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Eleições Angola: “Recebemos ordem da CNE para não afixar a acta síntese", diz membro de assembleia de voto


Uma delegada de mesa exibe um boletim de voto após início da contagem. Escola de São José de Cluny, Luanda. Angola
Uma delegada de mesa exibe um boletim de voto após início da contagem. Escola de São José de Cluny, Luanda. Angola

"Ordens superiores", alegadamente provenientes da Comissão Nacional Eleitoral (CNE), estão a impossibilitar a afixação pública e entrega das actas sínteses em algumas assembleias de voto em Luanda, segundo fonte da VOA.

No centro de Luanda, mais propriamente na Avenida Lenine, há uma das muitas assembleias de voto em Luanda em que até ao momento não foi afixada a acta final resultante da contagem dos votos.

“Estamos a ser muito pressionados pela CNE”, confessou um membro da assembleia de voto que prefere não ser identificado por temer represálias.

Nesta assembleia quase todos os delegados dos partidos políticos, incluindo o do MPLA, já se retiraram, mesmo sem a acta síntese.

Fernando Nandilson, delegado da UNITA, é o único que se recusa a abandonar a assembleia de voto sem o documento que atesta os resultados da sua assembleia.

Fernando Nandilson, delegado de mesa da UNITA, em Luanda. Eleições Gerais em Angola
Fernando Nandilson, delegado de mesa da UNITA, em Luanda. Eleições Gerais em Angola

“Assinámos as actas síntese e eles falaram que vão nos entregar. Agora, tudo no fim não querem entregar as actas. Estamos aqui entre a espada e a parede sem quererem nos entregar as actas”, disse Nandilson à VOA.

“Eles estão a dizer que a CNE disse que não podem dar nem colar as cópias das actas sínteses”.

O delegado da UNITA garantiu-nos que não vai sair da assembleia de voto sem antes receber o documento. “Não posso sair daqui sem a acta síntese”, afirmou.

Contactámos a CNE para um pronunciamento sobre estas alegações mas não recebemos resposta imediata.

“Estamos aqui a fiscalizar o voto nosso voto”

Como o senhor Fernando Nandilson, outras pessoas aguardam avidamente em frente das assembleias de voto pela afixação das actas sínteses.

A publicação das actas sínteses é uma obrigação legal, como aponta o artigo número 9 do artigo 86 da lei eleitoral angolana.

Laura Macedo, activista angola.
Laura Macedo, activista angola.

Laura Macedo é activista e tem feito uma ronda por Luanda para observar o grau de cumprimento da lei no que à divulgação das actas síntese diz respeito.

“A lei é clara. Os delegados estão nas mesas para supervisionarem pelos partidos concorrentes. Aqui nesta assembleia não entregaram a acta a delegado nenhum”, diz Laura Macedo.

“Eu apelo às direcções dos partidos que reclamem. Não vamos reclamar amanhã, vamos reclamar hoje. Eu votei e eu quero saber quem ganhou na minha assembleia”, disse-nos a activista.

Na escola no 1519, no Rangel, as ruas estavam pouco movimentadas. Já se passavam das vinte e uma horas mas nem isso impediu um grupo de cerca de 10 jovens de permanecerem ao relento à espera dos resultados.

Eles se dizem abertamente como apoiantes do movimento “votou e sentou”, uma iniciativa sustentada pela necessidade de se defender o voto.

“Se a gente não fiscalizar o voto, quem fiscaliza por nós?”, diz Jackson Bruno, de 24 anos.

Nick Santos, 25, diz que se sente obrigado a estar informado sobre todo o processo pois olha para ele como o desfecho de uma antiga intenção de mudança em Angola.

“Estamos conscientes que vamos ter uma mudança. Estamos em um momento histórico, a celebrar algo inédito em Angola”, diz ele.

Nesta assembleia de voto a acta síntese só foi afixada depois das 22 horas, depois de muita pressão feita por estes jovens determinados em não arredar o pé do local sem a publicação dos resultados.

“Ouvimos alguns rumores de que em algumas assembleias as actas não estão a ser publicadas. Aqui esperamos, insistimos e felizmente as actas foram afixadas”, diz Nick Santos.

Até ao momento em que publicamos esta reportagem, eram reduzidas o número de assembleias de voto que já tinham as suas actas sínteses afixadas. Em grande parte delas, os presidentes de mesas garantem que elas seriam publicadas mas “sem hora prevista”.

Israel Campos

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