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08/06/09 - 23h59 - Atualizado em 09/06/09 - 00h46

Desmatamento continua na Serra da Cantareira, em São Paulo

Uma das últimas florestas urbanas de Mata Atlântica está desaparecendo árvore por árvore. Nossos repórteres mostram como corretores vendem os terrenos e ensinam a desmatar.

César Galvão São Paulo

Evandro Siqueira

Willian Santos

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O homem que limpa o terreno arranca mais do que o mato. Atrás dele ficaram os tocos das árvores e é assim que muita gente está agindo na Serra da Cantareira, tida como a maior floresta em área urbana do mundo.

A consequência é o que os ambientalistas chamam de efeito formiga: a mata vai desaparecendo aos poucos, em pequenos focos que o satélite não consegue enxergar. "O levantamento que é realizado hoje pela SOS Mata Atlântica, pelo Inpe identificam áreas acima de três hectares e geralmente para esse tipo de ocupação a supressão da floresta é de um, 1,5 de hectare", afirma a diretora da ONG SOS Mata Atlântica, Márcia Hirota.

No mapa, os pontos em vermelho representam à vegetação destruída em três anos. São as áreas maiores do que três hectares, o equivalente a três quarteirões. As partes em rosa são as ocupações urbanas, a cidade que avançou sobre a floresta. O verde é o que sobrou da mata original, a maior parte protegida pelo Parque Estadual da Serra da Cantareira, que se estende por quatro municípios. O problema é o que está acontecendo em um raio de 10 quilômetros em torno do parque.

Nesse último estudo, os ambientalistas constataram que a devastação ao redor do parque foi de cerca de 52 hectares, um volume 14 vezes maior do que no período de 2005 a 2008. É como se a vegetação fosse destruída, em uma área equivalente a 59 estádios do Maracanã e quase metade de todo o desmatamento foi registrado, no município de Mairiporã, na Grande São Paulo.

Parte da devastação é atribuída à construção de condomínios e à instalação grandes de buffets em sítios. "Quando o poder publico chega, o desmatamento já aconteceu, a floresta já foi suprimida e não tem mais o que fazer", explica Márcia.

Nosso produtor fingiu interesse em um terreno para montar um buffet em Mairiporã. Por lei, só se pode mexer no lote depois da avaliação oficial sobre o que pode ou não ser derrubado, mas a corretora de imóveis diz que existe um outro jeito.

Produtor: pode tirar essas árvores todas?
Corretora: "não, isso aqui você tem que tirar, quem comprar, você já contrata uma pessoa, a gente mesmo indica e tira, porque se você for esperar a aprovação, não tira nunca aqui.Tem um senhor que a gente contrata ele, ele vem vai tirando um pouco por dia um pouquinho".
Produtor: "sem perceber, né?
Corretora: "é, sem perceber. Um pouco por dia aqui, um pouco por semana".
Produtor: para não chamar a atenção?
Corretora: "é, não pode, porque vai pagar multa mesmo. Aqui é manancial, sabe?".

É uma preocupação a mais: a retirada da mata pode comprometer as nascentes que ajudam a encher a maior represa de São Paulo. Um outro ponto da serra, em Caieiras, é motivo de disputa judicial.

O conjunto de prédios é ocupado pelos Arautos do Evangelho, grupo ligado à igreja Católica. Quatro anos atrás, a área era coberta de mata nativa e ficou destruída, depois da derrubada de mais de 13 mil metros quadrados de floresta.

Segundo o Ministério Público, foi desmatamento ilegal em topo de morro, área de preservação permanente. "Não é possível à construção de qualquer imóvel que não seja de utilidade pública ou interesse social nessas áreas de preservação permanente", afirma a promotora de justiça, Cristina Freitas.

Agora, uma liminar impede a continuação das obras, que só começaram graças a licenças estaduais e municipais. "O que se pede realmente é o reconhecimento da ilegalidade das licenças, com a sua consequente anulação, e a partir dai a demolição do templo, com a recuperação da vegetação ao seu estado anterior", explica a promotora de justiça, Ana Paola Ambra.

Os Arautos do Evangelho não se manifestaram. A propriedade deles é uma entre centenas no meio da Mata Atlântica, a floresta que cobria todo o litoral brasileiro, antes de começar a ser vista como um estorvo.

Produtor: é que tem muita árvore aqui?
Corretora: "aqui não dá, para ocupar isso aqui você tem que desmatar". Senão, você vai fazer o que, casinha de índio?"

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