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Rico de contaminação faz governo do Japão suspender operação para evitar fusão de reatores

Detector de radiação mostra nível acima do normal perto da estação de trem de Shibuya, em Tóquio - AP
Detector de radiação mostra nível acima do normal perto da estação de trem de Shibuya, em Tóquio - AP

FUKUSHIMA, Japão - O Japão suspendeu nesta quarta-feira (hora local) as operações para evitar a fusão dos reatores da usina nuclear de Fukushima 1, danificada após o terremoto seguido de tsunami que atingiu o Japão na última sexta-feira. Segundo o porta-voz do governo japonês, Yukio Edano, devido ao alto risco de contaminação, a equipe de 50 trabalhadores que permanecia no complexo para visando impedir novas explosões, teve que abandonar seus postos.

O governo ordenou que cerca de 140 mil pessoas que residem nos arredores da usina permaneçam em casa. Toda a área num raio de até 20 quilômetros do complexo foi isolada.

- Não sabemos a natureza do dano - disse Minoru Ohgoda, porta-voz da Agência de Segurança Nuclear. - Poderia ser de fusão, ou pode haver alguns buracos neles.

A decisão foi tomada pouco depois de uma nova explosão atingir o reator número 4 da central nuclear de Fukushima 1, aumentando o risco de contaminação nuclear. Segundo a Tokyo Electric Power (TEPCO), empresa que opera a usina, duas pessoas que trabalhavam no local para conter um vazamento radioativo continuavam desaparecidas (Entenda o vocabulário atômico) .

A usina de Fukushima 1 sofreu sérios danos depois do terremoto de 9 graus de magnitude seguido de tsunami que atingiu o Japão na sexta-feira. Os reatores 1 e 2 da instalação também já haviam sofrido explosões, no sábado e na segunda-feira. Os danos chegam a 70% e 30%, respectivamente. Segundo a TEPCO, as barras de combustível dos reatores foram parcialmente danificadas e o núcleo dos reatores parece ter derretido após a perda das funções de resfriamento, o que aumentaria o risco de um possível vazamento.

Antes da explosão do reator 4, a Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA) informou que, apesar da liberação de radiação diretamente na atmosfera, a radioatividade no entorno de Fukushima estava caindo. Em um comunicado, o órgão disse que o nível de radiação passou de 11.900 microsieverts por hora às 9h desta terça-feira (21h de segunda em Brasília) para 600 microsieverts seis horas depois. A medida é usada para avaliar a radiação recebida por pessoas.

A exposição a mais de 100 mil microsieverts ao ano pode causar câncer, segundo a Associação Nuclear Mundial. Segundo pesquisadores, durante um exame de tomografia computadorizada, por exemplo, uma pessoa recebe 12 mil microsieverts.

Segundo a Autoridade de Segurança Nuclear Francesa (ASN), que acompanha de perto a crise, subiu de quatro para seis - numa escala que vai até sete - a classificação dos acidentes nucleares ocorridos no Japão. Já o Institute of Science and International Security (Isis), dos EUA, disse temer que o desastre atinja o nível máximo.

Diante da preocupação, as cidades mais próximas da usina estão passando por uma evacuação. A população, temerosa e sem qualquer garantia do governo de que tudo ficará bem, começa a abandonar suas casas, principalmente rumo ao sul do país. Em Sendai, cidade que fica a 100 km da central de Fukushima, as filas dos transportes públicos são quilométricas.

Além do problema da radiação, faltam ítens básicos em quase todas as cidades do nordeste do país. Comida, água e combustível tornam a vida ainda mais difícil. Outras pessoas também fogem devido aos riscos de novos terremotos, já que muitas casas estão bem danificadas com os tremores que afetam o país desde a semana passada.

Em Tóquio, também foi detectado um aumento dos níveis de radiação na região metropolitana. Os índices não são alarmantes, mas a notícia espalhou o pânico pela cidade. A situação também preocupou as companhias aéreas, que cancelaram voos para a capital japonesa .

Por enquanto, não há ordem oficial de retirada da região, mas as empresas multinacionais estão avaliando planos de emergência para o deslocamento de estrangeiros. Até o meio da tarde desta terça-feira (horário local), a embaixada brasileira também não recomendava a retirada da capital e informava estar seguindo as orientações do governo japonês. De acordo com especialistas, nas próximas horas o vento deve levar a radiação para o Oceano Pacífico, atenuando os temores na capital nipônica.

O número oficial de mortos na tragédia subiu a 3.373 (Confira um balanço das mortes por regiões) .

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