O Brasil é um dos três únicos países do planeta que fazem fronteira com dez ou mais vizinhos terrestres – os outros dois são a Rússia, com 14, e a China, com dez. Por isso, precisa ter tato diplomático para lidar com países com todo tipo de orientação político-ideológica. O arco de 15.700 quilômetros que vai da Tríplice Fronteira, na foz do Rio Iguaçu, em pleno Sudeste, até o Oiapoque, limite setentrional com a Guiana Francesa, reúne, pela primeira vez, governos irrequietos e até instáveis, cujas atitudes não podem ser para sempre tratadas com bonomia e condescendência.
Se a Amazônia subiu ao topo das prioridades para as Três Armas, a proteção a riquezas emergentes no Atlântico tende a mudar radicalmente o perfil modorrento que a Defesa assumiu em décadas recentes. Daí a preocupação do almirante Moura Neto, também, com a vigilância das águas, cuja exploração econômica é reconhecida como de direito do Brasil. São 4,4 milhões de quilômetros quadrados, ou metade do território brasileiro. “Amazônia Azul”, eis como seus colegas de farda a chamam.
Nela, figuram as jazidas submarinas que, entre os litorais do Espírito Santo e de São Paulo, prometem transformar o Brasil em exportador de petróleo. E, também, as rotas dos que atacam as tripulações de barcos mercantes, dos contrabandistas de armas e dos traficantes de tóxicos, sob vigilância dramaticamente precária. Por falta de recursos, o controle por radar do tráfego marítimo na área da bacia fluminense de Campos inexiste. Para monitorar a extensa costa do Amapá, onde é desovado o contrabando oriundo das Guianas, a Marinha dispõe apenas de um navio-patrulha de 200 toneladas. Seu canhão atira, no máximo, a 12 quilômetros.