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    Rússia inicia ataques cibernéticos contra a Ucrânia, dizem especialistas

    “É uma nova interface, que vai muito além dos tanques, aviões e navios. É possível paralisar uma nação, tirando do ar sistemas cruciais para o país”, diz à CNN especialista em segurança digital

    Peritos afirmam que alguns sites do governo ucraniano estão inacessíveis desde o início do confronto armado
    Peritos afirmam que alguns sites do governo ucraniano estão inacessíveis desde o início do confronto armado Mika Baumeister/Unsplash

    Lucas JanoneThayana Araújoda CNN

    no Rio de Janeiro

    A Rússia iniciou um ataque cibernético contra a Ucrânia. É o que confirmam especialistas em tecnologia e segurança digital ouvidos pela CNN, nesta sexta-feira (25). A investida pela internet acontece simultaneamente ao avanço das tropas russas em território ucraniano, que teve início há dois dias.

    Os peritos afirmam que alguns sites do governo ucraniano estão inacessíveis desde o início do confronto armado. O mesmo acontece com bancos virtuais e instituições financeiras, que não realizam transações há pelo menos 24 horas. Os ataques cibernéticos nestas plataformas também foram confirmados pela empresa de segurança digital, Symantec, por meio do Twitter.

    “Uma nova forma de malware de limpeza de disco (Trojan.Killdisk) foi usada para atacar organizações na Ucrânia pouco antes do lançamento de uma invasão russa no país. Os setores visados ​​incluíam organizações dos setores financeiro, de defesa, aviação e serviços de TI”, destaca a nota da empresa.

    À CNN, o professor de Direito e Coordenador do Centro de Tecnologia e Sociedade da Fundação Getúlio Vargas (FGV), Luca Belli, afirma que o corte do sistema elétrico e a restrição da internet na Ucrânia são os próximos objetivos da invasão cibernética russa. Ele garante que a estratégia pretende “minar completamente” uma estratégia de defesa.

    “A guerra que estamos presenciando acontece de forma híbrida. Junto com a invasão militar mais clássica, com tanques, temos agora uma invasão cibernética. Além da inutilização de sites, é bem provável que os sistemas de energia, telecomunicações e redes de internet sejam severamente interrompidos na Ucrânia para criar caos durante a invasão. A população sem eletricidade, acesso à televisão e à internet, não consegue se organizar. E isso facilita muito a invasão russa. Os russos dispõem de tecnologia de ponta e vão utilizar tudo o que for possível para vencer a guerra”, afirma o Coordenador do Centro de Tecnologia e Sociedade da FGV.

    Luca Belli também explicou qual é a metodologia adotada pela Rússia para tirar do ar as principais plataformas digitais do governo ucraniano.

    “O ataque utilizado pelos russos para tirar do ar alguns sites importantes é nomeado DDoS. É um tipo de ataque destinado a sobrecarregar as páginas com um enorme número de solicitações de acessos fabricados artificialmente. A demanda por aquele site aumenta muito e, consequentemente, o serviço correspondente fica indisponível”, ressaltou.

    Para o especialista em Tecnologia e Segurança Digital, Arthur Igreja, os ataques cibernéticos “massivos” na Ucrânia não surpreendem, já que a Rússia é um “território fértil para hackers”. Ele destaca que a internet se tornou uma nova interface para a realização de uma guerra e que os russos se tornaram especialistas nesse tipo de agravo.

    “Sem sombra de dúvida esse movimento de ataques cibernéticos da Rússia não surpreende. É uma nova dimensão das guerras. É uma nova interface, que vai muito além dos tanques, aviões e navios. Atualmente é possível paralisar até mesmo uma nação, se você conseguir tirar do ar sistemas que são importantes”, explicou.

    “A Rússia é um território fértil para hackers. Várias evidências mostram isso, os grupos hackers são extremamente ativos lá. Eles têm capacidade para fazer ataques massivos, que tiram os sistemas do ar. Estamos vendo isso ao longo da semana. Até que o conflito não acabe, isso deve ser intensificado para fragilizar ainda mais a Ucrânia. É mais uma frente de guerra por parte da Rússia”, disse Igreja.

    Maximiliano Jacomo, coordenador do curso de Segurança Cibernética do Instituto de Gestão e Tecnologia da Informação (IGTI) vai além e garante que a população ucraniana pode sofrer com a falta de água, caso os confrontos perdurem. O especialista explica que as cidades com maior interligação tecnológica serão as mais vulneráveis a ameaças virtuais.

    “O ataque cibernético serve para derrubar sistemas e tornar inoperante funções vitais para uma população. As companhias de abastecimento de água, por exemplo, são todas controlada por sistemas na Ucrânia, principalmente na capital Kiev, com maiores interligações tecnológicas. E assim, quando você faz um ataque cibernético nesses pontos, as companhias de água não conseguem fornecer o produto e a população fica sem um produto fundamental para a vida”, exalta.

    Rússia ‘blindada’ contra ameaças cibernéticos

    Ainda em conversa com a CNN, o Coordenador do Centro de Tecnologia e Sociedade da FGV, Luca Belli, também aponta a força da Rússia para se defender de possíveis ameaças virtuais.

    O pesquisador explica que a proteção do país aos ataques online está relacionada à atuação do governo russo em blindar as informações do país. No entanto, ele releva que essas medidas acabam se tornando pouco democráticas e vão contra a liberdade da população daquela região.

    “Para dificultar ataques cibernéticos, a Rússia isola suas informações e não deixa ninguém ter acesso. A soberania russa da internet é criticada pela sociedade com falta de liberdade, porque eles são bem rigorosos com a utilização das redes sociais e de outras informações. De fato, a população acaba ficando menos livre. Para o governo, eles utilizam como uma estratégia para se fecharem totalmente e ficarem praticamente blindados de ameaças externas”, ressalta.

    Por fim, Luca Belli ainda faz uma comparação da Rússia com os Estados Unidos, país que fornece maior liberdade online para a população, segundo ele.

    “Os Estados Unidos têm muito menos restrição. Eles querem manter uma internet mais aberta possível, uma democracia mais aberta, mas isso tem consequências, eles acabam ficando mais vulneráveis. Em contrapartida eles têm muita tecnologia para enfrentar qualquer ameaça. Ele tem uma infraestrutura de ponta, mas com total liberdade online. Um exemplo parecido com a Rússia são os chineses, que fazem a mesma coisa. A China tem protocolos bem exigentes sobre internet”, finalizou.