Henri Kichka foi um dos poucos sobreviventes do mais notório campo de concentração nazista — Foto: BBC
Um dos últimos sobreviventes do Holocausto na Bélgica, Henri Kichka morreu de covid-19 no sábado (25), em uma casa de repouso em Bruxelas, aos 94 anos.
Kichka foi um dos poucos homens e mulheres que sobreviveram a Auschwitz, o campo de extermínio criado pelos nazistas no sul da Polônia durante a 2ª Guerra Mundial.
Ele falou à BBC em janeiro sobre sua experiência. Questionado sobre como sobreviveu, Kichka disse: "Não era possível viver em Auschwitz. O lugar em si era a morte".
Em uma homenagem publicada no Facebook, seu filho Michel Kichka escreveu: "Um coronavírus microscópico obteve sucesso em algo em que todo o Exército nazista falhou. Meu pai havia sobrevivido à Marcha da Morte, mas hoje sua Marcha da Vida terminou".
Trabalho escravo e 'marcha da morte'
Os pais de Henri Kichka se mudaram para a Bélgica para escapar do antissemitismo — Foto: Arquivo pessoal/BBC
Henri Kichka nasceu em Bruxelas em 1926, em uma família judia de origem polonesa. Seus pais haviam fugido do antissemitismo na Europa Oriental para construir uma nova vida no Ocidente.
Quando a Alemanha nazista invadiu e ocupou a Bélgica, eles ficaram sem ter onde se esconder e logo foram deportados, em 1942.
Henri e seu pai foram mandados para fazer trabalho escravo em diferentes campos antes de serem levados para Auschwitz.
As mulheres da família — a mãe de Henri, suas irmãs e tia — foram diretamente para Auschwitz, onde morreram nas câmaras de gás assim que chegaram.
Em 1945, com o avanço do exército soviético, os nazistas enviaram os prisioneiros de Auschwitz, Henri entre eles, em uma "marcha da morte" para outros campos mais a oeste. A maioria dos prisioneiros morreu na jornada.
A vida após Auschwitz
Henri casou-se, abriu uma loja com a esposa e construiu uma grande família — Foto: Arquivo pessoal/BBC
Durante anos após a guerra, Henri nunca falou de sua experiência. Casou-se, abriu uma loja com a esposa e construiu uma grande família: quatro filhos, nove netos e 14 bisnetos.
Mais tarde, porém, ele mudou de ideia e começou a dar palestras nas escolas, por sentir que valia a pena sofrer a dor de lembrar do que havia vivido para garantir que os outros não se esquecessem do Holocausto.
E, 60 anos após o fim da guerra, Henri publicou um livro de memórias de sua vida nos campos, para garantir que sua voz ainda fosse ouvida quando ele se fosse.
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