arell, eu h o pus naquelo quamdo se tomou christo; agora
. que lhe vos a]teza faz esta merc, tudo he nele bem empregado, porque
ele he verdadeiro servidor de vos alteza e seus irmos e toda sua casa
sempre sam chamados pera todallas delijemcias e trabalhos que compre
'Torre do Tombo-C. Chron. P. t., M. !6, Doe. 60.


270 CARTAS DE AFFONSO DE ALBUQUERQUE
-
em cochim, e ele serve bem. e tem muita jemte e mando na terra, porque
todos eses macuas, pescadores e marynheirus e barqeiros, tudo he debaixo
de sua jurdiam e e aimda me parece que ha trazer todolos
ars seus paremtes, asy o de calecut e o de porc e o de caecoulam, a
serem christos, e j mo a mim mamdou cometer o de calecut: -eu ho
achey hum pouco de qebra com elRey de cochim, quamdo vym dadem,
e pola omrra e gasalhado que lhe Jazia, ho chamou elRey, e lhe desco-
brio em gram segredo que fizese comigo que ho fose vr a sua casa,
e eu asy por comtemtar elRey de cochim, corno por soldar suas quebras
com ele, ho fuy ver, domdele ficou muy muy aceito a elRey e em gramde
amor seu.
he ao dinheiro da divida deiRey de travamcor, ela era de
faz.emda sua. Louremo moreno, amtonio Reall e diogo pereira, vieram lhe
tres alifamtes em retorno, gramdes e muy fermosos, e dons deles prim-
cipallmente de gram trabalho e de gramde fora; faley eu com h o arell,
se qeria v.emder ho seu quarto; alargou o por bjc pardaos
1
; os dons quy-
nhes damtonio Reall e diogo pereira, larnceilhe mo deles; mamdey os
alifamtes a pera se vernderem, cmt.regues ao voso feitor; \em hy Lou-
reno moreno hum quarto, e vos alteza os tres, se eses homens que l
sam merecem algum castigo por seus emganos e falsydades.
Quamto he, senhor, aos palmares que diz da pouoa;1m, ele husou
do h uso e fruyto deles, sem lho nimguem comtradizer: alevam-
tou se o fogo lugar, qeymou lhe as palmeiras, e asy se faz muitas ve-
zes em cochim e em outros lugares; parece me que lhe nam tem v.os alteza
obrigaam a iso, porque hy avia povoaam damtes, e jeralmente vivem
por eses palmares quem quer, imda que as palmeiras nam sejam suas: -
tomarey porm milhor a emformaam deste caso, como chegar a cochim,
e sele tyver justia, pagar lho am: acabada em goa a xx dias d outubro,
da fomseqa a fez, de t5t4.
(Por lettra de Albuquerque) feytura e servydor de vosa alteza
_ Afomso d alboquerque.
(Sobrescripto) A El Rey noso senhor
1
.-
' Seiscentos pardaus.
J Torre do Tornbo-C. Chron. P. t., M. 16., D. &9 .



'
I CARTAS DE AFFONSO DE AIJBUQUERQUE '1.71



CART.A LIV
11S14-0utubro 20
Senhor.-Per hua carta de vos alteza vy a determinaam sobre a
seda e estanho, e em comprimemto de voso mamdado mamdey logo a
mesma carta ha feitoria de cochim, e mandey que se Registase no livro
da feitoria, e que se comprise imteyramente o que voss alteza mamdava; -
e asy mamdey os trelados delas, hum feitoria de calecut, outra ha fei-
toria de cananor; se vos alteza ho l vir, saiba que nam sou eu
na terra.
E asy vy outra carta de vosalteza sobre a carga das camaras que
vos alteza de l ordena, e sortes _d espiciarias que ajam de levar nelas os
capitees a que delas fazees merc; e em comprimento de vogo mamdado
mandey logo os trelados haas feitorias, pera que se comprise imteira-
memte o que vos alteza mamda.
E asy mamdey aos oficiaes que oulhasem bem hua decraraam que
vinha no caderno da lotaam da carga sobre a qebra da pimenta, ha quall
nacia do desemparo do peso, emcomemdado ao feitor da nao que ha rre-
cebia,_ e aos dous esprives mala,ares, e pela receita do feitor da nao se
fazia a paga aos mercadores e pela ememta dos esprives mala vares; e
neste feito, senhor, nam digo mais, senam que se vos alteza quer em vo-
sos tratos ser bem servido e vosa fazenda aproueitada, nam ponhaes nela
homeens que ha mamdem como fernam Louremo, mas que se prezem
das vosas na cimta, e d estarem co olho no fiell da balama, e de
s vezes ajudarem a emfardelar e desernfardelar e de meudamemte proue-
rem estas cousas per sy e per seus olhos, e este que estas comdyees
tiver, oulhar a pime1nta se he molhada e se. traz muita ujidade, e ou-
lhar os pesos peso por peso, e vela meter na barca e levar dereit.a-
memte nao: vejo, senhor, qu 'isto por outras cousas de meu carrego,
que se as nam prouejo meudamemte com minha pesoa, nam vay nad
avamte; e eu sey isto do peso e vy o peso; e comtudo nam deixo s ve-
zes de dar boas repremsees a vos os oficiaes deste e doutros; e
asy lhe man1dey o capitulo da carta acerqa da determynaam de vos alteza


..

,
CARTAS DE AFFONSO DE ALBUQUERQUE
sobre o preo da pimemta se comprar por menos do que agora est asem-
tado: asy, senhor, que saiba vosaleza que em meu Regi1nemto e cartas.
nam vem cousa determinada que se aja de fazer em vosas feitorias e em
vosa fazemda, que logo nam seja imviada a vosos ofyciaes e registado no
livro da feitoria: se eu estou no mar Roxo ou em malaca, e o eles nam
querem comprir, nam tenho eu culpa nese feito: acabada em goa a xx
dias d outubro, amtonio da fomseqa a fez, de i 5 t 4. _
(Por lettra de Albuquerque) feytura e servydor de vosa alteza
. Afonso d alboquerque.
(Sobrescripto) A El Rey noso senhor.
(ln dorso, por lettra coeva) dafonso dalboquerque sobre a defesa
da seda e a carega das camaras-sobre a lotao da
carga-sobre a limpeza da pymenta-sobre o peso della-sobre o preo
della '
CARTA LV
1514- Outubro 20
Senhor.-Per outra cart.a de vos alteza vy a lernbrama que me
mamdaes que tenha da mina do ouro que est jumto com malaca, e asy
da esperama que dou a vos alteza do .dinheiro da pimemta e cobre e ou-
tras mercadarias que se podem gastar em cambaya e em urmuz: Res-
pomdo, senhor, que ho que vos tenho esprito, eu volo farey boom; e de
vosalteza dizer, que com o de qu se fornecer todo o cabedall do di-
nheiro da . carga da pimemta, e asy pera outras despesas que se qu fa-
zem, a isto, senhor, Respomdo que ha eulpa nam he minha de se este
feito nam meter em ordem, porque ha feytura desta as vosas feitorias es-
tam varridas ha vasoira: chegaram as naos da carga np ms de setem-
bro, tem outubro e .noven1bro pera sua carga; como se podem levar as'
mercadarias que elas trazem pera sua carga ordenada, .. a cambaya, e vem
derem se e tornarem co dinheiro a calecut e a cochim. pera aviarem sua
carga? porque tempo, om as aguas que correm ao sull, e os vem-
1
Torre do ToJDbo-C. Chron. P. t.-, M. 16, D. MS.



DE AFFONSO DE AIJBUQUERQUE 273
_ tos que sam nam poem ha nao menos de cochim a cam-
haya menos dum ms, semdo muito curto caminho: asy digo, senhor, que
as naos que cad ano vem imdia, am de trazer demtro em sy o cabedall
de suas carregas, nam podem mais fazer que descarregar e fazer payoees
e tomar logo sua carga, e da maneira que vos alteza diz que se ese feito
meta em ordem, ha mester eabedall apartado, que tenha o dinheiro
pera o tempo da carga.
E mais digo, senhor, que quamta mercadaria j gora derdes polos
preos que lhe temdes postos, a troco da pimemta, em toda perdees o
dobro, poJa istima em que j gora estaa, afora o preo da pimemta- ser
mayor do que ser, pagam do se per dinheirq.
Dos ganhos do trato de qu, se vos alteza bem soubese e os
' sese crer, mayor fumdamemto faria do trato de qu que do de
l; e de vosalteza dizer que de qu esperaes de vos ir muito dinheiro e
muito ouro, niso nam tenha vos alteza duuida neha, nem creaees, senhor,
que isto sam cousas d ornem que est na imdia, porque ha cousa de me-
nos istima na he dinheiro, ouro e prata, e nam _chegam mercada-
rias a cambaya que logo o dinheiro nam seja na mo, nem a vrmuz, nem
a malaca, nem a amatora, nem a pego, nem a nehiia parte; nem os
mercadores que estas mercadarias compram, nanas compram per mevdo,
senam por groso e soma gramde, .. porque nam he nada irem cem mill
cruzados de cobre a cambaya, e vemderem se todos ell;l dia em
lallte ; nem he nada ir hoa nao carregada de pimamta a v.-.nnz, e . vem-
. der se toda em ha ora em comtamte: mais, senhor, vos digo, e tomo deus
por testemunha, que todolos portos de tratos e mercadarias sam abertos,
e o de preste joam, co ajuda de deus, desta vez sasemtar: se
quer que homem faa obra, mamday cabedall, que nam amde tam afo-
-gado cpmo he o da vosa carga, porque esas migalhas que de l escapam,
beno mester os mamtimemtos da jemte e das fortelezas e alguum
gamem to de seu soldo; e pera terdes carga negoceada per dinheiro e por
boom preo, diamte am d achar as vosas naos da ordenama da carga o
dinheiro pera a verem de carregar, ou carga feita por dinheiro; e tamtas
meter na imdia, que em cada viajem
ir xxx ou l{i mitieaes' douro metidos em hum cofre, ou I pardaos
1
, ou
-
' Trinta ou quarenta mil miticaes.
1
Cincoenta mil pardaus.
33
-
..
I


!7i CARTAS DE AFFONSO DE ALBUQUERQUE
serafins, ou tamgas, per como a moeda istivese na vosa feitoria: isto, se-
nhor, que vos eu esprevo, nam tem comtradiam nem duuida: gramde lago
de mercadarias he a imdia, e gramde soma douro e de prata h a nela, e
gramdes sam os ganhos: o marfim que se das vosas casas de l mamda
a framdes, h e lamado a lomje, e qu tem muy gram preo: nam me pesa,
senam porque vejo vosos tratos e feitorias amdar em poder d omeens
cortesaos: apegai vos, senhor, cos mercadores que tiverem imtilijemcia e
saber, e terees mayor tisouro na imdia d!J que temdes .. em purtugall, e deus
sabe que eu vos esprevo estas smemte, porque me doy a carne
de as ver em mato maninho, e vejo a vosa jemte qu com hum barco dum
palmo em alto serem homeens de muito dinheiro, e os capites que tra-
zem suas companhias, tambem tocam dinheiro e o sabem bem dobrar, e
nam vos vejo feitor na imdia que vos saiba mamdar hum avyso destas
cousas, porque vejo cad ano .nas cartas de vos alteza falar me neste feito,
como cousa nova que mandaes apalpar e de que nam temdes neha em-
formaam nem aviso; e eu, senhor, nam m espamto diso, porque nam ha
d emtemder pedr ornem tamto na como bertolameu.
Torno, senhor, a dizer a vos alteza, que se qerees que as vos as cou-
sas na imdia faam proveito, que as metaes em ordem, e se vos
quer que ho eu faa, mamdayme as achegas; e se hy ha que ememdar
sobre os avisos que vos neste caso mamdo, venham em voso regimemto,
e faloey, porque nam sam tam cQmfiado no meu saber, que vosalteza
nam tenha pesoas que ho milhor emtemdam e saibam meter em ordem.
Hos ganhos das mercadarias de malaca na imdia l vol os tenho es-
prito e esprevo, e os ganhos das mercadarias deses Reynos em cambaya
e em vrmuz l vol os tenho espritos; os ganhos e proveito que se pde fa-
zer dnm porto a outro, dado tenho j muitas vezes a vosalteza comta:
os lugares e portos homde selas podem gastar, e o r.etorno que dy pde
vir, Jargamemte vos tenho dado diso comta, porque ho vejo qu pelo olho:
acabada em goa a xx dias doutubro, amtonio da fomseqa a fez, de l5tt..
(Por lettra de Albuquerque) feytura e servydor de vosa alteza.
Afomso d alboquerque._
(Sobrescripto) A El Rey noso senhor
1

a Torre do Tombo-C. Chron. P. I. , Mav. D. 6i.

CARTAS DE AFFONSO DE ALBUQUERQUE .175
CART LVI
1514-0utubro 20
Senhor.-Vy a carta que me vos alteza espreveo sobre gaspar pi-
reira ter vos escrito que eu nam qeria fazer seus oficios com elle: se vos al-
teza achar que tall he verdade, d me aquela pena que eu merecer, como
homem que_ nam cumpre vosos mamdados; e se eu, senhor, pronar que
eses dias poucos que istive. na imdia e ele em minha companhia, nam ser-
vio seus oficios imteiramemte, e com mais creditQ e mais honra do
que trazia per seu aluar, tnamdailhe, senhor, dar de mynha fazemda
quamta ele quyser: l, senhor, tenho esprito como ele de sua mo pOs os
tabaliees, e lhe arremdou os a fi cios e ouue muy boom proueito deles;
amtonio dafomseqa e fernam pimintell e fernam moniz que espreviam os
despachos do negocio da imdia, ele os recebeo, e lhe dana certa cousa
do que ganhava: dise que era doem te e que nam podia amdar esps mim;
diselhe que vise elle os despachos, e que lhe posese a vista nos que lhe
bem parecese, e que eu os asynaria; punha lhe a vista, e asynava os eu,
porque, senhor, se quysera despachar as partes em dias aprazados, e
momtes de pitiees, nam podera nunca sair da imdia, porque meu cos-
tume he, omde me dam a pitiam, aly a leyo, e aly dou logo despacho
parte: durou isto asy at que fuy a cananor: quysera ele aly ficar e en
nam quys, e levey o comigo a goa; como belastarym, tomou se
logo a cananor e a cochim, dizemdo que hia arrecadar seu fato; pidime
hum navio, e deilho, e nam quys vir; pidime ha nao, dei lha, e nam quys
vir: depois de partido, dyseramme que sagravara, porque lhe nam dera
a capitania da minha 'nao propria em que eu hia, e ele nunca ma pedio:
sam homeens, senhor, que qerem \1iver desa maneira que vedes; qerem
ficar retraydos a boom viver, e polos vos alteza nam culpar, esprevemvos
l eses achaqes: deixo eu aquy as cousas que ele fez, de que j l tenho
dado com ta a vos alteza e dou per outras cartas; somem te digo, senhor,
que ele esteve comigo ms e meyo em cochim, e que daly at minha par-
tida pera o estreito nam ouue senam armas e ganhar benastarym, e em-
barcar e partir; e eu, vos beijo as maos por me nomeardes logo,
35


'



i76 OARTAS DE AFFONSO DE AI .. BUQUERQUE
que gaspar pereira vos escrevera este agravo de mim, porque, se mo asy
vos alteza nomease todolos outros que vos l esprevem ha sua vomtade
de mim, seria muito voso servio, porque vos saberia dar mais verdadeira
rezam de mim, e eles por iso nam am d ave r castigo de mim nem Reprem-
sam; e pela vem tora, senhor, vos nam ousarm h os homens d -esprever
senam verdade, quamdo souberem que ha vos alteza quer saber; e pera
vos alteza vr quem h e culpado em gaspar pereira nam servir seus oficios,
se eu. em lhos tirar, ou ele em nanos qerer servir, nem amdar comigo,
vos mamdo, senhor, duas cartas suas, que ele fez justamemte pera mim,
tuamdo vos espreveo esoutra comtra mim: crede, senhor, que ey de fa-
zer sempre ho que me vos alteza mamda at ora da minha morte, e os
que vos espreverem ho .comtrairo, mamde mos vos alteza nomear, e serees
logo emformado da verdade: a nao que trouxe diogo pereira, que ele toca
na sua carta, vinha carregada de pimemta e de cobre, e era de Loureno
moreno, amtonio Reall, gaspar pereira e diogo pereira; desymuley eu a
nao, e fiz que ha nam via, e peo nos, senhor, perdam diso; omrey e tra-
tey diogo pereira como ele na sua carta diz, e ele acabara aquela ora de
tirar a pena da mo com que vos espreveo a carta d amtonio Reall: fo-
ram vemder suas mercadarias, e vieram carregados de pardaos, e de-
ram me ese galardam que vos alteza tem visto per cartas suas, assaeam-
do me mill falsidades; e noso senhor que vee todas estas cousas, as bir
fazemdo craras amte vosalteza pouco a pouco, e os conhecer vosalteza
cedo quem eles sam, porque eu vos -cei1ifico, senhor, que daquela note-
ficaam pubrica que fiz diamte de todo pouo, lemdolhe a carta que vos
tinham esprito amtonio Reall e diogo pereira e gaspar pereira de mim,
nam ouueram outra repremsam, somem te lhe dise que m espamtava deles
serem tam imigos das cousas de voso servio e taro emvejosos de as ve-
rem com dilijemcia e boom cuidado acabadas, que trabalhavam ~ o m seus
emganos e falsydades ~ e danarem hum homem que com tamto desejo e
amor vos servia na imdia, e nam lhe dise_ mais, e estava hy joham de
sonsa. e amrique nunez.
Depois da vimda do mar Roxo soube que gaspar pereira fOra o que _
amdara prouocamdo os capitees a escamdolo, dizem do lhe, que como
alargara eu os mouros de benastarym sem comselho deles? e eu, senhor,
tynha j a temam de cada hum, quamdo fuy correr as estamcias da jemte,
e ver s estavam todos cos capacetes nas cabeas e as lamas na mo, pera,
fazemdo hartelharia obra, pera lhe darmos hum eombate e os emtrar-
'
CARTAS DE AFFONSO DE ALBUQUERQUE !.77
mos, sem aver hy outro comselho senam ter eu 1omado a vomtade de
cada hum; e neste escamdolo que amdava semeamdo, diss que os mouros
me deram huum eofre douro, e que meu sobrinho ho recebera, e que por
iso os alargara, e pl o ele por capitolo quamdo amdava temtamdo hos
homeens repremdidos de mim, alegando certos capites que tinham asy-
nado nos capitulos, como j l tenho esprito a vos alteza, e asy o fez me-
ter na carta d amtonio Reall.
Outra, senhor, fez em eananor, quamdo pubryquey a todos a carta
damtonio real I e seus parceiros tinham esprita de mim, cnidamdo alguuns
que quisese eo emtemder em castigar qu amtonio Reall; parece que ti-
veram deseomtemtamemto do que viram na carta, e escreveram sobre iso
hua carta a vosalteza, e quyserana meter no mao de vosalteza, e eu
nam quys: mamdey eu gaspar pereira a goa, e comeou l de semear
amdamdo, como ele fizera fazer aquela carta aos eapitees, nam pera a
mamdarem a vos alteza, mas pera eu qu nam ter amtonio Reall, e que
os capites que a nam mamdaram; pareceo lhe que desta maneira me po-
deria milhor comtemtar com jorje de melo, dom joham dea, Iopo vaz,
femam gomez e joham gomez, e outros que magora nam esta
he, senhor, ha prouedoria de vosa fazem da que ele quaa aJDda ordenam do,
danar os capites comigo, como fez tempo do viso Rey: acabada em
goa a xx dias d outubro, amtonio da fomseqa a fez, de t 5 i i.

(Por lettra de Albuquerque) feytura e servydor de vosa alteza
Afomso d alboquerque.
(ln dorso, por lettra coeva) dafonso dalboquerque sobre gaspar
pere1ra.
( Sobrescripto) A el Rey noso senhor
1

Tone do Tombo--C. Chron. P. 1., Ma. 16, D. 66.

'



----------------------------------------


!78 CARTAS DE AFFONSO DE AIABUQUERQUE
CARTA LVII
1514-0tubro 20
Senhor.-Posto que pelarmada em que veyo Ioham de sonsa, te-
nha avisado vos alteza de todo feito do mar Roxo e muy mevdamemte de
todalas cousas de demtro dele, e asy d adem e do negocio como pasou, e
dos rex e senhores que jazem na Ribeira do mar Roxo, e seus poderes de
jemte de pee e de cavallo e a quem obedecem, e asy das ilhas e navega-
am de demtro do mar Roxo, dos portos e terra do preste Ioham, daque-
les lugares em que hy ha aguua, vem tos e temporaees que l achey,
e de todo este feito muy mevdamemte; como creo que j l estar diamte
de vos alteza, e alem de tudo Rubam e pyloto do estreito, homem mara-
vilhoso pera vosalteza ser milhor emformado, tocamdolhe as cousas que
daquelas partes vos esprevy, por omde me parece que vos alteza deve de
ter verdadeira emformaam das cousas que me apomtastes em certos ca-
pitolos d ua carta gramde, e aimda agora me parece bem tornar a falar
neste feito, em alguas cousas de que vos alteza deve de fazerfumdamemto:
Primeiramemte, senhor, digo que adem se deve todavia dasenhorear
com fortaleza, posto que feito o asemto demtro no mar Roxo em meu
e descoberta esta danosa e pyrigosa cilada e fama dos Rumis pera ho
asesego da imdia, nam ha hy hadem, nem qem trate nela, nem nao que
ha ouuese de vir o olhar: porm, senhor, tolhem do ha imdia h o trato
dadem, da Ruiva, passas, amendoas, afiam, cavalos, \amaras, ouro, e
gasto das mercadarias de q da imdia, a saber, Roupa branca, outra
Roupa de toda sorte, .espiciarias, drogarias, arrozes, algodes, panos de
seda, era destroirdes a imdia de todo, e s emcherem nos amigos e imygos
d escamdolo, quamdo lhe tolheses h o trato que a vos alteza nam traz per-
juizo; mas pera segurar adem, que se nam criye nela fora que bula com
ho asesego e asem to da imdia, e asy pera vos alteza receber proueito e
trebuto, adem se deve d asenhorear com forteleza, porque temos porto
morto de todolos vem tos, em que as nosas naos podem imvemar; e nam
vejo nehum imcomveniemte ese feito senam agua, que nam ha naque-
les lugares e sytio em que me parece que estaria bem a e esta,

CARTAS DE AFFONSO DE AIJBUQUERQUE 279
senhor,. he a mayor fora que adem tem; porm, como j tenho larga-
memte esprito a vos alteza, ho porto de vjufu, que est trs as costas
dadem defromte na terra firme, estam certos poos dagoa, os quaees se
deviam primeiro de segurar, asy pera se ganhar adem, como pera a for-
taleza a ver o provymemto d agua daly daquela parte, porque se faz s
vezes dous anos e tres que nam chove em adem. ,
De se ganhar adem nam tenha vos alteza neha duuida: verdad est
que adem, se nosos pecados nam foram, esa pouca jemte que eramos,
se poderamos emtrar demtro nela, todavia a levaramos nas mos; agora
j ha mester iiij ou h homeens
1
, porque, as cousas avisadas na imdia, tem
todo emjenbo e saber e fora que ha mester pera sua defemsam, como
em todalas outras partes; e com tudo isto, senhor, que digo, se hy nam
ha agua, todo feito he nada
A ilha de eira, que est no porto e pouso das naos, qen a ganhar
tem adem na mo: parece me, senhor, que tem milhor combate pelas cos-
tas que por omde o cometemos, porque a mar que bate no muro, nam
deixa fazer asemto d artelharia, nem estancias, e se a queremos cometer
de baixamar, com fora descadas ba de ser ganhada; e destoutra bamda
das costas dela tem o lugar pera fazer estamcias, e podemoslhe tolher o
caminho da porta e o prouimemto d aguua e mamtimemtos, e ganhada a
porta da serra, temos ganhada a cidade.
E asy, senhor, me parece milho r combate pelo porto que se chama
focate, que est da outra bamda de eira, polo mar nam chegar de todo
ao muro, que estoutro lugar por omde o cometemos; porm, senhor,
a mim me parece que adem se deve de cometer cos ponemtes e nam cos
levamtes.
As novas que ao presem te tenho d adem sam estas: derribou a torre
que tinha no molde, alevamtou os muros da coiraa e baluarte que aly
estava, e est tudo sojeito ha serra omde eslava o trebuco; e ouueram
boom comselho, porque a torre nos era abrigo das bombardas e pedras
de cima da serra, que est a pique sobre Dizem que alevamtou mais
os muros da bamda do mar, foi lhe muita artelbaria grossa de qu da im-
e primcipallmemte de miliquyaz; aimda que ele cuida que o nam sey
eu, porque a este toca muito_ a dadem, que aquele ano que
emtramos ho estreito, nam ouue hum soo serafym de dereitos, por nam
. .
Quatro ou cinco mil homens.



-

iSO CARTAS DE AFFONSO DE AI..BUQUERQUE
.
virem naos d adem, que o primcipall trato de seu porto: alguuns di-
. zem que est o filho do xeqe eom jemte duas jornadas d adem, outros di:
zem que nam : pasaram de naos as que est ano foram adem, e vie-
ram dadem imdia seno podermos comtrariar, por nam termos harmada
aparelhada, e porque nos estamos comcertamdo pera nosa determinada
viajem omde nos mandaes ir.
Fortaleza na porta do estreito nam pde ser, porque hy nam ha
agua, nem devs, senhor, fazer fumdamemto diso, porque na parajem em
que adem- est, tres symgraduras da porta do estreito, eu haveria por
mais chave do estreito que ha mesma emtrada.
De parbara e zeila nam deve vos alteza fazer hy trato, nem asemto,
em trebuto as devs de pOr e em obidiemcia a vos alteza, o que eu creo
que eles receberm, porque nam podem ali fazer, se as nosas naos cada
mouam ouverem de trilhar aquele caminho: as mercadarias e ouro da-
quelas partes tqdo vem da terra do preste joham em cafilas: como vos ai ..
teza fizer o asetnto na terra do preste joham, emtam vos poderees milhor
determinar o que qers fazer de zeyla: pela vemtura qerer h o preste
joham que ha mamdees estruir, e tem do ns forteleza em adem, de zeila
e barbora nos convem prover de mamtimemtos, porque daly se prov
. adem de trigo, mamteiga, carneiros, milho, mell e de todolos outros Ii-
. '
gum1s.
Acerqa, senhor, da ilha de camaram, aquy ha novas que fazem
fortaleza nela, huuns dizem os Rumis
1
outros dizem que ho xeqe d adem:
tirarnosam dum cuidado, porque he ilha cerqada dagua, e se nos nam
poderem comtrariar harmada, sam tomados has maos; e que nos tenham
ganhada esta ilha, outra temos mais adiamte dons dias de navegaam
comtra jud, que se chama faram; est defromte do porto de jizem, tem
muita agua, e h e boom pouso pera as nosas naos: temos tambem dalaca,
que podemos levar nas mos lijeiramemte, em que hy agua.
H o asem to primcipaJI e primeiro que devemos de fazer, be em me-
u, porque a ns nos comvem segurar o prouimemto dos mamtimemtos
em lugar e terra que nos nam pnha em necesidade; e_ pois em meu
ha de ser o primcipall porto da terra do joham pera vosos tratos,
e pera hy ter ho ouro toda a sayda, como agora levam os mouros, aly
devemos dasemtar primeiro, e pera toda ajuda e fauor que nos da terra
de preste joam comprir, e asy pera emtender no feito de jud e meqa e
suez, se vos alteza quer que ho cairo tenha e. se vejie; porque


..


..
\
CARTAS DE AFFONSO DE ALBUQUERQlJE
' .
..
. ' 18t
certefico a alteza que com toda a gramdeza _do cairo e eom toda a
fora do gram soldam, se hy ouuer ha forteleza em suez desta bamda,
e desoutra bamda lhe ganharem alixamdria, que ho ponham em gramde
. comfusam, porque gramde cousa sam as emtradas dos dereilos dalixam-
dria e dos tratos . da imdia que ho soldam tinha, porque paga tam gram-
des soldos e tam desordenados, que se nam alevamtara a moeda e nam
busara de tirania no cairo, nan os podera pagar nem tivera a jemte que
tem; em tamta necesydade o tem posto.as Riqezas da imdia no cairo, que
lhe j gora nam vam sanam alga cOusa furtada que ha terra pde- gas-
tar: e as fortalezas nosa husama feitas nanas podem sofrer os mouros
pegadas em sua nem vivem descasados; e mais, senhor, termos ns
ho poder de preste joam em nosa ajuda, que sam homens muy ousados
e que tem fama nesta terra, e do que os mouros fazem gramd estima po-
los conhecerem por valemtes homeens, e tem muita jemte de cavalo e de
pee, e nos de dar toda ajuda que lhe pidirmos; e pela vemtura, se lhe
der embarcaam, passarm em jud e em meqa, a quall nam pde ter
guarniam jemte, porque nam pde ser prouida de mamtimemlos se-
nam com muy gramde .trabalho, porque jud nunca mais teve que at xb
mamalucos
1
, e meqa nunca mais teve que at u ou xxb; toda a outra
jemte de meqa sam homeens fracos, que estam hy como lrmitees sem
armas.
Estas sam as cousas primeipaes de demtro do mar Roxo, e que nos
mais compre e mais proueitosas: dalaca e meu, porque sam jumta hua
com outra pegadas na terra de preste joham, ten a pescaria do aljofar ase-
nhoreada, escapo la da mereadaria que vem terra do preste Joam; tem
fermosas casas e gramdes pouoaees de mouros, e ereo que faremos ha
Riqa presa neles; estam case tamto avamte como jud navegaam de dons
dias e ha noute at tres; estam a balravemto dos ponemtes que Reinam
sempre no estreito do mar Roxo; tem perto de sy uaqem, que est na
mesma costa. .
ABy digo, senhor, que destas duas cousas devees logo de faZer prim-
fumdamemto, e daly s emtemder a jud, meqa e suez; e pois qne hy
ha muitos e muy boons cavalos na terra de preste Joam, eo ajuda de
noso senhor lijeira cousa be quynhemtos purtuguezes a cavalo embarca-
, dos em boas taforeas e earavellas desembarcarem da outra banda de ju
.
t Quinze mamelucos.
.
36
. .


,
'

/



!8t CARTAS DE.AFFONSO DE AlBUQUERQUE
d, e correrem a meqa, qu he hum dia de caminho, e a qeimarem e fa-
zerem na em cimza; e parece me, senhor, tam leve cousa daeabar, que ha
ey por feita, quamto mais qeremdo o preste joam pasar, ou fora de
jemte sua em nosa companhia, e eu poer toda vosa jemte a cavalo; e
aimda, senhor, mais m afirmo que ganhamdo se jud, meqa se despouoa-
r, e nam poder viver, soster, nem mamter; e pois alarves em cima de
~ m e i o s ousaram de ha cometer e Roubar, parece me que nam he ele lu-
gar pera se defemder a purt11gezes a cavallo e a jemte abexia, porque
meqa nam tem nehum socorro, se lhe nam vier do cairo, que o xerife par-
cate nam he homem mais que de tresentos valalos
1
; e em todos aqueles
areaees, de meqa at samta catarina de momte synay e. at jerusalem, nam
ha hy senam alanes em cima de camelos, jemte nua e sem armas, sem
cabiceira primcipall e sem Rey, repartidas em cabilas: todalas outras ilhas
de demtro do mar Roxo sam esterles e cousa sem proueito: da bamda
da terra de preste joam devemos de fazer fumdamemto por todalas Re-
zes que tenho apom&adas; e as outras que sam da bamda do xeqe d adem
e de meqa destroylas, e plas em sojeiam e trebuto, nanos deixar na-
vegar, nem pescar, nem comer. E temdo ns tomado asemto da maneira
que dito tenho, nam he nada d acabar ho que digo.
Ho socorro que ho soldam pde mamdar ha meqa, nam he muito
gramde, porque ele tem sete mill de cavalo de demtro da sua foneleza,
que he mayor eerqa quevora; destes nam ha dapartar nehnm deles de
sy, porque sam guarda de sua pesoa, e s vezes ha hy alguazis deses que
socedem a cadeyra, que os cometem e os pimcham fra; os seus emires,
que sam capites seus primcipaes, nam am de tirar sua jemte de sy, nem
am de sair do cairo: ho senhor de damasco, nem dalepo e doutras for-
telezas que comfinam com xeq esmaell, nam am de desamparar a terra: asy
que me parece que at mill cavalos poder mandar, e estes am mester
pera o prouimemto do. camynho mais de i camelos
1
, e ha mester conti-
nuadamente mamtimentos de demtro do cairo, que ser muy desordenado
trabalho de prouer, poJo caminho ser muy lomje; e digo, senhor, que se-
jam dons mill de cavalo; quynhemtos ou seiseemtos portugueses nam pe-
lejarm eles hum boom dia e na boa ora com d o ~ s e tres mill mouros
de cavalo, e os desharatarm e levarm nas maos? e quamdo nos pare-
.
Bvideute lapso em vez de CtJ"allol.
1
Dei mil camellos
"

I -
CARTAS DE AFFONSO DE ALBUQUERQUE 183
cese que se niso avemturava algua cousa, pois hy ha tamtos cavalos na
terra de preste joam, lijeira cousa ser pr mi li purtugeses a cavalo, boons
homeens, e mais, senhor, semdo a travesa tam piqena: mayores cousas que
estas que me revela o esprito, se fazemos asemto e liama co a terra
de preste joam, e segurarmos mamtimemtos e boom porto pera nosas naos.
E porque noso asemto com fOIWieza a ver mester tempo, minha de-
terminaam he, ajudam do nos noso senhor, ficar aquele ano demtro no
mar Roxo com parte d armada, e com outra parte dela mamdar dom gar-
cia meu sobrinho ha imdia. .
Ho que destas cousas, senhor, me parece, he que voso prepo-
syto e dewrminaam de se qeimar e destroir meqa, que vos oomvem
nhar jud em toda maneira, 'e .sostela, se tiler agua demtro em por-
que hy nam ha outra cousa demtro no mar Roxo que tenha nome amtre
os mouros, senam jud, e mais he a po11a de meqa: daly se pde Tos al-
teza melhorar em suez.ou no tor; poderemos ser hy visitados dos frades
de samta caterina de momle synay, que estaam na serra vista do mar
Roxo, e de cartas e recados de vos alteza, se por esa via nol os quyser imviar.
As duas rousas outras de demtro do mar Roxo, que sam meou e
dalaca, duas ilhas que agora estam em poder da jemte do xeqe dadem,
estas debaixn do mamdo da nosa foneleza que fizer em meu, estar
tudo e a do aljofar que jaz aquy de rredor.
Quam\o he ilha de uaquem, que jaz mais adyamte comtra oo-
aer ao lomgo da oosta, esta ser proueitosa. pera o resgate do ouro que
per aly say, e de cimquemta omeens pera cima ha term a boom recado:
aaqem jaz defromte de jud, e creo aimda que hum .mais
adiamte OOIJltra o cabo . do mar Roxo; mas estas duas cousas, meu e
dalaea, qoe agora estam asenhoreadas do xeqe d adem, e tem senhor per
sy, co a pescaria do aljofar que est de redor delas, he das. proveitosas
cousas que ha naquelas partes; porque ha ilha de meu he a primcipall
escapola da terra do preste joam, que os mouros tem. Dalaca be muito
gramde ilha, \em muito gado, muitas e a pescaria do he.
gramde soma a que se aly pesea cad ano: acabada em goa a xx dias dou-.
tubro, amtonio da fomseqa a fez, de t5ii.
, (Por lettra ds Albuquerque) .feytura e servydor de vosa alteza
Afomso dalboquerque
1

' :' Tcare do Telhllq--C. P. JL.jo_
'
' I
,
,


,
28i CARTAS DE AFFONSO DE Af,BUQUERQUE
CARTA LVID
1G14-0utubro 20
-Senhor.-Vya carta que me vosalteza espreveo sobre gaspar
reira, e sobre seus carregos e o fi cios com que a estas partes veyo, e bem
asy deixa vos alteza em meu parecer, se h o dyto carrego de secretareo h e
necesareo pera cousas de voso servio, ou se se em alga maneira po-
deria escusar, e que nam oulhe neste caso haas paixes dos homens, se-
nam ao publico servio noso, confiamdo vos alteza de mim a determina-
am deste feito,_asy com9 em outras mayores ho faz.
Quero primeiro que saiba vos alteza h o que ett tenho feito a gaspar
pireira, e a obrygaam em qne me he; e digo, senhor, que me quys deus
fazer tamta merc que, semdo eu ho somenos sobrynho que meu tio o
prioll, que deus aja; tinha, in acertase ora de sua morte
bem de sua comciemcia e pera omrra de sua sepoltura, e pera lhe pagar
hua piqena de mercee que dele tynha cad ano, procurando sempre que
ho pryolado socedese dom Diogo dalmeida: deixo, senhor, de tocar nes-
tas cousas, porque 'ba hy homeens que amdam co mondo, e mais sam j
falecidos; e digo; senhor, .. que depois de dar sepultura a seu corpo, com
sa pobreza que tinha empenhada por esas casas desa cidade, e com
ajuda da minha pobre moradia, me ficou dele ha lembrana de seus .
criados, amtre os qnaees h ia gaspar pereira, que . era seu moo da ca-
mara; tomou elRey, que deus aja, gram parte deles, e nam emtrou neste
gaspar perira; tomey eu per muitas vezes e por espao d num
ano ou dons de requerymento com el Rey, que deus aja, em tall maneira
que, hueiras, ho tomou, e eu sempre lhe tive afeiam e amor,
e neses carregos que ln el Rey, que deus ja, cometia pera mamdar fra
algnas pesoas por seu servio, sempre folgava de as emderenar a ele,
e lhe mamdava dar bas emcavalgaduras desa estrebaria pera seu cami--
nhar, e algftua ora lhe 'pidia merc ou vestido desa guarda Roupa.
Psado isto; que fim ter imdia per voso mamdado em poder do
viso rey, omde achey gaspar pereira, e em seu modo de falar e em suas
praticas. e .em alguas aque me . qeria moter, ele me nam oom-
.. ,, ' .. .


'
.
- CARTAS DE AFFONSO DE ALBUQUERQUE 285
temtou, .e nano quys esprever a vos alteza, amtes creo que todo bem que
lhe nese caBo pude fazer, lho fiz: pela vemtura, se meu comselho tomara,
nam fOra perseguido do viso Rey, nem eu: alguas cousas esoomdo aquy
de suas culpas, porque nam qero danar nimguem, mas aproueitar amte
vosalteza quamto eu bem poder.
Partido o visorey, que memtregaram ho gouemo, gaspar pireira
busou de seus oficios comigo, e na emvolta de seus oficios suas manhas,
e quis me meter alguuns aluaraes ou palavras neles comtra voso regi-
memto, pera ter de -que fazer livro de mim, . e eu Rompia lhos ousada-
memte: ele, como homem o fano, tomava em caso d omrra Rompr lhe eu
os Aluaraees diamte dos olhos: asyney eu huum de framcisco de tauora
sobre a carga de sua camara do Rey gramde; lemdo mo ele, nam tocou
nu um pomto que dizia: e nano carregam do vs, per este lho ey por car-
regado nos direitos da pimenta: quamdo franeisoo de tauora me veyo
pidir a carga de sua camara, que me amostrou ho aluar, apartei me com
gaspar pereira, e dise lhe que daquela arte esperava ele d usar comigo;
que eu 1he Rogaua que deixase todalas cousas do tempo do viso rey, e
que emtrase em caminho que aquel p_alaura nam ma lera ele
no aluar, e mais que era contra o rregimento de vos alteza, e que fran-
cisco de tauora primeiro avia de dar o dinheiro pera carga de -sua camera
que lhe fose carregada, como vos alteza mamdava: nam ficou daquela pra-
tica muito comtemte, nem da maneira que avia de ter comigo aeerqa dos
despachos de voso servio e fazemda.
Nem menos ho contemtou ho modo de meu despachar as partes, o
. quall aly omde me dava a parte a pitiam, aly Recebia logo sua re-
posta: ele quisera feixees de pitiees cometidas a ele, o despacho delas
e saoo delas e porta e outras cousas que h o breve tempo da im-.
dia e as acupaees dela nam sofrem, porque s 'fezes deste modo de
despachar nacem mais percalos que da espritura.
_ Agastou se tambem com a ordem que levavam as cousas da justia,
repremdemdo me s vezes em nam lhe parecem do bem o modo
que tinha na justia, porque vio alguuns homeens jogar as cutiladas, ou
alguas travesuras, e qeria que sem mais serem ouuidos, fosem logo des-
e aoutados; e com aquele desordenado Rigor e per seu com-
selho, oomo se amtes fazia; e destas cousas que eu emtemdia, ho hia
. desapegamdo mamsamemte e metem do o em meu caminho.
Agrauou se tambem haaquele tempo, nam esprever eu mm :ene pera


. ,
I
\
.6 CARTAS DE AFPONSO DE ALBUQUERQUE
vos alteza, nam fazemdo ele letra pera iso, nem temdo eu aquele despejo
e sultura oom elle, pera verdadeiramente vos dar rrezam de mim e oomta
das cousas de voso servio, que poderia ter com quallquer outro hotnem
com que tivese jeito ou despejo, e, afra iste, ser pesoa meneavell e que
eu mamdase chamar ma noute e e a que s vezes dese
hua maa Reposta; que ho ver ele as cartas e a rrezam que dava de mim
a vosalteza, iso lhe nam tolhia eu, amtes ho chamava, e as mamdava ler
peramt ele, e lhas amostrava todas.
Agrauou se tambem naquele tempo por eu guardar alguum pomto
de segredo das cousas da Imdia pera mim, porque eu certefico verdadei-
ramemte a vos alteza que hua das cousas, e mais necesareas ao bem e
gooerno da he guardar ho gousmador dela segredo em muitas
cousas; e eu, senhor, nam tinha naquele tempo, nem tenho gaspar pe-
reira por homem de segredo, amtes escamdaloso e cho de zizania e dem-
borilhadas; as deses capites do tempo do viso rrey l as ter vos alteza
sabidas; as que quys temtar e fez em meu tempo, l volas tenho mamda-
das e mamdo.
Nem nas cousas de vosa fazemda naqn,ele tempo nam lhe achey sus-
1amcia, nem saber pera o meneo dela nem pera o comselho dese feito, e
aeho neste caso hum homem atalhado de todo; e cuidado
1
, senhor, que
tiramdo huns momtantes dagudezas de falar que ele tem, se vosalteza
meter a mo nele, e o meter em negocio de vosa fazemda, que nam sa-
ber dar hum noo nela proueitoso, nem receberees dele nehum proueito.
Naquele senhor, tne quis tambem meter em desordem e des-
. comoerto com barreto, que estaua por capitam da forteleza e da
terra, .e quis me fazer valador de suas emborilhadas con1 ele, e de tudo o
lamcey fra de mim: deixo aquy os comselhos qne .mele dava aeel'qa do .
mamdar. da terra e feitoria e vosa fazem da, estamdo o viso rey em. pose
da imdia e nam ma queremdo e semdo .. aos Bumis, porque avia
gtamde soma de papell pera esle feito. .
Porestas cousas que acima dito tenho, que gaspar pereira vio que
nam faziam asemto em mim, se foy de qu da imdia nam muito comtemte
do. modo de meu gouernar as cousas de voso servio; agora, $Dhor, -que
tornou, eu ho receby omrradamemte e bem, e asy me deus ajude, saohor,
que falo verdade, qae eu folguey muito r..om ele, e me .pareeeo que
,

I
'
I .
j I I
I
'
,

CARTAS DE AFFONSO DE ALBUQUERQUE
ele vinha asemtado em conhecer j ho istilo e modo qne levava nas cou-
sas do gouerno da imdia, e por me j ter conhecido e tomada a
ryemcia de minha comdiam e maneira do despacho e prouimemto de vosa
fazemda; e creo, senhor, que e]e me nam achou mudado daquel ordem
que as cousas de qu recebiam ao tempo de sua partida, e pois que nam
eram desaprovadas per vos alteza, que ele as nam estranharia, e se ama-
saria em tudo comigo, em maneira que as cousas de voso servio se fi-
zessem bem, e asy as suas proprias de sua omrra e proueito, comfiamdo
eu que de mim a ele seria seria (sic) rrepremdido dalguas tachas SJ.Ias.
Chegam do ele imdia, nen o comtentey eu nem ho modo de meu
gouemar, nem a ordem das cousas de voso senio e vosa fazemda,
nem o meu despacho nem a minha comdian1, nem o meu segredo nem
pratica, nem comselho que com ele estreitamemte tomase; nem lhe pa-
receo bem o asesego . em que achou a imdia, e os coraees dos ho-
meens fra d emborylhadas e mixirieos e maas pratyeas em soas pousa-
das; nem lhe pareceo bem o que achou nas jemtes de
mim ; nem lhe pareceo bem a minha domestica comversaam e trato cos
cavaleiros e fidalgos e ser companheiro deles; nem lhe pareeeo bem a
dada dos oficios e capitanias que dava aos homeens per seus proprios
Reqnerymentos, sem pitiees e despacho vim do per ele; nem lhe pare-
ceo bem chamar eu voso criado e pregumtar lhe se qeria ele tall oficio, e
dar lho; nem lhe pareceo bem dar eu rrezam de mim haas parte_s, omd ele
nam istivese presem te, nem ounir rrecado nem mesajen1 de ninguem, seno
primeiro mamdar chamar; posto que todo negocio cometese a ele, queria
que lhe guardase aquela oservamcia ou sojeiam,e acatamemto de meu
ayo, e nam de secretareo das cousas de voso servio, que ha sempre dan-
dar pegado minha ilharga e comygo, seno eu mamdar chemar (sic),
vemdo a maneira de meu despacho, que era em todo lugar e em todo tempo
que pera iso tinha lugar, ou m achase desacupado doutros trabalhos.
Seus oficios, senhor, que lhe vos alteza deu isemtamemte, lhos dey
e. com muy gram credito, porque ele pOs todolos tabaliees pubrieos de
sua mao, e lhe arremdoo os ofiios: de seu oficio da proueedoria em-
temdo que se lhe pregumtarem, e como se ha de fazer, que saber dar
pior Rezam diso da que amtonio Reall deu, quamdo lhe pregumtey, pe-
ramte quamros fidalgos estavam na casa, que cousa era mayor, e me
Respomdeo que ho nam sabia.
T.odo feito de gaspar pereira era vaidades; apregoar carre-
'
,

288 CARTAS DE AFFONSO DE ALBUQUERQUE
gos dos que lhe vos alteza deu; danar os homeens comigo; descobrir lhe
as cousas do segredo da imdia e aquelas ele falava estreitamem-
te; poer amteles sobre o meu Regimemto; amdar determinando por
suas pousadas o fim que a veria tall negocio ou tall que comeava d em-
deremar; qererme pr fra, Repremder e emmendar como homem ina-
bell, e que era pera governar dous graos de mostarda; e com es-
tas cousas amdava emcemamdo esas posadas e todoo pooo, e aimda ese
Rey de cochim e de cananor, que pde aver mao; e aly logo omde
dava Rezam destas cousas, determinava logo o que vosalteza averia por
bem e por mall.
Despois destas mevdezas do tempo do vysorrey e dagora, nam quis
ir comigo ao estreito, nem quisera vir comigo a benastarym, e qui se fa-
zer omiziado comigo e descomtemte de seus carregos, pera onesta ficada
sua, comfiamdo na vimda doutro governador, e apregoamdoo pubrica-
memte, e secretamemte a eses embaxadores ou misijeiros que comigo ti-
nham algua pemdema; e ficou na imdia com esta emganosa opiniam,
soltamdo isto amtr as jemtes, com jeitos e modos de vos falar com
el secretamemte neste feito, pera desasesegar os coraes dos homeens.
e metei os em novidades, e. nam avia cpusa de voso. servio que se falase,
que ele logo nam alegase a maneira de que vos alteza comsultara com ele .
sobre aquele negocio: aqemtou ele tamto esta obra, que nos seus jeitos e
modos de falar pareceo me homem abalado de seu siso; e porm, com-
tudo, sempre tratey homrradamemte, e sempre fiz as cousas de voso
servio com elle ataagora que vym do mar Roxo, e achey tamtas cousas
danadas de sua mao e per ele,etamtas cousas executadas e preegadas,
asy na justia como na fazemda como em todo ali, e tam abalado el Rey
de cochim e elRey de cananor e de calecut, e tam Revolto cochim e esa
jemte qu y fycou, e os que vieram de malaea, e asy o 'que agora come-
ava de fazer algnuns capitees abalados dalgas rrepremsees mi-
nhas; e prouue a noso Senhor que mo descobrio amtonio Raposo, e gas-
-par pereira nam mo negou, nem me eomfesou que toda a pratica que ele
tiuera com amtonio Raposo fra daquela maneira e com capitulos feitos
per elle, nomeamdo outros capitees que eram neste feito, nam semdo
asy; e com estas oniees qeria que falasem as jemtes nelle e com gabar se
tinha Regimemtos de vos alteza e cartas de vos alteza, e determinamdo o
que vos alteza ,a veria por bem e por mall, e tamtas destas cousas, que
vol as ouuese d esprever, nam caberyam em dez mos de papell, porque
I

CARTAS DE AFFONSO DE ALBUQUERQUE 289
he homem que se o vos alteza deixar viver nestas vaidades, sem soldo o ter
vos alteza cem anos omde quer que quiserdes; e destas emborylhadas e
oniees sabe as fazer milhar que todolos outros homeens, e meter todo hum
arrayal em Revolta, e sabe se milho r tirar dela que nehua outra pesoa.
Torno agora ao que vos alteza quer saber, se h e necesareo h o oficio
de secretareo da imdia: digo nos, senhor, que sy, e que ha mester homem
zeloso de todo bem, e de toda virtude e de boom comselho e boa imcri
naam, cho de todo segredo, porque todolos homeens que agravos ou
descomtemtamemtos tem de mim, todos vem buscar voso secretareo, e to-
dos lanam nele seus descomtemtamemtos, ou despachos que s vezes nam
saem sua vomtade; todos lhe comtam suas paixees, e todos me mam-
dam dizer por ele seus rrecados, em tall maneira, senhor, que todo ne
gocio em que jaz ho asesego da jemte, est nas maos de voso secreta-
reo, porque s estou no campo, aly est ele comigo; s estou na casa, aly
est ele comigo; sestou metido em hum camto, aly est comigo, e aly es-
tou com elle praticamdo e Ialamdo nas cousas de voso servio e no des-
pacho das se este homem tall me quyser lamar a perder e tra-
zer em deseomtemtamemto toda a jemte comigo, pode o fazer, porque nam
pde soltar. palavra, nem dizer cousa algua que lhe nam seja crida e
dado fee, por cam,ta parte tem de mim e de todo negocio da imdia: e mais,
senhor, ha mester homem e avisado, e que dee rrezam por mim
s vezes haas partes verdadeira, e que lhe mitigue suas paixees, e os
traga em comfiama de seus boons despachos, e que s vezes sofra seus
desarrazoamemtos, e com boas palavras os meta em comfiama de mim
e de minhas boas obras; e que tenha muy gramde segredo em
cousas que lhe eu descobrir, e nas cousas de vosos rregimemtos e
cartas; e que s vezes tome as culpas da dilaam do despacho dos ho-
meens sobre sy; e que nam seja tirano, nem leve mais jemte que aquylo
que boa nlemte lbe podem dar; e que em seus comselhos, quamdo tne
dele forem necesareos, sejam chos de boa temam, e que s vezes mos
dee, sem lhos eu pedir: este he ho homem, senhor, que eu ey mester, e .
nam pesoa que me faa sempre amdar- atalayado do que faz e do que diz,
e do que com ele falo e despacho, e que alguum ora qeira executar sua
comdiam com meu mamdo e com meu synall.
E se eu sam avido por menencorio, que obra poso eu fazer com
gaspar pereira, e que comselhos me pod ele a mim dar, amdamdo me
sempre ha orelha, senam aqueles em que se criou em cochim?
' 37
'

~ 9 0 CARTAS DE AFFONSO DE ALBUQUERQUE
E asy digo, senl1or, que pera testemunha de meus_ feitos, e porque
h e pesoa que ha d amdar sempre comigo, e que vos pela vem tora dar
milhor emformaam de minha vida e custumis que amtonio Reall e diogo
pireira e gaspar pireira, e todolos outros que estam oitocemtas legoas de
mim, e vos dam emformaam de minha vida e meus trabalhos desa nla-
neira que os vos altez l vi o na carta d amtonio Reall, devees sempre de
trazer huum homem de bem e omrrado e cho de virtude e dasesego e
de todo boom con1selho, e que tenha zelo de vos servir fielmemte, os quaees
vos alteza acha.r com soldo de cem mill reis e oitemta e daquy pera baixo,
com seus percalos, e nam duzemtos n1ill reis a gaspar pireira, homem
danado e de danada .comdiam, e que nam meter hum pee em ha naao
comigo, porque ho matem, nem poer ho Rosto em nehuum trabalho, nem
levar maa vida, porque lhe dem a governama da imdia, o quall toma
por sua escusa e ficar comemdo seu gramde soldo em sua oceosidade, ale-
memtaees de mim que vos l espreve, e dizeruos que nam qero eu fa-
zer com ele seus oficios, e ele nam deixaar a castelhana que trazia am-
tras mos, por lhe darem a milhor nao d ~ minha companhia: oulhe vos al-
teza l como se os homeens sabem curar das cousas em que os vos alteza
ha de culpar, amtes que ho saiba; e qu, senhor, trazem metam afagado
e tam cirymoniado, e mostram me tamtas dores suas, e que nam sam j
pera trabalhar; e depois de me terem bem mamso e bem seguro de nam
esprever eu a verdade deles a vos alteza, emta1n vos esprevem J, shor,
esas cartas, que vos deixam de servir por minha culpa: sirvam vos eles,
senhor, muyto bem em seus o fi cios, e culpem ma mim quamto quyserem,
porque asy o devetn eles de fazer; mas eles qerem levar boa vida, e
querem se escusar dos trabalhos de seus carregos e comer voso soldo em
cho, e eu dou lhe pera iso quamto lugar eles qerem, e calo me, e eles
por detrs emformam l desa maneira vos alteza: amtonio Reall com mui-
las lagrymas nos olhos me pedi o cartas pera vos alteza, dizemdo, que se
aquele ano se fose, que era perdido, porque tinha sua fazemda espalhada,
e tambem por segurar nam esprever eu a v. a. suas culpas e defeitos,
pi di me duas, pera irem por duas vias: como me party de cochim, gaspar
pireira, diogo pireira e ele fizeram esa ornada poesia que de mim mam-
daram a v.osalteza, cha das verdades da imdia; peo vosalteza por
merc, pelo que compre a voso servio, que me creaes, que havees d achar
em poucos homens da imdia verdade, e tome vos alteza a -espiryemcia
diso, e achar o que vos d i ~ o .
CARTAS DE AFFONSO DE AIJBUQUERQUE
Nam dou comta aquy a vos alteza do que me fez, chegamdo a CO
chim, acerqa do que faley com elle, quamdo me dise que garcia de sonsa
vinha com a capitania de malaca, que eu lhe respomdy: gramde cousa he
malaca, porque ficam l muitos cavaleiros e fidalgos que nam am de so- _
frer garcia de sonsa, e por fora os leixey com Ruy de brito: descobrio
logo a garcia de sousa, e eu nano podia amansar, t.am danado ho trazia:
disto esprevy j l a vos alteza; nem vos dou, senhor, comta como arre-
bataram aquela molher a seu marydo, e ha meteranl em ha nao de mou-
ros, e deram com ela em ma laca, semdo eu no estreyto; nem com to a
vos alteza -aquy, como lhe eu defemdy, quamdo fuy pera o estreyto, que
nam fose a cochim, polas deferemas damtrele e Louremo nem
cotnto a vosalteza ho que me dise cidy ale, embaxador delRey de cam-
baya, que lhe dise que nam fizese nada comigo acerqa da paz de cam-
baya, e que aguardase, que avia de vir hua pesoa primcipall muito aceito
a vos alteza, que se chama tristam da cunha, e' que com ele acabaria ho
com certo da paz de cambaya; nem conto a 'vos alteza como danou jorje
de melo, nem as emborylhadas que fez em moambique, pera fazer des-
avir jorje de melo e dom garcia; nem comto a vos alteza como tinha im-
dinado elRey de cochim comtra mim; nem comto a vosalteza como des-
cobrio amtonio rreall e a Ioureno moreno, como mamdava vos alteza
prender o caldeira, e como ho avisaram; nem comto a vosalteza como
.danou manoell de Iacerda haa sua partida, e pregumte vos alteza a jo-
ham de sousa, se me dise a mim gaspar pereira peramte ele em ha casa
soos, dizem do lhe, gaspar pereira,. vs fizestes isto e isto, rrespomd me
com hum dedo muyto comprido, e muito soberbo, negouos eu jesa (sic);
e eu lhe dise que bem podia el dizer daquylo quamto quisese, pois eu
era capitam rnr d.as imdias, e nam lhe Respomdy mais.
Quamto he aos seus oficios, ele vay l co auto de suas culpas diamte
de vos altza, p-or me parecer muito voso servio; e nam h e nada na im-
dia, nen o cabo do mumdo, gaspar pereira, com voso fauor e cos carre-
gos que lhe vos alteza deu, fazer todas estas cousas, e ser eu tam aga-
chado que as nam ouso de castigar: acabada em goa a xx dias doutu-
bro, antonio da fomseqa a fez, de 1514.
(Por lettra de Albuquerque) feytura e servydor de vosa alteza
. Afonso d alboquerque.
(Sobrescripto) A Ell Rey noso senhor
1

1
Torre do Tombo-C. Chron. P. t.a, M. t6, D. tt6.

,
29i CARTAS DE AFFONSO DE ALBUQUERQUE
CARTA LIX
1514-0utubro 23
Senhor.-Eu toco em alguas cartas minhas a vos alteza no desor-
denado trabalho de meu esprever de noute e de dia, primcipalmemte de
noute mais que de dia, que muitas vezes amanheo no esprever, porque
dia nam poso, poJa rezam que de mim dou haas partes, e outras cousas
de voso servio a que he necesareo acudir, e acho milhor esprever de noute
que de dia por esta rezam, .e o desordenado trabalho que he, dias ha que
h o vos alteza teraa sabido. E asy toco a vos alteza nas ditas cartas em
amtonio da fomseqa, que vos prouue tomar por voso escudeiro, como com
ele fao todalas cousas de segredo que a vos alteza imvio, e asy vee to-
dalas vosas, poJa soltura e despejo que com ele tenho, e ser homem de
gramde segredo; e certefico a vos a l t ~ z a que bo acho tam verdadeiro em
tudo, que nam poderia escrever com outra neha pesoa senam com elle;
e porque ho vos alteza agora tomou por seu escudeiro, em que Receby eu
symgular merc por minha parte, eJle voll o tem bem merecido por seus
servios, porque afra me vos alteza fazer .mercee en o tomar, amtre isto
vos tem ele merecido quallquer merc que lhe fizer em seu acrecemta-
memto d omrra e fazem da, que ele tem tam pouca, por a ver ha seis anos
que amda em minha companhia e trabalhos, que nam sey com que lha
ajude acrecemtar sem ajuda de vos alteza, pola caty\'a comdyam que te-
nho, de nam ousar de meter a mo em vosa fazemda: ele foy em todos
eses omrados feitos que se q fizeram em meu tempo, em que muitas ve-
zes foy ferydo, e husou tam bem do oficio de cavaleiro, que amostrou bem
merecer a omra e merc vosa que lhe vinha por caminho: ele, senhor, .
amda em minha companhia, e porque dos homeens que vos fielmemte
qu servem, eu sam obrigado a vos dizer delles o que symto, beijarey as
maos de vos alteza a ver por bem fazer lhe merc, porque alem dele vol a
ter merecida, a mim far asynada merc: esprita em goa a xxiij d i a ~ dou-
tubro de !5ti.
(Por lettra de Albuquerque) feytura e servydor de vosaalteza
Afonso d alboquerque t.
1 Torre do Tombo.-C. Cbron. P. t., M. f6, D. 66.
CARTAS DE AFFONSO DE ALBUQUERQUE .
CARTA LX
11S14-0utubro 23
Senhor.-Vos alteza mespreveo, em como imviavees qo alguas
pesoas, emcomemdamdo mas que sejam por mim pro ui das daquelas cou-
sas e carregos que neles couber: digo, senhor, que eles serm satisfeitos
e eomtemtes de mim, polo cuidado que me diso daa, porque todos sam
taes pesoas e de tam.to merecimemto amte _vos alteza, que os mesmos car-
regos em que vos qu qerees servir deles, trazem por parte de sua satis-
faam de seus merecimemtos; e porque tudo isto asy est visto e conhe-
cido por mim, se o outro mumdo podese aver s maos, todo lho daria,
porque bem vejo eomo os galardes da imdia vos tiram de muita obriga-
am: prazer anoso senhor, que dar lugar haas cousas deslas partes
tomarem asemto, e nos abrir outros_ mundos e outros caminhos, por
omde vos alteza se aja por bem servido, e as vosas jemtes por suas maos
ganhem gramdes Riqezas, com que vos milho r posam servir; e algflnas
pesoas tenhatn tamto comtemtamemto da terra, que qeiram asem lar nela,
e tirar do poder dos mouros tamtas cidades, vilas e lugares, e tamtos de-
reitos e tamta Riqeza como logram, jemte que nam tem mais fora que a
deles sem comto em eomparaam dos cavaleiros purtuguezes;
nem m esqecer a lembrama de vosos criados, nem das outras pesoas
homrradas, que por sua lynhajem e servios ho deviam de ser, serem
prouidos das cousas de qu ataa vosa aprouaam, ou dada a qem vos
bem parecer, porque asy semtemdem todallas cousas de qu: acabada
em goa a xxiij dias doutubro, amtonio da fomseqa a fez, de t5ti.
(Por lettra de Albuquerque) feytura e servydor de vosa alteza
Afonso d alboquerque.
(Sobrescripto) A Ell Rey noso senhor
1

I Torre do Tombo-C. Chron. P. i., M. 16., D. 1)8.

'
!9i . CARTAS DE AFFONSO DE ALBUQUERQUE
CARTA LXI
1514-0utubro 23
Senhor.-Em hiia carta de vos alteza vy a omrra e merc que me
fizestes, em averdes por bem que at oito mill cruzados cadano posa dar
e fazer boas obras e graas em nome de vos alteza haaquelas pesoas que
vos qu bem servirem, gastos fizerem de sua fazemda com jemte, e asy
polo rnerecimemto de seus servios e trabalhos de sua pessoa, como per
outras quaesquer obras di nas de louuor, e lhe ser com boas obras dado.
comtemtamemto del_as, semdo isto, porm, cad ano, nam lhe ficam do em
tema nem em Remda. Respondo, senhor, que vosalteza me fez gramde
merc niso; e pola fama que qu chegou dese feito tam cedo como a
carta, pareceo jemte que tinha eu milhor Rosto e milhores 9lhos, e com
mais an10r e boa vomtade e dilijemcia correm j gora h as cousas de voso
servio omde os mamdo: e com tudo, senhor, digo que como eu seja de_
cativa comdiam nas cousas de vosa fazemda, nam sey se meterey as
maos nese feito, nem sey se nacerm dy alguuns escamdollos, porque a
comparaam (sic) dos homens he muito trabalhosa cous de comtemtar e bi-
gualar, e s vezes nace isto de dadivas, outra ora de nam dar nimigalha;
e o meyo que se nisto deve de tomar e satisfazer, sam cousas Reaees: per .
estes Respeitos tenho a carta asy guardada, sem praticar nela, e a fama
que de fra amda na jemt.e, nam me pesa nada com ela; e se algua ora
comprir fazer se algiiua cousa destas por uoso servio, ser vos alteza avi-
sado, pera verdes se as cousas desta maneira levam ordem de voso com-
temtamemto: acabada em goa a xxiij dias doutuhro, ~ m l o n i o da fomseqa
' a fez, de 1514.
(Por lettra de .Albuquerque) feytura e servydor de vosa alteza
Afomso d alboquerque.
(Sobrescripto) A Ell Rey noso senhor '.
'
l Torre do Tombo-C. Chron. P. t., M. 16, D. 60.
CARTAS DE AFFONSO DE ALBUQUERQUE H5
'
1514-0utubro 23
Senhor.--:-Depois de ter esprito a vosalteza em outras cartas a de-
terminaam em que ficava acerqa das galees, de nam fazer mais que as
duas que estavam feitas, e galeota de goa, me pareceo voso servio me-
ter em ordem fazerern se tres: doas em cochim, e ha em calecut, asy por
virem n1estres pera iso e levarem gtamde soldo, como ta.mbem polo feito
do. mar Roxo, se nos noso senhor deixar tomar asemto nele, como espero,
con1serval o. com harmada de galees, por ser o mar e portos e navegaam
propria pera iso, e taanbem por serern navios que se espalmam de pem-
dor, e nam obrigaren1 a tamtos calafates e carpimteiros e ferreiros, como
fazem as naos, por ser nova, nam sabermos imd agora omd espalma-
remos nosas naos, e omdespalmariamos hum navio, se diso tivese necesy-
dade, e asy tambern pera o feito de babarem e do mar da persya, se vr-
muz is tiver em voso poder; que per a todas estas partes sam muito prouei-
tosas galees: porm eu queria ver primeiro com bas naos suez e armada
dos Rumis; que dizem l, senhor, na minha terra, a madeira peleja no
mar; e eu poso isto dizer, pela pouquydade de jernte e mail armada que
ha na imdia.
E se de galees vos alteza faz fumdamemto e de jemte da ordenama,
que nos a ns qn h e bem necesarea, ha mester que vos alteza proveja
este feito bem, em tall maneira que natn venham q cousas sem proneito:
os remos de gals nam sam de comto de galees, e aimda pera galeotas e
fustas sam curtos, vistos per os olhos dos comitres e desas pesoas que ho
milhor emtemdem q eu; pano de vila . de com de pera velas delas, ferro de
purtugall pera suas gouernaduras, porque ho- de qaa he vidremto hum
pouco; que as gals governam sobre agulha e levam gramde fora: os
comitres que mamdou, sam espiciaes homeens.
Quanto he, senhor, ha jemte da ordenama, os piques nam valem
nada que qu vem pera ela; sam de faya e arrebemtam, e nam sam da
sorte daqueles que ha ordenama l traz nesas partes, e gastam. muito
sem obra; amdam mail armados de maas armas e poucas, porque mam-
CARTAS DE AFFONSO DE AI,BUQUERQUE
dam de l piastres podres e velhos, comidos da Roda, com ha folha
d estanho por Riba; e eles compran os muy bem sobre seu soldo, e du-
ram lhe muy pouco: as milhores armas que ha pcra a imdia, sam coura-
as, porque as alevamtam com ha pouca de cravaam e hum par de pe-
j gora, louuado seja noso senhor, qu temos vazadores de cravaam
e alguuns deles casados; e porque vos alteza este ano nos nam proueo
darmas, ganharam eses capites e jemte qne estano vieram de purtugall,
muito dinheiro nels, porque lhas eon1pravam os homens a peso douro
sobre seu soldo; vemdeo chrislovo de brito as suas coiraas de maa seda
a xx crusados, e as adargas a cimqo crusados, e as espadas da feira de
medina a mill e duzemtos f8., e punhaes de Castela a seiseemtos rs., e
asy framcisco pereira e todolos outros ofyciaes desas naos, e todalas ou-.
tras cousas que traziam, de que eu tenho avisado vos alteza que nos pro-
veja sobre nosos soldos; porque naos de pottugall Jevano dinheiro
desta pobre jemte cadano na mo, e os homens quaa prezamse damdar
milbor vistidos e armados que l nesas partes, porque ha eomdiam da
in1dia he poor homeens muy bayxos em omrra e am pre.o e dinheiro, que
os homrrados qu se prezam mais de suas pesoas e de suas homrras que
l nesas partes, porque as cousas da imdia sam muy grossas, e naquilo -
em que se os homees qerem pr, podeno soster: e eu se vejo homeens
que tem opiniam de serem homrrados, ajudo os a ese feito, que no oficio
da guerra a opiniam da jemte he a que faz fazer homrrados feitos, por
omde eu qeria que ha jemte baixa achase sempre sobre seu soldo vistido
e armas; e sabe vos alteza porque eu digo isto? porque fazem do se proueito
na vosa fazemda, amda a jemte bem vestida e bem armada e comtemte
de sy: e pela vemtura pode,aa l parecer que gastarm mais dinheiro, e
se poderm ver em mais necesydade: a jemte solta da imdia nam tem em
comta dinheiro, e gastan o framcarnemte em cousas muy vas e de pouco
proueito; vestem se de panos d algodam na imdia e de cotonias, de seda
e chamalotes, que he Roupa ie muy pouca dura, e- outros panos de seda
de qu da terra.
Afra este proueito, nam he bem que se achem sempre nas vosas
feitorias b
0
ou mill t covodos de veludo preto'! a mr parte porque ho de
sejam q os rrex e senhores desta terra, e compran o os mercadores muito
Rijo, e pregumtam por ele; seda rrasa nem cetins de malaca vem quamto
Quinhentos O\l mil

CARTAS DE AFFONSO DE ALBUQUERQUE 197
abaste; brocados baixos de pelo e Rasos-: e que estas cousas nam dem
~ r g a de pimemta, afauorece as feitorias e d lhe credito, e pem os Rex
e senhores e mercadores em comfiama, que quamdo lhe falecerem as
mercadarias pelo e8treito de meqa, que as acharm nas vosas feitorias,
vimdo deses Regnos. Digo uos, senhor, isto, porque vejo na imdia muita
mararia de demtro de veneza e muitas cousas destas: e asy beijarey as
mos de vos alteza, mamdar a eses oficiaes vosos que mamdem mea duzia
de foroes de galees.
E asy, senhor, beijarey as maos de vosalleza mamdarnos ha du-
zia de carretas dartelharia do campo, porque nos vm estes ces destes
mouros tam poucos, que nos vam . perdemdo ho medo e a vergonha, e
achegam se muy bem a ns; e qeria sempre levar hartelharia em terra,
pois que levamos jemte da ordenama, que ha nam desemparar, e
falos emos afastar de ns hum pouco mais: acabada em goa a xxiij dias
doutubro, amtonio da fomseqa a fez, de t5t4. _
(Por llttra de Albuquerque) feytura e servydor de vosa alteza
Afomso dalboquerque.
(Na m,a,rgem superior da ultima pagina, por lettra coooa) Dafoms
dalhoqoerque sobre piques, carretas, e gals que mais fez
1

CARTA LXIII
..
1514-0Utubro 21S
Senhor.-Per hua carta de vos alteza vy a determinaam que que-
rees que tenha sobre os casados que morrerem sem filhos, e asy as mo-
lheres que morrerem sem erdeyros; e bem asy como aqueles que bem-
testados forem ou casarem ao diamte, se for d escudeiro pera cima, omde
arrecadar seu casamemto: e vy lambem nesta carta a lembrama que
me vos alteza deu do que me tinhes esprito sobre nam casarem mais ho-
meens na imdia. Respomdo, senhor, que aeerqa dos casados defumtos,
que habemtestados morrerem, e as molheres ~ e sem erdeiros falecerem,
que se guardar aquela ordem que vos alteza mamda; e acerqa dos casa-
Torre do Tombo-C. Chron. P. f., Ma. 16, D. 81.
38
..
CARTAS.DE AFFONSODE ALBUQUERQUE
dos, que l avees por bem que qu nam casem mais, nem se dee mais
casamento da vosa fazem da a nimguem, digo, senhor, que tudo se guar-
dar em gram maneira, smente alguas vehuvas que tinham arrezoada
fazemda -e casa1nento, dey lugar que casasem, sem lhe ser dado da vosa
fazemda cousa algua, por nam amdarem ao huso dos homeens, e por dar-
mos aos imigos boom emxempro de ns e de nosas vidas e custumis; nem
a ver daquy em diamte outra mudama neste caso, senam o que vos al-
teza tem ordenado.
E quamto he fazem da dos que morrem abemtestados ser dos ca-
tivos, por mais obra miritoria averia eu dar se a tall a fazemda pera eria-
am destes mininos orfaos, filhos de vosos naturaees, nacidos na pia do
bautismo e criados nos olhos dos ymygos, que aimda am de tomar as
mas e ganhar a terra aos mouros, que tirar cativos de terra de mouros;
e que tudo seja vertude e bem, esta ey que tem diam\e de deus mayor
merecimemto, porque noso Senhor que lh aprouue semear qu esta se-
memte pera seu servio, nam ha de qerer que os espynhos ha afoguem e
apaguem: acabada em goa a xxb dias d outubro, amtonio da fomseqa a
fez, de 15!4.
(Por lettra de Albuquerque) feytura e . de. vosa
Afomso dalboquerque.
(Sobrescripto) A Ell Rey noso senhor
1

CARTA LXIV
1514-0utubro
Senhor.-Acerqa da igreja de cochim, que me espreve .
que se faa, por ser aquela piqena e nam tall como a que vos alteza fol-
garia que fose, qero, senhor, dar comta do que nese negocio pasa: quamdo
nosos pecados quyseram que do negocio de caleeut viesemos asy descom-
temtes, determiney de tudo o que s aly tomou, ser pera as obras da igreja,
e pus por recebedor disto fernamd eanes, hum escudeiro homem de bem
'Torre do Tombo-C. Chron. P. 1., Ma. {6., D. 611.


CARTAS DE AFFONSO DE ALBUQUERQUE 299
de samtarem, e por seu esprivam gomsalo afomso mP-alheiro, amo de dom
joham, que deus aja, voso camareiro moo r, os quaes receberam quatroeem-
tos curzados, e ajuntaram gramde soma de call e pedra; deixey o lugar
omde se avia de fater, asynado, e com as medidas tomadas, afastadas mais
da fortaleza, defromte d amcoraam das naaos que de fra estam surtas:
deixey este feito emcomendado amtonio Real e a Louremo moreno, em-
earregamdolho muy muito: nunca niso poseram mais mo. Como me par-
ty, tomou lhe amtonio Real] gram parte da call pera o muro da forteleza, e
del pera as suas obras, e da pedra tambem tomou soma dela, e alga
furtaram: amdey acerqa de dons anos fra de cochim; quamdo vim, nam
achey nada feito, nem pedra, nem call, nem dinheiro: faleceo femandea-
nes em coehim, e achamos menos pela com ta certo dinheiro, e tynha
todo seu soldo gastado, e nam podemos aver o que devia: a pedra e call,
della est nos muros de vos alteza, e dela nas paredes e cisternas de trigo
das casas que amtonio real] comeava de fazer, em que agora mamdo fa-
ho e a igreja Jogo alem do espitall bom pouco; e porque .os
alemes qerem fazer hua capela sua, tambem deixey o lugar determi-
nado homde ha aviam de e pois que ho vos alteza agora mamda,
apertalosey, e obrigalosey em tall maneira que ha aimda que
seja eomtra.suas vomtades, como foram as casas das vosas feitoryas: tam-
bem est nas mos do padre vigairo quynhemtos cruzados, que em go
se tomaram per comfises, de fazem da Roubada a vos alteza desas presas
que se s vezes fazem, ou fizeram j em alguum tempo, os quaes estam
determinados pera a igreja de . samta caterina de goa, porque tambem
ten as partes aly quynham, e por iso ordeney que fose todo pera a igreja;
e este padre vigairo que agora quaa estaa, be homem de boom cuidado,
e pareceme que se quer desviar do caminho dos outros: ele, senhor, me
comtemta em todalas suas obras, se o a terra nam apalpar: acerqa da
limpeza da igreja, e todo ali que vos alteza ordena, se guardar imteira-
mente; ela tem ereligos c abaste, e prgador e boons ornamemtos deses ve-
ludos e procados (sic) que trouxemos do estreito, e outros que lhe vos alteza
tinha dados; e nam faleceriam quaa cleses, vistimemtas e todo o que
fose necesario, se vos alteza ouuese lugar do padre samto, ou dos bispos
e arcebispos, que podese qu ho vigairo comsagrar, porque muitas pe-
soas ha qu, que por suas devaees sempre partiraam do que lhe deus
daa com as igrejas, porque he muito lomge mamdar por um cales a pur-
tugall, e mamdar la eomsagrar ha vistimemta, ou outras cousulleee-
38
I
300 CARTAS DE AFFONSO DE
sareas ao oficio divino: acabada em goa a xxb dias doutubro, amtonio
da fomseqa a fez, de t5t4-.
(Por lettra de Albuquerque) feytura e servydor de vosa alteza
Afomso d alboquerque
(Sobrescripto) A Ell Rey noso senhor t.
CARTA LXV
1514-0utubro 25
Senhor.-Aeerqa, de ofalla e moambique a mim me parece que
ese Resgate e proueito de ofala vay hum pouco de vagar, que ho cabe-
dali e o ganho todo he dos moradores da forteleza; e asy, senhor, me pa
rece que ha escala das naaos da carga, quamdo partem da imdia, danam
ofalla: e digo uos eu, senhor, isto, porque este feito q nam amda muito
escuro. Symam de miramda aqueixase do Rio damgoja, e doutro Rio
que est mais achegado a ofala que este; diz que lhe vem aly a roupa de
milimdy e momhaa, brava, pate e lamo e magadaxo, omde as naos de
eambaya vem cadano carregadas de Roupa: diz que pasava a Roupa em
barcos piquenos ho lomgo da costa, e vam emtrar em amgoja e no outro
Rio: mamdoume pedir hum bargamtim, e mamdeilho fazer; mas a mim,.
senhor, me parece que as caravelas deviam amdar sobre mombaa e so-
bre aqueles lugarees daquela costa, e fariam dous proueitos: tomariam a
rroupa que vem pera aquelas partes, e tolhei a yam h os mouros, que nam
fosem danar ho de ofala: duas naos destas tomou pero d alho-
querque ao cabo de guardafnm, que arribaram com tempo; em outra ma-
neira nam se pde vedar a Roupa, que todavia nam emtre em barcos pi-
quenos nestes Rios.
J l tenho esprito a vos alteza como os mouros _de ofalla espalha-
dos por ese sertam tem danado ho trato, e torvan o ouro que nam venha
haa forteleza. E a mim me parece que seriam menos danosos rreeolhel os,
e fazer lhe gasalhado e omrra; e asy, senhor, digo que os mamtimemtos
'Torre Tombo- C. Ghron. P. t., Ma. 16, D. 67.
CARTAS DE AFFONSO DE AIJJUQUERQUE 301
se nam deviam pagar haa jemte per panos, senam por mamtimemtos. E
digo mais, senhor, que vos alteza devia mamdar que hametade do ouro
que ofala Rem de, devia cad ano vyr imdia, e meter se este feito em
huso, e a esa jemte asoldada, se lhe nam acabarem de fazer seus paga-
memtos, demlhe despachos pera a imdia; porque nam poso eu, senhor,
crer que ho trato de ofala ha d amdar sempre tam yguall, que numea
mais crea nem mimgne que aquilo que abasta pera pagar ordenados
jemte: e pella vemtura, se vos alteza mamdar vr ametade do ouro im-
dia, 'do que ficar se pagar a todollos moradores seus ordenados, e lhe
sobejar imda dinheiro.
A mim mescrevam (sic) 01 oficiaes de ofala; como tinham nova .. do
homem que mamdro descobrir aquela cidade de benamotapa, domde ho
onro vem, que vimdo no caminho, adoecera, e fora amtretedo dos mou-
ros; e creo que deste feito term eles l dado larga com ta a vos alteza:
acabada em goa a xxh dias doutubro, amtonio da fomseqa a fez, de
1514-.
(Por lettra de Albuquerque) feytura e seruydor de v9sa alteza
Afomso d alboquerqoe.
( Sobrescripto) A Ell Rey noso senhor t.
CARTA LXVI
Outubro
Senhor.-Vy a carta que vosaltez espreveo sobre silvestre coro,
dizendo me que eu lhe nam tinha dado a capitania da gall gramde que
ele fizera, dizendo me vosalteza que ho avia por muy mail feito: certo,
senhor, nam poderia ser pior, seu nam fezesse imteiramemte o que vosal-
teza de l ordena e mamda; e pena que eu niso merecia, devia a vos al-
teza de dar a quem tal cousa vos ousa dyzer ou porque se
fosem cousas feitas em samtarem ou em symtra, .nam era nada de per-
doar, mas aver vos alteza destar hum ano e ane mo emformado de hum
homem que vos amda fiellmemte em lugares t.am lomje domde
Torre do Tombo -C. Cbron., P. 1., t8, D. 88.
"
.
30'1 CARTAS DE AFFONSO DE ALBUQUERQUE
vos alteza est, domde vos mais necesareo h e falarem os homens verdade
a vos alteza, e vol a espreverem; e afra esta outra deste teor mitas vejo
eu per cartas de vos alteza, que vos sam ditas de mim, e espritas de qo:
peo a vos alteza que me crea, que ho que vos eu nam esprever, nem der
comta da imdia, que nam he vivo no mumdo, porque sam houem muito
mevdo nas cousas de minha obrigaam e de meu prouimemto ; e na re-
zam que cada viajem a vosalteza dou de mim, vers se vos falo verdade,
porque na imdia nem demtro em mim nam fica neha coosa por vos
prever, senam meus pecados, e estes, se nam ouuese vergonha, escre-
vervoloshia, porque que. vosalteza me. teria boom neles;
_. nen1 se faz na imdia imteiramemte senam ho que vos alteza mamda, sal-
vamte se ha hy casos iaes, pera que s vezes soltar ha ley ser compril a
de todo, e quamdo isto fr, sempre ey de dar Rezam a vos alteza do por
que se nam acabou imteiramemte o que mamdaes fazer: a gal que
em malaca, qne vos alteza mandava dar a sylvestre coro, se aquy is
o dia que. ele chegou, lha dera, e ha tirara a meu irmo, aimda que fra
capitam della. .
Emquamto fuy ao mar Roxo, elle fez a gal gramde, e logo lhe dey
a capitania dela, e sempre foy capitam, e h e, e ser at que o vos alteza
desfaa, porque nam he meu custume aos estramjeiros que vem servir
vos alteza, fazer lhe nehum agravo, mas gasalhado e omrra, e em nome
de vos alteza mercee, e aimda hum pouco mais que ha hum portugus seu
igual), porque os portugueses por sua riaam e natureza da terra sam
has vezes milho r de comtemtar: pus lhe aquele soldo e quimtladas que __ .
tem o milho r capitam que ha na imdia: h o bragamtim ele deu a capita-
na a seu irmo mais moo, e eu h o ouue por muy bem feito: amdava a
gal gramde em guarda desta costa, quis elle ir a cochim, e deixar outro
seu irmao por capitam, e eu ho ouue por bem feito: a gal emvemou
aqoy em goa em ha fossa que aquy est derredor da fortaleza; ficou a.
gal dereita em suas ymeas ; como foy baixam ar, mamdei lhe dar hum
cerqo do velado; nam emtrou mais agua demtro nela: parece me que bus-
camdo se toda a imdia, nam se achar hum tall lugar pera metter gals,
porque pela mayor parte toda1as galees que varam, por serem
navios compridos; aly a mamdey correjer, porque tiran1do a gal ha
bombarda grossa, saltou o fogo por bom escutilham na polvora, e lam-
ou lhe a coberta do mastavamte pera cima, e Romp lhe x ou xij latas,
e fay merc de deus ficar a gal por baixo toda sa.
.CARTAS .DE. AFFONSO DE ALBUQUERQUE 303
A gall he muito fermosa e muito bem feita e muito forte, e joga
sete bombardas grosas, afra artelharia meuda; he gramde navio de
.- Yella: hapelaam que trouxe silvestre coro, era de ha sua gaU piqeoa.
e era lhe hum pouco curta, e nam se podia esperememtar do Remo; po-
rm he .gal que botar quatrocemtos homeens darmas fra em terra; he
.oomitre. dela o comitre das galees dei Rey de frama, que vos alteza de l
mamdou, ao quall tenho feita muita homrra, asy como veyo
dado per v.osalteza: hum earpimteiro de gals, que vos alteza quaa mam,..
-dou, e veyo com joham de sonsa,! he maravilhoso homem; tem- feita ou-
tra :em cochim, muito fermosa pea, creo que ser menos bamcadas
que esta de sylvestre coro; desta ten a capitana v asco fernamdes couti
nho : outra gal das que os Rum is tinham em goa, se corregeo agora de
e estaa tnuilo forte e muito boa pea, e asy ha fusta das de goa
muito bem comcertada, e muito bem aparelhada; estas tres se correjeram
aquy em goa,. a outra se fez em cochim.
As duas caravelas que se fizeram em chavll, sam maravilhosas pe-
as; a capitana de htla delas tem femam de .rresemde, que as foy fazer,
e sam feitas co as escumas da imdia, que sam s vezes tam gramdes como
h o cabedall que vos alteza quaa mamda pera a carga; e tomay, senhor,
por boom synall fazerem se de noyo pelos portos dos mouros da
imdia, e eorrejerem se outros seguraineiDte nelles.
Fiz outra caravela em cananor, e fiz tres em cochim, e outra que
j estava feita, sam qqall .em ;.quel amda joham gomez; e por
agora estou bem de fustalha metida pera o estreito, onde tive assaz ne-
de: pode.ra deixar h.o corpo . em ca-
:m_aram, com. estes podara trilhar gramde parte do mar
ha e
. Mais, senhor, .digo alteza, pera verdes atrevimemto he
o. dos homens que ousam de vos esprever o que no nam he: a gal se
.comeou no tempo que as naos em que foy amtonio de saldanha, parti-.
ram pera purtugall, . e creo que muita parte dela estava imda no mato,
.sem do eu no estreito, partido de cochim no ms d outubro; e nam tomey
.a cochim senam no ms de janeiro daquele que vinha a hum ano, que
por minha c.omta sam xb mezes, e nam vy silvestre coro em todo este
_tempo, a gal: nam sey quall he ho homem que ousa d escrever a
vos alteza o que est por vyr: muito voso servio seria pregumtar vos al-
teza a hum destes .. pot:que nam falam .verdade; e po-
. .
,
'
.....
30, CARTAS DE AFFONSO DE AIABUQUERQUE
der ser, senhor, que fars nisto muito voso servio e servio a deus, por-
que arrecearm os homens de apresemtar amte vos alteza cousas falsas e
emganosas, e nam danarm os homeens suas oomciemcias por danar ou-
tros amte vos alteza, senam com muita verdade.
Silvestre coro he muito mimoSo de mim e muy bem tratado; hum
pouco se arrufou qu de mim, porque me pidio duzemtos curzados qu,
que dise que gastara na gal quamdo ha fizera, por algnas cousas que
lhe tam lijeiramemte nam davam pera acabar; e eu lhe Respomdy, que
se os gastar ele peramte os escrives da feitoria ou do almoxarife do al-
mazem, e que lhos mamdaria pagar, mas que asy sobre soa palavra nam
era rezam que dese a fazemda alha, que da minha lhe faria com boa
vomtade o que podese, damdo lhe esperama que algua cousa averiamos
nese mar, e sempre partiria com ele: esprita em goa xxb dias d outubro,
amtonio da fomseqa a fez, de t5ti.
(Por lettra de Albuquerque) feytura e servidor de vosa alteza
Afomso d alboqnerque.
( Sobreacripto) A Ell Rey noso senhor .
CARTA LXVH
1&14-0utllbro
Senhor.-Per outra carta de vosalteza vy largamemte ha emfor-
tnaam que v ~ alteza tinha de todolos meos caminhos, via de malaca, e
das cousas aquecidas, asy de presas que no IJlesmo caminho foram feitas,
eomo na tomada da cidade hua e duas vezes, e ~ o d o mais que hahy pa-
sou amtes e depois, e mny compridamente todalas foras da e a ~ gramde
e todolos nosos feitos e seruios daquela viajem, por omde nos pareceo a
todos que nosas obras estavam vivas diamte de vosalteza, e aprouadas
por boas e feitas como homens de boom Recado, e de que vosalteza
tinha tamto comtemtamemto, como o feito o rreqere; e de asy serem
istimados nosos trabalhos e servios diamte de vos alteza, vos beijamos,
senhor, jumtamemte todos as mos, e estimamos em muito a lembrama
t Torre do Tombo-C. Chron., P. 1., lla. 16, D. 89.
....
DE AFFONSO DE AIABUQUERQE 305
que vos alteza de ns tem, que nos esfora a todos a poel as maos em
mayore.s cousas de voso servio, como leaees criados e boons servidores:
_ acabada em goa a xxb dias doutabro, amtonio da fomseqa a fez, de i 5 i t..
(Por lettra de .Albuquerque) feytura e servydor de vosa alteza .
Afomso d alboquerque.
(Sobrescripto) A Ell Rey noso senhor .
CARTA LXVDI
1&14-Oatubro SIS
Senhor.-Em outra carta memeomemda vos aheza framcisco no-
gueira e seus filhos: frameiseo nogueira est bem agasalhado, porque h o
emcarreguey das obras da fortaleza de calecut, e lhe dey a eapitanfa .. co-
mo a torre da menajem foy em dous sobrados e a porta da forteleza cer-
rada, -co ordenado que alteza j l sabe: com ele e com gonalo men-
dez acabey esta forteleza, e nam quis deste negocio emcarregar outras
pesoas, porque me pareceo que destes naceria menos escamdollo; e at
gora ho tem muy 'bem feito, e merecido ho ordenado que hagora tem, e
comservaram com sua mamsyde e boom saber as maldades dos mou-
ros de calecut e as comtraryadades doutras pesoas que de fra vinham a
danar tudo, e foy tam persyguido este feito de jemtios e purtngueses e
mouros, polo fazerem falso como ho embaxador de preste joham, que
s espamtara vos alteza: seus filhos amdam comigo, sam agasalhados e bem
tratados de mim, como he Rezam: acabada em goa a xxb dias d outubro,
antonio- da fomseqa a fez, de i 51 4-
(Por lettra de Albuqu-erque) feytura e servydor de vosa alteza_
Afomso d alboquerque.
( Sobrescripto) A Ell Rey noso senhor
1

a Torre do Tombo-C. Chron., P. t., Ma. t6, D. 70.
J lbi. ld.-Doc. 7t.
39

306 CARTAS DE AFFONSO DE AI,BUQUERQUE
CARTA LXIX
1514-0utubro 21S
Senhor.-Vos alteza mespreveo sobre cidra, que est agravado por
auicbecala ter mill rs, e que ele nam avia mais de xb fanes por
ms: digo, senhor, que chegamdo eu a cochim, prouerey iso como seja
voso porm, se naos am de tomar carga omde ha acharem
mais de barato, e se vos alteza estaa com tem te do com certo da pimemta
de calecnt, pareceme que nam podem ter tamto trabalho, que se nam
comtemte de ter o dobro, que lhe elRey de cochim daa cadano: falarey
com Louremo moreno, e tudo se far bem: acabada em goa a xxb dias
donlnbro, amtonio da fomseqa a fez, de t5t4.
(Por lettra de Albuquerque) feytura e servydor de vosaalteza
. Afonso d alboquerque.
(Sobrescripto) A Ell Rey noso senhor
1

' .
CARTA LXX
1&14-0utubro SIS
Senhor.-Per outra carta Il)e diz vos alteza que ha por sem dnuida,
metem do se em h uso de os christos da terra e asy jemtios navegarem, e
comprar e vemder, se tirar de todo ho trato das maos dos mouros; e
por ser cousa que tamto importa a voso servio, me mamda vos alteza que
me trabalhe por que asy se faa. Digo, senhor, que os jemtios em toda
parte sam fanorecidos de mim, e bem tratados suas pesoas, naos e mer-
cadarias, omde qer que sam achadas; mas os jemtios sam homeens de
fracos cabedaes, e eses christos da terra pouca fazemda tem pera apa-
garem tam cedo a fora do trato e companhias dos mouros da imdia, por-
t Tom do Tombo.-C. Cbron. P. 1., M. t6, D. 73.
CARTAS DE AFFONSO DE AIJBUQUERQUE 307
que sam homeens Ricos e de gramdes fazemdas, e tratam muy grossa-
memte e com gramde numero de naos; porm sempre ese dos jem-
tios foy fanorecido de mim, e ser, e primcipallmemte os christos da
terra; mas a mim, senhor, me parece que nam h e ese o caminho pera
tam cedo se apagar ho trato dos mouros, porque, se os mouros istivesem
em terras per sy, e os jemtios em terras e portos per sy, parecer mia que
aproneitaria o fauor e boom trato nese feito, mas eu .............
os mercadores mouros terem seus asemtos e nos milhores por-
tos dos jemtios, e tem muitas naos mny gramdes, e tratam mny grosa-
memte, e os Rex jemtios muy abraados com eles, pollo p:roneito que lhe
trazem cadano: os baneanes de cambaya, qne sam os primcipaes merca-
dores jemtios destas partes, a companha de soas naos toda he de mou-
ros: esprita em goa a xxb dias donluhro, amlonio da fomseqa a fez,
de 1514-.
(Por lettra de Albuquerque) feytura e servydor de vosa alteza
Afomso d alboquerque.
(Sobrescripto) A Ell Rey noso senhor
1

CARTA LXXI
1&14-0utubro 25
Senbor.-Per hua carta de vos alteza vy que avees por mu&o voso
servio saber o que vali a despesa que se faz na imdia, em hum ano, nos
soldos que se qu pagam e moradias, e asy mesmo em mamtymemtos de
toda a jemte que quaa trazs, asy n armada como nas fortalezas, em tall
maneira que muy certo saiba vosalteza o que em cada ha destas gas-
taes em hum ano com toda a dita gemte. Digo, senhor, que acerqa do
soldo se poder certeficadamemte saber pelo numero da jemle, com de-
eraraam dos criados de vosalteza que tem seu soldo e moradias, e asy
outras pesoas que deses Regnos . trouueram mayor soldo que h o do exame
ordenado per vs; e de tudo istO que digo, vos irm Roees e cadernos,
oom a deeraraam que vos alteza pede. .
Torre do Tombo-C. Chron. P. t., M. t6, D. 7, .


--.
,
308 DE AFFONSO DE AI,BUQUERQUE
,, ' I
. . Quamto he aos mam\imem\os que se pde gastar. cad ano, vos ir .
verdade; mas ho que gastamos, nam se pde saber, porque aJDdamos
xij e xiij. meses, e s vezes oito e nove; e todos .eses mamtimemtos
podmos .a ver, asy pa terra como no mar, comemos e. gastamos,
emtrar em Repartiam de partes: este ano que imvemamos na imdia,
poder .vos alteza .saber o que se gastou, e de tudo l ir com ba decra-
raam, porque ho namdey asy aos oficiaees, aimda que pelo nwne.ro da
jemte se pd l bem saber: esprita em goa a xxb dias .d outubro, amtonio
da fomseqa a fez, de 151 i.. , .

(Por lettra de Albuquerque) feytura e vosa alteza
Afonso d alboquerque .
(SobrescriptoJ A Ell Rey noso senhor
1

CARTA LXXll

Senhor.-Vos alteza me Respomde ha carta que vos esprevy sobre
as quimtladas, que eram j de todo -espididas, senam as dos capites
das fortalezas e naos: eu, senhor, vos falo verdade; se l achar vosalteza
ho comtrairo, saiba se -he por mamdado meu: as quymtladas da_ jemte
d armas, da vimda de lonren1o moreno por diamte, nanas ouue hy mais,
e se comearam de pagar per vosa ordenama algas pou.cas pesoas; se
l vos alteza achou ho comtrayro, mamday mo nomeado por nome e muito
bem decrarado, e saherey domd iso nace: tamto que ha determinaam de
VO$ alteza vyo, que nem h uns nem outros nam ouuesem quimtladas, e
nam tocastes em lhe. todavia serem pagas, cesou a paga daly em diamte.
-- E quamto h e has quimtladas de vosos criados, fidalgos e cavaleiros,
que vosos aluaraes tinham, eu lhe aquele ano de carga, da
de louremo moreno, mstramdo lhe que lhas leixava ano pelo feito
de goa .e ma1aea, que acabaram em onze meses; e que esta rezam, se-
nhor, parecese bein, nam me apeguey eu a ela ,pera lhe dar .
das, mas porque lhas nam podia tirar por bem de voso Regimemto; por
\ .
t Torre do Tombo-C. Chron. P. t., M. t6., D .. 76

CARTAS DE AFFONSO DE AJ,BUQUDQUE 309
que me mamdastes que comtratase com eles a seu prazer e comtemta-
memto, e que imda alguns temtase com dadivas pera as alargar, e esta
he a verdade. E quamto a me amostrar haa jemte forado deles, e lhe
carregar pelos ditos servios as quimtladas daquele ano, mostramdo
serme defeso em voso Regimemto, foy por eles receberem bem a tirada
delas ho ano que vinha; e isle aproueitou, porque tiveram j tempo pera
fazerem sua com ta, e saberem que as nam aviam da ver, e isto, senhor,
pasa asy na verdade.
As quimtladas devidas amtes de vosa determinaam se carregaram
aos solteiros que as qeriam carregadas, e os que queriam pagas, paga
vamlhas, e aos casados pagaram lhas; e ainda agora amdam alguas pe-
na imdia a que sam devidas . quimtladas ;. mas vos alteza apertou
Rijo com este feito, que lhe nam dou lugar que as carreguem, e
, _,mamdolhas pagar; porm, senhor, he disto muy pouca cousa: deste fei1o
. .,4 dou mais me v da comta em outra carta a vos alleza.
E quamto he, senhor, ha carga de joham maChado, deilhe aquele
lugar de carregar per voso porque vos m espreveo que
dse da vosa fazemda algua cousa haaqueles que amdasem cos mouros,
pera se tomarem haa fee de noso senhor; e joham machado se veyo na
mayor afromta de goa, e lrouxe oito ou nove comsygo, emprestou seu di-
nheiro ha feitoria pera as necesydades que hy avia, lamou se em tempo
vos fez servio, e por todos estes Respeitos e por mo vos alteza mam-
dar, lhe dey lugar per a carregar esa ma camara, e aos outros nam dey
nimigalha: acabada em goa a xxb dias doutubro, da fomseqa a
fez, de i5ti..
(Por lettra de Albuquerque) feytura e servydor de vosa alteza
d alboquerque.
(Sobrescripto) A Ell Rey noso senhor
1

Torre do Tombo-C. Cbroa. P. 1., 11. 16, D. 76.



\
\

310 CARTAS DE AFFONSO DE ALBUQUERQUE
CARTA LXXIII
1514-0utubro 25
Senhor.-Vy a carta qne me vos alteza espreveo sobre Amtonio
Reall, e a maneira de que mo emcomemdaes e emcarregaees; e segumdo
a carta que vos ele de qu espreveo de mim, e a comfiama qne vos al-
teza nele tem, a ele me divera d emcomemdar vos alteza, e nam ele a mini;
e pera vos alteza ver a manha que qu costumam hos homeens, como os
mamdaes servir em algum trabalho e perigo de sua pesoa em minha com-
panhia, eles tr.abalham por sescusar, e disimulam ese feito muy bem; e
eu, senhor, como sam pouco dador dopresam aos boons homeens, dou lhe
lugar has vezes h usarem de soas condiees; e por serem cousas de que
vos alteza ha de saber parte, esprevem vos l, e fazem se omiziados de
mim: provo isto a vos alteza por muy boas testemunhas: a primeira h e
a carta damtonio Reall, a qnall vosalteza leo e vio: nam achars, senhor,
nela qeixnme de mim, nem mail nem dano que lhe fizese, senam culpas
minhas e vicios meus e cousas feitas comtra voso servio, e chamou me
nela ladram e mouro e covardo, e homem que nam fazia o que lhe vos al-
teza mamdava, e 1nais, senhor, me desafiou nela peramte vos alteza, e isto
fez q u a m ~ o o u mamdey chamar, que fose ho estreito comigo per voso
mamdado.
A outra testemunha, senhor, he em cananor, quamdo lhe pubriqey
os autos damtonio Reall, que l mamdey, e as pregumtas pelo jnramemto
dos samtos avamjelhos que tomou, acerqa dos eapitulos da carta; perante
todollos capites, cavaleiros e fidalgos, vygairo e creligo e moradores de
cananor, estamdo hy joham de sonsa, amriqne nunez, capites, mamdey
ler tudo em pubrico, porque fosem sabedores da maneira qne de qaa em-
formavam vos alteza de minha pesoa e de seus servios, e tambem porque
todos visem minhas imfameas, e cada bom em seu tempo disese o que
souhese a vosalteza; e aly pnbricamemte peramte todos dey juramemto
dos samtos avamjelhos hamtonio rreall, dizemdo lhe que se lhe tinha eu
... feito ou dito algtlna cousa: polo juramemto que tQmou, dise que nunca
lhe fizera .neha cousa, amtes lhe tinha feita muita merc e omrra, e que
..
..

CARTAS DE AFFONSO DE AIABUQUERQUE 311
. lhe dera a capitania de cochim, e que esprevera a vos alteza sempre bem
dele, e que fOra sempre bem tratado e omrrado de mim.
A outra testemunha he ho agravo e escamdollo de Louremo inoreno,
de fazer eu mais homrra amtonio Reall que a ele, e de o deixar com po
der de capitam omdele estava.
A outra h e as duas cartas que mele pidio por duas vias, quamdo
ele fez esoutra, que todas chegaram em hum tempo: outra testemunha
he o juramemto falso que tomou per muitas vezes, como se ver pela rre-
posta sua aos capitulos de sua carta, os quaes pelo juramemto negou
todos.
Naceram estas cosas, senhor, porque se quis amtonio Reall fazer
omiziado de mim, pera escomder ha ida do estreito, omd ele nam quis ir
por voso mandado, e escomder o caso mayor em que cayo; e escomder
fazer se qebrado, quamdo h o mamdava a malaca socorrer has naos que
se nam perdesem; e porque ho eu nam forcey a neha destas, e sabia
que ho avia de saber vos alteza, emtam se amostrou descomtemt.e de mim.
Outro tamto me fizeram os d urmoz, deixaram me e vieram se, e quaa
na imdia.faziamse omiziados de mim, e cada hum me tinha guardada sua
especia de morte, como homeens que ouuera an;1tre ns pemdemas ou
bamdos.
Asy digo, senhor, que parecera muy bem mandai o vos alteza levar
de qo preso em ferros, e nano mandar ficar quaa, visto sua carta; e
pois que a vasqe anes, voso veador, h o nam comtemtou ha sua carta., e
o mandava Repremder por iso mny Rijo, castigo merecera ele, e boom,
que h e outra boa testemunha pera me vos alteza fazer justia, pois que
eu com voso medo ha nam onsey qu de fazer, e por serem cousas to-
eamtes a minha pesoa, as qnaes eu deixo a determinaam delas a vos al-
teza.
, De amtonio Reall, senhor, vos esprever esa carta, nam'mespamto
muito, porque amdava j cevado nelas, segundo os trelados das do visoRey
, que ele l tinha escritas, e agora amdava quaa cada dia lemdoas poJas
praas, com comtemtamemto do que tinha dito nellas, e teve semprehua
ba maneira neste caso pera seu asacava sobre sy mill imjurias,
e pidia logo a vos alteza a paga delas; atrebuya a sy os servios qne vos
q fazem muitas pesoas, e pidia vos logo satisfaam deles, e asy foy ele
pouco a pouco acrecemtamdo seu soldo e suas quimtladas, e aquerimdo
merc amte vosalteza; salvouse amte vosalleza, porque nam tinha com-
.
'

:31! . CARTAS" DB AFFONSO DE AIJBUQUmQUE
pi.ficitw: qne werdadaramemte vos amostre. que DMJl avia nele cousa pera
prestar, porque. Mm lhe drea., senhor, de comer: sirva se vos alteza dele-
. per sy. SQo. sem aver 'hy qeno mamde, e voos, senhor, ho oonheeerees;
anuo pr outra carta tenho dito a vos alteza, ho voso fano r oorreje
alguas pesoas, e outras dana: esprita em goa a xxb dias dontubro, am-
.tonio fOmseq& a fez, de 1514-.
(Por ldtf'a :de .Mbuquerqu,e) feytara e servydor de vosa alteza
Afonso dalhoquerque t.
CARTA LXXIV
1514-0utubro 25
Senhor.-Vy a carta que me vos alteza mamdou neste mao de pero
dalpoem, em que me vosalteza deu largamemte comta de todo feito do
embaxador do preste joham? e digo, senhor, qoe a mim nam eomvem exa-
minar os embaxadores dos Rex e primcipis destas partes, que vos vem
buscar, nem lhe abrir suas cartas nem suas extruees, sem vosa espiciall
_ carta asynada e aseelada, em que me daes comisam pera o tall feito; por-
que nam seria Rezam ir hum embaxador com a vos alteza escam-
dilizado e agralado de mim, senam bem recebido e despachado e segura

pasaJem.
Na que com elle per vezes tive, e bem de dias em goa, al-
giuas pregamtas lhe fiz acerqa de sna vimda: que caminho fizera? por-
que nam viera hum dos cristos com elle, que ele nomeava serem l im-
vyados per vos alteza? se trazia algnum Recado per palavra1 de tudo me
deu a Rezam e comta que l deu a vos alteza; somente me dise que aquele
dia e ora' que ho preste joham determinou de ho mandar, lhe metera ,
aquela carta na mao, e o mandara partir: pregontei lhe como fra sua
vim da apresada daquela maneira, sem ter mais pra1iea com ele 1 dise me
se os mouros souberam que ele vinha a ese negocio, que nam .ouuera
de pasar, e eu lho creo, porque hy nam ha nehua sayda da terra do
preste joham, que nam venha em naos de mouros e per mos e lugares
t elo Tombo-C. Chroo. P. 1., 11. t8, D. 77.
. .. . - .
CARTAS DE AFFONSO DE ALBUQUERQUE 3t3
de mouros: se qerem sair per zeila, zeila he.de mouros, e nam he debaixo
da obidiemcia _de preste joham; se qerern vir por meu, meu he de
mouros, ilha piqena pegada na terra firme e porto de preste joham que se
chama dacanam, e a terra se chama arquiqo ; se qerem sair por Dalaca,
que he ha ilha pegada na terra de preste jobarn, Dalaca he de mouros;
se qer sair per uaqem, a ilha de uaqem he de mouros, e est pegada
na terra firme de preste joam, e o sertam de uaqem de mouros he, mas
sarn sojeitos ao preste joam; e estes mouros que aqui estam em uaqem,
comem os de rei tos das mercadarias que vem pelo nillo ter a coaer, porto
do mar Roxo: l tenho dada larga com ta diso per outras muitas cartas a
vos alteza: asy digo, senhor, que ho embaxador me parece que diz bem,
que se se avemtara amtre os mouros ser ele embaxador do preste joam,
nam escapara de ser tomado em hum destes portos, ou nas naos dos
mouros omde passara,-ou em adem, ou no Reino de cambaya; enam,
senhor, pelo temor que tenham de noso ajumtamemto sobre sua destruy-
am, mas pelos civmis que tem do trato do ouro e mercadarias da terra
do preste joham, de que eles estam muy eeosos e arreceosos; que ~ a m
, sam eles tam barboros 110 emtemder, que nam vejam que afra ser vos al-
teza comquistador, que vos nam trabalhaes dasenhorear os portos das
mercadarias e tratos deles, e que os nam is desapegamdo deles pouco a
pouco; e portanto, senhor, eu nam ey por cousaduvydosa vir a vos alteza
embaxadbr do preste joham, e conhecido nos olhos dos mouros, que nam
seja morto ou cativo; e o dia que ho idalham s&ube que ele era embaxa-
dor do preste joham, e da maneira que ho alargaram em dabull, quisera
mamdar cortar a cabea ao capitam de dabull.
Deses abexins que se )amearam comigo em adem, que foram cati-
vos no caminho da romaria de jerusalem, hum deles que sabe esprever,
me dise que h o conhecia, e que era homem que muitas vezes el Rey mam-
. dava a muitas partes.
Nem sey, senhor, de que serviria ser este homem emculca ou espia,
r,como ho quiseram fazer, do soldam, porque comtinnadamemte amdam
comigo de demtro do cairo, e cada dia vem per terra e per mar com suas
mercadarias, e vm vos armada, e vm vosas fortelezas e tudo ho da imdia,
porque n'este caso nam se pde ter q nestas partes mais guardas, polos
mercadores terem liberdade de amdarem seguros per toda parte, vem-
demdo e compramdo.
Digo mais, senhor: se o soldam quiser .saber o comselho ou deter-.
i O

..
,

31i CARTAS DE AFFONSO DE ALBUQUERQUE
minaam de vos alteza sobre ho feito da imdia, ou despacho. de vosas ar-
madas, nam amdam em purtugall vimte venezeanos, ytaleanos, frolemtis,
Jenoeses e outras jeraees de jemtes, que comtinuadamemte tratam em
alixamdria e no cairo, os quaes muy bem o negocio deses regnos,
e darm muy ba comta ao soldam dese feito, cada vez que bo quyser
saber?
' '
Mais digo aimda, senhor: ese homem, se fOra falso, nam sabe elle
que ha de vir ter minha mao, e que comigo ha d ir demtro ao porto
de preste joham, e que primeiro que saya com vosa Reposta, que am d ir
e. vyr com recado ao mesmo preste'! pellas quaees Rezes acima ditas a
mim me parece que nam trazia nehum proueito alevamtar se hum homem
com ese ardill, e pasar tamta furtuna, at chegar a eses Regnos; abastara
com seus emganos chegar a mim .
. Deste negocio que pasou ho embaxador em cananor, eu nam soube
parte, senam em camaram ; dom garcia meu sobrinho e diogo fernamdez
que arrimcaram per derradeiro de cochim, vyeram per cananor, e soube-
ram tudo o que hy pasara, mo diseram, de que eu fiqey o mais espam
tado homem do mumdo.
Quando torney lmdia, quis emtemder neste negocio, e achey que
eram cousas de gaspar pereira e d outra pesoa que quis segir sua opi-
niam e seu comselho, os quaees emtraram na Imdia por mamtedores na
imdia, e qu se avemtureiros, e danaram ese embaxador e o
dei Rey de cambaya, e agora per derradeiro ho de miliquiaz de dyv, e
outlas da imdia e outros capites que l sam, e o feito de calecut,
e nom lhe pde escapar nehum negocio na imdia em que nam metam .a
lama, se podem: danaram se estas pesoas desta maneira que digo a vos al-
teza: hum nam quis vir a benastarym comigo, e depois de noso senhor
nol o dar com tamta omrra e vitoria dos portugueses, quis amostrar que
por descomtemtamemto qne de mim tinha; leixara l diir; outro nam quis
ir ao mar Roxo, e quys ficar com hua molher casada que tinha tomada
a seu marido, afra ser homem que lhe nam apraz muito com estes perca} ...
os que agora quaa ha na imdia, porque nam se criou nellas (sic), senam '
na oueeosidade pasada; e aimda desa hida dos Rumis se soube ele muy
bem escusar, e quys por detrs de mim esprever a vos alteza que eu nam
fazia com elle seus oficios .
Soube mais deste negocio, que as duas espravas que eu eom-
prey, e dey ao embaxador, que mas pedio, seus senhores falaram com
..
CARTAS DE AFFONSO DE ALBUQUERQUE 3t5
'
"'
elas depois em cananor, e per estncia falaram com ellas, porque nam mas
vem deram muito per soa vomtade; daly naceo e do com se lho de cananor
dyzerem as espravas que husava imdividamente com ellas, e acomselha-
vam a molher delle que o disese tambem asy; e que se o eu soubese, que
ho mamdaria qeimar, e que a . ela que a casaria muito homrradamente
com hum purtugus: veyo ho embaxador a qerer dar em sua molher ou
sua esprava; acudio a ese feito jorje de mello, gaspar pereira e framciseo
pereira, e fizeram eses exames e eses asemtos, e o canonizaram. por troam
e por ujo, e apartaram ho moo dele, e as escravas, pera husarem de-
las per ese caminho sua vomtade; e alevamtaram iso ao embaxador, e
o e bernaldim freire com ele, cuydamdo que danificavam a mim
niso, e tomavam vimgamca de seus desarrazoados despeitos, pareemdo lhe
que era hua tam gram cousa e de tamto louuor e groria de vos alteza,
que nam podia deixar de ser gramde comtemtamento meu, e vos alteza
mo ter em gramde servio; e Joram co iso :}O cabo, e fizeram o que vos al-
teza vio
1
e examinarano per seus eomselhos e per seus testemunhos; e
nam m espamto fazer iso framcisco pereira, pois lhe eu quaa pasey as
cousas que ele fez em quilua; quis se agravar de mim, porque lhe nam
dey ho soldo da !_)aO livnarda, posto que ele istivese em quilua, e dizia .
que aimda que a nao estivese e amdase em poder de duarte de lemos
nesa outra costa; afra, senhor, ser hum bem trabalhoso homem, e que
pela vemtnra foy ele causa desas naos nam .pasarem a purtugall; nam
mespamlo de bemaldim freire, porque he moo, que ho danar quem
. .
qmser.
Quiseram, senhor, tambem dizer que eu ho sabia que era tmam e
maao; e segumdo o que me vos alteza espreve, diz bernaldim freire que
nam tive eu tempo pera saber a verdade: perdoe lhes deus estas duas
cousas: e digo, senhor, que pela pratica e pregumtas e modo sua vimda
e seu caminho, como acima dito tenho, eu ho festejey e omrrey como a
verdadeiro embaxador de tam gramde Rey e Senhor, como ho preste
joham he nestas partes, e o emtreguey a bernaldim freire, por ser
.. vosa e ornem que parece que tem descriam e saber pera nam danar as
.. cousas de voso servio; pois que vosalteza lhe mamdou emtregar hna
nao de se tecem tos tonees carregada douro, nam me parecia que errava
comfiar dele ho embaxador. .
Qnamto he, senhor, ha vera cruz que levava eom gramde acatamento
e com aqnela solenidade e devaam, foy Recebida com persisam, ado
iO

,
. '
316
CARTAS DE AFFONSO DE AIJBUQUERQUE
rada e ofertada, tocamdo nela nosas joyas, comtas, como cousa muy ver-
dadeira, e como se viramos estar noso senhor posto nella: se eses h ..
meens de pouca fee quyseram iso danar ou ydolatrar, sem temor de deus
nem de vos alteza, poder ser que Receberm a paga de noso senhor,
quamdo de vosas mos escaparem; porque aquele verd_adeiro senhor que
est nos ceos, sabe que toda esta desordem que se criou em cananor, foy
cuidamdo que me acertavam em cho, porque os homes sesudos e que
nam forem danados, mais se 4evem espamtar de hum Rey cristo, que
est xx dias de naoegaam de ns e tem verdadeira fee de jesu cristo
noso senhor e salvador, nam mamdar saber ha lmdia que jemte e ramos,
se tinhamos verdadeiramente a ley de deus, e se eramos cris-
tos, e de mandar hum embaxador desymulado e escomdido, vistido em
tragos de mouro com cartas e embaxada a vos alteza. E mais digo, se-
nhor: os que vs l mamdastes, nam foram eles em tragos de mouros, e
hum deles nam se em milimdy primeiro 1 nom os lamcey
na costa de gardafum, como mouros mercadores Roubados de ns' nam
guardavam todallas cirymonias de mouros, por nam serem conhecidos
nem tomados 1 e agora diz este embaxador os nomes deles verdadeira-
mente: e estes dons judeos nam viram eles joham gomez e o mouro que
com eles hia, em uaquem, porto do preste joam'
E como nos espamtamos ns, homeens de pouca fee e de pouco te-
mor de deus, set esta vera cruz vimda de demtro de jerusalem ao preste
joham; se ns sabemos certo que vam cad ano muy gramdes cafillas e muy
gramde soma de jemte a jerusalem em Romaria, e que lhe levam gram-
des esmo lias, e que ho preste jam lhe mamda muitas joyas douro e
muyta Riqezl\, e que est muito vizinho de jerusalem, se o padre samto
e muitos Rex cristos tem ho lenho da vera croz, e o aprovam por ver-
-dadeiro1 e nanos vejo ter em huso mamdarem esmolas a jernsalem, e
pella vemthra he soo ho que se sabe em noso tempo visitar a
casa samta com vosas esmolas: como nos espamtamos tela ho preste, que
tamta devaain tem na casa e tam visitada he delle e das-- jemtes
de sua terra 1 E se este embaxador viera de bemgala, ou de pego, ou de
narsymga, ou de xeqesmaell, ou do Reino de dely, ou de mamdao, que
sam provemcias (sic) muy alomgadas de ns, deram o e fee creo eu que
sy; e por ser de Rey cristo noso vizinho e muito perto de ns,
que tem ho verdadeiro Rito da nosa fee, e se carecem d algua cousa,
nam he por sua culpa, avemolo por falso e por cousa muy duuidosa, e
'
,
'
CARTAS DE AFFONSO DE ALBUQUERQUE 317
tem o imygo de deus cuidado d alevamtar este redemoynho amtre ns, e
de nos fazer obrar esas cousas vimgativas. E aimda, senhor, vos digo
mais, que se o embaxador se posese em juizo com aqueles que ho vitu-
peraram e quiseram dele fazer truam, como lho poderiam que
buscamdo pera iso testemunhas trabalhosamente o poderiam cul-
par' porque a via mester gramde proua pera ese feito: e se isto asy h e,
como ousaram de meter as mos nelle se algua cousa simtiam, nam
fra bem dizeren o a vos alteza, e ser ele tratado com toda sua homrra?
e se nese feito mostravam ser eu culpado, nam sabiam eles que nam sou
eu homem vao, nem minhas cousas, com ajuda de noso senhor, nam sam
pimtdas nem e que me nam espamto muito mamdarvos ho preste
joham emhaxada, mas que .espero na misericordia de deus, que amtes de
muitos anos virJD gramdes embaxadas de Rex mouros e jemtios, que
nam tem fee. nem ley e sam nosos imigos mortaes; e quamdo de minha
casa ouuese de pOr algua cousa, nam avia de ser mais que ho que fao: '
se a copa que vos mamda elRey de syam, se quebra, mandouos fazer
outra, porque vaa ho servio e presem te que vos mamdam, imteiro; se vos
el Rey de cambaya mamda ha adaga douro, mamdo a muy bem corre-
jer; se a vera cruz vem em hum pano velho por mais desymulaam, semdo
achada, mamdo lhe fazer h tia caixa douro; se as cartas de preste joham
vem em hum pano emcerado, mamdo lhe fazer ha cayxa douro pera elas,
porque todas estas cousas Redumdam em voso estado e em voso servio,
e nam sam falsas, mas verdadeiras e chas de comprimemtos, p.orque asy
he bem que as cousas de voso louuor, pasamdo por omde istiverem vo-
sos capites e vosos tasallos, sempre sejam festejadas e bem tratadas, at
chegarem diamte de vosalteza; mas fazerem embaxador falso, eu nunca
ho ouuy dizer que ho ninguem fizese, nem creo que hy ha oficiall maca-
nico no mumdo que ho saiba fazer; e digo, senhor, mais, senam que
somos maos, que a piadade com que nos vos alteza castiga e Repremde
nosos erros, he causa diso. .
Quamto he, senhor, ha maneira que se ter co preste joham, che-
gamdo a sua terra e a seus portos, e asy a jemte e maneira com que ho
devo de mam4ar _visitar, emcavalgada e armada e bem aparelhada, e to-
dollos mais comprimemtos e avisos que me vos alteza sobrese.caso daa,
a mim me fyca a carta por extruam minha, pera quamdo fr tempo se
guarde a ordem que mamdaes que se nese feito tenha; c na dilijemcia
que qerees que se faa sobre ho . embaxador, se ter aquela maneira que


,
...
,
,
318 CARTAS DE AFFONSO DE ALBUQUERQUE
vos alteza ordena, mas ha voz de toda a jemte da imdia h e que ho preste
joham mamdou embaxador a vosalteza: esprita em goa a xxb dias dou-
tubro, amtonio da fomseqa a fez, de
,
(Por lettra de feytura e servidor de vosa alteza
Afomso d alboquerque.
( Sobrescripto) A Ell Rey noso senhor '.
CARTA LXXV
11S14 :...._Outubro 21S
Senhor.-Partidas as naaos pera eses rregnos darmada de Joham
de sousa, torney outra vez de cananor a calecut, e hy istive alguuns dias
asemtamdo algas cousas, e asemtado h o coraam dei Rey de calecut,
cho de duvidaS de muitas partes d omeens ,danados, e fuy em terra ver
a fortaleza, e primeiro ho mamdey dizer a elRey :_ ajumtey mais jemte so-
bre mim que hum alifamte; e vy toda a obra e ordem da forteleza, e pa-
reeeome bem: torneime a rrecolher ha caravella, e parti me dy caminho
de cochim, e el Rey me veyo ver com todo seu aparato d estado, e por
emtam nam falamos nada; tudo foy pratica de seu comtemtamemto e pra ..
zer, e se foy por aquele dia pera sua casa. ..
Pasado isto, me trabalhey por despachar a nao damtonio dabreu e
lhe dar ho mao da terceira via, e se foy muyt embora, aimda que me le-
vou hum solorjyam, que me de q fogio, que se chama mestr afomso, que
veyo com diogo memdez e foy despachado per vosos oficiaees sem meu
mamdado, e levou cem mill reis d arrecadaam, fogimdo m elle das naos
pera goa, omde ficou quamdo hia pera o estreito, que foy causa d algnuns
homeens feridos em adem padecerem mimgua de solorgiam, que fiqey .
asaz descomtemte pela sua fojida, poJa necesidade que ns h., e
muito mais por lhe vosos oficiaes darem despacho sem meu mamdad :
estamos asy sem solorgiam de verdade; de barbeiros e emxalmadores te-
mos muitos.
Dahy per dalguuns dias veyo elRey lia forteleza, e despejei
t Torre do Tombo-C. Chron. P. I. , Ma. 16, D. 78 .


'

CARTAS DE AFFONSO DE ALBUQUERQUE 319
a casa, que nam ficou comigo senam os capites e vosos- oficiaees, e co-
meou de falar n.o feito de caleoot, hum pouco mais bramdo e mais ache-
gado haa Rezam do que ho garcia achou, porque foy diamte alguuns
dias de mim: tinhalhe j dado tres cartas de vos alteza, e do que se aly
pasou da prirneira e segumda vez, creo que foy avisado vos alteza pelo
mao damtonio dabreu: todavia o quis eu culpar, mostramdo gramde
descomtemtamemlo dele praticar, nem falar, nem tomar comselho nas
cousas de. meu carrego com Louremo moreno, gaspar pereira, diogo pe-
reira e amtonio Reall, porque estes taes nam tinham Regimemto, nem po-
der, .nem autoridade, mais que fazerem sua carga da maneira que lhe eu
ordenase, e ele queria com eles determinar ho negocio da imdia, os quaes
ho tinham emformado mail de mim e trazido em deseomtemtameQlto, e-
UiJ lhe tinham feito emtemder, que comtra mamdado de vos alteza e com-
tra seu Regimemto fizera paz com e lh aeomselharam que cha ..
mase alguuns capitees descomtemtes de mim, pera com eles fazer corpo,
e espreverem todos a vos alteza, e emtam lhe nomeey hum ou dous que J
foram apalpados dele. . _
E asy, senhor, lhe dise que boom galardam dava elle aos capites
e cavaleiros que eu deixara em guarda de seu estado, e que em sa carta
a vos alteza lhe Roubara seus servios, e os atribuyra a Louremo mo-
reno, amtonio Reall e diogo pereira; se sabia elle bem quem desbaratara
ho outro Rey que quyria emtrar, e lhe tomara ho sumpreiro e amdor pren-
dera o mamgate caimall que vinha com elle? Respondeu me que tall nam
escrevera a vos alteza, eom jeito de culpar ho esprivam que fizera a carta
em e asy lhe dise, que era o que ele a vos alteza so-
bre o feito de goa per comselho d amtonio Reall, Lonremo moreno, diogo
pereira, gaspar pereira? dise me que sob r i,so nam esprevera a vos alteza.
Acabado meus agravos amt ele, falamos. no feito de calecut, e em-
tam lhe dise as palavra& que me vos alteza tinha mamdado que lhe disese
sobre o feito de calecut, asy e pela maneira que no capitulo da carta vi-
nha no mao que trouxe pero mascarenhas, com outras palavras e rre-
zes que por emtam faziam ao caso, e ele se fez hum pouco mais bramdo
e mais mamso, damdo lhe Rezam como vos alteza tinha bem comprido a
obrigaam em que lhe era, de lhe defemder seu estado e seu Regno, do
quall nam faleceria hum palmo de sua terra, que primeiro se nam per-
desom os purtugueses todos; que h a pemdema que tinhamos com cale-
cut, era pola trayam emaldade que fyzera a vos alteza ho amorym, ho-



. .
,
,
320- CARTAS DE AFFONSO DE ALBUQERQUE

e maao, o quall era j morto; e avemdct Riadade
dos mercadores, e depois de lhe ter morta muita jemte e destroydas mui-
tas naos e gram parte da sua terra, ouuerees piadade com eles, e lhe per-
doarees seus erros, e rreceberes este Rey, que agora he, em voso servio
e obidiemcia, por nam ser culpado naque1e feito, _e prometer forte-
leza em sua terra, e tributo, que era metade do que Remdiam os segu-
ros, e dar a carga da pimemta a troco de mercadarias ; e que nam era
piqena cousa acabada na imdia, meter se calecut em vosas mos, Rey tam
gramde e de tamta jemte como ele sabia, escapola amtiga do cairo, e asy
ter ele bem sabida a temam de vos alteza, que era nam fazer guerra aos
jemtios, nem lhe tomar seus lugares e portos, mas guerra comtinua cos .
mouros, como elle tinha visto per obra, e termos lhe tomado seus lugares
e portos; e que outro tamto mamdares que se fizese a coulam, vim do ele .
em obidiemcia e Reconhecimemto de seu erro e de suas culpas.
Imdo asy por esta pratica adiam te, o comecey hum pouco d obrigar
a elle, por voso servio, dever de meter paz em toda a terra com vos al-
teza, precural a e busca] a, que bem via elle que h o da pimemta de
cochim, e os custos que ela fazia at chegar a eses Regnos; nam abram-
gia as desordenadas despesas da gramdarmada que yosalteza trazia, pola
_ obrigaam da gerra. Respomdme que bem via tudo, porm que ele avia
de ter guerra com calecut, porque asy qeria seu custume: eu lhe Re
spomdy que ele tinha pouca obrigaam a ese feito, pois que ho amorym
era morto, com quem ele tivera sua pemdema; e mais que pareceria j
gora comtrariar as vosas cousas, porque bem via elle quamta parte vos al-
teza tinha j gora ein calecut. _ .
Falou me na carga das mde se faria; eu, senhor, lhe 1;\es-
pomdy que naqueles lugares omde aehasemos a mercadaria mais de ba-
rato; apertou se hum pouco co isto: emtam lhe dise que nam queria elle
que a mercadaria de vosalteza tivese aquela liberdade que tinha a de
cherima mercar, ou mamalle mercar, que hiam comprar e vemder omde
achavam as mercadarias mais de barato, e tratavam em calecut e em to-
dolos portos de seus amigos e seus imigos? amtes vos alteza esperava que
. elle abaixase o preo a suas mercadarias, e fizese o que os outros Rex
seus vyzinhos fazem, os quaes se trabalham, como horrieens sesudos, por
chamar h o trato de vos alteza a seus portos e a sua terra, quamto mais
que elle tinha bem visto como a sua terra estava cha dourQ e 'l\iqes,
que lhe dese Regno vinham cadano; e que a meradaria e o trato era li-

'
,
CARTAS DE AFFONSO DE ALBUQUERQUE 3tl
.
vre de per sy, aly omde se fizese mais proueito, se devia de feitorizar; e
mais obrigado esta v e] e mamdar aos mercadores que desem a pimemta a
vosalteza a troco de mercadarias de toda sorte, que elRey de ealecut; e
que todas estas cousas lhe dizia como seu amigo, e homem que vistira as
armas, e peJejara por seu servio, como elle tinha bem visto.
Pasada esta pratica com elle, daly a dias quys que ho fose eu ver a
sua casa, e eu fuy l, e levey ho feitor e esprives comigo e nos mete-
mos em hum arame seu: aly lamentou a morte de seus paremtes, e eu
alegueilhe a ele a morte do marichaJI e de muy boons fydalgos, e lhe
amostrey o meu brao ezqerdo, que ho nam poso bem alevamtar, e o cul-
pey nese feito, por nos ele nam querer ir ajudar: deixada esta pratica,
me pi di o seguros pera el Rey de taanor; eu lhe Respomdy, que bem sa-
bia que el Rey de taanor era vasallo dei Rey de cale.cut, alevamtado com-
Ira ele; que se tall cousa com esa fizese, qebrava a paz e minha verdade,
e que ele per ese Respeitos ( sic) me pi dia os seguros pera e] Rey de taanor,
o que eu nam esperava que ele fizese, quamto mais que elRey de tanoor
numca ouuera os seguros per eoehim, e sempre- os ouuera per cananor,
e per mim quamdo na terra est.ava: e o que Louremo moreno .aly dise,
nano quero eu esprever a vosalteza, mas diverao eu muy bem de casti-
gar, porque a minha determinaam neste caso, ba ou maa, diveraa elle
de soster e defemder, e nam mo estranhar peramte elRey de oochim, nam
semdo cousa asemtada com ele, nem eu lhe estar nesa obrigaam ; mas
eu vos poso, senhor, dizer com verdade, que Louremo moreno ha mayor
medo ao asemto de ealeeut que el Rey de eochim, e lhe doy mais ver fei-
. toria nelle que elRey de eochim, e pareceme que est oomforme no pa-
recer delRey de cochim, que he numca elRey de calecut ter verdadeira
paz eomnoseo, nem nos dar pimemta a troco de mereadarias de toda sorte,
e pois que ho milh ..... emtemdo nam he de culpar, porm, senhor .....
de Louremo moreno nam pode sofrer na imdia feitoria, nem trato na im-
dia, nem lhe vejo com esta emveja obrar obras em vosa fazemda como ho-
mem que qer apagar os servios dos outros. .
- Pasadas estas praticas, el Rey de eoohim ficou mais mamso, e Re-
eebeo daly em diamte mylhor este feito de caleeut.
Este imvemo, estamdo eu em goa, jemte delRey de eoebim trauou
guerra com jemte delRey de calecut em cramgalor, e aimda diseram a
el Rey de calecut que purtugueses emtraram nese feito; e a mim, quamdo
mo diseram, nano deyxey de crer, porque estas cousas gramdes, que noso
it
' ,
I

3!! CARTAS DE AFFONSO DE ALBUQUERQUE
.senhor asy acaba sem trabalho, os homens danados da imdia tem tam
gramde door diso, que numca cesam enas estorvar e danar, se
e isto, senhor, que vos eu digo, fez ao embaxador do preste joham fazer
eses feitos que nele fizeram, porque ficaram tam espamtados de ver em-
baxador do preste joham pera o contemtamemto de vos alteza, e pera no-
sos feitos quaa na imdia e vosa empresa no mar Roxo, que ho nam pde
sofrer a carne dos homeens danados da imdia: peo vos, senhor, por merc,
que me creaes isto que vos digo, porque ho deixo qu de rrepremder, e
outras muitas cousas desa calidade, pola jemte da imdia nam emtemder
que ha amtre ns comtrariadades em noso comselho e parecer: esta guerra
dom garcia que em cochim estava, ha apagou, e a el Rey de calecut
cartas lhe fez certo como jemte portuguesa nam fr no tall feito.
Agora, senhor, amigos e com certados estamos el Rey de cochim e
eu, e parece me, senhor, que h o posera acerqa da carga da pimemta no
comcerto dei Rey de calecut, se Louremo moreno nam tivera tam gramde
doo r dese feito nam ser acabado por elle, e o culpar; e aimda, senhor,
vos qero eu dizer hua cousa como homem avysado, que pera temtardes
novo com certo, novo feytor devers de mamdar, porque estes que qu
e8tam, querem vos vem der seus servios muy caros, e nam querem ver
einemdada sua maa negoceaam eiJ! seu tempo, e sempre o am descnre-
cer, e trabalhar por nam a ver efeito; e se vs nam mudaes estes vosos
ofieiaes, vos alteza ver o que eu dygo, e quam trabalhoso este feito ha
de ser d acabar, porque sempre qerem amostrar que nam ha hy mais que
h/o . que eles fazem; vi o eu nas obras da feitoria de pedra e call; como
sacharam culpados de toda vosa fazem da em casas de palha, em
meu partimdo de cochim, mudaram logo a sostamcia das obras, e nam
foy mais nehua ousa avmte, at que mamdey pagar cem crusados
amtonio Reall de pena, e a pero mazcarenhas_ que emtemdese niso: e sabe
vos alteza porque os homeens fazem porque lhes parece que os nam
v vos alteza, e que eu, tam lomje deles, que os nam ey dem-
aimda, senhor, vos eu torno outra vez a dizer, que este nego-
cio do preo da pimemta nam ha de ter outra comtraryadade senam a
dos vosos oficiaes, e na pratica e comselhos que com eles tiver sob r este
negocio, ser vos alteza emfomiado de sua temam, e do que eles neste
caso am dobrar.
Pasadas estas praticas-com elRey de cochim, e ele fra do mao eom-
selho em que ho tinham posto homeens danadores das cousas de voso ser-
CARTAS DE AFFONSO DE AIJBUQUERQUE 3i3
vio, emtemdy n armada, em me aparelhar e ver se podia sair de fra; e
polas naos todas fazerem mita agua, e ser forado vararem nas em terra,
e as naos da carga nos deixarem com todo este negocio no ms de janeiro,
chamey os capites a comselho e o voso feitor e oficiaees, e pus lhe diamte
a necesydade em que esta vamos, asy de nam termos que comer, como
tambem nam termos naos pera poder navegar, e algas palavras de Re
premsam dise aly peramt eles ao feitor polo seu desprouimemto e des-
cuido, em que posera a imdia nesta necesydade em que nos viamos to-
dos, dizem do lhe qen o mandava elle dar tamta mercadaria fiada aos mou-
ros pelo preo da feitoria, em .... que se ganhava per outros portos o do-
bro nela. . nam era servio de vos alteza trazerem os mercadores tres anos
a vosa mercadaria ........ em suas mos, e se fazerem gramdes Ricos
.co voso cabedall, que no tempo que parecia bem darem lha fiada pera
logo ho outro ano ha pagarem em pim.emta; e asy, senhor, ho asombrey
hum pouco d ornem que parecia ter companhia com eles, por asy deixar .
esqecer vosa fazemda nas mos dos mouros: nam deu rezam neha que
vos, senhor, posa esprever: emtam me trabalhey com el Rey de cochim .
que nos fizese pagar; e hum pouco me pus em determinaam de nam
deixar navegar as naos, at que nos nam pagasem: nunca podemos tirar
das mos dos mouros senam ha pouca de pimemta, que mandey em
emxobregas e Iopo fernamdez corri ela a vemder se a dyo, como per ou-
tra carta dou mais larga comta a vos alteza.
No comselho que asy tivemos, asemtamos imvemarmos em goa, e
somemte dom garcia ficar hy pera dar aviamemto ba armada, e se podese
mandar alguuns navios de fra, que ho devia de fazer: avydo noso com-
selho, e visto como nam podiamos navegar, pus en1 obra nosos parece-
res, e me fuy a goa com a jemte, e daly mamdey pero com
quatro navios fra, asy por alijar a jemte, como por fazer algum proueito,
e ir arrecadar as parias d urmuz.
E daly despachey tambem diogo femamdez sobre os concertos de
cambaya, .bem acompanhado de criados de vos alteza, jemte limpa e bem
vestida, e jemes teixeira com ele, companheiro no mesmo negocio, polos
emcomvinientes das doenas e casos que s vezes acomtecem: do que se
niso pasou, mevdamente vay a vos alteza, porque mamdey que fizesem li-
vro diso; outro tall mamdey fazer aos que mamdey a el Rey de syam:
manoell fragoso, que era o esprivam do Recado que mamdey a elRey de
syam, fez livro; chegou a cochim, sem do eu no mar Roxo; de
ii


,
,
I


32i CARTAS DE AFFONSO DE AIABUQUERQUE
doema em eochim. Louremo moreno e amtonio reall, como homens com-
senadores das cousas de voso servio em minha ajuda, mamdaram aro-
dar em leilam as estruees e rrepostas e livro de todo o que l pasaram ;
amtonio Reall comprou ho livro, Louremo moreno ouue os outros pa-
pees: quamdo ho soube, estava amtonio reall pera partir; mamdey que
ho tomase, deu a nao as velas, e foi se com elle.
Outra tall com esta me fizeram; me afomso pessoa hum mao
de cartas de malaca; faleceo afomso pessoa em cochim de doema, abri-
ram as cartas todas e leran as: joham viegas e Iouremo moreno mamda-
ram o trelado delas a Ruy de brito, porque avia asaz de culpas nele ne-
las, por omde Ruy de brito tomou vimgama d alguuns, e eu numca mais
ouue as cartas.
Chegamdo a go'a co a jemte, como dito tenho, chegaram as carave-
las que se fizeram em chaull, e as mamdey varar e asy o navio .....
e nesa terra firme mamdey cortar mastos e madeira, fiz hua taforea de
trimta cavallos, e aparelhey, estamdo, eses navios, e em toda parte tive
ern que emtemder com eses rrex e senhores desa terra firme, os quaees
me mamdaram Recados e oferecimentos, e eu outro tamto a eles, cou-
sas de pouca sostamcia, que nam sam pera esprever: neste imvemo oune
cartas de calecut e cartas de cochim e de cananor, e asy lhe mamdey tam-
bem minha Reposta, e asy pasamos este imvemo em goa, trabalhamdo
de se cercar ha forteleza gramde dos mouros de pedra e call, com ese di-
nheiro que deram pera iso os moradores das ilhas. Fica hua fermosa
cousa pera ver, porque a cava dos jemtios e altura em que fica a mota
da terra e muro, sam obras pera serem louuadas em toda parte, e em
poucos lugares -de cristos vy cousa tam forte. E asy me vieram cartas
de diogo femamdez e dei Rey de cambaya e deses seus gouernadores e
de miliquyaz, e ouueram minha Reposta: acabada em goa a xxb dias
doutubro, amtonio da fomseqa a fezJ de i5ti.
(Por lettra de Albuquerque) feytura e seruydor de vosa alteza
Afomso d alboquerqoe.
(Sobrescripto) A Ell Rey noso senhor
1

I
Torre do Tombo- C. Chron. P. I. , lla. 16, D. 79.
'
"
CARTAS DE AFFONSO DE ALBUQUERQUE
CARTA LXXVI ,
11>14- Outubro 21>
'
Senhor.- Eu tenho em outra carta avisado vosalteza a determina-
am em que fico, e pera omde, com ajuda de deus, ser meu caminho,
via de suez e do mar Roxo, fazemdo fumdamemto de fazer asemto em
meu, porto do preste joam, e ganhar que he tudo dum senbQ-
rio, e apalpar jud, ver o que poderemos hy fazer: fico asy asemtado
nesta determinaam, posto que hy aja ou Iras pera eu dever d ir a
vrmuz e haaquelas partes, por ser cousa proveitosa e rrendosa, e de que
logo poderiamos aver fazemda e solcJ.o pera soster harmada e a jemte,
porque nam somos quaa tam bem pro ui dos de vos alteza, que nos nam
cumpra has vezes buscai o por .omde o podermos aver; e asy pera este
feito, como per a o rreeeo que homem tem de xeq esmaell, parece bem fa-
zermos este caminho, e asy per termos omde nosas naos, e
as pormos a momte, e outras cousas que se nestas partes podem acabar
de muito voso servio e proueito, pois que am de ser pesoydas e asenho- -
readas per vs.
E asy a hida do mar Roxo proueitosa he pera a es,ima e valia das
espjciarias l nesas partes, e pera as mercadaria8 que deses Regnos vem
cad ano ha imdia terem grande precio e valia, e asy por apagarmos estar-
mada dos Run.is, como tambem por tomannos conhecimemto de preste
. joham, trato e amizade, e daly persigoirmos a destruyam 'e perdiam da
casa de meqa, a quall ma miro parece que ha muy poucos dias de durar,
tomam do ns asem to no mar Roxo: o olham do eetas duas cousas, tomey
por determinaam emtrar ho mar Roxo primeiro, porque harmada do sol
dam obriga a ao menos a primeira vez que os homem '!fay _buscar
a suas casas, em tempo que as cousas de vos alteza estam em credito, e
tomarm asem to per fora, tirado este reco d armada do soldam, a que
se deve de dar gramde Resguardo quaa nestas partes; ho mar Roxo nem
sua fora nam he nada dasenhorear, e vrmuz, por serem cousas que vos al-
teza ha de pesuir, comer e defemder, demamdam mais jemte e mayor ar
mada, e am mester dons anos de minha pesoa; d se seguro na terra, at

..

..
-
316 CARTAS DE AFFONSO DE AIJBUQUERQUE
tomar asemto, por serem cousas que estam asenhoreadas has das outras,
que nam pode vrmuz estar em vosa mo, que as outras vos nam obede-
am logo como cabea primcipall.
-,.Nesta determinaam do mar Roxo em que fico, meu caminho ha de
ser desta maneira: as galees e caravelas espero. de mamdar diamte pri-
meiro alguuns boons dias, que vam aferrar ha costa de curiamuria,
taque, dofar e xer, porque no comeo da mouam as naos da imdia fzem
este eaminho, e nam podem deixar, com ajuda do muy alto deus, de fa-
zer muy gram presa; e porque eu tenho pilotos daquela bamda, que me
nomeam quatro ou cimqo portos primcipaes, e alguuns deles bem ache-
gados adem, em que ha Rios cabedaes d agua doce, que vem verter ao
mar, . de que ns temos mais necesydade naquela parajem que de neha
outr. cousa, lhe mamdo que os descubram mevdamemte, e verm mu y
bem tudo, e oo as naos das presas vam diamte dadem, e aly me es-
perem, e acabem desquypar as galees de mouros aferrolhados a bamco:
. .
aps este pedao darmada espero eu de partir com todalas outras naos,
e a ver acotor: porque os levamtes sam imda frescos, nam sey se me
deixarm tomar agua nela: quamdo nam poder, aferrarey as aguadas do
cabo de gardafum, e se hy nam podr tomar agua, correrey a costa de
lomgo, e aferrarey crara, ou barbora jezira, porque ambos de
, dons me dyzem estes Rubees que teremos agua em abastama, o que eu
da primeira nam cuidava: daly virey demamdar adem em busca das ga-
lees e caravelas, e verey adem; e o que hy faremos, aimda agora o eu nam
sey: se o tempo fOr curto, eomtemtar m ey de lhe qeimar esas naos hy
tiver, e trabalharmey por aver suez, amtes que se gastem_os levamtes.
E se pela vemtura a noso senhor apraz que tomemos asemto no mar
Roxo,' a mim, senhor, me parece que eu ficarey laa at outra mouam que
viraa, e mamdarey dom garcia imdia com parte d armada, porque este
feito e asemto tempo ha mester. E pera esta determinaam comvem' com
tempo segurar h o prouimemto da jemte e d o que espero, com
ajuda de deus, temdo ns pratica e fala com ho preste jobam, nam nos
falecer nebua cousa, e as cousas de;roso servio se acabarem
ramemte e como desejaees. _
Em quallquer tempo que sair do mar Roxo, virey a vrmuz aquele
ano que dom garcia 'volver sobre mim ao. mar Roxo, em tempo que com
ajuda .da. paixam de senhor termos j tomado asemto, e feito todo
mais que per voso Regimemto e carias mamda vos alteza que faa.
CARTAS DE AFFONSO DE ALBUQUERQUE
E na imdia, senhor, boas cousas ba que fazer: primeyramemte o
comcerto dei Rey de narsymga, que .nam pde deixar de ser cousa -de
muito vaso servio e muito proueitosa, porque ha feitura desta estou es ..
peramdo por seus misyjeiros, que vem com gaspar fernamdez, que la
mamdey: a outra he o semto de cambaya, que est em aberto, e
de neeesidade se ha de fazer bem : a outra he comservar ho asemto d
calecut, e aquemtal o com minha pesoa na terra, porque estes mouros de
calecut aimda eles fizeram outra pior que ha primeira, se nam acharam
os. muros da forteleza em ba altura, e isto feito que fez manoel de
melo; porm lembra me ho que me vos alteza escreveo, que hacabado ho .
feito do mar Roxo, todas estas cousas se fariam mais mamsas, e a mim,
senhor, asy mo parece; porm eu symto nos mouros da imdia, que se me
podesem torvar este caminho, que h o fariam. De goa a xxb dias d outu-
bro, amtonio da fomseqa a fez, de 1514.
(Por lettra de Albuquerque) feytura e servydor de vosa alteza
, Afomso dalboquerque .
CARTA LXXVII
11>14 - Outubro 21>
Senhor.-No que me vos alteza espreve sobre o acrecemtamemto do
soldo do arell, eu ho pus naquilo, quamdo se tornou christo: agora que
lhe vos alteza faz esa mercee, tudo nele he bem empregado, porque ele he
verdadeiro servidor de vos alteza, e seus irmaos e toda sua casa sempre
sam. chamados pera todalas dilijemcias e trabalhos que compre em co-
chim, e ele serve bem, e tem muita jemte e mamdo na terra, porque to-
dos eses macuas, pescadores e marynheiros e barqeiros, tudo he debixo
de sua jurdiam e m_amdo; e aimda me parece que ha de trazer todolos
arees seus paremtes, asy o de, calecut, como ho de porcaa e de caeeon-
lam, a serem christos, e j mo a mim mamdou cometer ho de calecut:
eu ho achey hum pouco de qebra com el Rey de cochim, quando vim
dadem, e omrra e gasalhado que lhe fazia, ho chamou elRey, e lhe
1
Torre o Tombo-C. Chron. P. t., Ma9. f6, D. 80.
'
IL
3!8 CARTAS DE AFFONSO DE ALBUQUERQUE
.
deseobrio em gramde segredo que fizese comigo que ho fose eu ver a sua
asa, e eu asy por eomtemtar el Rey de eochim, como por soldar suas qe-
bras com elle, h o fuy ver, homd ele ficou muy aceito a ell Rey e em gramde
amor seu.
Quamto he ao dinheiro , da divida dei Rey de travameor, ela era de
fazemda sua. Louremo morenoJt amtonio Reall e diogo pereira, vieram lhe
tres alifamtes em Retomo gramdes e muito. fermosos, e dous deles prim-
eipalmemte de gramde trabalho e de gramde fora; faley eu com h o arei I,
se queria vemder ho seu quynhani, que era hum quarto, dise que sy, e
alargou o por bj
0
pardaos ';os quynbes damtonio e diogo pe-
reira lamcei lhe mo deles; mamdey os alyfamtes a goa pera se vemde-
rem entregues ao voso feitor; tem hy Louremo moreno neles huum quarto
e vos alteza os tres, se eses homeens que l sam, merecem algum castigo
por seus emganos e falsydades.
Quamto he, senhor, aos palmares, que diz, da pouoaam, ele husou
sempre do huso e frui to delesJt sem ho nimguem eomtradizer: alevamtou se
ho fogo no lugar, qeynioulhe as palmeyras, e asy se faz muitas vezes em
eochim e em outros lugares: parece me que lhe nam tem vosalteza obri-
gaam a iso, porque hy avia pouoaam damtes, e jeralmemte vivem por
eses qem quer, imda que as palmeiras nam sejam suas: toma-
rey porm milhor a emformaam deste caso, como chegar a cochim, e se
elle tiver justia, pagar lho am: acabada em goa a xxb dias d outubro,
amtonio da fomseqa a fez, de l5li.
(Por leUra de &buquerque) feytura e servydor de vosa alteza
Afomso d alboquerque.
(Sobrescripto) A EllRey noso senhor
1

Seiscntos pardaus.
1
Torre do Tombo-C. Cbron. P. 1., Ma. 16, D. 8t.
Esta earta outra via da de vinte do mesmo mez e anno, impressa j o' este vo-
lume, sob o num. Lili. Transerevemol-a aqui, porque alm da ditferena da data, apre-
senta aiaumu


'
CARTAS DE AFFONSO DE AJ4BUQUERQUE 319
CARTA LXXVIII
1&14-Outubro I&
. Senhor.-Vos alteza m espreveo sobre a pimemta, que joham ser-
ro on ue por menos preo, querem do que se meta em hoso e costume
averse por menos preo e negoeeada daquela maneira, posto que ho ai-
mira1n te t.i vese asemtado h o preo d e i ~ : digo, senhor, que h o asem to do
almiramte foy muy boom na primeira que homem nam tinha mais conhe-
cimento da terra nem do tra1o e mercadarias, senam aquelas que das
maos dos mouros Regatees que vivem na ourela do mar podyamos a ver:
agora, j que os purtugueses navegam a terra com tamta segurama como
ho mar, Rezam seria que vosos oficyaees tomasem as abas na eimta e a
negoceasem per sy, pois que ho sabem mny bem fazer pera sy: de vos al-
teza cuidar que ha hy da ver escamdolo nese feito, nano creaees, senhor,
porque tamta pimemta se compra agora no peso aos mercadores jemtios
da terra omd ela nace, como aos mouros mercadores que niso tratam com
vos alteza: estes mercadores jemtios ftue ha agora trazem, Recebem o pa-
gam em to segumdo a rdem da vosa feitoria, e tomam logo aly vemder ho
cobre por menos preo do que lho vos alteza daa em pagamemto; este co
bre comprava ha masa de cochim, e o levavam a cambaya, e ganhavam
muito nelle, e asy hiam ao sertam comprar pimemta, e a traziam ao peso
pelo preo da feitori, em que ganhavam arrezoadamemte: creo que disto, .
senhor, vos tenho j l avisado per cartas se ho aviees por voso servio;
e aimda, senhor, vos esprevy que esta negoceaam e proveito, pois co-
miam voso soldo, que pera vosa alteza devia de ser_; e o que dise joham
serram a vosalteza, dise verdade, porque eu creo que os vosos ofic.iaees
tinham parte na carga da nao, e que ha pimemta se negoceou desta ma-
neira pera ela.
Este negocio pera se meter em huso, ha mester dinheiro em dinheiro,
porque os mesmos mouros mercadores ha dam por menos, se lhe pagam
em dinheiro.
No que vos alteza diz, que metemdose isto em huso com a jemte da
terra, se arremear este trato das maos dos mouros, fra estaa ele todo
das maos dos mouros ho dia que vosal,eza mamdar pagar a pimemta
ii
..
,
'
,
..
330 CARTAS DE AFFONSO DE AIJBUQUERQUE.
por dinheiro, porque os mesmos naturaees da terra a trarm hy, quamta
vosalteza quiser, por menos preo, como dito tenho; e negoceamdoa l
nas, omdela nace, se a ver imda por muy menos preo, seja a paga
hua vez em dinheiro, porque os naturaes da terra domd ela vem, nam
tem neha maneira de dar sayda ao cobre,. nem navegam nem tratam em
neha parte, que sam bramenes jemtios.
Esta negoceaam no sertam ha de ser feita por duas maneiras pera
dar carga has vosas .naos, que he muy gram soma: a ha ha de ser por
dinheiro, se a qerees apresada e gramde soma pera breve despacho das
na os; a outra h a de ser per Roupa, dinheiro e arroz, e esta ha de ser
mais de vagar, porque ha de ser negocada pelos lavradores mevdamemte,
que era de 1nuy mais baixo preo; mas desta maneira em tam curlo tempo
. cotno as vosas naos tomam carga, nam se poderia mais a ver que pera a
nao de joham serro, porque a carga que vos os mouros dam, meuda-
memte a vam negoceamdo pellos lavradores, como dito os bra-
menes da mesma terra omd ela naee, desta maneira a negoceam pelos la-
vradores, e a trazem ho. peso; e asy digo, senhor, que se qers que se
isto meta em huso, que ha de ser por . dinheiro a compra- da pimemta,
averd_es fora dela no tempo da carga das naaos; e se a vos alteza
qer ter negoceada d amtemao, ha de ser da maneira que dito tenho, mas
vosos oficiaes nam am de ser tam fidalgos como sam: este dinheiro que
s aa de dar por esta pimemta, ha de ser trazido daqueles lugares dom de
a vosa mercadaria tiver mayor despacho, primcipallmemte c.ambaya: eu,
senhorl ha feitura desta estou em goa, que sam xxj dias de setembro,
agnardamdo por pcro dalboqnerque com as naos de sua companhia, que
matndey ao cabo de gardafum, e dal' vista adem, e dy vyr imve1nar a vr-
muz, e descobrir baharem, e o mais que per outra carta dou cotnta a
vos alteza: chegan1do a cochim, terey pratica com vosos oficiaees sobrese
easo, c a determinaam que tomarmos, espreverey a vosalleza; mas cui-
dar vos alteza que hy ha daver escamdollo na terra, qeremdoa negocear
por menos preo, estay, senhor, seguro diso, porque husama he dos
mercadores nesta terra a ver as mercadarias por menos preo que podem,
e creo tambem, senhor, que asy ho he em toda outra parte.
Hum pejo soo, senhor, tenho eu aquy, se desta pimemta negoceada
pelos vosos oficiaes ern terra que nam he delRey de cochim, vimdo pelo
Rio abaixo dereito a vosa feitoria, avees.lhe de pagar dereitos ou nam; se
lhos pagardes, nam ser nada, mas se lhos nam pagardes, e lhe tirardes

. CARTAS DE AFFONSO DE AIJBUQUERQUE 331
. mama, pel vemtura. trabalhar por estorvar esta dilijemcia: quamto
elle nisto poder obrar on nam,, pola terra nan1 ser sna, aimda o eu agora
nam sey: e nesta compra da pimemta que vos alteza agora ordena, vede,
senhor, se vos vem milhor ho asemto de calecut, ho quall he pimemta a
troco de mercadarias de to<la sorte polo preo e peso de cana no r, que h e
mayor babar que ho de cochim: acabada en1 goa a xxb dias doutubro,
amtonio da fomseqa a fez, de 1514.
(Por lettra de Albuquerque) fe.ytura e servydor de vosa alteza
Afomso d alboquerque.
( Sobrescripto) _A EU Rey nos o. senhor
1

CARTA LXXIX
1514-0utubro 25
Senhor.-Eu mamdey pidir a vos alteza valadores pera fazerem em
goa ha fosa pera as gallees, por hy aver lugar e desposisam pera iso
muito boa; nam vy Resposta de vosalteza, nem os valadores:las galees,
se sam varadas em terra, sam navios compridos, e alqebram has vezes;
e esta gal de silvestre coro, que imvernou em goa, emtrou no esteiro
de preamar, e de baixamar ficou asemtada nas ymeas muito direita e
muito bem: e se tivese valadores, he lugar desposto pera estarem ha du-
Zia de galees, e poderia ser que Cariamos fosa pera navios piqenos; e se
vosaltezanam quyser mam<lartamtos quamtos sam necesareos, logo vosal-
teza podia dous pares d omees pera aviar a obra, que q a ver
a jemte da terra de trabalho que babaste pera o mais; mas todavia ha mes-
ter homem que tenha conhecimemto da obra, e que ha meta em ordem :
acabada em goa xxb dias amtonio da fomseqa a fez, de tl4.
(Por lettra de Albuquerque) feytura e servydor de vosa alteza
Afomso d alboquerque.
{Sobrescripto) A Ell Rey noso senhor
3

I Torre do Tombo-C. Chron. P. 1., Ma. 16, D. Si.
2 No mesmo mao em que existe esta carta, ha outra via (D. que em Jogar das
palavras c acabada em goa, offerece a seguinte variante: cesprita em goa a xxb dias dou-
tubro de 15t.4.>>
3
Torre do Tombo-C. Chron. P. 1., M. 16, D. 83.

I
'
\
3 3 ~ CARTAS DE AFFONSO DE AJ,BUQUERQUE
CARTA LXXX
1514-0utubro 25
Senhor.-.:..Per outra carta vy como vosalteza mamdava qaa Joham
serram, por eu esprever dele e de sua pesoa muito comtemtamemto: certo,
senhor, eses poucos dias que tive .pratica com elle, me pareeeo boom ho-
mem, e que emtemde bem as cousas da imdia; eu folgara dele qaa ficar
comigo, quamdo veyo, e pois ho vosalteza mamda, eu vos beijo, senhor,
as mos, porque ele he cavaleiro e homem de boom Recado pera se dele
com fiar jente; ha mester husama e omees que outra ora desem boom Re-
cado, ho que ereo que tudo se achar em joham serram: ele ser tratado
e omrrado de mim como vosalteza mamda: acabada em goa a xxb d i ~
dou,ubro, amtonio da fomseqa a fez, de t5tt..
(Por lettra de Albuquerque) fey,ura e servydor de vosa alteza
Afonso dalboquerque.
(Sobrescripto) A Ell Rey noso senhor .
'
CARTA LXXXI
1514-0utubro 25
. Senhor.-Depois da chegada de diogo fernamdez e james tei1eira
de eamhaya, chegaram quatro atalayas de miliquis a goa, as quaes vy-
nham a urrete em busca de diogo fernamdez, pera o trazerem a goa:
trouxe me cartas de miliquys; vinha nelas por eapitam cidiale h o torto,
a que vossa merc mamdou duas cartas, e nehtla a miliquyaz, de que me
eu espamtey: este cidiale he mao homem, e porque sabe a nossa lymgua-
jem, recolhe n1uitas cousas dan1Jre ns, que eu nam qeria--que os mouros
sonbPsPm; porm ele achou ho teor da nova que de l veyo, e outra mu-
t Torre do Tombo-C. Chron. P. t., M, !6, D. 8 ~ .
'

..


CARTAS DE AFFONSO DE AlBUQUERQUE 333
dama nos lugares que diso ouueram notycia, e outro asemto nos cora-
es das jemtes;. e na pratica que com elle tivemos, diogo fernamdez e
eu, sobre a forteleza em dio e sobre miliquis, a mim me parece que mi-
liquys tornar a mudar ho comselho, porque ficou muy espamtado e muy
asomhrado quamdo vi o a determinao de vos alteza sobre o fumdamemto
e asemto da imdia: douuos, senhor, comta disto, porque saiba vosalteza
o asynado. servyo que vos niso fao, e como m esqecy de todalas cousas,
e vos quys servir e acabar omde vy que vosa alteza podia ter mais neee-
sydade de mim; portamto, senhor, nas' cousas da imdia day sempre fee
ao que vos esprever, porque desta chaga soo eu arrazoado solorgiam, e
imda que carea da teoriea, da pratica sey eu mais que muitos outros ho
meens, polos muitos anos que ha que trago esta masa antre as mos; e
digo, senhor, que de necesydade. vos darm div com todas suas Remdas,
ou asemto e fortaleza em di v, ou omde vs quiserdes, se temdes mo no
estreito: partido diogo co que vos alteza l veraa, foy
logo chamado miliquis por el Rey de cambaya, e he sobre este feito de
div, porque miliquis nam cesa de se defemder quamto ele pde, que se
nam faa ahy fortaleza, e el Rey nam pde ali fazer senam dar vos asem to
omde o pidirdes.
Miliquiaz, senhor, me m"mdou esta joya que l mamdo ao prim-
eipy, porque h e cetro reall das imdias; tomey o por booa pemostica ter a
feiam de eetro; prazer a noso senhor, que quando lho vos alteza emtre-
gar e o senhorio das imdias, . que ser com muitos Regnos, cidades e vilas
ganhadas; e pois que vem do regno de camhaya, este he o primeipall que
avemos dasenhorear; todavia, senhor, eu ho ouue por boa prenostica e
boom synall: na carta de miliquiaz dezia, que me pidia que lhe mamdase
dizer se avia eu dir ao estreito de meqa, pera salvar sua fazemda, e
a mamdar laa: eu lhe Respomdy que .eu comeara tam gramd-armada
pera apagar os Rumis, se na imdia emtrasem, que nam sabia se a pode
ria acabar;.mas que se l fose, ou mamdase, que eu o avisaria da ver-
dade: mamdoume tambem dizer, que as nosas atalayas arribaram sobre
hua nao que traziam tres misijeiros delRey do cairo, hum pera o amo-
rym que morreo, outro pera o abayo, .outro pera miliquyaz: eu lhe d.ise,
que de tall nam sabya parte; que se ahy ouuera cartas pera ele,. que lhas
mamdara de muy boa vomtade, pera me ele avisar das cousas de laa;
mas que eu ouuira dizer que ho abayo estamdo sobre calberga1e, fim-
giram. hum misigeiro delRey do cairo, apregoamdo -a vimda dos Rnmis,

'
;
'
33i CARTAS DE AFFONSO DE ALBUQUERQUE
com medo de lhe eu nam fazer alevamtar as terras de goa, e lhas tomar-;
e que deste feito. nam sabia mais: despacho e totnusembora; e mam-
dey a miliquiaz veludo preto hum sayo e veludo de gram para outro.
Nestes dias chegou h o outro cidialle, embaxador que foy dei Rey
de cambaya, tam mao homem como estoutro, ho quall deu com a nao
mery atravees, matou hum homem que vinha em sua companhia muy
aparentado em camha,Ya, e espreveo a el Rey de e a codamerham
seu governador esas cartas que diogo fernamdez mamda a vos alteza: es-
tes dous cidiales sam muito maf;)s homeens, sabem a nosa limguajem. sam
mais danosos amtre ns que portugueses danados; mamdan os qu amtre ,
ns por misijeiros, e tambem por saberem de ns mais cousas das que eu
queria que eles soubesem; e porque sabem a nosa limguajen1, dizem s
vezes l hiia verdade e mea duzia d emganos misturados com ella, a que
lhe dam fee: este embaxador nam ousa dir a cambaya: a mim mespre-
veo codamerham, governador de cambaya, que lho mamdase; mamdey lho
nas atalayas de miliquyaz.
As novas que agora per derradeiro vieram de demtro do mar Roxo,
sam estas: primeiramemte que ho. soldam viera a suez em pess.oa pera
despachar ha armada, e estam do asy, lhe vieram novas que xeq esmaell
era vimdo sobre alepo, e desamparou tudo, e se recolheo ao cairo; dizem
que miravcem est em jud cercando ai da bamda do mar; e asy me d.i-
seram que qumdo emtrara no mar Roxo, que jud se despouoara, e se
recolheram todolos mercadores a meqa: as novas dadem, que se fazia
forte, e alevamtara mais alto seus muros; e asy, senhor, me trotxeram no-
Vi\S de di v, que era chegado hy hum judeu que viera pelas terras do preste
.joam, e iJUe trazia cartas mim, e diz que foy Roubado no caminho:
deu novas dese e1nhaxador que l he, afirmarndo que era tnamdado pelo
preste joam: de goa a xxb dias d outubro, amtonio da fomseqa a fez, de
t5t4.
(Por lettra de Albuquerque) feytura e servydor de vosa alteza
Afonso d alboquerque.
(Sobrescripto) A Ell Rey noso senhor
1

1
Torre do Tombo-C. Chron. P. f., M. 16, D. 8ts.
N'esta serie de cartas de de outubro ha uma (C. Chron. P. f ., M. 16, D. 66)
que deixamos de transcrever, por ser outra via da carta de iOdo referido mez, j im-
pressa a pag. 26' d'este volume sob o numero L.


'
CARTAS DE AFFONSO DE ALBUQUERQUE 335
CARTA LXXXD
28
Senhor.- Per outra carta de vos alteza vy a merc que Recebeo ho
homem que foy com h o embaxador pera o a ver de servir; eu ho mam- ,
dey com ho embaxdor, pollo comtemtamemto que dele tinha e cuidado
das suas cousas; e de lhe vos alteza fazer tnerc creo que ho embaxador
levar diso comtemtamemto; e eu, senhor, beijo as mos de vos alteza por
essa mercee e por todalas outras que me fazees, em minhas cousas terem
alguum eredito e istima amte vos alteza, porque, asy me deus salve, se-
. nhor, que nos maos que vieram narmada de joham de sonsa, vy tamta.s
culpas minhas sem porqu, e tamto descredito de minhas verdadeiras
cartas e, verdadeira emfqrmaam. das cousas da imdia e verdadeiros ca-
minhos por onde ando, que tudo nacia das cartas damtonio Reall e dou-
tras taees de quaa destas partes, a mim me cayram os espritos na met
do cho
1
, e me tomey mais bramco duas vezes. do que era, e m ouve por
hum homem pimtado has vesas e todalas minhas obras; e' comtudo, se-
nhor, niguem nano emtemdeo em mim, nem as vosas cousas nam dixa-
ram de receber ordem, e dou muitos lounores anoso senhor, que me nam
deu mais sotileza nem mais emjenho pera as minhas obras e meus ser-
vios serem amte vos alteza alomeados que ha verdade e limpeza deles:
e pois que noso senhor, sem lho eu merecer, he em minha ajuda, nam
ey de temer os homeens danados de suas comciemcias, e que nam guar-
dam verdade ao seu Rey e senhor: acabada em goa a xxbiij dias d outtp.
bro, amtonio da fomseqa a fez, de t5ti.
(Por lettra de Albuquerque) feytura e servydor de vosaalteza
Monso d alboquerque.
( A Ell Rey noso senhor '.
1
Parece-nos que a phrase dever ser: cque a mim me eayram os espritos na met
do cho.,
z TerrQ do Tombo.-C. Cbron. P. l.,.M. 16, D. 88.
,
I
-
'
336 CARTAS AFFONSO DE AI,BUQUERQUE
CARTA LXXXIll
11S14:......Novembro 4
Senhor.-0 que vos tem dito de guoa, que se fazem gramdes des-
pesas nella, . crea ho vos alteza, de soldos e mamtimemtos, este
tempo que agnora estiue nella, se gastro mais setemta mill pardaos.
E nom emtrou aquy do voso cabedal! que de ll vem, mais de duzentos
, e quymze quimtaes de cobre, e todo o mais foy pimemta . e gemgiure
das naos que me emtregaram de dabuli, e direitos de eaualos, Remdas
da terra, e presas que fizeram as naos d urmus. Asy, senhor, que doge
em diamte h o primcipall gasto aquy h a de ser, porque nom temos ns
outro descamso na ymdia nem otro prouimemto pera nosos mamtimem-
tos senam guoa, primcipallmeemte pella moeda de cobre em que nos
pagua, correr na praa e na terra, ho que nom temos em nenha outra
parte da terra da imdia, porque, como em eochim e em cananor nos fal-
lece moeda douro ou prata, nom ha hy Remedio de podermos vyyver. E
a mim parece me, senhor, que vay vos alteza eortamdo ho caminho do di-
nheiro que qu soyes de mamdar, sem primeiro vos alteza mamdar fora
de mercadarias pera se aver pera ha cousa e pera outra. E pella vem-
tura, senhor, se nom fOra ha eompitiam dei Rey de cale cu com el Rey de
ooehin, nom leuaram as naos carga esm anno da imdia; portamto, se-
- nhor, quamdo vos alteza acordar bom oomselho, da lhe logo a emxuqn-
am prestes, como compre, porque vos alteza determina de nom mamdar
dinheiro imdia, fazemdo fumdamemto que das mercadarias deses Re-
gnos que se quaa vemderam, e do trato de quaa, se fornecer carga e as
mais despesas da h e verdade, senhor, que asy se far; mas qu de
esa negoeyaam e esas mereadarias 'l porque a mim me parece que ehris-
tovo de brito nom ha de ter que depenar, h o pouquo cabe-
dali que de ll veo e quaa ha: aviso de tudo vosalteza verdadeira-
memte e do que vejo, se as cousas borde nadas per vos alteza nom soca-
derem a voso comtemtamemto, saybaes que nom sou eu cullpado nese

CARTAS DE AFFONSO DE ALBUQUERQUE 337
feito, nem lhe fallece dilligemcia e bom meno qtiaa nestas pa1:tes: feita
em guoa a ij dias de nouembro de t5ti.
(Por lettra de Albuquerque) feytura e servydor de vosa alteza
Afomso dalhoquerque.
(Sobrescnpto) A Ell Rey noso senhor .
CARTA LXXXIV
4
Senhor.-Posto que eu seja pouquo cyoso de minha vida e meus
costumes, por tudo no campo e nos olhos dos homens, cu hei ho
rnundo por lam mao, que me parece que todo o que os homens diserem,
se de crer. Digno, senhor, ysto pel1o que amtonio Reall e diogo pereira
c gaspar e seus parceiros na sua carta que vos ll mandaram,
c1ue vosa alteza vi o, vos espreneram, dizemdo. que eu vem dia .as espravas
aos l1omens pera casarem com ellas, e tinha esta maneira de fazer meu
proueito; c emtr aquy o ymmiguo tambem ter cuydado de algum
bem, se ho l1omem quer fazer e dallo ao mundo, porque vee que nosas
obras pella maior parte a este fim sam emderemadas. E ymda que eu
tenha por muy certo que ,,.os alteza he sabedor de como eu guardo gram -
primor na obrygaam de meu carguo, com tamta limpeza como eu sam
obrygado e he Rezam nest.as cousas e _em outras maiores, todavia, se-
nhor, nom ouue por pejo _de fazer esta llemhrama a vos alteza, e me ga-
bar do que tenho feito, e com, esta emvio a vos alteza hua emquiryam
tirada pello ouuidor aeerqua das esprauas minhas proprias que casey, as
quaes .me vieram pe,r algas vezes de minha joya e partes, todas moas
e de muy gram preo e valya nesta terra, que poso com juramento afir-
mar a vosalteza que valiam mais de dous mill cruzados, afora outras
muitas que tenho dadas graciosamemte a eses caualeiros e fidalguos, por ..
que nom he de meu cargo e oficio vemder, nem troquar, nem fazer par
tidos nem emburylhadas nem nehum outro proueyto, senam aquelle que
me cabe de minha solidada, porque asy ha de fazer ho homem que quer
dar bomba comta de sy a deus e a seu Rey e ao mundo.
t Torre do Tombo-C. Cbron. P. 1., 11. 16., D. 98. E ou&ra via, D. too.
43
\
..
338 CARTAS DE AFFONSO DE ALBUQUERQUE
Quamto he, senhor, s que eram de vos alteza, que daua aos homens
que se dellas comtemtauam pera casarem com ellas, destas taes ser
vosalteza per vosos oficiaes sabedor da uerdade: algas mamdey ll
senhora Raynha, otras lleuaram este caminho que digno; e porque vos al-
teza seja sabedor da uerdade, a pesoas dey ajuda de vosa fazemda pera
forrarem outras de pesoas que as tinham, e casarem com ellas: pasa ysto,
senhor, asy na verdade como vos espreuo, porque eu nunqua tiue deua-
am de casar homens com estas molheres malauares, porque sam negras
e mulheres currotas em seu viuer per seus costumes; e as molheres que
foram mouras, sam aluas e castas e Retraydas em suas casas e no
de seu uiuer, como hos mouros desta terra tem por costume, e as molha-
res de bramenes e filhas delles tambem sam castas molheres e de bom
viuer, e sam aluas e de boma presema; asy, senhor, em quallquer parte
homde se tomaua molher bramqua, nom se vendia, nem se Resgataua,
todas se dauam a homens de beem que quyryam casar com elas.
\ Algas pesoas a que quaa dey casamento hum pouquo maior do
que de Il hordenou, que poderyam ser at tres pesoas, houne
. ahy causa pera yso, sem serem paguos na vosa feitoria, posto que tudo
seja fazemda de vos alteza, que s vezes na guerra se catiuauam molhe-
res e seus marydos com ellas e suas filhas, e lhas tornaua christs, e do
Resgate deles partia bem com suas molheres e filhas, quamdo casauam;
e posto que vosalteza tenha hordenado de nom dar casamemtos, nem se
casarem quaa mais pesoas, a gemte est muito aballada em casar na im-
dia, se lhe eu dese lugar a yso, e sem casame.mtos; e a mim, senhor,
nunqua me pareceo mail este comselho: verdade est que quamdo h os
homens querem danar ha ba couusa, nom lhe mimgoam Rezes que
. dem: estes que sam casados, pro neto tem feito at guora, porque nos .
bolbos das gemtes da ymtlia est asemtado fazemios ns fumdamemto da
terra, pois vm aos homens pramtar aruores, e fazer casas de pedra e call,
e casar, e ter filhos e filhas, eomo espreuo per outra a vos alteza: feita em
guoa a iiij dias de nouembro t5t,.
(Por lettra de Albuquerque) feytnra e de vosa alteza
Afomso d alboquerque.
(Sobrescripto) A Ell Rey noso senhor
1

.
Torre do Tombo-C. Cbron. P. t., lla. 16, D. tOI.

I
CARTAS DE AFFONSO DE ALBUQUERQUE 339
CARTA LXXXV
11S14-Novembro 8
Senhol'.-0 junquo que de malaca partyo per mamdado de vosos
feitores carregado de mercadaryas ha thoromandell, carregou no porto de
paleacate; Joham 'aluares de caminha esteue com elles, que ha feitura .
desta chegou de ll; ,emderam suas mercadaryas, em que fizeram dezaseys
myl cruzados; carregaram no junguo (sic) de roupa, que custou doze myll
cruzados, e am de partyr nesta mouam d ahryll: parece me, que
se o cabedal}. de malaca hamdar bem aviado, que lhe nam ser necesareo
provymemto da vosa fazemda, antes cad ano soma d espicia-
rias ha cochim, ha .... trato de malaca pera ha imdia que he mayor ..
. . . . que ho da ymdia pera eses Regnos; malaca at ........ bem feito
em soster seus gastos e despesas co . . . .lhe ficou e mais sempre qu
mamdou especiaryas e mercadaryas: nam he nada h a imdia em compa
raam de mallaca e das ryquezas daquells partes: esprita em goa a biij
dias de novembro de t5t4.
(Por lettra de Albuquerque) feytura e servydor de vosa alteza
Afomso dalboquerque .
(Sobrescripto) A EllRey noso senhor'
CARTA LXXXVI
11S14-Novembro 8
Senhor.-A torre da menajem de cananor he de pedra e
como vosa alteza sabe, e abrio per vezes, que dos botareos e Re-
pairos que lhe fizerom, tem acupado toda a fortaleza, e agora per derra-
deiro com todo este Repairo a brio per dous ou tres lugares: parece me,
' Torre do Tombo- C. Cbroa. P. I. , lla. D. 106.
3'0 CARTAS .DE AFFONSO DE ALBUQUERQUE .
senltor, que nom tem outro Remedio senom dar ela no chao, e fa
zela de pedra e cal, c parece rnc que o apartado da fortaleza e torre da
menajem se devia de fumdar sobre a horda. do mar c desembarca-
doiro, pera Receber socorro, porque a asemtaram no meyo da fortaleza
no pior lugar do rnundo: o que Yosa alteza dctermynar, mandemo dizer,
e far se ha: sprita em goa a biij dias de noYembro de t 514-.
(Por de Albuquerque) f-eytura c servydor de ,osa alteza
Afomso d alboquerque.
(Sobrescripto) A Ell Rey noso senhol'
1

CARTA LXXXVII
I
1514-Novembro 27
Senhpr.-Aos biij dias de novembro estava pera partir de goa pera
cochim, a jumtar ha armada pera me poer em caminho: chegaram os em-
baxadores dei Rey de narsymga, os quaes me trouveram esas manilhas e
joyas que mamdo a vos alteza, e alguuns panos que por me nam parece-
rem tam boons, nam foram laa.
Sua extruam era comcerto de paz e amizade dei Rey de narsymga
cotn vos alteza, pomdo se em determinaam de fazer guerra aos turcos do
reino de daqem; e asy traziam em sua extruam falarem me nos cavalos
d al'abia e persya, de os deixar ir a seus portos.
A primeira cousa em que praticamos, foy sobre a guerra que avia
de fazer aos turcos do reino de daqem, em que lhe dey alguas Rezees
de gramde obrigaam, pera sele dever de determinar em lhe pOr as maos,
e que Receberia de mim ajuda per a este feito, pomdo lhe diaffite como os
turcos lhe tinham ganhado parte de sua terra, que agora que de-
visos amtre sy, e avia amtre eles gramdes pemdemas, era tempo pera ele
ir sobreles; e que ele era em gramde obrigaam a vos_alteza, que deppis
que voso poder emtrara na imdia, nun1ca os turcos mais foram avamte,
nem lhe ganharan1 mais terra nem lugar, nem lhe fizeram mais a guerra;
1
Torre do Tombo-C. Chron. P. 1., M. 16, Doo. t07.
'
CARTAS DE AFFONSO DE ALI1TJQUERQUE
-
que oulhasem bem como os turcos amdavam comtinuadamemte em ar
rayaees, e que elRey de estava repousado em sua casa, e que
pella vemtura que esta occosidade fra causa de lbe os mouros ganharem
alguns lugares; pomdolhe diamte como os cavalos estavam todos em vosa
mao, e que mamdamdo lhos vos alteza dar a ele, e natn aos turcos, nam
seria duuida ganharemlhe a terra em muy pouco tempo; que a jemte
bramca eu lha tolheria que nam viese mais a seus portos; e asy lhe dise
que oulhasem betn oo miliqoyaz, capitam do idalham, que est em cim-
tacor, fazia a guerra a elRey d onor, e. que eu esprevcra ao idalham, que
mamdase ao seu capitam que cesase da guerra, que elRey donor era voso
tribotareo, e que de necesydade o a\'ia dajudar: ho idalham lheespreveo
logo, que cesase de sua guerra, e que nam emtemdese mais niso. E asy
oom entras Rezes, afra estas, os h ia acussamdo e obrigamdo ba guerra:
eles Receberam bem tudo, e lhes pareceo bem o que lhe dizia, e se afir-
marm todos el Rey de narsymga estar abalado pera este feito.
Quamto aos eavallos em que me tocaram, aos Jeixar ir a eus pr-
tos, a iso lhe Respomdy, que mespamlava muito delRcy de narsymga co-.
mer a Remda de sua terra e de seus portos, e nam querer que vos alteza
comese os dereitos dos seus; que eles sabiam betn que vos alteza tinha ga-
nhado e que os cavallos D urmuz vinham. emderemados per elRey,
que era voso vasallo_, ao porto de goa, que vosalteza tinha ganhado aos
mouros; que estes de rei tos dos cavai los eram de vos alteza: se os ele que-
ria comprar, que lhos daria amtes que aos turcos. temdo ele aquela paz
e amizade com vos alteza, que ele muito devia distimar, e fazcmdo aquele
partido que fose bem: os embaxadores logo na primeyra se lamaram do
comcerto dos cavallos, dyzemdo CJUe nam comisam pera iso, aper-
tamdo qne fosem a seus portos: sempre acharam em mim que vosalteza _
comia os dereitos de vosa terra e portos que tinhees ganhado aos
asy como ele comia os da sua terra; que se cavallos queria, que matn-
por. eles ao porto de goa, que sempre lhos dariam amtes que aos
mouros.
Pasados asy dons dias, vieram temLar comcerto sobre averem os ca-
valos, dizemdo que dariam cad ano por dereitos de mill cavallos sesemta
mill pardaos, e que os viryam comprar a goa; somem te lbe dese bna
fusta que fose com eles sempre at o porto donor: eu lhe Respomdy, que
me nam parecia boom porque eles viam bem que eu alargara aos
mercadores dez par4aos de cada cavalo, e semdo os dereitos de g(la de
,

,
'
,
3ii CARTAS DE A"f4,FONSO DE ALBUQUERQUE
-
cimqoemta pardaos por cada eavallo, lhos abaixara em ooremta, de ma
neira que de mill cavalos quytava dez mill pardaos aos mercadores, por
fazer ho porto gramde, e que agora eles me davam mais dez mill por mil)
eavalos pera destruir o porto e os mercadores, porque j os cimquemta
pardaos eu tinha de cada cavallo; que eles me davam agora mais dez de
dereitos, e que punham por comdiam que se nam vemdesem os cavallos
senatn a elRey de narsymga; e que se tall omcerto com eles asemtase,
ganhavam eles em cada mill cavalos cem mill pardaos, porque nanos po-
demdo os mercadores Yemder senam a eles, seria_ forado darem lhoos
mercadores por\ aquylo que eles quysesem, em que nam podiam ganhar
menos de cem pardaos em cada cavallo e centa cimquemta e duzemtos,
e eu lamaria a perder os mercadores, e destruyria o porto e o trato; e
asy me lamccy de seu com certo, dizem do lhes que seles leixasem vem der
aos mercadores sua vomtade, e a qem quysesem, pela vemtura me com-
certaria com eles, mas averem os mercadores costramjidamemtc de lhe

vemder os seus cavallos, qne iso nam era Rezam nem Justia.
Eles partiram bem atribulados, por nam tomarem comcrnsam co
migo, porque ho partido de darem a vos alteza sesemta mill pardaos po-
los de mill cavallos, com as comdiees que apomtavam, era da ..
nar se o trato de todo, e ganharem cemtacimquemta mill pardaos cad ano
neles, c digo pouco; e sy se partiram bem despachados de mim de dadi-
vas e mercs em nome de vos alteza, e levaram a elRey de narsymga doas
cavallos de preo de pardaos
1
cada hum, e xxbij couodos .de veludo
preto e xxx de damasco e mea duzia de barretes vermelhos: mostreilhe
as galees que aquy estavam em goa, has fortelezas e artelharia de goa,
as estRebarias dos cavallos e alifamtes, e tudo amdaram apalpamdo com
preos; nam se com certou h o feitor com elles: metiam tambem por com-
diam de nos darem lodallas mercadarias que soyam de vir ao porto de
batecalla, pelos preos que ahy valiam no porto: creo, senhor, que nos
am de fazer quallquer boom partido que quysermos, por aver estes ea-
vallos: prazer a noso senhor que asemtamdo se as cousas d urmuz, va-
ler ho trato dos cavallos e dereitos delles mais de eemto e cimqnemta
mill pardaos pera vos alteza, afora o ganho das mercadarias e espiciarias
que as naos am de levar de seu Retorno, que he outro ganho, porque j
ns temos cimquemta pardaos de dereitos por cada eavallo que emt.ra em
t- Setecentos pardaus.


CARTAS DE AFFONSO DE ALBUQUERQUE 3i3
goa, os quaees pagam todolos homeens de guerra,_ e os mercadores _pa ..
gam R' pardaos
1
, e quytei lhe dez, por outras mercadarias que sempre
trazem.
Hanos ha que me vos alteza tocou no trato dos cavallos estarem em
vosa mao; e porque goa he hum dos primcipaes portos de trato dos ca-
vallos, asy pera o Reino de narsymga, como pera o reino de daqem, e a
necesydade gramde em que pem narsymga os cavallos d arabia e per
sya, nam duuidaria ser tam boa empresa, e milbor que ha mina, por-
que nam emtra hy cabedall nem trato de vos alteza, &omemte os derei-
tos dos cavallos emtrarem no porto de goa, e parem (sic)' cada hum que
os vem comprar cimquemta pardaos; e os do lugar, se os
prarem, soyam de pagar xxxb, e agora pagam xxb, e qem nos vem com-
prar de fra, paga os mesmos cimquemta, porque asy est em costume
amtigo: parece me, senhor, que iguallmemte se podem pOr cadano mill
e duzemtos cavallos em goa, e se semtemder por vos alteza no trato de-
les, sempre se porm mill e quynhemtos cavalos, ou mill e seiscemtos; e
vedamdose bem a todolos outros porl.os, igualmemte podem emtrar na
imdia cadano dons mill cavalos e persya; e tomamdo asell:liO as
cousas d urmuz e babarem, se segura este trato pera sempre, que he
muyto gramde cousa a meu ver, e muy certo proueito, e nam duuido que
el Rey de narsymga dee boom preo polos darem a ele e nam a outrem,
afora comprai os a eomtemtamemto dos mercadores: esprita em cananor
a xxbij dias de novembro, antonio da fomseqa a fez, de t5ti.
(Por lettra de Albuquerque) feytura e servydor vosa alteza
Afomso d alboquerque.
( Sobrescripto) A Ell Rey noso senhor
3

Quarenta pardaus.
1
Pagarem('P)
'Torre de Tombo.- C. Chron. P. 1., M. 16, D. 120.

/


CARTAS DE AFFONSO DE ALBUQUERQUE
CARTA LXXXVIII
11S14-Novembro 27
Senhor.-Eu apertey hum pouco dabull em lhe cerrar o porto de
todo, e nano deixar navegar at mo idalbam me nam emtregar todos -
eses bragan1tes que se lamaram com elle: dabull, como j l tenho es-
. prito a vos alteza, m emtregou logo dous, que j hy estavam casados, que
l mamdo por francisco pereira; os outros que amdavam no arrayall do
ldalham., foram logo presos pcra mos emtregarem: como me poseram
nesta cornfiama, e me deram arrefeens, alarguey o porto: como as naos
navegaram, desymularam comigo a emtrega dos homeens, porque a so-
berba destes turcos e seus pomtos nam ha homem que ho crea; todavia
o idalbam lhe nam quys mais dar soldo, nem de comer: quamdo eles vi-
ram que eu me trabalhava' pelos a ver, tomaram por milhor n>mselho vi-
rem se por sua vomtade, e sam vimdos ha feitura desta quatro, e espero
cada dia pelos outros, que seram seis ou sete, e asy irey seguramdo de
m estes ealaceiros J nam culparem em seus maos Recados, aimda que,
graas a deus, nano fizeram omde eu estivese, nem com mao trajo ( sic)
que lhe fose feito em minha campanhia: esprita em goa a xxbij dias de
novembro, amtonio da fomseqa a fez, de 1514..
(Por lettra de Albuquerque) e servydor de vosa alteza
.. \fomso dalboquerque.
( Sobrescripto) A Ell Rey noso senhor
1

I Torre do Tombo- CbroD. P. t., Ma. 16, D. il.

,
CARTAS DE AFFONSO DE ALBUQUERQUE M5
CARTA LXXXIX
Novembro 27
,
Senhor.-Nestes maos .que estano partem da imdia, achar vosal-
tJza cartas em que Yos dava comta de minha determinaam, e do cami-
nho que esperava de fazer, cemformamdome oos vosos mamdados eco ne-
gocio da imdia, na maneira em que agora estaa: como o cargo da imdia
seja muy pesado, e se deva doulhar muy mevdamemte todalas necesy ..
dades, prouimemtos dela, e casos que podem sobrevir; e semdo de tudo
isto avisado per vosalteza, que maimda qu mais esperta os semtidos de
minha obrigaarn, algas Rezes que aquy apomtarey nesta, me fizeram
mudar o comselbo de minha determynaam, a quall est aimda escura
aos capites de _vos alteza e jerntes da itndia. ,
Digo, senhor, que depois de minha detcrminaam ser demtrar ho
n1ar Roxo, oulhey a necesydade das vosas feitorias e o poueo pronimemto
que ficava, depois de naos receberem sua carga; oulhey ho soldo
de,ido e o mamtimemto que de necesydade se lhe avia de dar
cada ms, se imdia tornase a imvernar, ou saimdo do mar\ Roxo vir
buscar a imdia, e comprir prouela de seus soldos e mamtimemtos, como
digo, e ver me no trabalho em que me vy o ano pasado, por nam poder
navegar, e hy nam a'yer nas feitorias hum soo Reall pera o prouimemto
jemte: tambem oulhey a paz vniversall e segura navegaam que os
mouros da imdia tem ao presemte, domde nos soyamos a Reformar ha
custa dos imfiees, por omde a vosa jemte amda betn gastada e agastada,
e nam tem por on1de tirar, senam por seu soldo e mamtymemto, porque
nam ha hy j percalos: tambem, senhor, pus diamte de mim a maneira
de que se vos deste feito vay esqecemdo, e como derntro no mar
Roxo nam ha hy cousa de que nos posamos aproueitar e soster, salvamte
ser fecho de toda a imdia, domde nace mais proueito do preo e istima
das mercadarias _desas partes na imdia, por nam virem pelo mar Roxo,
que da pimemta e espeeyarias que dest.as par!es vay cadano pera escs
rreioos; e que isto, senhor, seja muito d oulbar e istimar, e a destruyam
da casa de meqa e o comcerto do abexy e armada dos Rnmis apagada,
ii


\
' .
..
3i6 CARTAS DE AFFONSO DE ALBUQUERQUE
que nam deixa ead ano d abalar a imdia: acabado este feito, a vemos de
vir buscar as vosas feitorias e vosa fazemda, e eu nam vejo ficar hum soo
Reall nelas, e pera nos acudirdes a esta necesydade ha mestet dous anos,
e eo tenho a imdia e a obrigaam dela ho pescoo, e comvt!mme de pro-
ver hua cousa e outra, e mudar cada dia ho comselho: portamto, senhor,
eu estou determinado cometer ho cam1nho D urmuz pera termos que co
mer, ajudamdonos noso senhor de ho asenhorear e asemtar, como espero
em deus que seja, e poderemos aly ter larga despesa pera nosas necesy-
dades e despesa darmada e soldo de Jemte, e melhorar nos emos hum pouco
mais na imdia, e poderey espalmar harmada, e aguardar os Rumis em seu
tempo verdadeiro, e lhe pr as maos, e fica mais azo e desposysam pera
se d aly cometer o mar e temos com que fazer todos esles gastos e
despesas, e aguardar a mercee e prouimemto de vos alteza, quamdo nol o
mamdardes, porque por agora nam vejo eu na imdia tisouro domde este
feito saya, senam damdo nos noso senhor vrmuz e suas terras e 11 trato
dos cavallos nas maos, pera logo comermos dy. .
Tambem, senhor, he muito doulhar o trato dos cavllos, que deste
feito se pde asemtar, domde nacer, se eiRey de narsymga daa sesemta
mill pardaos polos dereitos de mill cavallos, que dar vimte, e nam
parecer bem dar lhos; e do que eu tenho esprito a vos alteza que tapamdo
o mar Roxo, vos convem dar sayda has espiciaris per vrmuz, domde ave-
. rs muy gramdes dereitos, essa espiryemcia tomada a tenho j: ho ano
que o mar Roxo, foram a vrmuz sesemta naos carregadas; ho ano
aps este,.que mamdey dalboquerque ao cabo de gardafuny, e que
dese vista adem, como symtiram l naos, arribaram mais de Lta naos a
vrmuz, e os que l foram com ele todos se afirmam estarem varadas mais
de cLta naos na Ribeyra d urmuz, e ser muita imfimda h a mercadaria de
Roupa que hia e espiciaria pera adem e pera o mar Roxo, que abaieo
hum pouco nas mercadarias das presas que elctomou; aCra isto, senhor,
porque nos a imdia vee j persygir o mar Roxo, gramde soma de naos me
pedem cad ano seguros per a vrmuz: tiro, senhor, d aquy, que se vrmuz
est em voso e persigimos ho mar Roxo com muy pou( as naaos,
que s aa de fazer o moo r trato do mumdo em vrmuz, mais Rico e mais
proneit9so a voso servio do que ser neha cousa da imdia; e poder ser
que se nam vir pidir ho_ soldo da jemte has feitoryas da imdia, afora o
trato das vosas mercadarias da feitoria d urmuz e do trato dos cavalos na
imdia, que j nos outros anos pasados me tocastes em vosas cartas.
-
,

CARTAS DE AFFONSO DE ALBUQUERQUE J.\7
Assim, senhor, que a obrigaam de minhas necesydadP.s me pOs nesta
determinaam, porque via diamte dos olhos que m avia de poer em gramde
trabalho e fadiga a necesydade do.mamtimemto e soldo da jemte, e afora
isto xeq emtemder nela, e terem tomado sua carapua e maa
e pervePSa oraam, e ser Rex noredim persyo de naam, homem velho e
cobioso, e que tem filhos eomsygo, e estar ho tisouro delRey e sua fa-
zemda nas suas mos; e mirabuaqa, capitam de xeq esmaell, que est
em Rexer, Ribeira do mar da persya, comea de picar com guerra a vr-
muz; e pero d alboquerque com suas naos chegou a esta terra omde ele
estava, e tynha tomado a vrmuz vim te terradas d armada, e fez lhas tor
nar. E asy todos estes vosos capytes e jemte que de l veyo estano,
Jhes pareceo que vrmuz estava em comdiam, se lhe nam acudisemos com
tempo. E ainda, senhor, me fez mais duuida neste caso os embaxadores
de xeq esmaell, que comtynuadamente emtram na imdia a falar com os
Rex e senhores dela, e lbe trazem presemtes: prazer a noso senhor que
se acabar este feito como vos alteza deseja, e se far hua muy prouei-
tosa cousa em vosa fazemda, e terees algua cousa na imdia vosa e ase-
nhoreada per vs, que tenha nome, que tamtos anos ha que trylhamos a .
imdia sem irmos avamte senam muy pouco; e j deste feito nam pde
nacer senam todo bem, pois elRey de narsymga promete mill
pardaos polos dereitos de mill cavalos ead ano.
Hy nam ha outra carta que me vos alteza escreveo so-
bre vrmuz, senam que ela me fica por extruam e rrejimemto deste ne-
gocio ; e a casa de nosa senhora da comceiam se far na milbor mes
quyt.a e mais manifica obra que na -cidade se achar: ho embaxador nam
he sabedor de minha determinaam : as naos da imdia tomaram
pera l e licetna de levarem espiciarias; cananor l mamda tres"naos,
com a comdiam de meus seguros, que venham cos cavalos a goa, e ou-
tras d utras parLes, que arreeeam harmada de vos alteza, que se come-
am d ajumtar, e lhes parece que nam tem outra asitaam senam pera o
mar Roxo e adem, e am por segura navegaam a d e tiram laa esta
escapola muitas naos e espiciarias: o que daquy .. senhor, naeer, vosal-
teza ho s3.her em seu tempo; senam, comfio em noso senhor, que tem
cargo das vosas cousas, que em seu tempo as traga ao fim que desejaees.
Fez me lembrama na mesma carta d urmuz, que partimdo
eu da imdia, ficasem as cousas seguras e prouidas em taU maneira que
nam Recebesem nehum trabalho, que a conservaam do ganhado era mais
66
I
'

3i8 CARTAS DE AFFONSO DE ALBUQUERQUE
que ganhar outras de noYo. Digo, scnho1, que asy saa dcmtemder ese
feito, o minha partida con1 e se Resguardo h a de ser; e pera vos alteza ,r
con1o ese feito fica prouido, cochim .. cananor e calecut parece me que es-
tam dasesego e seguros con1 sna jentlc e artelharia c prouimemto de seus
n1arntin1erntos,' e os Rex da terra a voso servico c mu y man1sos, e paz en1
toda a terra do malavar, con1o mamdastes, cbos de dereitos e de vosos
tratos; nam ten1os aquy que oulha1 c dar Resguardo. senam a goa c ma-
laca. Foy prouido malaca ho ano pasado de jen1te, naos e capitam c ar-
mas, alcaide mr e como n1ais Jargame1nte ern outras cartas
dou comta a vos alteza, e at gora cn1 calma est tudo o daquelas partes
despois do desbarato d armada dos jaos, e nam ha hy, ajumtamemto em
jaoa nem em neha outra parte sobre malaca: goa nam duuido nada de
ser persyguida dos mouros, porque, tenha vos alteza por cousa mny certa,
que Rodes nam atormemta mais o turco do que goa tem feito aos mou.
ros da imdia, freo e cutelo he sobre seus pescoos; dor tem de nol a Te-
rem em poder; se algurn ajumtamen1to se ouuese de fazer na imdia .. so-
bre goa avia de ser, pera nol a tirare1n das n1os e a eles de sojeian1,
1nas eu ''ejo os mouros da in1dia estar d asesego. E crea vos alteza que
se meles podesem torvar ho camit1bo do mar Roxo, e me fazerem tornar
atrs, e nam partir da hndia, que eles o fariam, porque, asy pera seus
tratos e seita e sua casa de perdiam e sua Romaria, gramde aoute
Receberam em lhe emtrarmos o mar Roxo, e se eles deixam este ajum-
tamemto de Cazer, nam h e por ali senam porque nam podem fazer corpo
pera se defetnderem de mim que hos nam destruya, e podem se ajl}mtar
pera me fazerem entreter minha ida; tnas nehua cousa destas nam vejo
na imdia, quamto mais qne goa he gora mais forte cousa que ba na cris-
fica lhe boa jetnle, cem cavallos, gramde abastama de mamti-
memtos; fica na costa christvo de brito e o 11avio Bumy com ele, e ficam
sete galeolas de goa, e eu a balrravemto com toda artnada, omde poso
a ver Recado da imdia at fim de mayo; junho e julho podem estar sem
n1im, na fin1 tl agosto sam logo na imdia; se vem Rumis, am me d achar
na costa de div e cambaya ern corpo e jumto con1 harmada toda, e se -
nam vierem, creo que nam bulyraa neha cousa comsygo, e tudo, com
ajuda de noso senhor, estar dasesego; todavia, neste fao,
1namdarey naos sobre adem, e que venham imvernar comigo a vrmnz, e
creo que sempre faram proueito.
Toca me tambem vos alteza en1 se uan1 destroir vrmuz: nam he pa

CARTAS DE AFf4,0NSO DE ALBUQUERQUE
.
- vrmuz senam pera a comer e defemder, e esa foy sempre minha temam
. e ser. E imda, senhor, torno a dizer a \'OS o que vos esprevy o ano
que vim de rnalaea, que vrn1uz ha de ser tam gramde escapola na in1dia
que sespamtem as jemtes, A avees daver mayores de .. eitos das cspicia-
rias do que soldam avia das que hiarn a judaa, porque, como tirarmos
a navegaam dadem e jud, que com ajuda de noso senhor se
muy cedo, nam tem os mouros outra sayda que dar has espiciarias c mer ..
cadarias da imdia senam per vrmuz: pegai vos, senhor, bem com noso
senhor que acabe est.es feitos como I h ele deu os co1ncos, on o desvien1
nosos pecados por oulras partes; que a imdia, segurndo a pouca jemte
que tem, ajuda mester de noso senhor, e airnda que ha tenha, mester
ha que trabalhemos por lhe ganhar ha vomtade: esprita em cananor a
xxbij dias de novembro, amlottio da fomseqa a fez, de i514.
(Por lettra d Albuquerque) feytura e servydor de vosa alteza
Afomso d alboquerqe.
( Sobresctipto) A E li 1\ey noso senhor
1

CARTA XC
1514-Novembro 27
Senhor.-Bem he que fale a vosalteza na devasidade dos vinhos
das naaos da carga, asy dos das partes como dos vosos, porque se tenha
laa tal I maneira d aquy em diarnte, que se nam faa o que se at gora
fez: as partes a que vos alteza laa d lir.ema que tragam vinhos, a ma-
neira. que tem he esta: carregan os seus sobre ou j por derra
deiro; os capites matndamlbos dar a beber na viajem, dyzemdo que se
lhe pagarm q na imdia dos vosos, e bebem suas pipas atestadas, c
quaa pagam lhas desa maneira, e as de vos alteza chegam q meas e mui
., tas delas vazias, que se se bebesem na viajem, pela ''emtura nam a veria
hy tamta quebra neles, afora beberem o vinho das partes, que sam de
muy baixo preo, e quaa poemlhe nome dos postos e lugares domde eles
querem, e asy aos capites acho lhe suas pipas todas atestadas, e a loua
a do Tombo-C. Chroa. P. M. 18, D. ltl

..

I

350 CARTAS DE AFFONSO DE ALBUQUERQUE

das vosas naos todaa vazia; e nam abasta nam has avalyas eom
vos alteza, mas aimda querem suas pipas eh e as e dos milhores vinhos que
ha nao traz; has vezes Releva isto quynhemtos eurzados e s vezes mil I
em ha armada: as pipas, senhor, das partes deviam de vir mareadas per
vosos oficiaees c asemtads no livro d esprivam da nao cada hiia com
sua marca; na imdia seu dono, se as aehaso vazias, que vazias as levase,
e se as aehase eheas, asy lambem; esta determinaam est qu na imdia
no testen1unho do despenseiro, que por dez curzados que lhe dem de
peita, dar quynhemtos de ganho a hum homem, em quem nam esL mais
que dizer estas pipas atestadas e de hoom vynho sam as de foam ou de
foam, e asy, senhor, se'paga s vezes quaa s partes, porque dam
testemunhas de como ho hy meteram, sem virem asemtadas_ no livro do
esprivam ha emtrada na nao; a despeza, has vezes lho acho nos livros;'
has vezes est na f do eapitam que lhos mamdou beber, este feito: es-
. prila em cananor a xxbij dias de novembro de t5t4-.
(Por lettra de feytura e seruydor de vosa alteza
Afomso d alboquerque.
(Sobtescripto) A EII Rey nosso senhor t.
CARTA XCI
1514-Novembro 28

Senhor.-Natn se despachou quaa h o feito de gaspar pereira, nem
se emmendaram na imdia seus erros, pelo credito e earregos que
de vos alteza: l tnamdo o auto de suas culpas, e ele se vaa livrar
ante vos alteza, pois lhe eu quaa parecy juiz sospeito: l tenho esprito a
vos alieza o que at gora fez na imdia em dano do asesego delta e das
cousas de voso servio, cuidando que poderia danar a jemte e capites
comigo, seno ninguem poder emlen1der, porque destas manhas husava ele
no tempo do viso Rey: nam he, senhor, homem pera este carrego, .porque
nele nam ha segredo, c he cheo de mixiricos e. emburylbadas do
mundo; tinhame danado parte dos capi1es, como fez no tempo do viso
1
Torre do Tombo -<l Cbron. P. t., 16, D . 3.
/'
'
CARTAS DE AFFONSO DE ALBUQUERQUE 351
-
Rey; danou diogo pereira, que l foy, e o fez fazer a carta
men1le; danou an1tonio Reall e Louremo moreno, elRey de cochim, jorje
de mello e elRey de cananor e o mbaxador deiRey de cambaya, e ci
diale misijeiro de miliquyaz, e chegou a sua \'OZ at cidade d urmuz, que
aimda agora diziam que queriam esperar se vinha outro governador: he .
homem, se meter a mo nele, nam achat nele sustamcia pera
neha cousa senam pera danar dons arrayaes, e nisto sabe mais que to--
dolos outros homeens: ese embaxador que de cananor foy examinado, .
eU e foy o que ordio essa teya; peo a vos alteza per mercee que aja por
muito vo&o servio tirallo da imdia, porque segredo nam ouuera de fiar
delle: qeria servir seus oficios nam como oficiall, mas senhor del-
les; descobria todos vosos segredos, quamdo me queria culpar diamte
dos homeens; fazia hum rrejimento de vos alteza ha sua vomtade; fazia me
aluaraes cheos demgano, pera ver se os passava eu; he homem que tem
a comciemcia grossa, gramdisimo arrenegador, homem muy pirygoso pera
amdar ha orelha de nin'guem. .
L ver vosalteza suas cartas que m espreveo, quamdo a vos alteza
espreveo que nam qeria eu fazer seus oficios com ele; he homem des-
cortees e mal imsynado; joham de sonsa sera boa testemunha do que
mele dise peramt elle: crea vos alteza que foy espiciall merc de deus nam
querer ele ir comigo d armada, porque me danara ele quamtos capites e
jemte tinha: mamdeilhe carregar todo seu ordenado. e camara; l ades-
pache ''os e sua vida como vir que h e seu servio': estou muy
tes pera rreceber quem vos alteza mamdar, e de qem comfiar as cousas
de seu servio -e de seu segredo: por agora tenho pro\'ido pero dalpoem
dos oficios que ele trazia, prouedor de vosa fazemda, pesoa com
que descamso e de segredo e de que comfio cousas de voso servio e se,-
gredo e de minha obrygaam, e em outros. muitos carregos ho emcarrego
mevdamemte de cousas de vosa fazemda e doutras mevdezas muy muito
necesareas, porque sey que he pessoa que me nam ha d emganar: tem
ba voz na justia no despachar dos feitos e nas cousas de voso servio,
em que mevdamemte ho emcarrego, leva muy desordenado trabalho, por-
que hy nam ha ora dia em que nam aja hy que fazer nas fosas cousas.
Dei lhe com estes trabalhos coremta mil I rs. mais sobre o que tra-
zia, e os quinlaes que lhe vos alteza ordenou; e o mais que ele merece que
ho ponha de minha casa, tudo be voso, eu ho ey por muy bem empre-
gado, porqtte sey que ha de fazer com espieial cuidado as cousas

..
'

'
35! CARTAS DE AFFONSO DE ALBUQUERQUE
que lbemcomendar, e que, ha s vezes de tomar minhas culpas sobre sy,
e que me nam ha de danar os homeens: he homem com que tenho des-
pejo, e com que muito comfto: toda a mais merc que lhe vos alteza fizer,
vos beijarey as maos por ella: por nam m ousey mais d alargar
eom eU e que h o que dito tenho: fica por ouuidor o que ho era, hum ho-
mem homrrado e de bem, que se chama vasco de vilhana e tem o avito
de cbristos, homem latino e de hoom entemder e delijemte; tem xbiiJ fB
1
co oficio, eslaa ho despachar dos feitos comigo, e dom garcia meu sobri
nho, sest omde eu estou, e quallqucr cnpilam de forteleza, omde qtter
que eu istiver: se mail fizen1os o da justia, ser pelo nam enten
dermos milho r. . -
Nam se danou gaspar pereira na imdia senam porqne'ho fauor gramdc
que lhe vosalteza deu pera ele husar bem de seus carregos, e as cousas
de voso servio se .fazerem com milhor cuidado e rrecado, empregou este
fauor em suas _manhas e custumis e h usar de sua con1diam; e eu, se-
nhor, fauorecia o fi cios e o fauor e omrra <Jne de vos alteza trouxe,
por omde a vosa jemtc c asy a da terra tinha rredito nelle, em- tall ma
neira, senhor' que nunca lamou palavra pela boca que nam pegase, e
que me nam fizese muito dano e n1uito mail; e desta maneira se danon
Loureno moreno, amtonio Reall e Diogo pire ira e outros alguuns desta -
cheos de carregos de voss alteza e de favor e credito, pera com ele
se fazer milbor as cousas de \'oso servio, e eles atribuyam tudo a suas
pessoas e suas comdiees e presumes e .famtesyas, e nas cousas de
voso servio e vosa fazemda e proveyto que eles tem feito, quamdo lhe
vos alteza tomar a eomta, se ver o que acrecemtaram em vossa fazem da
com seus carregos e omrras, mercs e fauor que de vos alteza tem, e mi-
nba ajuda de fora, que numca lhe faleceo.
. Qem vos nestas partes bem ouuer de servir, o credito, omrra e fa-
uor que lhe vosalleza der, ha o dempregar nas cousas de voso servio e
proueito de vosa fazemda, pera se tudo fazer com dilijemcia e boom cuy-
dado e boon1 Recado, e saademtemder o fauor e credyto e omrra que
vosalteza d a vosos oficiaes; mas eles corrompem e danam tudo e com
\'erten o em suas fazemdas e omrras, e em suas paixes vimgativas a jus-
tia, o poder de dar os seguros, as chaves dos vosos cofres, poder de pa-
gar soldos, isemam no meneo de vosa fazem da: as pessoas a que vos al-

CARTAS DE AFFONSO DE ALBUQUERQUE 353
teu isto com poder e licema de tratarem na imd.ia, mais se
aproueitaram eles destas cousas pera se fazerem Ricos e de gl'am fazemda
que de dobrarem voso cabedall na imdia: veja vos alte.za o.s seus livro, e.
sua comta, emtam se ver se sou homem em que ha verdade., .e se em-
temdy eu bem este jogo; portam to, senhor,. oulhe bem vos altQza a quem
daees voso credito e fauor, porque eu trago qu tudo isto muy vivo diamte
dos olhos dos homeens, por homde ha muy piquenina palaura ou carta
de vos alteza que qu emtra, faz logo dar quatro voltas ha imdia, tam es- .
pertos trago os espritos dos bomeens nas cousas de voso servio; e no
acatamento e obidiemcia de vosos mandados nam sam as cousas de vosa
determinaam duras demtrar como nos tempos passados: agora,
senhor, ordenay as eousas de voso servio como vos milhor parecer, mi-
nha obrigaam he avisar vos somemte de tudo o qne e
viniemtes que as vosas cousas podem Receber, e dos e perygos quo
se dy rrecrecem, e do trabalho e fadiga que . s vezes por este rrespeito
Recebe minha pesoa e as de voso servio e fazemda e minba
gaam: esprita em cananor a nbiij dias de novembro, amtonio da fom- ,
seqa a fez, de i5ii.
(Por lettra de Albuquerque) feytura e servydor de vosa alteza
Afomw d alboquerque.
(Sobrescripto) A Ell Rey.noso senhor
1
.
CARTA XCII
1IS14-Deze!Jlbro 2.
SeDhor .. -Eu tenho tanta necesydade de meu1 parem&es vos falarem
por mim, Q Reqererem minhas eousas amte vos alteza, que sey eomo
ouso de fazer por nimguem, porm eu ey de fazer meu dever; beijarey
as maos de vos alteza rrecebermo como obra de minha obrigaam, que
neste easo tenho a minha irma e a meus sobrinhos e a meus paremtes:
o por que is lo digo a vos h e por pere aluares men cunhado, casado
com minha sobrynha, filha de minha irma, criada de vos alteza e tia se-
a Torre do Tombo,_ o. Gbron. P. t., Ma. 16, D. ti&.
\
t
..
I
..
'
\
35i CARTAS DE AFFONSO DE ALBUQUERQUE
nhora Rainha; eu fuy o que comeertey e ordeney este casamento, e .lhe
fiz dar da fazemda de minha irm e de meu cunhado dom femamdo mais
em casamento ...... do que seu movell e rraiz podia abastar, e q u ~
pere . . . .. era muy boom fidalgo e merecedor disto e . . . . . cousa mayor,
todavia se teve Respeito a ..... e omrra e credito que vosalteza tinha
de sua pessoa e o comtemtamemto de seus seruios e de sua bomdade e
ca,?alaria, e da vermos todos por muito certa sua inedrama e galardam
de seus servios, e ser elle tall pessoa e asy aceito a vosalleza e emcar-
regado por vos alteza em carregos omrrados, que nos pareceo que nam
podia deixar daver de vosalteza omrra e merc, por sabermos que era
cavaleiro, homem avisado, e que ha de dar em todo tempo e em todo feito
boa rrezam de sy, como vos alteza j dele tem tomado a espiryemcia:
agora, senhor, vejo esta qebra sua amte vosalteza durar muitos dias, em
tempo que vos alteza se serve jeraln1enle dos cavaleiros e fidalgos de voso
Reino e comquista. . . . . . . . . . .... os quaes Recebem merc, Rem das
........... segumdo cada hum faz e merece por ............ cu-
nhado pere aluares, homem desejador ............ em obras, e em dito
e em feito ser sempre seruidor de vos alteza e feitura e obra de vosas mos
apartado asy de vosa vomtade e prazer, que nam poso saber que descom-
temtamento he este que vos alteza de sua pesoa tem, que asy o temdes
lamado de voso servio; e quamto me a mim mais parecese que a cnlpa
deste feito era sua, tamto mais m de parecer e ey de crer que ele certo
o perdam e galardam de vos alteza, como vimoos per espiryemcia em ou-
tras pesoas, serem lhe seus erros perdoados e feita omrra e dado Rem da
e merc, e aceitos a vos alteza; e porque a comdiam dos portugueses he
criarnos vosalteza e nos castigar, fazer merc e nos chamar e desagra-
var, e se servir de ns, e nos tirar de nosos arrufos e errados comselhos,
como jeralmente cada dia vos alteza faz, por omde tomamos logo a pr
nosas vidas ho eutello como noso Rey e senhor verdadeiro, e cada hum
se trabalha por vos merecer . . .. devia pere aluares de ser por muitas
Rezes e. . . . . . . . huum destes; e se minha pessoa e valia amte vos ai-
........ de isto merecer, eu, senhor, vos heyjarey as maos por ele ser
chamado de vos alteza, acomselhado e rreprendido e tornado em vosa
graa e servio, porque h e homem que eu sey certo que tem vos alteza
comtemtamemto de sua pesoa e de todalas cousas homrradas que nele
ha, pera allgt1uas necesydades de voso servio que lh emcarregardes; e
esforo me, senhor, a dizer, porque sey que tem vos alteza tomado a es-
. I
.. '
'

CARTAS DE AFFONSO DE ALBUQUERQUE 355
piryemcia de sua pesoa e de seus servios, e que em todollos feitos em
que ele poser as maos, que vos ha de merecer mercee: maos
de vosa alteza lembrar se das -alemem .............. ma sobre mim
pelo falecimento .......... qua em minha companhia e ajud ....... .
. . e perder o escamdolo que de mim tem . . . . . . . . . . sem tel a pere al
uares apartado de voso ser ..... vosa corte e sua filha como da morte de
seus filhos: acabada em calecut a ij dias de dezembro de t5t4.
(Por lettra de Albuquerque) feytura e servydor de vosa alteza
Afomso d alboquerque.
( Sobrescripto) A Ell Rey nosso senhor
1

CARTA XCill
11>14-Dezembro 2
de sonsa se quis ir, ao quall eu dey alcaidaria
moo r de goa, de que ele Recebeo asaz proueito: quamdo vym do estreiw,
aeho preso de pero mazcarenhas, que era capitam; creo que hy avia al-
gua Rezam pera iso: alargou ele baleai daria, e eu provy dela a jam de
tayde: quamdo pero mazcarenhas esteve pera ir a malaca, esteve jam de
tayde pera ir com ele, e vicente d alboquerqe ficou n alcaidaria moo r:
agora quise vicemte d alboquerqe ir comigo, e eu provy d alcaydaria
mr a dom Samcho, e manoel de sousa quysera tmar halcaidaria des-
pois que dom joam ouue a capitania, e dom samcho estava j provido
dela; e manoel de sonsa me Reqereo hua nao, hy nana avia: Roguei lhe
que ficase q por estano, que eramos pouca jemte, e parece me que nam
quis pagar imdia o bemfazer que dela Recebe o em muy poucos dias:
pidio me carta pera vos alteza e eu lhe Respomdy que ha notase ele, e que
eu hasynarya; porm com tudo ele h e boom cavaleiro, e servi o bem no
cerqo de goa, merece a vos alteza toda omrra e merc que lhe fizer: es-
prita em calecut a ij dias de dezembro de t5ti.

(Por lettra de Albuquerque) feytura e servydor de vosa alteza
Afomso d alboquerque.
(Sobrescripto) A Ell Rey noso senhor'.
t Torre do Tombo-C. Chron. P. t., Ma. 17, D. t.
2
Torre do Tombo-C, Chron. P. !. Ma. 53,. Doe. 86 .

356 CARTAS DE AFFONSO DE ALBUQUERQUE
CARTA XCIV
5
Senhora.--Ha carrega ordenada de vos alteza vay nestas naos, da
milhor mercadaria que avia nas feitorias, seguindo mandado de vos alteza;
e na outra viajem pasada esprevy a vos alteza como eu tinha emjenho pera
eu feitorizar mayor fazemda, se vos alteza esforase ho cabedall: l mamdo
a vosalteza alguas cousas de qu, que me-deram, porque na minha fa-
zemda nam ha hy outro cabedall senam a delijemcia e boom cuydado
com que syrvo vosas altezas, e asy mamdo ha senhora ifamte dona isa-
bell duas meninas, e ao prncipe alguas cousas de q: tudo vay decra-
rado no Roll que vay no mao das cartas de su alteza, omde vay a decra-
taam de todalas cousas, as ques leva teixeira na nao sam\a maria
dajuda: esprita na gal gramde a b dias de dezembro de l5ii.
(Por lettra de Albuquerque) servydor de vosa alteza
. . . . boquerque.
( Sobrescripto) Aa Rainha nosa senhora '.
CARTA XCV
10
Senhor.-Per outras cartas tenho esprito a vos alteza como lois dam-
. tas e a nao sam miguell chegou imdia primeiro qoe christovo de brito,
e como mandey logo a nao e seiscentos quintaes de cobre que nela vi-
nham, e oitenta de marfim que trouue de moombiqe, a dyu, tamto
chegou sobre a barra de goa: aps isto veyo christovo de brito, e por
dar aviamento a sua fazenda, e lhe mandar entregar a nao, lhe dey ha
caravela, em que se foy a dyu em busca da nao, em que levou toda sua
I Torre do Tombo-C. Chroa. P. 1., Maq. 63, Doc.,,ts.
CARTAS DE AFFONSO DE ALBUQUERQUE 35.7
.
mereadarla e de seu: irmt), e lhe :dy 'hum pera lhe luis .
tas entregar a nao, como vos alteza ordenava e mandava: pattio
vo de' brito de dyn, e o seu pilo1o acoroou E.e tamto com a teJTa j'umto
com: ehaull, que foy dar em ha baixa, fimdo oo prumo na per
cimqo braas de notJ.te a surjir: perd se a nao e salTou se o dinheiro que
trazia de dyu; nio trazia alaqaqas nem anill nem Roupa pera ofala, por-
qu, se foram a cambaya, ouueram d achar as naos da carga; e seja isto
que digo aviso a vos alteza, qne as mercadarias que aquele ano vem des-
ses rreinos, nam podem ir a cambaya e serem vemdidas pera darem carga
s naos per dinheiro, que a voss alteza muito comvem, se qers fazer
proueito; mas es\e negocio ha mester cabedall e dinheiro d un ano per a
o outro. ;t
Salvou se cobre que aimda vynha na nao, e artelharia que ha nao
trouxe deses Reinos: pareeeme, senhor, que vos comvem fazer ha ley
sobre a pilotajetn dos pilotos e_ obrigaam deles e de seu oficio, porque
no vejo as naos vOSsas perdidas com furtuna no mar, nem per distamcia
de caminho ou emlheo de marynharia, mas parece me cousa feita acimte:
se voss alteza isto nam pe em obra, a . dardes est alada e sopirioridade
ao almiramte, e pordes ordem que se livrem por justia, pareceme,
senhor, que nam am de leixar de fazer has vezes algum dano a vosa fa-
zenda; e se neses Reynos emforcam hum homem por furtar ha mamta
d alemtejo, como se nam far justia dum piloto que ta fazem da lama
a perder .... sem guardar as comdies do mar e da marynharya e os
resguardos que os pilotos tem e am de ter em seu certo, senhor, .
que se me vos alteza pera iso der lugar, estreita oomta lh espero eu qu
de tomar. E seles que ho voso almiramte tem este poder, e
lhde ser tomada estreita comta, eles vijyarm milhor seu carrego e sua
pilotajem. porque o piloto que deu com a nao galega atravs sobre as
ilhas de quylua, dons dias avia que amdava amtr as ilhas, vemdo as nos
olhos, e cortou aquela nolite com todalas velas e cevadeira pera escoro-
der milhor a vista dos que vijyavam no castelo da proa: este que deu eoin
a nao sam miguel atravs per cimqo braas, vynha ele de noute co
prumo na mo vendo .ohauH e a jlha que est jumto com chaull; que Re-
. zam pdde este tall dar a deus e a vos alteza de tamanho mail e tamnho
dano como este? que Rezam podem dar os pylotos que partiram do monte
deely demandar os baixos de padua, navegaam de dous dias e ba noute,
e deram com duas DOS muy grar1des e muy Ricas atravs na met dos

...
J58 CARTAS DE AFFONSO DE ALBUQUERQUE
.
bais:os de padua que hyam demamdar, que he imda pior'/ met, senhor,
este feito a c3minho, e faa lhe vos alteza merc quamdo vola merecerem,
e manday os casligar por justia quamdo os taes feitos fizerem. Doe me,
senhor, no coraam e nalma a perdiam desta nao, porque estava em ca-
minho de minha partida, e deixava a na imdia pera Resguardo de muitas
cousas e se comprir o que vosalteza mandava, e asy pelo de chrislovo
de brito, ser homem casado e fydalgo, que vem ganhar sua vida nas cou-
sas de voso servio; e mais ha tan1 boa nao como aquella era, tam bem
armadae tam bem aparelhada derribala asy aquele piloto com vent popa
e mar bonana, vemdo a terra e o mar e o porto de chaull e tudo! nao e
_ naos pera o trafego de qaa, com ajuda de noso senhor, apagando a furia
destes Rumis e o asombramento deles, nam e christovam de
brito ser agasalha .(sic) e aproueitado em sua homrra o mylhor que-eu po-
dr: esprita em coehim a tO dias de dezembro de !514-.
(Por lettfa de Albuquerque) feytura e servydor de vosa alteza

Afomso d alboquerque.
(Sobrescripto) A EU Rey noso senhor
1

CARTA XCVI
1514-De.zembro 10
Senhor.-Per outras cartas' dou comla a vosalteza de como mili-
quis torvava quamto podia darem nos asem to em Dyo, e que eu desy-
mulava este feito, e sempre o obrigava com nosa amizade e co as boas
obras que tinha rrecebido de mim, e cos desejos que mostrava de servir
vos alteza: agora per derradeiro lhesprevy hua carta, que eu despachava
as naos da carga pera eses. Regnos; que lhe Rogava e pidia que me mam-
dase sua vomtade, pera a esprcver a vos alteza, porque neha cousa
fizera a vos alteza pidir asemto em dyo, senam a comfiama que vos alteza
tinha nele, e vosa fortaleza, feituria e jemte ser milhor e oulhada
dele, e outras palavras em que me alarguey mais, acusamdo o e obrigam-
do o a nosa amizade, e amor que lhe vos alteza tinha e eomfiama de seus
1
do Tombo-C. .. P. 1., lla. ,, Doe. 116.
CARTAS AFFONSO DE ALBUQUERQUE 359
servios. Respomdme esa carta que l mamdo a vosalteza, e parece me
que se agasta muito, que he synall de nos el Rey querer dar forteleza em
dyo, e eu nam duuido ser ele chamado a isto (sic) fim .
. . . . . . na carta, que lhe dey palavra das suas naos navegarem com
seu seguro; nam tem de mim mais lugar que pera zambucos pequenos
virem costa do mala v ar & a batecala com sua certidam; e no que mais
diz na carta, que lhe dise daria seguro pera balrraharaf, diz verdade,
mas logo lhe nomeey os lugares da costa d arabia, e ele pede me que posa
tnamdar adem e a jud, e acomselha me que tome toda las naos que vem
dadem e de jud: nam digo mais, senhor, neste feito, senam que .....
os olhos em miliquyaz, que ho emtemdy, e o que, senhor, vos esprevo ..
.. . . . . . . . . , ... p_orque m avees d achar muito verdadeiro, e esta he a mi-
lhor mereadaria que vos de q pde ir, falarem vos verdade: pidy anoso
senhor que me dee vyda e savde, porque compre muito a voso servio,
que segundo a comdiam e imcrinaam dos homeens a que vos alteza daa
fee, ey medo que vos faam mudar o comselbo de muitas cousas em que
vejo vos alteza estar asemtado e seguro, como mo qu mostram vosas car-
tas e Recados.
A carta .. em parse que mele mamdou, e vay hum trelado em por-
tugus co ela: foramme dadas a ix dias de dezembro em coehim; estas
leva jemes teixeira, e outro trelado vay no mao da segumda vya: esprita
em cochim a x dias de dezembro de t5l4-.
(Por leUra de Albuquerque) feytura e servydor de vosa alteza
d alboquerque.
( A Ell Rey noso senhor
1

I Torre do Tombo-C. Chron. P. t., Ma. 17, Doe. 8.
360 CARTAS DB AFFONSO DE ALBUOUEROUE

- .
CARTA xcvn
1514-Dezembro 11
Senhor.-Vy a carta que me vos alteza mamdou.sobre meus galar-
dees e satisfaam de meus seruios e outras muitas esperanas e oon.
fianas de meus trabalhos: eu, senhor, creo niso, e confio em deos e em
vosa alteza, e na justa querella que tenho pera me graade mercee.
e ma dardes honrra e nome honrrado, por algas rrezees . que aquy
apontarey a uosa alteza: a primeira, senhor, he terme vosalteza esprito,
anos ha, que me lembrase das cousas de voso estado, fama e nome, e de
vosa eonquista em tall maneira que as cousas da imdia fosem soadas e
l0t1vadas em toda parte. Comprio noso senhor vosos. e satisfez
vosa vontade, e pOs as cousas de uosa alteza na fama e nome que agora
tem: nom duvidey minha fraca pesoa polia aos trabalhos e. pirigos por
voso mandado .e rregimeoto, em companhia de vosos cavaleiros, que com
suas espadas honrrados feitos acabaram nestas partes, COIDO seu eapiWD
per voso mandado, com voso poder e autoridade: .. a ouira JTQZam,.
senhor, h e meus seruios desagalardoados de oous Rex pasados, vosos
anticeaores, os quaees me deixaram com hum paao na mao e hum pe-
dao de . teoa que comprey por meus dinheiros, os quaees seruy com
minha seruiall condiam em seruios escoymados de soas pesoas, e de
fora com todo outro Restante: a outra, senhor, he ser a imdia tam gramde
cousa e tam prineipall no mundo, que ella per sy obriga vosa alteza fa-
zerdes grande quem hasy conquistou, trilhou, e a someteo a conhecimento
de uoso poder e nome e em sojeiam: a outra he nom ser nova cousa no
mundo aos grandes principes, como vos alteza he, fazerem em seus Re-
gnos e senhorios grandes os fidalgos e caualeiros que fazem seruios asy-
nados, e pem suas vidas em piriguo por Receberem galardam e merc,
se lhe deus daa vida; e alguns desta obrigaam, carecidos de linhajem, -
lhe dam novas armas e novo linhagem. Desta obrigaam tiraram vosa al-
teza meus avoos, os quaees me leixaram boons costados e ba liaam,
pera vosa alteza armar em mim tamanho fundamemto quyserdes: a ou- .
tra, senhor, be meus <\ias e miuba gasem em JQSP

CARTAS DE AFFONSO DE ALBUQUERQUE 36t
como o mondo vee: a outra h e o primor e linpeza com que uso de voso
poder e mando, e siruo meu oficio e meu cargo: a outra, senhor, he, con-
fiando em vosos mandados e poderes vim india, e com elles me ataram
e me prenderam, e me poseram em prisees e torre de menajem, guar-
dado e vellado, e villmente arrebatado de minha casa e levado: a outra,
he a feitura da fortelleza de cochim, asemto e concerto de coul-
lam, e lyvrar hum capitam de vosa alteza das maos dei Rey de calecut;
por meu conselho provii em todo e per todo a armada de duarte pacheco,
que desbaratou o poder delRey de calecot; e levou me noso senhor a sal-
uamento diante de vosa alteza, onde achey minha fama e meu seruio
asignado e meu boom rreeado apagado diante de vosa alteza, escondido,
dado a cujo nam era, sem ser ouvido, nem ousar de rreqoerer minha
justia: prouve anoso senhor de ma dar, sem nehum provimento vmano,
como vosalteza sabe; fostes sabedor da verdade, e veo vosa alteza em
conhecimento de meu e me fezestes homrra e mercee, e me ps
vos alteza em tam gramde poder e mando que o nom tem nehum vasallo
de vosos Regnos e senhorios maior: a outra, senhor, he desarrufarse Iou-
reno de brito em purtogall custa de minha honrra: a outra he vencer
e desbaratar Rex de muita jente nestas partes, e algum poor em trabuto,
e outro lanado fra de sua terra e Regno: . a outra, senhor, h e pr vosa
gente a cavallo nas imdias, lavrar moeda em voso nome nas cabeas de
Regnos principaees, que oje estam debaixo de uoso senhorio: a outra,
senhor, h e muy gramde e muy asignado seruio que vos fao, na deter-
minaam em que me pus de acabar na ndia, esquecendo me de minha
propria -natureza, de meus parentes e e de todallas cousas que o
mundo e a carne continuadamente traz diante dos olhos- aos homens: a
' outra, senhor, he a grande confiana que esta minha determinaam daa
ao negocio da india, asento e aseseguo nos coraees dos homens duvi-
dosos no feito della, e outras muyto grandes cousas e muy proueitosas
pera qu e pera ll, de que j qu eomeamos de tomar esperiencia, de
ha pequena de fama que qu chegou dese feito: a outra he espreveruos
senpre verdade, e seruir nos neste feito fiellmente.
A outra, senhor, h e os trabalhos e perigos que minha honrra e o
galardam de meus seruios pasaram antre pesoas eheas de credito, auto-
ridade e cargos, emvejosos de meus feitos, os quaees me senpre ajudaram
eomo meus oompitidores, e vos enformavam de qu como homens dana-
tWJes de minha honrra, que foy singullar mereee de deus poder vos fazer
16
'
I

CARTAS DE AFFONSO DE ALBUQUERQUE
hum bocado de boom aeruio, cerquado de tantos ymigos, mais perigosos
que aquelles com quem temos contynua guerra per voso mandado.
Deixo, senhor, aquy d apontar os perigos comtinus da guerra e per-
calos della, minha aleijam, andar nese mar pegado em ha tavoa; e se
atrs qnisese tomar, rrevolvendo os anos pasados, que pasam de trinta e
oito que comecey' de tomar armas, senpre me acharia em todos os traba-
lhos e seruios do Rego o muy continuo em vosa cOrte: a outra, senhor,
he o estado da india e a segurana della, crear tudo pello poder de deus,
como vosa alteza pde desejar, naquelles lugares principaees e.
sos que seguram o estado da imdia, e pem vosos feitos em gram credito
e fama; e prouvese anoso senhor que o podese vos alteza ver, e a bor-
dem-das cousas o caminho que levam, pera me vos alteza fazer grande,
e ter em mtito gramde estima.
As outras cousas geeraees de merecimento 'ante vossa alteza saro
tantas que as escuso aquy d apontar a vosa alteza, porque sey que est
tudo em vosa lembrana; abasta os servios principaees e asygnados, os
quaees sam de tamanho merecimento que bem pde vosa alteza obrar em
mim obra de vosas maos e de voso poder: lenbrovos, senhor, que se fa-
zs fundamento da india, e minha pesoa acabar nella, que me devs de
fazer muito grande merc e muyJo porque, quando s vezes me
de ll no-m vir socorrido, e me vir qu em alga necesidade, posa abrir
o meu cofre, e achar nelle cinquoenta ou cem mill cruzados, com que
conseroe as cousas de uoso estado e de voso seruio e minha obrigaam;
e nom diguo isto por desejar dinheiro, mas porque he ha das cousas
que vos mais compre obrar na ndia, porque, mercs a deus e a vos alteza,
dinheiro tenho jaa, e s vezes o gasto francamenti nas cousas que acima
apomto, porque se nom pde ai fazer, e quanto mais crecer o estado da
indi, tanto mais me poer em mayor obrigaam. E pois que eu tamanho
peso e carga tomo ao meu pescoo, onde eu ponho minha vida por voso
seruio cada ora, da fazemda me quero ajudar pera este feito, quando

me conpnr.
Quanto he, senhor, ao credito, honrra, estima de minha pesoa antre
vosos capitees, caualeiros e fidalgos, gente d armas, ofeciaees, Rex e se-
nhores destas partes, de que vosa alteza aprouve de lne prover, e asy a
est corpo da india, que antre as cousas de vosos Regnos e senhorios he
a maior cousa, eu, senhor, vos beijo as mos por iso, e me fezestes muito
grande mercee, e senpre tiue confiana em noso senhor, que abreria a

CARTAS DE AFFONSO DE ALBUQUERQUE 363
carreira da verdade, e seriees em conhecimento de meus linpos sernios;
e afra o que digno, esforastes as cousas de voso seruio, posestel as em
oredito e autoridade e estima que a vosa alteza muy muyto compria, por
tall que as cousas de voso seruio nom Recebesem senpre fora: nom fez
este feito pouca mudauca nos coraees de vosas gentes e nos Rex e se-
nhores desta terra e na openiam da ndia e conseruacam do ganhado em
paz. E afra tudo isto que acima digno, nom se trabalharm os homens
tanto por. se danarem ante vosa alteza, espreuendovos de mim e das cou-
sas da india o que nom devem,. e Q que nom he.
Quanto he, senhor, ao que poso bem dar de vosa fazemda aaquellas
pesoas q ~ e por seus seruios o merecerem, beijo as maos de vosalteza
por tanta honrra e mercee como esta he; e posto que eu seja de catiua
condiam nas cousas de uosa fazemda, aas vezes comprir por voso ser-
oio darem se algas dadyvas com aquella o nesta temperana que seja
bem; e com esa fama que qu chegou, sem a eu rrevellar aa jente, lhes
pareo j agora mais fermoso, e se trabalham mais por me comprazer, e
alguns se esforam fazerem seruios asynados a uosa alteza qu nestas
partes por meu mandado, e outras branduras e masiezas que acho na
jente.
E asy, senhor, me fez vos alteza muy grande mercee nas cartas que
vos alteza de ll mandou pera prover algas pesoas de cargos,
1
0ficios e
capitanas, e eu o fiz aaquelles que me pareeeo que vos alteza e o Regno
tynha mais obrigaam d agasalhar e dar de comer, desas poucas cousas
que se acertro estarem vagas; e folgaria muito de acertar neste feito o
querer de vosa alteza: esprita em coehim a xj dias de dezembro de l5li.
(Por lettra de Albuquerque) feytura e seruydor de vosa alteza
Afomso d alboquerque.
( Sobrescripto) A El Rey noso senhor t.
t Torre do Tombo -C. Cbron. P. 1., Ma. 17, D. 11.
,
...
. .
'
36i CARTAS DE AFFONSO DE ALBUQUERQUE
CARTA XCVID
1514-Dezembro liS
Senhor.-Eu privey do oficio a garcia coelho, e o serve pero bar-
relo, e a rrezam por que, h e esta: eu vy .que nos provimentos mevdos da
casa e gastos se compravam as cousas por mais hametade do que valiam,
comprado tudo aos Regates, e os mesmos Regates eram vosos oficiaes,
que traziam arroz, trigo, salitre, cairo, ferro, lynho, mamteiga, azeite: to-
das estas cousas levavam a cochim, e o tinham em casas, e daly o mam-
davam vir ha feitoria, e semtregavam de mui boohs cruzados do voso co-
fre; asy, senhor, que todo seu trato era co a vosa feitoria: parece que
achavam aly milhor paga e mylhor despacho a suas mereadarias: mam-
dei lhe por Rejymento meu, que negoceasem ho provimento das casas de
fra em naos da terra, e que esprevesem a francisco oorvinell, e que lhe
mandaria tudo menos meyo por meyo, e que nam eomprasem a nehum
Regatam mais neha cousa.
Como me party de cochim, semdo Iopo femandez em dyo com mer-
cadaria de YOS alteza em emxobregas, garcia coelho lamou em despesa
ao feitor tres mill cruzados de compra destas cousas, fazemdo cabea e
autor desta vemda a janaluares de. caminha, eomtra meu Rejymemto e
determinaam.
Item: aBY a dous homeens que acutilaram o meirynbo, e o aleija-
ram dambalas maos, e se acolheram igreja, acheilhe pago gramde
parte de seu soldo depois d estarem na Igreja, sem do contra voso Reji-
mento, e tendo eu deixado per Rejimento ao feitor, que nam pagase soldo
a nimguem, pela desordem que nese feito achey, quamdo vym do mar
Roxo; porque aehey muy gramde dyvida de soldo a carpimteiros, cala ..
fates, ferreiros, tanoeiros e aos casados, e seus aliados e criados todo ~ u
soldo pago.
Item: achey a garcia coelho dous a n o ~ d amte mo pagos de seu
soldo, e nam me pareeeo isto bem, porque ele era ho que lamava em
despesa, e fazia toda esta desordem: Iopo femamdez nam era neste feito,
e' quamdo veo de dio guardou meu Rejimento, e nam ~ u ao feitor es-
. CARTAS DE AFFONSO DE AIJBUQUERQUE 365
tas compras em despesa: preguntey a garcia coelho se vira ele comprar
ao feitor aquelas eousas que lh ele lamava em despesa, dise me que nam,
mas que ho feitor lho disera: tomando esta comta a garcia coelho, me
dise que lhe perdase, que era homem novo, e que ho nam emtendia mi-
lhor. E achei lhe dados quatro babares de vermelham pelo preo da casa.
Acudy, senhor, a vosa fazemda e a vosas feitorias com boons ho-
meens e de boa eomciemcia e de boom saber no trato da mercadaria,
porque amda tudo muito curruto e muito danado, e tomam Rija vimgama
de seus despeitos na vosa fazemda; portamto, senhor, quamdo bulirdes
eo ordenado dum feitor, tirayo primeiro do oficio; e o m ~ i s , senhor, nam
quero dizer, nem obrar neste caso, porque sam homes de muito credito
e de que eomfiastes vosa fazemda, e eu nam ouso asy lijeiramente de me-
ter as mos neles, e mais ora estou em malaca, ora no mar Roxo, ora em
vrmuz, ora em goa, e prouejo estas cousas de tarde em tarde, que nam
poso mais fazer: esprita em eochim a xb dias de dezembro de 1514.
(Por lettra de Albuquerque) feytura e servydor de vosa alteza
Afomso d alboquerque.
(Sobrescripto) A El Rey noso senhor'
CARTA XCIX
1IS14-Dezembro 18
Senhor.-A cheguada de luys damtas aa yndia foy em muy boom
tempo, e a segunda nao que surgio na costa da yndia; e porque j em-
Iam tinha o mao da primeira via, que veyo per framcisco pereira, e sa-
bia a determinaam de vos alteza, e como a nao sam myguel vynha h or-
denada pera o trafeguo de caa, o mamdey loguo a dio vender ese cobre
que de l trazia e marfim de moambique, como j tenho dado comta per
outra a vosa alteza: chegou a di o, e eomprio o meu Regimento ynteira-
mente com todolos Resguardos que nele hiam, e miliquiaz mo espreveo
asy, louvando me muyto o boom Recado que tinha najemte e em sua nao,
a qual eu Reformey de mays gemte e artelharia, pela nova quemte que
1 Torre do Tombe-C. Chroa. P. t., M. 1-7, D. t8.
366 CARTAS DE AFFONSO DE AijBUQUERQQE

emtam avia dos Rume.s .. porque, se viesem empeear nela, que dse luys
damtas boa Razam de sy.
Nom tardou muytos dias que christovam de brito chegou, e na ver-
dade, senhor, eu quysera deixar estar a nao asy, e elle aguardar a tor-
naviajem dela, e alememtou me tamtas vezes a sua perda de suas quyn-
taladas e da venda de sua mercadaria, que socedy a seu querer, e lhe dey
ha caravela em que leTou toda sua mercadarya, e seu yrmo e elle fo-
rom em busca da nao, a qual lhe luys damtas entregou sobre dio, quasy
toda a mercadaria despachada, com todo boom Recado e provymento asy
da vosa gemte e mercadaria e mamtymemtos, que lhe muyto emcarreguey
a guarda dela: tyrou de tudo huum asynado, que l leva, e se veyo na
caravela, e me trouxe cartas de meliquaeaz ....................
nem toma . . . . . . . . ,. . . . . . . . . . . . . . em Ricas . . . . . . . . . . . . . . . .
. . . . . companha E . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . que elle veyo . . . . .
por ........ vese a vosa alteza o eomtem .......... dele ficava e de
seu boom Recado e como vos servio nesta yda de dyo, no tempo em que
os out1os fyzerom o emprego de suas fazendas sua vontade, que j,
quando veyo, a nao era quasy carregada, em que Recebeo aaz de perda,
e baratou mal sua fazenda por feitorizar bem a de vosa alteza, como fez:
feito em cochim a xbiij dias de dezembro de t5ti.
Item: senhor, vyndo elle na caravela, depois de emtregar a nao, a
topou perdida sobre chaul, e salvou dela muyta mercadalja e artelharia
e outras muytas bas diligemcias que nese feito fez, de que ele dar comta
a vosa alteza.
(Por lettra de Albuquerque) feytura e servydor de vosa alteza
Afomso dalboquerque.
(Sobrescripto) A El Rey noso senhor.
(ln dorso, por lettra coeva) d afonso d alboquerque sobre luis dantas
1


1
Torre do Tombo- C. Chron. P. 1., Ma. 17
1
D. i3,

CARTAS DE AFFONSO DE ALBUQUERQUE 367
CARTA C
11S14-Dezembro 20
Senhor.-Faley a elRey de cochim cerqua de se tomar christao,
como me vos alteza spreveo; era hi duarte barbpsa por lingoa, e pero
dalpoem e eu, e lhe toquey todalas palavras da carta e outras Razes de
meu fraco saber, aynda que nom fosem tam fumdadas como as de garcia
monyz pera tomar hum homem gemtio aa fee de noso senhor, depois de
lhe teer dito o amor e ba vomtade com que o vosa alteza chamava pera
sua salvaam, tendo lhe j feito tamta homrra e merc, e asemtado em seu
estado e defendido doutras pesoas a que o Reyno pertemcia de direito,
como elle muy bem sabia; elle me Respomdeo, que lhe parecia aquylo
cousa nova; que vosa alteza lhe sprevera per muytas vezes, e nunca lhe
em tal tocara: emtam lhe amostrey a carta de vosa alteza, e lhe dise, que
se leera elle as cartas que lhe aquele ano vieram? Respomd me que
aymda as nom tinha lydas; aps isto me dise que noso Senhor asemtara
a q ~ y esLe pedao de terra do malavar debaixo destas serras, e quysera
que todos fosem gemtios, e vivcsem por seus costumes: emtam lhe Res-
pomdi, que se aquylo era asy, quem trouvera aa terra do malavar o nome
do noso sei;Ihor ihesu christo e a sua cruz e tamtas pavoaes de chris-
tos e ygreyjas feitas como as nosas, padecendo elle por nos Reemyr e
salvar em iherusalem tam lomge da yndia? que bem sabia elle que noso
senhor por seu poder emviara sam tom apostolo e dicipulo seu a estas
partes, e convertera muytos gem"tios aa sua fee, e jazia soterrado na yn-
dia: confesoume que era verdade: faleylhe em seus custumes, em que
viviam tam cheos de erro e de vicios, asy pera a vida deste mundo e
comtemtamento dos homens como pera salvaam da alma no outro: que
bem sabia que nom avia homem malavar que soubese qual era seu filho,
nem seus filhos nom erdavam suas razemdas; que parecia mays custume
dalimarias que domens cheos de Rezam e de syso como eles eram. E
que nom tinham letras, nem fundamento, nem ley, senom que se lava-
vam como mosros; e que elle- sabia bem que ns tinhamos ley dada por
deos, falada por sua bo_ca no monte synay, que era muy perto domde

368 CARTAS DE AFFONSO 'DE ALBUQUERQUE
ns estavamos: comfesoume que era verdade, e me dise que, fazemdo
elle tal cousa, a gemte o nam poderia sofrer. Eu lhe Respondi, que m es-
pamtava delle dizer tal cousa como esa; que bem via elle que contra seus
costumes era elle Rey de cochim, e comtra seus custumes era obidicido
e temydo da gen1te, e ysto per mandado de vosa alteza, e po_r voso que-
rer estava asentado na cadeira de seu estado, obidicido e temydo dos seus
e acatado doutros muytos amygos e aliados; asy que quem duvidava,
sendo elle christao, o nam fose mais, e nam tivese mais fora, e aynda
s ~ b e n d o as gemtes que sua erama e suas terras aviain de ficar a seus
filhos? ~ ~ se lhe lembrava a elle que seu tio hia comnoseo aa ygreija,
adorava ao noso deos, tinha acatamento ao noso altar e cruz, e lbe fa-
zia sua Reverencia, estando elle hi presemte? diseme que era verdade.
Depois de pasada muyta prategua sobre este feito, conforme aa carta
de vosa alteza e a vosos desejos, elle me Respondeo, que esta eousa era
grande, e era necesario darlhe lugar que cuydase nyso, porque cousa
tam nova, que nunca fOra cometida senom agora, nom podia logo asy Ji ..
geiramente dar Razam do que faria. E mais me dise, como nom eome .
tera eu aquylo a elRey de cananor e a elRey de calecut'f eu lhe Res-
pondi, que vos alteza me mandara que a elle falase primeiro, como a pe-
soa a que tinha mays amor e afeiam, e depois a elRey de cananor, e
lhe amostrey a carta; e no cabo de nosa fala estava j mais brando hum
pouco, e Recebia mylhor algas Razes que lhe punha diamte, e a tudo
me Respondeo, que elle era seruydor de vosa alteza e feitura de vosas
mos, que esta cousa era muy grande, que era pera elle cnydar muyto
nyso; eu lhe Respondi que era muy bem.
O que me pareceo dei Rey de cochim em suas Repostas, he o que
direy a vos alteza: ele anda hum pouco picado desta paz de caleeut, moy
Receoso do outro Rey, porque ora o amyaa que se tornar ehristo, e
que lhe emtregarm o seu Reyno, outras vezes lhe diz que alargar parte
dos direitos e da terra a vosa alteza, e que lhe dar seu Reyno: pare-
ceo lhe, quando lhe isto cometi, ser cousa fundada sobre este alicece, e
posto que o eu emtendese muy bem, nom lhe quys eu tirar esa duvida,
nem lhe toquey nada nese feito, soomemte lhe dise per derradeiro, que
quando elle nom quysese ser christd, que nos deixase cryar o primcipe
antre ns, e tornar se christo, como vos alteza o desejava e queria: a tudo
me Respondeo, que queria cuydar nyso. E pois que j agora isto fica
movido per mandado de vos alteza, sempre me trabalbarey, quando o
CARTAS DE AFFONSO DE ALBUQUERQUE .369
tempo der lugar, polo mover a ese feito e asy a el Rey de cananor: pra-
zer a noso senhor que seram tocados da sua graa, e os meter em ca-
mynho de sua salvaam: estes malavares gemte sam que ligeiramente se
comvertem todos aa fee, e continuadamente se bautizam, e pesoas hom-
radas e de bem: sprita em cochim a xx de dezembro de 1514.
(Por lettra de .Albuquerque) feytura e servydor de vosa alteza
A f o m ~ o d alboquerque.
( Sobrescripto) A El Rey noso senhor
1

CARTA CI
11515-Setembro 22
Senhor.-Pelas naaos do ano pasado tenho dado Rezam a vosal-
teza da mudama de meu comselho e determinaees, as quaes me fa-
zem fazer as necesydades da imdia, e outras vezes as 11aos da carga, que
gaslano tempo da navegaam, como j per muitas vezes tenho esprito a
vos alteza; e pela vemtura quer has vezes noso senhor, que traz ho feito
da lmdia nas maos, mudar vosa determinaam em outras cousas de mais
voso servio e proveito: vy isto que digo, pela minha vimda a vrmuz,
temdo asemtado e determinado na minha vomtade emtrar outra vez ho
estreito: vemdo as necesydades do pouco mamtimemto e pouca jemte que
tinha, determiney vyr a vrmuz, como vos alteza j l tem visto per cartas
'minhas, e que crecese mais em fustalha mevda; tudo era com fumda-
memto de ha leixar em quallquer fortaleza que fizese demtro no estreito,
e asy em vrmuz, 0o;1de agora estou.
E porqe dee a vos alteza hua peqena e breve com ta dos mamti-
memtos com qe party da imdia, eram cimqo mill fardos d arroz e certas
pipas de mamteiga, hum pouco de bizcoito e bem podre, e huuns poucos
de caees de cananor, e ha ba soma de vacas de goa; a gemte seria
mill e quynhemtos purtugueses e seiscemtos mala vares archeiros, e algus
gorometes, trezemtos galeotes catiTos em duas galees e ha galeota, e co ..
remta e oito canarins, homeens cristaos novos de goa em dons bragam-
tins, Remeiros, e cimquenta malavares Remeiros dos quatro caturis. Per
'
Torre do Tombo-C. Cbron. P. 1., Ma. 17, D. 28.
i7


-
370 CARTAS DE AFFONSO DE ALBUQUERQUE
esta com ta, ajudamdo me noso senhor, podia ter mamtimemto pera dous
meses: emtramdo com este prouimemto ho estreito, pela me vira
1
em
gramde necesidade e afromta, nam tomamdo lugar em que fornecese ar-
mada de mamtimemtos; e este Reeeo me fez mudar h o comselho, como
j dito tenho, porque a vim da d urmuz debaixo de voso mamdado e Re-
jimemto est, e sem do cousa tam primcipall, nam estar j bem . atada e
segura em poder de vQs alteza, parecia mimgua gramde, pois que, graas
a qeos, com este feito acabado nam temos j outra .pemdema na imdia
senam a do mar Roxo e adem, a que ns nos achegarnos muy perto com
este feito d urmuz, que deu gramde credito e comfyama haas cousas da
imdia, afora sAgural a vos alteza dos imcomviniemtes que vos j l tenho
escrito, e o mais que vrmuz per sy pde dizer e alegar.
V rmuz nam levou h o caminho determinado per vos altez, por al-
guas rrezees, das quaes largamemte darey' per outra a vos alteza, quamdo
Respomder aos maos das naos que estano seram na imdia, e isto se as
cousas d urmuz derem lugar que eu toqe as naos amtes que se elas vam
pera eses Reinos, porque ha tam gram presa como temos nas maos,
nam h e pera alargar asy, sena primeiro segurar em tall maneira, qe nam
obrigue depois a. muito, porque .... seguro, seguras estam todallas ou-
tras . . . . . . . debaixo de seu mamdo e senhorio, e eu ereyo . . . el Rey fi-
car seguro e a cidade e todo mais .... seu senhorio e terra, ataa que as
neeesidades em ... me vejo de pouca jemte e outras cousas dem lugar
a se executar vosa determinaam: aja o vosalteza asy por muito seu ser--
vio e cousa muito proueitosa, porque craramemte, senhor, nam se po-
der mais fazer pera vrmuz tomar asemto e asesego, e a jemte e merca--
dores. conhecerem nosa justificaam e verdade, e as emtradas e saydas
das mercadarias navegarem, como agora fazem, debaixo do ~ u r o de
vos alteza e com fiama; e este asombramemto dos Rumis macharem sem-
pre em corpo jumto, ou alga necesydade que sobreviese a esoutras par-
tes da imdia, porque vrmuz nam he a forteleza de cananor e cochim, que
se ha de guardar com oitemt omeens, mas ha mester peso de jemte, e
boom comselho que a goueme e tenha a dereito, porque ela pagar todo,
e asy como obriga a muito, asy Remde muito, e he ha muy primcipall
antre todalas da imdia e muy gramde: nam he pouco, senhor, chegar-
1
Julgmos que por lapso do secretario falta a palavra ventura, devendo ler-se:
c pela ventura me vira.,
z. V -se que fal&ou a palavra conta.
CARTAS DE AFFONSO DE ALBUQUERQUE 371
-
mos ns com hum paao na mao, e dar nos vrmuz eemto e vimte mill se-
rafins em dinheiro com as pareas que nos eram devidas, e com hua
pouca de mercadaria que trouuemos da imdia, e isto sem mttita fadiga.
A sada das espiciarias d urmuz j l ho tenho escrito a vos alteza,
que he por baar, fim do mar da persia, dezaseis jornadas de damasco;
outra sayda tem pela persya e per todas esoutras terras e senhorios de
xeq esmaell at turqia; todalas espiciarias tem aquy ba valia, e a de ma-
laca tem aquy mayor que neha das outras: tome agora ..... alteza esta
brebe com ta desta materea, porque os tra ...... sam muy gramdes das
obras da fortaleza .... gocios do Rey e do Regno e doutras muitas ...
tes que sempre sobrevem.
Minha determinaam, senhor, he, se as cousas durmuz me nam obri-
gam a muito, tocar a imdia todavia, ver vosa determinaam e recado, e
ver se me mamdaees jemte e ajuda pera emtrar ho mar Roxo, e daquy
dnrmnz ha minha partida mamdar quatro ou cimqo navios sobre adem
amdar naquela travesa, e tomar esas naaos dos mouros que diamte de
mim forem e maguardarem laa: tocamdo a imdia, nam temdo fora pera
emtrar o estreito, volverey sobre estes navios com quallquer jemte e na ..
vios que macertar na imdia, e jumtos todos, virey imvernar a vrmuz,
porqe da jemte e armada parte dela ha de ficar em vrmuz.
No feito de cambaya nam he mais passado que ho qe vos alleza j
l tem visto: estou nesta amyzade simjela com elRey, tratam l as vosas
j ~ m t e s , e se lhe acho naos nos caminhos defesos per vos alteza, levo lhas
nas maos, e com este feito d urmuz prazer noso senhor que lhe nam
pydirey j forteleza em div, senam qe .me dem di v com todalas suas Rem-
das; e nam duuido daremvollo e todo mais qe lhe vos alteza pidir na Ri-
beira do maar, porque, ter vos alteza vrmuz nas maos, e estarmos no
caminho de sua navegaam pera o estreito, e avennolo sempre de fazer
comtenuadamente, nam tem cambaya nehum Remedeo senam perder se
de todo, ou se fazer tudo o qe vos alteza reqerer e pidir: alguas naaos
de cambaya partem ao presemte daquy pera a imdia, e deixam vrmuz de
feiam que daram boom desemgano a elRey de cambaya e ao perverso
de miliqueaz, qe sO capa daqela falsa e . . . . . nosa amizade qe tem com-
nosco, emcheo ..... dartelharia, e agora adem, porqe bem vem ... naos
e jemte de cambaya que ho rrey e o Reino e cidade est em poder de
vos alteza, e qe se nam ... senam o que eu mando e ordeno.
Depois da partida de meu sobrynho d urmuz me pareceo. bem prouer
"' .


1
,

3 7 ~ CARTAS DE AFFONSO DE ALBUQUERQUE
-
ofala de Roupa de seda, qe l tem valia, e asy d alga Roupa de eam-
h a y ~ e mercadarias pera laa, porqe eu sey qe os vosos feitores tem muy
pouca lembrama deste negocio, e nam por lho eu nam ter muy estreita-
mente emcarregado e mamdado, senam porqe me nam vm o Rosto se-
nam muito poucas vezes.
Mamdo daquy diog ornem, qe conhece a Roupa, com mill curzados
empregados aquy em vrmuz em Roupa de seda com seus cadilhos douro
e betas douro, como ele sabe qe tem l sayda em ofala: vay em hua nao
dei Rey d urmuz a cambaya; leva dons mill serafins pera s empregarem em
outra Roupa mais baixa; leva dinheiro pera sesemta quintaes dalaqeqa,
e vai se pera eses Reinos, porqe me pi di o licema pera iso, e leva amear-
regado toda esta mercadaria pera ofala, e a emtregar a Louremo mo-
reno, e dy a tornar a Receber, e a emtregar em moambiqe aos oficiaees.
Per dom garcia mamdey imdia cimqo mill serafins pera se com-
prarem em arroz, asy pera noso mamtimemto e prouimemto darmada,
se ouuer d emtrar h o estreito, como per a a fortaleza d urmuz: leva este
dinheiro hum irmo do feitor . . . . . emado per ele e por seu esprivam
aires de magalhees, criado de vos alteza. E quamdo de vos alteza nam
tiver ajuda pera emtrar ho estreito, emtam vir por mercadaria a vrmuz,
omde tem muy gramde valia o arroz.
Todo outro dinheiro se ha de dar em pagamemto do soldo ha jemte,
mamtimemtos e despesas das obras: no livro das vosas feitorias se ver
a Receita e despesa dele.
Depois d estar em vrmuz me vieram novas da imdia, qe todallas cou-
sas estavam asesegadas, e da vimda do capitam qe estava em malaca,
espiciarias e mercadarias que de l vieram de vos alteza e partes, e que
eram emtrados em goa de naos d urmuz setecemtos cavalos, noTas de
francisco serram, que era vivo e estava em poder das ilhas do cravo, e
gouernava o Rey e a terra toda, e qe viera ilha de bamdam falar com
os navios de vos alteza, e que se tomara outra vez a maluco: estas novas
nam mas espreveo a qem eu tinha emcarregado ho aviso deste negocio,
mas veyo per hua carta de goa a diogo fernamdez da guarda Roupa;
e depois de eu ser chegado a vrmuz, chegaram nove naos, que carrega-
ram em goa d aucares, ferro e arroz e Roupa bramca e algua espicia-
ria de vosa feitoria, afora duas qe se perderam no maar. E asy mesmo
mamdey aviso a todalas fortelezas da imdia do que era pasado em vrmuz,
per tres viaa.

,
'
CARTAS DE AFFONSO DE ALBUQUERQUE 373
Naos dadem e mercadarias de laa vieram a vrmuz, estamdo eu aqy,
e lhe dey seguro, e nam lhe fiz nehum ma11, por asesegar os mercadores
e o trato. As nova$ d adem: que se faz . . . . . . dos Rum is, a qe sempre
temos qe vem . . . . . . fazem prestes su armada: as naos qe vieram de laa,
foy na fim de mayo e emtrada de junho. .
Da ordem que Receberam as cousas d urmuz cerqa do capitam,
alcaide moor, armada, jemte e artelharia e oficiaees, nam me dam ostra-
balhos- e negocios das obras e cousas que atrs digo, lugar que cuide
niso; quamdo o fizer, ser. vos alteza diso avisado; deixo aqy
por feitor manoell da costa, feitor das presas, que j gora serve seu ofi-
cio; esprivees, manoell de syqeira criado da senhora duqesa vosa irma,
emcarregado per carta de vos alteza, e o outro, diogo damdrade criado
de vosalteza; almoxarife dos mamtimemtos e pero de tauora
que vinha por almoxarife do a]mazem de cochim, e nano quys q mei-
rynho, hum criado de dom pero, que vinha ordenado per vosalteza nos
tempos pasados; parece me hum pouco doem te pera tam gramde cidade
damdar, haa quall nam abastam cimqo meirinhos que agora trago nela:
o feitor tem de seu ordenado cem mill n., e os esprives coremta mill
.
Depois destar em vrmuz, elRey de lara me mamdou visitar e ver,
e me mamdou hum cavallo: lara est tres jornadas d urmuz, ha cidade
grande da persia e obidiemte a xeq esmaell; tenho l mamdado fernam
martins avamjelho com betilhas e outras mercadaryas de vos alteza pera
vemder, e empregar em cavalos e em quallquer outra mercadaria prouei-
tosa: aps este veyo outro misijeiro de mirabuaca, capitam do xeq es-
maell, qe est em Rexeer, Ribeira. . . . . . do mar da persya, e me roam-
dou ..... vallo e esa carta que l mamdo a vos alteza .... grandes ofe-
recimemtos pera ser em todo feito comigo qe ma mim eomprise, dizemdo
qe toda . . . ilhas dese mar da persia, lugares e portos que. . . emtregar,
pagar trebuto, e ser fiell seruidor de vos alteza: he homem muy vizinho
e muy perto d urmuz, domde vem todo trigo, e os mais cavallos qe em-
tram em vrmuz.
De babarem e catife e de baar e das ilhas do cabo do mar da per-
sia nam esprevo a vos alteza, porqe nam emtemdy aimda nas mevdezas
deste feito, somemte que babarem he mayor cousa do que homem cuida,
e que ha muitas naos nela que navegam pera a imdia, e muitos cavalos
que dy saem pera laa, e muito aljofar, leve cousa de levar nas maos e
..



37i CARTAS DE AFFONSO DE
segurar, se a noso senhor aprouuer, e o tempo der lugar: tudo senhorea
e governa esta cabea primcipall d urmuz, somemte babarem, qe, morto
cojatar e elRey ceifadym, vieram os arabigos e a tornaram a ganhar, e
botaram a jemte delRey que hy estava, fra: ha de baharen1 e eatife a
meqa xbj jornadas de camello, qe he muy piqeno caminho. E vay hum
Rio que est hum dia e meyo de caminho avamte de babarem, emtra pela
terra e vay ter a laa, terra da bamda darabia, qe vay ter mais perto de
meqa, domde saem muitos cavallos. feitura desta. he chegada hua
gram cafila d.a persia, traz muita seda e outras muitas mercadarias.
Do aljofar qe me vos alteza em carregou pera o pomtefieall de nosa
senhora, se trabalha por s a ver quamto pde.
ElRey durmuz nam ouue nada de vosalteza, somemte hua eada
douro, que teria cemto ..... ta curzados, esmaltada, e tirala do poder
de.. . . amed: h e homem mamcebo de dezoito anos . . . . . barba, nam tem
filho nem filha, nem ha hy agora .. hua pemdema na casa d urmuz se
nam do ... filhos dei Rey ceifadym seu Irmao, que matar ... e irmaozi-
nho dei Rey, filho de seo pay e d a escrava: ele me ver outra vez
a minha depois de pasado o feito de Rex amed, e me deu hum ea-
vallo selado e correjido, e hum traado e hua adaga e ha cimta, tudo
gomecido douro, e aos capitees muitas peas de brocado e de seda.
-Eu mamdey na metade da praa hum pi lourinho com su arca
forrada de chumbo por ciina, com suas pomas e grimpa oom as armas de.
vos:alteza, e com nove degraos de pedraria: aly mamdo fazer a justia, e
'31 Rey nam faz justia de nehuum homem da terra, sem mo primeiro
mamdar dizer; as cartas e rreoados de toda prte sempre m am de dar
comta de tudo: nam tem por agora. de Lrezetntos archeiros per toc.la
sua jemte, nam trazem arcos nem frechas, como sempre costumaram,
nen os am de trazer nunca na cidade.
Desta uez estaram todolos cavalos da persia na mao de vosalteza,
e os da terra d ara h ia qe saem pelos portos dei Rey d urmuz desde ca-
layate at babarem; em todolos lugares est ordenado s naos qe dos di-
tos portos sayrem com cavallos, darem fiama de cem cruzados por cada
cavallo, de os nam levarem a outro cabo senam a goa. E com este noo
me parece qe dar j gora el Rey de narsymga lxxx ' .. .... pellos derei-
tos de mill mill cavallos ..... j lhe eu emjeitey Ii
1
que m elle mamdou
t Oitenta mil.
s Sessenta
CARTAS DE AFFONSO DE ALBUQUERQUE 375
prometer a goa pelos seus embaxadores, como ..... j l esprito a vos al-
teza; e quamdo as cousas se meterem em ordem, segumdo a determina-
am de vosalteza cada lugar ter hum alcaide voso.
As cartas de xeq esmaell que vinha pera vos alteza, e asy a minha,
por minhas acupaes m esqeceram de as emtregar a meu sobrynho dom
garcia, que pera eses Reinos se vay, e agora as leva diogomem pera as
lhas ( sic) emtregar, e as levar a vos alteza: vam os trelados, tirados de
qu, quamdo l nam ouuer qeo os nam saiba tam bem emtemder.
Niculao fereira tem soldo delRey durmuz, e eu lambem lhe dou
soldo de vos alteza; fez lhe dar a el Rey d urmuz jemte da sua capitana;
dorme demtro nos paos 4elRey: tenho o aly metydo demtro pera alguuns
avisos; parece me homern desejador de servir vos alteza, e asy o far sem-
pre, e eu lhe fao toda homrra e gasalhado que posso.
Na imdia, em cochim, deixey ordenado fazerem se duas galees, hua
do tamanho da de sylvestre coro, pera eu amdar nella, e outra mais so-
menos, e outras duas em calecut, as quaes se fazem custa duns cha-
tins dy, mercadores, porque elRey de calecut apertou Rijo comigo, que
lhe dse licema pera mamdar duas naos adem estano: eu mescusey diso
por muitas vezes, dizemdolhe qe eu avia l dir, e que avia de fazer por
ese caminho samgue nos mouros e toda guerra; que pera que mamdava
ele l as suas naos 1 e mais qe era comtra noso comcerto: quamdo deter-
miney de vir a vrmuz, emtam fiz da necesidade viriude, e lhe dise qne ..
sem os mercadores delas duas galees gr ..... e que eu lhe deixaria ir as
naaos: outorgaram ... isto, o que eu nam cuidey e ficaram as quy ....
armadas j, e duarte barbosa por feitor e negoceamte delas, e hum car-
pimteiro pera as fazer com os carpimteiros da terra: se a noso senhor
aprouuer de as achar acabadas, temos tres galees grosas e hna ga- .
leota.
Eu rnamdey sylvestre coro lmdia com dom garcia pera as ter apa-
relhadas e correjidas; leva de Resguardo pera o feitor de calecul e de co-
chim dons mill serafins pera o prouimemto delas, tememdo me dos vosos
oficiaees, qe sey qe nam am d empenhar a capa por dar aviamemto ho qe
m amim comprir: silvestre coro e estes comitres e sotacomitres todos sam
pagos de seu soldo, e trago os muito mimosos; mas sylvestre coro nan os
pde sofrer com imveja, nem eles a ele: seria boom escrever lhe vos alteza
htlua. carta, Repremdemdo lhe vos alteza este feito, porque, se ele este ca-
minho leva
1
ser necesareo mamdall o pera eses Regnos, amtes que lhe



376 CARTAS DE AFFONSO DE ALBUQUERQUE
comsemtir tratar tam mail eses estramjeiros: leva tambem cuidado deva-
rar a nao belem qe q ficou, e se ir carregada pera eses Reinos.
CAPIT.EES DAS NAOS E NAVIOS DA IMDIA.
Item-dom garcia.
Item-pero d alboquerque, capitam da nao bastiaina.
Item-lopo vaaz de sampayo da nao samta cruz.
Item-vicente d alboquerque da nao em que eu ando.
Item-:-Diogo femamdez da nao frol da Rosa.
Item- . . . . silva da nao bota fogo.
Item- . . .. d amdrade da nao emxobregas.
Item- . . . te de melo da nao madanela.
Item- . . . isco femamdez do navio garca.
Item-antonio ferreira do navio samta maria dajuda.
Item-fernam gomez de lemos da nao sam tom .
Item-amtonio Raposo do navio ferros.
Item-Ruy galvam do Rosairo.
Item-Jorje de brito da nao samta ofemea.
Item-jironimo. de sonsa da gal sam vicemte.
Item -sylvestre coro da gal gramde.
Item-manoell da costa da fusta samta cruz.
Item-Pero ferreira, irmao de duarte de melo, da taforea.
Item-jam pereira de ka das caravelas que se fez em chavll.
Item-fernam de Resemde da outra que se fez em chavll ..
Item-francisco pereira, neto de frey payo, da outra que se fez em
cananor.
Item-jam gomez da qe se fez em cochim.
Item-jam de meira da outra que se fez em cochim.
Item-Nuno martins Raposo da outra qe se fez em cochim.
Item-do bragamtim sam pedro hum irmao de sylvestre coro.
'
Destes capites foy fernam gomez de lemos ao xeqesmae11, e ouue
a sua naao Ruy galvarn, e a de Ruy galvam ouue amtam nogueira, que ha
muito que ... serve, e foy cativo por voso servio em eamb .... deixou ho
navio Rumy de que era capitam, a ...... de brito na imdia .

378 CARTAS DE AFFONSO DE ALBUQUERQUE
E da Roupa qe vem de malaca de drogoarias pagam de seis hum,
e das outras cousas, asy como samdalos e outras cousas que de laa vem,
pagam de dez huum.
Dos cavalos pagam o dizimo e mais sua corretajem, quando se vem-
dem, hum serafim.
Do aljofar est arremdado, e pagam os arremdadores cemto e vimte
laeas, que sam seis mill sera6ns cad ano e mais sua corretajem.
As moedas d urmuz douro prata e cobre diogo homem as leva; e
nam lavrey moeda em nome de vos alteza, at se nam comprir vosa de-
terminaam, que, prazemdo a deos, ser da volta do estreito; e he seis
serafins, seis meyos serafins douro, seis tamgas de prata, seis adis de
prata, seis faluzis e seis dinheiros de cobre.
Com estas foras e cabeas primcipaees da imdia que vos alteza vay
ganhamdo aos mouros, esforaees muito voso feito na imdia e o segu-
raees, e cada hum per sy paga suas despesas .. e pde ajudar a outras mui-
tas; e por qu vrmuz, ela pagar as despesas que fizer, e poder dar pera
outras muitas mais de duzemtos mill serafins cad ano: e se cerra bem
a porta do estreito e adem, vos alteza aver mayores dereitos da sayda das
espieiarias e mercadarias per vrmuz, do qe o soldam avia no eairo: goa
pagar suas despesas, e aimda ajudar a outras com algtia parte de di-
nheiro: malaca ten o bem feito at gora, e acodio com muitas espiciarias
a ooehim, qne vos l sam hidas e vam, sem serem compradas do voso ca-
hedall; e sam cabeas primcipaees e chaves da imdia, lugares de fama e
qe tem nome amtre os mouros e muito istimados deles: calecut eos meyos
direitos dos seguros das naos ajudar tambem a suas despesas, e prazer
a noso senhor que, se fizermos asemto em meu porto do preste joham,
que nos ficar a pescaria do alj9far que est per hy derredor e em da-
laca e ... trato do ouro da terra de preste joham, e ponq e pouqoo s yram
alivamdo as despesas da imdia e .... outros Reinos e senhorios pela vem-
tura mais Ricos e mais proueitosos que os de l dessas .partes, e j gora
isto que digo, tem nome e corpo: .... s alteza vise a imdia, as
naos e ... ees todo o negocio da maneira que ainda a .. ado, e os derei-
tos e percalos que cadano se q daa, e a terra e jemtes que temdes ase-
nhoreado com estas tres cabeas primcipaees, que estam j em voso poder.
E se na terra firme vos alteza determina de pr as maos, ho reino
de cambaya he o primeiro em que avees de comear, asy por ser jemte
fraca, inda que seja muita, como por ser terra cha, em que ha jemte

CARTAS DE AFFONSO DE ALBUQUERQUE 379
pde trazer carretas com artelharia, muito abastada de mamtimemtos, e
o pouo de toda a terra ser toda sem armas e sem nehum aparato de
guerra, somemle_ eses tiranos que ha Lem asenhoreada, que amdam com
seus arrayaees, jemte lijeira de vemcer e de levar nas maos; mas este
feito ha de ser depois do estreyto de meqa ser bem fechado.
V rmuz ao presem te fica limpa . de todolos Rumis e turcos qe nela
estavam; e asy fiz lamar fora toda esa desordem deses mouros ujos e
maos: todo modo de tirania h e fra lamado, e se nam husar jamais:
alguas cousas a bem destas sam necessareas, asy como os dereitos de
qe vos a]teza tocou em voso Rejimemto e cartas, como doutras cousas ne-
cesreas e todo bem da terra, pera ser a mayor cousa de trato destas
partes: fars tudo em seu tempo, qe por agora nam me pareceo voso
holir com iso.
, A nosa forteleza per aqela parte e cerqo que entra nas casas dei Rey,
fica lhe o muro sobre o pouso dos ponemtes; e porqe s vezes as marees
d aguas vivas sam gramdes, e a porta primcipall da fortaleza est na
praya, fiz outra porta contra a cidade, e abry as casas velhas dei Rey, e
.fao hum caminho e servemtia per aly pera a cidade em tall maneira que,
afora a nosa forteleza, todo lamo do seu muro que eles tinham da bamda
.do ponemte, fica eomnoseo e ha porta gramde de sua servemtia que hia
pera o mar, e jnmto com a porta huas casas muy gramdes e bem obra-
das que eojatar fez, em que espero d asemtar a vosa feitria: fica por
agora de servimtia a el Rey hua porta que vay pera a cidade, e outra
qe vay pera o pouso dos levamtes: se o negocio dera lugar que ha podera
mamdar pimtada a vos alteza, estas cousas symtir doutra maneira:
meu custume nam he mamdar pimtados a vos alteza nehuns lugares, nem
feitos, senam aqueles em que nos dam muitas bombardadas, frechadas e
cutiladas, e omde sam mail tratado, por tall que me dee vos alteza fora
pera me tornar a vimgar: esprita em vrmuz a xxij dias de setembro de
t5t5.
(Por lettra de .Albuquerque) feytura e servydor de vosa alteza
Afomso d alboquerque.
( Sobrescripto) A Ell Rey noso senhor
1

Torre do Tombo-C. Chron. P. t., Ma. t8, D. tOt.

/
-

'

380
..
CARTAS DE FFONSO DE ALBUQUERQUE
CARTA Cll
.,

Senhor.-Dioguo homem seruio qu na muito tempo vosa al-
teza, e 4epois de acabar seu tempo em ofa]la veo ter a eocbim comiguo.
Eu o detiue alguns dias, por ter necesidade de sua-pesoa: elle se achou eo-
miguo no cerquo de benestery e na emtrada do mar rroxo e no poor
das escallas nos muros de hadem : em todas estas empresas deu muy ba
comta de sy, como homem de boom esforo que elle he e cavaleiro;
E tambem se achou comigo no trabalho do fazer desta fortelleza dor-
muz, onde elle per seu cabo ajudou muy bem nos dias que lhe couberam
de seu trabalho: tenhalho vosa alteza em seruio, porque he dura cousa
aos cavaleiros e fidalgos, depois de ganharem os Regnos e mor-
rerem amasados debaixo da padiolla acarretamdo pedra per as fortalezas,
como aqui aconteceo a garcia coelho, criado de uosa alteza no fazer desta
fortaleza no dia de seu trabalho: esprita em vrmuz ... , d outubro de t 5 t 5.
(Por lettra de Albuquerque) feytura e servydor de vosa alteza
Afomso dalboquerque .
(Sobrescripto) A Ell Rey noso senhor'
CARTA cm
6
Senhor.-Eu nam espreuo a vos alteza per minha mo, porque,
quando esta fao, tenho muito grande saluo, que he sinal de morrer:
eu, senhor, deixo qu ese filho per minha memoria, a que deixo toda mi-
nha fazemda, que h e asaz de pouca, mas deixo lhe a obrigaam de todos
meus seruios, que he mui grande: as cousas da india ellas falarm por
'Torre do Tombo-C. Cbron. P. I!, Ma. 19, Doe. 16.
,

,

CARTAS DE AFFONSO DE ALBUQUERQUE 381
I
mim e por elle: deixo a india com as prineipaees cabeas tomadas em
voso poder, sem nela ficar outra pendena senam cerrar se e mui bem a
porta do estreito; isto he o que me vosa alteza encomendou: eu, senhor,
vos dey sempre por comselho; pera segurar de l india, irdes uos tirando
de despesas: peo a vos alteza por mereee que se lenbre de tudo isto, e
que me faa meu filho grande, e lhe d toda satisfaam de meu semio:
todas minhas confianas pus nas mos de vos alteza e da senhora Rainha,
a elles m emoomemdo, que faam minhas cousas grandes, pois acabo em
cousas de voso seruio, e por elles vollo tenho merecido; e as minhas ten-
as, as qoaes comprey pela maior parte, como vosa alteza sabe, bei-
jar lh ey as mos polias em meu filho: esprita no mar _a bj dias dezem-
bro de 1515.
(Por lettra de Albuquerque) feytura e servydor de vosa alteza
Afomso d alboquerque.
( Sobrescripto) A Ell Rey noso senhor
1

CARTA CIV
11S1S-Dezembro 6
. .
Senbor.-Despois de me tomarem ho embaxador de preste joham
e o terem cativo em dabnll, como l tenho esprito a vos altza, determi-
ney de ir sobre dabnl e pOr lhas maos, se mo nam entregase, porque era
j conhecido e sabido por toda a costa ser embaxador do preste joham e
enviado a vos alteza; e por ter algas eousas de despachar em goa, mam-
dey garcia de sonsa diamte, e com ele pero da fomseqa, dnarte pireira
num navio e Iopo vaaz de sampayo, que se fose lamar sobre a barra de
dabull, e hy m aguardasem, e aps eles mamdey jorje da silveira, pero
d alboquerque, dom joo deaa, e asy mesmo fosem sorjir sobre a barra
de e surto garcia de sousa e esoutros navios que chegaram dyamte,
dabulllhe mamdou alguns Recados e alguns presemtes, dyzemdo que qe-
rya pazes comnosoo e pagar pareas: garcia de sonsa lhe respomdeo hG
que levava por minha estmam, em que lhe mamdey que pedise certos
' Torre do TomllO--. Gav. ti, t 7, N. 33.




382 CARTAS DE AFFONSO DE ALBUQUERQUE
homeens e cartas que me mamdava rniliquiaz, nam lhe nomeando ho em-
haxador de preste joam: nesta pratica que asy tiveram, lhe mamdaram
arrefeens, que mamdase hum bomern em terra; e eu tinha mamdado com
garcia de sousa hum homem cativo em cambaya, que me elRey de cam-
baya mamdou, e estevam de freitas, e vieram de dyv em companhia do
embaxador at chavll, como j em outras cartas tenho dado com ta; e gar-
cia de sousa mamdou ese homem, que l vay com ho emhaxador em terra,
e conheceo ho embaxador e pidio o logo ao capitam de dabull: ho capi-
tam pregumtou logo ao embaxador: que homem s tu e domde veens, que
te os cristos pedem? Resporndeo ho embaxador, nam memtregues, por-
que os cristos. nam me pedem senam per a me matar, pera mais desimu-
laam, e tinha a vera cruz soterrada e escomdida, porque todo ali lhe ti-
nham tomado.
Ho capitam de dabull ho soltou logo das prisees e o mamdou a gar-
cia de sousa, pedimdo lhe seguro: garcia de sousa lho deo ataa ver minha
determinaam, e nas pareas nam falou, nem lhas aceytou, nem lhe mam-
dou neha Reposta, porque eles fizeram _logo prestes dons turcos pera vi-
rem a goa falar nas pazes por mamdado do abayo, e tornaram todo ho
dinheiro, cartas e cousas que ho embaxador trazia, sem lhe falecer ha
agulheta: tamto que h o embaxador foy nas naos com todo seu fato asy
como ho cativaram, partio logo pero da fomseqa com ele e com os misijei-
ros do abayo caminho de goa e cartas do capitam de dabull. Recebemos
ho embaxador com persiam, e viemos at igreja com ele, .e aly prgou
hum frade prgador, e nos amostraram a vera cruz e nol a deram a beijar
a todos, e tocamos muytas Joyas nela; e acabado aquilo, fuy com ho em-
haxador sua pousada, omde ho mamdey muy bem agasalhar e servir,
e lhe dey duas espravas moas de sua terra pera servio seu e de sua mo-
lher, e lhe dey dons moos de sua terra que sabiam j falar nosa limgua-
jem, e lhe dey vestidos pera ele e pera sua molher de brocados e panos
de seda de quaa da imdia, beirames e hetilhas, e lhe mamdey dar alguns
portugueses e curzados, e porque nam eram muytos; mostrey que lhos
mamdava por mostra da moeda de vos alteza: todo o outro prazer, gasa-
lhado e hoom trato que lhe pude fazer, ho fiz, como emba:xador de tam
gram senhor: garcia de sonsa com ess capitees que com ele hy eram,
negocearam .este feito muy bem com toda desimulaam e aviso que de mim
levavam, e noso senhor, que afauorece yosas cousas em gram maneira,
lh aprouue de me fazer esta mercee, que cobrase. este homem, que tam

CARTAS DE AFFONSO DE ALBUQUERQUE 383
atroada fica a imdia com sua h ida e embaxada a vos alteza: h o mais que
pasou em seu cativeiro ele ho com tar a vos alteza.
Creo, senhor, segumdo a mesajem do abayo, que ele deseja em
gram maneira ha paz com vos alteza e estar a voso servio, e por segurar
dabull e samguiar, que j nam tem outros portos na Ribeira do mar,
todavia nos dar as terras de goa, on ao menos cem mill oras d ouro nas
milhores terras _ que goa tem: isto h e h o que me parece: estamos agora
em paz, e os mercadores da terra e mamtimemtos, mercadarias e jemte,
vay_ e vem ilha como soya; a torre de benastary est j no primeiro so-
brado, muy forte, e obra que toms fernamdez faz muy fermosa de cam-
taria e call: feita a torre, lhe faram sua barbaca de rredor, e fica lhe h o
I
poo demtro, e o paso de benastary seguro; e com ajuda de noso senhor
a mim me parece que deste feito goa tomar asemto proueitoso s cousas
de voso servio, e segurar pera sempre, porque em todas as quatro pa-
sajeens da ilha fao quatro torres, que estaram asy vejiadas por dez ho-
meens em cada ha, pera quamdo hy ouuer necesidade prem_ jemte ne-
las, aimda que me parece que nam ousarm nunca d emtrar a ilha jamais,
porque deste feito de benastary ficaram os turcos mny asomhrados; e
mais, senhor, seguro ho paso de benastary, nam entrar jemte na ilha
que se nam perca, porque nam tem lugar em que se faam fortes e por
omde metam prouimento na ilha, que lho nam tolham dous batees.
Meu sobrynho dom garcia ao p r e s e m t ~ he em cochim dargram presa
a se correjerem esa nao sam pedro e esoutros navios que m espedaaram
e desaparelharam em benastarym artelharia dos turcos, pera irmos omde
vos alteza deseja, ajudamdonos noso senhor: esp ....... xbj dias de
dezembro de i5t2.
Este embaxador que l vay, he homem avisado, irmao do patryar-
qua que os abexis tem no cairo: diz que sua molher h e paremta do preste
joham, e ese moo irmo dela.
Este moo he paremte dei Rey dabexia, e he embaxador como estou-
tro, porque he seu cryado, e este embaxador diz ele que vem com o selo
destroutro, porque h e imda moo, e que el Rey mamda este moo como
cousa de sua casa e sua feitura: ambos devem de ter ha iguall omrra
amte vos alteza, e o moo e sua molher muyto estimados por serem pa-
remtes do Rey: diz que as cartas que nam sabe em que letra vem, por-
que el Rey e seu irmo as espreveram sem lhe darem neha eomta do
. que vem nas cartas: foy cativo e ~ zeila e roubado; foy cativo em dabull.
,
384- CARTAS DE AFFONSO DE ALBUQUERQUE
Diz tambem que el Rey lhe mamdou que nam descubryse sua vinda qu
aos nosos cristaos que l estam, porque nam fose sabido sua vinda dos
mouros, polo nam torvarem ou matarem, porque, se vosalteza vise ho
que vay na imdia depois que souberam que este era embaixador do preste
joham, parecerlhia prenostica dalgila mudama gramde; tam asombrada
est a jemte da imdia: prazer anoso senhor que ser comeo da des-
truyam da casa de meqa, que ma mym parece mny piqeno feito d aca-
bar, porque h e terra muyto fraca, sem jemte d armas; os alarves vivem muy
lomje; na cidade de meqa nam ha senam jemte de comtas de rrezar na
mao, e alfenados sem neha arma: em jud a ver hy cem to e cimquenta
mamalucos que ha senhoraam e colhem eses direitos: diz que morreo l
ho valemeeano que foy de quaa da imdia, que vos alteza tomou l a mam-
dar: diseme que se fose a dacanani, que elRey me viria aly ver, tamto
deseja e precura a destruiam dos mouros, e tamto folga de ver cristos
desas partes: he homem moo, chamase davy; ha pouco que he casado,
e sua my ilena d Rezam das minas do ouro, e domde vem a uaquem,
e domde veno ouro a ofala: diz que nam emtraram jumtos os dons ho-
meens que trystam da cunha mamdou, e eu lamcey no cabo de garda-
fum; diz que joham gomez foy co mouro, e ho outro foy per sy; e asy
dizem estes dons judeos que quaa trago, que em uaquem toparam jobam
gomez co mouro.
(Por lettra de Albuquerque) feytura e servydor de vosa alteza
Afonso d alboquerque.
(Sobrescripto) A EIIRey noso senhor.
(ln dorso, por lettra coeva) dafonso dalboquerque sobre ho embai-
xador do preste Joham.
Vieram todas na nao de bernaldim freire
1

'
1
Torre do Tombo-Gav. 16, lla. 19, N.
0
23. Por cireumstaneia imprevista dei-
JOU esla car'- de ser colloead.a ea&re as de lfSii.

'
CARTAS DE AFFONSO DE AIJBUQUERQUE 385
CARTA CV

Senhor.-Vossalteza deu tam pequeno ssoldo a rruy gomaluez e
a joham fidalguo que he hua pyadade de ver, porque os gastos da imdia
sam muy grandes: sse lhe vos a alteza ordenase algiiuas quymtaladas, nam
seria' senam muyto voso sseruio, porque elles o merecem, e sam dons
homes muy necesareos pera mim e pera cousas de voso seruio, e ssam
cavaleiros e de seu oficio .muy bons oficiaes, porque eu os vy pegar a sua
jemte e as ssuas bamdeiras nos mnros de benastar)1Il e nos muros dadem,
e as ssuas escadas com as prymeiras postas no muro: vejo aos mouros
da imdia ter gramde acatamento jemte da ordenama, e parece me que
neha jemte desta terra ousar de rromper trezemtos ou quatrocemtos
omees ordenados; afra isto, senhor, eu me esforo, com ajuda de noso
senhor, se quatrocemtos ornes da ordenamca trouuer na imdia, que numqa
seja desbaratado em nehum feito; poder ser que esa jemte solta que
s vezes virm acotilados e feridos buscar a minha bandeira, mas que
meus immigos me ponham em fugida eu o do vi daria, se. quatrocemtos
homes tiuer b e ~ ordenados em campo, e que em quallquer afromta sem-
pre os ymiguos nos deixarm vir embarquar nosa vomtade.
Verdade est, senhor, que eles sam qu bem emvejados e comtra-
riados, porque os tenho eu qu naquela istima e comta que mos vossa
alteza mamdou, e os capitees. nom podem sofrer ver lhe tamta jemte de
capitana; e quamdo vem a lhe emtregarem sua jemte, que est Repar-
tida pelas naos, se!flpre vem mail tratada dos capitees, seus piques que-
brados, suas armas mail aparelhadas e ujas: agora queria ver se lhe
pudia dar naos em que trouxesem sua jemte apartada e ordenada: peo
a voss alteza por merc que afauorea de l este feito com piques e boas
armas, e alguns homees que os ajudem e amdem sua ordenama, por-
que a meu ver, se trazemos jemte em ordem e artelharia co eles, acaba-
remos s vezes onrrados feitos com pouqua jemte.
Parece me, senhor, voso seruio fazerdes lhe merc dos quintaes que
os outros capitees tem, e serem de l afauorecidos com cartas- e mercs,
i9
..

..
,

386 CARTAS DE AFFONSO DE ALBUQUERQUE
porque eu. os tenho qu em gramde istima, e ornes pera acabarem quall-
quer feito em que poserem as mos.
(Por lettra de Albuqtrerque) feytura e servydor de vosa allteza
Afomso d alboquerque.
(Sobrescripto) A El Rey noso senhor.
(ln dorso por lettra coeva) Dafonso dalboquerque-sobre Ruy gon-
alvez e joo fidalgo que diz tem pouco e que seruem muito e sam enveja-
dos de quam bem o fazem-que devem. a ver as quintaladas dos outros
capites
1
_
CARTA CVI

Senhor.-Per outra carta esprevo a vosa alteza como as naos que
hiam pera judaa e mequa .arribaram a esta costa com temporall, e asy vos
espreui os portos homde jaziam metidas, e a maneira que tine, vimdo do
mar rroxo, pera as aver; e J tenho dado conta como me emtregaram
hua no porto de damda com toda sua espeeearia e artelharia: as duas
que estavam em dabull, o abayo me espreueo sobre ellas, pedimdo me
que lhas allargasse, e posto que elle precura muito por minha amizade,
eu lho nam quis ffazer, porque me nam pareceo voso seruio: tomou me
outra vez espreuer, dizemdo que era seu, que viera costa, e em-
traram com fortuna em seu porto: eu lhe Respomdi, que se as naos vie-
ram costa, que era mui bem o que dezia, mas que emtraram seu porto
com como fazem todallas outras naos; que os direitos bem
os podya levar, se quisese, mas que as naos e especearia eram de nossos
imigos; e pois elle desejaua nossa amizade, nam devia de Receber nossos
imigos em seu porto: tornou me outra vez a espreuer sobre elles, que lhe
fizese algum partido, e entam me comcertei com os mercadores nesta ma-
neira: deram me ametade da especearia e a outra metade lhe pagase per
mereadarias; e estando asy Iopo vaz e vicente d alboquerque com elle na
bastiaina de seu primo pero d alboquerque, veyo ter com elles htlua nao
de ,magadaxo, e a nao, como os vio, emcalhou, e ouueram toda a merea-

1
Torre do Tombo-Cartas dos vice-reis da India, e&e. Mao unico, 79.
,
CARTAS DE AFFONSO DE ALBUQUERQUE 387
daria dela, porque vinha carregada de marfim e cera: llopo vaz pagou a
., outra metade da especearia aos mouros per marfim da nao que se tomou,
e feitura chega a bastiayna com parte da especearia; e a outra nao so-
bre( que estaa antonio nogueira, emtregam lhe tambem ametade da es-
peeearia, e est tomamdo carga: fiz lhe este partido, porque he porto tam-
bem do abayo: ha de batecalla m emtregaram toda; dei parte dela a
elRei de calecut, que me dise que era sua, e asy lhe dey a de mamgal-
lor, a qual especearia se veyo toda descarregar em calecut: em muita es-
tima deve vosa alteza de ter emtregarem vos as naos dos mercadores do
eairo os Reys e senhores da Imdia, que h e sinal d obidiemcia, e aimda lhe
podemos chamar sojeiam: fiz este partido nestas naos de dabull a rogo do
abayo, e porque me parece que nos ha de ffazer qualquer boom partido.
(Po.r lettra de .Albuquerque) feytura e servydor de vosa alLeza
Afomso dalboquerque'.
CARTA CVII
Carta d afonso d albuquerque, capito e guouernador da lndia
ao xeque Ismael, Rei das carapuas Roxas.
Muito grande e poderoso senhor antre os mouros xeque Ismael.
Afonso d albuquerque, capito moor e guovemador das ln dias pello mui
alto e muito poderoso Rei dom manuel, Rei de portngual e dos algnaroes
d aquem e d alem mar em africa, senhor de guinee e da comquista e da
naveguao e comercio de ethiopia, arabia, persia e da lndia e do Reino
e senhorio de hurmuz e do Reino e senhorio de guoa, vos fao saber como
guanhando eu ha cidade e Reino de guoa, achei nella vosso embaixador,
ao qual fiz muita homrra e tratei como embaixador de tam gram Rei e .
senhor, e olhei todas suas cousas, como se elle fra emviado a estas par-
tes por elRei nosso senhor: e porque eu sei certo que elRei nosso senhor
folgar de ter conhecimento, amizade e prestana comvosco_, vos emvio
este messageiro per nome femam guomez de lemos, homem fidalguo,
criado delRei nosso senhor, homem emsin;do na guerra e criado nas ar-
mas de nosso custume, o qual creo que uos dar ba Rezo de todalas
t Torre do Tombo-Cartas dos vice-reis da lndia, etc. Mao unioo, N. t86.
6.9
,
.

,
388 CARTAS DE AFFONSO DE ALBUQUERQUE
cousas da guerra da nossa vsama, das armas e caualos dos dei Rei nosso
senhor, das suas com quis tas e da terra que tem guanhada aos mouros, ..
da R_iqueza e abastana de seus Reinos, de quam poderoso he no mar e
na terra, e de suas armadas como cerquam os mares da ln dia e de costan-
tinopla e o mar mayor que confina com vossos Reinos e senhorios, onde
se sempre acharm naos do Reino de portugual, que elRei nosso senhor
l manda cad ano: bem sabeis como guanhei ha cidade e Reino de hur-
rrtuz por mandado delRei nosso senhor, e dali me trabalhei de ter co-
nhecimento de vosso estado, poder e e vos quisera mandar mes-
sageiros, se as cousas de hurmuz se nam danaram, as quaes espero em
deos que cedo tomaro assem to, porque espero de ir laa em pessoa, e dy
me trabalharei por me ver .comuosco na Ribeira do mar e portos de vos-
sos Reinos; porque o poder que. traguo de naos e gente dei Rei nosso se-
nhor he no mar pera destruir e lamr fra as naos ao soldo que na ln-
dia emtrarem e quiserem nella tomar assento; o qual feito com ajuda de
deos temos acabado, porque o seu capitam e armada foi desbaratado em
dyo, e tomaram lhe todas as naos e mataram toda sua gemte e depois na
cidade de guoa os desbaratei e lamcei fra e guanhei ha cidade e toda sua
armada, como vos dir vosso embaixador: e porque eu tenho sabido que
elle he vosso imiguo e vos faz guerra, uos mando esta noua, e vos offe-
reo contra elle minha pessoa e armada dei Rei nosso senhor pera ho aju-
dar a destryr e ser contra elle cada vez que me pera isso requererdes;
porque posto que a grandeza de vossos Reinos, Riqueza e abastana de
jente, caualos e armas tenhaes, o soldam tem ho mar Roxo desta banda
da lnda, e da banda do mar de leuante tem alexandrya e ho mar della
omde faz naos; e querendo o vs destruir per terra, podereis ter dei Rei
nosso senhor grande ajuda darmada per mar, e creo que com mui pouco
trabalho senhoreareis seu Reino e cidade do cayro e toda sua terra e se-
nhorio: e assi uos pde elRei nosso senhor dar grande ajuda per mar
contra o turco, de maneira que com muito trabalho se poderia defender, ,
e sendo conquistado dei Rei noso senhor per mar e de vs per terra com
uossa jente de cauallo e grande poder, pois confinaes com elle e tendes
guerra com suas jentes e terras: no mar da ln dia traz el Rei nosso senhor
_grandes armadas com que uos pode ajudar pello estreito de meca atee
soya ' e o toro que he mui perto do eairo: assi que amizade e prestana
t Assim est no codice donde copimos esta carta, mas entendemos que se deve
lr
. ._

CARTAS DE AFFONSO DE ALBUQUERQUE 389
de hum tam gram Rei como el Rei nosso senhor per mar e per terra deueis
de querer aver e lhe emviar nossos embaixadores, e podem per Con-
stantinopla ou per hurmuz e seram bem Recebidos; e folguar el Rei nosso
senhor de saber atee omde se estendem vossos Reinos e senhorios: e se
deos ordenar que este concerto e amizade se faa, vindo vs com nosso
poder sobre a cidade do cairo e terras do gro soldo que confinam com-
vosco, elRei nosso senhor com todo seu poder passar em Iherusalem e
lhe guanhar toda ha terra d aquella banda, e de necessidade perderaa o
soldo seu estado: comvem pera isto serem messageiros vossos com vossa
vontade e determinaam emviados do que neste neguocio quereis, e per
elles avereis Reposta delRei nosso senhor do que assi neste feito querer
fazer. E emtanto seja eu avisado do que quereis que faa, ou em que parte
pode a armada dei Rei nosso senhor arribar que faa mayor nojo e damno
aa terra do soldo t.
O Regimento que deu a fernam guomez de lemos e a gil simoens
que mandou ao xeque Ismael.
Esta he a maneira e Regimento que vs fernam guomez de lemos te-
reis em vossa ida e vinda e estando onde uos ora mando por seruio de
deos e dei Rei nosso senhor, e vs gil simes por escriuo da embaixada,
o seguimte:
Item. Vossa ida ser per qualquer modo e maneira que poderdes di-
reitamente omde stever o xeque Ismael, ao qual com toda Reuerencia e
acatamento lhe fareis aquella Reuerencia que a huum tam gram Rei he
diuida.
Chegando us a hurmuz, Requerereis coje atar
1
que vos mande dar
emcavalguaduras pera vossas pessoas e dos que uo comvosco e
ho m_ais que per minhas cartas leuais pera vossa despesa e despacho de

vossa VIaJem.
Item em vosso caminho que fizerdes, estareis sempre aa ordenana,
conselho e determinao de braim benatee seu embaixador, nam com-
prando nada sem elle e sua licena, nem o provimento pera vossas neces-
1 Bibl. Nae. de Lisboa.-Codice n.
0
6:75, de Alcobaa, foi. t70. 1'em por titulo:
Colleco de cartas e papeis curiosos, e escripto em papel com letra do fim do seco lo XVI.
2
No Codice d' onde copiamos I -se ao jeatar, o que visivelmente erro de copia.
,
I

,
390 CARTAS DE AFFONSO DE ALBUQUERQUE
sidades, nem vos apartareis delle a hir ver cidade, praas, lugoares, Ricas
festas, loiuos, nem outro caminho senam ho que elle fizer, tudo seja per
sua ordenana; porque como os mouros naturalmente dese-
jam de nos fazer todo dampno que podem.
Direis a xeque Ismael de minha parte que eu ho mando visitar pella .
grandeza de sua fama, senhorio e esforo e toda bondade e grandeza que
ha da ver em huum princepe, e porque aguasalha os christos e os homrra
e fauorece.
Item lhe direis como el Rei nosso senhor folguaria de ter conheci-
mento e amizade com elle, e que ho ajudar a guerra do soldo e
destruio sua: e que eu em seu nome e de sua parte lhe ofereo armada,
gentes e artelharia que traguo, e as fortalezes, loguares e senhorios que
tem na India.
Item sabereis dos christos daquellas partes se tem oratorio de nossa
fee e crem verdadeiramente que nosso senhor naceo de nossa senhora
maria virgem, morreo e padeceo em cruz por nos saluar e resurgyo ao
terceiro dia.
Item mais vereis se alguns destes christos, sendo deferentes alga
cousa da fee de ns, os podeis trazer comuosco ou ordenardes como vo
a Roma, ainda que melhor seria ir por via de portuguall.
Item vereis suas Igrejas, omamentos e altares dellas, imageens de
santos e se tem nosso senhor na cruz e ha imagem de nossa senhora; e
assi os .cleriguos e frades, e h o modo de seu viuer e trajos; e assi
guns corpos de samtos, martires, apostolos, se jazem seus corpos nessas
partes.
Item vos mando que leaes a meude ambos este Regimento e vos con-
forms ambos e bem assi ha limguoa, por tal que nam aja deferena nas
cousas, e quando algas cousas contardes das que vos pergumtarem, sa-
bey as dizer sem vos desdizerdes, que vos achem em toda verdade
1

1
Bibl. Nac. de Lisboa.-Citado Codice D.
0
'76, de Alcobaa, foi. t7t .
.
CARTAS DE AFFONSO DE AIJBUQUERQUE 391

Do. caminho que fizeram e ho rpte fizeram os embaixadorea
,
que foram ao xeque lsmael e o Presente que lhe leuaram.
Era de mil e quinhentos e quimze estando jaa afonso dalbuquerque
em a cidade de hurmuz, que j tornara a comquistar, e sendo Recebido
com muita cerimonia e festa huum embaixador do xeque Ismaell, que a
elle com grandes presentes emviou, mandou ao dito xeque Ismael outros
embaixadores com seus presentes, que era o dito femam guomez de lemos
e gil simes, moo da camara dei Rey, por escriuo da embaixada com ou-
tras pessoas homrradas atee xb pessoas
1
, e com seu Regimento, como
tes, em caso que elle foi feito pera outras duas pessoas, as quaes ambas
faleceram em hurmuz e por isso no se cumpryo, e foi dado .a fernam guo-
mez de lemos com a carta. que vistes; e todos em companhia de braym
benatee, capito da cidade de dragel, partiram d urmoz hum sabado tarde
cinco dias de mayo do dito anno
1
e leuaram ao xeque este presente que
se segue:
Item primeiramente dons tiros de metal com sua poluora e seus apa-
relhos, a saber, huum falco e hum bero.
Item seis espingoardas com sua poluora e aparelhos.
Item has armas bramcas do pee atee cabea com sua fralda de malha.
Item dons corpos de couraas postos em veludo cremesim com suas
escarcelas Redonda.
Item ha espada guarnecida de ouro, punho e bocal e conteira, bay-
nha de veludo preto com huns botes de fio douro e emxarrafas de Be-
troz verde e suas cintas guarnecidas douro.
Item h num punhal guarnecido douro, punho, bocal e conteira, e
anilado, com ha archama (sic) d ouro.
Item quatro beestas com seus atauios e almazem e cordas de sobre-
salemte.
Item duas lamas com aluados e contos ferradas douro abatido.
Quinze pessoas.
z Os Commentario1 de Albuquerque, assignamadata de tO de agosto det6t5(Pa,.Iv,
cap. XL, in e Correia pareee dar a entender que a par&ida foi em junho (vid.
da ]tUIUJ, tom. u, pag. ''2) .





-
39i CARTAS DE AFFONSO DE ALBUQUERQUE
Item ha carapua de veludo preto da feio das do xeque Ismael,
guarnecida douro com cento e o i tem ta e huum Robys .
. Item duas manilhas douro, ha muito grande e outra mais pequena:
a grande com hum Roby mui,to grande e seis pequenos e vinte e nona
dyames, e a pequena com huum olho de guato grande e dous Robys
meos e vinte e tres Robys peq.uenos d arredor d ella e sessenta e dons
diames pequenos com tres esmeraldas e bj pequenas
1

Item quatro anees douro anilados, os tres d elles com tres Robys
grandes em perfeiam, e outro com ha afira xxbij Robys' ao Redor.
Item ha joya de pescoo com hum Roby grande no meyo da sorte
dos anees e tres Robys meos e xx pequenos com duas turquesas e .tres
perlas da feio de perilha na joya e hua muito gramde.
Item ha pera d ambar com cem Robys e sessemta diames peque-
nos com ha cada douro d arelhana.
Item cimquo portugueses e b cruzados
3
douro, e b catolicos douro
de moeda de malaqua de mil e R R. cada huum ', e b manoees douro
da moeda de guoa de iijc R. fS
5
e b tostoens.
Item xxx quimtaees de pimenta, xx quintaes de gingiure, x quintaes
de crauo, b quintaes de canela, xx quintaes dauquar, hum quintal de
cardamomo, x quintaes d estanho, x quintaes de cobre, duas farculas
6
de
beijoy, bj peas
7
de beatilhas.
Ao domingo pella menha cheguaram ao porto de bandar, que estaa
na terra firme tres leguoas de hurmuz, omde avia hum logar de cem ve-
zinhos e sua mezquita. E ali veo ter com elles abraym bea, r.apito daquella
terra pello xeque Ismael, que lhes tinha j prestes R camelos
8
pera as
carguas, de que paguaram loguo d amte mo c. xxxb serafins e meio
9
de
hurmuz, que vai cada hum da moeda do xeque tres pes (sic) e meio por
sarafim, as quaes carguas se obriguaram os de as poer em dra-
gell, terra do dito abraym bea.
t Seis pequenas .
a Vinte e sete robins.
3 Cinco cruzados.
4 Mil e quarenta ris cada um.
s Tresentos e quarenta ris.
'
1
Parece-nos que se deveria lr farat;Olas em Jogar de (arcula1.
1
Seis peas.
Quarenta eamellos.
1
Cento e trinta e cinco xerafins e meio.

CARTAS' DE AFFONSO DE ALBUQUERQUE 3U3
Partiram de bandar a xj de mayo tarde e andaram toda noite
leguoas, e em amanhecendo se foram alojar em ha Ribeira muito
bOa e gramde sem pouoaco, ba terra e caminho.
Ao outro dia seguiram seu caminho s vezes boom, e outras mao e
sem a xb de mayo
1
chrguaram a huum l\ibeiro que nac.ia dhi mea
leguoa; e a loguares per caso das sob idas vinha aguoa per canos de pnao:
aqui avia hua casa de huum laurador, que hi uiuia com sua molher e fi.
lhos e tinha grandes lauoiras de trigno, milho e cominhos.
A xbj de mayo
1
partiram, e tendo andadas tres leguoas donde par
tiram, doas oras da noite emoontraram os frecheiros de pee que hiam em
bnsea de braym bea, os quaes lhe manrlaua mizapiabudarra, Irmo da
molher dei Rei dnrmuz, senhor de franguo longuo, porque ouvio dizer que
se juntaua 'certa jemte, irmos e parentes de certos ladres que o dito
ahraym bea mandou em forcar, pera h o irem matar ao caminho; e dali
por diamte se vigiaram mui bem e seguiram seu caminho per amtre ser-
ras estreito e aspero Cl)m temor de ladres, ()Ue sam ali muitos: e saydos
das serras emtraram em hum campo grande onde avia huum Rio de moen-
. das, e loguo dhy ha leguoa ha aldea de L ta vezinhos
3
de muitas lanou-
ras de triguo, ceuada e milho e ortas com muitas aruores de fruto.
Partiram dali, e foram ter a outro luguar grande, onde o senhor delle
per nome mirgeladim lhes fez muita homrra, e os aguasalhou e deu de
comer e mantimento pera dons dias: ser homem de lx anos
4
bem des-
posto, tem tres filhos homens; e o luguar ha nome taurom, cerqnado de
muro com seus cu belos e eaua; dentro da cerqua averaa iijc vezinhos
1
e
de fra ijc: as casas de taipa e adobes e terradas; aguoa lhe vai de lomge
per canos; luguar vioso de muito po e fruitas, ortas, vifJhas e tamaras e
moitas moendas debaixo do cho por caso das aguoas que nam tem queda.
Ao sabado xix dias de mayo partiram de iaurom seguindo seu ca-
minho: ao dominguo chegnaram a porco, logoar de braym bea, e
apousentados em hum seu laramjal grande que tinha duas borrachas de
casas e ha grande vinha e tamaras e outras frutas e grande criao de
canal os e guado; ser de R. ta nezinhos
8
, e derredor deste muitos lo guares
a Quinze de maio.
1
Dezeseis de naaio.
1
Cineoenta vizinhos.
Sessenta annos.
Tresea10s vizhihos, e de fra duaentos.
vizinhos.

.
.
394 CARTAS DE AFFONSO DE AIJBUQUERQUE
seus mayores que este: ali estiueram atee a tera feira que partiram e
cheguaram a outro loguar de braym bea de iijc vezinhos
1
com muitas al-
das darredor e gente de pee e de caualo,. que os vieram receber atee ij
de caualo t que trazia comsiguo: dali foram a hum loguar tambem seu,
muit perto de mil e quinhentos vezinhos pouco mais ou menos, e foi jaa
muito grande: diz que Render com suas terras cem mil cruzados, a me-
tade pera elle, a outra pera o xeque Ismael; terra muito singular de grande
criao e pomares: nelle estiueram per dias, porque adoeceo o embai-
xador.
A b de Junho
3
partiram e foram dorn;1ir duas leguoas dhy, e ao ou-
tro dia amdaram oito leguoas e ao outro amdaram seis, e cheguaram a
hum luguar grande per nome paa, de muitas sementeiras; e seguindo
seu caminho per estes luguares cheguaram a hum campo de hum Rio
d aguoa salguada, omde estaua a de braym bea: o Rio era de duas
leguoas em larguo: a molher do braym bea os Recebeo mui bem: aqui
estiueram alguuns dias em tendas e lhes morreo hum christo de febres,
e eram sessenta e duas tendas do dito braym: neste campo os
caualos do xeque Ismael s poder de braym em guarda; de noite paeiam
e os recolhiam aas tendas: aqui expedio o nosso. embaixador os camellos
e tomaram outros
4

' TreaeDtos vizinhos.
2 Duzentos de eavallo.

3
O b, significando U, e o algarisn1o 6 confundem-se muitas vezes de tal modo que
quasi impossivel distinguil-os; foi o que nos suceedeu no presente caso. Decidimo-nos
eomludo pelo b, is'o , U, por vermos n'este diario usada unicamente a numerqo ro-
mano-lusi&ana.
4 Depois d'este I acham-se pela mesma tinta e IPttra as duas seguin&es D-has que
esto riscadas: cNam se achou escrito maia desta viajem e Recado omdeo aobredi&o es-
taua e por isso se nam escreueo mais.- Biblio&heca Nacional de Lisboa, citado Co-
diee de Alcobaa n. 4.76., foi. 171 v.
.
CARTAS DE AFFONSO DE ALBUQUERQUE 395
CARTA CVill
Carta dafonso dalbuquerque guovernado1 da India a duarte gualuo.
Em tempo estamos que por nossos pecados Reina mais a imTeja
amtre os portugueses e desejos de destroirmos huns aos outros e damni-
ficarmos e Roermos as homrras alheas, que obrarmos neste feito ho que
nossos a voos sempre fizeram: sohya nos tempos passados antre os portu-
gueses de serem louuados diamte da pessoa de nosso Rey os seruios e
feitos homrrados que lhe os caualeiros faziam, e nam lhe estranhauam nem
lhe hiam mo, querendo lhe elle agualarduar os grandes feitos que os
homens cometiam, e punham sua vida a todo periguo por acrecentamento
e estima de sua pessoa e fama; e como a ~ u o r a fazem, nam creo eu que o
conde nunalurez neste tempo posera sua casa no estado em que ha elle
leixou, nem consentira a emveja dos portugueses comearse nelle nouo
linhagem, por mais honrrados feitos que acabara: e portam to, senhor, nam
m espanto aver muitos juyzos e dizeres que a lndia era j perdida, por-
que a estes taes nam lhe minguariam Rezes afiguradas pera isso poder
ser: e o que me v. m. escreue em sua carta, dezer sempre a elRei ho con-
trairo e vol o parecer assi, a vendo as cousas de qu por fra do nosso po-
der e saber, e poder da mo de deus mais que nossas, digno, senhor, que
nam tenho eu o mundo portam perdido que ainda hi nam aja hum justo,
pera que nos nosso senhor perdoe; nem falecer sempre a el Rei ha ver-
tuosa pessoa darredor de si, como us, senhor, sois, que lhe fale verdade e
lhe ajude a soster ha opinio dos bons caualeiros que ho desejam seruir;
os vertuosos homens e zelosos de todo bem d lhes deos esprito de
profecia pera saberem verdadeiramente os casos aquecidos; porque as
cousas da India, como vs, senhor, dizeis, sam das mos de deos diuinal-
mente achadas e diuinalmente sostidas, e a mim, senhor, mo parece mais
verdadeiramente, pello que tenho passado e visto, de que s vezes Recebo
huum pouco de guosto pera minha conciencea e pera conforto de meus
trabalhos, e se isto nam fora, dias ha que leixara ha barca e as Redes: e
r.;o

.
:-
396 CARTAS DE AFFONSO DE ALBUQUERQUE
por isso, senhor, leuo grande_ guosto em ver vossas cartas; folguo muito
de as ver e aas vezeslamo me duzia de lagrimas com ellas: de minha
ida a malaca vos quero, senhor, dar ha pequena de conta, pera qu ve
jaes mais craro como nosso senhor traz ho neguocio da India na mo,
como diz a vossa carta: sendo me mandado per elRey nosso senhor mui-
tas vezes, que todauia com sua armada entrasse ho mar Roxo, acabando
o feito de guoa e me fazer forte, em poucos dias com ajuda de nosso se-
nkor deixei aquella jente que me bem pareceo e grande e abastana
de mantirnentos e artelharia, da que tomamos aos mouros, como da
nossa quanta foi necessaria. Recolhido aas naos e posto em mar diante
da barra de guoa com todolos capites e jente, me mandou dizer o feitor
que os mantimentos eram muit95, se .paguara por elles h.o jomal aos tra
balhadores por se nom damnarem? eu lhe Respondy que esse era o abas-
tamento da fortaleza ho que se lamaua a lomje, defendendo lhe que em
nenha maneira nam paguasse aa jente o jornall per mantimentos: noti-
aos capites o dia da minha partida, no qualleuamos nossas amco-
ras e nos fizemos uella caminho do estreito de meca, leixando provido
as fortalezas segundo a determinao dei Rei e com n1ais Resguardo: per
espao de oito dias que co1neti ho mar Je ha uolta na outra, nunca pude
dobrar os baixos de padua; e por ser hum pouco tarde, os ventos nam
de.-am lugar a meu can1inbo, tendo manJado dioguo fernandez da guarda
Roupa cotn Ires naos diante de mim que derribasse ha fortaleza de a-
matra e me aguarllasse atee certo tempo: ali nosso senhor, em cujas mos
estaa o neguocio da India, como vs, senhor, dizeis, volueo nosso caminho
e nossa naueguao ao feito de malaca: dali tomei arribar sobre guoa e
deixei nella mais naos e jenws, e fui a cananor e deixei lhe mais jente, e
fui a cochim e deixei lhe naos e jemte, a principal e as melhores nos, man-
dando me elRei em seu Regimento que, naueguando aos loguares que me
tinha mandado, deixasse dous ou tres nauios em guarda da costa, que por
Rezam poderia nelles ficar cento e cincoenta homens; e eu leixei mil e
duzentos homens e dezoito velas, a saber, em cochim h o cirne e a nao
san1 thom que se hi fez, e quatro navios; em guoa a lionarda, a Ramessa ,
o nauio sancto esprito, o Rei pequeno, hum nauio dos de guoa, ha nao
nooa de guoa que ticaua em duzentos tonees, tres
gualeotas, e dioguo fernandez da guarda Roupa com o Rei grande e ha

t Assim ut no Codice, mas deve ler-se s..,..
CARTAS DE AFFONSO DE ALBUQUERQUE 397
. nao nona das de guoa e o nauio sam christouo, as fortalezas com muito
mantimento e bons eabedaes de presas de mouros.
Fiz meu caminho via de malaca, pois a nosso senhor aprazia, e da
armad:l da lndia leuei soomente frol de la mar em que hia minha pessoa,
e a taforea e as naos dos mercadores, e ha nao emxobreguas que era de
cargua, e quatro naos nonas das de guoa: eramos por todos setecentos
homens brancos e trezentos malauares; toda a outra jente e capites fi-
caram na lndia: per esta conta, senhor, que vos eu dou verdadeiramente,
deixei eu ha lndia, nam como me el Rei mandaua, mas como homem que
avia de dar Rezo della neste mundo e no outro, em tal maneira que pe-
riguando minha pessoa ou a armada que leuaua, ficaua a India pera dar
de si Rezo aos imiguos ~ pera aguardar quatro anos por outro guover-
nador: em tal maneira ficou ho neguocio prouido e fornecido de jente e
naos e bas torres de menagem nas fortalezas, que achei eu assessegua-
dos os mouros da lndia quando a ella tomei de malaea, e muito desasses-
seguo nos portugueses.
Esta mesma maneira tiue com a eonseruao de malaea: deixei to-
dalas nos nouas d armada e toda a gente que tinha nella, e vim me ca-
minho da lndia na frol de la mar, nao podre que ha hum balamo que to-
mou, arrancou ha cinta do costado e tauoas eom as .cadas da enxarcea,
de podre e velha, e fui me apousentar na Ilha de amatra, onde a nosso
senhor aprouve de me liurar por seu diuinal juizo: este Resguardo que
dei a malaca, olhando mais a minha obriguao que a minha propria pes-
soa e vida, leixando lhe todas as naos nonas e toda 'a jente ba que tra-
zia eommiguo, aprouve a nosso senhor de os ajudar, e desbarataram mui
grande e mui poderosa armada dos Jaos, jente esforada e de mui bas
armas, e lanaram fora da lerra huum Jao aleuantado contra ns: aguora,
senhor, pergunto eu aos pronosticadores, que desprouimento acharam elles
de meu saber ou de minhas foras, pera dizerem que era a ln dia perdida?
nam sam eu homem tam esquecido e desprouido de minha obriguao, que
htla tam grande cousa, como he a India, ponha em condio; minha pes-
&oa pde ser, a qual falecendo em seruio de deos e delRei, nam me fa-
lecer o paraiso, e a clRei nam lhe falecer homem que ha saiba melhor
guovernar que eu: dou vos, senhor, esta Rezo de conta, atee que me nosso
senhor l Iene a dar conta com entregua verdadeira.
Ao que v. m. diz em vossa carta sobre a destroyam de meca, fim e
acabamento da seita de Mafam.ede, discordia e diuisam amtre os mouros
398 CARTAS DE AFFONSO DE ALBUQUERQUE
sobre ha opinio de suas seitas, muito mais craro he esse feito qu na
India, e mais tomado s mos do que l pode parecer; porque em muitas
partes, afora turquia, ha hi essa deferena e desconcerto antre os mouros
qu na lndia; porque na terra do xeque dadem, a principal cidade e terra,
que se chama boto, desta seita, tendo a guanhada o pai deste xeque, aguora
e dentro na cidade ho mataram os mouros d ella, nam podendo sofrer se-
rem guovemados por mouros de contraira opinio da sua; depois por es-
pao de muitos anos ha tornou este a guanhar e ha tem sobjuguada por
fora; e na India pouoaes ha hi desta opinio e jentes da mesma seita.
O ano passado foram emtrados dons do xeque Ismael
na India: hum no Reino de cambaya e outro no Reino de daquem, com
cento emcavalguaduras cada hum, vestidos de sedas e brocados, espadas
guarnecidas de prata e ouro, e muitas azemalas, suas tendas antretalha-
das e muito e prata do seruio de sua mesa: as estoreas de suas
embaixadas foram que Recebessem sua carapua e liuro de sua orao:
foram bem Recebidos e mal despachados: o que veo ao Reino de daquem
me mandou visitar e trazer panos de seda e de brocado: nam me achou
' hi, por ser j partido caminho do mar Roxo, e leixou hi ho presente que
pera mim trazia: o que achei em guoa d elle, era que o xeque Ismael fOra
certificado como lhe eu emviara messegeiros e Recado e foram tomados
em V rmuz, o qual aguora nouamente Recebeo ha carapua e seita do xe-
que lsmaell, e pesa me a mim mui bem, porque Vrmuz, se cayr nas suas
mos, ser trabalhoso de guanhar, e eu nam queria ver na lndia metido
huum tam grande senhor, ainda que fosse nosso amiguo.
Quanto he, senhor, ao feito de meca e de suas foras e poder do preste
I o ho e do mar Roxo, posto que nestas cartas dei Rei nosso senhor lhe
dei largua conta, alga Rezam uos darei disso, como quem de l vem:
meca he destroyda sem contradio, assi por ser terra esterill e sem man-
timentos e todo seu prouimento ser pello mar, como por o senhor de lia, que
se chama xarife parcate, ser homem de pouca jente, alarues nuus e sem
armas, e fora nam tem mais que atee trezentos de cauallo, escrauos seus:
como vem a do cairo, fogem loguo pera esses alarues que andam
nesses areaes, porque ho medo d alga gente de caualo que hi vem do
soldam, pello leu!lrem j preso ha vez ao eairo: nam foi poderoso pera
Resistir cafila d alarues que veo Roubar ha casa de meca pouco tempo
ha: outro xarife jaz nesla terra da banda de meea contra adem, que se
chama xarife de guizee, hum loguar porto que estaa na Ribeira do mar
CARTAS AFFONSO DE AI..BUQUERQUE 399
Roxo perto de camaro; ser homem de seiscentos caualos; jaz ao
lomguo da Ribeira do mar Roxo atee adem
1
, o quall he homem de j h c atee
fbje caualos' nam mais.
Item. Fronteira de jud e meca e desta tena jaz a terra do preste
Joho, trauesa e naueguao de dous dias e ha noite por amor dalguns
baixos, llhas e Resguardos: esta terra se chama arquiquo, a costa da Ri-
beira do mar mau, que na vossa carta diz que he ha Ilha senhoreada
de mouros, loguar pequeno e de mui bas casas; estaa tam peguatla na
terra firme que se ouve huum homem a outro de ha banda a outra: o
porto que estaa na terra firme chamasse dacamau (sic): as naos da lndia 'o
com especiarias e mercadorias a esta Ilha de mau; ali Resguatam ouro,
marfim, cera e outras mercadorias da terra do preste lobo e mantimen-
tos: ao longo o da Ribeira do mar atee uaquem, Ilha e bom porto que vs
nomeaes em vossa carta, he terra do preste lobo: jazem alguns mouros
sobjeitos seus ao longuo da Ribeira do mar, pouca jente; junto com a Dha
de mau estaa a Ilha delaca senhoreada de mouros ; he da terra firme
como d almada a lixba: d arredor desta llha pescam h o aljofar em grande
quantidade: estam aa obediencia do xeque d adem: mau e dalaqua tem
xeque por si, o qual se fez tributario do xeque d adem, por lhe dar ajuda
para botar fra outro qoe eu achei na. Ilha de camaro, ho qual trazia
pera mandar a el Rei; era ba pessoa d homem e ba presena; faleceo me
no caminho da lndia; ficou hum seu sobrinho que l mando a elRey.
Estando na Dha de camaro, guastados j os tempos dos leuanles,
aperfiei duas vezes pera hir avamte e pus me quatro dias da naueguao;
desejando ho caminho, aperfiei per duas vezes .e os tempos contrairos ho
nam consentiram: estando assi surto. nesse mar, nos apareceo hum sinal
no ceo contra a terra do preste htla grande cruz e muito erara. e
muito bem feita e muito Resprandeeente: vi ha nuvem sobre ella e aehe-
goandose, partioha em partes e nam ha cobrio: esteue assi por hum bom
espao no ceo, adorada e vista de muitos, e alguns com deuao lanaram
mui\88 lagrimas, mostrando nos nosso senhor aquelle sinal pera aqueDa
parte do preste Joo omde se avia por mais seruido de ns; e como ho-
mens de pouca fee nam ousamos de cometer aquelle caminho; e porque,
-
t Parece-nos adulterada esta passagem, e que em Jogar de catee adem se deve-
ria ler O xeque de adem, leitura a que nos auetorisa a eompafltio COIQ ou&roaJ.osares
das cartas de Albuquerque, em que se falia do mar
2
Mil e quinhentos al mil e seiscentos cavallos. . ....

.,


I
t.M CARTAS DE !FFONSO DE ALBUQUERQUE
ainda que os ventos fossem eontrairos, era tam perto qoe de ha volta a
outra me parece que Coramos laa, mandei amtonio goomez na carauela e
cheguou a dalaca e veo a terra, tendo determinado de mandar Rui guat- ,
no com alguns nauios do preste Joho; vio amdar barcos pescando, ali
falou com os da Ilha de dalaca, que j sabiam parte dias auia.
O preste lobo chamasse elayre., que he nome de emperador; o seu
nome, dauid Rei de Israel; tem rnuita jente de caoalo e muitos alifantes:
estendesse seu senhorio contra ofala e contra as costas de maguadaxo
e mombaa. e melinde, e destoutra banda confina com nuba, a que ns
chamamos ethiopia, e vai l ter contra manicomguo e contra aquelle mar
da banda da terra: tem sen1 conto jemte, eaualos e alifantes; sua morada
mais continua he dez ou doze jornadas do mar Roxo: quer muito grande
mal aos mouros, deseja muito nosso conhecimento e- amizade e muito mais
passar casa de meca e destroyla: sua terra carece de madeira e nam ha
h i naos nem maneira de as fazer; se liuera embarcao pera sua embarca-
o, tudo fora seu: os mouros tem por profecia que elle ha de dar de co-
mer aos alifantes e aos seus caualos da casa
1
de meca, e que per meyos
delle ha de vyr sua destroyo e nossa ajoda, e foi mui grande aoute
pera elles a emtrada do mar Roxo: nom fiz fortaleza em camaro, pare-
. eendo me bem por algas R e zOOs que sam larguas de contar, e fizerg, em
mau e despejar de mouros pella ajuda do preste lobo e por termos as
costas nelle, atee irmos criaudo mais foras e segurar nosso feito; e 18m-
bem assenhoreara com este assento ha Dha de dalaea, que estaa loguo
ahi a pescaria do aljQfar, e as naos dei Rei nossos senhor viro loguo ali
eom especiarias, e lanaremos loguo mo do ouro do trato do preste lobo,
que he mui gram soma, porque se guasta na terra firme muita pimenta;
e ds da boca do mar Roxo ao lomguo da Ribeira do mar atee uaqoem
he todo terra do preste lobo. -
O mar Roxo chamam lhe os mouros nesta terra mar emarrado per
sua linguoa, e ns chaman1os lhe ho mar Roxo, porque o Reuoloimento
dos mares
1
faz has manchas vermelhas n aguoa, e sae pella boca do
estreito em bfta espadana d aguoa tam vermelha como samgue. quando
vem a Jusante, e quando toma a montante perlomgua per esse mar
adeante per longo o espao de vista assi vermelho: no mar Roxo nam ha
lln&eDdemos que 1e deve ler eGO,.,,,,.
t 'isivelmt-nte erro, deve lerae cu Ua.
3
Dos mares, ou tltu flttJrl'
CARTAS DE AFFONSO DE ALBUQUERQUE 40t
hi corso daguoa; ha hi montante e jusante, ho mar aparcelado, depori
cos ventos.
Zeilo
1
he luguar de mouros fra da boca do mar Roxo; l mandei
vosso filho, fez hum feito mui homrrado, meteo muitas naos no fundo e
mui grandes,. e queimou muitas, e descobri o mui bem ho porto: he mui
bom caualeiro e por tal ho deue ter elRei, e foi elle com os primeiros
que subiram uo mu_ro d adem e no feito de benascary' e ousadamente ho
fez, em ambos os lu guares foi ferido: h e grande guastador e prodiguo, e
cheo de ajuntar a ssi homens tranessos e guastar com elles ho que tem;
s vezes ho Reprendo pello -vosso: como tomar assento de homem, leixaraa
essas cousas e ficar muito homrada pessoa: leixay o assy andar curando
ao aar.
A determinao, senhor, em que fico: eu m ho melhor que
posso, pera emtrar ho mar Roxo, ainda que o feito do mar Roxo, pera se
fazer fundamento d asemto l, ha mester proposito, e n6s nam temos qu
os almazens dei Rei: a fortaleza nam se faz com as armas ao pescoo e.
com huum alforge e hum pouco darroz nelle, e mais cm talluguar: de
nos ajuntarmos com o preste Joho nam tenhaes nisso nenlriia duu1da, por-
que vinte dias estamos de naueguao de sua terra e de seus portos, e elle
deseja muito de nos ver: a destroyo da casa de meca por leu e feito h o
hei, com ajuda da paixo de senhor; hum dia de can1inho estaa de
J udaa; todo provimento lhe vem de barbora e zeilo
3
e d aquella costa da
terra do xeque d adem.
Judaa pequena cousa he, fraca e Jeue de leuar nas mos com pouca
jente: o que me deste feito de rneca parece h e que, surta hiia armada
diante de Judaa, que sam christos, nam ficaria viua pessoa em
meca: he pequena cousa, nam tem jente d armas, todos saro de contas na
mo e de vnhas alfenadas, e se lhe tirarem ha Roupa branca e especiaria
que vai da ln dia cad ano, nam vir a cafila nunca a meca: se el Rei nosso
senhor daa maneira d oficiaes, esses que cortam as aguoas pellas serras
da Ilha da madeira, que lancem no crecimento do nillo per outro cabo, que
nom v Reguar as terras do cairo, em dons annos he desfeito o cairo e a
terra toda perdida; e se daa maneira de passajemao preste Joho na terra
t Alis z,ila.
1
AI i is BefUJstary.
3
Alis Zea.




. .

t.Oi CARTAS DE AFFONSO DE ALBUQUERQUE
de nam ha hi nada que fazer, porque os abexis sam valentes ho
mens: vejo as cousas estar armadas pera todo bem, se me elRei ajudasse
e nam me
1

CARTA CIX
Carta dafonsso dalbuquerque guovernador da lndia a duarte galuo.
Eu vos tenho sempre mui larguamente todo meu neguocio
de qu da ln dia e Respondido a vossas cartas, e se as, senhor, nam ten-
des avidas, sam o mais mofino homem do mundo, porque bem sei quanto
perco em vos nam dar conta mui larguamente: na minha fazenda vos nam
hei d ousar de falar, porque h o que vs fazeis por vossa propria virtude,
nam no quero eu meter em neguociao; abasta saber que me deu
ho seu, como vs, senhor, sempre fizestes, natn n1e lamar bo meu a lomje;
e mais eu vos certefico que nam sei ho que tenho, nem cuido nisso, nem
me lernbra: se a nosso senhor aprouver de me leua r a esses Reinos, sei
que tenho tam certa a minha fazenda como a vossa, e portarnto, senhor,
nam me culpeis que uos s vezes nam escreua meu da mente neste feito:
eu, senhor, tenho vista ha conta que me sempre dstes dessa pobreza que
l tenho, da qual nos nam quereis aproueitar, e pesa me a mui bem,
porque nam tenho eu molher nem filhos nem pai nem mi nem irmo,
senan1 vs soo, de que me eu muito prezo; e portamto dessa miseria que
laa tenho, vos terei em merc aproveitardes vos de lia cousas de vossa
ho1nrra e em todalas cousas que vos cumprir; e se me esta merc fizer-
des, tornar me s atrs vinte anos de idade e contentamento, e crerei neste
amor e amizade que me tendes, e ser grande conforto pera saudade que
me muitas vezes qu toca de vossa amizade e conversa,o e irmandade
verdadeira, que me qu daa mais saudade e mais trabalho que a lembrana
de cousas de portugual, porque tudo tenho esquecido, que doutra maneira
nam se poderam sofrer os trabalhos desordenados da lndia, e as despesas
e guastos dessa pobreza n1inha, que por be1n de meu carguo nam posso
leixar de fazer, que sam mayores que o proueito de qu ne1n o ordel}ado
I Bibl. Nac. de Lisboa.-Codiee de Alcobaa n.
0
foi. t76.
CARTAS DE AFFONSO DE ALBUQUERQUE 403
que me sua alteza daa, porque alga cousa que me sostinha nessas joyas
e partes das presas, j hi nam ha nada disto na lndia, porque se nam toma
nao nem barco, todalas cousas tenho assosseguadas, chs e mui n1ansas.
Vy ha carta que me vossa mercee aguora escreueo, e todo o que
nella dizia: folguei daver amtre ns algum homem vertuoso e que es-
creuesse verdade a elRei, como me dizeis ho dioguo fernandez fez:
moor mal lhe tem a elle feito as cartas da India que esse, porque ho nam
leixam tomar verdadeira do que quer fazer da lndia, e faz me
cad ano tomar hum caminho contrairo do outro, e trs todo ho feito da
India tam desassesseguado, que nem os mouros da lndia nem os jcmtios
nem os coraes dos portugueses tomam assem to: prouvesse a nosso se-
nhor que elRei nunca visse carta da lndia, porque esses de que elle tem
confiana, tem lhe dado tamto credito, poder e autoridade nas suas cousas
da India como a mim, e com este fauor sam tornados meus competidores
e nunca escreuem em tratos de mercadorias proveitosas a seu seruio, nem
da maneira que se a Riqueza da lndia poderaa aver e leuar pera esses
Reinos, nem nos tratos de qu ha maneira que se poderia. ter pera se fa-
zer proveito na sua fazenda: todo o feito destes h e aconselhar el Rei _como
ha de gnovernar ha India; culpar meus caminhos feitos pello Regimento
del Rei, damnar meus feitos e minhas consas, dsejar toda minha destroy-
o, e diguouos, senhor, per a malicia da ln dia, porque minha limpeza culpa
os homens muito; e os officiaes com os quaes nam tenho nenha compa-
nhia nem parearia, nem tao nenha mastelada com elles, culpo os tam-
bem e obriguo os a muito: nam queriam ver h a ln dia assesseguada, como
aguora estaa, nem os portos em tratos abertos; e as mercadorias s mos-
cas e ao ar, e as minas do ouro, pescarias daljofar e minas de pedraria
tudo estaa espado
1
e em mortorio, e estes que tem carguo da fazenda
dei Rei, nam lhe vejo fazer nenhum fruto, nem lhe vejo tratos com esses
portos, nem os vejo vsar de seus oficios e carguos como homens que ho
sabem fazer: vejo tudo hermo e quatro quintaes de cobre e dous dazou-
gue nas feitorias delRey; e eu tenho apertado na mo com ajuda de deos
todo bem da lndia.
Estes guovemadores da ln dia, sendo eu em malaca, escreueram como
eu deixara ha India desamparada e soo: e sua alteza me tinha mandado
que, partindo eu desta costa pera omde me mandaua .hir, deixasse em
t Alis 19trat1D.
"


I

CARTAS DE AFFONSO DE ALBUQUERQUE
guarda della dons ou tres nauios; e eu deixei estes que uos aqui direi :
ho cirne, a nao nona sam -thom que se fez em Cochim, as duas ajudas,
o Rosa iro, a eslas em cochim: em guoa leixei ha lionarda, a Ru-
mesa, ha nao noua de guoa de duzentos tonees, ho Rei pequeno, o nauio
sancto sprito, o nau i o que deram em casamento a quatro casados de guoa,
ha gualeota e duas fustas, e doguo fernandez que veo de hurmuz, com
o Rei grande, sam cristouo e ha nao nona das de guoa, e mil e duzen-
tos homens na ln dia: e eu fui a ma laca e leu e i da armada da ln dia duas
naos de cortia comestas do gusano, era frol de la mar e ha taforea: o bre-
to e emxobreguas que leuei, eram naos de cargua; leuei algas naos nonas
das de guoa; leuaria quatrocentos homens brameos da jemte da ln-
dia: estes guovernadores que dito tenho, fizeram me morto e perdido, es-
creueram de mim como de homem morto que nam esperauam que dsse
Rezo de si, e nosso senhor por seu diuinal juizo mostrou ho seu poder, e
emleuou nos a todos com o feito de malaea.
s vezes escreuem estes a e] Rei algas cousas, e pera lhas crer o
primeiro que pem a seu proposito, he falar lhe em sua fazenda e
que guasto muito de sua fazenda, porque a este feito acodiraa el Rei mais
asinha, e emtamto aproueitam se da sua fazenda, fazem sse paguos do seu
cofre, tratam grosso, e amdarri tam ceguos neste feito que lhe narn lem-
bra nenha outra cousa: dam essa pobre eargua de pimemta quando as
naos vem; se lhe nom buscam de fra outras mercadorias, nam nas sabem
elles buscar nem aviar, nem ho entemdem nem sabem fazer, e vaisse todo
o bem da lndia a perder, porque quer elRei terfeitores, escriues de fei-
toria, homens que nam sabem contar dez Reaes, nem sabem que cousa
sam tratos, nem sabem emderenar as mercadorias omde faam fruto, nem
ho. mamaram no nem nunca. ho aprenderam, e assi est tudo como
em n1ato maninho; e vos certefico, senhor, que sam tam grandes os gua-
nhos dos tratos de qu e tam grossa a mercadoria e Riqueza da lndia, que
he Riso falar no guanho da pymenta; e elRei comete este neguocio a dons
moos da camara que vem de f.res em tres anos, boaes, que nam sabem
que cousa he trato nem mercadorias nen1 compras nem vendas nem far
dos de mercadoria: l tenho escrito a elRei que creia mais na escritorio
de bertolameu com lionardo soo nelle, que em quantas feitorias e quantos
feitores qu tem na ln dia: digo o uos, senhor, que mayor h e o guanho das
especiarias de malaca India do que . h e da ln dia a portogual: assi, se-
nhor, que me creaes, que o neguocio dei Rei neste. feito .nam



CARTAS DE AFFONSO DE ALBUQUERQUE 105
de nam ter homens o1ercadores cadimos, cosidos na mercadoria e no sa-
ber della, porque destes que qu tem, nam pde receber senam mexeri-
cos e emburilhadas: mostram se muito cheos de dor de sua fazenda, pera
se poderem melhor ajudar della e saber feitorizar ha sua: estaa tudo pen-
durado em ha escapula com ha tea d aranha por cima, e esereuem
1
I
CARTA CX
Carta de A.ffonso Dalbuquerque a Dom rnartinho
1

Tomo esta lisena de v. m. et, que he no vos escreuer por minha le-
tra, porque he to maa que hei tudo por lansado a lonje quanto uos es-
creuer: e eu, senhor, no tenho outra escora nem outro bem laa seno
uosSa.s vertudes, porque quiz v. m.ca tomar esta carga sobre us to pesada,
to contrariada e to enuejada, a qual h e soster me v. m. ca diante S. A.; e
portanto, senhor, Recebo das mos de Deos fazerdes me& tanta mere; e
, como j, senhor, por uerres us tenho escritto, d uos nosso senhor o ga-
Jardam de uossa vertuosa teno com que o fazeis, porque lhe apraz pro-
cederem as cousas da india a todo uosso conselho, pois que por elle vim
e por elle estou na india, e por elle faso meus caminhos, e por
elle me goarda el Rey at lhe dar Rezam de mim, porque, segundo os con-
trairos laa tenho, dias ha que fOra maltratado, se me v. m.ca no ajudara;
ainda, senhor, que obrigado lenho eu S. A. a tomar armas por mim con-
tra esses taes, porque eu no ando se1.o nos caminhos de seo Regimento,
deixando todalas cousas prouidas milhor myllJor (sic) e com mais Res-
goardo do que me elle ainda manda: se s uezes as cousas no socedem
como eJle quer, logo eu ey de ser culpado diante de S. A. dos enoejosos
e danadores dos homens?
No he lembrado S. A. que me mandou em meu Regimento, que
apartando me costa aos lugares bonde me mandar bir por seu ser-
uio, que deixace dous ou tres nauios em goarda da costa? e eu deixei
t Bibl. Nac. de Lisboa.-Codice de Alcobaa n. foi. t80 v.
1
Deve ser D. Martinho de Cas&ello Bnneo, vdor da fazenda, e depois eonde de
Villa Nova, gr&Dde amigo de AJioaso de sepndo Gaspar Correia. Vid.
LIAtlla tltJ ltulia, u, W.
I
'



406 .CARTAS DE AFFONSO DE AJ,BUQUERQUE

dezoito vellas, a saber: em cochim o cirne, a nao S. thom, ajuda grande,
ajuda pequena, o Rosairo; e em goa leixei a lionarda, a Rumesa, o Rei
pequeno, a nao santo spiritu, o nauio pequeno que dei en cazamento a cer-
tos cazados de goa, ha nao nooa das de goa de dozentos tonees, tres ga-
leotas; ficaua t.ambem diogo fetnandez da goarda Roupa con1 o Rei grande
e com sam christovo e com ba nao das de goa, e leixei na india mil e
duzentos homens, e as fortalezas cheas de mantimentos e boa artelharia;
deixei por capitam do mar rnanoel de Iacerda: desta maneira deixo eu
prouido as cousas de minha obrigasam, e no com tres nauios que goar-
dem a costa: asi, senhor, que se v. m.e
6
l no falase por mim at dar Re-
zanl de miln, j fora derribado, segundo a malicia dos homens e a enueja
Reina agora mais que nos ten1pos passados. Digo agora, senhor, tambem
o fiei to de n1alaca o que depois de minha partida sobreveo: leixei
todos os caualeiros e fidalgos de minha armada; leixei todalas naos e
nanios de minha arn1ada nonos e saos, e parti me s com dous homens
meus e dous mossos escrauos .. en frol de la mar, podre e velha; e asi me
salue nosso senhor, que eram sesenta escrauos, bombas duas, que nunca
rle noite e de dia deixauam de dar a ella: prouue a nosso senhor que o
bom prouimento e bom Resgoa.rdo que deixei a malaca, venceo e desba-
ratou a armada dos jaos mni grande e de muita gente, e lanaram os jaos
fra da pouoasam de malaca aleuantados contra ns: asi, senhor, que
olhanrlo mais que todas as cousas do mundo a obrigasam e c.onta que sam
obrigarlo de dar a DeoR e a el Rei, da ndia que me entregaram com qua-
tro nauios podres metidos na uasa e-duas fortalezas emprestadas em terra
alha, meti minha pobre pessoa, e auenturei minha uida em- ha nao po-
dre, por tal que us cousas de minha obrigasam fieasem Reformadas en
t.al n1aneira que, perdendo se mynha pessoa, a india dse sempre
de sy.
Agora, senhor, ueiamos porque me no defende el Rey daquelles que
querem danificar minha honrra ante S. A., pois que eu ando em seus ca-
mynhos, goardando sua detirminasam: bem sei eu, senhor, que me no
ha a my de conhecer el Rei depois que elle qu tio e r outro gover-
nador, porque, como lhe eu esereuo, bastou t sempre as cousas de
seruio antre os honrrados e vertuosos que de Redor delle amdam, pes-
l. A81im ea1 ao Codiee de i v ora; mas entendemos que se deve lr hleo. em Jo-
sar de btUtou.
CARTAS DE AFFONSO DE AIJBUQUERQUE i07
soas de que confiou sua fazenda, e agora o vejo bem carguado de penden-
as delles, e a my buscou n1e antre os maos e visiosos: poder ser que
achou homem, e no digo, senhor, mais, porque v. n1.ca tem laa cuidado
de dizer o mais por mim, sem uoll o eu merecer; quer nos nosso senhor
dar essa vertuosa incrinasam por se fazer algum bem na india por uosso
meio; no ten necessidade de bom homem, que por vintura o tem em mim,
mas faleeeJhe fauor e creditto de S. A., com que as cousas de seu seruio
acabam sem Rigor e escandalo da gente; e asy como seu fauor e credyto
cura as cousas da india, asy as cura laa ante elle, porque averaa hi pou-
cas pessoas que ousem de lhe hir mo, quoando virem que meus serui-
os e mynha pessoa estam en grande estima rlyante de S. A., como he
Rezam, porque, sigundo a maldade e enueja Reina entre os portnguezes
ao no cuido- eu que o conde nunalurez neste tempo puzera
sua casa e fama no estado em que a elle deixou, por maiores feitos que
acabara.
Mais, senhor, escreuo a S. A., que os capitains dos Reis seus vezi-
nhos no se fizeram elles neste tempo illustres, seno porque lhe deram
quanto fauor, credito e autoridade pcra os carguos que lhes fo-
ram co1netidos; e ao coitado de mim leuame logo a boa
1
debaixo dagoa
quoalc1uer carta d ornem ou cioso de qu da india, desses que cada anno
escreuem a elRei sobre o gouerno da india, e o querem-aconselhar, sem
lhes elle pedir conselho, e eu no ouso de lho dar, tendo me elle feito do
seu conselho: e ainda, senhor, uos digo, que no sei como S. A. no olha
quoam perigosa he ha carta sua d agradesimentos a quoalquer homem
destes que lhe de qu esereuem da india, os quoaes nunca entraram na
sua goardaRoupa, porque asi uelho como eu sam, pouco aluorosado,
ainda no sam homem pera me ter a ha carta d agradesimentos dei Rei,
que me enche de vaidade com ella.
Digouos, senhor, isto, porque sendo meu sobrinho dom gracia htla
tal pessoa e que elle tanto deu e estimar, no lhe escreuer ha carta, nem
lhe pedir Rezam das cousas da india! no folga de o contentr e fauore-
cer; e aos capitains que comigo andam, esteios deste corpo, do conselho
e gouerno das cousas de seu seruio, no lhe escreuer ha carta a cada
hum, nem lhe mandar que juntamente todos lhe escreuam eada anoo o
que passa, e o que procede da india, pois que cada anno tentamos cami-
1
Alis boiG.

..
4.08 , CARTAS DE AFFONSO DE AIJBUQUERQUE
nhos nouos e cousas nouas por seu mandado t no vee S. A. que grande
eseandolo he dos capitains que continuadamente andam com as armas
nas cousas de seu seruiso, ver escoirar
1
todo o negossio da ndia sobre
Antonio Real e Ioureno moreno e gaspar pereira e outras pessoas bai-
xas e de vil oondisam, que lhe cada anno escreuem cheos de trosidade
1
,
sen nenhum saber, seno aquillo que ouuem em pratica a homens muito
aaizados: que ho de saber estes do negocio da india enarrados em
oochim e em cananor, cheos de betele, de negras e a destro e a sestro,
pera S. A. dar creditto a suas cartas, e escreuer cartas de agradesimento
de seus consselhos e pareseres da ndia'! e os capitains e caualeiros que
as andam praticando, e as trazem nas mos, no lhe tomar a conta disso,
nem lhe escreuer cartas pera seu contentamento, pois que com as quin-
taladas que elle tem tirado, e o soldo que agora tem no ho de leuantar
caza com sobrado I e ainda senhor, pera contentar estes fidalgos que qu
andam acutelados e feridos por seu seruio, semeou agora que foram
3

soa partida hum bom descontentamento, que por consselho de foo quiz
leer em pubrico das que lhe el Rey fizera, e lhe mostrou hum
aluar que pudese fazer ha nao, e que lhe dese ajuda d aparelhos pera
isto, e a outra lhe daua a capitana de cochim, acabando pero mascare-
nhas seu tempo; estas merss e o mais entre muy especiaes fidalguos,
que lhe tem .feito muito boas fortalezas de pedra e cal, e feridos por seu
seruio, os quoaes no podem auer a capitana dum nauio I e foo, sem
proueito e que nunca uestio as armas, nem pelejou por seu seruio, por-
que sempre andou com asuquares pera ueneza e frandes, fazendo seu
proueito, estante em cochim, enchendo se de pimenta e dos cruzados de
seu cofre, auello dencher de tantas cousas nos olhos detantos bons ho-
mens que lhas merecem, no quero nisto mais falar.
Algas cousas, senhor, tocarei nesta carta a v. m.oe: pois que nosso
senhor tanta parte uos quiz dar no bem della, Rezam he que escreua ho-
mem a v. m.oa o bem e o mal, e digo, senhor, primeiramente, que a india
ao presente com ajuda do muy Alto Deos tem tomado tam grande asento
e to proueitozo ao seruio dei Rey nosso senhor e a todo o bem de seu
t Parece-nos que se deve 11corar.
a Alis tlatrocitlad8 ('!).
1
Parece-nos que a phrase IIIUOII agora '1"' etc., foi mal transeripta no Co-
diee de Evora, e que es&aria no original lm&IOU agora p foa ci 1ua parlitli.J AMM 6o.
MDOR,,.,.IIIftlo.

CARTAS DE AFFONSO DE ALBUQUERQUE i09
estado e seguransa delle, que serto ser aquelle paresem cousas ordena-
das por Deos, porque todolos portos e lugares de mercadorias de or-
muz at a malaca esto abertos e. suas mercadorias no campo agoardando
por nossos tratos, e os Reis e senhores das terras e dos portos com muita
precuram os tratos e amizade dei Rey nosso senhor, desejando.
ser seus seruidores en todo o lugar, e nossa gente e mercadoria Recebida
e fauoresida e bem tratada, e nos do as suas por onestos preos: por
toda a parte do serto da terra ando os nossos homens, sem lhe ser feito
nenhum danno; nesta parte de Diu at zeilo estamos to fortes e to se-
guros, se a nosso senhor apraz de se acabar a fortaleza de Diu ,e a de
Calecut, tendo ns asenhoreado goa, que jaz neste meio, que eu duuida-
ria, uindo o poder do soldam nem de todolos mouros que haa no mundo,
podesem jaa tomar asento na india, nem na india auer mudansa, posto
que a jente della de sua condiso seia bolisoza, porque temos as princi ..
paes cabeas que jazem nesta paragem, na mo, a saber, diu, goa e ca-
lecut.
Caleeut por morte _de amori, homem mais maluado que jogurta,
tomou asento com este Rei que agora he, o quoal antes, sendo principe,
tinha conhesimento e amizade comigo: os apontamentos laa os mando a
S. A.: os principaes e mais proueitosos sam _tres: o primeiro be darem
dez mil babares de pimenta cada anno a troco de mercadoria toda a
sorte, que be maior cousa .que se ainda fez na india: outro he que pago
a fazenda que se tomou a el Rei, e outro.si dam de tributo cad anno ame-
tade _da Renda dos siguros das naos, pageres e paraos, que he ha gram
soma que vo ahi, que paga dons mil fanes, dellas tres mil: a fortaleza
me deram onde eu quiz de de;ntro do arrecife e perto do seu serrame,
pegada na Ribeira do mar, pouso principal das suas naos; fel a thoms
fernandez, tendo della cargo francisoo nogeira e gonsalo mendez, e pe-
dreiros com gente da terra; estaa no corpo da sidade: caleeut
1
, senhor,
he a maior cousa que nunca vi; hee tam chea de pedraria e aljofar e ffi ..
queza, como era de primeira e to pouoada; ha, nella infindos mercado-
res gentios e mouros: segundo a fama das mercadorias que pedem, pa-
rese me que ha de ser hum lago de mercadoria: eses dias que hahi es ..
tine dando ordem fortaleza, e asentando nossos asentos com elRei, vie-
1 E1UMJ (a fortaleza) AO eorpo tia aitlatk de Calecut, 1mlwr, Ae a maior, etc. Assim
est ao eodice; mas en\endemos que eliminando a preposio tJe antes da palavra Ca-
lcut, e pontuando oomo pontuamos, fira o corrente.
. . '52

I

i!O CARTAS DE AFFONSO DE AIJBUQUERQUE
ram gram soma de naos de toda a parte ao porto: a fortaleza de diu vai ha
fazer diogo fernandez da goarda Roupa, segundo el Rei . manda em seu
Regimento.
Goa tomou asento com ho sabaio, o quoal deu a goa as ilhas que es-
tam pegado com elle; mas j lhas eu no agardeo, porque estam tam
fortes, que uindo el Rei de daquem e el Rei de narsinga, no na poderiam
emtrar: andamos em apartamentos de nos dar a terra firme que estaa de
Redor della, que he mui grande Renda de trinta e sinco mil cruzados
cada anno: o sabaio tomou agora toda las terras de goa com nossa paz
com trezentos pies da terra; todo o bom partido nos ha de fazer, por si-
gurar dabul e samgujtar
1
, e por lhe darmos cauallos, e leixarmos ui r gente
branca de fra a seu soldo: as ilhas se pouoaro em gram maneira.l. Ren-
dem j agQra perto de doze mil pardaos os direitos das terras; a entrada
dos cauallos d anno passado Rendeo sinco mil pardaos; dagora que meto
em uzo os caualos a goa e o trato delles todos todo na mo dei Rei nosso
senhor, Renderm mais de trinta mil pardaos, afora o ganho que se pde
fazer na primeira compra, que o senhor da terra faz sempre primeiro que
os outros mercadores: o trato dos caualos he hum ganho desordenado,
porque se ganha trezentos por sento e 400 por i 00 e 500 por sento
d ormuz e da costa d arahia a goa, afora os direitos que pagam os cana-
los na india, que sam muy grandes.
Sobre este feito, senhor, de goa, segundo o que qu ui, algas pe-
soas que querem Reuoluer o ffeito da india, cuidando que empeciam a
mi, emformro mal elRey aserca de goa; e sahey, senhor, que faz todo
este mal os mimos com que granjeo as cousas delRei, e as palauras que
s uezes solto por indinar os corasis dos homens ao trabalho e conser-
uasam das cousas: isto faz aos bons inclinar a todo bem e ajudar me, e os
corasis danados querem tomar vingana nas couzas em que me fm leuar
maior gosto, cuidando que as hei por mais minhas que outras.
No cuidei que goa que estaua desta maneira com S. A., antes me
pareceo que a tinha dentro na sua Alma pella mais principal couza das
indias, porque no ereo eu que S. A. queira escorar a conseruasam da
india e signransa della sobre a fortaleza de cochim com cem homens da
sua Hordenamsa, e cananor com oitenta; e se este fundamentO he feito,
e lho asi parese, quoal foi o homem que lho ouzou de dizer, sendo eu fra
1
Alis
CARTAS DE AFFONSO DE ALBUQUERQUE i t t
por seu mandado, com todo o outro restante, que a india era perdida e
que a deixara dezemparada e me fora, deixando eu nella dezoito uellas e
mil e dozentos tiro logo daqui que a confiansa da india no na
ten logo el Rei seno na sua armada: e bom conselho vos parece a vs,
senhor, este, que se ponha todo o negocio da india a hum dia de trauoada
ou a ha hora minguada? no uejo eu os principes laa nessas partes si-
gurar eses estados seno com boas fortalezas e boas torres de menagem.
Mais, senhor, uos digo: no sabe S. A. que goa e cambaia, calecut
e os Rumes eram todos em ha masa, e goa era cabiceira principal desta
openio de nos botarem fra da lndia, e como leuaram (sic) goa nas mos,
logo todalas outras cousas uiero pedir pazes e misericordi'? digo nos,
senhor, que no entendo este negosio; cuidei que tinha el Rei goa emgas-
toada em hum anel, e que ha aueria por tam grande cousa, que perden-
do se a india, della se poderia tornar a ganhar e sigurar: e mais goa jaz em
tal parajem e he tam gram cousa, que as naos da carga no ouzaram de
vir india seno em corpo, e no Rde a india tomar asento nem asosego,
se ella estiuer em poder dos turcos: eu tomei ha por seu mandado e por
quantos conselhos asinados pellos capitains, e a tornei a ganhar, e me fiz
forte nella; tenho a por companheira e ajudadora minha, e ponho ascos-
tas nella, como couza em que nom tenho outra confiansa: acabaram se
neste feito de goa duas grandes cousas: a primeira foi tirar se das mos
dos mouros, que criauam nella grande fora de naos, jazia sobre o pes-
coso de toda nossa nauegasam, asy das naos da cargua como do socorro
das nossas a outra he tennola em nosso poder, e asosegarmos
a india; com ella siguraremos as naos da carga que venho ha e ha
demandar a india e enfrear os portos principaes della, e a poderemos daqui
socorrer no inuemo e no veram as nossas fortalezas, terra e porto ase-
nhoreado por ns: no se ham de queixar candaguora nem o algozir com-
nem han de dizer que no toquemos as meiras
4
; nem el-rei de co-
chim ha de querer que matem hum portuguez por matar ha uaca; mais,
toda a terra he dei Rei e a jurdiam, afora o harao da justia dei Rei:
mais, senhor, he porto he barra principal antre todalas da india, escapula
de todalas mercadorias do Reino de daquem e do Reino de narsinga.
Ho que agora pareceo nas cartas dei Rei he o que aqui diser a v. mea.:
os homens quoando querem danar ha couza de seruio e que ..
. t Alis moiras

~ ~ ~ CARTAS DE AFFONSO DE ALBUQUERQUE
rem escreuer de qu a S. A., o primeiro ponto que opem a seu prepo-
sito he fali ar lhe na sua fazenda, dizer lhe que se fazem grandes gastos e
despezas, porque lhes parece que acudir elRei mais azinha: desta ma-
neira escreuem de qu a S. A., dizendo que fazia grandes despezas goa:
deuera S. A. de preguntar a estes que lhe escreueram, quoaes sam estas
despezas que goa faz? porque eu no nas uejo, seno mantimento gente
e seu soldo: tirando esta gente daquy, e pondo a em ha ilha _despouoada,
ou em hum monte, no lhe dar el Rei seu soldo, ou em quoalquer outra
parte que a sua gente estiuer, nam lhe pagarm seu hordenado? pregunto
eu agora a S. A., quem faz maiores gastos agora, cochim ou goa? cochim
que tem mil e seissentos homens, e se estaa corregendo a armada per a hir ao
mar Roxo : e pero mascarenhas quoamta gente tem agora em goa? duzen-
tos homens: por esta carta (sic) deu io de deixar d achar que gasta muito.
Se pella ventura el Rei se queixa de lha sercarem tantas vezes os
turcos pera lha leuarem nas mos, e se agasta com isso, leixelha; e se
S. A. cuida que ha de ganhar as couz1ts tam grandes tomadas por foras
de armas a Reis mui poderozos e de muita gente, e sen lhas defenderem
e contrariarem e serem muitas vezes aprefiadas, se lho asy parece, deixe
a india, porque no ha de tomar ninha cousa j gora na india que no
custe muito sangue, e que lhe no seja muitas vezes contrariada e bem de-
fendida, porque j hi no ha laurador ~ m fraco que leixe tomar o seo
por fora, se o pode defen4er.
E quanto mais goa no se deuia de soster e defender a todo o po-
der do mundo, seno porque a uemos cobiada e dezejada dos turcos,
homens muito cohisozos, poderozos e de muita artelharia, e que sabem
fazer naos nossa usansa, imigos nossos, dezejadores de toda nossa de-
stroisam, cheos de espingardeiros e bombardeiros e de mestres de ar-
telharia to boa como a nossa, e de mestres de fazer naos tam boas como
as nossas, ferreiros e carpinteiros e calafates tam boons como os nossos:
os danadores de todo bem da india, por estas mesmas Rezoens por bonde
ha S. A. ha deue de soster e defender ath o dia do juizo, lhe fazem en-
tender que h e bem derriball a; sem nenha vergonha nem temor de Deos
lhe ouzo de escreuer isto.
'
Ainda, senhor, que se me S. A. defende que no entre en cochim,
nem en canarror, nen enueme em cochim, porque no pregunta a estes
seus conselheiros bonde irey Reformar minha armada e gente? cochim
no tem p e r ~ dar de comer a 500 homens, nem ha hi pescado, nem carne,
. .
' ~ ' 'f
CARTAS DE AFFONSO DE ALBUQUERQUE it3
seno galinhas que custam a xxij rs., e em goa dezembarcando dous mil
homens, no nos sentem, e ha hi sempre muito po trigo na praa e dous
talhos de uaqua continuadamente e pescado grande milhor de toda a in-
dia, fruitas, vinhos da terra e ortalisas em grande abastana, e temos ho-
mens de la cor de homens; e mais fazemos toda] as despezas por moeda
de cobre, que en terra de senhorio lhe no leixam amoedar, e esta he hila
tam grande cousa, que no sei como S. A. pasa por isto, saindo o quin-
tal do cobre a uintaquatro cruzados: agora ueraa S. A. o que lhe laa es-
ereue o feitor de cochim, que me escreueo qte tirase a gente de cochim,
porque pagava os mantimentos por crozados que estauo pera a carga;
e eu Respondi lhe que agora saberia S. A. que cousa era goa, e o que lhe
elles tinham escrito de l.
Arreceaua tmbem S. A. as despezas de goa, e o que ella pode obri-
gar: quanto s despezas, goa, em paz, demanda duzentos portuguezes,
que pagos a dons cruzados de soldo e hum de mantimento sam sete mil
e dUzentos cruzados; e se tiuer gerra, quoatrosentos homens, que so qua-
torze mil e quatrosentos cruzados; pagos por moeda de cobre .de uinte e
quatro cruzados o quintal, vede, senhor, onde chga, e pagos a quinhen-
t o ~ rs., que he o soldo da india, olhe v. mc. o cuysto que pde fazer: e
ella agora asim mal gouernecida como estaa, Rendeo quatorze mil par-
daos, e os direitos dos cauallos o anno passado ualeram sinquo mil par-
daos: quanto he o que S. A. cuida que obriga goa muito, de maior obri-
gasam me parese a mim ha fortaleza em terra alha, que aquelle
1
que he
terra asenhoreada por ns; e que obrigaraa mais cochim ou diu que goa,
porque a nossa gente em terra alha no pode cortar hum pao sem o se-
nhor da terra, e se vai praa e non paga bem o que compra, ou se toca
ha moura, ou se acutela hum homem da terra, ou faz algum desmando,
logo as espadas vem nas ancas delle, e a fortaleza fecha logo suas por-
tas, e estas cousas no nas ha de auer em goa, porque a jurdisam he
delRey e a terra dei Rei e as Rendas dei Rei, e os agrauos ante seu gouer-
nador acabam; e ha fortaleza estaa con as portas abertas, e se quer
dons mil homens de trabalho, no os uai pedir a candaguora nem ao al-
goazil de cananor; se quer calafates, pedreiros e carpinteiros, mestres de
fazer naos e galees, na sua terra os tem; se quer mestres de fazer espin-
gardas e bombardas tam bem ffeitas como as nossas, em sua terra os tem:
1
Parece-nos que se deve lr aquello, ou aquillo.

CARTAS DE AFFONSO DE AIJBUQTJERQUE
quoando a sercarem, quer socorr'? como a fortaleza de cananor e cochim
e como arzila e tangere.
Digno mais, senhor, que goa no h e anjadiua, nem quiloa, nem a-
cotor, mas he cabea e porto principal, que jaz na paragem onde se
el Rei quer fazer forte, e sigurar sua carga e as couzas de seu seruio ; e
el Rei por cartas dos feitores e escriues das feitorias e de algas outras
pessoas quer bulir com goa: tam pequena cousa he goa na india, e tam
pouco necessaria conservasam e siguransa da india e asosego della, que
por cartas de homens i{\uejozos e competidores meus, que no olho a
nenha conza seno a tomarem vingana de mim, e escreuem que no
sostenho eu goa seno porque a ganhei, e que faz grandes despezas, sem
dar outra Rezam maa nem boa, sabendo o mundo todo que se no deu
fortaleza em calecot nem cambaia nem diu, seno porque vio goa en nosso
poder? no digo eu, senhor, pera se soster goa ou no, mas soo pera se
sostentar conselho sobre este feit9, deuera S. A. primeiro de mandar quoa-
tro homens principaes do seu conselho ver goa, e saber o que ella soo por
si tinha ob_rado no feito da india, e ento poer en conselho se se alarga-
ria aos mouros ou no: no sabe S. A. quoo danossa couza fora pera a
india saberem os mouros que auia entre ns conselho de largar goa, sa-
bendo quoam holisoza he a gente da india e quoo maa d amansar, que
soo por asaquarem os portuguezes que vinha outro gouernador, se Reteue
el Rei de cambaia, e atee minha uinda no quiz dar Reposta, porque
gente mansa por fora sempre estaa agoardando o tempo pera tirar o lao
fra do pescoso.
Do feito de goa, senhor, no digo mais, seno que laa veraa v. mca.
meu escreuer com o dos outros senhores; que se a el Rei mandar desfa-
zer, eu serei o primeiro que lhe porei barril de poluora debaixo da torre
da menagem; e se a quizer uender a elRei de narsingua ou ao sabaio,
que lhe daro muito dinheiro por ella: e porm quem deixar goa, no
quer ter asento na india, nem uer asosego nella; e se eu for portugoez
da condisam dos d agora, depois que me de qu for, dezejarei de a uer
derribada, porque se torne o jogo ha porm goa tem tomado
asento, asim como eu laa escreui a S. A., e ainda elle veraa que goa por
si, sem gerra nenha, ha d auer todalas terras com suas rendas que de
rredor della jazem
1

1
Bibliotheca publica de Evora, Codice 73 a 80 v. Este eodice .Sde lettra
CARTAS DE AFFONSO DE ALBUQUERQUE ii5
CARTA CXI
I
1IS13-Dezembro 1
Senhor.-Manuell de llacerda ha tamtos anos que hamda camo eu
1
justamente, e em rodallas cousas de vosso seruio em meus trabalhos foy
sempre, e foy muitas vezes ferido por vosso seruyo: homem he, senhor,
esperememtado, pera em qualquer cousa em que ho encarreguardes, daar
boa com ta de sy; tenha o vossa alteza em com ta de cavaleiro: he homem
que poer as maos em qualquer cousa que ho mamdardes ousadamente;
eu lhe dey a capitania de guoa, e temdo esperana em nosso senhor nos
daria luguar de fazermos asemto no maar Roxo, o le,ey comiguo, porque
he tall pesoa de que comfiaria cousa de gramde obriguaam e afromta; e
aguora que vim, nam no pude agasalhar como elle merecia, por serem
todallas cousas dadas por vosa alteza: provedeo, senhor, se vos c qui-
ser seruir, dallguum asemto honrrado destes, e dos gallardes de ll nam
se esquea vos alteza deli e e doutros que vos c tem seruido muy bem,
porque has comemdas tam bem as merecem c os cavaleiros como em
afim e em arzilla. Escrita em cananor ao primeiro dia de dezembro de
!513.
(Por lettra de Albuquerque) feytura e servydor de vosa alteza
Afomso dalboquerque '
do seeulo xvn, segundo a informao do sr. Gabriel V. do M. Pereira, o qual se prestou
obsequiosamente a eonferir a copia d'este documento, feita pelo sr. A. F. Barata .
.
1
Parece-nos lapso, e que devar lr-se: canda e como eu.
1
Torre do Tombo-C. Chron. P. i., Ma. &3, D. tQS. Por lapso la\ es&a ana
fora do aeu Jogar.
,
CARTAS DE AFFONSO DE
Sum11ario de Iodas as carias que vieram da lndia a el Rey nosso senhor e
doutros Recados que lambe11 viera11 nas na os de qne veo eapilall mor
antonio de saldanba e na na o de cide barbudo que veo depois dele'
Outra carta sua de bj de feuereiro de !507
Item: O que pasou com o eapitam mr sobre sua yda a sam Lou-
reno, e como lhe di se que se .avia de E que se nom fora por tanto
eomprir ha voso serui, nom aceitara cargo de frota tam desbaratada.
Item: que proueja vosa alteza sobre ufalla, pol'que est muy desor-
denada e o ouro anda muito e que pois os caferes tem asentado com
vosas gentes, ho aja vosa allteza por seguro.
Item : como nuno vaaz foy emviado ha ofalla por capi&am e o que
diso lhe parece, e que aja vosa alteza por mayor cousa que ha myna, e a
detryminaam em que estaua manuel femandez.
Item: como pasou furyoso nuno vaz eom poderes do viSo Rey e como
ho sofreo e desymullou, e porm que leuou da frota gente escondida e
. engalhada.
Item: sobre a vinda de dom Loureno a ormuz e as naos da sua ca-
pitanya Repartidas.
Item: pede o hordenado da capitanya de dom afonso seu sobrinho,
leua somente sua moradia e ordenado como os outros, e que elle cuida
que vosa alteza tem com elle a maneira que tem com os capites das for-
talezas da India.
Item: pede que mande vosa alteza pera ele dom garcia seu sobrinho
e com nauyo.
Item: que lenbra a vasa alteza que fez ha forteleza de cochy; pede
que mandando vyr dom aluara, faca della merc a dom antonio seu so-
. brynho. 1
tO caderno que tem este titulo .guarda-se na Torre do Tombo-Gav, iO, Ma. &,
N.
0
Aproveitamos somente o que pertence a Albuquerque. . . . , . . . , . . ..
CARTAS DE AFFONSO DE AI,BUQUERQUE
..)
(
Outra sua de bj de feuereiro !507
il7
--
Item: o caminho e.yda que fez o capitam morem busca da terra de
sam .Loureno e o que se ll fez.
Desta carta nom hc necesario mais, porque somente diz como se foy
1ristam da cunha e elle ficou com ha outra frota, e rJOmo pason nono vaz
pera ofalla.
E como mandou mantimentos a ofalla pella caranella que hia com
a nao de lagnos, etc.
Outra dafonso dalboquerque de xiiij dias de feuereiro 1507
Item: como tomou a topar tristam da cunha vymdo da t e r r ~ de sam
Loureno e lhe entregou a frota, e tornaram a moambique.
Item : como nom foram recebidos seus conselhos, e que tinha Reco
de o nom largar o capitam moor e ho leuar lndia, e se l pasa, que nom
be posyuel tornarem as naaos ao cabo de gardafune.
Item: que at emtam nam vio poher o conselho (t) no que mandas-
tes, etc.
Item: lenbra on\ra vez ufalla que ha mande vosa alteza poer em
bordem, que avers quanto ouro quizerdes, etc .
.
Dafomo dalboquerque de x de nouembro !507
Item: daa conta da partidil de beziguiche.
Item: como lenanam em proposito de tomar a boca do mar Roixo.
Item: que tem sabido que em ufalla tratauam mais naaos no ouro

que na esp1c1ana.
Item: que todauya os mouros de ofa)a vao fora e que pero danhaya
nom morrera; acharam eles as li ( 60000) dobras que vosa alteza mandaua
lenar, e que pero danhaya leuaua o caminho verdadeiro e os outros fol-
gam aly com eles por seu proueito.
&3


4l8 CARTAS _DE .t\FFONSO -DE. ALBUQUERQIJB
Item: que das pouoraes que sam tres, d aly de ofalla dos mouros
se poder aver muito ouro e ficar ho trato com os da terra.
Item: que compre; ofalla ser fauorecida de c de portugal, porque da
Imdia nom se poder asy fazer.
~ : -l ~ m : capitam na eosta d arabia, que governe e. proueja a dita costa,
porque estas cousas por allguum tempo ham mester. bem trylhadas, e .se
caver muito ouro e marfim; .e que momhaa se totnaa Reformar e que he
porto morto e pera grandes naaos, e que.serya muito voso $erfio aly.hiua
fortaleza, e na costa braua abasta fazellos tributaryos.
: ~ I ~ m :. o que se fez na terra de sam Loureno, e que segUDdo a enfor-
maam que tem h e cousa grande, e que o gengyure he muyto mais groso
que ho da lndia, e que segundo seu entender parece que deue ser este o
que se chama mequym.
: ' '
,.
.......
I '"":'
. : ; r'
I


CARTAS DE AFFONSO .DE' ALimQUBRQUE .t:l.9
.. '
Primeiras das naos primeiras ', : \
! .

das. d aro.oso. d alboqoerque que este 8180 .de b'lj,.(511). :lierall
I d. )'JDdia, e asy 4 outras a que el Rey aosso seabor ba de Responder '
' . .
Cartas dafonso dalboquerque de iiij dias de nouembro de bc e dez.(610):
... _Item: qe .se afyrma que se ha vosalteza.de ver Qm algua fadiga,
se com tenpo nom segura as cousas da Imdia, porque doutra-
nom se poder a ver proueito della, que nam pase a despesa pela Recepta.
, I Item: que 8e adeem . coin tempo, di o e ormuz e e que se
ponham. vosos capites nelles com tempos e com fortelezas. . . .
1\em: que leixe vosa alteza .cochy, cananor e coulam pera a earegoa
ds: naos,. em que. soomente estm os feitores e capites-que guardem -as1
forielezas. . .
lteui: qoe.faa:quatro;feytoryas, a Ca.mbaya, Ormuz, eoohy e.
malaca, e que se desfaam todas as outras. .
. : . Item: que o. destas abrange. a todo o ali, e que daquy ha
de sair toda a riqueza, se forem bem 'negociadas.
. Item: as. nouas das L' (60) naaos que sam feitas em oez, e que
algtmlls dizem que sam gals.
lteq1: que a; armada de vosa alteza amda seem armas .e seem Iam-
as e sem espadas. .
.: Item: diz .que a seguranoa da lmdia nom es1aa senam
que ditos tem, e que aquela be a segilrana proueitosa qoe vosa alteza h a
de tirar de seus grandes gastos, e nom a paz vnyuersal, porque debaixo
della diz. que jaz perder vosa alteza a :lndia. .
Item: que nalndia nom ba hy paa, nem alferce, nem enxada, e a:
villa ida madeira h e ,. .
(Na margem) -qne lhe foy.
"
t Torre db Tombo-Cartas de Aft'onso de Albuquerque e outros para D. Ma-
nuel-Mao unieo, t. Tr;mserevemos somente o qne se refere aAibuquenJue.
rsa.
..
t.20 CARTAS DE AFFONSO DE AIABUQUERQUE
Item: o fundamento que tinha de hir ancorar vosa armada junto
com as naaos dos mouros que se faziam no mar roixo, com as mais pal-
lauras do que diz que por seruio de vosa alteza espera, prazendo a deos,
fazer.
Item: o que diz delRey de narsymga da ajuda que deu ao filho do
abaio, e mesegeiro que emvia a rogo delRey donor. .
Item: A paz de ealeeut, a que se nom chegou bem o Rey, por lhe
fazerem entender os Rumes que lhe socoreryam e verio (sic) em sua ajuda;
e que todauia nom leixa de procurar as pazes, segundo que tem spriw
por outra carta.
Item: o mesegeiro que tinha emviado a xeque ysmaell, que nam era
ainda vymdo, e que espera que se ha de seguir delle muito seruio de
vosa alteza.
(Na margem,) gradecimento.
Item: que elRey de cambaya pede pazes, e que elle lhas daria em
nome de vosa alteza no milho r modo que elle poder, e que ysto nom faz
senom veer buscar os asemtos per asegnrar a 1m dia; e que nom pode
leixar de lhe cayr em casa algoum trabalho, porque nenbua cousa d aquel-
las partes diz que tem tamta disposysam pera se destroir como cambaya,
por teer huom soo canal qne se lhe pode tolher e defender, e.he logo a
cidade destroida, porque tem dio na boca do canal e outra ylba mais
diante, em que ha muita agoa, e muyto boom porto na metade do canal,
e muyto grande disposisam pera nela se fazer fortaleza.
Item: A Rezam que daa por que nam tem feitas estas cousas que
diz que sam tam proueitosas, e que a geente que estas cousas grandes ha
de aos ter nam ham de ser marinheiros, mas geente d armas, porque, que-
rendo se soster as fortellezas com a gente do mar, desesquipa as naaos,
as quaes nam trazem ha tera parte da gente que lhe c foy hordenada.
Item: que ha mais gente que l amda h e a do mar, e a mais pouca
sam homens d armas.
Item: que lhe parece que cada forteleza desias, que lhe parece que
vosa alteza deue mandar fazer, ham mester bc (600) homens e bjo (600)
e delas myl, e quamto mais gente, tamto estaram mais seguras, e mais
proueito aver vosa alteza. E que ho mor beem dellas he senhorear cou-
sas gramdes e proueitosas, sem nenhum gasto nem despesa, e ter nelas
geente sa e muyta pera qualquer cousa que sobrevier Imdia, pera
nam mandar pedir socoro ha ponugall, mas teello dentro em sy.
'

,
CARTAS DE AFFONSO DE ALBUQUERQUE
Item: A gente que diz que a ver na Imdia, seram dons mil homens:
ficaram em eochy e eananor iijc (aoo}-; ficam narmada jbjc (1600), dos
quaes seram cxx criados delRey com capites. E que a mor parte desta
geente sam marynheiros e grumetes, gente ciuel, e que desta tem dada
licema a muytos. E que desta comta veja vos alteza a que se aver mes-
ter pera adeem pertl se defemder, e asy ormuz e asy dyo. E que quamta
l mais teuer vosa alteza, tamto ser mais seu seruio, pois nam ham d hir
pedir soldo na casa da mina, nem lhe ham de trazer mantimento de ca-
reiO de fra.
Item : que desta -maneira pode vosa alteza escusar armada contynua
no mar da Imdia, e cada capitam daqueles lugares a pde ter em sua ca-
/ pitania moor. E que desta forma ter alteza a gente sa na lmdia,
segura e contente, porque lhe daram vosos capites mais soldo duas ve-
zes do que lhe vosa alteza pde dar. E que esta he a fora que deu e ter
na yndia sem gasto nem despesa,, e com muyto descanso e segurana de
voso estado. E que a experiencia destas cousas se poderem ganhnr a tem
deos mostrado per goa e per ormuz, as quaes peearam de pouca geente.
Item: que nam ponha vosa alteza a confiana da lmdia e a sego-
rana dela na armada que l amda no mar, porque gastars muito di-
nheiro oom peqoena armada; nam yr nada, diz, de vosos feitos adiante,
nem avers proueito dela; gastars muita geente, diz, e moitas armas sem
fazer proneito.
E qne tamto se poder leuar este caminho, que se perder a lmdia,
ou a deixars, nam .podendo sofrer os gastos della.
E que se gasta l muita gente, e nom em pellejar com os mouros,
e que a seu ver este he o menos incomvenyente que a Imdia tem, posto
que se nam posa fazer boom feyto sem samgue.
E que portamto se apegue vos alteza heem na terra e segure a 1m-
dia com tempo, fazemdo uos forte nela, porque em quanto os mouros vos
nom virem aseen tos, como quem faz fundamento da Imdia, sempre seus
coraes ham de ser cheos de pemsamentos, e sempre ham d escurecer a
riqueza e IOdo o bem da India.
Item: que o mar da lmdia gasta os homens e asy as naos.
Item: que os lugares que tem dito, conseruam a armada, daram
vida gente, e tella vosa alteza senpre em pee, e se achar pela qual-
quer necesidade que a lmdia dela tener.
Comerm pam e carne e mantimentos da terra em que foram cria-
'
'
\
ia CARTAS !DE AF.FONSO DE AIAJUQUERQUE
dos, e a terra . os. eonservar, porque a armada colltynna Jlo mil' com
agoa e aroz e p_ouoo pesquado, e vyr. yvernar a eocbym omde .ba . apas
d&nD e pescado mao. e molhares, nom be senom lanar geate :ao mar.
E: estamdo 8E)8- ditos lugares, oferecendo se necesidade,. armariam os_
dellm nauios -de hizcdito .. e carnes e
liooasnaos e galls, e cada
por :ter milhor e milbor gente; e qneree que ho fariam: poucas:
vezes,: hy .nom .. ba mais que .fazer ;na. lmdia .. - , :.
Item: que virem os Rumes Imdia, o faz verem vos alteza mal arei-;
pde. nela, . e nam vos . verem fazer fumdamea&o da- terra, n vos fazer
das forte. aella. I.
, . ! . Item: .qae. vm trazer armada no mar, e sabem que .se gastain. as:
naos, e que lhe -nom fazem mais .nojo . que lhe. \res ou. quatrG
naaos- . . . _ . ' . - ....
, Item: qne calleeut nom estaa posto no .vos:
nam verwmar adeem nem. vrm11z -nem dio, e maoda eadanQ eoiliaiJado ...
I
res sol que arme vasas gentes. E; outro tanto :fazem os -ou.-
-tr-GS. Reis e senhores da lmdia,. e .que. entemdem que nam: se entende o
negooio. da .-Imdia. I
-.]tem: que ho soldo,.tem .noua que faz grande fondau;tento
mar. aadem e dio; e .que adem. sabe certo. que se.guarda erp -gliam. ma..
neira; e que seu parecer be que h o soldam nom leoa nisto. o
errado; e que pareqe que .ho tomar, se se detryminar niso .. E .q:ue lhe
parece que, ajudando nos. senhor, com a armada que tem, o;poder
tomar: fazer .fortaleza apartado nefle pera. o segurar, que 111ester
for_a por huum nno, e que h0 poder de vosa armada nom, he tamanJto.
que se nam deu a _muyto d olhar se se lamarm ao mar, se a; terra; e quQ
se sea conselho vallese, to:rnamdo hua tal. cousa como adem, de
poer a. gente em terra e e . poer .o fogo aas naaos; e: que nesta .
&80nia vio .ele .em goa, por .a gente nom. abastar. pera o mar .. e pera a
terra. _
Item: que todas estas cousas nom tem necesidade de .mais for
que at se fazer fortelaza . aosa vsana.
. Item: que nam. desemulle vosa alteza a-armada dos:RWDes, nem
ba. teoha em; poooo.
Item: que se lance muita roupa nese fogo, mm se apegue em outra,
parle, omde seja mao:
'
I
CARTAS AFFONS6"DE AIJBUQUEI\QUE W3
IWm: que nam era vosa alteza dos mouros d& Imdia pods
fazer booos amiguos eom paz nem. com dadyuas, senom
. primcipaes portos dela.
. -ltam: ;seprana da boea do !mar roiso e adeem, nom -ho tGmerO
soldam. : . : .
. l&em: que l armas, nem lanas, nem almazem, nem fio pera
cordas, nem cousa que tenha notne pera fortelezat se a m ..
dardes fazer.
Item : adargas e panos e espadas nas feitorias, pera se: darem aos
-homens. sobre seus r soldBS. I
'
Item:. muitos paueses hizcaynhos pera estarem nas fontelezas
. Item: que as lanas vao com os ferros fra, metidos.em.aroas.
Outra .ClJrta dafanso dalboquerque de iiij dias.de trOUembro 1510
. Item: apOnta seu paneeer .pera o proueyto da ymdia, e diz que vosa
alteza deue fazer tamto fumdamento do ganho das mercadorias de o, eom()
do traoto da especiaria, porque aja proveito: que. os sedas e
veludos de meca, .cobre, azougue, vermelham, pedra 'YIIle, -coral, esCralla-
.panos de seda de Wda sorte, qne cadanno emtram ua lmdia' peita
boca do mar Roixo, he cousa que se nom pde crer .
. .. E que. ysto fose, oam pederam V(XIas :feitoeyE abasl;lr-a terra
destas mercadorias que diz. . :.
.. Oroobre .. se:.gasta. na yndia--e .emtocbs.aqoelas partes em mUeda e
em vasylhas deserueotias.
Etolh001do- .. qne meroadarias nam
yndia, seria h num trato tam groso e tam proueitose
1
.que este .soo ahast-
taria. per hua tore d:oaro. . .
-: , R que semdo arada a. boca do mar roixo, se achraui mais cro.za-
dos em portugall, e. DOJ;D fra neellario pasar: l.nenhuwn ouro. ilem prata .
. \ Item: que segura, a boca do mar .roixo, ormnz tamta :mer-
eadaria da que tem dito, tiram do. pedra. vme, que fornecia: :tofll o; traw
espeeiama, e far todas as despesas da porqae; pode abastar vo-
sas: e, prata quanto for BBimercadoriu
que tocarem dinheiro. . : ...
Cambaya e ealecut, diz que gastam 001118 imfymda deStas mercado-
,
'

i ~ i .. CARTAS DE AFFONSO DE ALBUQUERQUE
rias, e que daiy sae pera todo o serto; e que se vosa alteza nom teuese
aquele vizynho de ealecut, mais mercadorias gastariam vosas. feytoryas.
Item: o trauto de cambaya, feytorya e asento della, ha por cousa .
moy necesaria e proueytosa a voso seruio e muy grosa, tapando se a boca
do mar roixo.
De cambaya se tirar todo o laear, anyl, allaqoequas e outra muita
roupa, de que se far gramde proueito.
Fornecimento do trato de ofalla daly.
E o trauto de malaca.
Tirarm tanhem cad ano de cambaya soma douro e de prata amoe-
dadot da veemda das mesmas mercadorias, pera os gastos e despesas de laa.
Destas duas fortalezas e feytoryas, a saber: ormnz e .cambaya, diz
que se poder aver todo o dinheiro pera a pymenta, porque em toda ou-
tra mercadoria emtra troco das de c, e nom toca dinheiro.
Cocby, a seu parecer, ha de s e ~ escapo) a principall e feitoria prin-
cipall de todo o da lmdia, por estar no meo de todallas cousas, e he na-
vegaam de todas as feitorias, que vos convem ter na Imdia pera averdes
prooeito.
E que desta ham de ser fauorecidas todas as outras.
E que as caregas de vosas naos nom deue nunca de ser senom em
:ooeby, porque a pimenta daa a carega s naaos; todo o ali das outras
mercadorias h e sobemal (sic ).
E que se nom emvestyguem outros caminhos nonos, nem navegar
per outro modo.
E que nom faa fundamento vosa alteza de mandar naaos tomar
carga a ormuz, e outras a cambaia, e outras por outro caminho a malaca,
e outras por outro a bemgalla, porque estas emvenes trazem pouco
proueito a vosa . fazenda.
E que o que convem a voso seruio he ter feitor principal em co-
chim, e aly ha de ter todas as mercadorias de todas as sortes, as casas
chas, e daly se ham de fornecer as outras feytoryas, e os outros feitores
emviarem aly seus Retornos; e que, ha se o ver, ysto ha por cousa maior
.que. ho tranto das especiarias pera e.
Coohy ba . por lugar manso e seguro, e omde se podem coreger as
o.aoa e se aparelharem de todo, e que . nam he neesairo mandar as naos
de c, mas fazeren se l na lmdia .
. De aoehy a mal_aea muyperto.

,
CARTAS DE AFFONSO DE ALBUQUERQUE
E muy perto a bengalla, e tem ceilo muy vizinha.
Cambaya navegaam de bij (7) ou biij (8) dias.
E a onnuz navegaam de xb (15) dias.
Pera bym.galla podem partir em agosto e tornar em nouembro e de-
zembro.
E asy podem hyr a malaca em agosto, e tomarem em dezembro e
em janeiro, e tamhem podem hyr em maio, e tornarem em setembro e
outubro.
E de cochy a cambaya em setembro e outubro, e tornar em nouem-
bro e em dezembro e em janeiro e em feuereiro.
E asy podem partir as naos de cochy no ms doutubro e novembro
pera ormuz, e tornar em dezembro, janeiro, feuereiro e maro,_ e nestes
mesmos meses diz que podem l hyr.
E podem hyr as naaos a eeylo em agost.o e em setembro, e torna-
rem em novembro e dezembro, quamdo as nosas naos diz que estam
carega.
ft
E que com esta navegaam e concerto pde vosa alteza ter em eo-
chy todas as riquezas da Imdia.
E que com ysto poder tambeem vosa alteza mamdar suas naos
propias, sem emtrar nenhuum o1ercador na ymdia, com boons capites,
despaehamdo se de c em tempo pera ll cbegarem em seu verdadeiro
e tomarem as mercadorias que c teuerem mayor valia; e acha-
rm as casas chas de toda sorte e de toda fineza e bondade, porque j
emtam nam vyram por mao dos mouros, mas por negociaam de vosos
feytores, e se escusarm todos os incomvenyentes que aponta em sua carta.
Item: que os capites que teuer vos alteza nos lugares que diz, faro
l quamtas naaos compryrem pera a comservaam e asesego da lmdia e
pera o trauto, porque, a seu ver, mais proueitoso he a seruio de vosa
alteza a vemda da pymenta em ormuz e em cambaya e em bengala, que
em trazendo a a portugal, e asy .. das outras especiaryas, que se gastam
pelo serlo, cousa sem conto, aas quaes com vem dar lhe sayda, porque
em portogal nam se pde tamta gastar, quamta os feitores podem l aver.
Item : que pera esta cousa leuar o caminho que diz, deue vosa alteza
ter em cochy feitor principal, homem soficiente, sem ter nenhfla cousa se-
nam a paga que lhe vosa alteza deer em portugal.
E que este tenha carago das especiarias e mercadarias de toda sorte,
uy das que ouuer demviar s feitoryas, como das que dellas lhe vierem.
:Si
,
..
4 ~ 6 CARTAS DE AFFONSO DE AIJBUQUERQUE
E que nam toque este dinheiro, nem pedraria, nem aljofar, nem
ott-o, nem entre em sua mao.
E que estas adies estm na mo d huum tysoureiro, que seja ofi-
cial apartado por sy, sem entemder huum no outro, nem outro no outro.
E jomto com estes dons homeens, a saber, thesoureiro e feitor, te-
nha vos alteza dons homeens do comselho do trauto da negociaam e ma-
neo de vosa fazemda, e que sejam das calidades que elle apomta.
Huum destes dons seja capitam da forteleza, e outro alcaide moor.
E que o capitam tenha carego da justia d gente da feitorya e asy
da do mar. v
O alcaide moor tenha careguo do prouymento das naaos do trauto e
asy mesp1o das naos que forem tomar a carega, e que 'enha hunm ho-
mem de bem qoe tenha careguo da Ribeira e dos oficiaes dela, homem
do mar que o saiba beem fazer e manear.
E que com estes quatro homens, a saber, feitor, thesoureiro e dons
do comselho, se faa por seus pareceres e detryminaes o mauo e ne-
gociaam das mercadorias e trauto dela.
Os quaes seu conselho serya nam serem mudados senam d oito em
oito annos, e mais; se mais podesem estar, mais lhe parece voso seruio,
pellocredito que traz ao trauto, e que ha mudana que cada dia se faz,
traz grande descredito a vosas feitoryas.
/, E que neste aseseguo e concerto he seu parecer que vosa alteza le-
nha senpre cochy. E que aly deue vosa alteza mandar cadanno suas naos
hordenadas tomar suas caregas sortadas, da maneira que c a vos alteza
melhor parecer.
E que estas naos leuem as armas e geente que compryr pera a 1m-
dia, porque l nam falecerm naaos quantas vosos capites quiserem fazer.
E que o soldo pera geemte e mantimentos, quamtos lhe fezer mes-
ter, se tomarem aseemto nos lugares que dito teem.
E que estas lhe parece que sam as capitanas que deue vosa alteza
de dar por mercee aos fidalguos, e omde lhe podem fazer muyto seruio,
e aproueitarem suas homrras e fazeemdas.
E que cada huum teer desposisam em sua capitana pera ganhar
a teerra aos mouros.
Item: que voso capitam e governador de todas estas cousas, estar
seu asento em goa, porque he lugar mais groso de madeyra e mantymen-
tos, lynho e feerro e carnes, salitre e oficiaes pera todo o negocio de vo-
CARTAS DE AFFONSO DE ALBUQUERQUE
sas armadas. E s vezes pode ynvernar em ormuz. E s vezes em dio, e
aas vezes em adeem, e s vezes em malaca __ omde lhe obedecerm vosos
capites com suas armadas .que cada buum tever em seu porto, e estaram
sua hordenama, ou homde a necesidade das cousas de l mais bo obri-
garem.
Item: que com esta ordeoama he seu parecer que se eseusaDm os
Rebates da lndia, e as despesas de grandes armadas que compryr fa-
zerdes, por qualquer noua que da Imdia ouuerdes.
E aver vosalteza gramde soma de Riquezas que as naos trarm,
sem quimtalladas ao mo e seem quarto e vymtena e sem nenhuum ou-
tro partydo, soomente tudo pera vosalteza insolydo, avido por compra
d vosas mercadarias; e ters a 1m dia segura pera senpre, e se escusa-
todos os outros incomvenientes que aponta.
Toma afyrmar no deradeiro capitulo desta carta que se faa vos al-
teza forte na Imdia, com outras rezes, e que seja fauorecido com annas
e geente e aparelho pera este feito que aponta, etc
. Daa no deradeiro capitulo desta carta comta da especiaria que sayo
aquele ano da Imdia, e de que lugares e por homde o soube.
(Na margem de todos os itens d,esta carta) J.
Outra carta sua de xij de nouembro 1510
Daa nonas do mouro e do homem que tristam da cunha emviana
via do preste Joham.
Item: que cadano vay cafilla dabixis em Romarya a Jerusallem, e
que pasam pelo serto de muyto perto da ribeira do mar Roixo;
leuam muytos camelos com mantimentos, vao per monte synay, e dy to-
mam seu caminho dereyto a yerusaleem: dizem que vay senp1e huJllll ho-
mem homrrado com eles a caualo, e que leoa encaualgaduras comsiguo.
Que nesta ilha de uaquem nam agoa, porm que tem muytas
cysternas que se emchem da terra fyrme, porque cboue hy muyto pou-
cas vezes. .
V eem a ella, diz, ouro em boa cantidade, e que ho resgatam aly
por fOupa de cambaya, e que ho trazem mouros.
He lugar uaquem de pouca povoaam e boas de peedra e
54





i28 CARTAS DE AFFONSO DE ALBUQUERQUE
cal; Dha sem nenhum aruoredo; vao cad anno a ella duas, tres naaos,
com Roupa de canbaya.
Algua especearia diz que pasa por hy, e d hy vay por mar por na
vegaam de tres dias e dez e doze, por como he o tempo, a huum porto
do mar roixo, que se chama Coayr, e dhy jornada de tres dias damda-
duta de camelo est canaa na borda do Ryo nylo, e d aly por espao de
poucos dias chega ao cayro.
(Na margem de todos os itens) J.
(h,tra carta sua de xxbj (26) de nouembro de bex. (610)
Item: Como sosteue em Rey el Rey de cochy, por o outro principe
que se criara em calecot vyr dizendo que lhe pertencia o reyno per morte
do Rey velho que estaua na cova, e que ho fez asy por lbe parecer voso
semio, e asy agardar o que vosa alteza ordenaua e mandaua.
Item: o feito derradeiro da tomada de goa como pasoo. E aponta
os capites e fydalguos que niso semiram.
(Na margem) carta de francisco corvynell.
Item: que se vos alteza faz fumdamento da Imdia, comvem soster
goa, porque sem ella seu parecer he que a nam poders soster e sofrer o
gasto, e que he grande cousa.
E que se nella vosalteza poem gente de caualo, que elRey de nar-
symga e el Rey de daaquem pagarm pareas.
E mais que se tolhe aos Rumes que nam tomem asemto nela.
Que he cousa de muy gramde Reemda, e que ha de Receber vosa
moeda, ora seja de cobre ou de prata.
Que he muy groso e muy abastado pera todallas armadas que qui-
serdes fazer.
Que adem, ajuudando noso senhor, crese vosa alteza qne ho tynha
na mo, qoe veja vosa alteza se o quer soster. .
Que mandase vosa alteza geente e armas e todo aparelho pera o tal
feyto, porque ela pagar tudo. .
Que seu comselho ser SQ8terdes e asenboreardes a adeem, e que
nam be necesario forteleza Roqueyra no mar roixo, porque far pouco
proueito por sy, se nam teu e r comtynuadamente gramde annada. '"
Torna afyrmarse que, acabamdose este feito das quatro cousas que
CARTAS DE DE ALBUQUERQUE i!9
diz que vosa alteza tome para sy, averees toda a riqueza da Imdia, e to-
dollos Reis e senhores della vos seram tributarias, e vos nam podem fa-
zer falsydade nem engano, etc.
E que com fazer fortelezas Roqueyras e ter paz com os Reis mou-
ros daquella terra gastar vos alteza muyto dinheiro, e nam aver nenbuum
e qualquer neeesidade que c sobrevenha, por que se nam posa
asy bem prouer a Imdia, volta leuarm na mao, e Iaoarm fra vosas
geemtes, se nom teoerem fora.
E que ysto que diz, que seja COm tempo.
Que os mouros gastam seus tbesooros, e tomam gemtes a soldo es-
trangeiras, metem muytos fumdidores e mestres de todollos engenhos na
Imdia e em seus portos, e detryminam de se defemder e de ofender.
E que por yso lhe corte vosa alteza as Raizes, ele.
Que por agora esperaua leixar tymoga com iiij ( 4000) pies d ano r,
e na forteleza iiije ( 400) portugueses, a saber, iijc ( aoo) pies e cenlo de
eauallo.
Que trouxe espada todo mouro e moura e toda cousa da ley de
mafamede, e que nam avia de Jeixar em goa nenhua pera ne-
nhoum lugar daquela terra fazer treiam.
Que ordenaua que timoja t.enha cargo de recolher todas as Reemdas
da teerra, e as da ylha ficarem pera o capitam.
Sua determinaam era segurar goa, e leixar parte d armada sobre
ella, e com a outra hyr demandar o estreito, e aleuamtar ocolor, e vyr
ynvemar a ormuz, porque a naoegaam ho e a annada de
diogo mendez e naaos de vos alteza yrem a malp, como estaua borde-
nado; e aparelhaua as naos dos mouros, pera as poer vella.
(Na margem de todos os itens) J.
Outra carta de sua mo que nam tem dias

Item: Respomde por huum capitulo delta ao que vosa alleza lhe es-
preueo sobre as cousas d ormuz,
Item: falia eerqua do que vos alteza lhe spreueo sobre adeem.
Item: diz que nam crea vosa alteza o que delle lhe c diserem, por-
qqe tudo sam emvejas etc., com outras pallauras a que parece que con-
vem Reposta.
,
.
i30 CARTAS DE AFFONSO DE ALBUQUERQUE
Outra carta de sua mao nam tem dias
Item: diz bem de Joham nonez.
E de garcia de sousa diz muito bem.
E de dioguo femandez diz muito bem.
E de symo martinz e de francisco corbynel, e dos filhos de lesnarte
d amdrade, aimda que diz que se danaram despois, mas que l purga-
ram suas culpas ..
E Jorje fogaa tambem diz que se danou, e ayres da sylua tambeem.
Que Jorje da sylueira se veeo contra sua vontade, etc.
E outro tanto diz que fez francisco serao, e amtonio paeheco, etc.
(Na margem de todos os itens) J.
8egundas de gODQalO de Sequeira
Suaaryo das cartas da Idia dar. aso d alboqueJ1ue e outras, trouxe IOI-
de Mfiein '.
. -... noua de sua vynda do ano de (612).
Item: outra tall ear&a como a que veio nas naos primeiras, que toca
a segurana da Imdia naquelas quatro cabeas que aponta, a saber,_ adem,
dyo, goa e como largamente estaa apontado no somario das car-
tas primeiras.
(Na margem) .... j
Item: outra tall carta sobre o modo do trato da lmdia, e como se
aproueitar, e elRey poder aver as Riquezas della, segundo que estaa
declardo no primeiro sumario.
(Na margem) gradecimento.-J.
Item: As escrauas que em via e joyas, e nesta carta falia do feyto de
callecut, cam grande e honrrado foy.
(Na margem) Gradeeimento.-J.
t Este summario est no caderno j citado: Cartas de Atfonso de Albuquerque,
etc. Ma. unico, N.
0
1.-Gonalo de Sequeira, segundo Falco, chegou a Lisboa em"
de julho de trstt.
I
CARTAS DE AFFONSO DE ALBUQURRQUE t-31
Item: que das joyas que vosalteza lhe espreueo que oooese, tem
cuidado.
(Na margem) Gradecimento.-J.
Item: A desobedieoeia que lhe fez francisco de saa na tomada do
batell, e que foy a primeira desobidiencia que lhe foy feita, e culpa (Riso
feijo e antonio de saa.
(Na margem) que Ruy gonalves tire testemunhas, e que nom soube
nada, etc. e que se l ficou algum dos que diz, o cas\igue.-J.
Item: A sua detriminaam primeira da yda ao mar Roixo que nam
onue efeit.o feito de goa.
Item: diz beem de garcia sousa e de Joham nonez, e diz nesta
earla os partidos que fez aos de malaca e a deniz fernandez, mestre de
froll de la mar, e a pero gonalves, pylloto prineipall d armada da lmdia,
que vay em b ( 5) anos que l amda.
(Na margem) que sy.-J.
E que as naaos que vao a malaca de vosalteza, leuam mercada-
rias pera caregar dez naaos.
(Na margem) Gradecimento e prazer.-J.
E as eousas manda trazer de mallaca pera vosa alteza, de joyas
a.das outras cousas que nam. sam vistas.
(Na margem) gradecimento.-J.
Item: as mercadarias sobre qne vos alteza lh espreoeo que sempre
lenase nas armadas, tJDe o faz.
(Na margem) que asy o faa.-J.
, ltfiiD : pannos e cousas que emvia ha vosa alteza, e sayo de brocado e
doas peas de vellodo, aljofar do tributo d ormuz que trazia duarte de lemos,
e o eabo do amdor, e hua adarga da persya da pesoa de xeque ysmael.
(Na ma1gem) J-que tudo lhe pareceo muy bem: d gradecimento
e as sellas e dargas e as cobertas, proveitosas pera c: que quando cou-
sas nonas hy ouuer, as enuie.
Item: pede muita crauaam de coiraas, e coiros pera ellas e fun-
didor pera crauaam.

(Na fnargMn} vay tudo.-J.
Item: muytas lanas e muytos piques.
(Na margem) vay.-J.
Item: muytos gorgozes .
(Na mrgem) vay.-J.

/


43i CARTAS DE AFFONSO DE ALBUQUERQUE
E allabardas e partcsanas pera as naaos que amdam vazias.
(Na m(Jrgem) J-vay.
Aperta nesta carta a segurana da lmdia, de que se lenbre vos alteza.
Item: que manda ficar por feitor em malaea Ruy daraujo, se J qui-
zer ficar.
E senam, diogo pereira, o qual nam quis asemtar na spreaninha
de oochym, e q u ~ sabe que avia da ,er deli e neeesidade na feitorya.
(Na margem) que pareceo bem, e que quando parecer que ha ne-
eesidade, o remedie.-J.
Item: que se vosa alteza quer Riqueza, nam vao lmdia naaos de
mercadores.
(Na margem) que asy se far, prazendo a deos.-J.
E que pera o negocio da lmdia ha l naaos que abasten1, se lbe
tnandar vosa alteza muytas lanas e muytas arn1as; e se mais naaos se
ouuerem mester, que l se dar forma como se faam.
(Na fTI,(Jrgem) J.-Que daqui por diamte asy se far, e que vao
algas pera ll ficarem, pellas nonas do soldam, e por a ver muyto qne l
andam as outras.
Item: que lhe mande vosa alteza c corpos d a ~ m a s apartados pera
cada fortelleza, e h c ( OO) lamas de pec e duzemtos piques e cem paue-
ses bizcainhos, porque nam ha nelas hua lana nem copo darmas.
(Na margem) que tudo lhe vay que elle o rcparta.-J.
Item: que quem be senhor de goa h o he do Reyoo de ciaaquem e
do Reyno de narsymga.
Em goa diz que ha muyta inarleira, moyto linho, muytos cari>enteiros
e muytos ealafates, muyto ferro, rnuylo salitre, e todas as cousas pera se fa ..
. zer bua grande armada, e pera se conquistar ualy todallas partes da lmdia.
(Na tnargem) J-gradecimenlo do feito se acabar: prazer da has-
lana, e que cstce muylo fornydo de tudo e sobejo c asy nas outras for-
talezas, c asy de mantimentos c deposito pera bj ( 6) m'ses, e se poder
ser, hum anno.
Muy grande Renda a de goa, diz.
Pede dons ou tres homens hoons da guerra e que ba conheam, pera
ajudar voso capitam tnoor, e qne em qualquer parLe que se acertarem sem
o capitam moor, Lomem sobre sy o peso de qualquer cousa.
(Na margent} que lhe manda os que se poderem avm, c Ruy gon-
1 J
, .
ca vez.- a.
...
CARTAS DE AFFONSO DE ALBUQUERQUE i33
.
Item: h o Recado dos homens que emviou tristam da cunha ao
abexy.
(Na margem) gradecimento, e se conuem mais noua, o spreua.-J.
! Item: carta da duuyda que l se moueo cerqua da detryminaam
das quintalladas e o que diso lhe parece.
(Na margem) J.
Esta carta h e toda pera ver pera a detriminaam: el Rey tem res-
pondido que ho leixa a elle. Saber se pasar asy esta Reposta.
(Na margem) leixao a elle.
Item: Os Recados que emviou a el Rey de narsy1nga, a saber, con-
fyrmar a paz e amizade que vosa alteza delle quis Receber, e a pedir
batecalla.
(Na margem) que lhe pareceo bem.-J.
O aviso que lhe mandey frey luis da gente que emviaua a goa, e
que se nam fiase de timoge.
(Na margem) timoje: sen1pre he bem gardarse de toda pesoa, po-
rm em tal maneira que nam parea que desconfiana, e que seja bem
tratado, etc.-J. .
Item: Como mandou symo Rangel e as causas porqu.
(Na margem) nom veo c.-J.
Item: o que diz sobre a ysenam dos capites mores que de c vao,
que ha por cousa de mito voso desseruio.
(Na margem) que pareceo bem.-J. ~
Item: o que diz do agrauo que se fez a yoo nunez em lhe tirarem
a capitania da sua naao.
(Na margem) que se prouer.-J.
4
Item: homens que em via nas naaos de mallaca que vao aos
chyns.
(Na margem) gradecimento, e que pareceo bem e os trar deos, etc.
-a .
Item: ocotor, que seu parecer he que se leixe, derribando a for-
1
Parece-nos que deve lr-se mandou em Jogar de mandey. Auetorisa-nos para
esta leitura o que diz Gaspar Correia (Lendas, n, 178): Ficou o governador provendo
muitas cousas de Goa, e concertando ~ u a armada, e fazendo a todos muitas mercs,
e 110m ao 'l'imoia, con1o mereciam seus servios, pola m vontade que lhe ganhou o
gotemador, 1 mail porque frei Luiz lhe escrevera de Bimeg, qtu se twm ~ s e tlelle,
etc.
15
4:34: CARTAS DE AFFONSO DE ALBUQlTERQUE
teleza, e que asy o espera fazer, leuando noso senhor ao estreito, e a en-
tregar aos mouros do fartaque e dofar com trebuto d encemo, e que nam
aleuamtem forteleza, porque logo ha ham dasenhorear, e que soomente

VIuam na pouoaam.
(Na margem) que lhe parece bem, e asentando com os mouros que
nom pasem ylha, e os christos viuam, e obrigando se a nom entrar,
amtes lhe leixe o tributo do enceno.-J.
Aponta o impedimento da fee que hi avia.
Item : quiloa, seu parecer h e leixalla aos moradores della.
(Na margem) que lhe parece bem e a fortelleza derribada e tributo
e vasalajem.-J.
Item: que ho marfim de quiloa he pouco, e que h o de ufalla he
muito.
(Na margem) Recolher tudo ho de quiloa .... e toda cousa.-J.
Item: Acerqua do de ufalla diz que lhe parece por tres ou quatro
annos se deue aremdar aos mouros de melinde, pera se saber mais ver-
dadeiramente o negocio de ufalla.
Tambem espera d apalpar em cambaia, se os mouros dhy querem
fornecer o trato de ufalla, e querendo fazer, que ha darya amtes a estes,
porque amansar mais ho trauto de cambaia, que he proueitoso pera o
mallabar e pera c e pera malaca e pera ormuz, e pera se gastarem as
mercadarias que de c vao.
(Na margem) flareceo bem ha sua alteza, e praticalo com simam de
miranda e tomar ate L ( 60000) miticaes, e segurarem at lf ( 40000) e
dhy pera cima, e o resgate na forteleza, e fazer com os que fOr de mais
seruio delRey.-J.
Item: falla no dano que fazem a nosa geente ao trato.
(Na margem) que ~ e proueraa.-J.
Item : que ofalla tambem lhe faz dano ho trauto d amgoje.
Item: que o dinheiro dos mercadores de ufalla vaa lmdia em co-
fre, e que l lho pague o feitor de dons em dons annos.
(Na margem) o que elRey Respondeo j a ysto.-J.
Item: a Roupa daneficada que estaa em ufalla, se denya trazer a
moambique pera aly se gastar na compra dos mantimentos.
(Na margem) que lhe parece bem e symam de miranda Iene este
Recado tambem.-J.
Item: que seu parecer he que em ufalla deu em comer em sall(t., e

CARTAS DE AFFONSO DE ALRTJQUERQUE i35
trazerem os mantimentos de fra, e nom os comprarem com panos na
terra, que faz abaixar o resgate do ouro.
(Na margem) que nom se faa mudana do em que estaua, e gra-
decimento. -J.
Item: que quando ufalla se nom arendase aos mouros, os mouros
de ufalla se deuem lanar, e tirar o trauto d angoje.
(Na margem) que lhe parece bem, e asy o manda ha symo de mi-
randa.-J.
Item: que no da gente de moambique se far o que vosa alteza.
manda; diz que se poderm aqui tanbem fazer muytas naos, porque na
ylha ha muyta madeira pera elas, e os mastos da terra de sam Loureno.
(Na margem) J.
Item: que aquy em moambique ha mester grande alogamento per a
gasalhado das mercadarias das naos que nam pasarem, e o Recado que
se deue ter nas naos que daly partirem, pera nam virem costa de por-
tugall d ynverno .
. (Na margem) a symam de miranda manda que asy se proueja.-J.
Item: de cochym a malaca xb (t) dias de nauegaam, diz.
E cambaya seis e at x dias de navegaam de cochy.
E ysto diz, porque ha .feitorya de melynde nam lhe parece necesa-
ria, e aponta pera yso muytas Rezes.
(Na margem) que se tire.-J.
Item: da gente que vosa alteza lhe apontou pera as fortalezas da
lmdia, que lhe parece asy voso seruio, emquanto elle andar junto dellas,
mas apartando se, lhe ha de leixar muyta mais pellas rezes que aponta.
(Na margem) que leixe toda a que lhe parecer, segundo o tempo.-J.
Item: a fortaleza de batecalla que ha nam mandou fazer, por ho nam
aver por voso seruio pellas rezes que apomta.
(Na margem) que parece escusado pelo que se ha de fazer.-J.
Item: falia em pouca geente na lmdia, e que as cousas de l que se
muy bem podem fazer pera segurana dela nam pecam d al.
(Na margem) a gente, que vay, e spreua a que l fica, e asy de-
clare a que pede, e asy das armas e cousas pea numero certo e nom em
soma.-J.
' Item : acerqua da paz vniuersall que vosa alteza lh espreueo, nam
he taJ. seu parecer' por as rezes que apomta.
(Na margem) que ho faa elle como lhe parecer seu seruio deles
55
-.

436 CARTAS DE AFFONSQ.DE ALBUQUERQUE
asentar que paguem, e que nam dem acolhymento a nehuom Rume e imigo
delRey.-J.
Aseseguo e amizade em que estaa com elRey de cananor, e asento
sobre as mercadarias que com elle fez, a saber: de darem h (5000) cru-
zados em dinheiro por mercadarias.
E li (5Doo) quintaes de pimenta cadano pelo peso acostumado.
E } ( 1000) e tantos quintaes de gengyure. .
(Na margem) J-gradecimento, e que Jhe encomenda que tenha
todo hoom cuidado do Rey e da terra, e que tenha rezam de ter dele con-
tentamento.
El Rey de tanor, que h e junto de callecut, fez asento com elle de dar certa
pimenta e gengyure cad anno e mais certos babares de gengyure de tributo.
Cochy d ase sego estaa.
(Na margem) he bem.-J.
E que com estes lugares homde se faz a carga ha por voso seruio
a paz, e que nos outros amtes ha ha por danosa do que prooeitosa, por
muytas Rezes, pois he causa de se Reformarem e fazerem fortes, e que
ysto ser bem quando vos alteza estiuer forte na Imdia.
(Na margem) j tem Reposta.-J .
Item: o que diz dei Rey de cochy e o que niso foy fazer de cana-
no r pera asentar o negocio. ..
(Na margem) que foy bem e que asy lho encomenda e manda, e
concerto.- J.
Item: concerto de coullam, que quer satisfazer todo o dano que tem
fejto, e mais que se faa .. forteleza, e que coregem ha igreja sua custa,
e dm a carega da pimenta pello preo e peso de cochy e achim e hareca
por mercadaryas, e que estaua em detreminaam de fazer a fortaleza na
ponta, a menos custosa que podese ser.
(Na margem) a forteleza escusada, o ai sy.-J.
Item: que callecut daa lugar que faa fortelleza omde quyzer, e que
pagam os mouros de toda a terra e o amory por elles jhe (1600) babares
de gengyure do babar de callecut; lanam os mouros de meca fra, peeo
cojecebicidim (sic) pera o mandar a vosalteza; faz a fortelleza camanha
quiserem e os gastos e despesas<. que nella se ordenarem, em pagamento
e satisfaam da fazenda que se tomou por morte d aires cora. E que
ysto estaa asy mouido amtre elle e el Rey de callecnt per meo de c o j ~ e b i
quim (sic). E qu os mouros de meca lhe dam hijc (100000) fanes, e que
CARTAS DE AFFONSO DE ALBUQUERQUE i37
espere pella annada do cairo, porque diz qu!Lelles ham de botar fra da
lndia vosas gentes.
(Na margem) J.-Callecut, paz: que parece bem, e com condi- -
am que nom naueguem pera aquelles lugares que lhe fOr vedado, asa-
ber, mar roi1o, ormuz; e que se nom tire pimenta senom do porto de co-
chy, e porm que I eixo a elle, etc. e asy o nauegar das drogas e dar parte
. a el Rey de cocby, e trabalhar que elle o rreeeba, e segurar a carga.
E que desta maneira estaa toda a costa do mallabar. E os de cana-
no r at batecalla todollos Ryos Jibc ( 6600) fardos d aroz.
(Na margem) J.
Item: ormuz que nam he perdido, mas voso, e paga as paryas e
nom as seemte, nem faam a vosa alteza crer outra cousa; e que pagar
quanto vosa alteza quiser. E aponta todas as Rezes do caso como pasou.
(Na margem) a elle.
Item: a feitoria das partes, que ha tirou como vos alteza mandou, etc.
(Na margem) fez bem.-J.
Item: o prouymento da roupa que pasa a ufalla, que logo se fez
como vos alteza h o mandou.
(Na margem) fez bem.-J.
Item: aeerqua do aviso. da prouisam dos gastos, que asy se faz e far.
Nom ha escrano em soldo; nom leixa veemder oficios nem capitanias.
Nem acrecemta hordenados, e que por este respeito vem de ll al-
guuns delles descomtentes.
(Na margem) gradecimento, e booas pallanras da oonfiama que
delle tem.- J.
Item: o soldo que l tem os criados dos fidalgos que l e
que de c vao, a bc ( OO) rs.
(Na margem) que fiquem no ordenado dagora.-J.
Item: ao ouuidor acrecentou o soldo e qnymtalladas, emquanto am-
dase no mar.
Todos os homens do soldo estam em ba (500) Rs, nem be mudado
outro em maior soldo.
(Na margem) que estaa bem.-J.
Item: que no que vosa alteza lhe spreue que nom entenda nas com-
pras e vendas de vosa fazenda, que asy o faz.
(Na margem) pero quando se acertar, nom se ocupando muito niso,
siba o que se faz.
-138 CARTAS DE AFFONSO DE ALBUQUERQUE
Iwm: o que toca aos oficiaes dormuz, que asy o far.
(Na margem) J.
Prouymentos que fez: a gaspar de paiua, a que depois deu a alleai-
daria de goa, e a capitania do nauio que elle tynha deu a francisco pam-
toja; a diogo fernandez a allcaidaria de cananor, e depois trocou com o
capitam da gall grande.
E depois lhe deu a capitanya do Rey gramde.
E a capitanya da gall gramde ha duarte da sylva.
E a gaspar de payua deu depois a capitanya da nao frol da rosa:
E agora lhe deu a capitania da lionarda.
E se prouuer a deos que vao a ormuz, que .todos averm seus oficios.
(Na margem) J.
Item: que a ofalla seu parecer h e que abastarm R ( 40) homens.
(Na margem) prouido est.-J.
Item: que ha muytos ducados na Imdia e que vay a ella muyto ouro
doutras partes, afora o de cu falia, e vay muyto ouro em pedaos do cairo.
E que dous Judeus que tomou na naao de eallecut lhe diseram que
cada seis meses vem duas cafillas douro ao cairo, e que trazem gramde
camtidade. ..
E que seu caminho h e pelo deserto (1) de barcas, e que leuam o dito
ouro em camelos, e fazem seu caminho por estrella e tem pillotos deste
caminho: dizem que vem d hua teerra que chamam agogilla, e a gente
que se chama dacrures, porque ha terra se chama dacrur; diz que desta
terra vao a outra que se chama feizam, e de feizam vao a tucly, e de
tucly vao a tenate: vao nestas cafilas homens bayoneses da ley de ma-
famede, e que s vezes vay na cafylla huum gramde senhor que se chama
azquya, negro de g ) ~ e e , e traz muita gente eomsyguo, negros como os
de guinee ; as mercadarias que leuam do eairo .aam caracoes das iij
( 12000) ylhas; leuam huuns panos que se chamam Roeas de frana; diz
que leuam hiias vergas de cobre amarello que vem de veneza, e leuam
toda sorte de comtas, leuam alaquequas, e asy leuam alga especearia e
roupa d algodam da Imdia, e que ~ e u caminho he pello sertao douram
at chegar ha tremecem.
(Na margem) gradecimento.-J.
Item: o que diz aeerqua da yda do mar Roixo, sobre que vosa al-
teza lhe spreueo, que asy espera de o fazer, prazemdo a deos.
(Na margem) J.



CARTAS DE AFFONSO DE AIJBUQUERQUE '39
Item: Acerqua das sete naos com que vosa alteza lh espreueo que
ficase, o que diz.
(Na margem) J.
Item: a gente que de c vay, que vay toda desarmada e que h e de
maa feiam.
(Na margem) J.
Item: O credito que os mouros diz que tem n armada do soldam que
esperam, que faz mais dano do que a vinda da propia armada.
(Na margem) J.
Item: aeerqua do comer da gente em salla, que asy o meteo em vso,
. mas que ouue hy pesoas que escandalizaram disso a gemte, e nom ho
pOde oonseruar; o que diz destes que ysto causaram.
(Na margem,) pareceo bem.-J.
Item: dos mantimentos que ham da ver os capites estando em terra,
que asy se far.
(Na margem) J.
Item: o que diz d aadem que he hua das cabeas que aponta, e que
eU e ha espera de ver, prazendo a deos, e fazer o que noso senhor lhe ordenar.
(Na margem) que asy o espera.-J.
Lenbra aquy tanbem a segurana da lmdia com estas quatro cou-
sas, sem a qual diz o que vosa alteza tem visto pelas cartas.
(Na margem) J. ~
Item: que naaos de iiij braas e h (5) vao diante do porto de Jud,
porm que surgem lomge do porto, porque he terra apareellada.
Falia aqui nos lugares de zeylla e de barbora e dos outros que aquy
aponta, e o modo do trato delles.
Aperta tomar adem e seguralla e nam estar em pazes com ella, se-
nom ganhalla aos mouros como elles a ganharam aos mouros, e que sos-
tella segura o mar roixo; e daa Rezes pera se nom deuer fazer fortelleza
dentro no mar roixo.
(Na margem) gradecimento.-J.
Item: o que diz do mar da persya, e em comclusam diz que ormuz
e a ylha de babarem fazem a vosa alteza senhor de toda a persya, se as
asenhoreaes, que elle ha por cousa fazedeira.
E que aliem disto quem teuer os cauallos da persya, tem os Reynos
de daaquem e de narsynga nas maos, e que ao menos vos pagar mliy
grande trebuto a quem os leixardes vender e leu ar.
'iO CARTAS DE AFFONSO DE AIJBUQUERQUE
(Na margem) J.
Item: falia do que ha em canbaya de mercadaria e cam proueitoso
trato, e que pede paz de vosa alteza. ,
(Na margem) adem, arar.-J.
Item: que se se as mercadarias que vem pello mar roixo
Imdia, seria maior riqueza pera vosa allteza que ho traulo das espe-

ceariaS.
O trato e feitoria de vos alteza diz que querya dentro em canbaya,
porqu espraya o mar h ( 5) ou bj ( 6) legoas.
(Na margem) J.
Item: acerqua do aviso do gengyure, que emviam booa soma, e que
. daqui por diante se far eomo vos alteza o quer, prazem do a deos.
(Na margem,) que asy o espera.-J.
Item : falla no gengiure que se poder fazer em goa.
(Na margem) trabalhar por se fazer e fallar em ... e parte daquy
folgaua muyto.-J.
Item: a verdade e seguros, que se faz e far o que vos alteza manda
e que ysto em gran desordem, e se seguya grande escandallo.
(Na margem) que asy se faa, e comprir o que elRey dise, queles
que estam debaixo da paz dei Rey e somente lhe leuantarem os lugares e
nom lhe darem seguros.-J.
Item: Recebimento das joyas dos reis oom que asentar, que asy
se far.
(N(J margem) que asy o faa.-J.
Item: as mereadarias de cobre que se gastem nos lugares com que
asentar, que asy se far. .
(Na margem) que asy o faa, e asy nas outras mercadarias de
c.-J.
1\em: Acerqua das esmollas, que asy se faz.
(Na margem) que as hordene na maneira em que lhe milhor pare-
cer.-J.
Item: o que diz de casamentos e christaos que se fazem,. e booa es-
perana que tem.
(Na margem) gradecimento.-J.
Item: a seda, que se far como vos alteza manda.
(Na margem) que asy o faa e yr o preo della e soma.-J.
Item: o que ace.r:qua dos soldos e gastos da Imdia, sobre'Jue
~ .
CARTAS DE AFFONSO DE ALBUQUERQUE ~ ~ ~
vosa alteza lhe espreueo, e o que niso trabalha: afyrma se que pera es-
cusar vos alteza os gastos e despesas da lmdia, se asem te nas quatro ca-
beas que diz, porque estas escusam as despesas e vos seguram a 1m-
dia, etc. .
Item: as nonas do feito de callecu, camanho e cam honrado foy.
Item: falia nas cousas de mallaca e a determinaam em que estaua
do caminho que fazia, e hyr a ella fazer forteleza na ylha que apomta.
(Na margem) que faa o que fr seu seruio, arando primeiro o
d ~ c e com segurana e bem bastecida de mantimentos e agoa e as ou-
tras calidades de fortelezas.-J.
E que nom estaa em preposyto de entemder na carega das naos,
porque os feytores abastam.
(Na margem) que asy o faa.-J.
E a villa da madeira, que mandaua Reformar.
Falia em diogo Iopez de sequeira.
Falia que acabando estes cousas, ser tempo de vosa alteza mandar
por elle ..
Falia nas emvejas dos capites, e lenbra o castigo dyso, porque se
nam faa dampno nas cousas gramdes de voso seruio.
(Na margem) J-prouer: acerqua da vinda nom falle, senom a es-
tada, e trabalhe por seruir, porque elle ter cuidado do que cumpri se a sua
91l1Ta,ete.
Item: o que falia (?) em ffe.p.a .. (sic).
E na paz que comete callecut ser como fica atrs.
(Na margem) J.
Item: Acerqua do que vosa alteza lhe spreueo da gente que pode-
rya e deuerya ficar na India, diz que se nam saber por o presemte de-
tryminar, atee ver como se asentam as cousas, com outras Rezes que
aponta do que se deue fazer pera segurardes a Imdia, que parecem fra
da tenam com que vosa alteza emtam lhe spreueo da paz vnyuersall, etc.,
e das outras cousas que elle nom ha por voso servio, segundo seu juizo.
(Na margem) Respondido, e por esta armada a gente que fica, e
mais se a ouuer mester e pera qu.-J.
Item: falia em jorje fogaa e em francisco de saa, que os deue vosa
alteza mandar premder at emviar os autos, e diz que os soltou duarte
de leemos.
(Na margem) J.
56
..
442 CARTAS DE .&\Ji,FONSO DE ALBUQUERQUE
Item: agraua se de francisco pereira, que fazia onyes e bandos com
os homens que lhe pediatn licema, e que leixou o nauio.
(Na margem) J.
Item: falia nas nonas que tynha da armada do solldam e que se
aviam por certas.
(Na margem) J.
Item: hua carta gramde em que Responde a vosa alteza por eapi-
tollos a cousas nam bem hordenadas que se faziam, a que daa rezes do
tempo d ante que elle teuese a governana, e depois que ha tem, e que
todas sam prouidas e se fazem asy como vosa alteza ho manda e de
neira que em todas soes seruido.
(Na margem) gradecimento.-J.
E nesta carta falia no da moeda falsa, sobre que vosa alteza lhe
spreueo que de c hia, que l nam pareceo, e que por yso, nam ouue por
voso seruio fazer niso diligencia.
(Na margem) que fez bem.-J.
Item: agraua se de duarte de lemos, que nom comprio o que lhe
mandou dizer, s pena do cas6 maior, que a goa, pelas rezes que
aponta em sua carta.
(.Na margem) J.
E que tratou em cananor muy mal ho embaixador dei Rey de cam-
baya que vinha a elle; trouxe mouros de cambaya vista do dito embai-
xador.
E aponta aquy alguas outras desordens que por elle pasaram, as
quaes nam coregeo nem emendou como deuya, por voso seruio, por o
Receo que tem de o fazerem ante vosa alteza menencoryo e maao de sofrer.
(Na margem) que castigue o que lhe parea, e que lhe faz saber
que h o nam tem senom por muito sofrido. --J.
Item: agraua se de gonalo de sequeira, que tirou yoam nunez de
capitam da nao que lhe elle deu e com que lhe tinha mandado que fose
por goa pera prouer as cousas que apomta de seruio de vos alteza, e que
a rezam que a ysto dar gonalo de sequeira nam ha sabe; e que os ho-
mens se encomendam ha nam fazerem nada do que lhe he mamdado, que
he cousa de grande voso desseruio naquellas e que ha maneira
de que foy delle tratado gonalo de sequeira e com quamto credito de sua
pesoa e cortezya, vosa alteza ho saiba c. -
(Na marg8fll,) J.- Ruy gomez.-Jj.
CARTAS DE AFFONSO DE ALBUQUERQUE
Item: o presente de que lhe emviou, que manda a vos alteza.
(Na margem) gradecimento.-J.
Item: collar de pedrarya de cananor e soma dambar.
(Na margem) amtam de gaa.-J.
Item: o caualeiro turco.
Item: carta Qtais particullar do feito de goa e da gente que nella
morreo.
(Na margem) gradecimento, e aos capites gradecimento.-J. Carta
sobre os prouimentos que vao, e aos de l primeiro que ho merece-
rem.-J.
Item: a em que ficaua de byr emtrar o mar roixo e
fazer o caminho que damtes tynha sprito.
(Na margem) J.
Item: que leixa todas as rendas a timoge, tiramdo as da ylha;
de pagar o soldo aos portugueses e a toda a.outra geente necesaria; ha
hy cR (140) cauallos.
(Na margern) que elle far o que fr bem e seu seruio,. e o segu-
rar da gente e o ryo de goa que dizem que se pde arar, segurallo.-J.
Item: as seellas que pede e freyos.
(Na margem) que as que se poderam achar, vo.
Item: os casamentos que se fazem em goa e a maneira que nyso
tem, etc.: ha hy iiijel (450) almas christas catyuas.
(Na margem) ,.
Item: que os bens e terras da mezquita leixa ygreja de emvoca-
am da senhora samta catharina, em cujo dia noso senhor deu a vitorya.
(Na margem) que lhe praz diso: ornan1entos, pois elle os manda,
boons; levem duas duzias de castiaes, i dalampadas, hirm bacios
d ofertas duzia- a diogo fernandez.
Item: amostra das cubertas que emvia, que todos geralmente tra-
zem nos cauallos, e as outras mostras d espingardes, etc. que envia.
Item: as bombardas grosas que enviaua.
(Na margem) gradecimento, e novidade que envie.-J.
Item: caualos que mandou a el Rey de narsymga.
Item: ho que fez diogo fernandez com a gente com que h o em-
fra; e a terra que j estaa por vosaaltesa, e alcaides em cada
lugar.
(Na m,argem) gradecimento.-J

. .

1



CARTAS DE AFFONSO DE ALBUQUERQUE
Item: gemgyure que vosa alteza pode a ver de goa laurado pellas
suas gentes .
Item: Responde ao que vosa alteza lh espreueo acerqua do cuidado
que deuia ter das cousas do seu carego, tendo lhe em merc a merc que
niso lhe fez, etc.
(Na margem) J.
Item: que sua pesoa sempre amdar no mar como vosa alteza lho
spreue, e que esa determinaam tynha tomada.
E nam imvernar em cochym pelo que apomta dos gastos e despe-
sas que se fazem nos mantimentos da gente e na carpentaria das naaos.,
e por a armada seer mais cedo junta pera o que se ouuer de fazer, por-
que ynvernando em goa, he a armada jurr1ta em agosto, e imvernando em
cochy, nom pde sayr daly senam por todo nouembro.
(Na margem) que lhe parece n1uy bem, e asy o andar no mar: lem- -
brar a guarda de callecut.
7
J.
Item. que vao mais armeiros.
Item: que ha iiijc (400) homens na lndia que nam teem espada,
. nem lama, nem armas de corpo.
Item: A Ruy de brito que hia por alcaide ha cananor, deu a capi-
tanya de huum nauyo. E deu a alcaidarya ha Ruy galuo. E a capitanya
do castelo do paso a dom femando dea.
(Na margem) que he bem, e que as provyses acer-
qua dalcaidaria e capitani!l de cananor.-J.
Item: diz dos messegeiros que lhe vieram de batecala, depois da
vinda de Loureno moreno, a concertar as pazes, e presente que lhe trou-
xeram, que nam aceitou, e que lhe dao jbc (1600) fardos daroz e elle
estaa em dons myl, ainda que se quisesem leixar feitorizar as mercado-
rias de vosa alteza, lhe nam tomarya nada.
(Na margem) que ho faa como vyr que he seu servio.-J.
Item: diz das cousas que l pasam a que nom prouee, e principal-
mente do que pasou na nao omery que tomou o seu nauyo, que nam quis
consentyr duarte de lemos que entendesem nella vosos oficiaes, e que
vosa alteza foy nisto muyto desseruydo.
(Na margem) que eu prouerey c.-J.
Item: di! muyto bem de dioguo mendez e asy de jorje nunez e asy
de manuel de Iacerda e dom joham e dom geronimo_,e gaspar de e
dioguo fernandez e pero d alpoem e denis femandez, e diz muito bem deste.

CARTAS DE AFFONSO DE ALBUQUERQUE ii5
(Na margem) que os filhos de lesuarte d amdrade, que avemdo cousa
despejada, os proueja, e que estes sejam primeiro prooidos e bernaldim
freire.-J.
Item: que fica satisfeito e contente dos capites que amdam com
elle, de serem seus amigos, mansos e boons de eontemtar, e que ho aju-
dam bem, e enega dos pasados, e que nam os noma, porque nam
querya ver mal a nymguem.
(Na margem) que bapraz.-J.
Item: diz que com a segurama de , goa fica el Rey de daaqnem ,e
el Rey de narsymga voso trebntaryo, e se asy nam fOr, que lhe nam faa
vosa alteza nenhoa merc.
E qoe ham gram medo de verem poher vosa gente a cauallo. E seu
parecer he que vosa alteza ho deuia apalpar.
E que se vosa alteza quer ser senhor da Imdia, que faa vosa alteza
fundamento de ter em goa mil homeens por agora, como em cabea prin-
cipal e asento de voso capitam moor.
(Na margem) segurar goa lheneomenda
Item: que lhe mande vosa alteza ijo (200) selas de cauallos boas e
bem aparelhadas.
Estrybos, freos e esporas aver l.
Que mande vosa alteza pelo presente grande soma de moeda de co-
bre, e algua de prata do peso e bomdade da mostra que. mamda, asy da
que mamdou laurar, como da dos mouros.
(Na margem) que este anno se nom pde mandar e que l se far
milb.or.-J.
Lamynas pera coiraas, cravaam e coiros, e principalmente vaza-
dor da craoaam.
Item: que as mereadarias que se gastam em goa sam dlamalotes
de cores, Eserallatas Rezoadas e dellas fynas, brocados d arezoada sorte
e alguns Ricos, poucos; Corall e cobre laurado -e por laurar e azougue
pouco.
(Na margem) J.
Falia na pesoa do eapitam que aly ouner d estar, qnal deue ser.
(Na margem) Rodrigo Rabelo homem de bem, e se lhe parece bo- _
mem pera yso.-J. .
Caualos, soldos, mantimentos, oficiaes de toda sorte, ferro, salitre e
linho, diz que ha hy tudo em abas&ana.

..

4i6 CARTAS DE AFFONSO DE ALBUQUERQUE
O que faz nos casamentos dos que aly casam.
Fieaua em botar daly sete naos ao mar e se hir via de cambaya,
e o mais que tem sprito.
Pede Reemos- de gallees.
(Na margem) alguuns que se nom poderam aner.-J.
Item: hua carta grande do que diz que lhe dizem que faliam ante
vosa alteza delle, por lhe danarem e apagarem seus sernioa, e daa. Re-
zam largamente do que tem feyto, etc.
(Na margem) que nom crea cousa qoe lhe digam, e contentamento,
etc.-J.
Item: h o Roll da gente do feito de goa que emviou.
(Na margem) ouue prazer, e avise dos que bem nom
Item: a joya que diz, qne tomou duarte de leemos da nao omery que
tomou o seu nauio, a qual diz que tomou em alaquequas, cousa em que
vosa alteza foi, diz, muito desseruido.
(Na margem) prover.-J.
Item: que determine vosa alteza as naos que comvem ficar na Imdia,
e as que tomar, porque os mercadores leuam seus eontrautos tam fortes
que nam ousa de os pasar, porque, aimda que nam veja o perigo porta,
ser pera sua desculpa, se as tomar.
E qoe ysto convem pera o que espera em deos de fazer.
(Na margem) escusado.-J.
E que pera a segurana da Imdia hiiua fora e hiloa navegaam
acabar tudo, e se as cousas amdarem por biquos, gastar vosa alteza
muyto e nom yr nada avante, porque, a seu entender, vosa a)teza nam
pde soster a Imdia senam dela. E portamto aperta asemtos nos lugares
que diz, e que com as Remdas deles vosos capites ha defenderm e aeo-
dirm. ao capitam moo r hoinde estiuer.
E desta maneira a ver l poder, Reemda, soldos e naaos e mando,
sem aver de vosa alteza necesidade.
E poderm andar naos a mallarA e a bemgalla e a ormuz e a cambaya.
E que desta maneira aver vosa alteza toda ha Riqueza.
Item: que nam ha por conselho bulyr vosa al\eza tanto com
os oficiaes della.
(Na margem) que parece bem.-J.
Item: que faa vosa alteza o soldo da yndia huum. E faDa no sqldo
d oytocentos rs dos criados dos fidallguos que l ficaram, que ainda ham.
..
CARTAS DE AFFONSO DE ALBUQUERQUE '"-7
(Na margem) J.
Item: se os soldos acreeentados do viso Rey e quyntelladas averm
efeito, ou se as tirarm de todo, e asy as das capitanyas, mestres e pil-
lotos.
(Na margem) acrecentamentos que os tire.-J.
Item: contador em que falia pera tomar as contas l somariamente,
pelas Razes que aponta.
(Na margem) que he bem gaspar pereira omde estiuer as tome, e
nom estando, encaregue outro, diogo fernandez.-J.
Item: capites da suya.
"
Item: carta pera dom garcia sobre sua ficada.
(Na margem) J.
E carta a afonso d alboquerque sobre iso, como el Rey dise, se elle
quiser que fique.
(Na margem) J.
E carta a amtonio reall sobre sua vymda, se quiser,. e avendo de
vir, carta a afonso dalboquerque que lhe dee hua naao em que venha.
(Na margem) J.
E carta que, vymdo elle, fique no carego da Ribeira o coro, asy
como elle era diso encaregado. .
(Na margem) J.
E nam se vymdo amtonio real, fique na capitanya da gal gramde
o coro.
(Na margem) J.
Item: a afonso d alboquerque solie os seguros, que nam se deem
aos que esteuerem na paz e amizade delRey, e naueguem sem elles, nam
entrando o mar roixo, nem navegando pera parte pera bonde posam leuar
espiciarias, de que el Rey seja desseruido, ysto lembrando a afonso dal-
boquerque, pera elle fazer o que for_ mais seruio delRey, e dizemdolhe
que como fr seguro e saneado que nam leuem espiciarias a lugares per
que posa pasar ao mar roixo, todo ho ali se escuse, porque asy se asen-
tem milhor as cousas da India.
(Na margem) J.

..

,,8 CARTAS DE AFFONSO DE AIIBUQUERQUE
Item: carta a afonso d alboquerque sobre o gastar da pimenta nas
partes de l, em que toca franciseo corbinel.
(Na margem) J.
Item: Resposta a francisco corbynell das cartas que spreueyo.
Item: lembre o que a ver dom garcia ficamdo na Imdia.
Item: aluaro de brito a alcaidaria de oochym, vymdo se amtonio
Reall, se parecer bem a afonso d alboquerque, e carta a elle diso.
(Na margem) J. .
Item: vymda das D3&0S da carega, como vyrm.

FUI DO TOMO I


r:
;, J- E Ji . . . '
~ f . r'
J .l J ~ ) ' :' j
'-

Você também pode gostar