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Sobre as florestas em Portugal…

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Evolução da floresta portuguesa e comparação com a Europa

Todos os estudos conhecidos convergem para a ideia de que o coberto vegetal que, depois das últimas glaciações dominava a paisagem das montanhas do continente, era constituído sobretudo por árvores do género Quercus (carvalhos de folha caduca, no Norte, e em menor escala do género Pinus (pinheiro bravo, manso e silvestre). Esta floresta foi desaparecendo quer pelo abate das árvores propriamente ditas, quer pelo fogo, com o objectivo de fomentar o pastoreio e agricultura, havendo um esforço para inverter esta situação apenas nos dois últimos séculos, com várias iniciativas de arborização.

A mesma tendência aconteceu na Madeira e nos Açores, embora o facto desta evolução ter ocorrido num espaço de tempo mais condensado do que no continente, permitiu poupar os arquipélagos de uma degradação completa da floresta original.

Prova disso é a existência ainda hoje da Laurissilva, um tipo de floresta húmida subtropical a temperada, composta maioritariamente por árvores da família das Lauráceas e endémico da Macaronésia, região formada pelos arquipélagos da Madeira, Açores, Canárias e Cabo Verde. A Laurissilva possui a sua maior e mais bem conservada mancha verde nas terras altas da ilha da Madeira, onde se encontra a, tendo sido considerada em 1999 pela UNESCO como Património da Humanidade, ocupando aí uma área de cerca de 15.000 hectares. A palavra Laurissilva deriva do latim Laurus (loureiro, lauráceas) e Silva (floresta, bosque).

A constatação das consequências da desarborização, levaram, no século XIX à criação de sucessivas entidades e de estratégias de protecção florestal, à semelhança do que já tinha acontecido noutros países da Europa, como França, Dinamarca e Holanda. No início e meados do século XX, houve também vários esforços no sentido de aumentar a área florestal portuguesa, sobretudo com o recurso ao pinheiro bravo e ao sobreiro. O aparecimento do eucalipto, na década de 60, foi, por sua vez, fortemente impulsionado pela implantação de indústrias de pasta e papel. Este aumento da área de eucaliptal e o progressivo aumento do número de incêndios levou à redução da área de pinhal bravo.

Tendo presente a situação actual e comparando com outros países da Europa, Portugal está abaixo de países como a Finlândia, Suécia e Eslovénia, que têm mais de metade do seu território arborizado. Mas, se compararmos com a média europeia (31%) e com outros países do Sul da Europa, podemos considerar que, apesar da degradação progressiva, temos um país tipicamente “florestal”. De facto, a paisagem florestal cobre mais de 1/3 do território nacional e, em conjunto com outras associações vegetais, encerra uma grande biodiversidade.

Relativamente ao peso da actividade florestal na economia nacional, sabe-se que esta representa 11% das exportações totais portuguesas e 3% para o Produto Interno Bruto (PIB), abaixo dos 5% da Finlândia ou Suécia, mas de qualquer forma um peso significativo se tivermos em conta que está na mesma ordem de grandeza das actividades agrícolas e agro-alimentares ou do sector dos têxteis e vestuário.

Para estas estimativas económicas (dados de 2003), conta a relevância de três principais espécies florestais - pinheiro, eucalipto e sobreiro - necessárias para desenvolver os seguintes sub-sectores incluídos na silvicultura  e actividades silvícolas:

- Papel e publicações (36%)
- Madeira e resinosos (33%)
- Silvicultura e caça (23%)
- Cortiça (8%)

No caso da cortiça, a indústria a ela associada tem um peso considerável na economia portuguesa. Portugal é o maior produtor e exportador mundial de cortiça e produtos de cortiça. Às razões económicas somam-se razões ambientais para que o sobreiro seja uma das espécies florestais legalmente protegidas. Essas razões ambientais prendem-se com o facto dos montados de sobreiro (conjugação de sobreiros e de azinheiras com actividades agrícolas e pastoris) estarem harmoniosamente adaptados ao clima e, portanto, evitarem o alastramento de fenómenos de desertificação do solo nessas regiões.

As outras duas espécies florestais que são também objecto de legislação específica para a sua protecção são a azinheira e o azevinho (em perigo de extinção devido ao valor simbólico na época natalícia). Actualmente, é proibido o arranque, o corte total ou parcial, o transporte e venda do azevinho espontâneo.
 

Degradação das florestas e incêndios

Em Portugal, a degradação das florestas e particularmente do solo tem-se dado, em larga medida, devido à exploração intensiva de eucalipto. Esta espécie, oriunda da Austrália entrou no século XIX no nosso país, embora o seu cultivo só tenha sido generalizado na década de 80 do século XX. Nos dias de hoje, os eucaliptos ocupam um total de 700 mil hectares, a mesma área de montados de sobreiro. O seu rápido crescimento (rentabilização em 10 anos), devido à alta capacidade de produzir celulose, fez do eucalipto a espécie de excelência para a indústria de pasta de papel. Não obstante, aos poucos começaram a emergir vários argumentos que colocam esta espécie como causadora de vários problemas ambientais a nível nacional. O eucalipto, como espécie exótica, e portanto não integrada nos nossos ecossistemas típicos, por um lado, consome demasiada água relativamente à capacidade dos nossos solos; por outro, esgotam os nutrientes do solo, empobrecendo-o. Também ligado à erosão inclui-se o problema das movimentações do solo necessárias para o plantio, com recurso a máquinas pesadas. De um modo geral, comparando com outras formações florestais, a monocultura desta espécie leva, assim, à formação de povoamentos pobres em flora e fauna com todas as consequências que isso acarreta para o equilíbrio de qualquer floresta.

Quanto aos incêndios florestais e suas consequências, é sabido que a intervenção humana, nomeadamente, através da má gestão dos povoamentos florestais, de práticas agrícolas incorrectas e de atitudes negligentes ou mesmo intencionais têm feito aumentar drasticamente a frequência de incêndios, pondo em causa a regeneração das florestas, e a protecção dos próprios cidadãos e seus bens.  

Dados da Comissão Europeia, de 2006, dizem que Portugal é o país do Sul da Europa que mais incêndios florestais teve nos últimos 25 anos, e que é um dos que tem uma maior área do seu território destruída por este flagelo.

No nosso país, entre 1980 e 2006, houve doze anos em que os incêndios ultrapassaram os 100 mil hectares de área ardida por ano, tendo em 2003, chegado aos 420 mil hectares. Segundo esses números, entre 1980 e 2006, houve 487.172 incêndios em Portugal (cerca de 36,5% do total ocorrido nos países do Sul da Europa). Neste período, a superfície ardida foi de 5.070.305 hectares em Espanha, 3.128.592 em Itália, 3.121.776 hectares em Portugal, 1.167.396 hectares na Grécia e 810.417 hectares em França.

A situação relativa de Portugal é mais preocupante se pensarmos que o país tem uma superfície cinco vezes menor do que a Espanha e três vezes menor do que a Itália, se nos referirmos apenas aos estados com uma maior área ardida.

Com este panorama, já não é novidade a destruição maciça de zonas florestais, nos últimos anos, devido ao risco de incêndio existente na floresta portuguesa e à forma como o fogo é frequentemente utilizado junto aos espaços florestais, com ameaça de habitações inclusive.

E não podemos esquecer que, a longo prazo, as perspectivas relativamente às alterações climáticas em Portugal apontam para uma subida da temperatura global (maior número de dias com mais de 35ºC) e maiores períodos de seca, levando ao aumento de risco de fogos florestais.

Dada a gravidade e amplitude deste problema, torna-se cada vez mais claro que, para além das necessárias medidas a desenvolver e a implementar pelos organismos estatais responsáveis e proprietários florestais, a prevenção e minimização dos incêndios florestais precisa de um profundo envolvimento de todos os cidadãos.

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