Na melhor das hipóteses, a mídia regional ficou confusa com a peça suspeitamente cronometrada do Diplomat de DC ou quis gerar clickbait, enquanto o pior cenário é que alguns estão espalhando desinformação deliberadamente.
O sul da Ásia foi atingido por um ciclone de notícias falsas nos últimos dias, depois que começaram a circular notícias sobre Gorkhas nepaleses supostamente se juntando a Wagner em massa. A revista de DC “The Diplomat” iniciou esta tendência narrativa em 17 de junho em seu artigo que ampliou reportagens locais sobre os cidadãos daquele país que supostamente se ofereceram para se juntar às Forças Armadas Russas. O artigo desse meio de comunicação mais popular não mencionou Wagner, mas serviu para plantar essa ideia geral na mente de seu público internacional.
Após a tentativa fracassada de golpe de Prigozhin no fim de semana passado, esses relatos foram recolhidos pela mídia regional. Alguns podem ter sido inocentemente confundidos em igualar um número estatisticamente insignificante de recrutas Gorkha relatados nas Forças Armadas Russas com a adesão a Wagner, enquanto outros podem ter explorado a infâmia recém-descoberta desse último grupo para fins de clickbait. Também não se pode descartar que algumas dessas saídas podem até ter segundas intenções relacionadas a semear a desconfiança entre a Rússia e o sul da Ásia.
Deixando de lado suas intenções especulativas, há três razões para suspeitar desses relatórios. Para começar, há uma grande diferença legal entre os estrangeiros ingressarem nas Forças Armadas Russas e eles ingressarem na Wagner, especialmente à luz dos eventos recentes que provavelmente resultarão na dissolução desta última . Em segundo lugar, independentemente de qualquer um desses dois que alguém no exterior pudesse ter se juntado anteriormente, eles quase certamente estavam participando da operação especial e não lutando em nenhum outro lugar, a menos que falassem russo.
Esta avaliação baseia-se no fato de que a interoperabilidade perfeita entre as unidades não é necessária para conter a contra-ofensiva apoiada pela OTAN de Kiev ou o avanço nas linhas de frente. Por outro lado, é um pré-requisito para a realização de operações táticas altamente especializadas em ambientes de guerra não convencionais que caracterizam as atividades de Wagner na África e na Ásia Ocidental. Com isso em mente, todo o pessoal do sul da Ásia teria lutado apenas na operação especial, não na África ou na Ásia Ocidental.
A razão final para suspeitar desses últimos relatórios é que eles se tornaram virais logo após a tentativa fracassada de golpe de Prigozhin. Seja inadvertidamente devido aos motivos mencionados anteriormente relacionados a clickbait e confusão, ou deliberadamente como resultado de uma operação de inteligência ocidental, a proliferação desses relatórios neste contexto delicado pode causar problemas entre a Rússia e seus parceiros do sul da Ásia, que atuam como um dos pilares da sua estratégia não-ocidental.
Para explicar, os governos locais podem ser levados a examinar a atividade de todos os russos em seu país se acreditarem que Wagner está recrutando seus cidadãos, o que pode levar à discriminação se ficar fora de controle e, assim, prejudicar as relações bilaterais. Da mesma forma, alguns na Rússia podem ser levados a pensar que os governos locais podem estar em conluio com Wagner, apesar do incidente do fim de semana passado, que eles podem suspeitar ser motivado por propósitos antiestatais inspirados por agências de inteligência ocidentais .
Esses três pontos dão credibilidade à conclusão de que o último ciclone de relatórios sobre Gorkhas nepaleses se juntando a Wagner é impreciso e inorgânico, já que não há evidências de que eles tenham sido recrutados em massa, embora existam razões pelas quais agências de espionagem estrangeiras gostariam que essa falsa alegação se tornasse viral. Na melhor das hipóteses, a mídia regional ficou confusa com a peça suspeitamente cronometrada do Diplomat de DC ou quis gerar clickbait, enquanto o pior cenário é que alguns estão espalhando desinformação deliberadamente.
Fonte: Boletim Andrew Korybko
